Prévia do material em texto
AULA 4 FINANCIAMENTO, MARKETING E COMERCIALIZAÇÃO DE PRODUTOS E SERVIÇOS INOVADORES Profª Anelise Jensen 2 CONVERSA INICIAL Nas unidades anteriores, foram observados conceitos ligados ao empreendedorismo, à economia criativa e ao contexto de negócios atual. Por isto, para complementar o estudo destes itens, serão abordadas questões relacionadas a um aspecto crucial para a comercialização de produtos e serviços inovadores: as atividades de marketing. Nesta aula, será estudado o conceito de marketing, apresentando alguns modelos complementares mais recentes, como os 4Cs e os 4As. Aprofundando um pouco mais, vamos conhecer a importância do chamado customer development, uma metodologia que busca alinhar as expectativas de clientes e mercado. No capítulo sobre composto mercadológico, serão apresentados os itens que foram incorporados ao modelo original, como forma de atualização. Por fim, na questão do marketing digital, veremos de que maneira ele tem impactado as relações empresariais contemporâneas. Bons estudos! TEMA 1 – AFINAL, O QUE É MARKETING? Ao contrário do que muitas pessoas imaginam, marketing não é uma área apenas destinada a fazer propaganda ou a enganar os consumidores. Existe uma visão distorcida, que associa as práticas de marketing a termos negativos, como “enrolação” e até “enganação”. Contudo, as atividades de marketing fazem parte do desenvolvimento e da evolução saudável da sociedade, estando presente em nosso meio há muito tempo. Tudo tem início na antiguidade clássica, quando pessoas dotadas de uma boa capacidade de persuasão (os chamados pregoeiros) saíam pelas cidades oferecendo seus produtos. Mais tarde, o desenvolvimento das grandes navegações e a expansão marítima promoveram o progresso das relações comerciais, que ficam mais intensas e complexas. Este processo de alargamento nas relações comerciais tornou algo bastante evidente: era preciso exercer uma espécie de convencimento, no qual as pessoas ficassem de tal forma influenciadas que isto ocasionasse a busca por produtos e, em decorrência disto, um aumento nas vendas. Aproximadamente em 1455 d.C., surgem as atividades de tipografia, por meio da prensa criada por Gutenberg, permitindo que os anúncios passassem ao 3 meio impresso (o que até então era feito manualmente). Finalmente, entre os Séculos XVIII e XIX, aconteceu a famosa Revolução Industrial, período no qual os comerciantes buscaram novas maneiras de divulgar produtos e serviços (Patel, 2020). Figura 1 – Prensa de Gutenberg Crédito: Mario Breda/Shutterstock. O marketing, enquanto campo de estudo, é constituído por princípios e conceitos que agregam diferentes ciências, como a antropologia, a economia, a comunicação, a sociologia, a psicologia, a estatística etc. Há, portanto, uma série de conhecimentos subjetivos e objetivos que nos remetem também ao âmbito social, já que, na visão de Kotler e Keller (2012, p. 4), o marketing representa “um processo social pelo qual indivíduos e grupos obtêm o que necessitam e desejam por meio da criação, da oferta e da livre troca de produtos de valor entre si”. Desta forma, mais do que apenas vender em maior quantidade ou empurrar produtos, encontra-se a identificação e a satisfação das necessidades humanas. Neste contexto de transformações, a American Marketing Association/ AMA (2017, web) define marketing como “a atividade, conjunto de instituições e processos de criar, comunicar, entregar e trocar ofertas que têm valor para consumidores, clientes, parceiros e sociedade em geral”. Deve-se ressaltar alguns componentes importantes deste conceito, entre eles a busca por estabelecer trocas de valor entre empresas e clientes; trocas estas que possam satisfazer suas necessidades. O adequado atendimento destas necessidades seria uma das principais (senão a principal) justificativas para sua existência, na medida em que conhecer e atender bem um cliente 4 permite vender e obter lucro, um dos focos centrais da atuação de qualquer