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1 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.6, p. 01-13, 2024 
 
 jan. 2021 
A educação como vetor de liberdade e desenvolvimento: reflexões 
pedagógicas em Amartya Sen 
 
Education as a vector of freedom and development: pedagogical reflections 
on Amartya Sen 
 
La educación como vector de libertad y desarrollo: reflexiones pedagógicas 
sobre Amartya Sen 
 
DOI: 10.55905/revconv.17n.6-242 
 
Originals received: 05/13/2024 
Acceptance for publication: 06/03/2024 
 
Giancarlo Moser 
Pós-Doutor em História da Educação e em Administração 
Instituição: Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL) 
Endereço: Florianópolis – Santa Catarina, Brasil 
E-mail: mosergiancarlo@gmail.com 
Orcid: https://orcid.org/0000-0001-6050-9325 
 
RESUMO 
O presente trabalho investiga a importância do investimento em educação como um alicerce 
essencial para alcançar o desenvolvimento, fundamentando-se na perspectiva teórica de Amartya 
Sen. Este artigo argumenta que a educação é um vetor poderoso de liberdade e desenvolvimento, 
capaz de transformar vidas e comunidades de maneira profunda e duradoura. Segundo Sen, a 
educação não só promove a liberdade individual ao ampliar as capacidades das pessoas, mas 
também atua como um catalisador crucial para o desenvolvimento econômico e a igualdade 
social. A pesquisa adota a abordagem de "desenvolvimento como liberdade", de Sen, e realiza 
uma análise qualitativa através de uma revisão bibliográfica e documental. As conclusões 
destacam que a educação é fundamental para a construção de sociedades mais justas, coesas e 
desenvolvidas, promovendo a autonomia pessoal e a participação ativa dos indivíduos na vida 
política, social e econômica. Além disso, enfatiza-se que o acesso universal à educação de 
qualidade é um direito humano básico e uma condição indispensável para a realização plena do 
potencial humano. 
 
Palavras-chave: educação, desenvolvimento humano, liberdade, Amartya Sen. 
 
ABSTRACT 
The present work investigates the importance of investing in education as an essential foundation 
for achieving development, based on Amartya Sen's theoretical perspective. This article argues 
that education is a powerful vector of freedom and development, capable of profoundly and 
enduringly transforming lives and communities. According to Sen, education not only promotes 
individual freedom by expanding people's capabilities but also acts as a crucial catalyst for 
economic development and social equality. The research adopts Sen's "development as freedom" 
approach and conducts a qualitative analysis through a bibliographic and documentary review. 
mailto:mosergiancarlo@gmail.com
 
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The conclusions highlight that education is fundamental for building more just, cohesive, and 
developed societies, promoting personal autonomy and the active participation of individuals in 
political, social, and economic life. Furthermore, it emphasizes that universal access to quality 
education is a basic human right and an indispensable condition for the full realization of human 
potential. 
 
Keywords: education, human development, freedom, Amartya Sen. 
 
RESUMEN 
Este documento investiga la importancia de invertir en educación como base esencial para lograr 
el desarrollo, basándose en la perspectiva teórica de Amartya Sen. Este documento sostiene que 
la educación es un poderoso vector de libertad y desarrollo, capaz de transformar vidas y 
comunidades de forma profunda y duradera. Según Sen, la educación no sólo promueve la 
libertad individual ampliando las capacidades de las personas, sino que también actúa como 
catalizador crucial del desarrollo económico y la igualdad social. La investigación adopta el 
enfoque de Sen del "desarrollo como libertad" y lleva a cabo un análisis cualitativo mediante una 
revisión bibliográfica y documental. En las conclusiones se destaca que la educación es 
fundamental para construir sociedades más justas, cohesionadas y desarrolladas, promoviendo la 
autonomía personal y la participación activa de los individuos en la vida política, social y 
económica. Además, se subraya que el acceso universal a una educación de calidad es un derecho 
humano básico y una condición indispensable para la plena realización del potencial humano. 
 
