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ACESSE AQUI ESTE MATERIAL DIGITAL! DANIEL RICARDO LERCH MACHADO PROTEÇÃO RADIOBIOLÓGICA Coordenador(a) de Conteúdo Gislaine Cardoso Fiais Projeto Gráfico e Capa Arthur Cantareli Silva Editoração Lucas Pinna Silveira Lima Renata Sguissardi Revisão Textual Tatiane Schmitt Costa Ilustração Andre Luis Azevedo da Silva Fotos Shutterstock e Envato Impresso por: Bibliotecária: Leila Regina do Nascimento - CRB- 9/1722. Ficha catalográfica elaborada de acordo com os dados fornecidos pelo(a) autor(a). Núcleo de Educação a Distância. MACHADO, Daniel Ricardo Lerch. Proteção Radiobiológica / Daniel Ricardo Lerch Machado; Florianópolis, SC: Arqué, 2024. 272 p. ISBN papel 978-65-6137-019-6 ISBN digital 978-65-6137-020-2 1. Proteção 2. Radiobiológica 3. EaD. I. Título. CDD - 621.3673 EXPEDIENTE FICHA CATALOGRÁFICA N964 02511595 https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/17299 RECURSOS DE IMERSÃO Utilizado para temas, assuntos ou con- ceitos avançados, levando ao aprofun- damento do que está sendo trabalhado naquele momento do texto. APROFUNDANDO Uma dose extra de conhecimento é sempre bem-vinda. Aqui você terá indicações de filmes que se conectam com o tema do conteúdo. INDICAÇÃO DE FILME Uma dose extra de conhecimento é sempre bem-vinda. Aqui você terá indicações de livros que agregarão muito na sua vida profissional. INDICAÇÃO DE LIVRO Utilizado para desmistificar pontos que possam gerar confusão sobre o tema. Após o texto trazer a explicação, essa interlocução pode trazer pontos adicionais que contribuam para que o estudante não fique com dúvidas sobre o tema. ZOOM NO CONHECIMENTO Este item corresponde a uma proposta de reflexão que pode ser apresentada por meio de uma frase, um trecho breve ou uma pergunta. PENSANDO JUNTOS Utilizado para aprofundar o conhecimento em conteúdos relevantes utilizando uma lingua- gem audiovisual. EM FOCO Utilizado para agregar um con- teúdo externo. EU INDICO Professores especialistas e con- vidados, ampliando as discus- sões sobre os temas por meio de fantásticos podcasts. PLAY NO CONHECIMENTO PRODUTOS AUDIOVISUAIS Os elementos abaixo possuem recursos audiovisuais. Recursos de mídia dispo- níveis no conteúdo digital do ambiente virtual de aprendizagem. 4 U N I D A D E 1 CONCEITOS BÁSICOS E UNIDADES DE GRANDEZAS DE RADIAÇÕES IONIZANTES 8 U N I D A D E 2 RADIOATIVADADE, O DECAIMENTO RADIOATIVO E SUAS INTERAÇÕES 40 U N I D A D E 3 DETECTORES DE RADIAÇÃO 80 U N I D A D E 4 DOSIMETRIA E EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL (EPI) 114 U N I D A D E 5 BLINDAGEM, REGULAMENTAÇÃO E PRINCÍPIOS DE PROTEÇÃO RADIOLÓGICA 140 U N I D A D E 6 RADIOBIOLOGIA 188 U N I D A D E 7 CITOLOGIA E INTERAÇÃO DA CÉLULA COM A RADIAÇÃO IONIZANTE 206 U N I D A D E 8 EFEITOS BIOLÓGICOS DAS RADIAÇÕES IONIZANTES 230 U N I D A D E 9 ACIDENTES RADIOLÓGICOS E NUCLEARES QUE MARCARAM O MUNDO 258 5 CAMINHOS DE APRENDIZAGEM UNIDADE 1 MINHAS METAS CONCEITOS BÁSICOS E UNIDADES DE GRANDEZAS DE RADIAÇÕES IONIZANTES Conhecer os tipos de ondas e partículas que são radiações ionizantes. Compreender as grandezas aplicadas ao estudo das radiações ionizantes. Entender as unidades aplicadas ao estudo das radiações ionizantes. T E M A D E A P R E N D I Z A G E M 1 8 INICIE SUA JORNADA A radiação sempre esteve presente na vida do homem, e o fato de habitar o planeta Terra o expõe aos raios cósmicos, aos raios ultravioletas do Sol, tanto que é importante e recomendado o uso de protetor solar com barreiras UVA e UVB, bloqueando a passagem das radiações na pele. Depois da descoberta do raios X e da radioatividade, as radiações ionizantes passaram a ser utilizadas em várias regiões do mundo, porém sem muito critério, havendo relatos do aparecimento de alguns efeitos nocivos, inclusive nos pesqui- sadores, como ocorreu com o casal Curie e a esposa de Roentgen. Os seres humanos estão expostos às radiações naturais e podem ser expostos às radiações artificiais. Na forma artificial, podemos citar os exames de raios X, cuja radiação é obtida por meio da transformação de energia elétrica em radiação eletromagnética ionizante. Citamos também a medicina nuclear, uma área médi- ca que utiliza fontes de radionuclídeos, obtidos artificialmente, com finalidades diagnóstica e terapêutica. Na medicina nuclear, por exemplo, são utilizados o molibdênio e o iodo que, na natureza, não são radioativos, sendo considerados nuclídeos. Contudo, depois de passarem por uma transição nuclear (o núcleo sai do equilíbrio e passa para um estado instável), os núcleos dos átomos passam a emitir energia na forma de radiação ionizante corpuscular beta, e uma radiação eletromagnética residual, denominada radiação gama, tornando o molibdênio e o iodo radionuclídeos. Estudante, serão essas as questões que abordaremos neste tema, para que você entenda as bases do estudo das radiações ionizantes. Bons estudos! DESENVOLVA SEU POTENCIAL CONCEITO DE RADIAÇÃO Vamos relembrar um conceito importante daqui para frente: o que é uma radia- ção? A radiação é uma energia emitida e transferida por intermédio do espaço, podendo ou não necessitar de um meio de transporte para se propagar em todas UNICESUMAR 9 TEMA DE APRENDIZAGEM 1 as direções. Segundo Tilly Jr. (2010), existem três tipos de radiações: as mecâ- nicas, as eletromagnéticas e as corpusculares. RADIAÇÃO MECÂNICA O som é uma radiação mecânica, surge da vibração de um material, propaga-se por intermédio do espaço e precisa de um meio de propagação, no caso, o ar. O som não consegue se propagar no vácuo. RADIAÇÃO ELETROMAGNÉTICA Surge de perturbações eletrônicas, ou seja, da movimentação de elétrons, envolvendo a oscilação de campos elétricos e magnéticos. RADIAÇÃO CORPUSCULAR Surge de interações dentro do núcleo do átomo. Estas são emitidas e transferidas por intermédio do espaço e precisam de um meio de propagação. Precisam de um corpo, de uma partícula para transferir a energia pelo espaço. Nesse momento, a radiação mecânica não tem grande importância para nós. Por esse motivo, deixaremos de lado. Focaremos nossos esforços nos conceitos de radiação eletromagnética e radiação corpuscular. RADIAÇÃO ELETROMAGNÉTICA A radiação (energia) eletromagnética está mais presente em nossa rotina do que ima- ginamos, por exemplo: as ondas do rádio, o sinal de televisão, a internet Wi-Fi, os celu- lares, o micro-ondas, a luz visível, o infravermelho, a radiação ultravioleta, o raios X etc. Descrita por James C. Maxwell, a radiação eletromagnética foi percebida por observação de cargas elétricas (elétrons) em movimento, produzindo um campo elétrico induzido e variável no tempo. Maxwell percebeu que o processo não terminava. Assim, o fenômeno foi se repetindo e se propagando no espaço. Maxwell demonstrou, de forma clara, 1 1 que a propagação de energia eletromagnética por meio de vibrações de campos elétricos e campos magnéticos induzidos e variáveis no tempo tinha característica de duas ondas oscilantes. É a chamada onda eletromagnética. Campo Elétrico Campo Magnético Figura 1 - Ilustração da propagação descrita por Maxwell Fonte: https://www.todamateria.com.br/eletromagnetismo//. Acesso em: 18 jun. 2019. Descrição da Imagem: imagem mostra uma ilustração da propagação descrita por Maxwell, em que há um campo magnético indicado pelas ondas azuis e o campo elétrico representado pelas ondas rochas. Uma onda eletromagnética é considerada uma radiação por não precisar de um meio de propagação. Propaga-se em linha reta, no vácuo, e possui a velocidade da luz no ar, que se aproxima dos 300.000 m/s. Mesmo não possuindo massa,pode car- regar uma grande quantidade de energia. Por esse motivo, é importante mencionar a Teoria do Quanta, desenvolvida por Max Planck (1901) e Albert Einstein (1905). Os cientistas descreveram que a radiação eletromagnética se propaga como pequenos pulsos de energia, chamados de pacotes de energia, quantum ou fótons. Segundo Tilly Jr. (2010), um fóton é a menor porção de radiação eletromagnética. Podemos dizer que um fóton é um único “raio” de luz. Um fóton se comporta como uma partícula, porém sem massa, só energia. Essa característica permite um melhor controle da sua energia e suas interações com a matéria. Se o comportamento de onda fosse mantido, teríamos momen- tos variados durante a ondulação, com picos mais altos de energia e, em outros momentos, picos mais baixos. Do ponto de vista radiológico, torna-se mais interessante uma abordagem quântica em relação às ondas eletromagnéticas. No caso das exposições médicas, seria impossível ter uma precisão adequada do uso do raios X se fosse mantido UNICESUMAR 1 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 1 um comportamento oscilante de uma onda. Já como um pacote de energia, fica mais fácil ajustar os parâmetros com pouquíssima variação. A física descreve que a energia de um fóton é diretamente proporcional à frequên- cia, e inversamente proporcional ao seu comprimento de onda. A constante de Planck é 6,626 x 10-34 Joules/segundos. APROFUNDANDO As radiações eletromagnéticas podem variar entre radiações ionizantes e radiações não ionizantes. Conforme observado no espectro eletromagnético, do ultravioleta em diante, são as radiações com menor comprimento de onda, assim, todas ionizantes. Figura 2 - Espectro eletromagnético / Fonte: https://medium.com/ubntbr/como-o-sinal-wifi-%C3%A9-pro- pagado-na-natureza-d87daef39575. Acesso em: 27 jun. 2019. Descrição da Imagem: imagem mostra o espectro eletromagnético, em que há uma escala de radiação não-ioni- zante (faixa em azul) e uma radiação ionizante (faixa vermelha). Também há exemplos de aparelhos e eletrodo- mésticos e cada qual com sua respectiva onda de radiação. 