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1 / 29 EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) DE UMA DAS VARAS FEDERAIS DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DO PERNAMBUCO, Tema: Adesão às medidas de desoneração fiscal do Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (PERSE), instituído pela Lei nº 14.148/2021 e parcialmente regulamentado pela Portaria nº 7.163/21 do Ministério da Economia; Observação: Alteração atípica, imprevisível, excepcional e relevante da realidade jurídico-tributária, superveniente ao escoamento do prazo legal ordinário para opção pelo regime do Simples Nacional. CAFÉ DO MERCADO RESTAURANTE E LANCHONETE LTDA, sociedade empresária inscrita no CNPJ/MF sob nº 26.757.274/0001-13 (doc. 01 – Atos Constitutivos), sediada na Rua das Calçadas, nº 154, São José, Recife/PE, CEP nº 50.020-290 (doc. 02 – Consulta de Inscrição e Situação Cadastral) e neste ato representada por Ivson Santos Barbosa (doc. 03 – Consulta do Quadro Societário e doc. 04 - Documento de Identificação do Representante Legal), vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência, por intermédio de seus advogados regularmente constituídos (doc. 05 - Procuração), com fundamento nos artigos 5º, inciso LXIX, da CF, e 1º, caput, da Lei nº 12.016/2009, para impetrar o presente MANDADO DE SEGURANÇA C/C MEDIDA LIMINAR em face do DELEGADO DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL EM RECIFE/PE, autoridade vinculada ao MINISTÉRIO DA ECONOMIA, que desempenha as suas funções na Delegacia da Receita Federal situada na Avenida Alfredo Lisboa, nº 1152, Recife/PE, CEP 1/29 2 / 29 50030-150 órgão integrante da administração direta da UNIÃO FEDERAL/FAZENDA NACIONAL, pessoa jurídica de direito público interno e representada pela PROCURADORIA GERAL DA FAZENDA NACIONAL EM RECIFE/PE, com endereço para notificação e demais comunicações processuais no Empresarial Charles Darwin, Rua Senador José Henrique, nº 231, 20º andar, Ilha do Leite, Recife/PE, CEP 50070-460, com endereço eletrônico para recebimento de notificações e intimações judiciais no judicial.prfn5@pgfn.gov.br, o que faz pelas razões de fato e de direito a seguir expostas. I – DOS FATOS; 01. A Impetrante, como consabido, é uma sociedade empresária que há mais de 05 (cinco) anos, desempenhando atividades econômicas no ramo dos bares e restaurantes desde 23 de dezembro de 2016, identificadas pelos CNAEs “56.11-2-01 - Restaurantes e similares” e “56.11-2-03 - Lanchonetes, casas de chá, de sucos e similares”. 02. Durante sua existência, a Demandante sempre buscou manter sua situação de regularidade fiscal, nem que fosse através do parcelamento das dívidas tributárias que não pôde adimplir imediatamente (doc. 06 – Mais Recente Certidão de Regularidade Fiscal Federal). 03. Desde o início do cenário pandêmico, a Contribuinte passou a sofrer com os deletérios efeitos econômicos – diretos e indiretos – ocasionados, que impactaram significativamente seu faturamento mensal (doc. 07 – Comparativo de Faturamentos Anuais), quer pelas medidas sociais de prevenção pelo isolamento, quer pelas imposições estatais de fechamento dos estabelecimentos, no contexto de combate à COVID-19 (doc. 08 – Decretos Estaduais e Municipais). 04. No entanto, atualmente a Autora ainda segue perseverando em suas operações, mantendo vários postos de trabalho diretos. 05. Não por outras razões, a Impetrante deseja se valer do PERSE, regido pela Lei nº 14.148/2021, editada originalmente aos 03 de maio de 2021, mais especificamente para se 2/29 3 / 29 enquadrar na desoneração fiscal dos tributos federais, possibilitando a redução à zero, pelo prazo de 60 (sessenta) meses, das alíquotas do Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica – IRPJ, da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido – CSLL, da Contribuição ao PIS/PASEP e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social – COFINS, devidos pelas empresas conotadas pelo art. 2º da Lei 14.148/2021, in verbis: Art. 2º Fica instituído o Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse), com o objetivo de criar condições para que o setor de eventos possa mitigar as perdas oriundas do estado de calamidade pública reconhecido pelo Decreto Legislativo nº 6, de 20 de março de 2020. § 1º Para os efeitos desta Lei, consideram-se