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1 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.6, p. 01-20, 2024 
 
 jan. 2021 
A reclamação constitucional e as decisões da justiça do trabalho 
 
Constitutional complaints and labor court decisions 
 
Recursos de inconstitucionalidad y sentencias laborales 
 
DOI: 10.55905/revconv.17n.6-131 
 
Originals received: 05/10/2024 
Acceptance for publication: 05/31/2024 
 
 
Eli Alves da Silva 
Mestrando em Direito 
Instituição: Faculdade Autônoma de São Paulo (FADISP) 
Endereço: São Paulo - São Paulo, Brasil 
E-mail: contato@eas-advogados.com 
 
Renan Thamay 
Doutor em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC - RS) e 
Universitá Degli Studi di Pavia 
Instituição: Faculdade Autônoma de São Paulo 
Endereço: São Paulo - São Paulo, Brasil 
E-mail: rennan.thamay@hotmail.com 
 
RESUMO 
O presente artigo busca estabelecer as bases constitucionais da Reclamação Constitucional como 
um meio de garantir a autoridade de uma decisão proferida por determinado tribunal ou a 
exequibilidade de súmula vinculante emanada pelo STF, demonstrando sua natureza jurídica, nos 
moldes do CPC/15, em seu Art. 988, demonstrando similitudes com o mandado de segurança, 
estabelecendo que o objeto é estritamente de direito, instruída com documentação pré-
constitutiva, incidindo, ainda, honorários sucumbenciais, nos termos do Art. 85, §2º do CPC. A 
pesquisa foi realizada através do método indutivo, através de bibliografias como doutrina, 
legislação e jurisprudência. A finalidade do artigo é demonstrar, na justiça do trabalho, a 
necessidade de autoridade das decisões dos tribunais, sobretudo, pela prevalência das decisões 
proferidas pelo STF em súmula vinculante. 
 
Palavras-chave: reclamação, justiça do trabalho, decisão judicial, honorários sucumbenciais. 
 
ABSTRACT 
The present article aims to establish the constitutional basis of the "Constitutional Complaint" as 
a means to ensure the authority of a decision issued by a specific court or the enforceability of a 
binding precedent issued by the STF, demonstrating its legal nature, in accordance with the 
Brazilian Civil Procedure Code of 2015, Article 988, and highlighting similarities with the "Writ 
of Mandamus", emphasizing that its object is strictly legal, supported by pre-constituted 
documentation, and subject to the incidence of attorney's fees, pursuant to Article 85, §2º of the 
Brazilian Civil Procedure Code. The research was conducted using the inductive method, relying 
mailto:contato@eas-advogados.com
 
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on bibliographic sources such as doctrine, legislation, and case law. The article's purpose is to 
demonstrate, particularly in labor law, the necessity of authority in court decisions, especially 
due to the prevalence of decisions issued by the STF in binding precedents. 
 
Keywords: complaint, labor court, judicial decision, succumbence fees. 
 
RESUMEN 
Este artículo busca establecer el fundamento constitucional de la Queja Constitucional como 
medio de garantía de la autoridad de una decisión proferida por determinado tribunal o de la 
ejecutoriedad de un precedente vinculante emitido por el STF, demostrando su naturaleza 
jurídica, en la línea del CPC/15, en su art. 988, demostrando similitudes con el mandamus, 
estableciendo que el objeto es estrictamente de derecho, instruido con documentación 
preconstitutiva, incurriendo también en tasas sucumbentes, en los términos del art. 85, §2 del 
CPC. La investigación se llevó a cabo utilizando el método inductivo, a través de bibliografías 
como la doctrina, la legislación y la jurisprudencia. El objetivo del artículo es demostrar la 
necesidad de la autoridad de las decisiones judiciales en los tribunales del trabajo, especialmente 
la prevalencia de las decisiones dictadas por el STF en los precedentes vinculantes. 
 
Palabras clave: demanda, justicia del trabajo, decisión judicial, tasas de sucumbencia. 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
Trata-se de uma ação com o fim de preservar a competência e garantir a autoridade de 
decisão proferida por determinado tribunal ou de súmula vinculante emanada pelo STF, ou ainda, 
de precedente firmado em incidente de resolução repetitiva. 
A Reclamação Constitucional é uma ação que tem a finalidade de garantir a autoridade 
de uma decisão proferida por determinado tribunal ou a exequibilidade de súmula vinculante 
emanada pelo STF também podendo ser aplicada para garantir o cumprimento de precedente 
firmado em incidente de resolução repetitiva. 
Em sua origem, a Reclamação Constitucional tem sua concepção na jurisprudência pátria. 
Em comparação com os ordenamentos jurídicos estrangeiros, não há qualquer figura que possa 
ser comparada com a Reclamação Constitucional. 
Contudo, a criação da Reclamação Constitucional pela jurisprudência brasileira tem 
inspiração na teoria norte-americana dos poderes implícitos (implied powers theory). Esta teoria 
afirma que se a constituição de um Estado confere a um órgão uma determinada função, confere 
também, implicitamente, os meios necessários para a consecução das funções que lhe foram 
atribuídas. 
 
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Tendo natureza jurídica de ação, por incidência das regras trazidas pelo Código de 
Processo Civil de 2015 e com os requisitos para sua propositura estampados no artigo 988 do 
referido diploma legal, devendo ser protocolizada junto ao órgão jurisdicional o qual se pretende 
preservar a competência ou garantir a autoridade. 
Nesse sentido, destaca-se que a Reclamação Constitucional apresenta algumas similitudes 
com o Mandado de Segurança, como por exemplo: o objeto é estritamente de direito, a petição 
inicial deve ser instruída somente com documentação pré-constituída. Não cabe instrução 
probatória. O órgão que proferiu a decisão questionada deve ser intimado para oferecer 
informações e o Ministério Público deve ser ouvido, quando não for parte. 
Ainda, é importante destacar que por imposição do Código de Processo Civil, a 
Reclamação Constitucional é inadmissível após o trânsito em julgado da decisão e é necessário 
que a peça seja assinada por advogado devidamente constituído e com capacidade técnica. 
Quanto a incidência de honorários advocatícios, deve ser lembrado o fato de que a parte 
contrária na ação de Reclamação Constitucional não é o órgão usurpador da autoridade, mas sim 
a parte beneficiada pelo ato daquele órgão. Assim, incidem honorários sucumbenciais na 
Reclamação Constitucional. 
 
