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Profa. Ma. Priscila Zinczynszyn UNIDADE II Contratos Civis e Empresariais 3.1 Compra e venda: Nos termos do Art. 481 do CC, a compra e a venda são contratos em que um dos contratantes se obriga a transferir ao comprador a coisa móvel ou imóvel, enquanto este se obriga ao pagamento de certo preço; O contrato de compra e venda é consensual e não transfere de plano a propriedade da res; A titularidade de domínio é transferida ao adquirente no momento da tradição (móvel) ou do registro (imóvel), de maneira que a transferência é uma consequência do contrato, um de seus efeitos, quando do cumprimento de obrigação assumida pelo vendedor. 3. Venda, permuta e doação A caracterização da compra e venda como contrato: a) Consensual; b) Sinalagmático; c) Nominado; d) Oneroso; e) Solene, quando o objeto é um imóvel de valor superior a trinta salários mínimos (CC, Art. 108). OBS.: não solene para os móveis ou imóveis de valor inferior a esse, traz consequências práticas, inerentes a toda a classificação. 3. Venda, permuta e doação 3.2 Elementos da compra e venda: Nos termos do Art. 482 do CC, a venda se aperfeiçoa com o acordo sobre a coisa e o preço. Então, o contrato de compra e venda se compõe de três elementos: a) Consensus (consentimento); b) Pretium (preço); c) Res (coisa). 3. Venda, permuta e doação Fonte: esta foto de autor desconhecido está licenciada em CC BY-AS. 3.3 Obrigações das partes na compra e venda: O vendedor assume a obrigação de entregar a res, enquanto o comprador se incumbe de pagar ao vendedor determinado preço. Esses são os efeitos principais da compra e da venda; O vendedor, por força do princípio da boa-fé (CC, Art. 422), tem, ainda, a obrigação de garantir ao adquirente a posse mansa e pacífica do bem, ao transferir a sua propriedade. Deve honrar a legítima expectativa do comprador. 3. Venda, permuta e doação Fonte: esta foto de autor desconhecido está licenciada em CC BY-NC-ND. 3.4 Despesas do contrato: O Art. 490 do CC é supletivo: se as partes ficarem em silêncio, as despesas da escritura são do comprador e as da tradição, do vendedor; Esse artigo supre o silêncio das partes. Cabe, porém, a disposição das partes em sentido contrário. 3. Venda, permuta e doação 3.5 Tradição: Vimos que a compra e a venda não transferem o domínio; então, até a tradição, a coisa pertence ao alienante, que sofre os riscos que possam incidir sobre a coisa (risco é o perigo a que está sujeita uma coisa de perecer ou se deteriorar, por caso fortuito ou força maior). 3. Venda, permuta e doação Fonte: esta foto de autor desconhecido está licenciada em CC BY. 3.6 Cumprimento do contrato: Quando não há prazo, o cumprimento é à vista; A lei estabelece que quem deve, primeiro, cumprir a sua prestação é o comprador (o vendedor é o protegido, pois não precisa entregar a coisa, até o recebimento do preço). Nos termos do Art. 491 do CC, “não sendo a venda a crédito, o vendedor não é obrigado a entregar a coisa antes de receber o preço” (BRASIL, 2002); O vendedor tem o direito de retenção, fundamento legal de sua recusa em entregar a coisa. Se o preço não for pago, tal comportamento é legítimo, mesmo que o prazo da tradição tenha vencido. 3. Venda, permuta e doação 3.7 Legitimação: Para a realização dos negócios jurídicos, há a necessidade de cumprimento dos requisitos do Art. 104 do CC, vejamos: “Art. 104. A validade do negócio jurídico requer: I. Agente capaz; II. Objeto lícito, possível, determinado ou determinável; III. Forma prescrita ou não defesa em lei”. 