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ha variacao linguistica nas escolas publicas

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2112 
HÁ VARIAÇÃO LINGUÍSTICA NAS ESCOLAS PÚBLICAS? 
 
Wéllem Aparecida de FREITAS 
Prof. Joyce Elaine de ALMEIDA BARONAS (Orientadora) 
 
 
 
RESUMO 
 
Nos últimos anos, pesquisadores da área de linguagem vêm 
desenvolvendo investigações científicas com o intuito de identificar, 
descrever e analisar fenômenos de variação linguística. É certo que a 
Língua Portuguesa usada no Brasil não é uniforme, pois é constituída de 
muitas variedades. Assim, o ensino da variação linguística na escola é 
importante para que o aluno consiga identificar nas práticas sociais _ 
afinal a língua é uma instituição social_ as regularidades das diferentes 
variedades do português, reconhecendo os valores sociais implicados. Em 
primeiro lugar, é preciso lembrar que, muitas vezes, o ensino de língua 
materna está associado à concepção de “erro”, o que na verdade deveria 
ser revisto sob a ótica da adequação às circunstâncias de uso. Tendo isso 
como base, o presente artigo se inclina sobre o ensino da variação 
linguística, mais especificamente nas escolas públicas de Londrina-PR. 
Desse modo, partindo dos pressupostos teóricos de Sociolinguística, 
pretende-se analisar dados de uma entrevista realizada com professores 
de escolas públicas, localizadas nas áreas rurais e urbanas, com o objetivo 
de saber se os professores trabalham com o estudo da variação linguística 
em sala de aula. Cabe ressaltar que não podemos procurar impedir a 
variação; pelo contrário, é imprescindível abordar esse assunto em sala e 
apresentar a ideia da adequação de cada possibilidade linguística a um 
contexto particular. 
 
 
Palavras-chave: Variação linguística; ensino; sociolinguística. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 2113 
INTRODUÇÃO 
 
Há anos pesquisadores da área de linguagem vêm desenvolvendo 
pesquisas científicas com o objetivo de identificar, descrever e analisar 
fenômenos de variação linguística, pois a Língua Portuguesa utilizada no 
Brasil não é uniforme, pelo contrário é constituída de muitas variedades. 
 
Como resultado dessas pesquisas, e porque a língua é uma 
unidade composta de variedades, já há nos documentos que orientam o 
Ensino Fundamental (Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto 
ciclos do Ensino Fundamental, doravante PCNs) a indicação explícita para 
que sejam trabalhadas em sala de aula questões que têm como foco a 
variação linguística, pois “o aluno, ao entrar na escola, já sabe pelo menos 
uma dessas variedades – aquela que aprendeu pelo fato de estar inserido 
em uma comunidade de falantes” (BRASIL, 1998, p. 81), assim também 
podemos constatar, a partir da citação a seguir, extraída dos PCNs, que a 
língua muda e que por isso o aluno deve estar preparado para identificar 
tais mudanças: 
 
A variação é constitutiva das línguas humanas, 
ocorrendo em todos os níveis. Ela sempre 
existiu e sempre existirá, independente de 
qualquer ação normativa. Assim, quando se 
fala em “Língua Portuguesa” está se falando 
de uma unidade que os constitui de muitas 
variedades. Embora no Brasil haja relativa 
unidade linguística e apenas uma língua 
nacional, notam-se diferenças de pronúncia, 
de emprego de palavras, de morfologia e de 
construções sintáticas, as quais não somente 
identificam os falantes de comunidades 
linguísticas em diferentes regiões, como ainda 
se multiplicam em uma mesma comunidade de 
fala. (BRASIL, 1998, p. 29). 
 
Assim, se espera que o aluno “seja capaz de verificar as 
regularidades das diferentes variedades do português, reconhecendo os 
 2114 
valores sociais nelas implicados” (BRASIL, 1998, p. 52), ou seja, espera-
se que os alunos não somente conheçam as variedades da língua 
materna, mas também que combatam o preconceito que existe contra as 
formas populares em oposição às formas utilizadas por grupos 
socialmente prestigiados, já que: 
 
O preconceito linguístico, como qualquer outro 
preconceito, resulta de avaliações subjetivas 
dos grupos sociais e deve ser combatido com 
vigor e energia. É importante que o aluno, ao 
aprender novas formas linguísticas, 
particularmente a escrita e o padrão de 
oralidade mais formal orientado pela tradição 
gramatical, entenda que todas as variedades 
linguísticas são legítimas e próprias da história 
e da cultura humana. (BRASIL, 1998, p.82). 
 