pertencentes ao setor de eventos as pessoas jurídicas, inclusive entidades sem fins lucrativos, que exercem as seguintes atividades econômicas, direta ou indiretamente: I - realização ou comercialização de congressos, feiras, eventos esportivos, sociais, promocionais ou culturais, feiras de negócios, shows, festas, festivais, simpósios ou espetáculos em geral, casas de eventos, buffets sociais e infantis, casas noturnas e casas de espetáculos; II - hotelaria em geral; III - administração de salas de exibição cinematográfica; e IV - prestação de serviços turísticos, conforme o art. 21 da Lei nº 11.771, de 17 de setembro de 2008. § 2º Ato do Ministério da Economia publicará os códigos da Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) que se enquadram na definição de setor de eventos referida no § 1º deste artigo. 06. Sucede, todavia, que a citada medida desonerativa somente foi promulgada, para se incorporar ao supracitado diploma normativo, no dia 18 de março de 2022, após derrubada do veto presidencial ao art. 4º, oportunamente transcrito: Art. 4º Ficam reduzidas a 0% (zero por cento) pelo prazo de 60 (sessenta) meses, contado do início da produção de efeitos desta Lei, as alíquotas dos seguintes tributos incidentes sobre o resultado auferido pelas pessoas jurídicas de que trata o art. 2º desta Lei: I - Contribuição para os Programas de Integração Social e de Formação do Patrimônio do Servidor Público (Contribuição PIS/Pasep); II - Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins); III - Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL); e IV - Imposto sobre a Renda das Pessoas Juridicas (IRPJ). 07. E muito embora já se enquadrasse, por equiparação legal (art. 21 da Lei nº 11.771/2008), à classe de prestadores de serviços turísticos (doc. 09 – Consulta ao CADASTUR), antes da citada inovação legal desonerativa (da edição, promulgação e derrubada do veto presidencial) – até então de incerta positivação –, em 23 de dezembro de 3/29 4 / 29 2016 teve que optar pelo Regime Tributário de Apuração e Arrecadação do Simples Nacional (doc. 10 – Prova do Enquadramento Tributário). 08. Porém, caso a citada medida legal desonerativa não houvesse sido objeto de veto presidencial (doc. 11 – Veto Presidencial), somente derrubado pelo Parlamento no presente ano (doc. 12 – Derrubada Legislativa do Veto), certamente a Impetrante teria tido a oportunidade de optar pelo Lucro Presumido. 09. Na realidade, a opção pelo lucro presumido seria mais do que óbvia (art. 4º da Lei nº 14.390/2022), e afigurar-se-ia uma verdadeira imposição concorrencial, mormente porque a Autora é contribuinte de ICMS (doc. 13 – Inscrição Estadual) e poderia se valer no âmbito do Estado de Pernambuco do Regime Especial para Bares e Restaurantes, cuja opção outorgaria situação global de significativa economia tributária, dado o preenchimento dos requisitos jurídicos para tanto (doc. 14 – Satisfação dos Critérios do Regime Especial de ICMS – Certidão Negativa de Débitos Estaduais). 10. Diante desse cenário relatado e devidamente comprovado, mediante provas pré- constituídas idôneas, suficientes e satisfatórias, conclama-se a tutela jurisdicional para declarar e efetivar o direito líquido e certo à opção, inclusão e manutenção da medida desonerativa de caráter tributário outorgada pela Lei do PERSE (alíquota 0% para IRPJ, CSLL, PIS/PASEP e COFINS), bem como às demais outras disposições contidas no referido diploma legal, tais como adesão ao parcelamento de débitos fiscais (doc. 15 – Extrato de Débitos) estipuladoem seu art. 3º, cujo prazo se encerra em 31 de outubro de 2022, conforme Portaria PGFN nº 7.917/2021. 11. Isto porque, adiantando pontualmente a fundamentação, a despeito de atualmente a Impetrante se encontrar filiada ao Regime do Simples Nacional, que veda a aplicação da redução à 0% da alíquota sobre tributos federais (art. 24, §1º, da Lei Complementar nº 123/2006): a) sua adesão ao citado regime tributário se deu meses antes do advento da derrubada legislativa de veto presidencial, que culminou na introdução de 4/29 5 / 29 regime tributário desonerativo significativamente mais favorável, após os marcos temporais constitucionalmente estabelecidos para tanto (art. 66, §§4º, 6º e 7º, da CRFB/88); b) o supracitado art. 4º, - tardia e recentemente - incorporado à Lei 