1 1 Segundo Tilly Jr. (2010), essa classificação utiliza como referências o comprimen- to de onda e a quantidade de energia que as radiações transferem. As radiações eletromagnéticas ionizantes que interessarão no momento são: raios X e raio gama. Raios X O raios X é produzido por interações ocorridas na eletrosfera do átomo, onde ocorre a transformação de energia elétrica em energia eletromagnética. Como você já apren- deu, a produção do raios X ocorre por freamento e/ou saltos eletrônicos. O raios X não possui carga e nem massa, é energia pura como a luz. Seu comprimento de onda é de 10-8 m, maior do que a radiação gama, sendo um pouco menos penetrante. Raios gama (γ) É produzido por interações dentro do núcleo do átomo. A energia é emitida do núcleo quando este se encontra em estado instável, com desequilíbrio. A radiação gama tende a ser residual. Em radioisótopos metaestáveis, podemos ter a emissão de radiação gama pura. Há falta de carga e massa, preservando todas as características de uma radia- ção eletromagnética, assim como o raios X. Seu comprimento de onda é menor que 10-11 m, sendo menor que a radiação X, e bem mais penetrante. A diferença entre as duas radiações eletromagnéticas ionizantes está na sua ori- gem e no seu comprimento de onda. APROFUNDANDO RADIAÇÃO CORPUSCULAR Segundo Hironaka et al. (2012), sempre que houver um feixe de energia forma- do por partículas com massa e velocidade, podemos denominá-lo de radiação corpuscular. Esta estará sempre ligada ao fenômeno da radioatividade, que será discutido um pouco mais à frente. UNICESUMAR 1 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 1 A radiação corpuscular possui energia cinética suficiente para causar ionização quando suas partículas estão em movimento. Conforme afirma Bushong (2010), não há ionização quando as partículas estiverem em repouso. A energia cinética das partículas pode ser calculada pela fórmula a seguir, estabelecida pela teoria de Einstein e dividida por 2. E mxv � � �2 2 Sendo: E = energia. m = massa da partícula. v = velocidade da partícula. Como estamos tratando da emissão de partículas, referimo-nos às partículas elementares de dentro do núcleo: prótons e nêutrons. Segundo Mourão e Oliveira (2009), o próton é uma partícula estável, possui massa e carga elétricas positivas. O fato de ser estável sugere que a partícula não se desintegre de forma espontânea ao se deslocar no espaço. O nêutron possui massa um pouco maior em relação ao próton. Tem uma pe- culiaridade interessante: só é estável quando contido dentro do núcleo do átomo. Já quando livre, após uma emissão para fora do núcleo, o nêutron passa para uma con- dição instável, desintegrando-se muito rápido, tornando-se um próton e um elétron. A radiação corpuscular é a emissão de uma partícula alfa ou beta, sempre com origem no núcleo de um átomo, quando este se encontrar em um estado instável e sofrer o processo de decaimento radioativo. APROFUNDANDO 1 4 PARTÍCULA ALFA (α) Segundo Bushong (2010), uma partícula alfa combina dois prótons e dois nêu- trons, o que resulta em uma massa de 04. Assim, assemelha-se a um núcleo de Hé- lio (He), porém sem os elétrons orbitais. Possui uma velocidade de 30.000 km/s. Figura 3 - Ilustração da emissão da particula alfa do núcleo do átomo Fonte: https://mundoeducacao.uol.com.br/quimica/leis-radioatividade.htm Acesso em: 15 jun. 2019. Descrição da Imagem: imagem mostra uma representação da emissão da partícula alfa do núcleo do átomo. UNICESUMAR 1 5 TEMA DE APRENDIZAGEM 1 Por ser uma partícula pesada, possui pouco poder de penetração, atravessando de 5 a 10 cm de ar e não atravessa a pele humana. Contudo, possui um grande poder de ionização, pois transfere facilmente sua energia cinética para os elétrons das órbitas dos átomos que encontra pelo seu caminho. “ A ionização acompanha a radiação alfa. A partícula alfa com mé- dia energia possui de 4 a 7 MeV de energia cinética e ioniza, apro- ximadamente, 40.000 átomos a cada 1 cm percorrido através do ar. Devido à quantidade de ionização, a energia de uma partícula alfa é perdida com rapidez. Ela tem um alcance muito curto na matéria (BUSHONG, 2010, p. 53). A partícula alfa tem grande aplicabilidade na área industrial. Com relação à aplicação clínica, não possui nenhuma utilidade, pois traria mais riscos do que benefícios em função do seu alto poder de ionização. Segundo Thrall e Ziessman (2003), a emissão alfa ocorre em núcleos instá- veis de elementos com alto número atômico, acima de 83. Podemos citar como exemplos o rádio-226 (Ra), radônio-222 (Rn), urânio-235 (U) e o Tório-321 (Th). Essa emissão ocorre por um processo de transmutação ou decaimento que você compreenderá ainda neste livro didático. PARTÍCULA BETA (β) A partícula beta é considerada leve, pois não possui massa, e considerada rápida, pois possui velocidade de deslocamento de 290.000 km/s. Pode possuir uma carga positiva (beta positivo) ou uma carga negativa (beta negativo). Segundo Bushong (2010), uma partícula beta negativa é igual a um elétron, porém a partícula vai surgir de dentro do núcleo. Já a partícula beta positiva é chamada de pósitron, a antimatéria. “ Uma vez emitidas a partir de um radioisótopo, as partículas beta atravessam o ar, ionizando várias centenas de átomos por centí- metro. O alcance da partícula beta é maior do que a partícula alfa. Dependendo da sua energia, uma partícula beta pode cruzar de 1 1 10 a 100 cm de ar e, aproximadamente, 1 a 2 cm de tecidos moles (BUSHONG, 2010, p. 54). O físico italiano Enrico Fermi era um cientista que pesquisava as emissões de partículas betas, inclusive pela descoberta da fissão nuclear e do seu trabalho so- bre o primeiro reator nuclear para realização das fissões. Fermi recebeu o Prêmio Nobel em 1938, pois foi um grande nome dentro da física quântica. Fermi descreveu a hipótese que afirmaque podemos ter um elétron saindo de dentro do núcleo de um átomo instável (radioativo). Ainda, afirma que um nêutron tem o poder de se autotransformar em outras partículas. PARTÍCULA BETA NEGATIVO – NEGATRON (β- ) Você verá que a emissão da partícula beta negativo representa muito bem a teoria de Fermi. Em um núcleo instável (radioativo), começa o processo de transforma- ção interna: um nêutron começa a se transformar, alterando suas subpartículas, dando origem a outras partículas. Primeiramente, o nêutron se transforma em um próton, que permanecerá dentro do núcleo, aumentando o número atômico (Z) do elemento em 1. Depois, transforma-se em um elétron e em um processo residual em uma subpartícula chamada de antineutrino. Essas duas últimas partículas, que serão emitidas de dentro do núcleo. O processo de emissão beta negativo ocorre em núcleos instá- veis que estão com excesso de nêutrons (THRALL; ZIESSMAN, 2003). UNICESUMAR 1 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 1 próton antineutrino elétron (beta) � � - - nêutron Figura 4 - Ilustração da emissão da partícula beta negativo e a transformação do neutron Fonte: https://brasilescola.uol.com.br/quimica/radioatividade-estrutura-atomo.htm. Acesso em: 15 jun. 2019. Descrição da Imagem: imagem mostra uma representação da emissão da partícula beta negativo e a transfor- mação do nêutron. São vários os radionuclídeos que decaem por emissão do beta negativo. Alguns exemplos são: Iodo-131, Carbono-14, Cobalto-60, Cesio-137 etc. PARTÍCULA BETA POSITIVO – PÓSITRON (β+) Você, agora, aprenderá a respeito da uma emissão beta positivo. Segundo Thrall e Ziessman (2003), é um processo que ocorre em núcleos instáveis que estão com falta de nêutrons, ou seja, excesso de prótons. O nome pósitron é usado para iden- tificar um elétron com carga positiva. Exatamente, estudante, um elétron positivo! No caso, o próton se transformará em um nêutron, emitindo um elétron positivo, com mesma massa do elétron negativo, denominado de pósitron e um neutrino. Assim, como perdemos um próton do núcleo, o número atômico (Z) do elemento diminuirá para 1. 1 8 Nesse tipo de emissão, temos o que chamamos de antimatéria, que é o contrário da matéria. ■ Matéria: tudo que compõe o que enxergamos: as pessoas, os objetos ao nosso re- dor, ou seja, átomos com prótons positivos, elétrons negativos e nêutrons (neutro). ■ Antimatéria: tudo está invertido. Vamos encontrar os antiprótons, que são os prótons com carga negativa, e os pósitrons, que são os elétrons com carga positiva. A emissão de partícula beta positivo sempre ocorrerá com uma energia de 1,02 MeV, o equivalente à massa de dois elétrons (THRALL; ZIESSMAN, 2003). Quando ocorre a emissão desse pósitron (antimatéria) do núcleo do átomo, no seu trajeto en- contrará um elétron negativo (matéria). Ambos se chocarão e, do processo de encon- tro da antimatéria com a matéria, acontecerá um fenômeno chamado de aniquilação! Na aniquilação, a colisão do elétron positivo com o negativo originará dois fó- tons que serão emitidos cada um com sua energia correspondente. Um exemplo prático é o seu uso na aquisição de imagens através da Tomografia por Emissão de Pósitrons (PET/CT). São exemplos de radioisótopos emissores de pósitron o Fluor-18 (F), o Potássio-40 (K) e o Argônio-40 (Ar). Figura 5 - Ilustração da emissão da partícula positiva e a transformação do próton Fonte: http://www.antonioguilherme.web.br.com/Arquivos/reacoes_nuc.php. Acesso em: 15 jun. 2019. Descrição da Imagem: imagem mostra uma representação da emissão da partícula positiva e a transformação do próton. Há um núcleo instável (muitos prótons) se ligando a partícula “n”, que se liga ao núcleo estável e a emissão de pósitron. UNICESUMAR 1 9 TEMA DE APRENDIZAGEM 1 Os neutrinos e antineutrinos são partículas sem carga elétrica, com massa muito peque- na que não interage com a matéria. Atravessam tudo o que vemos pela frente: pessoas, carros, árvores, prédios etc. Na atmosfera, têm origem das fusões ocasionadas pelo sol. APROFUNDANDO RADIAÇÃO IONIZANTE Segundo Tahuata et al. (2014), a produção das radiações ionizantes se dá por dois processos: por ajustes que ocorrerão no núcleo ou por camadas eletrônicas da ele- trosfera. Estamos tratando do raios X, radiação gama, partícula beta e partícula alfa. Uma radiação ionizante é aquela que possui energia potencial para arrancar elé- trons de um átomo ou molécula. Ainda, há riscos nocivos à saúde se não utilizados os critérios de segurança e de proteção radiológica adequados em cada tipo de aplicação. Podemos resumir três fatores que determinam o perigo de uma radiação ioni- zante: o grau de ionização (transferência de energia) dessa radiação, o seu poder de penetração e o tipo de tecido biológico que teve interação com a radiação. Figura 6 - Relação do poder de penetração das radiações ionizantes / Fonte: https://radioprotecaonapratica. com.br/radiacao-entenda-de-uma-vez-por-todas/ Acesso em: 16 jun. 2019. Descrição da Imagem: imagem mostra relação do poder de penetração das radiações ionizantes a partir de um exemplo do papel como barreira à um corpo humano, o aço e o concreto. 