Diante disso, pretendemos investigar como os professores que 
trabalham em escolas públicas, estão trabalhando não somente as 
variedades linguísticas de prestígio, mas também as variedades 
populares, sobretudo as variantes dos alunos, que quase sempre se 
distanciam da variedade de prestígio no que diz respeito a alguns 
aspectos formais, além disso, objetivamos verificar se os livros didáticos 
contemplam este conteúdo. 
 
Escolhemos a escola pública, porque é a que mais absorve uma 
clientela cuja linguagem pode se afastar mais da norma culta, dadas as 
condições sócio culturais que implicam diferenças também no publico 
escolar. Em vista disso, a pesquisa foi realizada em seis escolas públicas 
de Londrina, sendo quatro localizadas na área urbana e duas na área 
rural, para que fosse verificado se há o ensino da variação linguística nas 
escolas públicas. Para tanto, tomamos por base estudos fundamentados 
na sociolinguística, sobretudo, nas pesquisas desenvolvidas por Calvet 
(2002), Tarallo (2001), Fregonezi (1975), entre outros. 
 2115 
Pretendemos com isso verificar se os professores da escola 
pública trabalham com questões de variação linguística em sala de aula o 
que contribui, por um lado para combater o preconceito contra as 
variedades populares; e por outro, para eliminar a noção de “erro” o que 
possibilita uma melhora na prática de ensino em relação aos fenômenos 
de variação linguística. 
 
1. Variação linguística 
 
A língua não é usada de modo homogêneo por todos os seus 
falantes, pois seu uso varia de época para época, de região para região, 
de classe social para classe social, e assim por diante. Nem 
individualmente podemos afirmar que o uso seja uniforme, porque 
dependendo da situação, uma mesma pessoa pode usar diferentes 
variedades de uma só forma da língua. 
 
Travaglia divide as variedades linguísticas em dois tipos: 
 
Basicamente podemos ter dois tipos de 
variedades linguísticas: os dialetos e os 
registros (estes também chamados de 
estilos, por muitos estudiosos). Os dialetos 
são as variedades que ocorrem em função das 
pessoas que usam a língua, ou como preferem 
alguns, para empregar uma terminologia 
derivada da teoria da comunicação, dos 
emissores. Já os registros são as variedades 
que ocorrem em função do uso que se faz a 
língua, ou como preferem alguns, dependem 
do recebedor, da mensagem ou da situação. 
(TRAVAGLIA, 2000, p. 42). 
 
Já que a Língua Portuguesa é heterogênea foram realizados 
vários estudos a respeito da variação linguística que registram pelo menos 
seis dimensões de variação dialetal: a territorial, a social, a de idade, a de 
sexo, a de geração e a de função. 
 2116 
Para Halliday, McIntosh e Strevens (1974), as variações de 
registro são classificadas como sendo de três tipos diferentes: de grau de 
formalismo, entendida como um maior cuidado e apuro (no sentido 
normativo e estético) no uso dos recursos da língua; de modo, que se 
refere à oposição entre a língua falada e a língua escrita; e de sintonia, 
que envolve características próprias que marcam um estilo próprio: 
 
De tal modo que alguns autores acham que a 
dificuldade que os alunos têm para escrever 
não advém do desconhecimento da norma 
culta ou padrão, mas antes do 
desconhecimento dessas características 
próprias do escrito. Alíngua escrita e a falada 
apresentam uma série de diferenças devidas 
ao meio (visual ou auditivo) em que são 
produzidas. (TRAVAGLIA, 2000, p. 52). 
 
Assim, por causa destas, questões se faz necessário tal 
abordagem em sala, para que dificuldades como estas sejam evitadas. 
 