Palabras clave: educación, desarrollo humano, libertad, Amartya Sen. 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
O presente artigo explora a importância do investimento em educação como um alicerce 
essencial para alcançar o desenvolvimento, fundamentando-se na perspectiva teórica de Amartya 
Sen. A educação é amplamente reconhecida como um dos pilares fundamentais para o progresso 
de qualquer sociedade. No entanto, sua importância vai além da simples transmissão de 
conhecimento. A educação é um vetor poderoso de liberdade e desenvolvimento, capaz de 
transformar vidas e comunidades de maneira profunda e duradoura. 
Primeiramente, a educação promove a liberdade individual. O economista e filósofo 
Amartya Sen, em suas teorias sobre desenvolvimento humano, destaca a importância das 
capacidades - ou seja, a liberdade das pessoas de escolherem e viverem a vida que valorizam. A 
educação amplia essas capacidades, proporcionando às pessoas as habilidades e o conhecimento 
necessários para tomar decisões informadas e exercer seus direitos de maneira plena. Com a 
 
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educação, os indivíduos podem acessar melhores oportunidades de emprego, participar 
ativamente da vida política e social e desfrutar de uma maior autonomia pessoal. 
Além disso, a educação é um catalisador crucial para o desenvolvimento econômico. 
Sociedades com altos níveis de alfabetização e educação tendem a ser mais produtivas e 
inovadoras. A formação educacional não apenas aumenta a eficiência e a qualidade da força de 
trabalho, mas também fomenta o empreendedorismo e a criação de novas indústrias e 
tecnologias. Investir em educação, portanto, é investir no crescimento econômico sustentável e 
na competitividade global. 
Outro aspecto vital é o papel da educação na promoção da igualdade social. A educação 
de qualidade para todos é um passo essencial para a redução das desigualdades. Ela oferece a 
todos, independentemente de sua origem socioeconômica, a chance de desenvolver seu potencial. 
Isso contribui para a construção de sociedades mais justas e coesas, onde as disparidades de renda 
e oportunidade são minimizadas. 
Além dos benefícios econômicos e sociais, a educação desempenha um papel central na 
promoção do desenvolvimento humano em um sentido mais amplo. Ela fortalece a capacidade 
das pessoas de compreenderem e enfrentarem os desafios globais, como a mudança climática, a 
saúde pública e os direitos humanos. Uma população bem-educada está mais preparada para 
contribuir para soluções inovadoras e sustentáveis, essenciais para o futuro do planeta. 
A educação também é um elemento chave para a construção da paz e da estabilidade. Ao 
promover o respeito mútuo, o entendimento intercultural e a tolerância, a educação ajuda a 
prevenir conflitos e a construir sociedades mais pacíficas. A formação de cidadãos conscientes e 
críticos é fundamental para a manutenção da democracia e dos valores de justiça e igualdade. 
A metodologia adotada neste artigo fundamenta-se na abordagem conceitual de 
"desenvolvimento como liberdade", proposta por Amartya Sen. A pesquisa foi conduzida a partir 
de uma revisão bibliográfica e documental extensa, que envolveu uma análise crítica e detalhada 
da literatura relevante sobre o tema. O estudo é caracterizado por uma abordagem qualitativa e a 
estrutura do texto está organizada em três partes principais. 
Na primeira seção, após a introdução, discute-se o papel fundamental da educaçãona 
sociedade contemporânea, enfatizando sua importância como instrumento de transformação 
social e desenvolvimento humano. Essa discussão é embasada em diversas teorias e estudos que 
 
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destacam a educação como um direito humano essencial e um meio para alcançar a equidade e a 
justiça social. 
A segunda seção dedica-se a apresentar e aprofundar o conceito de desenvolvimento 
segundo a perspectiva de Amartya Sen. Nesta parte, são explorados os principais elementos da 
teoria de Sen, incluindo a ideia de que o desenvolvimento deve ser medido não apenas pelo 
crescimento econômico, mas também pela expansão das liberdades e capacidades individuais. A 
análise inclui uma discussão sobre como essas ideias podem ser aplicadas na formulação de 
políticas públicas que promovam um desenvolvimento mais inclusivo e sustentável. 
A seção final sintetiza as principais conclusões do artigo, destacando as implicações 
práticas e teóricas do estudo. Esta parte resume os achados mais significativos, além de apontar 
as contribuições do artigo para o debate acadêmico e para a prática de políticas educacionais e 
de desenvolvimento. 
 