14.148/2021, ostenta evidente caráter indutor de recuperação econômica para setores específicos e estratégicos, alterando substancialmente o panorama normativo, por introduzir novos parâmetros transitórios (pelo prazo de 60 meses) para aferir potencialidades e projetar cargas tributárias, em cálculos normativos outrora impossíveis e inexigíveis do Contribuinte; c) a irretratabilidade da opção pelo regime do Simples Nacional, prescrita pelo caput do art. 16 da Lei Complementar nº 123/2006, pressupõe a manutenção de um panorama jurídico relativamente estável, sem alterações atípicas, imprevisíveis, excepcionais e relevantes na legislação tributária, passíveis de ocasionar distúrbios concorrenciais (art. 170, inciso IV, da CRFB), em prejuízo à função social da empresa (art. 5º, inciso XXIII, §§1º e 2º, da CRFB/88). Afinal: c.1) nas lições de Neil MacCormick, as regras haverão de ser interpretadas como normas relativas, que estabelecem condições “ordinariamente necessárias e presumivelmente suficientes”1; c.2) não se pode olvidar “da limitação da capacidade humana em prever todas as circunstâncias relevantes e, por conseguinte, da correspondente deficiência estrutural das regras”, fato que levou Carsten Backer a ponderar que, como “não é possível prever todas as exceções, não é possível criar uma regra sem exceções”2; e c.3) o princípio geral do rebus sic stantibus permeia toda a ordem jurídica brasileira, a exemplos dos regimes jurídicos: c.3.1) de revisão dos 1 MACCORMICK, Neil. Retórica e o Estado de Direito: uma teoria da argumentação jurídica. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. p. 101. 2 BACKER, Carsten. Regras, princípios e derrotabilidade. In: Revista Brasileira de Estudos Políticos, Vol. 102. Belho Horizonte: jan./jun. 2011, p. 67/68. 5/29 6 / 29 contratos públicos e privados; c.3.2) da desconstituição, alteração e ou rescisão da coisa julgada material; c.3.3) do exercício da autotutela administrativa; e c.3.4) da alterabilidade relativa dos lançamentos tributários. d) o regime do Simples Nacional foi concebido para ser justamente a concretização do mandamento constitucional reiterado de “tratamento diferenciado e favorecido para as microempresas e para as empresas de pequeno porte” (art. 146, inciso III, alínea “d”, da CRFB/88), “constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no país” (art. 170, inciso IX, da CRFB/88), “visando a incentivá-las” (art. 179 da CRFB/88); e) o acolhimento da pretensão autoral apenas servirá para colocar-lhe em patamar de igualdade (arts. 5º, caput, §§1º e 2º, e 150, caput, inciso II, da CRFB/88), em comparação a seus concorrentes de maior porte, que por impossibilidade jurídica – frequentemente pautada na existência de faturamento anual superior a R$ 4.800.000,00 (quatro milhões e oitocentos mil reais), ex vi do art. 3º, caput, inciso II, da Lei Complementar nº 123/2006 - optaram pelo regime do lucro presumido; f) atualmente encontra-se em fase de estudo e planejamento um projeto de geração e comercialização de energia elétrica que se afigura como fato impeditivo à manutenção da referida empresa no regime do Simples Nacional, a teor do art. 17, inciso VII, da Lei Complementar nº 123/2006; e g) faz-se imprescindível pronunciamento jurisdicional para conferir segurança jurídica à Impetrante, de modo que possa redefinir seu regime jurídico-tributário em caráter sistemático, harmônio e coerente. II – DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS; 6/29 7 / 29 II.1 – É CABÍVEL A IMPETRAÇÃO DO PRESENTE MANDADO DE SEGURANÇA PARA DECLARAR E ASSEGURAR DIREITOS, PREVENINDO A PRÁTICA DE ILICITUDES PELA FAZENDA PÚBLICA; 12. Como consabido, a Constituição da República Federativa do Brasil confere à Impetrante a garantia fundamental do mandado de segurança (art. 5º, inciso LXIX), com o fito de instrumentalizar a proteção à direito líquido e certo de sua titularidade, que no caso presente compreendemos encontrar amparo na legislação e na jurisprudência pátrias. 13. Ademais, o interesse de agir no processamento do presente writ repousa nas pretensões que a Contribuinte, ora Impetrante, tem de ver protegidos seus direitos patrimoniais, atualmente ameaçados pelo cenário normativo propício à interpretações acríticas, apressadas e divergentes. 