Fregonezi, referindo-se às variações, afirma: 
 
„O contexto social do enunciado específico, a 
posição social do locutor, sua origem 
geográfica e sua idade. Cada um destes 
aspectos proporciona um conjunto útil de 
generalidades‟. (FREGONEZI, 1975, p. 16) 
 
Tendo estas ideias como base, o professor deve proporcionar ao 
aluno o conhecimento das variedades presentes na língua, porque “é uma 
instituição social”, portanto não pode ser considerada como forma de 
domínio e/ou classificada em escala de valores, pois muitas vezes os 
preconceitos são gerados por causa do desconhecimento da variação 
linguística. 
 
„A capacidade de utilizar corretamente a língua 
em uma variedade de situações socialmente 
 2117 
determinadas é parte integrante e central da 
competência linguística tanto quanto a 
capacidade de produzir orações 
gramaticalmente bem formadas‟. 
(FREGONEZI, 1975, p. 5.) 
 
Em vista disso, não cabe ao professor ensinar apenas normas 
gramaticais, mas sim levar o aluno a verificar fatores que estão envolvidos 
na sociedade para que consiga identificar as variantes da língua e usá-las 
em suas situações específicas, pois se faz necessário que o contexto social 
do aluno seja considerado como um fator importante em sala de aula. 
 
2. Breve histórico da sociolinguística 
 
Nossa pesquisa tem como foco o ensino da variação linguística 
em sala de aula, partiremos, portanto, de pressupostos teóricos de 
sociolinguística uma vez que a língua está e é parte integrante da 
sociedade. William Labov insistiu na relação entre língua e sociedade. 
 
Foi, portanto, William Labov quem, mais 
veemente, voltou a insistir na relação entre 
língua e sociedade e na possibilidade, virtual e 
real, de se sistematizar a variação existente e 
própria da língua falada. Desde seu primeiro 
estudo, de 1963, sobre o inglês falado na ilha 
de Martha‟s Vineyard, no Estado de 
Massachusetts (Estados Unidos). (TARALLO, 
2001, p. 7). 
 
Seguiremos estes princípios da sociolinguística, porque é 
perceptível que o ensino da variação linguística em sala de aula deve ser 
trabalhado levando em consideração o meio social em que o aluno está 
inserido, portanto, para nós a língua é entendida como um fato social que 
só acontece por meio de seus falantes. 
 
 
 
 2118 
3. Variação e ensino 
 
O ensino de Língua Portuguesa passou por transformações para 
que fossem consideradas em sala não só a gramática normativa, mas 
questões referentes à interação, questões que estão na vivencia dos 
alunos, que fazem parte de seu repertório e que são vistas como algo a 
ser usado na sociedade e não apenas para aprender a língua escrita. 
 
A disciplina de Língua Portuguesa passou a 
denominar-se, a partir da Lei 5692/71, no 
primeiro grau, Comunicação e Expressão (nas 
quatro primeiras séries) e Comunicação em 
Língua Portuguesa (nas quatro últimas séries), 
com base em estudos posteriores a Saussure, 
em especial nos estudos de Jakobson, 
referentes à teoria da comunicação. Na década 
de 70, além disso, outras teorias a respeito da 
linguagem passaram a ser debatidas, entre 
elas: a Sociolinguística, que volta-se para as 
questões de variação linguística; a Análise do 
Discurso, que reflete sobre a relação sujeito-
linguagem-história, relaciona-se à ideologia; a 
Semântica, que preocupa-se com a natureza, 
função e uso dos significados; a Linguística 
Textual, que apresenta como objeto o texto, 
considerando o sujeito e a situação de 
interação, estuda os mecanismos de 
textualização. (PARANÁ, 2008, p. 44) 
 
Com base nestas diretrizes, o ensino passa a ser democrático e a 
visar à interação, as situações de uso social, pois o aluno já faz uso da 
língua antes de fazer parte do ambiente escolar, portanto temos que levar 
em conta o seu contexto sociocultural. 
 
