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A ascensao do dinheiro - Niall Ferguson-101

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Para o renegado escocês, as finanças holandesas chegaram como uma revelação. Law ficou
fascinado pelas relações entre a Companhia das Índias Orientais, o Banco de Câmbio de
Amsterdã e a bolsa de valores. Sempre atraído pelo jogo, Law achou o Beurs de Amsterdã
mais excitante que qualquer cassino. Ele ficava assombrado e maravilhado com os esgares
dos intermediários das operações, ou vendas a descoberto, que espalhavam rumores para
tentar depreciar o preço das ações da VOC, ou os especialistas em windhandel (“mão de
vento”), que comercializavam especulativamente com ações que eles nem sequer possuíam. A
inovação financeira estava por toda parte. O próprio Law lançara com êxito um sistema
engenhoso para assegurar detentores de bilhetes da loteria nacional holandesa contra sorteios
em branco.
Ainda assim, o sistema financeiro holandês impressionara Law por não ser bastante
completo. Por um lado, parecia teimosia restringir o número de ações da Companhia das
Índias Orientais, quando o mercado parecia tão enamorado por elas. Law também ficou
perplexo e confuso com o conservadorismo do Banco de Câmbio de Amsterdã. Seu próprio
“banco de dinheiro” tinha provado ser um sucesso, mas ele se materializava amplamente nas
colunas de números em livros contáveis do banco. Além de recibos emitidos por mercadores
que depositavam dinheiro no banco, o dinheiro não tinha existência física. A ideia de uma
mudança espantosa dessas instituições já estava tomando forma na cabeça de Law, e
consistiria numa combinação das propriedades de uma companhia monopolista de comércio
com um banco público que emitisse notas, na maneira do Banco da Inglaterra. Logo não
demorou muito para Law começar a ficar inquieto para experimentar um novo sistema de
finanças numa nação confiante. Mas qual seria?
Primeiro ele tentou sua sorte em Gênova, negociando moeda estrangeira e outros valores.
Passou algum tempo em Veneza, negociando de dia, jogando e apostando à noite. Em
sociedade com o conde de Islay, ele também construiu um portfolio substancial na bolsa de
valores de Londres. (Como isso sugere, Law era bem relacionado. Mas existia uma
característica controvertida sobre a sua conduta. Lady Catherine Knowles, filha do conde de
Banburry, passava como sua mulher, e era a mãe dos seus três filhos, a despeito do fato de ser
casada com outro homem.) Em 1705, ele submeteu uma proposta para um novo banco ao
parlamento escocês, proposta essa mais tarde publicada como Money and Trade Considered
[Ponderando sobre o dinheiro e o comércio]. Sua ideia central era que o novo banco emitisse
notas portadoras de juros que suplantariam o dinheiro como moeda. A proposta foi rejeitada
pelo parlamento logo antes do Ato de União com a Inglaterra.39 Desapontado em sua terra
natal, Law viajou para Turim, e em 1711 conseguiu uma audiência com Victor Amadeus II,
duque de Savoia. No documento The Piedmont Memorials [As petições Piemonte], ele
novamente defendeu o projeto da moeda papel. De acordo com Law, somente a confiança era
a base para o crédito público; com confiança, as notas bancárias serviriam da mesma maneira
que as moedas. “Eu descobri que o segredo da pedra filosofal”, ele disse a um amigo, “é fazer
ouro do papel.”40 O duque vacilou, dizendo: “Eu não sou rico o bastante para me arruinar”.

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