2 ORIGEM DA RECLAÇÃO CONSTITUCIONAL 
 
Deste modo, é possível afirmar que a Reclamação Constitucional é um instrumento de 
efetivação da democracia por sua previsão na Carta Magna, uma vez que o entendimento 
uniformizado das Cortes Superiores e do Supremo Tribunal Federal, tem o condão de que sejam 
cumpridos pelas cortes inferiores os preceitos democráticos estampados na Constituição Federal. 
Entretanto, não deverá ser utilizada como forma de desprestigiar as provas documentais e 
testemunhais colhidas, em respeito ao princípio do devido processo legal. 
A reclamação constitucional tem sua concepção na jurisprudência brasileira, não havendo 
no direito comparado qualquer registro de assemelhada prática à qual possa lhe atribuir a origem, 
portanto é possível concluir que se trata de um instituto genuinamente brasileiro1. 
No Brasil, a nossa Suprema Corte passou a adotar a reclamação constitucional em defesa 
de sua própria competência e da autoridade das decisões que profere. 
 
1 LEONEL, Ricardo de Barros, Reclamação Constitucional, São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p. 111. 
 
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A figura da reclamação surgiu na jurisprudência do STF, inspirada na teoria dos poderes 
implícitos (implied Powers).2 
Essa teoria, de origem norte-americana, define que quando uma constituição concede uma 
função a determinado órgão ou instituição também lhe confere, implicitamente, os meios 
necessários para a consecução das funções que lhe foram atribuídas. 
Assim, pode se afirmar que a reclamação constitucional é um remédio processual a ser 
utilizado quando uma decisão venha ser desrespeitada por autoridade de instância inferior ou 
órgão da administração pública. 
A reclamação constitucional está inserida em nosso atual ordenamento jurídico através 
da Carta Magna de 1988, especificamente em seus artigos 102, inciso I, letra “l”3 e 105, inciso I, 
letra “f”.4 
Em 8 de dezembro de 2004, com o advento da Emenda Constitucional n. 45, foi dada 
uma maior ampliação às hipóteses de cabimento da Reclamação Constitucional, inclusive no 
âmbito administrativo e de decisão judicial que contrariar súmula aplicável ou que indevidamente 
a aplicar, com a criação do artigo 103-A e respectivos parágrafos na Constituição Federal.5 
O artigo supra referenciado foi regulamentado pela Lei Federal nº 11.417, de 19.12.2006. 
Com a vigência da Emenda Constitucional nª 92, de 12 de julho de 2016, foi acrescido ao 
artigo 111-A, o parágrafo terceiro, introduzindo competência ao Tribunal Superior do Trabalho 
para processar e julgar, originalmente, a reclamação para preservação de sua competência e 
garantia da autoridade de suas decisões. 
 
2 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antonio. Introdução às Ações Constitucionais; Curitiba: Juruá, 2020. p. 13. 
3 - Artigo 102 “caput”: “Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-
lhe: 
Inciso “I”: Processar e julgar, originalmente: 
Letra “l”: a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de suas decisões;” 
4 - Artigo 105 “caput”: “Compete ao Superior Tribunal de Justiça:” 
Inciso “I”: processar e julgar, originalmente: 
Letra “f”: a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de suas decisões” 
5 Artigo 103-A: “O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante decisão de dois terços 
dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua 
publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à 
administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão 
ou cancelamento, na forma estabelecida em lei.” 
§ 3º: “Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula aplicável ou que indevidamente a aplicar, 
caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal que, julgando-a procedente, anulará o ato administrativo ou cassara 
a decisão judicial reclamada, e determinará que outra seja proferida com o sem a aplicação da súmula, conforme o 
caso.” 
 
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Com a vigência no nosso novo Código de Processo Civil de 2015, foi colocado fim a 
algumas divergências quanto à legitimidade e competência, bem como à sua natureza jurídica, 
pois passou a disciplinar a matéria em seus artigos 988 a 993. 
 
3 O PROCESSO E A EFETIVAÇÃO DA DEMOCRACIA 
 
“O processo que é um dos meios de obtenção de democracia é dotado de grande formação 
principiológica, estando esses princípios dispostos tanto na Carta Magna de 1988 como também 
em alguns dos Códigos de Processo, regulando de forma pontuada o processo.”6 
Dentre os princípios, temos um deles que é considerado um dos mais ou até o mais 
importante, que é o do devido processo legal. Buscando os ensinamentos do festejado jurista e 
processualista Nelson Nery Junior, encontramos em suas palavras: “O princípio constitucional 
fundamental do processo civil, que entendemos como base sobre o qual todos os outros princípios 
e regras se sustentam, é o do devido processo legal, expressão oriunda da inglesa due process of 
law. A Constituição Federal brasileira de 1988 fala expressamente que ‘ninguém será privado da 
liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal’ (CF 5º LIV) (destacamos).”7 
Ainda, é possível afirmar que esse princípio apesar da sua relevância e importância no 
nosso ordenamento jurídico processual, não estará completo em sua aplicação e respeito se não 
estiver aliado aos princípios democráticos de direito, pois não adianta o processo respeitar o 
princípio do devido processo legal se não estiver vinculado a um sistema democrático respeitado 
na sua plenitude. 
Isto porque até mesmo em sociedades não democráticas poderá haver a exigência de 
aplicação do princípio do devido processo legal, porém, se não for democrático como condição 
radical perderá sua essência como instrumento para a busca da verdade real e aplicação da 
verdadeira justiça. 
 
 
6 THAMAY, Renan. Processo Constitucional: do processo civil aos demais ramos processuais; São Paulo: 
Thomson Reuters Brasil, 2022. P. 32 
7 NERY JUNIOR, Nelson, Princípios do processo na Constituição Federal: processo civil, penal e administrativo. 
– 10ª ed, ver., ampl. e atual. com as novas sumulas do STF (simples e vinculantes) e com análise sobre a relativização 
da coisa julgada. – São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010. P. 79. 
 
