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Interpretação Norma Tributária

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Módulo Tributo e Segurança Jurídica
SEMINÁRIO IV - INTERPRETAÇÃO, VALIDADE, VIGÊNCIA E EFICÁCIA DA NORMA TRIBUTÁRIA
Leitura básica
•	CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário: linguagem e método. 8. ed. São Paulo: Noeses, 2021, Capítulo III, primeira parte da obra e, item 2.4 (Sistema e norma: validade, vigência, eficácia e interpretação da legislação tributária) da segunda parte do livro.
•	CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 32 ed. São Paulo: Noeses, 2022, Capítulo IV. 
•	CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Tributário: Fundamentos Jurídicos da Incidência. 11. ed. rev. e atual. São Paulo: Noeses, 2021, Capítulo I, itens 15 (Validade como relação de pertinência da norma com o sistema), 16, 17 e 18 (A interpretação do direito e os limites da interdisciplinariedade). 
Leitura complementar
•	BEZERRA NETO, Bianor Arruda. O que define um julgamento e quais são os limites do juiz: valores, hermenêutica e argumentação para a construção de uma teoria da decisão judicial. São Paulo: Noeses, 2017. Capítulo 3 e 4.
•	CARVALHO, Paulo de Barros. O absurdo da interpretação econômica do “fato gerador” – Direito e sua autonomia – O paradoxo da interdisciplinaridade. Revista de Direito Tributário, n. 97. 
•	CARVALHO, Paulo de Barros. Derivação e positivação no direito tributário. v.1. 2 Ed. São Paulo: Noeses, 2014, Tema II (As normas interpretativas no direito tributário: análise do art. 3º da Lei Complementar n. 118/05 e seus efeitos jurídicos).
· DALLA PRIA, Rodrigo. Constructivismo jurídico e interpretação concretizadora: dialogando com Paulo de Barros Carvalho e Friedrich Muller. In: VIII Congresso Nacional de Estudos Tributários: derivação e positivação no direito tributário. São Paulo: Noeses, 2011.
•	GAMA, Tácio Lacerda. Competência tributária, fundamentos para uma teoria da nulidade. 3.ed. São Paulo: Noeses, 2020. Capítulo 11.
•	MOUSSALLEM, Tárek Moysés. Revogação em matéria tributária. 2.ed. São Paulo: Noeses, 2011. Itens 3.5 a 3.8 do Capítulo III.
Questões
1. Que significa afirmar que uma norma “N” é válida? Diferençar: (i) validade, (ii) vigência; (iii) eficácia jurídica; (iv) eficácia técnica e (v) eficácia social. Responda, fundamentadamente, o que entende acerca da validade, vigência e eficácia jurídica da norma introdutora e da norma introduzida (Considere em sua resposta a problemática da ADC 84)[footnoteRef:1]. [1: 
TRECHO DA PETIÇÃO INICIAL DA ADC 84
No apagar das luzes de 2022, mais precisamente no dia 30 de dezembro de 2022, sem que houvesse participante do govern de transito, foi editado pelo então Vice-Presidente da República, no exercício do cargo de Presidente, o Decreto n° 11.322/2022, que reduziu a metade as alíquotas de PIS/PASEP e COFINS sobre receitas financeiras auferidas por pessoas jurídicas sujeitas ao regime de apuração não-cumulativa de tais contribuições. 
...
Deve-se atentar ainda, para uma particularidade: não obstante o decreto tenha sido editado no dia 30 de dezembro (sexta-feira), havia previsão expressa, no seu artigo 2°, de que a produção de efeitos se daria a partir de 1° de Janeiro de 2023 (domingo e feriado nacional).
No dia 1° de Janeiro de 2023, sobreveio o Decreto n° 11.374/2023, objeto da presente ação declaratória, que entrou em vigor na mesma data (artigo 4°) e revogou imediatamente as disposições do diploma anterior, repristinando, por conseguinte, as alíquotas de PIS/COFINS sobre as receitas financeiras constantes do Decreto n° 8.426/2015.
O cenário, em síntese, é o seguinte: o Decreto n° 11.322/2022 entrou em vigor no dia 30/12/2022 com previsão expressa de produção de efeitos somente a partir de 171/2023, mas foi revogado pelo Decreto n° 11.374/2023, justamente nesta mesma data, com a manutenção do percentual das alíquotas anteriormente vigentes desde 2015.
Não é difícil perceber que a redução de alíquota implementada pelo Decreto n° 11.322/2022 jamais chegou a se aplicar, porquanto revogada no mesmo dia em que se iniciaria a sua eficácia. Trata-se de uma disposição natimorta, que nao veio a produzir efeitos na esfera jurídica dos contribuintes.] 
