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CONTRIBUIÇÕES GENÉTICAS PARA A VARIAÇÃO DE PELAGENS EM EQUINOS CAMPOLINA Robert Junio Gomes Magalhães1 e Flávia Ferreira Araújo2. 1Discente no Curso de Medicina Veterinária – Universidade Salgado de Oliveira – UNIVERSO – Belo Horizonte/MG – Brasil 2Docente do Curso de Medicina Veterinária – Universidade Salgado de Oliveira – UNIVERSO – Belo Horizonte/MG – Brasil INTRODUÇÃO As pelagens em equinos são muito mais do que simples características externas; elas representam um campo de estudo complexo e fascinante (Castle, 1954; Thiruvenkadan et al., 2008). Elas são o resultado de complexos processos que ocorrem na pele, pelos, crina e cauda dos animais. Embora não tenham um impacto direto no desempenho, pelagens menos comuns possuem um considerável valor comercial. A raça Campolina, de origem brasileira, foi inicialmente desenvolvida com o propósito de criar animais robustos, de grande porte e com agilidade, admitindo diversas pelagens, conforme as diretrizes da Associação Brasileira de Criadores do Cavalo Campolina (Origem, 2018). Pesquisas anteriores focaram em aspectos limitados, deixando lacunas sobre distribuição demográfica, particularidades, sexo, acasalamentos e associações com medidas e funcionalidade. Esta pesquisa visa preencher essas lacunas, avaliando aspectos das pelagens em equinos Campolina. METODOLOGIA Neste estudo, foram utilizados dados de mais de cem mil equinos da raça Campolina, abrangendo registros de animais entre os anos de 1898 e 2016. Esses dados foram cedidos pelo Serviço de Registro Genealógico da ABCCCampolina (que apesar de ter sido fundada em 1951 ainda mantém os registros) e compreendem informações como nome, ano de nascimento, sexo, número de registro, pelagem e entre outras informações relevantes. A categorização das pelagens foi realizada, adotando-se oito nomenclaturas específicas: alazã, baia, castanha, lobuna, pampa, preta, rosilha e tordilha, em conformidade com padrões estabelecidos. A análise exploratória dos dados permitiu examinar a frequência das pelagens em relação ao sexo dos animais, estados de criação, anos de nascimento e registro. Para isso, recorremos ao teste do qui-quadrado como ferramenta de avaliação das distribuições de frequência. A avaliação do impacto das pelagens nas medidas dos equinos compreendeu alturas, comprimentos, larguras e perímetros específicos, todos fundamentados em critérios anatômicos previamente estabelecidos. Além disso, analisamos as pontuações de andamento, que incluíram comodidade, estilo, regularidade, desenvolvimento e dissociação, com base em informações obtidas de 5.196 animais. Essa abordagem metodológica nos possibilitou uma análise detalhada e abrangente das pelagens em equinos da raça Campolina, considerando uma variedade de fatores e características relevantes. RESUMO DE TEMA Com o objetivo de investigar a importância histórica das pelagens na indústria equestre, este estudo se dedicou à avaliação da prevalência das diversas pelagens em equinos da raça Campolina em diferentes estados do Brasil. Adicionalmente, buscou-se compreender a distribuição dessas pelagens entre os sexos dos animais, bem como sua frequência nos acasalamentos, e se havia alguma relação com medidas lineares e a qualidade da marcha. Para conduzir essa análise, foram aplicados testes estatísticos incluindo o teste do qui-quadrado, para avaliar como as pelagens estavam distribuídas entre sexos, estados e décadas de registro. Por meio de análises descritivas, investigou-se a frequência dos acasalamentos de acordo com os diferentes fenótipos de pelagens e as proporções de descendentes resultantes dessas combinações. Além disso, foram identificados os equinos mais frequentemente utilizados em acasalamentos, categorizados por décadas de nascimento e de registro. Os resultados indicaram que as pelagens mais comuns foram a baia, alazã e castanha, com 20.422, 11.941 e 5.256 animais, respectivamente. A pelagem baia, em particular, destacou-se como a mais prevalente em estados como Minas Gerais (45,21%), Rio de Janeiro (46,98%) e São Paulo (48,98%). Observou-se que tanto machos quanto fêmeas exibiam predominantemente pelagens baia, alazã e castanha. Os acasalamentos mais frequentes envolveram combinações de pelagens, como alazã x baia, baia x baia e baia x castanha. Este estudo científico que fez uma avaliação da ocorrência de pelagens em equinos Campolina trouxe à luz a relevância da pelagem baia como a mais comum nessa raça, independente do sexo dos animais. Além disso, a pesquisa não encontrou evidências de que a qualidade da marcha estivesse diretamente relacionada à pelagem, sugerindo a necessidade de cautela ao usar esse atributo na seleção de animais. Essas informações são importantes para criadores, pesquisadores e estudantes de medicina veterinária que desejam aprofundar seus conhecimentos sobre a raça Campolina e suas características fenotípicas. RESULTADOS E DISCUSSÃO Na análise específica das fêmeas, observou-se uma frequência mais elevada das pelagens baia e castanha. Essa diferença de prevalência entre os sexos pode estar relacionada ao maior número de registros de fêmeas em comparação com os machos, um fenômeno que pode ser justificado pelos custos associados ao registro. Estudos anteriores, como o de Procópio et al. (2003), descreveram que apenas 0,4% dos machos e 4,6% das fêmeas Campolina estavam registrados nos livros definitivos abertos e fechados. Essa predominância de fêmeas registradas pode influenciar a maior frequência de pelagens baia nas análises. A preferência por pelagens escuras e uniformes, mencionada no regulamento inicial de 1938, pode estar ligada à predominância de equinos baios na raça Campolina. Após a fundação da associação em 1951, o critério de registro passou a dar preferência a animais baio, embora ainda fossem aceitas todas as outras pelagens, exceto o pseudoalbino. Fontes (1957) sugeriu que a maior frequência da pelagem baia pode estar relacionada à seleção de ancestrais da raça, e a utilização dos reprodutores Golias e sua progênie Otelo durante a década de 30 também contribuiu para a disseminação desse fenótipo nas tropas da época (Berbari Neto, 2005). É importante ressaltar que o alto número de equinos baio pode indicar uma maior probabilidade de ocorrência desses genes devido a acasalamentos entre animais baio com outros de pelagens como baio, alazão (e suas variações), castanho, preto e rosilho (Rezende e Costa, 2012). É relevante considerar que os acasalamentos mais frequentes na população podem determinar a variação nas pelagens devido à complexa interação dos genes envolvidos nesse processo. Na população analisada, que corresponde a 71,67% da totalidade dos equinos Campolina estudados, foi observado que a grande maioria desses animais apresentava particularidades especiais em suas pelagens. Entre essas particularidades, destacaram-se características como estrelas, calçamentos, listras de burro e beta, que são consideradas marcantes e podem agregar valor comercial aos animais, sendo apreciadas por criadores. A alta incidência dessas características especiais, presente em 71,67% dos casos, sugere uma ampla distribuição dos genes Markings (M) na raça Campolina. Vale ressaltar que os alelos recessivos (mm) codificam a presença de marcas na cabeça e membros dos equinos (Negro et al., 2017; Rezende e Costa, 2012). Esse achado indica que, desde as fases iniciais de formação da raça Campolina, houve uma seleção deliberada para preservar essas particularidades especiais. Foi observado que as frequências moderadas de características como listra de burro, faixa crucial e zebruras podem estar relacionadas aos 46,59% dos equinos Campolina que possuem pelagem baia. Rieder (2009) ressalta que a pelagem baia e suas diversas variações frequentemente estão associadas à presença dessas particularidadesmarcantes. De acordo com Bailey e Brooks (2013), essas características especiais são características das marcas primitivas da pelagem equina. No que diz respeito à evolução das pelagens ao longo do tempo, observou-se um aumento significativo nas pelagens baia, alazã e castanha. O primeiro registro de um animal alazão ocorreu em 1885, enquanto o registro de equinos baio começou a partir de 1900. A partir de 1966, houve um aumento significativo no número de registros de equinos baio, com um pico de 123 registros nesse fenótipo. O máximo de registros de baios, alazães e castanhos foi atingido em 1990, com 1.338, 735 e 408 equinos, respectivamente, sendo que em 1967 houve uma incidência superior a 100 equinos baio. O ápice dos nascimentos de baios e alazães ocorreu em 1988, com 838 e 485 potros, enquanto a maior ocorrência de equinos castanhos foi registrada em 1990, com 256 indivíduos. Esses dados revelam mudanças significativas nas preferências de pelagens ao longo das décadas na raça Campolina. Ao longo das décadas, observou-se uma mudança nas preferências de pelagem na raça Campolina. Houve uma tendência de seleção para equinos com pelagem castanha em algumas décadas, enquanto em outras, como no ano 2000, os equinos pampa se tornaram mais comuns do que o esperado. Isso também foi refletido nas décadas de registro, onde as pelagens baia e castanha foram mais frequentes do que o previsto, assim como as pelagens pampa, lobuna e preta em 2010. Essas mudanças indicam uma evolução nas escolhas de pelagens ao longo do tempo, embora as pelagens baia, alazã e castanha ainda sejam as mais prevalentes nas décadas analisadas. No período de 1990 a 2000, os registros de equinos da raça Campolina diminuíram, possivelmente devido à instabilidade econômica e à falta de apoio governamental. A expansão da pelagem pampa pode ser atribuída à criação da Associação Brasileira de Criadores do Cavalo Pampa em 1993 e à mudança de interesse de criadores em direção às atividades de lazer. Na década de 2010, houve uma redução no número de registros, mas uma proporção maior de pelagens menos comuns, como a pampa. Alguns garanhões, como Desacato da Maravilha, Garboso da Glória e Gavião do Barulho, tiveram um impacto significativo na população de equinos Campolina devido à sua alta taxa de reprodução. Minas Gerais lidera em número de registros, pois é o estado de origem da raça e tem uma forte presença nacional. A preferência pela pelagem baia é evidente em estados como Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, possivelmente devido a critérios de seleção e à presença de grandes plantéis nessas regiões. No entanto, houve variações significativas na distribuição das pelagens entre estados, com algumas regiões apresentando frequências diferentes do esperado. Analisando as preferências de pelagem entre criadores de equinos da raça Campolina em diferentes estados do Brasil e sua relação com medidas lineares e qualidade da marcha. Foi observado que criadores em Minas Gerais tendem a preferir a pelagem castanha, enquanto em outros estados, como Pernambuco e Goiás, a preferência é pela pelagem preta. Animais com pelagens menos comuns geralmente apresentaram medidas lineares menores. No entanto, a escolha da pelagem não afetou significativamente a qualidade da marcha. Houve também uma variedade de fenótipos resultantes de acasalamentos entre diferentes pelagens, destacando a importância da padronização na identificação de pelagens e no registro genealógico. Recomenda-se que a seleção de equinos da raça Campolina leve em consideração não apenas a pelagem, mas também as características morfológicas e funcionais. CONSIDERAÇÕES FINAIS Na raça Campolina, a pelagem baia é a mais comum em ambos os sexos. No entanto, a qualidade da marcha dos indivíduos não está relacionada à pelagem, indicando que a seleção com base nessa característica não é a mais apropriada. 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