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4 NATUREZA JURÍDICA 
 
Inicialmente, houve alguma vacilação tanto na doutrina quanto na jurisprudência em 
relação à natureza jurídica da reclamação constitucional, pois, diante dessa indefinição, em 
alguns momentos havia quem a considerava como incidente processual, recurso, ação ou 
simplesmente exercício do direito de petição. Nessa última hipótese, até mesmo o Supremo 
Tribunal Federal balançou até firmar posição definitiva quanto à natureza jurídica da 
Reclamação. 
Vários autores nos trazem a informação de que o próprio Supremo Tribunal Federal 
chegou a considerar a natureza jurídica da reclamação como sendo o exercício de direito de 
petição. O jurista e processualista Daniel Amorim Assumpção Neves8, relata que “[...] o Supremo 
Tribunal Federal, ainda na vigência do CPC/73, em celebre julgamento no qual teve que 
enfrentar o tema, chegou à conclusão de que a reclamação não seria uma ação, mas o mero 
exercício do direito de petição, previsto no art. 5º, XXXIV, alínea a, da CF (STF, Tribunal Pleno, 
ADI 2.212/CE, rel. Min. Ellen Gracie, j. 02/10/2003, DJ 14/11/2003, p.11).” 
Essa conclusão do STF, à época, foi atribuída às lições de Ada Pellegrini Grinover9 
Com a vigência do novo Código de Processo Civil de 2015, essas questões de ordem 
doutrinárias e jurisprudenciais passaram a ser deixadas de lado e surgiu a unificação de 
posicionamentos no sentido de que a reclamação tem natureza jurídica de ação, diante dos 
requisitos exigidos para sua propositura contidas no artigo 988 do novel diploma processual 
civil.10 
 
8 Neves, Daniel Amorim Assumpção. Código de Processo Civil Comentado.8. ed,, rev., atual. e ampl., São Paulo: 
Editora JusPodivm, 2003, p.1771 
9 GRINOVER, Ada Pellegrini. “A reclamação para garantia da autoridade das decisões dos tribunais”. O processo: 
estudos & pareceres. São Paulo: DPJ, 200, p. 74. Apud: DIDIER JR, Fredie e CUNHA, Leonardo Carneiro da. 20ª 
Ed. ver., atual. e ampl. – São Paulo: JusPodivm, 2023. p. 704. 
10 Artigo 988: “Caberá reclamação da parte interessada ou do Ministério Público para: 
I - preservar a competência do tribunal; 
II-garantir a autoridade das decisões do tribunal; 
III-garantir a observância de enunciado de súmula vinculantee de decisão do Supremo Tribunal Federal em controle 
concentrado de constitucionalidade; 
IV-garantir a observância de acórdão proferido em julgamento de incidente de resolução de demandas repetitivas 
ou de incidente de assunção de competência; 
§1º - A reclamação pode ser proposta perante qualquer tribunal, e seu julgamento compete ao órgão jurisdicional 
cuja competência se busca preservar ou cuja autoridade se pretenda garantir. 
§2º - A reclamação deverá ser instruída com prova documental e dirigida ao presidente do tribunal. 
§3º - Assim que recebida, a reclamação será autuada e distribuída ao relator do processo principal, sempre que 
possível. 
 
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Ainda durante o período em que havia divergência quanto à natureza jurídica da 
Reclamação Constitucional, antes da vigência do atual CPC, o Professor e Jurista Daniel Amorim 
Assumpção Neves11 nos traz uma divergência mais séria encontrada na discussão entre a natureza 
de ação e de exercício do direito de petição da reclamação, com importantes consequências 
práticas da adoção de um desses procedimentos. Prefiro, afirma ele, a corrente doutrinária que 
defende a natureza jurídica de ação da reclamação (STJ, 1ª seção, Recl. 3.828/SC, rel. Min. Eliana 
Calmon, j. 28/04/2010, DJE 07/05/2010) 
O que pode se concluir é que a acomodação da doutrina e jurisprudência deve se ao fato 
de que a natureza jurídica da reclamação se aproxima mais de ação, visto que preenche todos os 
requisitos objetivos estampados no artigo 319 do CPC. Assim, considerando que a reclamação, 
mesmo sendo considerada com natureza jurídica de ação, não deixa espaço para uma ampla 
possibilidade de prova, visto que quando da sua propositura, já deve estar acompanhada de todos 
os documentos que fazem provar as pretensões do reclamante. Diante disso, pode se afirmar que 
a petição inicial da reclamação tem as mesmas características e requisitos da peça inaugural do 
mandado de segurança, já que em ambos os casos não se tem oportunidade de colheita de provas 
testemunhais ou periciais, ou seja, não existe a fase instrutória. 
 
5 NATUREZA JURÍDICA DE AÇÃO - RECONHECIMENTO PELO STF E STJ 
 
Diante da vigência do novo Código de Processo Civil e da regulamentação expressa da 
reclamação, o próprio STF alterou seu posicionamento, reconhecendo 
que se trata de uma ação. É possível tomar como exemplo o julgamento do Agravo 
Regimental na Reclamação n. 24.417-SP, onde o Ministro Roberto Barroso, relator, afirmou que: 
“[...], o CPC/2015 promoveu uma modificação essencial no procedimento da reclamação, ao 
instituir o contraditório prévio à decisão final (art. 988, III). Disso decorre o ingresso do 
beneficiário do ato impugnado efetivamente como parte, com a respectiva obrigatoriedade de se 
lhe oportunizar a defesa do seu direito. Isto é, a reclamação indiscutivelmente tornou-se uma 
 
§4º - As hipóteses dos incisos III e IV compreendem a aplicação indevida da tese jurídica e sua não aplicação aos 
casos que a ela correspondem. 
...” 
11 Ob. citada, p. 1771. 
 
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ação, dotada de um rito próprio”12. Na mesma linha veio o STJ entendendo que: “Com a vigência 
do Código de Processo Civil de 2015, consolidou-se o entendimento doutrinário e 
jurisprudencial no sentido de que o instituto da reclamação possui natureza jurídica de ação, de 
índole constitucional, e não de recurso ou incidente processual.”13 
Assim sendo e, com todos esses fundamentos, pode-se concluir com segurança que a 
natureza jurídica da reclamação constitucional é de ação. 
 