RESPOSTA: Quando se afirma que uma norma “N” é válida, quer dizer que ela pertence ao sistema “S”. Segundo Paulo de Barros Carvalho, “a validade consiste no vínculo que se estabelece entre a proposição normativa e o sistema de direito posto”.[footnoteRef:2] [2: CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário: linguagem e método. 8. ed. São Paulo: Noeses, 2021.] 
Isto posto, a vigência consiste na propriedade das regras que estão prontas para expandir efeitos.
Eficácia jurídica: é um atributo atrelado aos enunciados normativos e consiste naquilo que se exige, judicialmente se necessário, com fundamento em cada um deles. Segundo Ana Paula Barcellos, 
A construção da eficácia jurídica das normas em geral e das normas constitucionais em particular demanda a identificação/construção: (i) do efeito ou efeitos que o comando normativo pretende produzir (esse é um ponto particularmente sensível quando se trate de princípios); (ii) das condutas que realizam esse efeito ou das condutas diretamente descritas pelo enunciado; (iii) dos destinatários dessas condutas, isto é, aqueles a quem o enunciado atribui deveres; (iv) os beneficiários dessas condutas; e, por fim, (v) quais são afinal as consequências que os beneficiários podem exigir (ou alguém por eles) diante do descumprimento, pelos destinatários, das condutas exigidas pelo comando: essas consequências serão designadas aqui especificamente de modalidades de eficácia jurídica.[footnoteRef:3] [3: BARCELLOS, Ana Paula. Eficácia das normas constitucionais. PUCSP,2017. Disponível em: https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/135/edicao-1/eficacia-das-normas-constitucionais acesso 22 de set. de 2023.] 
Ou seja, a eficácia jurídica seria o mecanismo lógico da incidência. Logo, quando ocorrer o fato antecedente, este incidirá os efeitos previstos .
Eficácia técnica: é a condição que a regra de direito possui para descrever acontecimentos, que já ocorrem e podem difundir efeitos jurídicos que já foram sanados, evitando assim a sua propagação.
Eficácia social: é como uma comunidade aceita as regras de ordem jurídica historicamente.
2. Descreva o percurso gerador de sentido dos textos jurídicos explicando os planos: (i) dos enunciados tomados no plano da expressão (S1); (ii) dos conteúdos de significação dos enunciados prescritivos (S2); (iii) das significações normativas (S3); (iv) das relações entre normas (S4). Estabeleça relação entre “fontes do direito”, “validade” e “hierarquia” das normas jurídicas?
RESPOSTA: Pode-se dizer que o plano dos enunciados tomados no plano da expressão é considerado como o primeiro com o que o intérprete se depara. Uma vez iniciado o processo de interpretação construindo os conteúdos significativos legislados ordenando as normas jurídicas. E assim, articulando essas entidades para se construir um domínio.
Conteúdos de significação dos enunciados prescritivos: ocorre quando o intérprete já passou pela fase incial da interpretação, ou seja, é uma estado intermediário.
Significações normativas: é o meio pelo qual o intérprete obtém compreensão daquilo que está sendo interpretado, através da estruturação e interpretação na forma hipotético – condicional para que ocorra as preposições normativas e assim revele o conteúdo prescritivo.
Das relações entre as normas: depois que se chega a construção de uma norma, resta ao intérprete situá-la dentro do sistema de significações estabelecendo assim vínculos de subordinação e coordenação entre elas.
Fontes de direito: consiste em a origem primaria. Trata-se da fonte real ou material, dos fatores reais que condicionaram o aparecimento da norma juridica.
Validade: a validade pose ser apenas a validez de um outra norma denominada superior. Segundo Kelsen, 
É fonte jurídica a norma superior que regula a produção da norma inferior. A fonte jurídica só pode ser o direito, pelo fato de que ele regula a sua própria criação, já que a norma inferior só será válida quandofor criada por órgão competente e segundo certo procedimento previsto em norma superior. Para essa concepção, entende-se, também por fonte jurídica a norma hipotética fundamental que confere o fundamento último de validade da ordem jurídica, por ser impossível encontrar na ordenação jurídica o fundamento positivo para a Constituição. Essa norma básica foi, por Kelsen, designada constituição no sentido lógico-jurídico, diferenciando-a assim da Constituição em sentido lógico-positivo. Essa norma fundamental diz apenas que se deve obedecer ao poder que estabelece a ordem jurídica, mantendo a ideia de que uma norma somente pode originar-se de outra, da qual retira sua validez.[footnoteRef:4] [4: KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. Apud DINIZ, Maria Helena. Fontes do direito. PUCSP. São Paulo, 2017. Disponível em: https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/157/edicao-1/fontes-do-direito acesso 22 de set. de 2023.] 