1 1 Processo de Ionização Segundo Mourão e Oliveira (2009), um átomo encontra-se em seu estado fun- damental, eletricamente neutro, quando o número de prótons em seu núcleo é igual ao número de elétrons nos orbitais da eletrosfera. Assim, podemos dizer que as cargas elétricas se encontram em equilíbrio. Se um átomo ou molécula for exposto a uma energia com potencial de io- nização, ou seja, uma energia (força) maior que a energia de ligação do elétron no orbital, o elétron será ionizado, literalmente arrancado de sua órbita, deixan- do um espaço vazio. No momento, forma-se o par iônico, pois temos o elétron arrancado, que possui carga negativa, sendo, então, o íon negativo. Ainda, há o átomo que, após ionizado, perdeu esse elétron, ficando, agora, com um número de prótons maior. Como estes possuem uma carga positiva, o átomo será nosso íon positivo. Nosso par iônico será formado pelo átomo carregado positivamente (cátion) e o elétron arrancado que está carregado negativamente. Figura 7 - Ilustração do processo de ionização e produção dos pares iônicos Fonte: https://depositphotos.com/pt/photo/3d-helium-atom-3106833.html. Acesso em: 16 jun. 2019. Descrição da Imagem: imagem mostra processo de ionização e produção dos pares iônicos, onde um átomo neutro se transforma em um átomo ionizado com menos 1 elétron sendo o íon positivo. UNICESUMAR 1 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 1 O processo de ionização, ocasionado por radiações ionizantes, acontecerá em qualquer tipo de matéria que tiver contato com a radiação, incluindo os objetos inanimados e qualquer tipo de vida biológica, como os seres humanos. UNIDADES E GRANDEZAS DAS RADIAÇÕES IONIZANTES Segundo Okuno e Yoshimura (2010), somente depois de 30 anos que começou a ser cogitada a criação de uma comissão que se preocupasse em estabelecer os re- quisitos, normas e parâmetros relativos ao uso das radiações ionizantes. Um dos parâmetros foi a criação de grandezas com unidades de medida que pudessem expressar, de forma clara, a quantidade de radiação, relacionando esses valores com os possíveis efeitos ao corpo humano. Após muita discussão por médicos radiologistas da época, em 1925, foi criada a Comissão Internacional de Unidades e Medidas de Radiação (ICRU), órgão responsável pela criação e regulação das grandezas básicas e operacionais das radiações. Logo após, em 1928, foi criada a Comissão Internacional de Prote- ção Radiológica (ICRP), órgão que ficou responsável pelas normas de proteção radiológica, limites de exposição e doses, tanto do público em geral como do indivíduo ocupacionalmente exposto (IOE). GRANDEZAS FÍSICAS As grandezas aqui expostas foram criadas para expressar a quantidade de ra- diação emitida e mensurar o quanto interagiu com o corpo humano, definindo possíveis riscos de efeitos nocivos à saúde.GRANDEZA EXPOSIÇÃO É representada pela letra “X”, utilizada apenas para radiação eletromagnética, ou seja, para fótons de raios x e raios gama interagindo no ar. Mensura a capacidade de os fótons ionizarem o ar. Segundo Tahuata et al. (2014), para medir essa gran- deza, é necessário o uso de uma câmara de ionização à base de gases. 1 1 Os fótons ionizarão, arrancando elétrons dos átomos contidos em um deter- minado volume de ar, formando os pares iônicos. Essa interação poderá aconte- cer por efeito fotoelétrico ou Compton e, se for o caso, a produção de pares para emissão de pósitrons. O valor da exposição será determinado contabilizando os números de íons negativos formados em dada quantidade de ar por onde o fóton passou, sempre considerando as condições normais de temperatura e pressão (CNTP). A uni- dade de medida é o Roentgen (R), tendo o valor a seguir descrito no Sistema Internacional de Medidas (SI): 1 2 58 10 4R x C kgar� � , / Segundo Okuno e Yoshimura (2010), existe uma prática das comissões internacio- nais em substituírem a grandeza exposição pela grandeza de taxa de Kerma no ar. Existe uma relação simples entre os conceitos de Kerma e Exposição para as radiações eletromagnéticas. APROFUNDANDO Grandeza Kerma Representada pela letra “K”, é a Kinetic Energy Released Per Unit of Mass (K.E.R.M.A.), ou seja, a energia cinética liberada por unidade de massa. Men- sura a quantidade de energia que foi transferida ao meio e, consequentemente, que sofreu ionização. “ O kerma refere-se à transferência inicial de energia e, muitas vezes, é usado como dose absorvida, por ser numericamente igual, principal- mente para energia de fótons menor que 1,0 MeV. O kerma ocorre no ponto de interação do fóton, e a dose absorvida ocorre ao longo da trajetória do elétron (OKUNO; YOSHIMURA, 2010, p.192). Para Tahuata et al. (2014), o kerma (k) é o resultante do kerma de radiação (KR), somado ao kerma de colisão (Kc). Kc é a energia dissipada no local da colisão por UNICESUMAR 1 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 1 ionização ou excitação e, no caso do KR, a energia é dissipada longe do local por meio dos raios x ao longo da trajetória. A unidade de medida é o Gray (Gy), sendo o valor a seguir descrito no Sis- tema Internacional de Medidas (SI): 1 1Gy J kg= / Conforme destacam Okuno e Yoshimura (2010), muitas comissões utilizam a grandeza kerma. Segue a relação entre as grandezas, mesmo que não haja equi- líbrio eletrônico: KC Gy X R( ) , ( )= 0 00876 Cada kerma de colisão contabilizado (medido em Gray) é equivalente a 0,00876 de exposição (em Roentgen). A taxa de kerma no ar também pode ser utilizada para mensurar a intensi- dade (quantidade) de fótons de raios x que saem de um tubo, sendo expressa por mGy/s ou mGy/mAs. Grandeza Atividade A atividade de uma amostra radioativa é o número de partículas ou fótons que a amostra emite por unidade de tempo. É a taxa do decaimento. A diminuição dessa atividade se dá de forma exponencial. A unidade de medida antiga era o curie (Ci). Segundo Tahuata et al. (2014), o Ci ainda pode ser utilizado em casos específicos dentro da medicina nuclear. A Unidade “Ci” corresponde ao número de transformações nucleares por unidade de tempo de 1 g de rádio−226 . Houve substituição pelo becquerel (Bq), que corresponde a uma transformação nuclear por segundo. Sendo: 1 3 7 10 10 Ci x Bq= , (desintegrações/s) 1 4 Grandeza fator de qualidade A grandeza representada pela letra “Q” pode ser definida como a estimativa de energia transferida para o meio. É calculada com base na transferência linear de energia (LET), definida como a densidade (quantidade) de ionização de uma radiação ao longo de sua trajetória. Segundo Okuno e Yoshimura (2010), para fins de proteção radiológica e dosimetria, deve ser sempre considerado o LET não restrito (L∞). O LET será melhor visto no estudo da radiobiologia, pois está intimamente ligado aos efei- tos nocivos da radiação ionizante. A ICRP criou uma tabela com os valores de fator de qualidade efetivo das radiações. Fica claro, por exemplo, que partículas pesadas, como a radiação alfa, possuem um poder de ionização muito mais alto. TIPO DE RADIAÇÃO Q Raios x, radiação gama e elétrons. 1 Prótons e partículas com uma unidade de carga e com massa de repouso maiores. 10 Nêutrons com energia desconhecida. 20 Radiação alfa e demais partículas com carga superior a uma unidade de carga. 20 Quadro 1 - Fator de qualidade efetivo Fonte: Tahuata et al. (2014, p. 152). Então, se você for exposto a uma dose absorvida de 1 mGy de raios x, con- siderando o produto do fator de qualidade Q=1, você recebeu 1 mSv de dose equivalente. Já no caso de você ser exposto a uma dose absorvida de 1 mGy de radiação alfa, considerando o fator de qualidade Q=20, você recebeu 20 mSv de dose equivalente. Assim, é possível afirmar que, receber a mesma dose, mas de radiações diferentes, resultará em efeitos biológicos diferentes. UNICESUMAR 1 5 TEMA DE APRENDIZAGEM 1 GRANDEZA DOSE ABSORVIDA A grandeza representada pela letra “D” pode ser definida como a quantidade de energia (radiação) que realmente foi retida (absorvida) na massa (corpo) do absorvedor, seja por ionização ou excitação. Vale para qualquer meio absorvedor, seja um tecido biológico ou um material inanimado (sem vida), como uma mobília, por exemplo. É uma grandeza que vale para qualquer tipo de radiação, seja eletromagnética ou corpuscular. No momento em que uma radiação atinge um corpo, não significa que toda essa energia será absorvida. São vários os fatores envolvidos: energia da radiação, espessura e densidade do corpo absorvedor. Então, a dose absorvida é o valor da energia que realmente foi retida no corpo ou material. A unidade de medida antiga era o radiation absorved dose (rad). Contudo, foi substituída pelo Gray (Gy), sendo o valor a seguir descrito no Sistema Inter- nacional de Medidas (SI): BA Gy rad J kg1 100 1= = / IMPORTANTE! Para que você possa dimensionar o que estamos tratando com relação às doses de radiação, ilustraremos uma descrição feita por Okuno e Yoshimura (2010). A dose absorvida em uma sessão de radioterapia é de 2 Gy, equivalente a 200 rad. A dose total prescrita para um tratamento completo pode atingir a casa de 50 Gy. Para irradiação de alimentos, a dose absorvida pelo alimento fica em torno de 10 a 20 kGy. Ainda, na realização de um exame de raios X simples de abdômen, em torno de 0,7 mGy. Perceba a diferença entre as doses praticadas na radioterapia em relação às doses dos exames de raios X. É preciso observar a importância de limitar o campo de irradiação, focando apenas o tumor, preservando, ao máximo, as células sadias. “A dose letal, que mata 50% de seres humanos expostos no corpo todo à radiação em um intervalo de tempo de 30 dias, identificada como 5030D, é de 4 Gy” (OKUNO; YOSHIMURA, 2010, p. 186). 