2 A CENTRALIDADE DA EDUCAÇÃO NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA: PILAR 
FUNDAMENTAL PARA O DESENVOLVIMENTO E A IGUALDADE 
 
A globalização da sociedade está mudando a maneira como nos comunicamos e vemos o 
futuro. Um estudante, em qualquer nível, por exemplo, não está mais satisfeito com os métodos 
tradicionais de ensino, pois enfrenta mudanças rapidamente e aceita os desafios de hoje para 
dominar as ferramentas de comunicação de alta velocidade e ser capaz de trabalhar sob estresse, 
lidando com a forte concorrência no mercado de trabalho. Com um crescimento extenso dos 
serviços educacionais atualmente, tal educando não apenas continua estudando continuamente, 
mas também percebe o movimento atual de autoeducação e autodesenvolvimento, nesse sentido, 
temos em observância o papel precípuo da educação, conforme apontado por Demo (2007, p.25): 
 
[...] é fundamental que educação, além de humanizar o conhecimento, se dedique a 
aprimorar sua qualidade formal, em particular sob o desafio construtivo. Manejar e 
construir conhecimento é meta instrumental essencial do processo educativo. Tendo os 
meios mais competentes à mão, poderá melhor efetivar suas metas. 
 
 
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Não obstante, em uma abordagem crítica do papel docente na sociedade hiperconectada 
e fortemente influenciada pelos meios de comunicação, conforme descrita por Baudrillard, 2008 
1, o pesquisador Gadotti (2000, p. 71) em consonância com esta perspectiva aponta que: 
 
Nessa “educação bancária” (Paulo Freire), o docente é apenas um “aplicador” de um 
texto: “Hoje vamos estudar da página 13 à página 18”. Nada mais. Por isso, os textos 
didáticos devem ser “explícitos”, pensados, criticados e revistos de acordo com certos 
“parâmetros nacionais” 5 do Banco. O docente “passa” de uma página para outra, e 
avança, conforme a aplicação das páginas do texto. Qualquer pessoa pode “passar” de 
uma página para outra. Não precisa tanto tempo para se formar. Na verdade, nem precisa 
ser “professor”. 
 
Contudo, e de maneira que nos parece irreversível e inescapável, o novo paradigma da 
educação no mundo globalizado proporciona acesso, para muitos, maior à ensino e 
desenvolvimento contínuo de competências que atendem às exigências de uma sociedade 
globalizada. Segundo DELORS et al., (1998, p. 103) 
 
A educação ocupa cada vez mais espaço na vida das pessoas à medida que aumenta o 
papel que desempenha na dinâmica das sociedades modernas. Atualmente, ninguém 
pode pensar em adquirir, na juventude, uma bagagem inicial de conhecimentos que lhe 
baste para a toda vida, porque a evolução rápida do mundo exige uma atualização 
contínua dos saberes, mesmo que a educação inicial dos jovens tender a prolongar-se. 
[...] a própria educação está em plena mutação: as possibilidades de aprender oferecidas 
pela sociedade exterior à escola multiplicam-se, em todos os domínios, enquanto a 
noção de qualificação, no sentido tradicional, é substituída em muitos setores modernos 
de atividade, pelas ações de competência evolutiva e capacidade de adaptação. 
 
Nesse sentido, é crucial que o sistema educacional se molde para refletir e responder à 
complexidade das vivências plurais dos alunos. Nesse sentido, Moreira e Candau (2003, 161) 
afirmam que: 
 
A escola sempre teve dificuldade em lidar com a pluralidade e a diferença. Tende a 
silenciá-las e neutralizá-las. Sente-se mais confortável com a homogeneização e a 
padronização. No entanto, abrir espaços para a diversidade, a diferença e para o 
cruzamento de culturas constitui o grande desafio que está chamado a enfrentar. 
 