14. Busca-se, pois, dirimir uma crise de incerteza, constituída por interpretações antagônicas e conflituosas em matéria de tributação! 15. Portanto, sobressai o cabimento da presente medida judicial para coibir a manutenção de quadro de enriquecimento ilícito estatal, como nossa Corte Cidadã já acertadamente reconheceu para a declaração do direito a adesão a regime fiscal alcançado pela norma legal. 16. E outra não pode ser a conclusão, mormente quando se observar que, segundo a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, todo e qualquer juiz pode e deve exercer o controle difuso de inconstitucionalidade (Cf. Edcl no AgInt no AREsp nº 1.169.402/SP e RMS 46.033/SC). II.2 – FAZ-SE PRESENTE O INTERESSE DE AGIR PARA CONCLAMAR A TUTELA JURISDICIONAL; 17. Eis o teor dos arts. 19, inciso I, e 20, do CPC/15: Art. 19. O interesse do autor pode limitar-se à declaração: 7/29 8 / 29 I - da existência, da inexistência ou do modo de ser de uma relação jurídica; [...] Art. 20. É admissível a ação meramente declaratória, ainda que tenha ocorrido a violação do direito. 18. Vê-se às claras que o legislador, como forma de maximizar a eficácia social do direito fundamental de acesso à justiça (art. 5º, inciso XXXV, da CRFB/88), reafirmou o quanto disposto no CPC/73 para possibilitar discussões judiciais: i) ainda que “apenas” para declarar a “inexistência ou o modo de ser de uma relação jurídica”; e ii) mesmo que “tenha ocorrido violação do direito”. 19. Ademais, em modalidades adjetivas como a presente, nas quais a Fazenda Pública sequer será condenada ao pagamento de honorários advocatícios sucumbenciais, sobressai o interesse público na aplicação do direito ao caso concreto, para fins de maximização da segurança jurídica, tão necessária para coibir prováveis arbitrariedades da Administração Tributária Federal. 20. E até mesmo a presença de precedentes vinculantes, nos termos do art. 927, inciso III, do CPC/153, não autoriza a extinção sem resolução do mérito, mas apenas sua observação, em prol da efetiva tutela de direitos! II.3 – O ÔNUS PROBATÓRIO ENCONTRA-SE DEVIDAMENTE SATISFEITO; 21. Como pontifica Sérgio Cruz Arenhart4, o conceito de “direito líquido e certo” alberga grande amplitude sindicável: 3 Art. 927. Os juízes e os tribunais observarão: [...] III - os acórdãos em incidente de assunção de competência ou de resolução de demandas repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e especial repetitivos; [...]. 4 In CANOTILHO, J. J. Gomes [et. al.]. Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva/Almedina, 2013. P.477/478. 8/29 9 / 29 A rigor, todo direito que exista é líquido e certo, sendoevidente que a complexidade do raciocínio jurídico – que pode ser mais acessível para alguém e menos para outrem – não tem nenhuma relação com a mencionada categoria. A liquidez e a certeza do direito têm sim vinculação com a maior ou menor facilidade na demonstração dos fatos sobre os quais incide o Direito. Desse modo, a questão do direito líquido e certo se põe no campo da prova das afirmações de fato feitas pelo impetrante. 22. E especificamente, quanto ao mandado de segurança em matéria tributária, as exigências probatórias foram acertadamente analisadas pela Corte Cidadã, mais precisamente por ocasião do julgamento do Recurso Especial Repetitivo nº 1.715.256/SP (doc. 16 – Acórdão 01). 23. A saber, neste recente precedente vinculante (art. 927, inciso III, da Lei nº 13.105/2015), distinguiu-se com perfeição duas situações distintas, sintetizadas em sua ementa com os seguintes dizeres: i) “5. Logo, postulando o Contribuinte apenas a concessão da ordem para se declarar o direito à compensação tributária, em virtude do reconhecimento judicial transitado em julgado da ilegalidade ou inconstitucionalidade da exigência da exação, independentemente da apuração dos respectivos valores, é suficiente, para esse efeito, a comprovação de que o impetrante ocupa a posição de credor tributário, visto que os comprovantes de recolhimento indevido serão exigidos posteriormente, na esfera administrativa, quando o procedimento de compensação for submetido à verificação pelo Fisco. Ou seja, se a pretensão é apenas a de ver reconhecido o direito de compensar, sem abranger juízo específico dos elementos da compensação ou sem apurar o efetivo quantum dos recolhimentos realizados indevidamente, não cabe exigir do