1 1 GRANDEZAS DE PROTEÇÃO As grandezas aqui expostas são aplicadas na limitação de dose para órgãos espe- cíficos, considerando a sua radiossensibilidade e o limiar de dose para o corpo todo. As grandezas de proteção consideram a absorção de energia pelos seres humanos e, para calcular, é necessário saber o valor da dose absorvida. GRANDEZA DOSE EQUIVALENTE TIPOS DE RADIAÇÃO E INTERVALOS DE ENERGIA WR (1990) WR (2007) Fótons de todas as energias 1 1 Elétrons e múons de todas as energias 1 1 Nêutrons com energias < 10 keV 10-100 keV > 100 keV a 2 MeV > 2 MeV a 20 MeV > 20 MeV 5 10 20 10 5 Uma função contínua da energia dos nêutrons Prótons 5 2 (prótons e píons) Partículas alfa, elementos de fissão e núcleos pesados 20 20 Quadro 2 - Fatores de ponderação da radiação Fonte: Okuno e Yoshimura (2010, p. 194). UNICESUMAR 1 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 1 A grandeza é representada pela letra “H”, originada das recomendações da ICRP, e consta descrita nas normas da CNEN-NN-3.01:2011. É utilizada para determinar a limitação de dose para um tecido ou órgão específico(cristalino, pele e extre- midades) e pode ser utilizada para radiações eletromagnéticas ou corpusculares. A dose equivalente ou equivalente de dose (como tratam alguns autores) leva em consideração os valores obtidos na medição de dose absorvida e considera o tipo de radiação utilizado. Há a seguinte equação: H D WT T R= * Sendo: DT – Dose absorvida média WR – Tipo de radiação (Baseado no fator de ponderação 1990 – Tabela 2) Os valores de ponderação escolhidos pela ICRP determinam cada tipo de partí- cula e sua energia, equivalendo a sua efetividade biológica relativa (RBE) e indu- zindo efeitos estocásticos nos seres humanos. A Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) orienta que seja utilizada, para fins de cálculo, a ICRP60 de 1990. A referência tecidual é o cristalino, pele e extremidades. A unidade de medida antiga era o roentgen equivalente man (rem), mas foi substituída pelo Sievert (Sv), sendo o valor a seguir descrito no Sistema Interna- cional de Medidas (SI): 1 1 100Sv J kg rem= =/ GRANDEZA DOSE EFETIVA É representada pela letra “E”. Segundo Okuno e Yoshimura (2010), a grandeza estabelece os limites para exposição do corpo inteiro às radiações, preservando a ocorrência de efeitos cancerígenos ou causando efeitos hereditários. A dose efetiva leva em consideração os valores obtidos na medição de dose equivalente e considera o tipo de tecido exposto, utilizando o fator de ponderação do tecido ou órgão (WT ), que é classificado de acordo com a radiossensibilidade de cada tecido. Observe a seguinte equação: 1 8 E W HT T T=£ * * Sendo: T∑ – “T” relevante. WT– Fator de peso para tecido ou órgão. (Baseado no fator de peso da ICRP-60: Tabela 01) HT – Dose equivalente TECIDO OU ÓRGÃO WT (1977) WT (1990) WT (2007) Gônadas Medula óssea Cólon Pulmão Estômago Mama Bexiga Esôfago Fígado Tireoide Superfície do osso Cérebro Glândulas salivares Pele Restante 0,25 0,12 - 0,12 - 0,15 - - - 0,03 0,03 - - - 0,30* 0,20 0,12 0,12 0,12 0,12 0,05 0,05 0,05 0,05 0,05 0,01 - - 0,01 0,05** 0,08 0,12 0,12 0,12 0,12 0,12 0,04 0,04 0,04 0,04 0,01 0,01 0,01 0,01 0,12*** Tabela 1 - Fatores de ponderação de tecidos Fonte: Okuno e Yoshimura (2010, p. 195). * Cinco órgãos ou tecidos altamente irradiados, cada um com peso de 0,06. ** Inclusos glândula suprarrenal, intestino grosso superior, intestino delgado, rins, músculo, pâncreas, baço, timo e útero. *** inclusos glândula suprarrenal, tecido extratorácico, vesícula biliar, paredes do coração, rins, linfonodos, músculo, mucosa oral, pâncreas, próstata, intestino delgado, baço, timo e útero/colo do útero. Conforme estabelecido, a unidade de medida para a grandeza de dose efetiva é o Sievert (Sv). UNICESUMAR 1 9 TEMA DE APRENDIZAGEM 1 GRANDEZA DOSE EFETIVA COMPROMETIDA Segundo Okuno e Yoshimura (2010), a grandeza só é válida quando ocorre a incorporação de radionuclídeo por ingestão ou inalação. O período de integração para adultos é de 50 anos e, para crianças, é de 70 anos. GRANDEZAS OPERACIONAIS Considerando as boas práticas do uso das radiações ionizantes, é esperado que profissionais tenham conhecimento dos riscos e bom senso no controle das do- ses. Por isso, existem limitações de doses recomendadas pelas comissões interna- cionais e definidas na legislação brasileira, limites estes que devem ser obedecidos pelos indivíduos ocupacionalmente expostos. Segundo Tahuata et al. (2014), o ideal, para fins de proteção radiológica, seria ter uma única grandeza que mensurasse a exposição das pessoas às radiações ioni- zantes, facilitando os registros e comparações, quando necessário. Por um tempo, o ideal foi a dose equivalente, pois nela constavam o valor da dose absorvida e o tipo de radiação utilizado. Contudo, era difícil mensurar ou estimar, de forma direta, os danos biológicos, pois havia diferença física entre os indivíduos expostos. A ICRP e a ICRU definiram o equivalente de dose pessoal e o equivalente de dose ambiente como as grandezas operacionais que devem ser utilizadas para exposição às radiações ionizantes externas. EQUIVALENTE DE DOSE PESSOAL É a grandeza operacional que monitora o indivíduo ocupacionalmente exposto (IOE) às radiações externas por meio do uso de dosímetros de tórax (monitores individuais). A grandeza é representada por Hp (d). Segundo Okuno e Yoshimura (2010), o “d” representa a profundidade de entrada da radiação de fora para dentro do corpo. Para radiações com muito poder de penetração, são considerados 10 mm. Para radiações com poder de penetração fraco, 0,07 mm. Assim, com o índice “d”, é possível estimar a dose equivalente do cristalino, pele e extremidades. 1 1 O Hp (d) será obtido multiplicando o valor da dose absorvida (D) pelo fa- tor de qualidade da radiação (Q), considerando a profundidade. Assim, surge a seguinte equação: Hp d DxQ( ) = Sendo: (d) – 10 mm para dose equivalente ou 0,07 mm para dose equivalente. D – Dose absorvida, obtida na leitura do dosímetro. Q – Fator de qualidade da radiação obtido na Tabela 2. LET (L) IRRESTRITO NA ÁGUA Q (L) L < 10 keV/µm 1 10 < L ≤ 100 keV/µm 0,32L - 2,2 L > 100 keV/µm 300/√L Tabela 2 - Fator de qualidade da radiação em função do let introduzido Fonte: adaptado de Okuno e Yoshimura (2010) e Tahuata et al. (2014). Com o uso do dosímetro, é possível ter uma estimativa da dose efetiva, a qual o indivíduo esteve exposto ao longo dos 30 dias que utilizou esse monitor indivi- dual. Conforme Okuno e Yoshimura (2010), para cada dose efetiva, deve sempre ser considerado o valor de “d” como 10mm e, para a dose equivalente, considerar o valor de “d” como 0,07 mm. A unidade de medida é o Sievert (Sv), sendo os limites definidos em mili- sievert (mSv). EQUIVALENTE DE DOSE AMBIENTE É a grandeza operacional que monitora o ambiente de trabalho. Segundo Okuno e Yoshimura (2010), é obtida pelo produto da dose absorvida em um ponto pelo UNICESUMAR 1 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 1 fator de qualidade da radiação. Esse valor corresponde ao que seria o equivalente de dose em uma esfera de tecido equivalente, com diâmetro de 30 cm, conforme a esfera ICRU. IMPORTANTE! Em 1980, a ICRU, em sua publicação 33, propôs uma esfera de 30 cm de diâmetro, feita de material tecido-equivalente de densidade de 1g/cm3, como um simulador do tronco humano. Quase todos os órgãos sensíveis à radiação poderiam ser englobados. A sua composição química, em massa, é de 76,2% de oxigênio, 11,1% de carbono, 10,1% de hidrogênio e 2,6% de nitrogênio (TAHUATA et al., 2014). É importante finalizar com duas observações importantes: a primeira, é que ficou convencionado que 1 Gy equivale a 1 Sv. Então, se você recebeu uma dose de 0,6 mGy, pode-se dizer que a sua dose foi de 0,6 mSv. A segunda é com relação ao fator de qualidade das radiações. Você deve ter observado que existem a ICRP-26 e a ICRP-60 que tratam desse tema, e que uma sugere o fator de qualidade (Q) para cálculo e, a outra, o fator de peso dessa radiação (WR ). Segundo Okuno e Yoshimura (2010), na prática, são usados os mesmos valores do WR , como o valor de Q, para calcular os riscos de efeitos biológicos das radiações, pois a ICRP-60 é mais atualizada. 