Hierarquia: ou seja, uma norma somente pode originar-se de outra, retirando assim a validez da primeira.
3. Há um sentido correto para os textos jurídicos? Faça uma crítica aos métodos hermenêuticos tradicionais. É possível falar em interpretação teleológica e literal no direito tributário? E em interpretação econômica? Justifique. (Vide anexos I e II).
RESPOSTA: Não existe um entido correto para os textos jurídicos, embora haja uma valoração emitida pelo homem de acordo com suas experiencias e cultura.
Aurora Tomazini pontua que, 
O intérprete se depara com todo aquele conjunto de enunciados prescritivos, desprovidos de qualquer valor, mas indicativos da existência de uma valoração por parte do legislador, passa a interpretá-los, adjudicando valores aos símbolos positivados e, com isso, vai construindo seu sentido para concretizar certos valores, que segundo sua construção, o legislador quis implementar.[footnoteRef:5] [5: TOMAZINI, Aurora. Curso de teoria geral do direito. São Paulo: Noeses, 2014.] 
Isto porque, os métodos hermenêuticos tradicionais interpretam de acordo como texto prescritivo o que se contrapõe ao ponto de vista que considera que as significações são criadas, produzidas e elaboradas pelos intérpretes.
A base da hermenêutica tradicional está pautada da significação, cabendo ao intérprete apenas exteriorizá-lo. Entretanto, por mais claro que a lei pareça ser, o sentido sempre passará pelo processo interpretativo levando em conta valores dado pelo intérprete.
4. A Lei “A” foi promulgada no dia 01/06/12 e publicada no dia 30 de junho desse mesmo mês e ano. A Lei “B” foi promulgada no dia 10/06/12, tendo sido publicada no dia 20 desse mesmo mês e ano. Na hipótese de antinomia entre os dois diplomas normativos, qual deles deve prevalecer? Justificar.
RESPOSTA: A lei que deverá prevalecer será a leie A. Isso porque, mesmo que tenha sido criada antes, mas sua validade foi a partir da comunicação sobrepondo assim a lei B.
5. Compete ao legislativo a positivação de interpretações? Existe lei puramente interpretativa? Tem aplicabilidade o art. 106, I, do CTN ao dispor que a lei tributária interpretativa se aplica ao fato pretérito? Como confrontar este dispositivo do CTN com o princípio da irretroatividade? (Vide anexos III e IV).
RESPOSTA: Sim, compete ao legislativo, uma vez que antes da interpretação não há norma. É através da construção interpretativa do legislativo que são criadas as normas que serão positivadas. 
A lei não pode ser vista como puramente interpretativa, pois cabe ao intérprete contruir interpretações e significações da norma, sendo cada qual objeto de uma realidade diferente e particular. Desse modo, não o que se falar em com toda certeza que a norma jurídica terá a mesma interpretação para todos.
A lei interpretativa se aplica ao fato pretérito quando privilegia o contribuinte. Logo, o confronto entre o artigo em comento do CTN com o princípio da irretroatividade só ocorrerá quando o contribuinte for beneficiário.
6.	Dada a seguinte lei fictícia, responder às questões que seguem:
	Lei ordinária federal n. 10.001, de 10/10/2016 (DO de 01/11/2016)
	Art. 1º Esta taxa de licenciamento de veículo tem como fato gerador a propriedade de veículo automotor com registro de domicílio no território nacional.
	Art. 2º A base de cálculo dessa taxa é o valor venal do veículo.
	Parágrafo único. A alíquota é de 1%.
	Art. 3º Contribuinte é o proprietário do veículo.
	Art. 4º Dá-se a incidência dessa taxa no primeiro dia do quarto mês de cada exercício, devendo o contribuinte que se encontrar na situação descrita pelo art. 1º dessa lei, desde logo, informar até o décimo dia deste mesmo mês, em formulário próprio (FORMGFA043), o valor venal, o tipo, a marca, o ano e a cilindrada do respectivo veículo.
	Art. 5º A importância devida, a título de taxa, deve ser recolhida até o décimo dia do mês subsequente, sob pena de multa de 10% sobre o valor do tributo devido.