1 A hiper-realidade é amplamente explorada e discutida pelo filósofo francês e cabe aqui um breve contexto de seu 
pensamento, reiterando que este ensaio busca a análise específica sob o prisma de Umberto Eco. Segundo as 
considerações de Baudrillard (2008), a hiper-realidade se configura como um estado em que a própria realidade e 
suas representações se amalgamam, resultando em uma fusão indistinta entre a imagem simulada e o real. Neste 
cenário hiper-real, nos vemos imersos em um universo em que as representações visuais, os signos e os símbolos 
são incessantemente reproduzidos e absorvidos, originando uma realidade simulada, plena de artificialidade. A 
cultura de massa, os meios de comunicação e os avanços tecnológicos desempenham um papel preponderante na 
construção desse estado hiper-real, no qual os limites entre o que é tangível e o que é ilusório se dissipam. 
 
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É interessante evocar também a Lei de Diretrizes e Bases, a LDB – 9.394/96, que prevê 
em seu art. 1º: “A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida 
familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos 
movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais.”. Ainda se 
encontra na BNCC (BRASIL, 2018b), dentre as competências gerais da educação, uma que traz 
o seguinte texto: 
 
(...) 9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-
se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento 
e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, 
identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza 
(BRASIL. 2018, p. 9). 
 
Nesse sentido, Echeita et al (1995, p. 37) assevera que a interação na educação “constitui 
o núcleo da atividade didática, já que o conhecimento é gerado, construído, construído 
conjuntamente, exatamente porque se produz interatividade entre duas ou mais pessoas que 
participam dela”. Entendemos, portanto, que a interação é fundamental no processo educativo, 
pois é através dela que o conhecimento é gerado e construído coletivamente, sublinhando a 
importância da interatividade entre os participantes do processo educacional. 
 
3 (RES)SIGNIFICANDO A EDUCAÇÃO: PERSPECTIVAS DE AMARTYA SEN 
SOBRE DESENVOLVIMENTO E LIBERDADE 
 
Amartya Sen é um economista e filósofo indiano, nascido em 3 de novembro de 1933, 
em Santiniketan, Índia. Ele é amplamente reconhecido por suas contribuições ao estudo da 
economia do bem-estar, desenvolvimento econômico e teorias da justiça. Sen recebeu o Prêmio 
Nobel de Ciências Econômicas em 1998 por seu trabalho sobre a teoria do desenvolvimento 
humano e o enfoque das capacidades, que redefine o desenvolvimento como a expansão das 
liberdades e capacidades humanas, em vezde meramente o crescimento econômico. 
Educado nas universidades de Calcutá e Cambridge, Sen lecionou em várias instituições 
renomadas, incluindo a Universidade de Harvard, onde é professor emérito. Suas obras influentes 
incluem "Poverty and Famines" (1981), onde analisa as causas das fomes, e "Development as 
Freedom" (1999), que promove uma visão holística do desenvolvimento. Além de suas 
 
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contribuições acadêmicas, Sen tem sido um defensor ativo de políticas públicas que promovem 
a justiça social, igualdade e direitos humanos. 
Suas contribuições teóricas apontam para que o investimento maciço na educação permite 
que um país alcance o desenvolvimento. Na teoria de Sen (2000), o desenvolvimento é alcançado 
por meio da expansão das capacidades humanas. Na visão desse pensador, a vida humana é um 
conjunto de “fazeres e seres”, também conhecidos como “funcionamentos”, o que permite 
considerar que a qualidade de vida humana está relacionada ao acesso à sua capacidade de 
funcionar como ser humano (SEN, 2000). 
A partir dessa perspectiva, Sen (2000) argumenta que o aumento da renda e a expansão 
da produção devem ser vistos como meios para se alcançar o desenvolvimento, mas não como 
fins em si mesmos. Para Sen, o verdadeiro significado do desenvolvimento está na ampliação das 
escolhas individuais, permitindo um aumento no bem-estar, uma melhoria na qualidade de vida 
e uma expansão das liberdades que podem ser exercidas. Embora o crescimento econômico seja 
importante, ele não deve ser o objetivo final. O desenvolvimento, segundo Sen, ocorre através 
da criação de condições que possibilitem às pessoas expandirem suas capacidades e exercerem 
suas liberdades de forma plena, pois “(...) permite a expansão das liberdades reais que as pessoas 
desfrutam” (SEN, 2000, p. 17). 
 