impetrante, credor tributário, a juntada das [guias que comprovam a existência do indébito, pois essa] providência somente será levada a termo no âmbito administrativo, quando será assegurada à autoridade fazendária a fiscalização e controle do procedimento compensatório”; e 9/29 10 / 29 ii) “6. Todavia, a prova dos recolhimentos indevidos será pressuposto indispensável à impetração, quando se postular juízo específico sobre as parcelas a serem compensadas, com a efetiva investigação da liquidez e certeza dos créditos, ou, ainda, na hipótese em que os efeitos da sentença supõem a efetiva homologação da compensação a ser realizada. Somente nessas hipóteses o crédito do contribuinte depende de quantificação, de modo que a inexistência de comprovação cabal dos valores indevidamente recolhidos representa a ausência de prova pré-constituída indispensável à propositura da ação mandamental”. 24. Dúvidas não remanescem, pois, acerca da suficiência do acervo probatório pré- constituído, composto por documentos idôneos que atestam o enquadramento da Impetrante nos benefícios fiscais concedidos pela Lei 14.148/2021. II.4 – DOS DIREITOS LÍQUIDOS E CERTOS QUE RECLAMAM TUTELA JURISDICIONAL; 25. A Lei 14.148/2021, que dispõe sobre ações emergenciais e temporárias destinadas ao setor de eventos para compensar os efeitos decorrentes das medidas de combate à pandemia da Covid-19, instituiu o Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (PERSE), o qual consistem num conjunto de medidas que trazem benefícios tributários para as empresas de turismo e entretenimento. 26. Dentre os benefícios instituídos deve-se ressaltar as medidas de parcelamento, bem como o estabelecimento de desoneração fiscal por meio de redução a zero das alíquotas de IRPJ, CSLL, PIS e COFINS, incidentes, respectivamente, sobre o lucro e a receita bruta das empresas dos setores abarcados. 27. O art. 2º da Lei nº 14.148/2021 definiu as pessoas jurídicas que podem se enquadrar no PERSE (e, portanto, usufruir do benefício da desoneração citada), incluindo, dentre elas, as que prestam serviços turísticos, conforme o art. 21 da Lei 11.771/2008. Referida lei previu 10/29 11 / 29 ainda que ato normativo do Ministério da Economia iria publicar os códigos da Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) que se enquadram no setor de eventos. 28. A partir da análise do panorama normativo, é possível concluir que as únicas exigências legais para o enquadramento no PERSE são: (a) que a empresa seja participante do setor de eventos e turismo; e de maneira específica, (b) que esteja contemplada no rol de CNAEs identificados em ato infralegal subsequente. 29. Já o parágrafo único do art. 21 da Lei 11.771/2008 equiparou às prestadoras de serviços turísticos as empresas que desenvolvem atividades de restaurantes, cafeterias, bares e similares, estabelecendo ainda que elas facultativamente poderiam vir a se cadastrar perante o Ministério do Turismo no CADASTUR. 30. O Ministério da Economia, a seu turno, editou a Portaria ME nº 7.163/2021 (doc. 17 – Portaria Ministerial), como se verifica a seguir: Art. 1º Definir os códigos da Classificação Nacional de Atividades Econômicas - CNAE que se consideram setor de eventos nos termos do disposto no § 1º do art. 2º da Lei nº 14.148, de 3 de maio de 2021, na forma dos Anexos I e II. § 1º As pessoas jurídicas, inclusive as entidades sem fins lucrativos, que já exerciam, na data de publicação da Lei nº 14.148, de 2021, as atividades econômicas relacionadas no Anexo I a esta Portaria se enquadram no Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos - Perse. § 2º As pessoas jurídicas que exercem as atividades econômicas relacionadas no Anexo II a esta Portaria poderão se enquadrar no Perse desde que, na data de publicação da Lei nº 14.148, de 2021, sua inscrição já estivesse em situação regular no Cadastur, nos termos do art. 21 e do art. 22 da Lei nº 11.771, de 17 de setembro de 2008. Art. 2º Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação. 31. Ao indicar as atividades do Anexo II, a referida portaria restringiu a utilização do PERSE às empresas que na data da publicação da Lei nº 14.148/2021 estivessem em situação regular no CADASTUR no Ministério do Turismo. 