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22/09/2013 1 Biodisponibilidade de Nutrientes UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA CENTRO EDUCACIONAL DO OESTE CURSO DE ENGENHARIA DE ALIMENTOS DISCIPLINA: NUTRIÇÃO PROFESSORA: ANDRÉIA ZILIO DINON Biodisponibilidade • Estudos de biodisponibilidade referem-se a: • Biodisponibilidade quantitativa: utilização do nutriente pelo teor da fonte na dieta. • Biodisponibilidade qualitativa: extensão de utilização do nutriente em função da capacidade bioquímica e estrutural do organismo. • O suprimento das necessidades nutricionais depende da ingestão, logo, a biodisponibilidade de nutrientes depende do estado nutricional e, este, da dieta. 22/09/2013 2 Estudos de Biodisponibilidade • A biodisponibilidade de nutrientes também depende dos hábitos alimentares e culturas de cada país. • A manutenção da saúde depende de fatores ambientais e individuais (hormônios, genética), logo, dificulta os estudos de disponibilidade Nutrientes mais estudados • Proteínas, Minerais e Vitaminas A e C • Maior avanço: Minerais (desde 1970) • Atualmente: Carboidratos (inclui fibras), Lipídeos e demais Vitaminas, Compostos Bioativos. 22/09/2013 3 22/09/2013 4 Aminoácidos e biodisponibilidade • Proteína de alto valor biológico – aa essenciais em quantidade suficiente cuja a proporção é correta para manter o equilíbrio de nitrogênio e permitir o crescimento do organismo. • Exemplo: albumina do ovo, caseína do leite, proteínas da carne, peixes e aves. • Proteína de baixo valor biológico – não fornecem todos os aa essenciais. • Exemplo: proteínas dos vegetais. • 20% do VET • Diminuir o consumo de alimentos processados = alteração do teor proteico. • Fontes: alimentos de origem animal. Aminoácidos e biodisponibilidade BIODISPONIBILIDADE DE PROTEÍNAS • Proteínas desnaturadas pelo calor: a molécula se desenrola, se abre, e com isto grupos reativos são expostos • Sofrem redução da solubilidade devido ao aumento da exposição de substâncias hidrofóbicas; • São mais susceptíveis ao ataque de enzimas proteolíticas, devido à alta exposição das ligações peptídicas; • O calor se moderado, aumenta a digestibilidade, pois melhora o ataque das enzimas digestivas, por esta razão, o leite cozido é mais facilmente digerido que o leite cru, o mesmo é válido para a carne, ovo, entre outros. • OBS: aquecimento excessivo pode provocar degradação das proteínas, influenciando negativamente na digestibilidade. 22/09/2013 5 REAÇÃO DE MAILLARD • Aquecimento moderado ou excessivo de certos alimentos pode provocar a reação de Maillard. • escurecimento não enzimático: reação entre proteína e carboidrato sob a ação do calor. • os aminoácidos, através de seu grupo amino, formam com açúcares redutores compostos insolúveis que não podem ser desdobrados por enzimas digestivas. • a reação de Maillard é responsável pela cor do leite evaporado, • o aquecimento provoca perda de 20% da lisina pela reação com a lactose, bem como pela redução da biodisponibilidade destes nutrientes nos alimentos. Carboidratos - Fibras alimentares totais (FAT) • Componentes: �Polissacarídeos estruturais: Celulose, Pectina e Hemicelulose. �Polissacarídeos não estruturais (exsudato formado nos caules ou ramos): Gomas e Mucilagens. �Polímero de álcoois aromáticos: Lignina �Substâncias semelhantes às fibras: Inulina e Frutooligossacarídeos (FOS) e amido resistente Fibras alimentares totais (FAT) • Efeitos fisiológicos das fibras: • Solúveis • Ao absorverem água, formam um gel e retardam a absorção de glicose por 3 vias: • Retardam o esvaziamento gástrico → aumentam a