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260 parte Iv – reCoMpensando pessoas CasO de apOIO: encargos sociais no Brasil são os maiores do mundo 23 Em um levantamento sobre encargos sociais para empregados mensalistas, José Pastore concluiu que, tomando por base 240 horas mensais de trabalho, as empresas fazem os seguintes recolhimentos a partir dos salários pagos: % sobre salário % acumulado A. Obrigações sociais Previdência Social 20,00 FGTS 8,00 Salário-educação 2,50 Acidentes do trabalho (coeficiente médio) 2,00 Serviço Social da Indústria (Sesi) 1,50 Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) 1,00 Sebrae 0,60 Incra 0,20 Subtotal 35,80 b. tempo não trabalhado Descanso semanal remunerado (DSR) 18,91 Férias 9,45 Feriados 4,36 Abono de férias 3,64 Aviso prévio 1,32 Auxílio enfermidade 0,55 Subtotal 38,23 C. tempo de não trabalho 13º salário 10,91 Despesas de rescisão contratual 2,57 Subtotal 13,48 D. Reflexos dos itens anteriores Incidência cumulativa do grupo A/B 13,68 incidência do FGTS sobre o 13º salário 0,87 Subtotal 14,55 Total geral (A+B+C+D) 102,06 Assim, para cada R$ 100 de salário mensal pago ao colaborador, a empresa recolhe R$ 102,60 de encargos sociais aos cofres do governo. O custo total se transfor- ma em R$ 202,60 ao mês. Como a Previdência Social tem um teto-limite para as obrigações sociais, à medi- da que os salários são mais elevados, os encargos ten- dem a diminuir percentualmente. O valor médio dos encargos sociais depende basicamente do perfil sala- rial de cada empresa. As despesas de rescisão contra- tual também dependem do perfil de atividade de cada empresa. Para o cálculo da base salarial de um mensa- lista, utiliza-se o salário mensal (240 horas em média). E para o cálculo da base salarial do horista (as horas efetivamente trabalhadas estão ao redor de 176 horas), o DSR entra como encargo, não como salário. Assim, os encargos salariais dos horistas tornam-se maiores do que os dos mensalistas em razão da diferença da base de cálculo. As taxas e contribuições, como as que financiam o Sesi e Senai, Sebrae, Incra e o salário-educação consti- tuem tributos que representam quase 5% do total da folha de salários, dependendo do ramo de atividade da empresa. Só o salário-educação representa 2,5% sobre a folha de pagamento. Há um forte desejo da sociedade de reduzir os encargos sociais como forma de garantir mais empregos formais na economia e tornar esses cus- tos mais compatíveis com o que existe no exterior.24 Além do mais, o retorno que tanto a organização quan- to o cidadão recebem dos impostos pagos no país é sim- plesmente irrisório. CapÍtULo 9 – reMUneraÇão 261 avalIaçãO CrítICa: como vão os encargos sociais 25 A empresa de consultoria Booz Allen Hamilton fez uma pesquisa mundial nas montadoras de automó- veis, para comparar os encargos sociais que incidem sobre cada US$ 1 de salário pago a horistas, tomando por base 8 horas diárias de trabalho. A pesquisa com- para também os salários médios pagos pelas monta- doras do mundo.26 Os encargos são: Encargos sociais para cada dólar por hora (us$) salários médios pagos por hora (us$) Brasil 1,66 3,00 Itália 1,12 16,00 Inglaterra 0,88 12,00 Alemanha 0,76 21,00 Estados Unidos 0,34 15,00 Japão 0,31 13,00 Os dados da Booz Allen Hamilton diferem das con- clusões de Pastore. Afinal, quanto custa uma hora de trabalho em cada um desses países? PolítIca salaRIal Política salarial é o conjunto de decisões organiza- cionais tomadas a respeito de assuntos relacionados com remuneração e benefícios concedidos aos cola- boradores. Na verdade, é um conjunto de normas e diretrizes que orienta a administração dos salários na organização e define uma estrutura salarial. Constitui a trilha sobre a qual correrão as decisões sobre salários. No entanto, a política salarial é dinâmica e se altera conforme as situações interna e externa. O objetivo principal da remuneração é criar um sis- tema de recompensas que seja equitativo tanto para a organização quanto para os funcionários. Uma políti- ca salarial deve atender simultaneamente a sete crité- rios para ser eficaz:27 1. Adequada: a compensação deve se distanciar dos padrões mínimos estabelecidos pelo governo ou pelo acordo sindical. 2. Equitativa: cada pessoa deve ser paga proporcio- nalmente de acordo com seu esforço, habilidades e capacitação profissional. 