empresa. É essencial a compreensão de que marketing também não se refere apenas à comunicação, assim como não se refere apenas às vendas! Seus princípios podem ser aplicados a: • Produtos (a compra de uma geladeira); • Serviços (a contratação de um seguro de carro); • Lugares (a venda de uma imagem perfeita: Dubai); • Eventos (promoção das Olimpíadas); • Pessoas (marketing pessoal de figuras como Barack Obama); • Empresas (cuidado de marca, como da Coca-Cola); • Experiências (promoção de sensações positivas, como a Disney); • Causas (valorização de campanhas como a da diversidade). Saiba mais “O marketing... é a arte de criar valor genuíno para o cliente.” (Kotler Marketing Group, [S.d.]) As atividades possuem um escopo amplo, atendendo à definição de estratégias de mercado, à gestão de marcas, às estratégias de vendas, aos processos de pesquisa e inteligência de mercado, ao relacionamento com os clientes e, mais recentemente, à elaboração e condução de estratégias para o ambiente digital. São diversas decisões, incluindo: em que locais os pontos de venda serão instalados? Quem e quantos são nossos concorrentes? Haverá loja virtual? Qual será o formato e as cores das embalagens? Como será a política de preços? Através de que canais nos comunicaremos com o consumidor? Qual o diferencial do nosso produto? Estas resoluções mostram a complexidade inerente às ações de marketing, que, para acompanhar a evolução do tempo, foi dividido em algumas fases, as quais serão expostas a seguir (Peçanha, 2021). O chamado Marketing 1.0 configura a Era dos Produtos, que tinha como foco principal a produção e entrega de produtos. Nesta época, a demanda era maior que a oferta e não havia tantas opções, nem tantos concorrentes. A comunicação era massiva, não sendo necessário investir em técnicas para ampliar as vendas. O que era produzido era vendido. 5 Figurando como uma pequena evolução do mercado, o Marketing 2.0 é conhecido como a era da informação, na qual se começa a olhar para as necessidades do consumidor. O objetivo era compreender o comportamento de consumo, a fim de atender desejos e necessidades. Os consumidores estão mais exigentes e apresentam gostos diferenciados, originando a ideia da segmentação de mercado. Passa-se a buscar uma maior adaptação para atender os grupos em funções dos diferentes perfis. O Marketing 3.0 constitui a chamada era dos valores, em que valores e aspirações humanas ganham destaque. Nesta fase, os consumidores não são mais considerados como alvos, mas sim como seres únicos, que possuem seus gostos, interesses, suas dores. O consumidor passa a ser parte dos processos criativos, e as marcas passam a ser mais engajar em causas globais. Chega-se então ao Marketing 4.0, no qual empresas e consumidores são parceiros e caminham juntos. O avanço tecnológico fomenta o encontro entre o online e o offline, misturando o marketing tradicional e o digital em abordagens híbridas, como o omnichannel. O mundo é hiperconectado e as marcas brigam por engajamento, em um ambiente no qual os conteúdos devem ser inclusivos, interativos e atuais. Crédito: Dmitriy Domino/Shutterstock. A evolução da sociedade nos conduziu a novas formas de pensar o marketing. Ao analisar a forma como as atividades evoluíram, nota-se que a lógica tradicional limitada à análise do ambiente e definição de estratégias tem dado lugar a uma abordagem holística, na qual um vínculo genuíno e a oferta de uma proposta consistente de valor se fazem valiosos aos olhos do consumidor. A disputa hoje é pela atenção do consumidor, principalmente através da oferta de boas experiências, sejam elas físicas ou virtuais. O relacionamento também tem papel de destaque, ao permitir o estabelecimento da confiança necessária para relações comerciais duradouras. Em plenaera digital, atender às 6 demandas dos consumidores e ao mesmo tempo oferecer inovações que possam diferenciar uma empresa da concorrência e agregar valor às marcas é, sem dúvida, um grande desafio! TEMA 