saciedade; retardam a absorção de glicose e aminoácidos →↓[ ] de glicose no sangue • Conteúdo intestinal mais viscoso → retardam a absorção de glicose e aminoácidos →↓[ ] de glicose no sangue • Inibe moléculas de α – amilase ↓[ ] de glicose no sangue Fibras alimentares totais (FAT) • Efeitos fisiológicos das fibras: • Solúveis • Controlam o colesterol sérico através de 3 vias: • ↑a perda fecal de ác. Biliares → ↑ produção de ác. biliares no fígado a partir do COLESTEROL → ↓↓↓↓COLESTEROL sérico e LDL colesterol • Prejuízo na digestão e absorção de lipídeos → ↓↓↓↓COLESTEROL sérico e LDL colesterol • ↑ síntese de AGCC*: Propionato e Butirato →↓ Síntese de COLESTEROL no fígado →↓↓↓↓ COLESTEROL sérico e LDL colesterol. Fibras alimentares totais (FAT) • Efeitos fisiológicos das fibras: • Solúveis • Controlam a função intestinal através: • Fermentação no cólon → AGCC: Acético, Propiônico e Butírico → Efeitos tróficos, substrato enérgico para colonócitos, ↑absorção Na+ e K+ e ↓ pH sangue • Fermentação no cólon → gases→ flatulência Fibras alimentares totais (FAT) • Efeitos fisiológicos das fibras: • Insolúveis • Controlam a função intestinal através: – Efeito Mecânico no TGI → Retenção de água →↑↑↑↑ bolo fecal e a motilidade intestinal - Prevenção da constipação – Pouco fermentáveis →↑↑↑↑ formação de fezes e ↓↓↓↓ produção de gases – ↑ proliferação dos colonócitos 22/09/2013 6 Fibras alimentares totais (FAT) • Fontes alimentares das FAS: – Frutas cítricas, maçã, legumes (Pectina) – Farelo de aveia, farinha de aveia, farelo de cevada (Gomas) – Mucilagens das superfícies externas de algas • Fontes alimentares das FAI: – Frutas com cascas, verduras e sementes (Celulose) – Farelo de trigo, soja e centeio (Hemicelulose) – Grão integral, ervilha, aspargos (Lignina) Fibras alimentares totais (FAT) • Efeitos adversos: - Presença de fitatos e compostos fenólicos: • fatores anti-nutricionais (< biodisponibilidade de Cálcio, Zinco, Ferro e cobre) • Recomendação: • DRI → 25 a 35 g/dia, ou 10g para cada 1000 kcal. – Crianças: > 2 anos de idade → DRI = idade + 5 • Ex: criança de 8 anos = fibra = 8 + 5 = 13g de fibras CLASSIFICAÇÃO DAS INTERAÇÕES DOS NUTRIENTES • Competitivas, diretas ou negativas: devido à similaridade da forma química, concorrência por um mesmo sítio funcional ou sítio de absorção, tanto o de enzimas como o de membranas celulares. Quando o excesso de um prejudica o outro. Exemplo: o excesso de Fe interfere na absorção de Zn e vice- versa; • Não competitivas, indiretas ou positivas: quando um nutriente depende do outro para se transformar na forma ativa, desta forma, a deficiência de um pode acarretar prejuízo na função do outro. Exemplo: o selênio é importante para o metabolismo do iodo, pois para transformar a forma inativa tiroxina (T4) em triiodotironina (T3) que é sua forma ativa há necessidade da ação da enzima selenodependente (deiodinase); • Interações multi-elementos: a interação entre dois nutrientes resulta em efeitos negativos sobre um terceiro. Exemplo: cálcio-fitato-zinco, a formação de um complexo entre cálcio e fitato inibe a absorção do zinco. INTERAÇÕES SEGUNDO SUA LOCALIZAÇÃO NO ORGANISMO HUMANO • No lúmen intestinal: a absorção no lúmen intestinal está diretamente relacionada com a estabilidade de complexos formados, onde a alta estabilidade melhora a absorção e a baixa reduz sua disponibilidade. • Exemplo: quelatos formados por íons metálicos. Íons metálicos ligados a compostos orgânicos, como aas, vitaminas e polissacarídeos. • Quando um íon metálico se combina com um grupo doador de um par de elétrons, o composto resultante é chamado de