A acolhida democrática da escola às variações 
linguísticas toma como ponto de partida os 
conhecimentos linguísticos dos alunos, para 
promover situações que os incentivem a falar, 
ou seja, fazer uso da variedade de linguagem 
que eles empregam em suas relações sociais, 
mostrando que as diferenças de registro não 
 2119 
constituem, científica e legalmente, objeto de 
classificação e que é importante a adequação 
do registro nas diferentes instâncias 
discursivas. (PARANÁ, 2008, p. 55) 
 
Tendo este estudo por base nas salas de aula, é possível ser 
mostrado ao aluno que as classificações “boa” e “ruim”, “certo” e “errado” 
não existem, mas que devemos saber adequar em cada situação uma 
variante linguística. Com esta perspectiva, o ensino torna-se mais fácil e 
melhor recebido por parte dos alunos, pois identificarão as relações sociais 
nos discursos, o que facilitará na hora da comunicação. 
 
A Sociolinguística não classifica as diferentes 
variações linguísticas como boas ou ruins, 
melhores ou piores, primitivas ou elaboradas, 
pois constituem sistemas linguísticos eficazes, 
falares que atendem a diferentes propósitos 
comunicativos, dadas as práticas sociais e os 
hábitos culturais das comunidades. (PARANÁ, 
2008, p. 56) 
 
Antunes afirma que: 
 
Existem situações sociais diferentes; logo, 
deve haver também padrões de uso da língua 
diferente. A variação, assim, aparece como 
uma coisa inevitavelmente normal. Ou seja, 
existem variações linguísticas não porque as 
pessoas são ignorantes ou indisciplinadas; 
existem, porque as línguas são fatos sociais, 
situados num tempo e num espaço concretos, 
com funções definidas. E, como tais, são 
condicionados por esses fatores. (PARANÁ, 
2008, p. 65) 
 
4. Coleta de dados – pesquisa 
 
Com o intuito de verificar questões a respeito do ensino-
aprendizagem da variação linguística nas escolas, nos propusemos a 
 2120 
analisar seis escolas públicas da cidade de Londrina, para que pudéssemos 
constatar se há o ensino da variação linguística. 
 
Em vista disso, seguem as análises das entrevistas e 
posteriormente as considerações finais contendo os resultados por nós 
alcançados. 
 
4.1 Análise das entrevistas 
 
As perguntas aplicadas aos professores foram: 
 
1) Nome (Fictício): 
____________________________________________________ 
2) Nome da escola: 
___________________________________________________ 
3) Há quanto tempo ministra aula? _____________ 
4) Possui licenciatura na disciplina específica? Sim Não 
5) Como você vê o ensino da variação linguística em sala de aula? 
Considera importante? 
6) O livro didático, o qual utiliza em sala, aborda questões de variação 
linguística? Como aborda tais questões em sala? Utiliza outros exemplos? 
7) Você acha que com o ensino da variação linguística em sala os 
alunos podem deixar de utilizar a norma padrão da língua? Por quê? 
8) Como os alunos reagem a tal conteúdo? Apresentam dificuldades, 
preconceito com outros tipos de variação, etc. 
 
4.1.1 Análise da questão 1 
 
Os professores, para se sentirem mais à vontade, puderam 
utilizar nomes fictícios. 
 
4.1.2 Análise da questão 2 
 
As entrevistas foram realizadas com professores da escola 
pública em colégios estaduais e de nível médio. As escolas pesquisadas 
dividem-se em: 
 2121 
 Localizadas na Zona Urbana: Colégio Estadual Professor Vicente 
Rijo, Colégio Estadual Professora Maria José Balzanelo Aguilera, Colégio 
Estadual MonsenhorJosemariá Escrivá, Instituto de Educação Estadual de 
Londrina. 
 Localizadas na Zona rural: Colégio Estadual de Paiquerê e Colégio 
Estadual de Lerroville. 
 
4.1.3 Análise da questão 3 
 
 
 
A prática docente dos professores pesquisados é a mais variada 
possível, pois há professores recém-formados com a experiência de 2 
anos em sala de aula e existem aqueles cuja experiência é maior, pois 
estão há mais de 15 anos em contato com a sala de aula, vivenciaram até 
mesmo as mudanças no estudo da Língua Portuguesa e estão se 
adaptando a alguns fatores por estarem há muito tempo fora da 
universidade e por não realizarem, com frequência, um estudo continuado 
na área. Alguns, em conversa, relataram dificuldades com o ensino dos 
gêneros textuais, conteúdo “novo” que deve ser ensino aos alunos, mas 
por não terem estudado estas questões acabam tendo dificuldades em sua 
aplicação. 
 