1 1 NOVOS DESAFIOS Neste tema, você aprendeu que: ■ A radiação é uma energia emitida e transferida por intermédio do espaço, podendo ou não necessitar de um meio de transporte para se propagar em todas as direções. ■ Uma onda eletromagnética é considerada uma radiação pelas suas carac- terísticas de não precisar de um meio de propagação. Ainda, propaga-se em linha reta, no vácuo e possui a velocidade da luz no ar, que se aproxima dos 300.000 m/s. ■ Uma radiação ionizante é aquela que possui energia potencial para arran- car elétrons de um átomo ou molécula. Há riscos nocivos à saúde se não utilizados os critérios de segurança e proteção radiológica adequados em cada tipo de aplicação. • Existem radiações eletromagnéticas que são ioni- zantes, sendo úteis para a radiologiao raios X e o raio gama, por exemplo. ■ A diferença entre o raios X e a radiação gama está na sua origem e no seu comprimento de onda. Os raios x são produzidos na eletrosfera e a radiação gama tem origem de dentro do núcleo do átomo. ■ A radiação gama, normalmente, é obtida como energia residual do pro- cesso de emissão alfa ou beta. ■ Existem radiações corpusculares por emissão de partículas que são ionizantes. ■ A radiação corpuscular é a emissão de partícula alfa ou beta, sempre com origem do núcleo de um átomo quando este se encontrar em um estado instável e sofrer o processo de decaimento radioativo. ■ A emissão alfa tem aplicabilidade na área industrial, porém nenhuma aplicabilidade na área médica. ■ A emissão alfa acontece em núcleos pesados e tem pouco poder de pe- netração, porém, apresenta alto poder de ionização. ■ A partícula beta é uma partícula mais leve, pois não possui massa. Tem maior poder de penetração. ■ Existe a emissão beta negativo quando a interação ocorrer em núcleos com excesso de nêutrons. ■ Existe a emissão beta positivo quando a interação ocorrer em núcleos com poucos nêutrons. UNICESUMAR 1 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 1 ■ Há uma diferença importante entre matéria e antimatéria, sendo que o encontro das duas pode ocasionar uma aniquilação. ■ As grandezas utilizadas no estudo e o uso das radiações ionizantes se divi- dem em grandezas físicas, grandezas de proteção e grandezas ocupacionais. ■ Somente após 30 anos do início do uso das radiações ionizantes é que foram fundadas as primeiras comissões que se preocupavam em discutir normas de segurança para a exposição às radiações. ■ A Comissão Internacional de Unidades e Medidas de Radiação (ICRU) é responsável pela criação e regulação das grandezas básicas e operacionais das radiações. ■ A Comissão Internacional de Proteção Radiológica (ICRP) é responsável pelas normas de proteção radiológica, limites de exposição e doses, tanto do público em geral como do indivíduo ocupacionalmente exposto (IOE). ■ Tratando-se do Brasil, as normas internacionais são transcritas nas normas da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), na norma CNENNN-3.01:2011. ■ Existem vários tipos de classificação para dose. ■ Existe uma preocupação com o tipo de radiação utilizado na exposição e com o tipo de tecido atingido. Assim, há uma relação direta com o po- tencial efeito nocivo da radiação no ser humano. ■ O valor determinado em Gray (Gy) é o mesmo valor equivalente em Sievert (Sv). 1 4 1. Tratando da emissão de partículas beta, existe uma particularidade com relação à quan- tidade de nêutrons dentro do núcleo. Essa condição determinará se a emissão será beta positivo (pósitron) ou beta negativo. Com relação à emissão de partícula beta negativo, assinale a alternativa CORRETA: a) Tende a acontecer em núcleos com falta de nêutrons. Ocorre a produção de um elétron dentro do núcleo, que é ejetado, posteriormente, junto a um antineutrino. b) Sempre ocorre em núcleos instáveis com falta de nêutrons. c) Tende a acontecer em núcleos com excesso de nêutrons. Ocorre a produção de um próton dentro do núcleo, que é ejetado, posteriormente, junto a um neutrino, o chamado beta negativo. d) Acontece em núcleos instáveis com excesso de nêutrons. e) Ocorre sempre em elementos muito pesados de elevado número atômico. Se for estável, o átomo sempre terá emissão beta negativo. 2. Do ponto de vista da proteção radiológica, e considerando o poder de ionização, qual radiação é mais perigosa? a) Partícula beta. b) Partícula gama. c) Partícula alfa. d) Raios Gama. e) Raios x. 3. Os raios x e os raios gama são radiações eletromagnéticas ionizantes, ou seja, possuem energia cinética capaz de arrancar elétrons das camadas eletrônicas dos átomos. Apesar de ionizantes, ambos preservam as mesmas características das energias eletromagnéti- cas contidas no espectro eletromagnético. Contudo, existem diferenças entre a radiação X e a radiação gama. Assinale a alternativa CORRETA, especificando onde a diferença é encontrada: a) No comprimento de onda e na origem da radiação. Uma é produzida na eletrosfera e, a outra, no núcleo, respectivamente. b) No comprimento de onda, e ambas são produzidas na eletrosfera. c) No comprimento de onda, e ambas são produzidas no núcleo. d) A diferença está na origem, pois as radiações possuem o mesmo comprimento de onda. e) No comprimento de onda. Ambas são produzidas na eletrosfera, e dentro do núcleo são produzidas as partículas e não radiações eletromagnéticas. VAMOS PRATICAR 1 5 REFERÊNCIAS BUSHONG, S. C. Ciência radiológica para tecnólogos: física, biologia e proteção. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. MOURÃO, A. P.; OLIVEIRA, F. A. de. Fundamentos de radiologia e imagem São Paulo: Difusão, 2009. HIRONAKA, F. H. et al. Medicina nuclear: princípios e aplicações São Paulo: Atheneu Editora, 2012. OKUNO, E.; YOSHIMURA, E. Física das radiações São Paulo: Oficina de Textos, 2010. TAHUATA, L. et al. Radioproteção e dosimetria: fundamentos. 10. ed. Rio de Janeiro: IRD/CNEN, 2014. THRALL, J. H.; ZIESSMAN, H. A. Medicina nuclear 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003. TILLY JR., J. G. Física radiológica Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010. 1 1 1. Opção D. 2. Opção C. 3. Opção A. CONFIRA SUAS RESPOSTAS 1 1 UNIDADE 2 MINHAS METAS RADIOATIVADADE, O DECAIMENTO RADIOATIVO E SUAS INTERAÇÕES Compreender os conceitos e aspectos históricos sobre a radioatividade. Conhecer cientistas que colaboraram no processo de pesquisa para o conhecimento da radioatividade. Conhecer o processo de decaimento radioativo dos elementos na busca da estabilidade atômica. T E M A D E A P R E N D I Z A G E M 2 4 1 INICIE SUA JORNADA No fim do século XIX, assim como Roentgen estudava os raios x, existiam cien- tistas estudando outras formas de energia. Um desses cientistas foi o físico francês Antoine Henri Becquerel, que fazia experimentos utilizando os sais de urânio. Depois de perceber fenômenos parecidos com os que Roentgen descreveu, Be- cquerel, em 1896, declarou sua descoberta ao mundo, afinal, havia descoberto a radioatividade, que, inicialmente, chamava de raios U, pois tinha características diferentes dos raios x. Outros cientistas que contribuíram muito para o estudo da radioatividade foram o famoso casal Curie. O físico francês Pierre Curie estudou as propriedades dessa radiação originada de materiais que não envolvia o uso de corrente elétrica. Sua esposa, a cientista polonesa Marie Sklodowska Curie, descobriu outros materiais radioativos além do urânio e, nas suas pesquisas e experimentos, encontrou propriedades semelhantes no tório, no rádio e no po- lônio. Em 1903, Becquerel, Pierre e Marie Curie dividiram o Prêmio Nobel de Física pelas descobertas e contribuições no estudo da radioatividade. Bons estudos! DESENVOLVA SEU POTENCIAL OS PRIMEIROS EXPERIMENTOS COM A RADIOATIVIDADE Becquerel foi o precursor da descoberta da emissão de radiação originada do inte- rior do núcleo de um átomo, o que chamamos hoje de radioatividade. Ele veio de uma família de cientistas. Seu avô era pesquisador da eletricidade e magnetismo, já seu pai, pesquisador da radiação ultravioleta e da fluorescência. Então, pode-se dizer que Becquerel vem de uma família na qual a “radiação corria na veia”, pois havia um legado nos estudos com as radiações. Além disso, possuía um laboratório com estrutura e base científica muito boa para suas pesquisas e experimentos. Segundo Mourão e Oliveira (2009), Becquerel percebeu que, após a exposi- ção dos sais de urânio diante dos raios solares, estes se tornavam fluorescentes. Como Roentgen já havia descrito um fenômeno com a fluorescência em seus experimentos, Becquerel resolveu replicar o experimento de Roentgen. Envolveu UNICESUMAR 4 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 2 os sais com um papel escuro, colocando-os próximos a uma placa fotográfica, tendo, comoresultado, a mesma observação feita por Roentgen com o uso dos raios catódicos: as imagens dos cristais ficaram impressas no filme fotográfico da placa. Becquerel conclui que, depois de expor o urânio aos raios solares, estes começavam a emitir raios x. Mais adiante, em outros experimentos, Becquerel percebeu que o urânio sensibilizava as placas fotográficas mesmo quando não havia sido exposto aos raios solares. Então, concluiu que havia emissão de uma energia, que era, natu- ralmente, originada da matéria do urânio. Ao estudar as características dessa energia, Becquerel pôde perceber que era mais atenuante que os raios x, ou seja, mais penetrante. Também era desviada por campos magnéticos, concluindo que a energia possuía carga elétrica. Segundo Nobrega (2006), ficou claro para Becquerel que ele havia descoberto uma energia diferente dos raios x e que, ainda, não havia sido descrita por nin- guém. Então, em 1º de março de 1896, comunicou a descoberta à Academia de Ciências da França. O que, inicialmente, era chamado de “raios U” ou “Raios de Becquerel”, logo depois passou a ser denominado de “radioatividade”, uma proposta feita por Marie Curie. O PAPEL DO CASAL CURIE NA HISTÓRIA DA RADIOATIVIDADE Segundo Nobrega (2006), Marie Curie começou seus estudos sobre a radioati- vidade quando fazia sua tese de doutorado sobre os raios descobertos por Be- cquerel. Ela queria provar que o fenômeno observado no urânio poderia ser observado também em outros materiais. As pesquisas tinham fundamento e, então, começou a observar a mesma emissão de energia no tório, e de forma espontânea. Em suas pesquisas, descobriu dois fundamentos importantes no estudo da radioatividade: 4 1 1) A energia da radiação não dependia do tipo do material estudado, mas sim da quantidade do material envolvida no experimento. 