complexo, e a substância doadora de elétrons é denominada de “agente quelante”. • Um quelato natural em nosso organismo é a hemoglobina, onde o Ferro está ligado a uma proteína. Interações de Nutrientes • Vitamina C + Ferro→ alta estabilidade, muito bem absorvidos. Vitamina C + Cobre→ baixa estabilidade, portanto pouco absorvidos. • Ferro + Glicina→ o ferro é totalmente envolvido pelo aminoácido, formando um complexo solúvel, 5 vezes mais absorvido pelo intestino. • ÁCIDO FÍTICO (FITATOS): presentes nas fibras dos cereais, leguminosas, raízes, tubérculos e castanhas, sobretudo crus. Alimentos integrais como farelo de trigo, são ricos em fitatos. Atua seqüestrando minerais como zinco, cobre, magnésio, cálcio e ferro, formando complexos insolúveis enão absorvíveis; • ÁCIDO OXÁLICO (OXALATOS): presentes em alimentos como espinafre, beterraba, acelga e chocolate. Os oxalatos formam complexos insolúveis com o cálcio, ferro e zinco e são excretados nas fezes; • TANINOS: são compostos fenólicos caracterizados por sua capacidade de combinar-se com as proteínas e outros polímeros como os polissacarídeos. Eles interagem com as proteínas da saliva, alterando sua composição e textura, criando uma superfície rugosa, plena de arestas (adstringência). • Taninos estão presentes no chá (especialmente mate e preto), café, vinho tinto, romã, leguminosas, oleaginosas, etc. Os taninos combinam-se com o ferro e iodo, formando compostos insolúveis, não absorvíveis. • Compostos fenólicos são substâncias que apresentam hidroxila ligada diretamente ao núcleo benzênico. Vários polifenóis distribuídos na natureza apresentam ação antioxidante e têm sido associados com a redução de doenças aterogênicas e carcinogênicas, como é o caso dos flavonóides (quercetina, campferol, miricetina, apigenina, luteolina). • Alguns flavonóides apresentam efeito antioxidante quatro vezes maiores que a vitamina E. As fontes de flavonóides são: maçãs, cebola, vinho tinto, chocolate, frutas vermelhas, frutas cítricas, azeite e chá verde. Interações de Nutrientes 22/09/2013 7 • INIBIDORES DE PROTEASES: São enzimas de ampla distribuição em alimentos vegetais, capazes de inibir a ação das enzimas digestivas proteases (tripsina, quimiotripsina, carboxipolipeptidase). Os inibidores se ligam às proteases formando um complexo que é eliminado pelo bolo fecal. Essas enzimas são chamadas SERPINAS. A cocção inativa esses inibidores; • PROTEÍNAS: podem reagir com lipídios oxidados e reduzir a biodisponibilidade do aminoácido essencial metionina. De outra forma, alguns aminoácidos formam complexos solúveis com o cálcio e auxiliam em sua absorção; • LIPÍDEOS: triglicerídeos e ácidos graxos quando em contato com o cálcio dietético, formam sabões insolúveis→ reação de saponificação, aumentando sua excreção fecal e reduzindo sua absorção. Exemplo, o leite contém triglicerídeos e cálcio, apesar disso, trata-se de um alimento com alta biodisponibilidade de cálcio, pois também contém lactose e fósforo, que aumentam a sua biodisponibilidade; Interações de Nutrientes • CARBOIDRATOS: A lactose favorece absorção de cálcio e zinco. A frutose forma quelatos de grande estabilidade com o ferro, aumentando significativamente sua absorção; • VITAMINA C: aumenta a absorção de ferro não heme (I ou férrico) que apresenta baixa biodisponibilidade – 5 a 10%, encontrado nos alimentos vegetais; • VITAMINA A: reduz a absorção de vitamina E. Altas concentrações de vitamina A leva à destruição oxidativa da vitamina E; • VITAMINA D: promove a absorção do cálcio e fósforo dietético no intestino delgado. Interações de Nutrientes • Na mucosa