	Art. 6º Diante da não emissão do formulário (FORMGFA043) na data aprazada, poderá, a autoridade fiscal competente lavrar Auto de Infração e Imposição de Multa, em decorrência da não observância dessa obrigação, impondo multa de 50% sobre o valor do tributo devido.
	(...)
	a) Em 01/06/2019, o Supremo Tribunal Federal decidiu, em ação direta (com efeito erga omnes), pela inconstitucionalidade desta lei federal. Identificar nas datas abaixo fixadas, segundo os critérios indicados, a situação jurídica da regra que instituiu o tributo, justificando cada uma das situações:
	Critérios\ datas
	11/10/2016
	01/11/2016
	01/02/2017
	01/04/2017
	01/07/2019
	É válida
	SIM
	SIM 
	SIM 
	SIM
	NÃO
	É vigente
	NÃO
	SIM
	SIM
	SIM 
	NÃO 
	Incide
	NÃO 
	NÃO
	NÃO
	SIM
	NÃO
	Apresenta eficácia jurídica
	NÃO 
	NÃO
	SIM
	SIM
	NÃO
A lei é válida quando inserida no sistema. Dessa forma, ela será válida de 11/10/2016 até 31/05/2019 ela foi revogada.
Em 01/11/2016 a norma foi publicada passando a pertencer ao sistema de normas brasileiras.
Em 01/02/2017 passou-se 90 dias da data de publicação e já estariamos no próximo exercício financeiro. Portanto, a norma já seria válida e vigente e apta para produzir seus efeitos.
Em 01/04/2017 daria sua incidência quando da ocorrência do fato descrito na hipótese normativa e sua verificação no direito possuindo assim eficácia técnica e jurídica.
Em 01/07/2019 a norma foi retirada do ordenamento jurídico por ser inconstitucional, deixando de pertencer ao conjunto de normas do direito positivo.
7.	Uma lei inconstitucional (produzida materialmente em desacordo com a Constituição Federal – porém ainda não submetida ao controle de constitucionalidade) é válida? O vício de inconstitucionalidade pode ser sanado por emenda constitucional posterior? (Vide anexo V).
RESPOSTA: Sim a norma é válida, pois, ela foi produzida em desacordo com a Constituição Federal. Quanto ao vício de inconstitucionalidade este não pode ser sanado por meio de emenda constitucional posterior porque o ordenamento jurídico brasileiro nao contempla a constitucionalidade superviente, ainda mais que a norma seja válida, ela já nasceu maculada de inconstitucionalidade, não havendo assim remédio que repare o vício.
REFERÊNCIAS
BARCELLOS, Ana Paula. Eficácia das normas constitucionais. PUCSP,2017. Disponível em: https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/135/edicao-1/eficacia-das-normas-constitucionais acesso 22 de set. de 2023.
CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário: linguagem e método. 8. ed. São Paulo: Noeses, 2021.
KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. Apud DINIZ, Maria Helena. Fontes do direito. PUCSP. São Paulo, 2017. Disponível em: https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/157/edicao-1/fontes-do-direito acesso 22 de set. de 2023.
TOMAZINI, Aurora. Curso de teoria geral do direito. São Paulo: Noeses, 2014.
 
	 
Sugestão para pesquisa suplementar
•	Capítulos 8 e 9 do livro “Uma teoria retórica da norma jurídica e do direito subjetivo”.ADEODATO, João Maurício. 2. ed. São Paulo: Noeses, 2014.
•	Capítulo VII do livro “Curso de teoria geral do direito: o constructivismo lógico-semântico” . CARVALHO, Aurora Tomazini de. 6. ed. São Paulo: Noeses, 2019. 
•	Artigo: “O artigo 3º da lei complementar 118/2005, princípio da irretroatividade e lei interpretativa”, de Paulo de Barros Carvalho. 
•	Artigo: “Competências comunicativas e o tema da validade no direito”, de Tácio Lacerda Gama, in Constructivismo lógico-semântico, vol. I, Paulo de Barros Carvalho (Coord.). São Paulo: Noeses.
•	Artigo: “Teoria dos valores e a importância dos princípios na interpretação do direito”, de Olívia Tonello Mendes Ferreira, in Constructivismo lógico-semântico, vol. I, Paulo de Barros Carvalho (Coord.). São Paulo: Noeses.
•	Itens 1.9 e 1.10, do Capítulo 1 do livro A prova no direito tributário, de Fabiana Del Padre Tomé. São Paulo: Noeses.
•	Item 4.3.2 – “Conceptualização dogmática do ordenamento: validade, vigência, eficácia e força” do livro Introdução ao estudo do direito, de Tercio Sampaio Ferraz Júnior. São Paulo: Saraiva.