2) A atividade radioativa não dependia do arranjo dos átomos em uma molécula, mas sim das interações e equilíbrio dentro do próprio átomo de cada material. Marie Curie quer dizer, no primeiro fundamento, que quanto maior for a quan- tidade de tório ou urânio, mais radiação haverá. No segundo fundamento, des- cobriu que eram interações entre as partículas elementares (prótons + nêutrons) dentro do núcleo do átomo as responsáveis por causar a atividade no núcleo e a emissão de radioatividade, ou seja, radiação. Na etapa avançada em que se encontravam as pesquisas de Marie Curie, seu marido Pierre resolveu dedicar seus esforços para corroborar com as pesquisas da esposa. Juntos, começaram a pesquisar um mineral de óxido de urânio, chamado “pechblenda”, uma variação da uraninita. Segundo Nobrega (2006), o casal Curie observou que, no mineral, a radioatividade era quatro a cinco vezes maior que o urânio que utilizava em suas pesquisas. “ No fim de junho de 1898, obtiveram uma substância, aproximada- mente, 300 vezes mais ativa que o urânio. Então, sugeriram o nome de polônio, em homenagem ao país de origem de Marie. Foi neste traba- lho que usaram o termo radioatividade. Em dezembro do mesmo ano, anunciaram a existência de mais um elemento, com o nome de rádio, cerca de 400 vezes mais ativo que o urânio (NOBREGA, 2006, p. 41). Pierre fez experimentos com o uso do rádio em sua pele e percebeu que, após um tempo, apareceu uma ferida semelhante a uma queimadura. Logo, focaram suas pesquisas nessa observação e, segundo Mourão e Oliveira (2009), essa radioa- tividade passou a ser útil para a medicina no tratamento de tumores malignos, sendo chamada de curieterapia, que logo se tornaria a radioterapia. UNICESUMAR 4 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 2 Obviamente, o casal apresentou vários problemas de saúde em função das pes- quisas manipulando os materiais radioativos. Assim como há o museu de Roent- gen, aberto para visitação em Würzburg/Alemanha, contando a história dos raios x, a história da radioatividade está exposta na Biblioteca Nacional de Paris, onde encontram-se os materiais da casa e laboratório do casal Curie, porém, são utensí- lios que são radioativos. Segundo Nobrega (2006), a visitação é permitida mediante assinatura de um termo de responsabilidade sobre os riscos, pois estima-se que a atividade do rádio, ali presente, ultrapasse os próximos dois mil anos. Figura 1 - Becquerel e o casal Curie: Pierre e Marie Curie Fonte: http://osfundamentosdafisica.blogspot.com/2015/07/especial-de-sabado. html. Acesso em: 18 jun. 2019. Descrição da Imagem: fotografia em preto e branco mostrando três pessoas. À esquerda, um homem com bigode e barba, vestindo um terno, olha para frente com uma expressão neutra. No centro, outro homem com barba e bigode, cabelos mais longos e desalinhados, olha para a direita com uma expressão pensativa. À direita, uma mulher com cabelos volumosos presos para cima olha para frente com uma expressão séria. Todos os três estão em visão frontal. ENTENDENDO A RADIOATIVIDADE O conceito de radioatividade pode ser definido como o processo que envolve eventos no interior do núcleo de um átomo instável, tendo, como consequência, a emissão de energia na forma de partículas e/ou radiação eletromagnética, com o objetivo de buscar a estabilidade atômica. Segundo Bushong (2010), qualquer arranjo nuclear pode ser denominado de nuclídeo. Então, um isótopo é um nuclídeo. Além disso, somente os núcleos instáveis, que sofrem decaimento radioativo, serão considerados radionuclídeos. 4 4 Esses radionuclídeos, também conhecidos como radioisótopos, são os elementos que estão munidos de radioatividade. Estudante, lembre-se: os isótopos são elementos que possuem o mesmo número de prótons, mas diferente número de nêutrons. Possuem o mesmo número atô- mico (não muda o elemento), mas variam o número de massa. Como exemplos, podemos citar o urânio e o hidrogênio, que possuem três isótopos: U-234, U-235 e U-238; H-1 (hidrogênio propriamente dito), H-2 (deutério) e o H-3 (trítio). APROFUNDANDO Na natureza, é possível encontrar elementos com núcleos instáveis emissores de ra- diação, fato que existe desde a formação do planeta Terra. Segundo Mourão e Oliveira (2009), existem radioisótopos naturais que geram uma radiação de fundo que se soma à radiação que vem do espaço, atingindo por meio da atmosfera terrestre. No nosso solo terrestre, podemos encontrar o Urânio-235, o Tório-232 e o Potássio-40. São elementos que vão se desintegrando com o passar dos anos, buscando a estabilidade. Considerando que a Terra existe há bilhões de anos, é possível encontrarmos na natureza o Urânio exaurido, ou seja, aquele urânio que não possui mais uma emissão de radiação significativa, que já alcançou a estabilidade dos seus núcleos atômicos. O urânio exaurido tem aplicabilidade na área industrial. Com relação aos raios cósmicos, segundo Tahuata et al. (2014), essa radiação é oriunda do espaço sideral. São emitidas, em direção ao planeta, partículas como: prótons, elétrons, nêutrons, mésons, neutrinos, núcleos leves e radiação gama. São partículas com energia muito alta, centenas de megaelétronvolts (MeV), podendo chegar a gigaelétron-volts (GeV). Estamos tratando de centenas de milhões ou bilhões dessas partículas, respectivamente. A população terrestre conta com uma blindagem importante chamada de atmosfera. Conforme descreve Tahuata et al. (2014), a atmosfera terrestre atenua e absorve muitas dessas radiações cósmicas naturais, pois muitas partículas são freadas na atmosfera ou desviadas pelo cinturão magnético de Van Allen. Com isso, a radiação que os seres humanos têm contato aqui, na superfície terrestre, é originada de partículas secundárias, resultantes das interações das partículas primárias com as camadas da atmosfera terrestre. UNICESUMAR 4 5 TEMA DE APRENDIZAGEM 2 Uma curiosidade interessante abordada por Tahuata et al. (2014) é que pessoas que habitam regiões de maior altitude e/ou mais próximas aos polos Norte e Sul estão mais expostas às radiações naturais da atmosfera, fato que corrobora com a descrição anteriordo cinturão de Van Allen. Considerando a dose das emissões atmosféricas com as do solo terrestre, a dose não ultrapassa um milisievert (mSv) por ano, salvo se você encontrar uma mina com minerais ricos em urânio e radônio. No caso, sua dose média/ano aumentará significativamente. Agora, preste atenção, afinal, você já é um conhecedor das radiações! Precisamos ficar atentos com relação ao cuidado com as camadas atmosféricas. Essa atmosfera, que tanto falamos até agora, é a camada gasosa da biosfera, ou seja, sem ela, a vida terrestre de seres humanos, animais e plantas é insustentável. Localizada com uma altura de cerca de 800 Km de altitude, é a principal blindagem que temos contra as radiações oriundas do espaço. A camada de Ozônio, por exemplo, atenua as emissões de radiação ultravioleta emitidas pelo Sol. Temos acompanhado em pesquisas e no- ticiários como a poluição global está afetando essas camadas atmosféricas. Conforme descreve Tahuata et al. (2014), o Comitê Científico das Nações Unidas sobre os Efeitos da Radiação Atômica (UNSCEAR) fez um comparativo da quantidade das radiações naturais que os seres humanos estão expostos, usan- do como referência dados do ano de 1982, confrontando com dados do de 2008. No gráfico, é possível observar como aumentou a exposição às radiações naturais dos seres humanos ao longo desses 26 anos. Ainda, como diminuíram as exposições médicas e ocupacionais, mais relacionadas com a exposição às radiações artificiais. Considerando não haver alteração no espaço sideral, nem no Sol ou no posiciona- O cinturão magnético de Van Allen é uma espécie de campo magnético criado pelo próprio magnetismo terrestre, sendo mais intenso e espesso na altura da linha do Equador, e menos intenso e espesso nos polos Norte e Sul. A função desse cinturão é repelir os prótons de alta energia que vêm do Universo, principalmente do Sol, evitan- do que essas partículas cheguem à superfície terrestre. Inclusive, alguns céticos acre- ditam que o cinturão seja um dos empecilhos que não permite que o homem possa ter chegado até a Lua, pois o ser humano não suportaria a exposição à quantidade de radiação. É um fato que já foi desmistificado pela NASA e por outros cientistas. ZOOM NO CONHECIMENTO 4 1 mento do planeta Terra que justifique um aumento da emissão dessas partículas radioativas naturais, esse aumento da exposição só pode estar relacionado a uma redução da eficiência das camadas atmosféricas, mas é apenas uma suposição. Dados Comparativos da UNSCEAR 80,00 70,00 60,00 50,00 40,00 30,00 20,00 10,00 0,00 P er ce n tu al (% ) Radiação Natural UNSCEAR 1982 UNSCEAR 1982 Irradiação Médica Precipitação Exposição ocupacional Ciclo combustível nuclear Fontes diversas 67,60 79,68 30,70 19,92 0,60 0,17 0,45 0,01 0,15 0,17 0,50 0,07 Figura 2 - Dados demonstrando o aumento das exposições às radiações naturais e demais exposições Fonte: adaptada de Tahuata et al. (2014, p. 44). Descrição da Imagem: imagem mostra um gráfico com dados demonstrando o aumento das exposições às ra- diações naturais e demais exposições. Foi essa radioatividade natural que chamou a atenção de pesquisadores e cien- tistas, destacando-se Becquerel e Marie Curie. A filha de Marie Curie seguiu o mesmo caminho dos pais e, segundo Nobrega (2006), em 1934, Irene Curie e seu marido Joliot produziram o primeiro elemento radioativo de forma artificial, dando início a uma nova página na história da radioatividade. APROFUNDANDO UNICESUMAR 4 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 2 RADIOATIVIDADE ARTIFICIAL Irene Curie e seu esposo fizeram experimentos e conseguiram tornar radioativos os átomos de fósforo (P-30) e nitrogênio (N-13). Desde então, os estudos avan- çaram e, atualmente, temos uma variedade de radioisótopos sendo produzidos artificialmente com aplicações na área da medicina, na área industrial e na con- servação de alimentos. Para você compreender um pouco da importância desse processo de radioa- tividade artificial, vamos voltar para 1868. Segundo Okuno e Yoshimura (2010), na época, o russo Dmitri Ivanovich