3. Venda, permuta e doação 3.8 Venda a descendente: O descendente só pode adquirir os bens do ascendente com a anuência dos demais descendentes e do cônjuge do alienante (CC, Art. 496); Só não é necessária a anuência do cônjuge do alienante se o regime de bens for o da separação obrigatória de bens. 3. Venda, permuta e doação Fonte: esta foto de autor desconhecido está licenciada em CC BY-NC. 3.8.1 Anuência e ação anulatória: Segundo o Art. 496 do CC, a anuência dos descendentes deve ser expressa, não devendo seguir nenhuma forma especial; Ocorre que, se o negócio tiver por objeto um bem imóvel de valor maior do que trinta salários mínimos, deve haver a solenidade (e negócios inferiores a tal quantia, hoje, são irrelevantes). Nesse caso, a anuência se dá por uma escritura pública (CC, Art. 108). 3. Venda, permuta e doação Ação anulatória de venda a descendente deve ser proposta no prazo decadencial de dois anos, a partir do aperfeiçoamento do contrato. Com esse entendimento, a venda a descendente, sem a anuência dos demais descendentes e do cônjuge, é anulável, podendo se convalidar pela prova de onerosidade ou pelo decurso do prazo. 3. Venda, permuta e doação Fonte: esta foto de autor desconhecido está licenciada em CC BY. 3.9 Falta de legitimação de representantes legais e pessoas com interesses conflitantes: O Art. 497 do CC subtrai de pessoas cujos interesses possam conflitar com a vontade de representados ou terceiros, a legitimação para a prática da compra e venda. Tutores, curadores, testamenteiros e as demais pessoas, que podem se valer do cargo e da função que exercem, não podem comprar bens daqueles cujos interesses devem defender. 3. Venda, permuta e doação Fonte: esta foto de autor desconhecido está licenciada em CC BY-SA-NC. 3.9.1 Legitimação do condômino de coisa indivisível: O condômino como proprietário tem o direito de dispor da coisa, o chamado jus abutendi. Mas o condômino de coisa indivisível não pode alienar a sua parte indivisa sem antes oferecer por igual preço aos seus consortes. Conforme o Art. 504, caput e parágrafo único, do CC, somente após o oferecimento aos consortes e a recusa deles, fica legitimado para vendê-la a terceiro. 3. Venda, permuta e doação Assinale a alternativa incorreta: a) O contrato de compra e venda é consensual, não transfere de plano a propriedade da res. b) Quando não há prazo, o cumprimento é à vista. c) Para a realização dos negócios jurídicos, há a necessidade de cumprimento dos requisitos do Art. 104 do CC. d) O descendente só pode adquirir os bens do ascendente com a anuência dos demais descendentes e do cônjuge do alienante (CC, Art. 496). e) Ação anulatória de venda a descendente deve ser proposta no prazo decadencial de três anos, a partir do aperfeiçoamento do contrato. Interatividade Assinale a alternativa incorreta: a) O contrato de compra e venda é consensual, não transfere de plano a propriedade da res. b) Quando não há prazo, o cumprimento é à vista. c) Para a realização dos negócios jurídicos, há a necessidade de cumprimento dos requisitos do Art. 104 do CC. d) O descendente só pode adquirir os bens do ascendente com a anuência dos demais descendentes e do cônjuge do alienante (CC, Art. 496). e) Ação anulatória de venda a descendente deve ser proposta no prazo decadencial de três anos, a partir do aperfeiçoamento do contrato. Resposta 3.10 Regras especiais sobre algumas modalidades de venda: 3.10.1 Venda por amostra: A venda por amostra é aquela em que a amostra é exibida pelo vendedor, que provocou o assentimento do comprador; é um contrato aperfeiçoado que gera ao adquirente o direito de obter a entrega de coisa igual à amostra. 