6 EQUIVALÊNCIA ENTRE RECLAMAÇÃO E MANDADO DE SEGURANÇA 
 
Quanto a similitude entre a reclamação constitucional e o mandado de segurança temos 
alguns pontos que se destacam, ou sejam: i) o objeto é matéria de direito propriamente dito, ii) a 
petição inicial deve ser instruída, necessariamente, com documentos e provas pré-constituídos, 
iii) não cabe instrução probatória, iv) a autoridade ou colegiado que proferiu a decisão 
questionada deverá ser intimada para oferecer informações, v) o Ministério Público deverá ser 
ouvido, quando não for parte.14 
 
7 CABIMENTO DA RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL 
 
O cabimento da Reclamação Constitucional está disciplinado pelos artigos 988 a 993 do 
CPC/2015, além de lastreado nos mandamentos constitucionais acima explicitados e aqui 
repetidos: Artigo 102, Inciso I, letra “l”; artigo 103-A, § 3º, 105, inciso I, letra “f” e artigo 111-
A, § 3º. 
Ainda quanto ao cabimento e seus requisitos essa matéria também é disciplinada pelos 
Regimentos Internos dos Tribunais: RISTF – artigos – 156 a 162; RISTJ – artigos – 187 a 182; 
RITST – artigos – 210 a 217. 
É importante, desde já, ressaltar que por imposição do artigo § 5º, inciso I, do art. 988 do 
CPC, é inadmissível a reclamação constitucional após o trânsito em julgado da decisão. Não 
 
12 STF, 1ª T., Rcl.24.417 AgR, rel. Min. Roberto Barroso, j. em 7.3.2017, DJe-082 divulg 20.4.2017 public. 
24.4.2017. 
13 STJ, 2ª S. EDcl na Rcl 33.747/SP, rel. Nancy Andrighi, j. em 12.12.2018, DJe 14.12.2018. 
14 NEVES, Daniel Amorim Assumpção, Ações Constitucionais, 7.ed., ver., atual. e ampl. – São Paulo: Ed. 
JusPodivm, 2023, p. 275. 
 
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podendo confundi-la com ação rescisória, visto que ambas possuem requisitos e fundamentos 
diferenciados. 
 
8 INDISPENSABILIDADE DO ADVOGADO 
 
O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por seus atos e 
manifestações no exercício da profissão, nos termos da lei. Isso é o que determina o artigo 133 
da nossa Carta Magna 
Ao mesmo tempo, é importante ressaltar que o advogado exerce uma função social e sem 
o advogado não se faz justiça. 
Reafirmando isso, tem-se os ensinamentos do professor Ruy Azevedo Sodré15 “Basta que 
atenda ao seguinte: sem liberdade, não há advocacia. Sem a intervenção do Advogado não há 
justiça. Logo, a atuação do advogado é condição imprescindível, para que funcione a justiça. 
Não resta, pois, a menor dúvida de que o advogado exerce uma função social.” 
 
9 HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS DE SUCUMBÊNCIA 
 
Em relação ao nosso estudo sobre a reclamação constitucional, é importante frisar que em 
se tratando de uma ação, também está inserido os honorários advocatícios de sucumbência 
previsto no artigo 85, do CPC. 
No caso específico que estamos aqui a tratar, é importante destacar que os honorários 
advocatícios de sucumbência são devidos ao advogado do vencedor principalmente com a 
vigência do novo CPC, através do qual reconheceu definitivamente que a natureza jurídica da 
reclamação é de ação. 
Para maior assertiva nesse posicionamento, buscamos os ensinamentos dos professores e 
juristas Fredie Didier Jr. e Leonardo Caneiro da Cunha16, onde dizem: “Por ser a reclamação 
uma ação, o reclamante tem de antecipar o pagamento das custas para seu ajuizamento[...]”. 
Aqui é importante fazer uma observação de que no caso de a reclamação ser proposta na Justiça 
 
15 SODRÉ, Ruy Azevedo. Advogado, a Regulamentação e a Ética, São Paulo: ed. Revista dos Tribunais – 1962, 
1963, p. 29. 
16 - DIDIER JR., Fredie. CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil – v.3 – 20. Ed. Ver., 
atual. e ampl. – São Paulo: Ed. JusPODIVM – P.706 a 706. 
 
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do Trabalho, não haverá necessidade de pagamento das custas antecipadamente, visto que nos 
termos do artigo 789, § 1º da CLT, as custas serão pagaspelo vencido após o trânsito em julgado 
da decisão, sendo que em caso de recurso, as custas serão pagas e comprovado o recolhimento 
dentro do prazo recursal, exceto para o beneficiário da justiça gratuita. 
Voltando ao tema relacionado aos honorários advocatícios, continuam os juristas: “Ao 
final, o vencido há de ser condenado nos honorários de advogado da parte vencedora. Após o 
início da vigência do atual CPC, o STF, ao julgar a reclamação n. 24.417, entendeu serem 
devidos honorários de sucumbência em tal tipo de ação constitucional.17” 
Porém, é importante alertar que para a condenação em honorários advocatícios de 
sucumbência, é necessário que se tenha presente a causalidade, como afirmam os juristas citados: 
 
[...] só deve haver condenação em honorários, se houve causalidade. Não havendo 
causalidade, não haverá condenação em honorários de sucumbência. Aliás, cumpre 
lembrar que a parte demandada na reclamação é o beneficiário do ato impugnado, e 
não o juiz ou a autoridade que proferiu a decisão reclamada. A hipótese assemelha-se 
ao caso de embargos de terceiros, por meio dos quais um terceiro combate uma decisão 
judicial, mas o embargado é a parte que se beneficiou da decisão, e não o próprio juiz. 
Por isso, a condenação em honorários de sucumbência na reclamação assemelha-se à 
hipótese de condenação de honorários de sucumbência nos embargos de terceiros, 
impondo-se observar o enunciado 303 da Súmula do STJ, segundo a qual “Em 
embargos de terceiro, quem deu causa à constrição indevida deve arcar com os 
honorários advocatícios 
 
Com esses fundamentos tanto na doutrina como na jurisprudência pode se afirmar que é 
cabível a condenação em honorários de sucumbência em ação de Reclamação Constitucional. 
 