Mendeléev começou a organizar os elementos químicos de acordo com as suas propriedades químicas, alterando a posição de alguns elementos, já definida por outros cientistas, pois a tarefa de organizar os elementos químicos havia começado em 1789, com Lavoisier, que organizou 33 elementos. Depois, outros cientistas vieram aprimorando o trabalho e acrescendo elementos. Dentro da sua perspectiva, Mendeléev conseguiu organizar 63 elementos, apresentando, em 1869, o esboço da Tabela Periódica atual, deixando espaços vazios para novos elementos. Ele previa a existência de novos elementos, que ainda virão a ser descobertos. Mendeléev descobriu, ao longo dos 17 anos seguintes, três novos elementos: o gálio (Ga), o escândio (Sc) e o germânio (Ge). Depois, em 1898, o casal Curie descobriu o polônio (Po) e o rádio (Ra). Assim, com o passar dos anos, foram preenchendo-se as lacunas da Tabela Periódica. Em 1913, Henry Moseley, considerando como grandeza fundamental a quan- tidade de prótons no núcleo de um átomo, sugeriu que a Tabela Periódica de Mendeléev fosse adequada para que a sequência dos elementos químicos seguisse uma ordem crescente, de acordo com o número atômico (Z) de cada elemento. “Todos os elementos com Z maior do que 82, naturais ou artificiais, são radioa- tivos e desintegram-se, passando de um núcleo a outro sucessivamente até se transformar em um isótopo estável de chumbo (Pb) com Z=82” (OKUNO; YOSHIMURA, 2010, p. 58). APROFUNDANDO 4 8 Você deve estar pensando: “Ok! Contudo, o que tem a ver a produção artificial de radioisótopos com a história da Tabela Periódica?”. Foram os experimentos de Irene Curie (filha de Marie Curie) que permiti- ram que novos elementos fossem descobertos e, assim, foi possível preencher os espaços vazios da Tabela Periódica conhecida por todos nós. Atualmente, a Tabela Periódica é composta por 118 elementos, sendo 92 elementos naturais e 26 elementos artificiais. Compreendeu agora a relação dos fatos? O objetivo não é apenas permitir compreender os conceitos, mas fornecer uma quantidade de informação mais abrangente para que você possa construir um conhecimento crítico e bem fundamentado sobre a produção artificial dos elementos radioativos. Produção artificial de radioisótopos Prezado estudante, agora, prepare-se para esta parte do seu aprendizado! Você, literalmente, entrará no mundo da física nuclear. Então, concentre-se na leitura e abra sua cabeça para compreender o conteúdo. O estudo da física quântica requer que você tenha a consciência de se despir de alguns conceitos físico-quí- micos para entender mais facilmente o que será apresentado a seguir. Você acreditaria se disséssemos que Irene Curie usou uma fonte de polônio (PO-210) para bombardear, com partículas alfa, os átomos do alumínio e deste obter o radioisótopo fósforo (P-30), agora radioativo? E que ela repetiu o experimento com o boro, e deste obteve o radioisótopo nitrogênio (N-13), também radioativo? Estamos dizendo, para você, que Irene Curie transformou o alumínio em fósforo e o boro, em nitrogênio. Acredita? É bom acreditar! Segundo Okuno e Yoshimura (2010), foi exata- mente o que Irene Curie fez em seus experimentos, criando, pela primeira vez, radioisótopos artificiais. Segundo Tilly Jr. (2010), é impossível transformar um isótopo estável em um radioisótopo (radioativo) utilizando apenas equipamentos de radiologia de uso clínico ou industriais. Para sintetizar novos elementos radioativos (radioisótopos), emissores de partículas alfa, beta e raios gama, será neces- sário um Cíclotron ou um reator nuclear. Esses equipamentos possuem a alta energia de interação necessária para conseguir realizar um processo chamado de ativação ou transmutação artificial. UNICESUMAR 4 9 TEMA DE APRENDIZAGEM 2 Aceleradores ou Cíclotrons Criados em 1930, por Ernest O. Lawrence e Milton S. Livingston,os cíclotrons ou ace- leradores de partículas possibilitaram a produção em larga escala dos radioisótopos artificiais. O cíclotron utiliza partículas carregadas como os íons de hidrogênio, del- tério ou hélio para bombardear átomos de elementos estáveis, tornando-os instáveis. Figura 3 - Ciclotron modelo cyclone 18 Fonte: https://www.ipen.br/portal_por/portal/interna.php?secao_id=791. Acesso em: 23 jun. 2019. Descrição da Imagem: fotografia de um equipamento industrial de formato cilíndrico com uma série de cabos e componentes eletrônicos. No centro da imagem, o cilindro é predominantemente cinza com um logotipo verde e branco. Diversos cabos azuis estão conectados na parte inferior e saem em direção ao fundo da imagem. Acima, há uma estrutura metálica que parece ser a parte superior do equipamento. A visão é frontal e não há pessoas ou outros objetos além do equipamento na imagem. Segundo Hironaka et al. (2012), um cíclotron é, basicamente, composto por uma câmara de vácuo na qual são alocadas duas placas metálicas (eletroímãs) opos- tas, formando o polo Norte e o polo Sul. São responsáveis pela formação de um campo magnético, com direção e sentido ínfero-superior. Depois, posicionadas no centro, entre os eletroímãs, serão colocadas duas outras placas em forma de “D”, com uma abertura, conectadas a uma fonte de energia alternada. A estrutura precisa, obrigatoriamente, ser circular. 5 1 eletrodos ocos espaço intermediário entre os eletrodos trajetória em espiral das partículas fonte de partículas Câmara de Aceleração Linha principal Distribuidor Magnético Linhas de Feixe Linha 3 Linha 2 Pesquisa Multipropósito Linha 4 Linha 5 Linha 6 Câmara de Espalhamento Sistema de Centralização e Focalização do Feixe 124 123 18 Figura 4 - Ilustração de como estão dispostas as partes de um cíclotron Fonte: https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/quimica/acelerador-particulas.htm. Acesso em: 23 jun. 2019. Figura 5 - Desenho esquemático do cíclotron cv-28 do IEN/CNEN-RJ / Fonte: http://www.ien.gov.br/index. php/instalacoes/57-pagina-interna/188-acelerador-de-particulas-ciclotron-cv-28. Acesso em: 24 jun. 2019. Descrição da Imagem: ilustração colorida representando um dispositivo cilíndrico com uma fonte de partículas na parte superior central. Do topo do cilindro, emergem três linhas que representam a trajetória em espiral das partículas, indicadas por setas curvas. Acima do cilindro, há dois eletrodos ocos paralelos, com um espaço intermediário entre eles. As trajetórias das partículas se originam da fonte e se movem para fora em direção aos eletrodos. A ilustração tem um fundo branco e utiliza tons de roxo e azul para diferenciar as camadas do cilindro. Descrição da Imagem: imagem apresenta o desenho esquemático do cíclotron CV-28 do IEN/CNEM-RJ. UNICESUMAR 5 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 2 A abertura entre as placas “D” permitirá a passagem dos gases de hidrogênio e delté- rio, que sofrerão a ionização no momento em que a corrente elétrica alternada passará pelas placas. Então, a corrente alternada inverterá a polaridade das placas “D”, fazendo com que as partículas ionizadas sejam aceleradas a cada passagem, usando as forças de atração e repulsão. O campo magnético fornecido pelos eletroímãs fará com que as partículas descrevam um movimento circular do centro para as bordas do cíclotron. Hironaka et al. (2012) explicam que, quando ocorre o movimento circular, as partículas vão se acelerando e ganhando energia. No momento em que atingem determinada velocidade, ao ponto de apresentarem energia cinética suficiente para atravessar as proteções do núcleo de um átomo e penetrá-lo, criando uma instabilidade nuclear; essas partículas serão retiradas da órbita circular por um defletor, direcionando-as para um túnel onde o alvo será bombardeado. Então, o alvo bombardeado se tornará o radioisótopo desejado. Em cíclotrons modernos, pode ser utilizado mais de um túnel acoplado, ou seja, é possível produzir mais de um tipo de radioisótopo simultaneamente, uti- lizando, para isso, um distribuidor magnético. Figura 6 - Prédio do reator nuclear IEA-R1 (IPEN/USP/SP) / Fonte: o autor. Descrição da Imagem: fotografia de um edifício de concreto com aspecto industrial, visto de uma perspectiva oblíqua. O edifício é alto e possui uma escada metálica externa à direita, que leva a uma plataforma também metálica. No topo do edifício, há uma série de pequenas estruturas cilíndricas que parecem ser chaminés ou ventilações. Uma grade amarela está localizada na parte inferior da imagem, correndo horizontalmente e parcial- mente obstruindo a visão da base do edifício. O céu acima está nublado, sugerindo um dia nublado ou chuvoso. 