3. Venda, permuta e doação Fonte: esta foto de autor desconhecido está licenciada em CC BY-NC. 3.10.2 Venda ad corpus e ad mensuram: Venda ad corpus é aquela em que a preocupação das partes é vender e comprar a coisa certa e determinada, na forma que existe objetivamente, sem que a circunstância de ter uma ou outra extensão constitua um motivo de maior relevo na formação do consentimento; Se o comprador verifica que a coisa comprada não tem a medida da escritura, não tem ação contra o vendedor (CC, Art. 500, § 3º). 3. Venda,permuta e doação Venda ad mensuram é aquela em que a preocupação das partes foi vender e comprar determinada área de terreno. O negócio é estipulado tendo em vista certa dimensão. Nos termos do Art. 500, caput, do CC, se a área encontrada for de menor tamanho que o esperado; nesse caso, possui o comprador as seguintes prerrogativas: a) Pedir a complementação da área, a fim de obter aquilo que comprou; b) Pedir a rescisão do contrato ou requerer o abatimento do preço, se, e somente se, a complementação for impossível (o vendedor não tem uma área contígua com que completar o faltante). OBS.: o vendedor que entregou maior área, da mesma forma, pode reclamar de volta o excesso ou a complementação do preço. Para a parte prejudicada, o prazo decadencial é, sempre, de um ano, contado da transcrição do título. 3. Venda, permuta e doação 3.10.3 Vendas de coisas conjuntas: O Art. 503 do CC determina que, nas coisas vendidas conjuntamente, o defeito oculto de uma não autoriza a rejeição de todas. 3. Venda, permuta e doação Fonte: esta foto de autor desconhecido está licenciada em CC BY-NC- ND. 3.11 Cláusulas especiais da compra e venda: 3.11.1 Retrovenda: Na retrovenda, o vendedor se reserva o direito de recobrar, em três anos, o imóvel que vendeu, restituindo o preço, mais as despesas feitas pelo comprador (CC, Art. 505). 3. Venda, permuta e doação Fonte: esta foto de autor desconhecido está licenciada em CC BY. 3.11.2 Venda a contento ou sujeita à prova: A venda a contento ou sujeita à prova realiza-se sob a condição de só se tornar perfeita e obrigatória após a declaração do comprador de que a coisa o satisfaz. Em geral, tem por objeto os gêneros que se costumam provar, pesar, medir ou experimentar antes de aceitos (por exemplo, vinhos, azeites etc.), mas pode abranger qualquer objeto; Condição suspensiva (agrado do adquirente). 3. Venda, permuta e doação 3.11.3 Preempção ou preferência: Preempção, ou preferência, é o pacto de preferência em que o comprador de uma coisa se obriga com o vendedor a preferi-lo, em igualdade de condições, caso venha a vendê-la (CC, Art. 513). 3. Venda, permuta e doação 3.11.4 Venda com reserva de domínio: A venda com reserva de domínio é para um bem móvel (de natureza durável, capaz de ser individuado pelo seu tipo, pela sua marca ou pelo seu número). O vendedor transfere a posse direta ao comprador, permanecendo com a posse indireta e com o domínio da coisa móvel, até receber a totalidade do preço, mesmo após a transferência da posse ao adquirente. 3. Venda, permuta e doação Fonte: esta foto de autor desconhecido está licenciada em CC BY. 3.11.5 Venda sobre documentos: A venda sobre documentos é aquela com tradição ficta, em que a transferência da propriedade da coisa se dá com a entrega ao comprador dos documentos exigidos pelo contrato, ou por seu título representativo, consoante o Art. 529 do CC. 3. Venda, permuta e doação 3.12 Troca: O contrato de troca é o contrato pelo qual as partes se obrigam a dar uma coisa por outra, que não seja dinheiro; Ao contrato de troca aplicam-se as regras da compra e venda. 3. Venda, permuta e doação Fonte: esta foto de autor desconhecido está licenciada em CC BY-ND. 3.12.1 Permuta de valores desiguais: Só, excepcionalmente, são iguais os valores permutados, de forma que, para compensar a eventual diferença, uma das partes compõe a sua prestação com dinheiro. 