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eventos aleatórios A incidência de furacões tem uma certa regularidade, como a incidência da doença e da morte. Em cada década, desde os anos 1850, os Estados Unidos têm sofrido entre um e dez grandes furacões (definidos como uma tempestade com ventos acima de 180 quilômetros por hora, e ondas de mais de 2,50 m). Ainda não ficou claro se a presente década vai bater o recorde dos anos 1940, que sofreu dez desses furacões.8 Como existem dados que cobrem um século e meio, é possível vincular probabilidades à incidência e à escala dos furacões. O Corpo de Engenheiros do Exército dos Estados Unidos descreveu o furacão Katrina como uma tempestade 1 em 369, significando que existe uma chance de 0,25% de um furacão tão grande como esse ocorrer no país, em qualquer ano.9 Uma opinião bastante diferente foi formulada pela empresa Risk Management Solutions, que, poucas semanas antes do desastre, julgou que um furacão do tamanho do Katrina era um evento que poderia acontecer a cada quarenta anos.10 Essas apreciações diferentes indicam que, como os terremotos e as guerras, os furacões podem pertencer mais à esfera das incertezas do que à dos riscos adequadamente compreendidos.**** Essas probabilidades podem ser calculadas com maior precisão para a maioria dos outros riscos que as pessoas enfrentam, sobretudo porque eles são mais frequentes, de modo que os padrões estatísticos são mais fáceis de reconhecer. Durante o tempo de vida de um americano médio, o risco de morte devido à exposição às forças da natureza, incluindo todos os tipos de desastres naturais, foi estimado em 1 em 3.288. O número equivalente para uma morte devida ao fogo num edifício é de 1 em 3.358. As chances de um americano médio ser morto a tiros são 1 em 314. Mas é mais provável que ele ou ela cometa suicídio (1 em 119); mais provável ainda que morra num acidente fatal rodoviário (1 em 78); e muito mais provável entre todas as possibilidades, que morra de câncer (1 em 5).11 Nas sociedades agrícolas pré-modernas, quase todos corriam riscos substanciais de morte prematura devido à má nutrição, ou doença, para não mencionar as guerras. Naquela época, as pessoas podiam fazer muito menos do que as gerações futuras, no que se referia à profilaxia. Elas confiavam muito mais em buscar apaziguar os deuses, ou Deus, que, como conjecturavam, determinava a incidência de fomes, pragas, pestes e invasões. Só lentamente os homens começaram a avaliar o significado das regularidades mensuráveis no tempo, na produção das safras e nas infecções. Só muito atrasadamente – nos séculos XVIII e XIX –, começaram a registrar sistematicamente a incidência das chuvas, das safras e da mortalidade de uma maneira que possibilitou o cálculo probabilístico. Mas, muito antes de fazê-lo, eles compreenderam a sabedoria de poupar: colocar dinheiro de lado para os proverbiais (e literais, nas sociedades agrícolas) dias extremamente chuvosos. A maioria das sociedades primitivas pelo menos tentou armazenar comida e outras provisões para aguentar os tempos difíceis. E nossas espécies tribais compreenderam instintivamente de tempos anteriores que fazia sentido partilhar recursos, pois existe uma segurança genuína nos números. Apropriadamente, dada a crônica vulnerabilidade dos nossos ancestrais, as primeiras formas de seguro foram provavelmente sociedades funerais, que separavam recursos para garantir um