2 – MODELOS DE MARKETING: 4CS Conforme visto, no capítulo anterior, as atividades mercadológicas não se restringem apenas à venda de produtos, publicidade ou mera comercialização de serviços. Mais do que qualquer coisa, admite-se na atualidade que é preciso conhecer e entender as demandas dos clientes, atendendo de forma satisfatória a suas necessidades, antes que a concorrência o faça. Enquanto ciência, uma das maneiras utilizada pelo marketing para isso é a busca pela atualização periódica de seus modelos. O mais famoso deles é o composto de marketing (mais conhecido como 4 Ps), que foi um modelo divulgado por Jerome McCarthy, em 1960, em seu livro Basic Marketing (Aguilera; Lazarini, 2009). Pensado para acompanhar métricas fundamentais da área, este modelo é uma referência consolidada, quando se pensa em variáveis de marketing. Dele fazem parte decisões relativas aos Ps de produto/product (itens que serão ofertados ao consumidor), preço/price (valor cobrado pelos bens), praça/place (local onde haverá a disponibilização dos itens) e promoção/promotion (formas de realizar a comunicação e divulgação). Crédito: Amarante Ayo/Shutterstock. Tempos depois, em meados de 1990, outro modelo veio à tona. Denominado de 4Cs, a abordagem criada por Robert Lauterborn foi desenvolvida como uma forma de complemento ao modelo tradicional (Gameiro, 2020). Seu 7 foco principal é o consumidor, e, em sua concepção, cada um dos C’s propostos deveria representar uma forma de benefício aos clientes (Zenone, 2013). Observe com clareza a mudança de foco: se antes o modelo era centrado no produto, agora a atenção se volta para o consumidor. Vamos conhecer então as variáveis que dele fazem parte (Rock Content, 2020). O cliente (costumer) se refere ao entendimento das necessidades dos consumidores. Seu equivalente no composto de marketing seria o P de produto. Contudo, ao invés de realizar a aquisição de um bem físico, pensa-se, neste modelo, em oferecer soluções que possam agregar valor e atender desejos e necessidades, o que demanda conhecimento mais aprofundado do consumidor, que pode ser melhor atendido com a criação de personas: uma representação fictícia sobre quem seria o cliente ideal, com seus hábitos, gostos e preferências. O segundo elemento, custo (cost), faz alusão a tudo aquilo que será desembolsado pelos clientes para adquirir produtos ou pelas empresas para colocar o produto à disposição do consumidor. Seria o equivalente ao P de preço, no modelo tradicional, mas um pouco mais sofisticado: não se trata apenas do preço pago, mas também de benefícios decorrentes da aquisição do produto (um desconto bacana, por exemplo) e mesmo do tempo gasto ou economizado em uma loja virtual etc. O C de conveniência (convenience) se equipara ao P de praça, não ficando mais restrito ao ambiente físico do ponto de venda. Com a quantidade de dados sobre hábitos do consumidor disponíveis, fica mais fácil decidir se a opção é manter uma loja física ou ter apenas canais digitais, se os clientes pesquisam por preço ou se estão buscando comodidade, se é interessante ofertar experiências, eventos etc. Perceba, portanto, que a conveniência vai além de ser apenas um canal de escoamento de produtos. Por fim, o C de comunicação (communication) se refere a pensar em estratégias para influenciar os consumidores, de modo a convencê-los a comprar. Mais do que simples divulgação, a comunicação deve buscar estabelecer interação, diálogo e engajamento com o consumidor, tendo como uma das principais ferramentas as redes sociais. Outra possibilidade é a elaboração de conteúdos relevantes, produzidos de forma personalizada, de acordo com o perfil do público e também do negócio. Em ambos os casos, espera-se obter como resultado a fidelização. Consumidor satisfeito compra mais, e por mais tempo. 