Vivemos em um mundo de opulência sem precedentes, de um tipo que teria sido difícil 
até mesmo imaginar um ou dois séculos atrás. Também tem havido mudanças notáveis 
para além da esfera econômica. O século XX estabeleceu o regime democrático e 
participativo como o modelo preeminente de organização política. Entretanto, vivemos 
num mundo de privação, destituição e opressão [...]. Existem problemas novos 
convivendo com os antigos: a persistência da pobreza e de necessidades essenciais não 
satisfeitas, fomes coletivas [...], violação de liberdades políticas [...], ameaças cada vez 
mais graves ao nosso meio ambiente. Superar esses problemas é parte central do 
processo de desenvolvimento. (SEN, 2010, p. 9-10). 
 
É fundamental que as pessoas tenham a capacidade de viver suas vidas de maneira a 
realizar seus projetos, sejam eles individuais ou coletivos, de forma plena e satisfatória. Por isso, 
não é possível discutir desenvolvimento sem considerar a liberdade do ser humano para exercer 
sua capacidade de agir e tomar decisões. 
Sen (2000) defende a ideia de que deve ser dada às pessoas uma oportunidade de 
confirmar seu destino, ficando para o Estado a responsabilidade de proteger e fortalecer as 
capacidades humanas. Todavia, a falta dessas capacidades se torna um problema, pois as pessoas 
 
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começam a enxergar razões para se colocarem “no fundo do poço”, não encontrando esperanças 
para alcançar uma vida fez, que tanto almeja. 
Para que isso seja alcançado, através do fortalecimento das capacidades humanas, torna-
se necessário que as pessoas sejam alfabetizadas, estejam bem nutridas, façam parte da vida 
comunitária e cívica, expressem seus pensamentos, usufruam de adequadas condições de moradia 
e oportunidades de trabalho e possam desfrutar da possibilidade de evolução cultural e de ter 
aprendizado permanente (SEN, 2000). 
Em outras palavras, para que os indivíduos atinjam a vida que cada um considera valiosa, 
não deve haver obstáculos nesse processo, daí a pobreza ter que ser vista “como privação de 
capacidades básicas em vez de meramente como baixo nível de renda” (SEN, 2000, p. 109). 
Diante disso, é importante enfatizar que o desenvolvimento das capacidades individuais depende, 
de forma decisiva, das disposições econômicas, sociais e políticas e, por isso, o Estado e a 
sociedade possuem papéis amplos no fortalecimento e na proteção dessas capacidades (SEN, 
2000). 
Nesse sentido, as capacidades dos indivíduos podem ser potencializadas pelas políticas 
públicas, as quais podem ser induzidas pela capacidade de participação da sociedade e do Estado. 
Consequentemente, o entendimento acerca do desenvolvimento humano como uma expansão das 
capacidades também inclui o homem como agente ativo de mudanças, não sendo ele mero 
beneficiário passivo dos avanços sociais e econômicos. É o que Sen (2000) denomina condição 
de agente de uma pessoa, ou seja, sua capacidade de provocar mudanças, de participar de ações 
econômicas sociais e políticas, agindo como efetivo membro da sociedade. 
Na visão de Sen (2000), é a educação – assim como a saúde, o saneamento, o emprego e 
entre outros direitos sociais – vista como oportunidade social e liberdade instrumental, que 
incentivará a liberdade substantiva de o indivíduo buscar uma vida melhor, uma vez que esse 
fator (bem como os outros mencionados) é relevante tanto para a vida privada, como também 
para o envolvimento dos indivíduos em atividades políticas e econômicas, que são 
imprescindíveis para o desenvolvimento social. 
Como exemplifica o autor: “o analfabetismo pode ser uma barreira formidável à 
participação em atividades econômicas que requeiram produção segundo especificações ou que 
exijam rigoroso controle de qualidade (uma exigência sempre crescente no comércio 
globalizado)” (SEN, 2000, p.56). Consequentemente, a educação é fundamental para o 
 