3. Venda, permuta e doação Assinale a alternativa correta: a) Na venda ad mensuram inexiste a preocupação das partes de vender e comprar determinada área de terreno. b) Nas coisas vendidas conjuntamente, o defeito oculto de uma autoriza a rejeição de todas. c) Na retrovenda, o vendedor se reserva o direito de recobrar, em três anos, o imóvel que vendeu, restituindo o preço, mais as despesas feitas pelo comprador. d) Na venda a contento ou sujeita à prova, a condição é resolutiva. e) A venda com reserva de domínio é para um bem imóvel. Interatividade Fonte: esta foto de autor desconhecido está licenciada em CC BY-SA-NC. Assinale a alternativa correta: a) Na venda ad mensuram inexiste a preocupação das partes de vender e comprar determinada área de terreno. b) Nas coisas vendidas conjuntamente, o defeito oculto de uma autoriza a rejeição de todas. c) Na retrovenda, o vendedor se reserva o direito de recobrar, em três anos, o imóvel que vendeu, restituindo o preço, mais as despesas feitas pelo comprador. d) Na venda a contento ou sujeita à prova, a condição é resolutiva. e) A venda com reserva de domínio é para um bem imóvel. Resposta 3.13 Doação: O contrato de doação é aquele em que uma pessoa, por liberalidade, se obriga a transferir os bens ou as vantagens a outra, que os aceita. 3.13.1 Características da doação: a) Unilateral; b) Gratuita; c) Consensual; d) Solene. 3. Venda, permuta e doação 3.13.2 Aceitação: A aceitação é a manifestação concordante da vontade do donatário, indispensável para o aperfeiçoamento do negócio. 3. Venda, permuta e doação Fonte: esta foto de autor desconhecido está licenciada em CC BY-ND. 3.13.3 Espécies de aceitação: a) Aceitação expressa: é revelada verbalmente ou por escrito, ou, ainda, por gestos, quando estes significam a concordância direta com o negócio; b) Aceitação tácita: resulta de um comportamento do donatário, incompatível com a sua recusa à liberalidade. Exemplo: doador revela o seu propósito de doar um carro ao donatário. Este fica silente, mas o recebe, licencia, emplaca-o e passa a usá-lo como dono; c) Aceitação presumida pela lei: aqui, o silêncio do beneficiário leva à presunção de aceitação, pois o ato só traz, ao donatário, benefícios. 3. Venda, permuta e doação 3.14 Forma da doação: Em regra, a doação é um contrato solene, pois depende de uma forma prescrita em lei; Vejamos o que versa o Art. 541 do CC: “a doação far-se-á por escritura pública ou instrumento particular” (BRASIL, 2002). 3. Venda, permuta e doação 3.15 Espécies de doação: a) Doação pura; b) Doação remuneratória; c) Doação com encargo. 3. Venda, permuta e doação a) Doação pura: A doação pura consiste em mero benefício; o doador é movido pelo espírito de liberalidade. A esta se equipara a doação feita em contemplação do merecimento do donatário. Nesta, há uma causa para a liberalidade, mas não terá o donatário mais nenhum encargo em vista da liberalidade, que é, apenas, a manifestação de um sentimento individual, que nenhum alcance tem sobre a natureza do ato. b) Doação remuneratória: A doação remuneratória é feita para pagar certo serviço prestado pelo donatário, mas cujo correspectivo não foi ou não podia ser exigido. 3. Venda, permuta e doação c) Doação com encargo: Na doação com encargo, impõe-se ao donatário uma contraprestação que ele deve cumprir, e resulta uma vantagem para o doador ou para o terceiro. 3. Venda, permuta e doação 3.16 Outros tipos de doação previstos em lei: a) Doação feita em contemplação de casamento futuro com certa e determinada pessoa (CC, Art. 546); b) Doação em forma de subvenção periódica (CC, Art. 545); c) Doação com a cláusula de retorno; d) Doações entre os cônjuges; e) Doações de pais a filhos. 