8 Quadro 1 – Resumo – 4Ps e 4Cs Modelo 4 Ps Modelo 4Cs Produto Costumer value (valor do cliente) Preço Cost (custo) Praça Convenience (conveniência) Promoção Communication (comunicação) Fonte: elaborado por Jensen com base em Lauterborn, citado por Zenone, 2013, p.112. Gameiro (2020, web) faz uma consideração importante acerca desta proposta, ao comentar que “os 4Cs são necessários para definir a melhor forma de entregar um produto para alguém, de forma conveniente e acessível”. Considerado por alguns como uma espécie de mix de marketing conectado, este modelo se aplica muito bem ao ambiente digital, explicado pelo fato de que o comportamento de consumo e as formas de comunicação e interação mudaram, tornando este um espaço propício para a participação, o engajamento, a transparência e o diálogo. Isso explica tantos processos de cocriação, nos quais o consumidor é convidado pelas empresas a dar contribuições na construção de seus produtos. É o caso da plataforma Lego Ideas, na qual o consumidor pode apresentar suas ideias e, em caso de aprovação, a criação é comercializada no mundo todo, recebendo os devidos créditos (Cozer, 2019). Crédito: Billion Photos/Shutterstock. É preciso ter em mente que os consumidores não são mais meros expectadores do processo de compras. Se antes as decisões quanto aos produtos ficavam exclusivamente nas mãos das empresas, hoje se sabe que as decisões de compras estão igualmente nas mãos do consumidor. 9 TEMA 3 – MODELOS DE MARKETING: 5AS Este cenário de maior participação e interatividade do consumidor (denominado de economia digital) nos conduz ao próximo modelo: os 5As, relacionado diretamente à maior conectividade e força das interações sociais na jornada de compras do consumidor. Quem de nós nunca teve uma experiência ruim, na qual o suporte feito via internet deixou a desejar? Ou quando o atendimento, além de demorar, é insatisfatório? E o que dizer do momento em que você compra um produto pela rede, mas chega algo ligeiramente diferente a sua casa? Originalmente publicado por Kotler, Kartajaya e Setiawan no livro “Marketing 4.0”, os 5As são considerados uma evolução do modelo AIDA: atenção/interesse/desejo/ação (Damázio, 2019). O que este modelo propõe nada mais é do que uma série de cuidados, que visam construir a melhor percepção possível acerca de produtos e de experiências de compra para o consumidor, sendo suas variáveis os seguintes pontos: • Assimilação: é o momento no qual o cliente entra em contato com a marca, através de divulgação ou de indicações; • Atração: neste momento, o cliente já reconhece a marca como uma possibilidade que pode vir a resolver seu problema, cabendo às empresas encontrarem formas de se diferenciar para ganhar o consumidor; • Arguição: o cliente já reconhece a marca e sabe que é uma opção viável; contudo, precisa de provas e referências “sociais”, como depoimentos e avaliações favoráveis, para validar sua aquisição; • Ação: trata-se da compra em si, uma vez que o cliente já foi convencido, momento no qual o relacionamento e eventual suporte podem fazer a diferença na experiência com a marca; • Apologia: momento no qual o acompanhamento e pós-venda fazem toda a diferença, buscando tornar o consumidor fiel. Mas e na prática? Como isso acontece? Imagine que você cuida da gestão de uma conta no Instagram e coloca um anúncio do seu produto: um belo prato de massa italiana com molho. A assimilação ocorre, então, quando os clientes visualizam o anúncio, reconhecendo a marca e o produto. Algumas das pessoas que viram o anúncio também o curtiram, o que demonstra que gostaram. Esta seria a atração pelo anúncio. Um destes clientes vai até o Google procurar mais 10 informações sobre o produto, indicando assima arguição. Tendo visto comentários sobre a qualidade das massas e o sabor incomparável dos molhos, o cliente decide experimentar o prato, efetuando a compra do produto. Após experimentar no conforto de sua casa, este cliente passa a recomendar a marca, fazendo apologia da mesma para seus amigos, tornando-se cliente fiel. Crédito: Sasha Ka/Shutterstock. Em outras palavras, poderíamos pensar que, do ponto de vista de percepções, na