10 O STF E AS DECISÕES ORIUNDAS DA JUSTIÇA DO TRABALHO 
 
Ultimamente no Brasil tem-se travado divergências entre o Tribunal Superior do Trabalho 
e o Supremo Tribunal Federal, sob a alegação deste último que os Órgão da Justiça do Trabalho 
têm tomado decisões contrariando as posições pacificada pelos eminentes Ministros integrantes 
Suprema Corte, o que tem levado a diversas decisões proferidas em Reclamações Constitucionais 
cassando decisões oriundas da Justiça do Trabalho que acolhem o vínculo empregatício que 
 
17 - STF, 1ª Turma, Rcl 24.417, rel. Min. Roberto Barroso, DJe 16.3.2017. No mesmo sentido: STF, 1ª Turma, Rcl 
31.296 ED, rel. Min. Alexandre de ºMoraes, DJe 25.9.2019. 
 
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tenham reconhecido fraude ou simulação na contratação, bem como na sua execução, que têm 
por parte de alguns empregadores, o descumprimento da legislação trabalhista. 
O Supremo Tribunal Federal desenvolveu entendimento que originaram a ADPF 324, a 
ADC 48 e as ADIs nºs. 3.961 e 5.625, além da decisão no Recurso Extraordinário n. 958.252, 
que resultou no Tema 725 de repercussão geral, levando em consideração e com fundamentações 
nas leis que regem a matéria. 
Entretanto, a nosso ver, para efeito de um aprofundamento maior sobre o tema e para que 
não fiquemos somente em uma posição opinativa, é importante analisar cada um dos precedentes 
do STF acima indicados. 
Através dela foi firmada a tese considerando lícita a terceirização em qualquer atividade, 
independentemente de ser meio ou fim e, consequentemente, não caracterizando relação 
empregatícia entre contratante e contratado. Essa tese é colocada em sentido oposto à parte da 
Sumula 331 do TST, que admite a terceirização apenas em atividade meio. Entretanto, essa 
mesma súmula já passou do momento de ser alterada para adequação à decisão proferida pelo 
STF através da ADPF 324. 
Através de julgamento conjunto o STF reconheceu a constitucionalidade da Lei n. 
11.442/2007, que disciplina o transporte rodoviário de cargas por conta de terceiros e mediante 
remuneração, sendo com isso ratificada a posição da Suprema Corte de declarar lícita a 
terceirização de outras formas de contratação de mão de obra. 
Com essa decisão o STF declarou constitucional contrato civil de parceria entre salões de 
beleza e profissionais do setor, conforme Lei n. 13.352/2016, exceto se o contrato for utilizado 
para dissimular relação empregatícia de fato existente. 
Quando do julgamento dessa Reclamação, o ministro Luiz Roberto Barroso declarou: 
 
(...) o contrato de emprego não é a única forma de se estabelecerem relações de 
trabalho. Um mesmo mercado pode comportar alguns profissionais que sejam 
contratados pelo regime da Consolidação das Leis do Trabalho e outros profissionais 
cuja atuação tenha um caráter de eventualidade ou maior autonomia. Desse modo, são 
lícitos, ainda que para a execução da atividade-fim da empresa, os contratos de 
terceirização de mão de obra, parceria, sociedade e de prestação de serviços por 
pessoa jurídica (pejotização), desde que o contrato seja real, isto é, de que não haja 
relação de emprego com a empresa tomadora do serviço, com subordinação, horários 
para cumprir e outras obrigações típicas do contrato de trabalhista, hipótese em que 
se estaria fraudando a contratação (grifos nossos) 
 
 
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Esses precedentes do STF trazem em suas respectivos essências uma análise aprofundada 
sobre a interpretação da Lei e sua aplicação ao caso concreto, entretanto, a nosso ver, não é 
possível que tais “moldes” sejam aplicados de maneira generalizada, pois cada caso concreto 
analisado pela Justiça do Trabalho tem características e requisitos diferentes, dependendo de um 
processo legal, com produção de provas, sejam elas: depoimento das partes, testemunhas, 
documentos (inclusive os digitais), pericia, tec. Diante disso, considerando que o direito do 
trabalho é regido pelo princípio da primazia da realidade necessário se faz a realização uma 
instrução processual ampla e irrestrita, principalmente se devemos prezar por um processo que 
atenda o princípio constitucional do devido processo legal. Ainda mais, o processo deve ser legal 
e também democrático, pois não basta ser apenas legal é necessário que seja democrático, pois 
se considerarmos que em muitas sociedades ao redor do mundo o processo pode ser legal, mas 
não necessariamente é democrático, principalmente onde o regime político prevalecente é a 
ditadura. 
 
11 PRINCÍPIO DA PRIMAZIA DA REALIDADE 
 
Consideramos importante relembrar que o direito do trabalho é regido, dentre outros, 
porém o mais significativo, pelo princípio da primazia da realidade, reconhecido de maneira 
uníssona pela doutrina e jurisprudência tanto brasileira como estrangeira que reconhecem o 
direito do trabalho como direito a ser respeitado independentemente do que possa estar 
formalizado ou contratado entre prestador de mão de obra e o tomador, na relação de trabalho. 
Arnaldo Süssekind afirma: “A regra que prevalece no Direito do Trabalho é a da nulidade 
absoluta do ato anormal praticado com o intuito de evitar a aplicação das normas jurídicas de 
proteção ao trabalho. Sempre que possível, desde que da lei não resulte solução diversa, a relação 
e emprego deve prosseguir como se o referido ato não tivesse sido praticado; em caso contrário, 
deve ser reparado, nos limites da lei trabalhista, o dano oriundo do ato malicioso. Ocorrendo 
simulação atinente à relação de trabalho, ou a uma de suas condições, as normas jurídicas 
correspondentes deverão ser aplicadas em face da verdadeira natureza da relação ajustada ou da 
condição realmente estipulada”18 
 
18 SÜSSEKIND, Arnaldo, Capítulo sobre “irrenunciabilidade e Fraude à Lei”, na obra “Instituições de Direito do 
Trabalho”, publicada pelo autor conjuntamente com Délio Maranhão e José Segadas Viana, t. I, pág. 254.13 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.6, p. 01-20, 2024 
 