3. Venda, permuta e doação 3.17 Restrições à liberdade de doar: a) Doação de todos os bens do doador é nula; b) Doação da parte inoficiosa é nula; c) Doação com prejuízo para os credores do doador: a revogação de tais atos se dá com a ação pauliana (no prazo decadencial de quatro anos); d) Doação ao cúmplice de adultério: o Art. 550 do CC protege a família e repulsa o adultério, que não é mais tipificado como crime, mas constitui-se ilícito no âmbito civil, visto que a fidelidade recíproca é um dever decorrente do casamento. 3. Venda, permuta e doação 3.18 Promessa de doação: A promessa de doação, quando pura, nãoé vinculativa, muito embora a doação entre nós seja um contrato; Isso porque até a formalização, o promissário doador pode se arrepender. A natureza do negócio de doação é incompatível com o seu aperfeiçoamento sem o interesse do doador (animus donandi) atual. 3. Venda, permuta e doação 3.19 Extinção da doação: Resolução é o desfazimento do negócio por uma causa que, inicialmente, já o infirmava; a revogação advém de um ato de vontade posterior ao ato. 3.19.1 Por motivos comuns a todos os contratos: A doação é um contrato; portanto, todos os defeitos que infirmam o negócio jurídico são capazes de anulá-la (erro, dolo, coação, estado de perigo, fraude contra os credores, condição suspensiva juridicamente impossível etc.); A falta de requisito de validade, como a hipótese de um doador absolutamente incapaz, um objeto ilícito ou não, o cumprimento da forma prescrita em lei, torna nulo o contrato. 3. Venda, permuta e doação 3.19.2 Por ser resolúvel o negócio: Conforme dispõe o Art. 547 do CC, o doador pode estipular que os bens doados voltem ao seu patrimônio se sobreviver ao donatário. 3.19.3 Por descumprimento do encargo: Para a doação onerosa, descumprido o encargo, cabe a revogação da doação. 3.19.4 Por ingratidão do donatário: A lei pune o donatário ingrato e dá satisfação moral ao doador, vítima da ingratidão (CC, Art. 555). OBS.: só se revoga por ingratidão a doação pura. 3. Venda, permuta e doação A respeito da doação, assinale a alternativa incorreta: a) O contrato de doação é aquele em que uma pessoa, por liberalidade, se obriga a transferir os bens ou as vantagens a outra, que os aceita. b) Em regra, a doação é um contrato solene, pois depende de forma prescrita em lei. c) A doação pura consiste em mero benefício. d) A lei pune o donatário ingrato e dá satisfação moral ao doador, vítima da ingratidão. e) A doação de todos os bens do doador não é nula. Interatividade Fonte: esta foto de autor desconhecido está licenciada em CC BY-NC-ND. A respeito da doação, assinale a alternativa incorreta: a) O contrato de doação é aquele em que uma pessoa, por liberalidade, se obriga a transferir os bens ou as vantagens a outra, que os aceita. b) Em regra, a doação é um contrato solene, pois depende de forma prescrita em lei. c) A doação pura consiste em mero benefício. d) A lei pune o donatário ingrato e dá satisfação moral ao doador, vítima da ingratidão. e) A doação de todos os bens do doador não é nula. Resposta 4.1 Locação: O CC de 2002 traz um capítulo próprio sobre a locação de coisas (Arts. 565 a 578). 4. Locação, fiança, alienação fiduciária, transação e arbitragem Fonte: esta foto de autor desconhecido está licenciada em CC BY-NC-ND. 4.2 Conceito e natureza jurídica da locação: Locação é um contrato pelo qual uma das partes, o locador, se obriga a transferir a posse de certo bem móvel infungível ou imóvel à outra parte, o locatário, para fins de utilização, enquanto este se obriga ao pagamento de certa remuneração, o aluguel (MILAGRES, 2020). A locação apresenta uma natureza jurídica (características) de contrato: a) Bilateral; b) Onerosa; c) Consensual; d) Comutativa; e) Não solene. 