•	Capítulo III do livro A validade jurídica pré e pós-giro linguístico, de Sônia Maria Broglia Mendes. São Paulo: Noeses. 
•	Capítulo I do livro Os limites à interpretação da norma tributária, de Tathiane dos Santos Piscitelli. São Paulo: Quartier Latin.
•	Capítulo III, itens 4.3.1 a 4.3.3, do livro Tributação do comércio eletrônico, de Daniela de Andrade Braghetta. São Paulo: Quartier Latin.
•	Itens 3.6 e 3.7 do Cap. III do livro Ficções jurídicas no direito tributário, de Cristiano Carvalho. São Paulo: Noeses.
•	Artigo: “Interpretação restritiva no direito tributário”, de Tárek Moysés Moussallem, in VII Congresso Nacional de Estudos Tributários do IBET.
Anexo I
RE 606.107/RS
DJ 25/11/2013
IMUNIDADE. HERMENÊUTICA. CONTRIBUIÇÃO AO PIS E COFINS. NÃO INCIDÊNCIA. TELEOLOGIA DA NORMA. EMPRESA EXPORTADORA. CRÉDITOS DE ICMS TRANSFERIDOS A TERCEIROS. 
I – Esta Suprema Corte, nas inúmeras oportunidades em que debatida a questão da hermenêutica constitucional aplicada ao tema das imunidades, adotou a interpretação teleológica do instituto, a emprestar-lhe abrangência maior, com escopo de assegurar à norma supralegal máxima efetividade. 
II – A interpretação dos conceitos utilizados pela Carta da República para outorgar competências impositivas (entre os quais se insere o conceito de “receita” constante do seu art. 195, I, “b”) não está sujeita, por óbvio, à prévia edição de lei. Tampouco está condicionada à lei a exegese dos dispositivos que estabelecem imunidades tributárias, como aqueles que fundamentaram o acórdão de origem (arts. 149, § 2º, I, e 155, § 2º, X, “a”, da CF). Em ambos os casos, trata-se de interpretação da Lei Maior voltada a desvelar o alcance de regras tipicamente constitucionais, com absoluta independência da atuação do legislador tributário. 
III – A apropriação de créditos de ICMS na aquisição de mercadorias tem suporte na técnica da não cumulatividade, imposta para tal tributo pelo art. 155, § 2º, I, da Lei Maior, a fim de evitar que a sua incidência em cascata onere demasiadamente a atividade econômica e gere distorções concorrenciais. 
IV – O art. 155, § 2º, X, “a”, da CF – cuja finalidade é o incentivo às exportações, desonerando as mercadorias nacionais do seu ônus econômico, de modo a permitir que as empresas brasileiras exportem produtos, e não tributos -, imuniza as operações de exportação e assegura “a manutenção e o aproveitamento do montante do imposto cobrado nas operações e prestações anteriores”. Não incidem, pois, a COFINS e a contribuição ao PIS sobre os créditos de ICMS cedidos a terceiros, sob pena de frontal violação do preceito constitucional. 
V – O conceito de receita, acolhido pelo art. 195, I, “b”, da Constituição Federal, não se confunde com o conceito contábil. Entendimento, aliás, expresso nas Leis 10.637/02 (art. 1º) e Lei 10.833/03 (art. 1º), que determinam a incidência da contribuição ao PIS/PASEP e da COFINS não cumulativas sobre o total das receitas, “independentemente de sua denominação ou classificação contábil”. Ainda que a contabilidade elaborada para fins de informação ao mercado, gestão e planejamento das empresas possa ser tomada pela lei como ponto de partida para a determinação das bases de cálculo de diversos tributos, de modo algum subordina a tributação. A contabilidade constitui ferramenta utilizada também para fins tributários, mas moldada nesta seara pelos princípios e regras próprios do Direito Tributário. Sob o específico prisma constitucional, receita bruta pode ser definida como o ingresso financeiro que se integra no patrimônio na condição de elemento novo e positivo, sem reservas ou condições. 
VI – O aproveitamento dos créditos de ICMS por ocasião da saída imune para o exterior não gera receita tributável. Cuida-se de mera recuperação do ônus econômico advindo do ICMS, assegurada expressamente pelo art. 155, § 2º, X, “a”, da Constituição Federal. 