3. Balanceada: salário, benefícios e outras recompen- sas devem proporcionar um pacote total de recom- pensas que seja razoável. 4. Eficácia quanto a custos: os salários não podem ser excessivos, em função do que a organização pode pagar. 5. Segura: os salários devem ser suficientes para aju- dar os empregados a se sentir seguros e ajudá-los a satisfazer suas necessidades básicas. 6. Incentivadora: os salários devem motivar eficaz- mente o trabalho produtivo. 7. Aceitável para os funcionários: as pessoas devem compreender o sistema de salários e sentir que re- presenta um sistema razoável para eles e também para a organização. Entretanto, o salário por si só responde por uma parcela da remuneração total do funcionário. Contu- do, os executivos principalmente estão entendendo que essa parcela pode até ser pequena no volume total, botando os olhos na parte variável que se verá adian- te, pela qual há várias opções pela frente. O mercado financeiro norte-americano de executivos vislumbra dois tipos de executivos que agora estão surgindo tam- bém no Brasil e não apenas na área financeira:28 1. PHD (poor, hungry and desperate): pobre, faminto e desesperado por enriquecer, que busca alta remunera- ção no curto prazo. É o perfil do executivo ávido que procura o enriquecimento rápido, mesmo enfrentan- do enormes riscos e desafios pela frente. Muitas vezes, o fracasso de uma nova empreitada aventureira foge ao seu controle e, quando dá errado, o pote de ouro que estava ali pode simplesmente desaparecer. E dá uma baita saudade do confortável tédio do salário fixo pago todo mês pela empresa conservadora. 2. LTG (long term greedy): o ganancioso de longo prazo, que procura bancos mais estáveis. É o perfil do executivo conservador, que busca a segurança acima do enriquecimento rápido e se põe a esperar pela lenta acumulação de dinheiro. 262 parte Iv – reCoMpensando pessoas Os principais responsáveis por essa mudança são os fundos de private equity, especializados em comprar e vender empresas. Desde 2007, esses fundos investiram pelo menos R$ 30 bilhões para comprar companhias nacionais, quase sempre familiares e pouco profissio- nalizadas. O modus operandi desses fundos é contratar um grupo de executivos experientes para organizar as empresas compradas e acelerar sua expansão. Com isso, do dia para a noite, companhias até então desco- nhecidas ganham enorme poder de fogo para atrair al- tos executivos indo atrás dos setores mais pujantes da economia – pagando caro, evidentemente, e puxando para cima a média dos salários e bônus pagos no país. Com propostas irrecusáveis, conseguem tirar executi- vos que até pouco tempo nem sequer dariam ouvido a essas ofertas.28 vOltandO aO CasO IntrOdutórIO: a preocupação de Rafael Rafael chegou à amarga conclusão de que em sua empresa, a remuneração não é motivadora nem sa- tisfaciente, mas apenas um fator higiênico: evita a in- satisfação, mas não provoca satisfação. A mentalidade predominante na diretoria não enxerga essas coisas. De nada adianta dedicar-se mais, porque o salário será exatamente igual ao dos colegas que pouco se dedicam. Para Rafael, a remuneração não pode ser tratada mate- maticamente. Ela precisa motivar e incentivar as pessoas para que elas queiram dar tudo de si para alcançar metas e resultados que dependam direta ou indiretamente do seu desempenho. Para que seja um condicionante moti- vacional para valer a remuneração, precisa ser flexível e variável. O que pensar disso? CasO para dIsCussãO: como vai o custo brasil?29 A General Motors do Brasil verificou que o salário médio de seusoperários no ABC paulista – de US$ 10,00 a US$ 12,50 por hora, com todos os encargos sociais e benefícios já incluídos – é igual ao custo to- tal médio da mão de obra (nome horrível) que paga a subsidiária da empresa na Inglaterra. Contudo, lá, de cada 100 libras que custa um funcionário, 75 vão para o bolso dele. No Brasil, apenas metade do que ela paga vai para o bolso do funcionário. A voith, um grande fabricante de bens de capital, comparou os encargos nacionais com os alemães e concluiu que aqui os encargos trabalhistas representam 123,77% da folha de pagamentos, enquanto lá alcançam ape- nas 43,62%. As empresas nacionais convivem no dia a dia