4. Locação, fiança, alienação fiduciária, transação e arbitragem Prazo é a duração do contrato, variável em conformidade com o interesse das partes. Pode ser firmado por tempo determinado ou indeterminado. A locação de coisas recai sobre os bem móveis e imóveis, mas, se for uma locação de um bem móvel, deve ser infungível. A locação de coisa fungível não existe, trata-se de mútuo. Na locação de coisas, o preço é chamado de renda ou aluguel. Não precisa ser, necessariamente, em dinheiro, podendo consistir em bens de outra espécie. 4. Locação, fiança, alienação fiduciária, transação e arbitragem 4.3 Obrigações do locador: O locador deve: a) Manter a coisa em estado de servir ao uso a que se destina (CC, Art. 566, I); b) Custear a reparação dos estragos que não derivem de uma culpa do locatário; c) Fazer as reparações que a coisa alugada venha a necessitar e que não decorram de culpa do locatário. 4. Locação, fiança, alienação fiduciária, transação e arbitragem Fonte: esta foto de autor desconhecido está licenciada em CC BY- NC-ND. Caso não cumpra, o locador, com tal obrigação, o locatário pode: a) Rescindir o contrato, com as perdas e os danos (se a deterioração for tão grande a ponto de frustrar a sua utilização); b) Pedir a redução proporcional do aluguel; c) Exigir que se proceda às reparações necessárias (exigência da obrigação in natura); d) Pleitear a autorização para mandar executar as reparações às expensas do locador; e) Reter o aluguel. 4. Locação, fiança, alienação fiduciária, transação e arbitragem 4.4 Obrigações do locatário: O locatário deve pagar o aluguel no prazo legal ou ajustado. Essa prestação é causa das obrigações do locador. Finda a locação, deve o locatário restituir a coisa, no estado em que a recebeu, salvas as deteriorações naturais ao seu uso regular. São duas obrigações: a) Devolver a coisa; b) Devolvê-la no estado em que a recebeu. 4. Locação, fiança, alienação fiduciária, transação e arbitragem 4.5 Termo final da locação: Na locação com tempo determinado de duração (fora as exceções que ocorrem nas locações de prédios urbanos, por força de lei), a relação cessa de pleno direito com o termo, independentemente de notificação ou aviso, impondo-se ao locatário o dever de devolver a coisa; Na locação com tempo indeterminado, cessa a locação desde que qualquer pessoa resolva dá-la por finda, a menos que se trate de locação de imóvel, a qual tem regras peculiares, que, ainda, estudaremos nesta unidade. 4. Locação, fiança, alienação fiduciária, transação e arbitragem 4.6 Direito de retenção do locatário: Direito de retenção, neste caso, é a faculdade, concedida pela lei ao locatário, de conservar em seu poder a coisa que já detenha legitimamente, além do momento em que a deveria restituir, em garantia de um crédito que tenha contra o locador, e decorrente de despesas feitas ou das perdas sofridas em razão da coisa; Trata-se de um meio direto de defesa. 4. Locação, fiança, alienação fiduciária, transação e arbitragem 4.7 Locação de imóveis: 4.7.1 Evolução histórica da legislação sobre o inquilinato: A locação de imóveis foi modificada, profundamente, pela LI (o CC de 1916 já havia sido alterado pela Lei de Luvas e pelas sucessivas leis de inquilinato). 4. Locação, fiança, alienação fiduciária, transação e arbitragem Fonte: esta foto de autor desconhecido está licenciada em CC BY. 4.7.2 Lei n. 8.245/1991: Essa lei regula as locações de imóvel urbano e reduz a incidência do CC. A Lei n. 8.245/1991 vem dividida em três títulos: a) Da locação (título mais importante); b) Dos procedimentos (inova na parte processual das relações jurídicas decorrentes das locações de imóveis urbanos, trazendo as regras gerais sobre todas as ações relacionadas à locação e às regras específicas sobre o despejo, a consignação, a renovatória e a revisional de aluguéis); c) Das disposições finais e transitórias. 