VII – Adquirida a mercadoria, a empresa exportadora pode creditar-se do ICMS anteriormente pago, mas somente poderá transferir a terceiros o saldo credor acumulado após a saída da mercadoria com destino ao exterior (art. 25, § 1º, da LC 87/1996). Porquanto só se viabiliza a cessão do crédito em função da exportação, além de vocacionada a desonerar as empresas exportadoras do ônus econômico do ICMS, as verbas respectivas qualificam-se como decorrentes da exportação para efeito da imunidade do art. 149, § 2º, I, da Constituição Federal. 
VIII – Assenta esta Suprema Corte a tese da inconstitucionalidade da incidência da contribuição ao PIS e da COFINS não cumulativas sobre os valores auferidos por empresa exportadora em razão da transferência a terceiros de créditos de ICMS. 
IX – Ausência de afronta aos arts. 155, § 2º, X, 149, § 2º, I, 150, § 6º, e 195, caput e inciso I, “b”, da Constituição Federal. Recurso extraordinário conhecido e não provido, aplicando-se aos recursos sobrestados, que versem sobre o tema decidido, o art. 543-B, § 3º, do CPC. 
Anexo II
REsp 1.325.709/RJ
DJ 20/05/2014
MANDADO DE SEGURANÇA DENEGADO NA ORIGEM. APELAÇÃO. EFEITO APENAS DEVOLUTIVO. PRECEDENTE. NULIDADE DOS ACÓRDÃOS RECORRIDOS POR IRREGULARIDADE NA CONVOCAÇÃO DE JUIZ FEDERAL. NÃO PREQUESTIONAMENTO. SÚMULAS 282 E 356/STF. IRPJ E CSLL. LUCROS OBTIDOS POR EMPRESAS CONTROLADAS NACIONAIS SEDIADAS EM PAÍSES COM TRIBUTAÇÃO REGULADA. PREVALÊNCIA DOS TRATADOS SOBRE BITRIBUTAÇÃO ASSINADOS PELO BRASIL COM A BÉLGICA (DECRETO 72.542/73), A DINAMARCA (DECRETO 75.106/74) E O PRINCIPADO DE LUXEMBURGO (DECRETO 85.051/80). EMPRESA CONTROLADA SEDIADA NAS BERMUDAS. ART. 74, CAPUT DA MP 2.157-35/2001. DISPONIBILIZAÇÃO DOS LUCROS PARA A EMPRESA CONTROLADORA NA DATA DO BALANÇO NO QUAL TIVEREM SIDO APURADOS, EXCLUÍDO O RESULTADO DA CONTRAPARTIDA DO AJUSTE DO VALOR DO INVESTIMENTO PELO MÉTODO DA EQUIVALÊNCIA PATRIMONIAL. 
1. Afasta-se a alegação de nulidade dos acórdãos regionais ora recorridos, por suposta irregularidade na convocação de Juiz Federal que funcionou naqueles julgamentos, ou na composição da Turma Julgadora; inocorrência de ofensa ao Juiz Natural, além de ausência de prequestionamento. Súmulas 282 e 356/STF. Precedentes desta Corte. 
2. Salvo em casos excepcionais de flagrante ilegalidade ou abusividade, ou de dano irreparável ou de difícil reparação, o Recurso de Apelação contra sentença denegatória de Mandado de Segurança possui apenas o efeito devolutivo. Precedente: AgRg no AREsp. 113.207/SP, Rel. Min. CASTRO MEIRA, DJe 03/08/2012. 
3. A interpretação das normas de Direito Tributário não se orienta e nem se condiciona pela expressão econômica dos fatos, por mais avultada que seja, do valor atribuído à demanda, ou por outro elemento extrajurídico; a especificidade exegética do Direito Tributário não deriva apenas das peculiaridades evidentes da matéria jurídica por ele regulada, mas sobretudo da singularidade dos seus princípios, sem cuja perfeita absorção e efetivação, o afazer judicial se confundiria com as atividades administrativas fiscais. 
4.O poder estatal de arrecadar tributos tem por fonte exclusiva o sistema tributário, que abarca não apenas a norma regulatória editada pelo órgão competente, mas também todos os demais elementos normativos do ordenamento, inclusive os ideológicos, os sociais, os históricos e os operacionais; ainda que uma norma seja editada, a sua efetividade dependerá de harmonizar-se com as demais concepções do sistema: a compatibilidade com a hierarquia internormativa, os princípios jurídicos gerais e constitucionais, as ilustrações doutrinárias e as lições da jurisprudência dos Tribunais, dentre outras. 