5 1 O cíclotron tem capacidade de produção de radioisótopos de meia-vida curta, podendo ser produzidos: iodo-123, iodo-124, carbono-11, flúor-18, cobre-64, gálio-67, índio-111 e tálio-201. O tipo de radioisótopo produzido dependerá da energia máxima de aceleração dos prótons. “ Assim, muitos dos cíclotrons instalados em unidades hospitalares apresentam energia entre 11 e 16 MeV, enquanto cíclotrons insta- lados em unidades industriais, normalmente, operam a energias superiores a 20 MeV (HIRONAKA et al., 2012, p. 59). O Instituto de Engenharia Nuclear (IEN), no Rio de Janeiro, possui um cíclotron modelo CV-28, bem versátil. Possui aplicações voltadas à produção de radiofár- macos para a área da medicina nuclear, então, há a utilização do próton como partícula, acelerado a 24 MeV. O objetivo do IEN é a produção do iodo-123, Figura 7 - Piscina do reator IEA-R1 (IPEN/USP/SP) / Fonte: o autor. Descrição da Imagem: fotografia de um ambiente industrial com uma piscina de reator nuclear. Ao fundo, dois indivíduos estão de pé, um deles segurando um documento. A piscina ocupa a parte central da imagem e é cercada por estruturas metálicas amarelas. A água na piscina emite um brilho azul característico. Na parte inferior da imagem, há plataformas metálicas cinza. A visão é frontal e ligeiramente oblíqua em relação às estruturas ao redor da piscina. UNICESUMAR 5 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 2 flúor-18 e o metaiodobenzilguanidina combinado com o iodo-131 (MIBG131). O primeiro é utilizado para exames de diagnóstico, como a cintilografia, o se- gundo, no PET/CT e, o último, para cintilografias que detectam tumores neu- roectodérmicos e neuroendócrinos. Reator Nuclear Segundo Tahuata et al. (2014), o reator nuclear é uma instalação que usa um núcleo radioativo de urânio para fazer a reação nuclear de fissão em cadeia, de forma controlada, para a produção de energia ou fluxo de nêutrons. Existem os reatores nucleares de potência utilizados para geração de energia elétrica em usinas nucleares e para propulsores de navios ou submarinos. Ainda, os reatores nucleares de pesquisa com fluxo de nêutrons, com o propósito de produção de radioisótopos. Segundo Hironaka et al. (2012), os reatores nucleares de pesquisa, utilizados para produção de radioisótopos, possuem um núcleo de urânio-235, com en- riquecimento de 20%, que se encontra aberto e submerso em uma piscina com água (H2O puríssimo) circulante, a qual tem a função de resfriar o reator. Ainda, serve como elemento moderador para reduzir a energia cinética dos nêutrons rápidos e, também, faz uma blindagem, protegendo os operadores que caminham em torno da piscina. No núcleo, são colocadas as barras compostas com rádio-berílio, denomi- nadas barras de elemento combustível, emissoras naturais de nêutrons. Esses nêutrons vão interagir com o núcleo de urânio, que se torna instável, iniciando o processo de fissão nuclear. O urânio começará a emitir nêutrons que vão se chocar com outros átomos de urânio, iniciando o processo de reação em cadeia. 5 4 Figura 8 - Núcleo de um reator / Fonte: o autor. Descrição da Imagem: fotografia de um ambiente industrial com uma piscina de reator nuclear. Ao fundo, dois indivíduos estão de pé, um deles segurando um documento. A piscinaocupa a parte central da imagem e é cercada por estruturas metálicas amarelas. A água na piscina emite um brilho azul característico. Na parte inferior da imagem, há plataformas metálicas cinza. A visão é frontal e ligeiramente oblíqua em relação às estruturas ao redor da piscina. Prezado estudante, os reatores nucleares de pesquisa do IPEN, na USP de São Paulo, utilizam barras contendo urânio como elemento combustível, utilizando em torno de 1 Kg de urânio-235, com enriquecimento de 20%. APROFUNDANDO UNICESUMAR 5 5 TEMA DE APRENDIZAGEM 2 A piscina do reator é revestida com um material de carbono (grafite) com o obje- tivo de refletir os nêutrons de volta para o reator, mantendo-os sempre próximos do núcleo do reator. Para haver fluxo de nêutrons sob controle e em quantidade adequada, são utilizadas as barras de boro, denominadas barras absorvedoras, que absorvem com muita facilidade os nêutrons produzidos em excesso. A coloração azulada percebida no entorno do núcleo do reator submerso em pis- cinas é chamada “efeito Cherenkov”, causada por elétrons que se propagam com velocidade acima da velocidade da luz na água. Em um meio transparente, é pos- sível observar a olho nu os fótons provenientes dessa interação. APROFUNDANDO Figura 9 - Efeito cherenkov do reator IEA-R1 (IPEN/USP/SP) / Fonte: o autor. Descrição da Imagem: fotografia do efeito cherenkov do reator IEA-R1. 5 1 A produção dos radioisótopos nos reatores nucleares acontece de três maneiras, conforme descrito a seguir. A primeira maneira, considerada mais complexa, consegue produzir radioi- sótopos de alta atividade e, consequentemente, grande quantidade de radiação. Essa forma de produção envolve a separação dos radionuclídeos obtidos durante o processo de fissão, utilizando o processamento do elemento combustível para realização da separação. Segundo Hironaka et al. (2012), a maneira é utilizada com elementos de massa entre 85 e 150, como Mo−99 , I −131 , Xe133 , Ho−166 e Lu−177 . A segunda maneira é chamada de transmutação. Segundo Hironaka et al. (2012), os isótopos são colocados em posições específicas no reator, e começam a ser bom- bardeados pelos nêutrons originados do processo de fissão no núcleo de urânio. Esses nêutrons penetrarão o núcleo dos isótopos (nuclídeos), alterando a relação prótons x nêutrons, tornando-os instáveis, sendo estes, a partir de agora, denominados ra- dioisótopos (radionuclídeos). No processo, pode ser percebida uma maior atividade dentro do núcleo, mas a emissão de radiação é menor do que a produção de radioi- sótopos. No processo de transmutação, poderá ocorrer ou não a perda de massa, mas sempre ocorrerá a perda de um próton, fazendo com que o elemento bombardeado se transforme em outro elemento, agora radioativo. Exemplo: o isótopo de enxofre ( S 16 32− ) se transmuta no radioisótopo do fósforo ( P− − 15 32 ). Perceba que não houve a perda de massa, mas a perda de um próton. A terceira maneira é chamada de ativação. Segundo Hironaka et al. (2012), no processo, o isótopo é bombardeado por nêutrons, porém, na ativação, não há perda ou ganho de prótons, mantendo o número atômico preservado. Isso acontece pela estabili- dade temporária causada pela emissão de radiação gama. Assim, com essa característica, o elemento isótopo sai do reator como um radioisótopo do mesmo elemento, e não há transmutação. Exemplo: o isótopo do molibdênio (Mo−98 ), que se ativa e altera a massa, passando para o Mo−99 . Outro exemplo é o samário (Sm−153 ), um elemento importante no combate das dores causadas pelas metástases ósseas quando a morfina não é mais efetiva. Os radioisótopos produzidos por ativação são os mais utilizados na medicina nuclear, basicamente, emissores de radiação beta negativo. Geradores de Radionuclídeos O uso de geradores é uma estratégia importante que permite o uso de radioisó- topos de meia-vida curta nos serviços de medicina nuclear. UNICESUMAR 5 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 2 “ Uma das questões práticas enfrentadas pela Medicina Nuclear é o desejo de utilizar radionuclídeos de meia-vida curta (horas versus dia ou semanas) e, ao mesmo tempo, a necessidade de ter os radio- fármacos entregues de forma comercial em hospitais ou clínicas. Uma forma de contornar o problema é o sistema de gerador de radionuclídeo (THRALL; ZIESSMAN, 2003, p. 53). O gerador não estava citado como forma de produção do radioisótopo artificial, porque, na verdade, ele não transforma um isótopo em um radioisótopo, como fa- zem o cíclotron e o reator nuclear. Vamos entender o funcionamento desse gerador! O gerador é um dispositivo portátil que permite locomoção. Nele, é colocada uma “matriz”, ou seja, um radioisótopo denominado “pai”, de meia-vida longa, que foi produzido em um reator nuclear ou em um cíclotron. Esse radioisótopo “pai” (meia-vida longa) sofrerá o processo de decaimento, dando origem a um radioisótopo “filho” com meia-vida curta. Estudante, é preciso esclarecer o que é um radiofármaco para não o deixar confu- so. Segundo Thrall e Ziessman (2003), o radiofármaco referencia determinados ra- dioisótopos que preenchem os requisitos para serem administrados em pacientes na medicina nuclear. A administração desse material radioativo sempre ocorre em conjunto com um fármaco (marcador) escolhido conforme protocolo do exame ou tratamento a ser realizado, então, “radioisótopo + fármaco = radiofármaco”. ZOOM NO CONHECIMENTO 5 8 Conforme Hironaka et al. (2012), o gerador é vantajoso, mas possui limitações quanto à quantidade de radioisótopos que podem ser obtidos por meio desses geradores. É necessário que o pai e filho permitam ser separados de forma rápida, segura, e em um curto espaço de tempo. “Eluição” é termo usado para fazer a extração do radionuclídeo filho e, no momento dessa eluição, é importante que não venham impurezas da estrutura do gerador. Lembrando que o radioisótopo filho será administrado em um paciente, então, precisa ser estéril e apirogênico. Existem, no mercado, geradores de mo- libdênio (Mo−99)/tecnécio (Tc m−99 ), germânio (Ge−68)/gálio (Ga−68) e estrôncio (Sr−82)/ rubídio (Rb−82). O mais importante e de maior abrangência clínica é o Mo−99/Tc m−99 . A meia-vida física do Mo−99 é de 66 horas, então, um gerador de Mo−99/Tc m−99 pode ser usado por até duas semanas, dependendo do fluxo de pacientes do serviço de medicina nuclear e do número de eluições realizadas por dia/semana. Figura 10 - Gerador de radionuclídeo Fonte: https://www.mmconex.com.br/embalagens/edg#ad-image-0. Acesso em: 25 jun. 2019. Descrição da Imagem: fotografia de vários recipientes de produtos médicos sobre uma superfície branca e com um fundo também branco. À esquerda, há um recipiente azul e branco com uma etiqueta amarela que inclui sím- bolos de radioatividade e a palavra “RADIOATIVO”. Ao centro, um tambor azul maior com rótulos semelhantes. À direita, em primeiro plano, estão dispostas três fileiras de frascos transparentes com tampas azuis e vermelhas, contendo um líquido vermelho. Atrás dos frascos, há uma caixa transparente com mais unidades empilhadas. Todos os recipientes possuem etiquetas de aviso de radioatividade. UNICESUMAR 5 9 TEMA DE APRENDIZAGEM 2 O processo de eluição ocorrerá da seguinte forma: conforme Hironaka et al. (2012), o sistema é composto por uma coluna de vidro, preenchida por óxido de alumínio (Al O2 3) e, nessa parte do gerador, é colocado o molibdato (Mo O−99 4 ), considerado elemento pai. Sobre a estrutura do gerador, há duas acomodações com agulhas, para conexão de dois frascos simultaneamente. Um dos frascos com solução salina (soro fisiológico 0,9%) é conectado sobre a coluna de alumínio e, no outro lado, é conectado um frasco com vácuo. O vácuo, contido no segundo frasco, é o que estabelecerá a pressão negativa no sistema, fazendo com que a solução salina saia do seu recipiente, circule pela coluna de alumínio e interaja com o Mo−99, extraindo o Tc m−99 , que subirá pelo circuito,