com um conjunto de distorções que, nos últimos tempos, se tornaram conhecidas como “custo Brasil”. Esse custo traduz uma enorme fieira de normas, o cipoal tributário e as deficiências de infraestrutura que tornam a produ- ção brasileira mais cara do que no exterior, diminuindo drasticamente a capacidade de competir com produtos importados ou exportar para outros países. Isso sem falar no infindável emaranhado de leis, portarias e de- cretos que proliferam ao lado de normas burocráticas que infernizam a vida das empresas. O custo Brasil reduz fortemente a competitividade das empresas brasileira. Muitas empresas nacionais preferem produzir lá fora, pois fica muito mais barato e competitivo. Questões 1. Qual é a razão do descompasso do país em relação à legislação trabalhista? 2. Que sugestões dar para melhorar o atual quadro? 3. Como montar um quadro de controle dos salários e dos encargos sociais de uma empresa? exerCíCIOs 1. Definir recompensas organizacionais. 2. Conceituar remuneração e remuneração total. 3. Explicar as recompensas financeiras e não financeiras. 4. Explicar as recompensas financeiras diretas e indiretas. 5. Qual é a diferença entre salário nominal, salário real e salário mínimo? 6. Quais são os tipos de salários? Explicar. 7. Qual é o significado do salário para a organização e para o indivíduo? 8. Quais são os nove critérios para a construção de um plano de remuneração? 9. Qual é a diferença entre igualitarismo e elitismo? 10. Qual é a diferença entre remuneração aberta e confi- dencial? CapÍtULo 9 – reMUneraÇão 263 11. Conceituar administração de salários e suas formas de equilíbrio. 12. Conceituar avaliação e classificação de cargos. 13. Explicar o método de escalonamento simples. 14. Explicar o método de categorias predeterminadas. 15. Explicar o método de comparação por fatores. 16. Quais são os fatores de avaliação utilizados? 17. Explicar o método de avaliação por pontos. 18. Quais são os fatores de avaliação utilizados? 19. Quais são os parâmetros para gerar uma curva sala- rial? Explicar. 20. Como fica a avaliação de cargos em uma organiza- ção sem cargos? 21. Explicar a remuneração por competências. 22. Explicar como se faz a pesquisa salarial. 23. Como é feita a escolha dos cargos amostrais e das empresas amostrais? 24. Demonstrar a cascata dos encargos sociais sobre os salários. PasseIo Pela InteRnet www.payscale.com www.outsourcing.com www.ikmagazine.com www.optiprise.com www.bettermanagement.com www.onelook.com www.accenture.com www.hay.com www.vnutravel.typepad.com www.gartner.com www.boozallen.com Remuneração total Remuneração básica Incentivos salariais Incentivos não salariais Benefícios sociais valor do salário: Para o indivíduo Para a organização Recompensas por: Desempenho Alcance de metas e objetivos Contribuição ao negócio Competências Desenho do sistema de remuneração: 1. Equilíbrio interno × externo 2. Remuneração fixa × variável 3. Desempenho × tempo de casa 4. Por cargo × por competência 5. Igualitarismo × elitismo 6. Abaixo × acima do mercado 7. Prêmios monetários × não monetários 8. Aberta × confidencial 9. Centralizado × descentralizado Administração de salários: Estrutura salarial Equilíbrio interno: avaliação de cargos classificação de cargos Equilíbrio externo: pesquisa salarial Avaliação e classificação: Métodos tradicionais: Escalonamento simples Categorias predeterminadas Comparação por fatores Avaliação por pontos Pesquisa salarial: Localização geográfica Ramo de atividade Tamanho Política salarial Política salarial: Adequada Segura Equitativa Incentivadora Balanceada Aceitável Eficaz Objetivos: Atrair e reter talentos Engajar e desenvolver Motivar e comprometer Maior produtividade Melhor qualidade de vida Controlar custos laborais Tratamento justo e equitativo Cumprir legislação trabalhista Competitividade e sustentabilidade Recompensas organizacionais Financeiras: Diretas: salário direto prêmios comissões Indiretas: DSR gratificações férias adicionais Não financeiras: Oportunidades de crescimento Segurança no emprego Qualidade de vida no trabalho Orgulho e autoestima Promoções Liberdade e autonomia fIgura 22 Mapa mental do Capítulo 9 – Remuneração. 264 parte Iv – reCoMpensando pessoas referênCIas bIblIOgráfICas 1. 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