assimilação, o consumidor conhece o produto. Na atração, ele percebe que gosta do produto. Na arguição, ele se sente convicto para comprar e, na ação, ele efetivamente compra o que gostou e tanto lhe interessou. Por fim, na apologia, ele recomenda ativamente o produto. As organizações modernas atuam em um contexto que Casarotto (2020, web) classifica como “uma lógica de negócios mais inclusiva, horizontal e social”. Esta lógica traz consigo alguns desafios, como a adequada convergência entre o mundo online e offline, ou seja, as pessoas gostam de interagir virtualmente, mas também valorizam o presencial. Outro desafio é encontrado no fato de que hoje o consumidor tem uma infinidade de opções à sua disposição, o que dificulta o processo de escolha. Bombardeados por muitos estímulos comerciais, os consumidores darão atenção apenas de fato àquilo que lhes interessa e trará soluções úteis à sua vida. Ainda há o fato de que, sendo mais exigentes e com mais canais disponíveis, os consumidores falam abertamente sobre suas experiências e opiniões acerca de marcas e produtos (Casarotto, 2020). A era digital não possui fronteiras. Sob a influência das redes, uma organização de sucesso não deve se limitar à tarefa de vender, mas deve ir além, trabalhando para cultivar o relacionamento com os clientes, vínculos duradouros, sensações positivas e satisfação. Tendo edificada sua reputação, o sinal de que 11 uma empresa está no caminho certo não é apenas o retorno de um cliente para novas compras, mas sim seu alinhamento natural com a organização, demonstrado na sua fidelidade e na disposição genuína para defender aquilo que consome. TEMA 4 – COMPOSTO MERCADOLÓGICO: UMA ATUALIZAÇÃO Em um contexto no qual os consumidores estão mudando e as tecnologias estão em plena evolução, os métodos de análise também necessitam de “reparos” de tempos em tempos, para que continuem estrategicamente úteis dentro de suas respectivas áreas de atuação. Assim, diante da quantidade de novas atividades que o marketing incorporou nos últimos anos (um reflexo da complexidade do mundo), nada mais natural do que uma revisão no composto mercadológico. Hoje temos um consumidor que interage praticamente em tempo real, que é exigente, que expõe suas impressões. De outro lado, temos o advento de redes como o Facebook e o Instagram, que provocaram mudanças drásticas nas formas de vender e até de expor os produtos. A conclusão lógica? Novas práticas demandam novas variáveis de acompanhamento. É claro que as variáveis tradicionais continuarão sendo importantes. Contudo, elas absorveram itens que consideram os cenários mais recentes do consumo. Por isto, somaram-se aos habituais produto, preço, praça e promoção os Ps de pessoas, processos e evidências físicas, constituindo então um novo conjunto: os 7Ps de marketing. Crédito: Quarta/Shutterstock. 12 Neste novo contexto, as pessoas (people) expressam o fato de que são pessoas que fazem parte da sociedade, sejam como profissionais em empresas, sejam como clientes das organizações, mas ambos considerados em seus aspectos humanos. É através das pessoas que ocorrem os contatos entre empreendedores e investidores, empresas e clientes. São vendedores que nos atendem nas lojas quando, por exemplo, estamos com dúvidas em relação a algum aspecto do produto. Tem-se, pois, o entendimento de que são as pessoas que influenciam outras pessoas, que comentam positiva ou negativamente, que contribuem para a propaganda na boca a boca (Patel, 2020). Imagine que você ligou na central de atendimento para realizar uma reclamação e foi rapidamente atendido, tendo seu problema imediatamente resolvido. Qual será a sua percepção? As provas ou evidências físicas (physical evidences/environment) são os aspectos que ajudam o cliente a tangibilizar um negócio especificamente no ponto de venda. Ou seja, são os aspectos físicos por meio dos quais quem não possui referências passadas consegue basear suas impressões iniciais, incluindo também o ambiente