11/29 12 / 29 32. Entretanto, é essencial ressaltar que essa limitação trazida pela Portaria ME 7.163/2021 haverá de ser interpretada cum granum salis, haja vista que no texto da Lei 14.148/2021, que instituiu e detalhou como seriam todos os procedimentos e condições para usufruto do PERSE, não há qualquer restrição temporal em relação à exigência de cadastro no CADASTUR para fins de caracterização das atividades de bares e restaurantes como de prestação de serviços turísticos por equiparação. 33. Ora, Excelência: (i) o art. 2º, §1º, inciso IV, da Lei do PERSE alude à “prestação de serviços turísticos, conforme art. 21 da Lei nº 11.771/2008”; (ii) a Lei nº 11.771/2008, a seu turno, estabelece uma mera permissão ao cadastramento de bares e restaurantes no CADASTUR (art. 21, parágrafo único, inciso I), ao contrário do que fez logo mais adiante, nos termos de seu artigo 22, de modo a abranger apenas as atividades econômicas do art. 21, caput, incisos I a VI, deixando de fora justamente o art. 21, parágrafo único, inciso I, senão vejamos: [...] Art. 21. Consideram-se prestadores de serviços turísticos, para os fins desta Lei, as sociedades empresárias, sociedades simples, os empresários individuais e os serviços sociais autônomos que prestem serviços turísticos remunerados e que exerçam as seguintes atividades econômicas relacionadas à cadeia produtiva do turismo: I - meios de hospedagem; II - agências de turismo; III - transportadoras turísticas; IV - organizadoras de eventos; V - parques temáticos; e VI - acampamentos turísticos. Parágrafo único. Poderão ser cadastradas no Ministério do Turismo, atendidas as condições próprias, as sociedades empresárias que prestem os seguintes serviços: I - restaurantes, cafeterias, bares e similares; II - centrosou locais destinados a convenções e/ou a feiras e a exposições e similares; III - parques temáticos aquáticos e empreendimentos dotados de equipamentos de entretenimento e lazer; IV - marinas e empreendimentos de apoio ao turismo náutico ou à pesca desportiva; V - casas de espetáculos e equipamentos de animação turística; VI - organizadores, promotores e prestadores de serviços de infra-estrutura, locação de equipamentos e montadoras de feiras de negócios, exposições e eventos; VII - locadoras de veículos para turistas; e VIII - prestadores de serviços especializados na realização e promoção das diversas modalidades dos segmentos turísticos, inclusive atrações turísticas e empresas de planejamento, bem como a prática de suas atividades. Art. 22. Os prestadores de serviços turísticos estão obrigados ao cadastro no Ministério do Turismo, na forma e nas condições fixadas nesta Lei e na sua regulamentação. § 1o As filiais são igualmente sujeitas ao cadastro no Ministério do Turismo, exceto no caso de estande de serviço de agências de turismo instalado em local destinado a 12/29 13 / 29 abrigar evento de caráter temporário e cujo funcionamento se restrinja ao período de sua realização. § 2o O Ministério do Turismo expedirá certificado para cada cadastro deferido, inclusive de filiais, correspondente ao objeto das atividades turísticas a serem exercidas. § 3o Somente poderão prestar serviços de turismo a terceiros, ou intermediá-los, os prestadores de serviços turísticos referidos neste artigo quando devidamente cadastrados no Ministério do Turismo. § 4o O cadastro terá validade de 2 (dois) anos, contados da data de emissão do certificado. § 5o O disposto neste artigo não se aplica aos serviços de transporte aéreo. [...] 34. Porém, diante da restrição temporal expressamente trazida pela Portaria ME 7.163/2021, se a Impetrante passar a usufruir do benefício da desoneração fiscal prevista no PERSE, sofrerá risco iminente de ser autuada, justamente por ser a Impetrante uma empresa que presta os serviços descritos no CNAE 56.11-2/01, estabelecido no rol taxativo do anexo II da referida Portaria. 35. Desta feita, estamos convencidos de que, sob pena de violar o princípio constitucional tributário da reserva legal (art. 150, caput, inciso I, da CRFB/88), consectário que é do sobre princípio da segurança jurídica (art. 5º, caput, inciso XXXVI, §§1º e 2º, da CRFB/88), não há como ato normativo infralegal, que é norma complementar à lei (art. 100, I, do CTN), inovar no ordenamento jurídico, impondo restrições ao direito da Impetrante de se enquadrar nos benefícios do PERSE, sob pena de violação ao princípio da reserva legal em matéria tributária e a hierarquia das normas. 