4. Locação, fiança, alienação fiduciária, transação e arbitragem 4.7.3 Reforma da LI: Lei n. 12.112/2009: Atualmente, a locação de imóveis urbanos é regida pela Lei n. 8.245/1991, já reformulada por outras normas e pela Lei n. 12.112, de 09 de dezembro de 2009; Continuam regidas pelo CC as locações de vagas de garagem, apart-hotel e na zona rural, e os imóveis da União, estados, municípios, leasing (arrendamento mercantil), espaço para a publicidade etc. 4. Locação, fiança, alienação fiduciária, transação e arbitragem 4.8 Fiança: A fiança é um contrato gratuito, unilateral e acessório, através do qual o fiador assume, perante o outro contratante, honrar a dívida de terceiro, em caráter subsidiário ou diante da renúncia ao benefício de ordem, solidariamente; Trata-se de uma garantia pessoal ou fidejussória. É uma garantia mais fraca do que a real, representada por coisa, como o penhor e a hipoteca. 4. Locação, fiança, alienação fiduciária, transação e arbitragem Fonte: esta foto de autor desconhecido está licenciada em CC BY. 4.8.1 Fiança e aval: A fiança é uma garantia fidejussória, característica dos contratos civis, acessória por fortalecer os contratos como o de locação, com a finalidade de aumentar as chances de adimplemento para que o contratante beneficiário dê a garantia do resgate do seu crédito; Já o aval é uma declaração que consiste na assinatura do declarante lançada em título de crédito, em que se compromete a garantir, de forma autônoma, as obrigações de outra pessoa que figura no título. É uma garantia no âmbito do Direito Empresarial, no que diz respeito aos títulos de crédito. 4. Locação, fiança, alienação fiduciária, transação e arbitragem 4.8.2 Espécies de fiança: A fiança pode ser: a) Convencional (resulta do contrato); b) Judicial (resulta de determinação do juiz); c) Legal (imposta pela lei). 4. Locação, fiança, alienação fiduciária, transação e arbitragem 4.8.3 Natureza jurídica da fiança convencional: A fiança convencional é um contrato acessório, que não existe sem um contrato principal, cujo cumprimento a fiança visa assegurar. 4.8.4 Recusa do fiador: A lei garante o credor, permitindo-lhe recusar o indicado se não for uma pessoa idônea, domiciliada no município onde tenha de prestar fiança ou não possua bens suficientes para desempenhar a fiança (CC, Art. 825). 4. Locação, fiança, alienação fiduciária, transação e arbitragem 4.8.5 Benefício de ordem: Trata-se de prerrogativa do fiador exigir que os bens do devedor principal sejam excutidos antes dos seus, pois têm uma obrigação subsidiária. 4.8.6 Solidariedade dos cofiadores: Se a fiança for prestada por mais de um fiador, sem especificar a parte da dívida que cada qual garante, determina a lei a sua solidariedade. Assim, se houver a especificação, cada fiador só responde pela parte que afiançou. 4. Locação, fiança, alienação fiduciária, transação e arbitragem Fonte: esta foto de autor desconhecido está licenciada em CC BY-NC-ND. 4.8.7 Direitos e obrigações do fiador: Deve o fiador pagar a dívida se o devedor não pagar no tempo e na forma devidos. Com a renúncia ao benefício de ordem, o fiador é o devedor principal e deve pagar a dívida, assim que demandada. 4.8.8 Fiança locatícia. Inovações na fiança: A fiança é a mais usual das garantias em contrato de locação. A Lei n. 12.112/2009 reformou a Lei n. 8.245/1991 (LI) e trouxe as inovações em matéria de fiança locatícia. 