digital. Qual é a nossa primeira ação quando não conhecemos uma empresa e queremos buscar informações? Acessar o site, não é mesmo? Verificando se é rápido, atrativo, se possui dados suficientes e esclarecedores etc. Esta rápida avaliação inicial já nos permitirá formatar determinadas imagens e conceitos acerca da empresa e dos produtos e serviços em questão. Em outro exemplo, imagine que você foi a uma padaria mais sofisticada. Você certamente observará a limpeza e cuidado dos uniformes dos funcionários, a beleza dos pães servidos, a cortesia no atendimento. Em suma, estão aqui não apenas os produtos, mas também os itens que contribuem para o contexto de uma experiência agradável: a iluminação natural, os móveis rústicos, a simpatia dos atendentes, as cores claras, os setores bem definidos, o fluxo fácil, amplo e sem empecilhos (Patel, 2020). 13 Crédito: Maria Bulkka/Shutterstock. Já os processos (process) representam a sequência de ações demandada para que uma aquisição aconteça, ou seja, reflete tudo aquilo que irá ajudar a formatar a percepção a respeito de uma marca. Não se trata apenas da análise dos atributos do produto em si, mas sim de considerar que todos os processos envolvidos em uma aquisição ajudam a formar a percepção que se tem acerca de uma marca (Patel, 2020). Suponha que você está há tempos pesquisando valores de um par de tênis que deseja comprar. Monitorando os preços, em um belo dia, você percebe que o par de tênis que você quer está em promoção e entra no site, disposto a fazer a compra. Contudo, o site simplesmente não sai do lugar e você acaba desistindo, por conta da demora no processamento do pedido, que não foi finalizado pelo site. No caso anterior da padaria, seriam processos o fato de ter que pegar senha (ou não) para pedir seu produto, o tempo de espera para ser atendido etc. Os processos devem ser transparentes para o consumidor, de modo que o mesmo entenda a sequência que será seguida para a entrega do produto, do início até o fim. Há aqui a possibilidade de se pensar integralmente a experiência de compra que se pretende ofertar ao cliente. Observe que estes três itens adicionados se relacionam também aos serviços, uma vez que a lógica de consumo hoje não está limitada ao produto, mas a todo o contexto de interação e relacionamento que o cerca. Por este motivo, estes 7Ps também são aplicáveis aos serviços, analisadas as suas características de intangibilidade, perecibilidade, inseparabilidade e variabilidade (Damazio, 2019). Da mesma forma, ao comparar com o conjunto de variáveis do marketing 14 Digital, poderemos notar grande semelhança, sendo que, nele, os itens evidências físicas e processos são substituídos por posicionamento e performance, bastante voltados para o acompanhamento de métricas e da experiência de consumo, contribuindo para os processos de inteligência de marketing que irão gerar insights (ideias) importantes para decisões do futuro Patel (2020). Em sua época, o modelo original, é importante que se diga, atendia de forma satisfatória às atividades para as quais foi elaborado. Entretanto, a formatação de 7 Ps retrata uma evolução do conjunto original, ao transformar elementos táticos e operacionais não apenas em produtos e ambientais destinados ao cumprimento das promessas feitas por uma organização, mas em aspectos de relacionamento e interação.TEMA 5 – MARKETING DIGITAL E AS ESTRATÉGIAS EMPRESARIAIS Falar em estratégia empresarial sempre remeteu as organizações a um horizonte de tempo relativamente estável e longo. Ao menos em teoria, havia tempo de sobra para planejar, para acompanhar e para corrigir. Contudo, hoje as coisas mudaram e o atual panorama de mercado é rápido, mutável e veloz. Disto decorre observar que não apenas o planejamento precisou acompanhar de forma célere as mudanças no mercado, como também as estratégias precisaram ser ajustadas, de maneira a garantir a perenidade das organizações. Tendo despontado na década de 90, o conceito de marketing digital foi