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Em seus ensinamentos através de estudos e posicionamentos fundamentados, inclusive 
ao direito do trabalho comparado, o festejado jurista Américo Plá Rodriguez, autor uruguaio e 
reconhecido mundialmente na área trabalhista, quando se manifesta sobre essa matéria nos traz 
a efetiva e concreta noção de que “O princípio da primazia da realidade significa que, em caso 
de distância entre o que ocorre na prática e o que emerge de documentos ou acordos, deve-se 
dar preferência ao primeiro, isto é, ao que sucede no terreno dos fatos”19 
Ainda, o referido jurista uruguaio complementa seus ensinamentos utilizando os 
argumentos do não menos renomado jurista mexicano Mário De La Cueva: “Geralmente esta 
ideia se menciona com a expressão cunhada por De La Cueva, que sustenta que o contrato do 
trabalho é um contrato realidade.”20 
Continua ainda, utilizando-se dos ensinamentos de De La Cueva: “Existe, por 
conseguinte, uma diferença essencial entre o contrato de trabalho e os contratos de direito civil. 
Nestes, a produção dos efeitos jurídicos e a aplicação do direito somente dependem do acordo de 
vontades, enquanto no de trabalho é necessário o cumprimento mesmo da obrigação contraída: 
doente se deduz que no direito civil o contrato não está ligado a seu cumprimento, enquanto no 
do trabalho não fica completo senão através (de) sua execução”.21 
Além disso, o referido jurista mexicano arremata: “A existência de uma relação de 
trabalho depende, em consequência, não do que as partes tiverem pactuado, mas da situação real 
em que o trabalhador se ache colocado, porque, como diz Scelle, a aplicação do Direito do 
Trabalho depende cada vez menos de uma relação jurídica subjetiva do que de uma situação 
objetiva, cuja existência é independente do ato que condiciona seu nascimento. Donde resulta 
errôneo pretender julgar a natureza de uma relação de acordo com o que as partes tiverem 
pactuado, uma vez que, se as estipulações consignadas no contrato não correspondem à realidade, 
carecerão de qualquer valor”. 
“Em razão do exposto é que o contrato de trabalho foi denominado contrato-realidade da 
prestação de serviço, e que é esta e não aquele acordo o que determina sua existência”.22 
 
 
19 PLÁ RODRIGUES, Américo. Princípios de direitos do trabalho; tradução de Wagner D. Giglio, - São Paulo: 
LTr. 1978, p. 217. 
20 PLÁ RODRIGUEZ, Américo. Princípios de direito do trabalho; tradução de Wagner D. Giglio. – São Paulo: 
LTr. 1978. P. 217. 
21 Mario de La Cueva. “Derecho Mexicano del Trabajo”, 2ª ed., México, 1943, t. I, pag 381. 
22 Mario de La Cueva, “Derecho Mexicano del Trabajo”, 2ª ed., México, 1943, t. I, pág. 383. 
 
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12 LEGISLAÇÃO BRASILEIRA E O CONTRATO DE TRABALHO 
 
A legislação brasileira acolheu e tem exigido a aplicação do princípio da primazia da 
realidade, tanto que para caracterização e reconhecimento do contrato de trabalho não exige 
qualquer formalidade, dependendo apenas que o prestador do serviço comprove os requisitos 
exigidos e impostos pelo artigo 3º da CLT, para que comprove que é empregado: 
“Considera-se empregado, toda pessoa física que prestar serviços de natureza não 
eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário.” 
O parágrafo único deste mesmo artigo determina que: “Não haverá distinção relativas à 
espécie de emprego e à condição de trabalhador, nem entre o trabalho intelectual, técnico ou 
manual.” 
O artigo 2º da CLT, por sua vez, traz a definição do que é empregador, ou seja: 
“Considera-se empregado a empresa, individual ou coletiva, que, assumindo os riscos da 
atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviço.” 
O parágrafo primeiro determina que: “Equiparam-se ao empregador, para os efeitos 
exclusivos da relação de emprego, os profissionais liberais, as instituições de beneficência, as 
associações recreativas ou outras instituições sem fins lucrativos, que admitirem trabalhadores 
como empregados. 
Na sequência, o parágrafo segundo disciplina e define o que é grupo econômico para 
efeito trabalhista, dizendo: “Sempre que uma ou mais empresas, tendo, embora, cada uma delas, 
personalidade jurídica própria, estiverem sob a direção, controle ou administração de outra, ou 
ainda quando, mesmo guardando cada uma sua autonomia, integram grupo econômico, serão 
responsáveis solidariamente pelas obrigações decorrentes da relação de emprego.” 
Ainda e por último, no mesmo artigo 2º, sem seu parágrafo 3º, define quando que não é 
caracterizado o grupo econômico: “Não caracteriza grupo econômico a mera identidade de 
sócios, sendo necessárias, para configuração do grupo, a demonstração do interesse integrado, a 
efetiva comunhão de interesses e a atuação conjunta das empresas dele integrantes.” 
 
 
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13 REQUISITOS PARA RECONHECIMENTO DA CONDIÇÃO DE EMPREGADO 
 
Por força do próprio artigo 3º da CLT, é possível identificar a pessoa que ocupa a 
condição de empregado, sendo, necessário para tanto, o preenchimento dos seguintes requisitos: 
 
a) Ser pessoa física; 
b) Prestar serviços de natureza não eventual, devendo ser constante, não poderá 
comparecer quando quiser ou lhe for conveniente e não podendo mandar outra pessoa 
comparecer ou executar o for de sua responsabilidade; 
c) Sob a dependência do empregador. Essa dependência é caracterizada não pela 
dependência econômica, pois às vezes poderá ocorrer do empregado ter maior 
patrimônio que o próprio empregador. Essa dependência se dá do ponto de vista de 
subordinação, ou seja, recebe ordens e determinações diretamente do seu empregador 
ou de seus prepostos; ainda em relação à subordinação é importante destacar que a 
própria CLT, através do parágrafo único do art. 6º, considera os meios telemáticos e 
informatizados de comando, controle e supervisão se equipara, para fins de 
subordinação jurídica, aos meios pessoais; 
d) Mediante salário; ou seja, é necessário que o empregado receba uma 
remuneração. 
 