 
 
 2122 
4.1.4 Análise da questão 4 
 
 
 
Todos os professores possuem licenciatura em Letras e atuam na 
área como professores, dois deles estão fazendo mestrado e doutorado na 
Universidade Estadual de Londrina. 
 
4.1.5 Análise da questão 5 
 
 
 
Ao serem questionados a respeito do ensino da variação 
linguística, as respostas foram satisfatórias e para que o trabalho 
contemple todos os resultados obtidos seguem as observações feitas pelos 
professores. Para não demarcamos a escola em questão nem o professor, 
utilizaremos siglas para separarmos as respostas: 
 2123 
- Professor A: “É importante para a desconstrução do conceito de “certo” e 
“errado” com relação à língua e para buscar a eliminação da sensação de 
inferioridade social por usar uma variante diferente da língua culta. Cabe 
lembrar que só o conhecimento possibilita essa análise e conclusão.” 
 
- Professor B: “É muito importante, pois o contato com diferentes tipos de 
linguagem naturalmente não substitui a leitura e análise de textos 
literários, ao contrário soma-se a elas.” 
 
- Professor C: “Acredito que o ensino da variação linguística é muito 
importante no ensino, pois é uma maneira de levar em consideração o 
contexto no qual o aluno está inserido e reduzir, em parte, os 
preconceitos linguísticos.” 
 
- Professor D: “Acredito que o ensino da variação linguística em sala seja 
bastante válido, visto que proporciona momentos de significante interação 
com as várias formas de comunicação. Se um dos importantes traços de 
identificação de um povo é a sua língua, conhecer e interagir com alguns 
deles torna-se uma forma de enriquecimento, de interação e de aquisição 
de conhecimento.” 
 
- Professor E: “Este ensino é de suma importância, pois o aluno não pode 
desconhecer estas variantes já que em meio a sociedade elas estão 
presentes.” 
 
- Professor F: “O ensino da variação linguística na sala de aula se faz 
importante, uma vez que o aluno já possui uma variação ao entrar na 
escola, e lidar, descrever, conhecer e identificar outras variantes torna o 
trabalho da linguagem algo próximo do aluno, o que muitas vezes além de 
prazeroso mostra-se como um conteúdo que é usado, que não será 
apenas mais um conteúdo a estudar para prova, pelo contrário é um 
conteúdo que faz parte de sua vivência.” 
 
4.1.6 Análise da questão 6 
 
 
 2124 
Quando questionados se o livro didático, o qual utilizava em sala, 
abordava questões de variação, a maioria afirmou que sim e relatou que 
alguns superficialmente; porém, por considerarem este ensino importante, 
sempre buscavam em outras fontes e levavam materiais extras para que 
o assunto fosse trabalhado em sala. Uma surpresa foi o relato de que 
alguns não fazem o uso do livro didático, ou o utilizam pouco, mas todos 
afirmaram trabalhar com o ensino da variação linguística. Assim, seguem 
as colocações dos professores. 
 
- Professor A: “O livro traz textos e expressões de diversas regiões, da 
linguagem coloquial e técnica, etc. As atividades pedem para identificar os 
falantes, relacionar com a língua culta e outros.” 
- Professor B: “Sim. Aborda de maneira bem objetiva e bem diversificada. 
Utilizo o pen drive, revistas, jornais.” 
 
- Professor C: “Costumo não utilizar o livro didático em sala de aula, 
costumo levar fotocópias ou utilizar a televisão pen drive. Todo começo de 
ano uma das primeiras coisas que abordo em sala é sobre a importância 
da variação linguística. Procuro abordar muito sobre variação social e dar 
exemplos sobre o modo de falar dos alunos. Procuro mostrar também a 
diferença entre fala e escrita.” 
 
