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GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA – MARIANA MARQUES INTRODUÇÃO • Consiste em condições hereditárias (fator V de Leiden) ou adquiridas (síndrome do anticorpo antifosfolípide) que podem aumentar o risco de trombose. • Indicações para pesquisa de trombofilias: Þ Trombose não provocada <50 anos; Þ Trombose recorrente não provocada - qualquer idade; Þ Trombose em contexto de baixo risco; Þ Trombose relacionada a estrógeno ou gravidez. • A gestação é um estado de predisposição à trombose, o qual é potencializado na presença de trombofilias; • Gestação causa modificações anatômicas e de coagulação para impedir a hemorragia maciça no parto. • A trombose da microcirculação placentária pode estar relacionada às trombofilias, causando complicações da gestação (pré-eclâmpsia, restrição de crescimento fetal, descolamento prematuro de placenta, aborto e óbito fetal. • A heparina de baixo peso molecular (HBPM), via SC 1-2 vezes ao dia é a tromboprofilaxia de escolha na gestação, por não atravessar a placenta. FATORES DE RISCO TROMBOEMBOLISMO VENOSO • Primários: deficiência de antitrombina, proteína S ou proteína C, disfibrinogenemia congênita, fator V de Leiden (causa mais comum de trombofilia), síndrome antifosfolípide, deficiência de fator XII, hiper- homocisteinemia ou mutação da protrombina • Secundários: fratura, trauma, AVC, idade avançada, insuficiência venosa crônica, tabagismo, gravidez e puerpério, cirurgia, anomalias plaquetárias, obesidade, IC, viagens longas, anticoncepcional oral. TIPOS DE TROMBOFILIAS FATOR V DE LEIDEN: • Forma mais comum de trombofilia. • Mutação no gene do cromossomo 1 que codifica o fator V, tornando-o resistente à ação da proteína C e S. • É uma herança autossômica dominante. PROTROMBINA MUTANTE (G20210A): • Mudança de guanina para adenina no nucleotídeo de posição 20.210 do gene que codifica a protrombina (fator II). • Causa elevação nos níveis séricos de protrombina. • Aumenta risco de trombose, perdas fetais de segundo e terceiro trimestre, DPP, RCF e formas graves de DHEG. SÍNDROME DOS ANTICORPOS ANTIFOSFOLÍPIDES - SAF: • Hipercoagulabilidade mediada por autoanticorpos trombogênicos, causando eventos tromboembólicos venosos, arteriais e perdas fetais recorrentes. • Causa maior incidência de aborto, óbito fetal, restrição do crescimento fetal, formas graves e precoces de DHEG, prematuridade e DPP. CRITÉRIOS CLÍNICOS: • Trombose venosa: >1 episódio de trombose em qualquer tecido ou órgão, confirmada por estudo de imagem ou histopatologia; • Morbidade obstétrica: Þ > 1 óbito de feto morfologicamente normais, na USG, com > 10 semanas de gestação; Þ > 1 parto prematuro c/ neonato morfologicamente normal até 34 semanas de gestação devido a pré- eclâmpsia, eclâmpsia ou insuficiência placentária; Þ > 3 abortamentos espontâneos inexplicados < 10 semanas de gestação. CRITÉRIOS LABORATORIAIS: • Anticoagulante lúpico: no plasma; • Anticorpo anticardiolipina: IgG ou IgM presente no soro ou plasma em títulos moderados ou altos, pelo ELISA; • Anticorpo anti-β2 -glicoproteína I: IgG ou IgM presente no soro ou plasma. SEGUIMENTO PRÉ-NATAL • Paciente c/ trombofilia apresenta risco aumentado p/ fenômenos tromboembólicos e deve ser orientada a usar meias elásticas na gestação, parto e puerpério. • Iniciar ácido fólico 5 mg por dia pré-concepcinal e manter durante toda a gestação. • Se antecedente de trombose, ou uso frequentemente de anticoagulação oral deve-se trocar anticoagulantes