5. A jurisprudência desta Corte Superior orienta que as disposições dos Tratados Internacionais Tributários prevalecem sobre as normas de Direito Interno, em razão da sua especificidade. Inteligência do art. 98 do CTN. Precedente: (RESP 1.161.467-RS, Rel. Min. CASTRO MEIRA, DJe 01.06.2012). 
6. O art. VII do Modelo de Acordo Tributário sobre a Renda e o Capital da OCDE utilizado pela maioria dos Países ocidentais, inclusive pelo Brasil, conforme Tratados Internacionais Tributários celebrados com a Bélgica (Decreto 72.542/73), a Dinamarca (Decreto 75.106/74) e o Principado de Luxemburgo (Decreto 85.051/80), disciplina que os lucros de uma empresa de um Estado contratante só são tributáveis nesse mesmo Estado, a não ser que a empresa exerça sua atividade no outro Estado Contratante, por meio de um estabelecimento permanente ali situado (dependência, sucursal ou filial); ademais, impõe a Convenção de Viena que uma parte não pode invocar as disposições de seu direito interno para justificar o inadimplemento de um tratado (art. 27), em reverência ao princípio basilar da boa-fé. 
7. No caso de empresa controlada, dotada de personalidade jurídica própria e distinta da controladora, nos termos dos Tratados Internacionais, os lucros por ela auferidos são lucros próprios e assim tributados somente no País do seu domicílio; a sistemática adotada pela legislação fiscal nacional de adicioná-los ao lucro da empresa controladora brasileira termina por ferir os Pactos Internacionais Tributários e infringir o princípio da boa-fé nas relações exteriores, a que o Direito Internacional não confere abono. 
8. Tendo em vista que o STF considerou constitucional o caput do art. 74 da MP 2.158-35/2001, adere-se a esse entendimento, para considerar que os lucros auferidos pela controlada sediada nas Bermudas, País com o qual o Brasil não possui acordo internacional nos moldes da OCDE, devem ser considerados disponibilizados para a controladora na data do balanço no qual tiverem sido apurados. 
9. O art. 7º, § 1º da IN/SRF 213/02 extrapolou os limites impostos pela própria Lei Federal (art. 25 da Lei 9.249/95 e 74 da MP 2.158-35/01) a qual objetivou regular; com efeito, analisando-se a legislação complementar ao art. 74 da MP 2.158-35/01, constata-se que o regime fiscal vigorante é o do art. 23 do DL 1.598/77, que em nada foi alterado quanto à não inclusão, na determinação do lucro real, dos métodos resultantes de avaliação dos investimentos no Exterior, pelo método da equivalência patrimonial, isto é, das contrapartidas de ajuste do valor do investimento em sociedades estrangeiras controladas. 
10. Ante o exposto, conheço do recurso e dou-lhe parcial provimento, concedendo em parte a ordem de segurança postulada, para afirmar que os lucros auferidos nos Países em que instaladas as empresas controladas sediadas na Bélgica, Dinamarca e Luxemburgo, sejam tributados apenas nos seus territórios, em respeito ao art. 98 do CTN e aos Tratados Internacionais em causa; os lucros apurados por Brasamerican Limited, domiciliada nas Bermudas, estão sujeitos ao art. 74, caput da MP 2.158-35/2001, deles não fazendo parte o resultado da contrapartida do ajuste do valor do investimento pelo método da equivalência patrimonial. 
Anexo III
ADI-MC n. 6053/DF
DJe 27/06/2019
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE – MEDIDA PROVISÓRIA DE CARÁTER INTEPRETATIVO – LEIS DE CONVERSÃO POR MEDIDA PROVISÓRIA – PRINCÍPIO DA IRRETROATIVIDADE – CARÁTER RELATIVO – LEIS INTERPRETATIVAS E APLICAÇÃO RETROATIVA – REITERAÇÃO DE MEDIDA PROVISÓRIA SOBRE MATÉRIA APRECIADA E REJEITADA PELO CONGRESSO NACIONAL – PLAUSIBILIDADE JURÍDICA – AUSÊNCIA DO “PERICULUM IN MORA” – INDEFERIMENTO DA CAUTELAR.
– É plausível, em face do ordenamento constitucional brasileiro, o reconhecimento da admissibilidade das leis interpretativas, que configuram instrumento juridicamente idôneo de veiculação da denominada interpretação autêntica.
– As leis interpretativas – desde que reconhecida a sua existência em nosso sistema de direito positivo – não traduzem usurpação das atribuições institucionais do Judiciário e, em consequência, não ofendem o postulado fundamental da divisão funcional do poder.