Desta forma, mesmo não havendo um contrato escrito, havendo comprovação dos 
requisitos acima, a Justiça do Trabalho reconhecerá a relação de emprego irá considerá-lo como 
empregado e, consequentemente, terá direito a todas as verbas correspondentes ao período 
laborado, respeitado, obviamente, a prescrição. 
Ainda é importante destacar que para a caracterização da relação de emprego, independe 
de onde o trabalho é realizado, podendo ocorrer no estabelecimento do empregador, no domicílio 
do empregado ou realizado a distância (artigo 6º da CLT) 
 
14 NULIDADE DOS ATOS PRATICADOS PARA DESVIRTUAR A APLICAÇÃO DA 
CLT 
 
O Legislador dentro do princípio protetivo do Direito do Trabalho teve a preocupação em 
proteger a parte mais fraca na relação entre o capital e o trabalho, com isso introduziu o artigo 9º 
da CLT, que é categórico e impositivo: “Serão nulos de pleno direito os atos praticados com o 
objetivo de desvirtuar, impedir ou fraudar a aplicação dos preceitos contidos na presente 
Consolidação.” 
 
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Assim, pode-se afirmar que esse é um dos dispositivos da CLT de maior importância no 
nosso sistema jurídico trabalhista, que por meio de sua interpretação e aplicação literal é 
proporcionada maior segurança jurídica ao empregado. 
Portanto, qualquer ato que tenha por objetivo desvirtuar, impedir ou fraudar a aplicação 
da legislação trabalhista é nulo de pleno direito. 
Assim, temos que considerando o princípio da primazia da realidade a relação de trabalho 
deve estar alicerçadana realidade e não naquilo que estiver escrito no contrato ou acordo e que 
tenha através da formalidade o descumprimento da Lei propriamente dito. 
Em um mundo capitalista onde muitos empregadores praticam verdadeira selvageria em 
relação ao trabalho, com uma ambição de acumulação de capital a qualquer preço, principalmente 
em uma sociedade, como a nossa, onde a moral é colocada de lado e o objetivo principal é levar 
vantagem a qualquer preço, até mesmo o princípio da boa-fé objetiva imposto pelo artigo 422 do 
Código Civil em muitos casos é desrespeitado. 
Nessa linha de raciocínio e reforçando o nosso posicionamento apoiamo-nos aos 
ensinamentos de Süssekind, quando afirma: 
 
Em toda comunidade, durante a história da civilização, apareceram, como surgirão 
sempre, pessoas que procuram fraudar o sistema jurídico em vigor, seja pelo uso 
malicioso e abusivo do direito de que é titular, seja pela simulação de atos jurídicos, 
tendente a desvirtuar ou impedir a aplicação da lei pertinente, seja, enfim, por qualquer 
outra forma que a má-fé dos homens é capaz de arquitetar. Por isso mesmo, inúmeros 
são os atos praticados por alguns empregadores inescrupulosos visando impedir a 
aplicação dos preceitos de ordem pública consagrados pelas leis de proteção ao 
trabalho. E, em alguns casos, os próprios trabalhadores, premidos pela coação 
econômica ou pelo poder hierárquico do respectivo empregador, ou, ainda, pelo 
desconhecimento da legislação aplicável, participam do ajuste estipulado e fraude à 
lei.23 
 
As últimas decisões do STF em matérias trabalhistas, principalmente no que diz respeito 
à unidade de decisões proferidas pela Justiça do Trabalho correspondente ao reconhecimento de 
vínculo empregatício, apesar do instrumento processual previsto na nossa Carta Magna, ou seja, 
a Reclamação Constitucional, tem atropelado o próprio Direito do Trabalho e também tem 
deixado a desejar a função democrática do devido prazo legal, principalmente considerando que 
para se chegar a uma conclusão do direito ou não do trabalhador que judicialmente pretende o 
 
23 Süssekind, Arnaldo. Instituição de Direito do Trabalho, escrita em conjunto com Délio Maranhão e Segadas 
Vianna, vol I, 7ª ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Ed. Freitas Bastos, p. 167. 
 
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reconhecimento do seu vínculo empregatício com o seu empregador é necessário a ampla 
produção de provas, sejam elas documentais, testemunhais, periciais e inclusive as telemáticas e 
informatizadas. 
Portanto, não é provável que um ministro integrante da Suprema Corte possa tomar uma 
decisão anulando julgados proferidos por magistrados da justiça especializada trabalhista, 
mesmo porque a Reclamação Constitucional tem sido manipulada, utilizando-se como atalho 
para se chegar à Suprema Corte, com maior força ou flexibilidade do que o próprio recurso 
extraordinário, o qual por unificação da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, por meio 
da Súmula 279, que impõe: “Para simples reexame de provas não cabe recurso extraordinário.” 
Ademais, em várias decisões proferidas ultimamente pelo Supremo Tribunal Federal, que 
tem utilizado seus precedentes para conceder provimentos à determinadas Reclamações 
Constitucionais, não trazem alternâncias entre o caso concreto analisado e o precedente 
supostamente correspondente. 
 
15 ANÁLISE DA NOTA TÉCNICA DO NTADT/USP 03/2023 
 
Ao analisar a Nota Técnica nº 3/2023, relativa à análise dos precedentes julgados do 
Supremo Tribunal Federal acerca da competência da Justiça do Trabalho no Brasil, 
correspondente ao resultado de prejuízo quali-quantitativo realizado pelo Núcleo de Extensão e 
Pesquisa “O Trabalho além do Direito do Trabalho” (NTADT), vinculado ao Departamento de 
Trabalho e Previdência Social, da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo – USP e à 
Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (ANAMATRA), observa-se que as 
indicações conclusivas da referida Nota Técnica é possível subtrair as seguintes: 
 
“(i) Restou demonstrado que, no contexto do presente estudo, a competência para 
reconhecer os elementos da fraude, art. 9º da CLT, e os casos das relações de trabalho 
em que não há vínculo empregatício, mas há dependência econômica nos quais há 
direitos trabalhistas mínimos, na perspectiva do art. 7º da Constituição, ou seja, a 
competência geral para as relações de trabalho, estabelecida no art. 114 da Constituição 
é da Justiça do Trabalho; 
... 
(iii) a alteração atribuída ao artigo 114, I da Constituição Federal explicitou o rol de 
demandas de competência da Justiça do Trabalho, restando superada a discussão 
relativa à sua competência para processar e julgar “ações oriundas da relação de 
trabalho”; 
 