intestinal: ocorre durante a passagem do nutriente pelo enterócito ou sua liberação para a circulação sanguínea. • Um exemplo é a interação negativa entre o cálcio e o ferro. A grande maioria dos estudos mostra que, o cálcio inibe a absorção do ferro durante a absorção intestinal. Porém, algumas pesquisas (a minoria delas) observaram este efeito negativo somente com o ferro não heme (férrico ou I), presente em alimentos vegetais. • Desta forma, torna-se mais provável que essa interação seja negativa que positiva, o que reforça a tese que se devem ingerir os alimentos fontes de ferro separadamente daqueles fontes de cálcio. • O heme é uma molécula não protéica (grupo prostético) de algumas proteínas. O radical heme consta de uma parte orgânica (protoporfirina IX) e um átomo de ferro (quelato), onde a protoporfirina IX é um anel e o ferro está no centro deste anel. O radical heme é responsável por enlaçar o oxigênio na hemoglobina. 1. PIRIDOXINA (vit. B6): co-fator enzimático de reações do metabolismo dos ácidos graxos essenciais; 2. TIAMINA (vit. B1), RIBOFLAVINA (vit. B2) E NIACINA (vit. B3): constituintes de coenzimas necessárias para o metabolismo energético; ¾ VITAMINA D: realiza a absorção de cálcio nos ossos; 3. CÁLCIO: a vitamina B12 (cobalamina) é absorvida somente na presença do cálcio. 4. DEFICIÊNCIA DO SOLO: há uma diminuição significativa de minerais em alimentos vegetais decorrente da exaustão do solo e/ou do uso incorreto de adubos; 5. REFINO: no arroz branco ocorre perda de 75% do conteúdo de cromo e zinco e 26- 45% do conteúdo de cobre, manganês e cobalto. Na farinha refinada, foi observado cerca de 90% de perda do ferro. 6. DIMINUIÇÃO DE PRODUÇÃO DE ÁCIDO CLORÍDRICO: o ácido clorídrico no estômago é decisivo na preparação do alimento para absorção de seus componentes nutricionais. A partir dos 35-40 anos diminui-se a produção no organismo; 7. SEQÜESTRO DOS MINERAIS: fitatos, oxalatos e taninos; 8. PERDAS EXCESSIVAS: as perdas excessivas ocorrem em várias circunstâncias, como aumento da eliminação de líquidos orgânicos através da transpiração, diarréia, urina, sangramento, vômitos; Biodisponibilidade CUIDADOS COM A NUTRIÇÃO 1. Aplicar técnicas de preparo que minimizem os fatores antinutricionais dos alimentos, como deixar as leguminosas de remolho durante no mínimo 1 hora, e desprezar a água de cocção, para eliminar na água as substâncias fenólicas (taninos), e também coccionar alimentos vegetais para inativar os inibidores de proteases pelo aquecimento; 2. Evitar o uso simultâneo de alimentos com o mesmo fator antinutricional, como leguminosas (feijão, lentilha, ervilha). 3. Indivíduos que restringem alimentos devem ser acompanhados quanto ao seu estado nutricional, clínica e bioquimicamente. Um exemplo são os vegetarianos, que podem sofrer carência de nutrientes como o ferro, iodo, zinco, cálcio, vitaminas A, D, B1, B2, B12. 4. Utilizar diariamente alimentos ricos em fibra, porém sem ultrapassar os limites recomendados. O excesso contém teor elevado de fitatos e oxalatos; 5. Associar à ingestão de alimentos vegetais ricos em ferro, fontes alimentares de vitamina C; 5. Aumentar o fracionamento das refeições (4 a 6 refeições/dia), pois garante o equilíbrio do organismo. Exemplo, o café da manhã deve ser rico em cálcio, assim como o almoço rico em proteínas, ferro e vitaminas; 6. Servir, em refeições distintas, alimentos ricos em cálcio (leite e derivados) das fontes alimentares de ferro (carne e alguns vegetais); 5. Evitar o consumo de café e chás mate e preto imediatamente após as grandes refeições. CUIDADOS COM A NUTRIÇÃO 22/09/2013 8