uma denominação encontrada inicialmente para designar ações publicitárias na internet, que nesta época começavam a ganhar corpo (Mind Miners, 2018). Seu surgimento gera impacto principalmente na maneira como a tecnologia passa a ser usada para promover produtos, antes restrita basicamente às propagandas feitas no rádio ou na TV. Considerando que a internet está em praticamente tudo que nos cerca hoje, podemos entender o marketing digital como o somatório de atividades que uma organização executa em ambiente online, a fim de estreitar a relação com seu consumidor, construir reputação de marca, oferecer informações, promover produtos etc. Basta lembrar que, quando queremos procurar por um endereço, uma geladeira nova ou um serviço de reparos, quase que instantaneamente a primeira coisa que fazemos é buscar na internet, não é? Sua contribuição colabora para que marcas e produtos possam ganhar espaço no universo digital, sendo entendido, a partir disto, como um bom 15 investimento para as organizações (Mind Miners, 2018). O marketing digital possibilita, segundo Révillion, Lessa, Neto, Juski e Neumann (2019, p. 26), a “integração de plataformas e experiências dos clientes por meio de canais digitais de comunicação”. Crédito: Random Illustrator/Shutterstock. Este contexto está intimamente ligado à perspectiva conhecida como customer centric (ou CX), uma filosofia de negócios na qual o cliente é colocado como centro de todas as decisões de uma empresa, que devem ser baseadas em promover boas experiências na jornada de compra (customer experience), conquistar a fidelização dos clientes (customer sucess) e acompanhar os níveis de satisfação dos mesmos através das medições Net Promoter Score (NPS) (Gonçalves, 2020). Valorizado e reconhecido por sua efetividade, o marketing digital se incorporou ao rol das estratégias empresariais mais importantes do presente, pois, mais do que uma opção, tornou-se uma necessidade. Suas vantagens residem em alguns aspectos que Rublescki [S.d.] expõe: • A flexibilidade (refere-se à facilidade em realizar ajustes e correções de rota necessários); • Os custos (que são menores, principalmente no que se refere às questões de divulgação); • A possibilidade de avaliar desempenho (por meio do acompanhamento e análise de métricas); • A possibilidade de observar o consumidor (extraindo dados e insights importantes para conhecer hábitos e preferências do consumidor); • A capacidade de atender com mais exatidão grupos específicos de clientes (através dos dados de segmentação, grupos de pessoas com características e gostos semelhantes são divididos em função daquilo que se interessam e daquilo que consomem); 16 • Processos simplificados (a chance real de que tudo pode ser resolvido com alguns e-mails ou cliques). Porém, não basta simplesmente criar uma página nas redes sociais ou ter um site e está tudo resolvido (embora ainda há quem pense assim!). Para ser efetivo, o marketing digital precisa auxiliar na escolha das estratégias adequadas a cada perfil de negócio (pois cada caso é um caso), tendo clareza do que se espera em termos de resultados (objetivos do negócio) e tendo a ciência dos custos que estão envolvidos. Em paralelo, é preciso ter recursos humanos capacitados, a fim de que possam medir e avaliar os indicadores ligados às estratégias adotadas. De acordo com executivos entrevistados na pesquisa “Perspectivas para o Mercado Digital 2021”, os canais digitais mais consolidados (e que receberão os maiores investimentos nos próximos anos) para estratégias digitais serão o Instagram (96%), seguido pelo WhatsApp (88%) e Facebook (83%). São também apostas mais distantes o Spotify e o TikTok, respectivamente com 28% de potencial cada um (MLABS, 2020). Saiba mais Confira novidades e tendências para o marketing digital, contadas por uma das maiores especialistas da área, Camila Renaux! Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=q7-6mpqwjZY>. Acesso em: 7 maio 2021. Com todas as coisas há um clique do nosso alcance, a adoção do marketing digital nas estratégias empresariais pode ser direcionada para trabalhar em prol de diversas finalidades, como construir engajamento das pessoas com conteúdos das marcas, desenvolver campanhas de marketing, potencializar resultados em vendas, cocriar produtos em parceria com o consumidor e, assim, então estabelecer relacionamentos e melhorar a satisfação do consumidor. Além de promover produtos e serviços, o marketing digital é hoje um meio que permite construir uma relação transparente com o consumidor, ampliando possibilidades de vendas, fortalecendo a imagem das marcas e oferecendo soluções que não somente resolvem os problemas imediatos do consumidor. Isso é feito de forma integrada, buscando ofertar experiências que levam satisfatoriamente em direção a um relacionamento longo e duradouro. 17 REFERÊNCIAS AGUILERA, J. C.; LAZARINI, L. C. Instituto Chivenato (Org.). Gestão estratégica de mudanças corporativas. São Paulo: Saraiva, 2009. ALMEIDA, D. O que as vantagens do Marketing Digital podem fazer pelo seu negócio? Mind Miners, 1 jan. 2018. Disponível em: <https://mindminers.com/blog/vantagens-marketing-digital/>. Acesso em: 7 maio 2021. CASAROTTO, C. Marketing 4.0: o que é, quais os impactos e como aplicar na sua empresa. Rock Content, 2020. Disponível em: <https://rockcontent.com/br/blog/marketing-4-0/>. Acesso em: 7 maio 2021. CONHEÇA os 4 Cs do marketing e saiba como utilizar o conceito a seu favor. Rock content, 2020. Disponível em: <https://rockcontent.com/br/blog/4-cs-do- marketing/>. Acesso em: 7 maio 2021. DAMÁZIO, L. F. É só marketing? 1. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788571440401/cfi/2!/4/4@0. 00:4.01>. Acesso em: 7 maio 2021. GAMEIRO, L. Conheça os 4 cs do marketing. Post digital, 2020. Disponível em: <https://www.postdigital.cc/blog/artigo/conheca-os-4-cs-do-marketing>. Acesso em: 7 maio 2021. COZER, C. Entenda por que empresas devem abraçar a cocriação. Whow, 2019. Disponível em: <https://www.whow.com.br/negocios/entenda-por-que-empresas- devem-abracar-a-cocriacao/>. Acesso em: 7 maio 2021. GONÇALVES, F. Estratégias customer centric: o que são e como aplicá-las dentro da sua agência? Resultados digitais, 2020. Disponível em: <https://resultadosdigitais.com.br/agencias/como-criar-uma-estrategia-customer- centric/>. Acesso em: 7 maio 2021. INVESTIMENTOS e apostas para o mercado digital 2021. Mlabs, 2020. Disponível em: <https://www.mlabs.com.br/blog/mercado-digital/>. Acesso em: 7 maio 2021. KOTLER, P.; KELLER, K. L. Administração de marketing. 14. Ed. São Paulo: Pearson Education Do Brasil, 2012. 18 KOTLER marketing group [S.d.] Disponível em: <https://www.kotlermarketing.com>. Acesso em: 7 maio 2021. PATEL, N. História do Marketing: Como Surgiu e a Evolução ao Longo dos Anos. Neil Patel, [2020?]. Disponível em: <https://neilpatel.com/br/blog/historia-do- marketing/>. Acesso em: 7 maio 2021. _____. Mix De Marketing: O que é, A Importância e Como Ajuda sua Empresa. Neil Patel, [2020?]. Disponível em: <https://neilpatel.com/br/blog/mix-de- marketing/>.Acesso em: 7 maio 2021. _____. 8 Ps do Marketing Digital: Veja Quais São e Quando Usar Esse Método. Neil Patel, [2020?]. Disponível em: <https://neilpatel.com/br/blog/8-ps-do- marketing-digital/>. Acesso em: 7 maio 2021. RÉVILLION, A. S. P.; LESSA, B. S.; NETO, R. G.; JUSKI, J. R.; NEUMANN, S. E. Marketing Digital. Sagah, Porto Alegre, 2019. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786581492281/cfi/2!/4/2@10 0:0.00>. Acesso em: 7 maio 2021. RUBLESCKI, A. Webmarketing e cibercliente: o Marketing em tempos de “4Ps + 2Ds + 4Cs”. BOCC, [?]. Disponível em: <http://www.bocc.ubi.pt/pag/rublescki- anelise-webmarketing-cibercliente.pdf>. Acesso em: 7 maio 2021. ZENONE, L. C. Marketing: conceitos, ideias e tendências. São Paulo: Atlas, 2013. WHAT is Marketing? AMA, 2017. Disponível em: <https://www.ama.org/the- definition-of-marketing-what-is-marketing/>. Acesso em: 6 jan. 2021. Conversa inicial