orais por HBPM quando confirmada a gestação. • Em pacientes c/ SAF, indica-se o uso do AAS 100mg/dia, que deve ser iniciado a partir do beta-hCG positivo. • Pacientes que não fazem uso de anticoagulação oral e que têm indicação do uso de heparina profilática devem iniciá-la após a USG transvaginal com 5-6 semanas de IG confirmar gestação tópica e viável. • As consultas de pré-natal devem ser mensais até 20 semanas de gestação, passando a quinzenais ou semanais a partir de então. • Solicitar a USG obstétrica com oito semanas, USG com translucência nucal na 12ª semana e após USG mensal. • Realizar Dopplervelocimetria com 15 semanas de IG e repetir quinzenalmente até 26 semanas. Þ Se valores do Doppler normais: repetir mensalmente de 26 a 34 semanas; Þ Se valores alterados ou com piora do quadro clínico materno: repetir em intervalos menores. TRATAMENTO TROMBOFILIA ADQUIRIDA: • SAF com antecedente de trombose: AAS 100 mg/dia + Enoxaparina em dose plena 1mg/kg de 12/12 horas. • SAF sem trombose, com história prévia de morbidade obstétrica: AAS 100mg/dia + Enoxaparina 40mg/dia em dose única (dose profilática). • SAF não responde à AAS + enoxa: hidroxicloroquina, gamaglobulina, glicocorticoides ou plasmaférese. Trombofilias e Gravidez GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA – MARIANA MARQUES TROMBOFILIAS HEREDITÁRIAS: • Sem antecedentes pessoais de TVP ou TEP com história familiar de trombose: profilaxia com Enoxaparina 40mg/dia ou de 12/12h durante gestação e puerpério. • Sem antecedentes pessoais de TVP ou TEP sem história familiar de trombose: observação clínica na gestação e profilaxia com Enoxaparina 40mg/dia ou de 12/12h durante o puerpério. • Para mulheres c/ risco de pré-eclâmpsia: AAS 100mg/d, iniciando-se no segundo trimestre da gestação. EFEITOS COLATERAIS DO USO DE HEPARINA • Trombocitopenia induzida pela heparina: contagem plaquetária inferior a 100.000 ou queda de > 50% na contagem plaquetária prévia. • Impossibilidade de anestesia peridural; • Sangramento grave; • Reações alérgicas ou cutâneas; • Aumento de transaminases; • Risco de osteopenia e osteoporose (fraturas vertebrais sintomáticas) – aumentar aporte de cálcio com suplementação de carbonato de cálcio 500mg/dia; • Desencadeamento de parto prematuro. CONTRAINDICAÇÕES DO USO DE HEPARINA • Distúrbio conhecido de sangramento; • Hemorragia ativa pré-natal ou pós-parto; • Maior risco de hemorragia grave (placenta prévia); • Trombocitopenia; • AVC hemorrágico ou isquemico 4 semanas antes; • Doença renal grave (TFG < 30); • Doença hepática grave (tempo de protrombina alto); • Hipertensão não controlada (PAS> 200 ou PAD > 120) CONDUTA NO PARTO • O parto deve ser programado entre 37 e 40 semanas, devendo suspender o uso da Enoxaparina e do AAS. Þ AAS: deve ser suspenso 1 semana antes do parto; Þ HBPM: suspensa 12h antes do parto se dose profilática ou 24h se dose plena; Þ Essas medidas permitirão a raquianestesia. • Via de parto: obstétrico, não havendo contraindicação à maturação artificial do colo com prostaglandinas (misoprostol) nem à indução do TP. • A paciente deve permanecer com meias elásticas durante todo o procedimento (tanto parto normal quanto na cesárea). • Pacientes em uso de heparina devem ser orientadas a não administrar a dose do fármaco caso apresentem contrações ou perda de líquido. CONDUTA NO PUERPÉRIO • A heparina e o AAS devem ser reintroduzidas após 6-8h do parto, tanto vaginal como cesáreo. • Estimular a deambulação precoce e a continuidade do uso das meias elásticas. •