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aproveitamento e a formação das capacidades humanas. O exercício desse direito social ou 
garantia protetora é que gera os instrumentos e as capacidades para o exercício da autonomia e 
da liberdade, tirando o indivíduo da absoluta pobreza. 
Embora o investimento na indústria e na qualificação da mão de obra sejam importantes 
para o desenvolvimento econômico, Amartya Sen (2000) propõe uma visão mais holística do 
processo, que coloca o ser humano no centro. Para ele, o desenvolvimento se configura como a 
expansão das capacidades humanas, possibilitando que os indivíduos vivam uma vida plena e 
significativa. Nesse contexto, a educação se configura como um instrumento fundamental para a 
expansão das capacidades humanas, proporcionando aos indivíduos os conhecimentos, 
habilidades e valores necessários para se tornarem agentes ativos na construção de seu futuro e 
da sociedade. 
Para Sen (2000), a liberdade é um valor fundamental para o desenvolvimento humano. 
Ele distingue entre liberdade negativa, que se refere à ausência de coerção, e liberdade positiva, 
que se refere à capacidade de realizar seus próprios projetos de vida. Sen (2010, p. 371) destaca 
que a liberdade tem dois aspectos que devem ser considerados, a liberdade como processo e a 
liberdade como oportunidade: 
 
[...] O aspecto do processo da liberdade tem de ser considerado conjuntamente com o 
aspecto da oportunidade, e este precisa ser visto em relação à importância intrínseca e 
também derivativa. Ademais, a liberdade para participar da discussão pública e da 
interação social pode ainda ter um papel construtivo na formação de valores e éticas. O 
enfoque sobre a liberdade realmente faz a diferença A educação, neste contexto, 
contribui para a expansão da liberdade positiva, capacitando os indivíduos para serem 
agentes ativos na construção de seu futuro. 
 
Amartya Sen defende também a justiça social como um pilar fundamentaldo 
desenvolvimento humano. Ele sustenta que o desenvolvimento transcende o mero aumento das 
capacidades individuais, exigindo a construção de uma sociedade equitativa e justa, onde todos 
os indivíduos disponham de iguais oportunidades. Nesse contexto, a educação emerge como uma 
ferramenta crucial para a justiça social, pois pode ser instrumental na redução das desigualdades 
e na garantia de que todos os indivíduos tenham a chance de alcançar seu pleno potencial. 
Sen (2000) reconhece a importância do pluralismo e da diversidade no desenvolvimento 
humano. Ele argumenta que diferentes culturas e valores podem contribuir para a edificação de 
uma sociedade mais justa e próspera. A educação, nesse contexto, deve promover o diálogo 
 
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intercultural e o respeito à diversidade, preparando os indivíduos para viverem em um mundo 
globalizado. 
As ideias de Sen sobre o desenvolvimento humano são particularmente pertinentes para 
o Brasil, um país marcado por profundas desigualdades sociais e econômicas. Nesse cenário, a 
educação se apresenta como uma ferramenta essencial para a justiça social, capaz de mitigar 
desigualdades e assegurar que todos os indivíduos tenham a oportunidade de desenvolver 
plenamente suas potencialidades. Portanto, o investimento em educação de qualidade para todos, 
desde a educação infantil até o ensino superior, é vital para garantir que todos os brasileiros 
possam evoluir e contribuir para o desenvolvimento do país. 
As ideias de Amartya Sen sobre o desenvolvimento humano têm sido alvo de críticas e 
debates vigorosos. Alguns críticos argumentam que sua ênfase nas capacidades individuais não 
aborda adequadamente os fatores sociais e econômicos mais amplos que moldam as 
oportunidades e liberdades dos indivíduos. Além disso, surgem desafios interpretativos 
significativos ao se considerar a viabilidade de implementar políticas públicas eficazes que 
promovam a expansão das capacidades humanas em larga escala. Tais críticas ressaltam a 
complexidade de traduzir a teoria de Sen em ações práticas e sustentáveis. 
Apesar de sofrer críticas, a obra de Sen permanece como uma referência seminal no 
debate sobre o desenvolvimento humano. Sua visão holística e crítica do processo de 
desenvolvimento oferece um marco teórico essencial para a construção de sociedades mais justas, 
equitativas e prósperas. A abordagem de Sen desafia a concepção tradicional de desenvolvimento 
centrada exclusivamente no crescimento econômico, propondo uma perspectiva que prioriza a 
expansão das capacidades humanas e a liberdade substantiva. 
Em última análise, a abordagem de Sen ao desenvolvimento humano nos convida a 
repensar o desenvolvimento não como um fim em si mesmo, mas como um meio para colocar as 
necessidades e aspirações humanas no centro das políticas e práticas sociais. Ao enfatizar a 
importância da expansão das capacidades humanas e da liberdade substantiva, Sen nos desafia a 
criar sociedades onde todos tenham a oportunidade de viver vidas que valorizem e reflitam suas 
preferências e aspirações individuais. O desenvolvimento humano, portanto, oferece um caminho 
paradigmático necessário para a construção de um futuro inclusivo e sustentável para todos. 
 