- Professor D: “Sim, o livro utilizado em minha escola, Ensino Médio, 
aborda questões de variação linguística, apresentando algumas dessas 
variações, bem como explorando seu uso, identificando essas 
particularidades de uma forma geralmente enriquecedora e, algumas 
vezes, lúdica. Além disso, eu trabalho com exemplos encontrados em 
textos literários e/ou filmes regionais. Isso acontece de forma mais 
intensa no 1° ano.” 
 
- Professor E: “O livro aborda superficialmente, mas as trabalho em sala. 
Não tanto quanto deveria por causa do tempo que não permite.” 
 
 - Professor F: “Não utilizo livro didático, mas abordo questões relativas ao 
ensino da variação linguística através de exemplos impressos ou 
mencionados que fazem parte do cotidiano do aluno.” 
 
 
 
 
 
 2125 
4.1.7 Análise da questão 7 
 
Quando questionados se o ensino da variação linguística pode 
interferir na utilização da norma padrão, a resposta foi unanime: Não. E 
defenderam esta afirmação de maneira muito positiva, afirmando que o 
ensino da variação linguística se faz importante e que não atrapalha no 
ensino das demais matérias. Seguem tais afirmações: 
 
- Professor A: “Não, eu penso exatamente ao contrário dessa afirmação. É 
pelo conhecimento que pode optar pelo uso de cada variante.” 
 
- Professor B: “Não, porque através das atividades de variação linguística 
os alunos são capazes de ampliar e solidificar os seus conhecimentos. 
Diante de tanta tecnologia a variação linguística serve como um convite à 
leitura permitindo também uma ligação de enfoques, intenções e 
contextos.” 
 
- Professor C: “Não, desde que o professor deixe claro a importância da 
variação linguística e da norma padrão. Quando o aluno entende a 
importância desses dois últimos, ele consegue mais facilmente interagir 
com as pessoas nas diferentes situações.” 
 
- Professor D: “Não! Tudo depende da forma como isso é passado ao 
aluno, destacando a importância de cada variação e, também, da norma 
padrão da língua. Esta não pode ser desconsiderada em detrimento 
daquela, considerando um discurso de valorização do diferente. A norma 
padrão deve sim, ser o nosso norte em sala de aula, mas as variações 
devem ser consideradas e respeitadas.” 
 
 - Professor E: “Os alunos possuem dificuldade com a norma “padrão”, 
mas não deixam de usá-la por aprenderem a variação linguística.” 
 
- Professor F: “Vai do modo como o professor trabalha em sala com este 
conteúdo, nunca tive problemas com relação a isso.” 
 
4.1.8 Análise da questão 8 
 
A questão número oito queria saber se os alunos encontram 
dificuldades em relação ao ensino da variação e como reagem a este 
conteúdo. Os professores apontaram que, de inicio, os alunos apresentam 
preconceito, chegam a descrevê-la como “falar errado”, “caipira”, mas 
 2126 
conforme se conduz a aula, estas classificações são alteradas e passam a 
ser vistas como algo próximo de sua realidade, pois passam a identificar 
as variações em seu meio, seja ele escolar, na rua, em casa, enfim, 
percebem que está na sociedade, o que desperta o interesse em querer 
aprender mais e saber por que é usado emseu contexto. A seguir, 
apresenta-se como os professores responderam a esta questão. 
 
- Professor A: “Eles classificam como “falar errado” ou “caipira”, mas 
depois, entendem.” 
 
- Professor B: “Reagem bem. Uma certa dificuldade no início, mas depois 
conseguem desenvolver as atividades propostas.” 
 
- Professor C: “Não, como disse anteriormente (na questão 7), é preciso 
que o professor deixa bem claro a importância da variação linguística.” 
 
- Professor D: “Até hoje não tive problemas ao trabalhar com as variações 
linguísticas, pois acredito nessa pluralidade e tento passar essa 
importância aos meus discentes. Além disso, é sempre muito interessante 
conhecer e se apropriar do que é diferente. Toda forma de conhecimento 
é válida, desde que bem trabalhada e considerada em sua totalidade!” 
 
- Professor E: “Apresentam curiosidade, é um dos conteúdos que mais 
gostam porque detectam em seu meio a variação o que os estimulam.” 
 