– Mesmo as leis interpretativas expõem-se ao exame e à interpretação dos juízes e tribunais. Não se revelam, assim, espécies normativas imunes ao controle jurisdicional.
– A questão da interpretação de leis de conversão por medida provisória editada pelo Presidente da República.
– O princípio da irretroatividade somente condiciona a atividade jurídica do Estado nas hipóteses expressamente previstas pela Constituição, em ordem a inibir a ação do Poder Público eventualmente configuradora de restrição gravosa (a) ao “status libertatis” da pessoa (CF, art. 5º, XL), (b) ao “status subjectionis” do contribuinte em matéria tributária (CF, art. 150, III, “a”) e (c) à segurança jurídica no domínio das relações sociais (CF, art. 5º, XXXVI).
– Na medida em que a retroprojeção normativa da lei não gere e nem produza os gravames referidos, nada impede que o Estado edite e prescreva atos normativos com efeito retroativo.
– As leis, em face do caráter prospectivo de que se revestem, devem, ordinariamente, dispor para o futuro. O sistema jurídico-constitucional brasileiro, contudo, não assentou, como postulado absoluto, incondicional e inderrogável, o princípio da irretroatividade.
* Sobre a matéria – vide RE n. 566.621/RJ, que representa posição firmada pelo STF sobre o assunto.
Anexo IV
RE 753.705 AgRg/SC
DJ 05/01/2013
PRAZO PARA REPETIÇÃO OU COMPENSAÇÃO DE INDÉBITO TRIBUTÁRIO. IMPOSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO RETROATIVA DAS NORMAS INSCRITAS NOS ARTS. 3º E 4º DA LC N. 118/2005, NOTADAMENTE DAQUELA QUE SE REVESTIRIA DO CARÁTER DE INTERPRETAÇÃO AUTÊNTICA (LC N. 118/2005, ART. 3º). Descaracterização da natureza interpretativa de referido preceito legal, que introduziu, no tema, evidente inovação material de índole normativa. Perfil das leis interpretativas no sistema de direito positivo brasileiro. Inteira submissão de seus aspectos formais e de seu conteúdo material ao permanente controle de constitucionalidade do poder judiciário (ADI 605-MC/DF, rel. Min. Celso de Mello). Incolumidade de situações jurídicas definitivamente consolidadas, tais como previstas no inciso XXXVI do art. 5º da lei fundamental, como expressão concretizadora do princípio constitucional da segurança jurídica. Precedente emanado do plenário do supremo tribunal federal, firmado em julgamento de recurso extraordinário (RE 566.621/RS), em cujo âmbito também se reconheceu a existência de repercussão geral. Compensação do PIS/COFINS (lei n. 9.718/98) com outros tributos. Alegada violação a preceitos constitucionais. Ofensa indireta à constituição. Contencioso de mera legalidade. Agravo improvido. RE 753.705 AgR/SC, DJ 05/01/2013.
Anexo V
RE n. 346.084/PR
DJ 01/09/2006
CONSTITUCIONALIDADE SUPERVENIENTE – ARTIGO 3º, § 1º, DA LEI N. 9.718, DE 27 DE NOVEMBRO DE 1998 – EMENDA CONSTITUCIONAL N. 20, DE 15 DE DEZEMBRO DE 1998. O sistema jurídico brasileiro não contempla a figura da constitucionalidade superveniente.
TRIBUTÁRIO – INSTITUTOS – EXPRESSÕES E VOCÁBULOS – SENTIDO. A norma pedagógica do artigo 110 do Código Tributário Nacional ressalta a impossibilidade de a lei tributária alterar a definição, o conteúdo e o alcance de consagrados institutos, conceitos e formas de direito privado utilizados expressa ou implicitamente.
Sobrepõe-se ao aspecto formal o princípioda realidade, considerados os elementos tributários.
CONTRIBUIÇÃO SOCIAL – PIS – RECEITA BRUTA – NOÇÃO – INCONSTITUCIONALIDADE DO § 1º DO ARTIGO 3º DA LEI N. 9.718/98.
A jurisprudência do Supremo, ante a redação do artigo 195 da Carta Federal anterior à Emenda Constitucional n. 20/98, consolidou-se no sentido de tomar as expressões receita bruta e faturamento como sinônimas, jungindo-as a venda de mercadorias, de serviços ou de mercadorias e serviços.
É inconstitucional o § 1º do artigo 3º da Lei n. 9.718/98, no que ampliou o conceito de receita bruta para envolver a totalidade das receitas auferidas por pessoas jurídicas, independentemente da atividade por elas desenvolvida e da classificação contábil adotada.
 
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