 
 
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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
O presente artigo evidenciou a centralidade da educação como um alicerce indispensável 
para o desenvolvimento e a liberdade, fundamentando-se na perspectiva teórica de Amartya Sen. 
A educação não se limita à mera transmissão de conhecimento, mas atua como um vetor 
transformador de liberdade e progresso, com impactos profundos e duradouros em vidas 
individuais e comunidades. 
Primeiramente, destaca-se que a educação promove a liberdade individual. Sen 
argumenta que o desenvolvimento humano está intrinsecamente ligado à expansão das 
capacidades, permitindo que os indivíduos escolham e vivam a vida que valorizam. A educação 
amplia essas capacidades, fornecendo as ferramentas necessárias para a tomada de decisões 
informadas, a participação ativa na sociedade e a conquista de uma maior autonomia pessoal. 
Além disso, a educação é um catalisador essencial para o desenvolvimento econômico. 
Sociedades com altos níveis de alfabetização e educação são mais produtivas e inovadoras. A 
formação educacional não apenas melhora a qualidade da força de trabalho, mas também 
estimula o empreendedorismo e a criação de novas indústrias e tecnologias. Portanto, investir em 
educação é investir no crescimento econômico sustentável e na competitividade global. 
A educação também desempenha um papel crucial na promoção da igualdade social. Ao 
proporcionar uma educação de qualidade para todos, independentemente de sua origem 
socioeconômica, é possível reduzir as desigualdades e oferecer a todos a oportunidade de 
desenvolver seu potencial. Isso contribui para a construção de sociedades mais justas e coesas, 
onde as disparidades de renda e oportunidade são minimizadas. 
No contexto do desenvolvimento humano mais amplo, a educação fortalece a capacidade 
das pessoas de enfrentar desafios globais, como a mudança climática, a saúde pública e os direitos 
humanos. Uma população bem-educada está melhor preparada para contribuir com soluções 
inovadoras e sustentáveis, essenciais para o futuro do planeta. 
Além dos benefícios econômicos e sociais, a educação é fundamental para a construção 
da paz e da estabilidade. Ao promover o respeito mútuo, o entendimento intercultural e a 
tolerância, a educação ajuda a prevenir conflitos e a construir sociedades mais pacíficas. A 
formação de cidadãos conscientes e críticos é vital para a manutenção da democracia e dos 
valores de justiça e igualdade. 
 
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Por fim, a abordagem de Amartya Sen enfatiza que o desenvolvimento não é apenas uma 
questão de crescimento econômico, mas sim a expansão das liberdades reais que as pessoas 
desfrutam. O investimento em educação, ao fortalecer essas liberdades, torna-se um componente 
essencial para o desenvolvimento humano e a justiça social. Portanto, é imperativo que os 
sistemas educacionais sejam adaptados para refletir e responder à complexidade das experiências 
plurais dos alunos, promovendo um ambiente inclusivo e equitativo. 
 
 
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Companhia das Letras, 2000.

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