4. Locação, fiança, alienação fiduciária, transação e arbitragem 4.8.9 Fiador e a purgação da mora pela Lei n. 12.112/2009: Conforme o Art. 62, caput, I, II, III e IV e parágrafo único, da Lei n. 8.245/1991, locatário e fiador poderão, em 15 dias, a contar da citação, depositar os aluguéis e encargos em atraso, com juros etc., para evitar a rescisão da locação. Devem depositar em juízo, inclusive, as custas e os honorários. Não é necessário o pleito de autorização para purgar a mora. 4.8.10 Qualificação de novo fiador na renovatória e prova da idoneidade financeira do fiador, ainda que seja o antigo: O Art. 71, da Lei n. 8.245/1991, com uma nova redação do inciso V, traz como requisito da inicial da renovatória a indicação do novo fiador, com a sua qualificação completa, e, ainda que seja o mesmo fiador, sempre, é obrigatória a prova de sua idoneidade financeira. 4. Locação, fiança, alienação fiduciária, transação e arbitragem 4.8.11 Extinção da fiança: Conforme o Art. 62, caput, I, II, III e IV e parágrafo único, da Lei n. 8.245/1991, locatário e fiador poderão, em 15 dias, a contar da citação, depositar os aluguéis e encargos em atraso, com juros etc., para evitar a rescisão da locação. Devem depositar em juízo, inclusive, as custas e os honorários. Não é necessário o pleito de autorização para purgar a mora. 4. Locação, fiança, alienação fiduciária, transação e arbitragem 4.9 Alienação fiduciária em garantia: Trata-se de um contrato mediante o qual o adquirente de um bem transfere o domínio dele ao credor que emprestou o dinheiro para pagar-lhe o preço, continuando, entretanto, o alienante (devedor, que tem a posse direta do bem) a possuí-lo pelo constituto-possessório, resolvendo-se o domínio do credor, quando ele for pago de seu crédito. 4. Locação, fiança, alienação fiduciária, transação e arbitragem 4.10 Transação: A transação é um contrato em que as partes decidem encerrar a ação judicial ou o conflito que esteja na iminência da ação judicial, através de concessões recíprocas; A transação, por extinguir as obrigações, põe fim aos seus acessórios. 4. Locação, fiança, alienação fiduciária, transação e arbitragem Fonte: esta foto de autor desconhecido está licenciada em CC BY-NC. 4.11 Compromisso arbitral: Compromisso arbitral é o negócio jurídico em que as partes decidem entregar ao árbitro ou a uma junta arbitral a solução do conflito que já está em juízo, ou que esteja na iminência de ação judicial. A Lei n. 9.307, de 23 de setembro de 1996 (Lei de Arbitragem), regulamenta essa matéria. 4. Locação, fiança, alienação fiduciária, transação e arbitragem Assinale a alternativa correta: a) A fiança pode ser convencional, judicial ou legal. b) A fiança convencional é um contrato principal. c) Se a fiança for prestada por mais de um fiador, mesmo especificando a parte da dívida que cada qual garante, determina a lei a sua solidariedade. d) A fiança não é uma garantia usual nos contratos de locação. e) A transação, por extinguir as obrigações, não põe fim aos seus acessórios. Interatividade Fonte: esta foto de autor desconhecido está licenciada em CC BY-SA-NC. Assinale a alternativa correta: a) A fiança pode ser convencional, judicial ou legal. b) A fiança convencional é um contrato principal. c) Se a fiança for prestada por mais de um fiador, mesmo especificando a parte da dívida que cada qual garante, determina a lei a sua solidariedade. d) A fiança não é uma garantia usual nos contratos de locação. e) A transação, por extinguir as obrigações, não põe fim aos seus acessórios. Resposta BRASIL. Altera o parágrafo único do art. 541 da Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. 2002. MILAGRES, M. de O. Manual de direito das coisas. 1. ed. Belo Horizonte/São Paulo: D’Plácido, 2020. Referências ATÉ A PRÓXIMA!