- Professor F: “De início não demonstram interesse, mas quando 
percebem a proximidade do conteúdo com seu dia-a-dia, começam a 
identificar as variantes que os colegas possuem ou se conhecem alguém 
que “fala diferente” logo começam a participar da aula, o que realmente 
demonstra que o conteúdo a ser ministrado pelo professor deve fazer 
sentido ao aluno, não só para ele concluir os estudos, mas para que 
reconheça a importância do que é estudo ao longo da disciplina.” 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Em vista dos fatos acima mencionados, compreendemos que o 
ensino da variação linguística nas escolas públicas de Londrina segue os 
PCNs, não deixando de lado o contexto socioeconômico e cultural do 
aluno. 
 2127 
Por meio da entrevista realizada com seis professores da rede 
estadual de ensino, verificamos que a maioria declarou que o livro didático 
aborda questões de variação linguística, alguns superficialmente, porém, 
segundo os dados das entrevistas, os professores complementam tal 
conteúdo trazendo materiais extras ou dialogando com o próprio contexto 
escolar vivenciado pelo aluno. O conteúdo é visto como importante e por 
causa disso é trabalhado por todos os pesquisados. 
 
Relatos comprovam que de início os alunos estranham, alguns 
até consideram como “errado”, mas posteriormente, e devido à explicação 
e incentivo dos professores, a ideia de “erro” é deixada de lado e é vista 
como uma adequação que se faz necessária de acordo com a situação em 
que o aluno se encontra, como por exemplo, o aluno deve saber que em 
uma entrevista de emprego ele não pode se comportar da mesma 
maneira que em sua casa, falando com amigos, contando uma história 
etc. São estas questões que devem ser trabalhadas em sala, pois o aluno 
precisa aprender conteúdos que irá utilizar em sua vivência, isso não quer 
dizer que a gramática normativa deva ser deixada de lado, pelo contrário 
ela orienta e mostra as regras que são necessárias para a escrita e para 
as situações formais. 
 
A pesquisa também nos mostrou, por um lado, que os conteúdos, 
não só de variação linguística, como os demais, não são tão explorados, 
em vista do tempo disponível para trabalhar com tantos assuntos; outro 
fator importante é que alguns professores encontram-se há muito tempo 
afastados das salas de aula como alunos, o que muitas vezes atrapalha o 
ensino de certos conteúdos por não terem domínio do assunto a ser 
trabalhado, como foi mencionado por um dos professores a respeito do 
ensino dos gêneros textuais. 
 
Portanto, a pesquisa contribuiu para que nosso objetivo fosse 
alcançado, os dados desta pesquisa apontam que o conteúdo de variação 
 2128 
é abordado e nos permitem compreender como isto ocorre. As escolas, 
que não possuíam ligação umas com as outras, por causa da distância, 
nos mostrou que não há diferença em relação ao ensino na zona urbana 
ou rural, pois é papel do professor selecionar os conteúdos a serem 
abordados e a maneira como irá conduzi-los. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental: Parâmetros curriculares 
nacionais: terceiro e quatro ciclos do ensino fundamental: Língua 
Portuguesa. Brasília: MEC/SEF, 1998. 
 
CALVET, Louis-Jean. Sociolinguística: uma introdução crítica. Tradução 
Marcos Marcionilo. São Paulo: Parábola, 2002. 176p. 
 
FREGONEZI, D. E. A variação linguística e o ensino de Português. Cornélio 
Procópio, FAFICL, 1975. 
 
PARANÁ, Secretaria de Educação do Estado do. Departamento de 
Educação Básica. Diretrizes Curriculares da Educação Básica: língua 
portuguesa. Paraná, 2008. 
 
TARALLO, Fernando. A relação entre língua e sociedade. In: A pesquisa 
sociolinguística. São Paulo: Ática, 2001. 
 
TRAVAGLIA, Luiz Carlos. A variação linguística e o ensino de língua 
materna. In: Gramática e interação: uma proposta para o ensino de 
gramática no 1º e 2º Graus. 5º ed. São Paulo: Cortez, 2000.

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