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(iv) o julgamento, pelo STF, da ADC 48 tem sido observado como paradigma principal 
em julgados com o tema relativo à existência de vínculo empregatício em várias 
categorias de trabalhadores, para além dos abrangidos pela Lei 11.442; 
(v) o fundamento da decisão da Reclamação 56499/RJ, paradigma utilizado em outros 
julgados, afasta a aplicação do princípio basilar do direito do trabalho da Primazia da 
Realidade, em violação ao texto constitucional; 
(vi) ocorre a falta do requisito necessário à admissão da reclamação constitucional, qual 
seja, a de estrita aderência do caso ao precedente paradigma, em processos em que se 
discute o reconhecimento de vínculo empregatício pela aplicação do artigo 3º da CLT, 
bem como a ocorrência de fraude, nos termos do art. 9º da CLT; 
(vii) a necessidade de verificação de fatos e provas para o enquadramento jurídico destes 
trabalhadores aos julgados paradigmas se constitui em óbice intransponível à 
admissibilidade de Reclamação Constitucional, a teor da Súmula 279 do STF; 
(viii) a aplicação do princípio da primazia da realizada em concreta relação de trabalho 
será sempre o balizador da subsunção do caso à norma, implicando na verificação da 
ocorrência de fraude (art. 9º da CLT) e os fatos e provas colhidos nos autos, sendo, 
portanto, da Justiça do Trabalho, a competência para sua apreciação, nos termos do art. 
114, I da Constituição da República, não cabendo às partes a livre escolha, dentre um 
cardápio de regimes laborais; 
(ix) a condição de hipossuficiência não é requisito necessário para o reconhecimento do 
vínculo e o fato da parte autora da ação ser portadora de conhecimentos jurídicos não a 
exclui das pressões do mercado de trabalho nem da possibilidade de trabalhar sob 
subordinação e dependência econômica, retirando-lhe a autonomia para uma escolha 
esclarecida e livre; 
(x) há necessidade de aplicação de distinguishing na situação dos trabalhadores 
plataformizados nos parâmetros de incidência do precedente da ADC 48, relativa aos 
motoristas autônomos, diante da competência ampliativa da Justiça do Trabalho a partir 
da Emenda Constitucional nº 45/2004, que em seu artigo 114 fixou tal competência para 
as lides relativas às relações de trabalho e não mais exclusivamente para os litígios entre 
empregados e empregadores; [...]”24 
 
16 CONCLUSÕES FINAIS 
 
Assim, podemos concluir que a reclamação constitucional não pode ser acolhida, 
processada e julgada quando a matéria discutida está relacionada à fatos, visto que a mesma não 
tem a amplitude para remover as provas colhidas, analisadas e julgadas por órgão do sistema 
jurídico com competência constitucional ( Art. 114,I, CF )25, portanto, é possível concluir que 
por uma questão de atendimento e cumprimento do devido processo legal e ampla defesa (art. 5º, 
LV)26, sendo que esses dois princípios constitucionais devem ser interpretados e aplicados sem24 - https://www.conjur.com.br/dl/pesquisa-anamatra-usp-competenciais.pdf; acesso em 30.01.24, às 16hs04m. 
25 - “Art. 114: Compete à Justiça do Trabalho processar e julga: 
Inc. I: as ações oriundas da relação de trabalho, ...” 
OBS: O inciso I acrescentado pela Emenda Constitucional 45, de 8-12-2004. 
26 “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos 
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à 
propriedade, nos termos seguintes: 
... 
https://www.conjur.com.br/dl/pesquisa-anamatra-usp-competenciais.pdf
 
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perder de vista o estado democrático de direito, bem como em respeito à Súmula do STF 27927, 
a reclamação constitucional deve ficar restrita à matéria de direito, assim como ocorre com o 
recurso extraordinário. Com essa mesma interpretação da Suprema Corte Constitucional, tem-se 
a aplicação da Súmula 7 do STJ28, assim como na esfera da Justiça Especializada Trabalhista, 
unificando tal entendimento temos também a Súmula 126 do TST29. 
Assim, com todos esses fundamentos legais e as jurisprudências unificadas pelas Cortes 
Superiores e especial pela nossa Suprema Corte Constitucional (STF) que tem como função 
maior cumprir e fazer cumprir dos ditames democráticos de direito, o acolhimento, 
processamento e julgamento da reclamação constitucional para revisão de provas, cuja 
competência legal é dos Tribunais de segunda instância, que têm essa prerrogativa legal de 
revisão das provas produzidas pelos juízes de instância inferior, demonstra ser desapropriada. 
 
 
Inciso LV – aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o 
contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;” 
27 “Sumula 279: Para simples reexame de prova não cabe recurso extraordinário.” 
28 “Sumula 7: A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial.” 
29 “Sumula 126: Incabível o recurso de revista ou de embargos (arts. 896 e 894,’b’, da CLT) para reexame de fatos 
e provas.” 
 
20 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.6, p. 01-20, 2024 
 
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REFERÊNCIAS 
 
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tribunais. O processo: estudos & pareceres. São Paulo: DPJ, 200. 
 
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NERY JUNIOR, Nelson. Princípios do processo na Constituição Federal: processo civil, 
penal e administrativo. São Paulo: RT 2010. 
 
NEVES, Daniel Amorim Assumpção, Ações Constitucionais. – São Paulo: JusPodivm, 2023. 
 
Nota Técnica Nº 3/2023 – NTADT – Núcleo de Extensão e Pesquisa “O Trabalho além do 
Direito do Trabalho, vinculado ao Departamento de Trabalho e Previdência Social, da 
Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo – USP. 
 
PLÁ RODRIGUES, Américo. Princípios de direito do trabalho; tradução Wagner D. Giglio. 
São Paulo: LTr. 1978. 
 
SÜSSEKIND, Arnaldo. Instituições de Direito do Trabalho, escrita em conjunto com Délio 
Maranhão e Segadas Vianna, Rio de Janeiro: Freitas Bastos. 1978. 
 
SODRÉ, Ruy de Azevedo. Advogado, a Regulamentação e a Ética, São Paulo: RT. 1963. 
 
TEIXEIRA FILHO, Manoel Antonio. Introdução às Ações Constitucionais, Curitiba: Juruá. 
2020. 
 
THAMAY, Renan. Processo Constitucional: do processo civil aos demais ramos processuais. 
São Paulo: Thomson Reuters Brasil. 2022.

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