36. Logo, para fins de uma escorreita exegese do art. 1º, §2º, da Portaria ME nº 7.163/2021: (a) ou se interpreta e aplica estritamente, apenas para a transação do PERSE, dado que a desoneração via alíquota 0% somente adveio posteriormente, em 2022, mediante derrubada legislativa do veto presidencial; (b) ou se reconhecer a ilegalidade do ato infralegal, dado que incumbiria ao “Ato do Ministério da Economia, nos termos do art. 2º, §2º, da Lei do PERSE apenas publicar “os códigos da Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) que se enquadram na definição de setor de eventos referida no §1º”, o que, a toda evidência, não é sinônimo de estabelecer critério ou requisito adicional de índole restritiva. 13/29 14 / 29 37. Quando da leitura do art. 1º da Portaria supracitada, abstrai-se que esta dividiu os CNAEs em dois Anexos, sendo o Anexo I com a relação de atividades que automaticamente conferem a capacidade da Pessoa Jurídica de usufruir do PERSE, desde que as empresas já praticassem as atividades na data da publicação da lei. Por sua vez, o Anexo II contempla as atividades que impõem a condição da empresa já estar necessariamente cadastrada no Ministério do Turismo (CADASTUR), desde a data da publicação original da Lei nº 14.148/2021, para fins de enquadramento. 38. Ou seja, em vez de somente relacionar os CNAEs específicos que fazem jus ao enquadramento da empresa no PERSE e a subsequente fruição dos benefícios, conforme determina a sua lei instituidora, a Portaria nº 7.163/21 limitou o alcance dos benefícios do programa para as empresas que desenvolvessem certos tipos de atividades, conforme indicação do Anexo II, impondo a condição do cadastramento prévio no Ministério do Turismo para que pudessem se enquadrar nos benefícios concedidos pelo PERSE. É o caso da Impetrante, que tem como atividade “Restaurantes e similares” – CNAE 56.11-2-01, inserido no supramencionado Anexo II. 39. Neste contexto, torna-se claro que a condição determinada pela Portaria ME nº 7.163/21 excede o que lhe autoriza a Lei nº 14.148/2021. 40. Ao editar a Lei nº 14.148/2021, o legislador ordinário não estabeleceu nenhuma restrição no tocante ao enquadramento das empresas no PERSE que não fosse somente em relação às atividades desenvolvidas, que logicamente teriam que ser atreladas ao setor de eventos e turismo, tendo a Lei somente delegado para ato normativo posterior a função de especificamente determinar quais seriam os CNAEs autorizados a participar do programa. 41. A referida Lei não cita nenhuma condição em relação à questão temporal, nem sequer outro requisito necessário para que as empresas do ramo eventos e turismo se enquadrem no PERSE. 42. De fato, a Portaria ME 7.163/2021, como norma de caráter infralegal, ao fazer tal restrição com a imposição do cadastro prévio no CADASTUR, exigindo a regularidade desde a publicação da Lei nº 14.148/21, extrapolou os limites da lei instituidora do PERSE, em 14/29 15 / 29 clara afronta aos princípios da hierarquia das normas e da reserva legal. E ainda, de maneira absurda, exigiu que tal cadastramento já tivesse sido realizado até a data da publicação da lei, impedindo até mesmo o direito de utilizá-lo a partir do cadastramento. 43. Excelência, é cristalino que a intenção do legislador na edição da lei do PERSE era de criar um mecanismo de compensação para o setor que foi totalmente abalado pela crise decorrente da pandemia. Assim, a exigência de um cadastro retroativo impede que seja alcançada a finalidade da norma, e mais, é esdrúxulo interpretar que somente as empresas com o CADASTUR seriam as afetadas pela pandemia neste setor de eventos. S 44. Assim, ao limitar o alcance do enquadramento legal, impondo condições até então inexistentes, o ato normativo criou embaraço que a lei não previu, devendo ser afastada a sua incidência, e por consequência, ser autorizado o regular enquadramento no PERSE da Impetrante, a qual promove e sempre promoveu a atividade de restaurante, relacionada no Anexo II da Portaria ME 7.163/2021, sem que lhe imponha qualquer restrição relativa ao cadastro no CADASTUR de maneira prévia à lei instituidora do programa de benefícios. 45. Logo, mesmo o cadastro posterior à promulgação não retira o enquadramento da Impetrante ao regime estatuído pelo PERSE, visto que ela está dentro do rol de empreendimentos contemplados pelo CADASTUR, independentemente da data do seu deferimento. Desta feita, há clara ausência de finalidade da norma na portaria, que ilegalmente restringe o acesso aos benefícios concedidos pela lei. 46. É imprescindível ressaltar que a Portaria ME nº 7.163/2021, ao impor limites adicionais não previstos na Lei nº 14.148/2021, está tratando esta última norma, de eficácia plena, como se norma de eficácia limitada fosse. 47. As normas de eficácia limitada são aquelas que não produzem a plenitude de seus efeitos, dependendo da integração de uma nova lei, não contendo os elementos necessários para sua executoriedade. As normas de eficácia plena, por outro lado, já produzem os seus efeitosde imediato, podendo ser integradas por normas de hierarquia inferior tão somente para fins de 15/29 16 / 29 definição de procedimentos a serem seguidos, mas nunca para restringir o direito já posto em lei. 48. Sobre o tema, é oportuno destacar que o art. 5º, inciso II, da CRFB/88 informa o princípio da reserva legal, enquanto que o art. 37, caput, também da Constituição Federal, prescreve o da legalidade administrativa. 49. Tratam-se, portanto, de manifestações distintas de um mesmo preceito: o princípio da legalidade, que desempenha papel de destaque no Direito Administrativo, conferindo a necessidade de observância da lei pelo administrador público em todos os atos por este expedidos. Observe-se: Art. 5°. (...) II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (...). 50. Neste contexto, ao dispor que ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer algo, senão em virtude de lei, a Constituição Federal dirige o postulado aos particulares e ao Estado. Ora, apenas por meio de lei formal, aprovada por órgão constitucionalmente competente, pode o Estado exigir algo do particular, impondo-lhe o dever de agir ou de abster-se. 51. O único instrumento hábil de que se pode utilizar a Administração Pública para impor ao particular a obrigação de fazer ou deixar de fazer algo é a lei. Assim, ato infralegal não pode, a pretexto de tratar-se de manifestação do poder regulamentar, regular matéria não contemplada por lei, estabelecendo restrição ao exercício de direitos ali não contemplada. 52. O art. 100, I do CTN dispõe que os atos normativos expedidos pelas autoridades administrativas são normas complementares das leis. Lê-se: 16/29 17 / 29 “Art. 100. São normas complementares das leis, dos tratados e das convenções internacionais e dos decretos: I - os atos normativos expedidos pelas autoridades administrativas; 53. Ademais, se são normas “complementares”, não possuem as instruções normativas e portarias o condão de estabelecer restrições não previstas na lei (em sentido estrito), que lhe deu fundamento de validade, sob pena de ofensa ao princípio da legalidade, da reserva da lei e da hierarquia das normas. 54. Desta forma, não há como ato normativo infralegal, que é norma complementar à Lei (art. 100, I, CTN) inovar no ordenamento jurídico, impondo restrições ao direito da Impetrante de se enquadrar nos benefícios do PERSE, sob pena de violação ao princípio da reserva legal em matéria tributária e da hierarquia das normas. 55. Levando em consideração que o poder regulamentar é uma das formas de expressão da função normativa do Poder Executivo, a quem cabe editar normas complementares à lei, é função precípua do Poder Executivo, a expedição de normas de caráter regulamentar que não inovem na ordem jurídica. 56. Sendo assim, o poder regulamentar estatal não pode ser desempenhado com o objetivo de criar obrigações ou impor restrições a direitos sem que tenha, como sustentação, uma lei ou ato normativo com força de lei, sob pena de violação do princípio da legalidade. 57. O cerne da questão posta em juízo recai sobre definir os limites necessários à produção normativa infralegal, especificamente no que tange à Portaria ME nº 7.163/21, que introduziu restrição estranha à lei por ela regulamentada. 58. Neste sentido, uma portaria não pode criar direitos ou obrigações novas não estabelecidas no texto básico, nem tampouco pode facultar, ordenar ou proibir algo que o texto fundamental não faculte, ordene ou não proíba, sendo-lhe, portanto, vedado facultar, impor ou proibir diversamente do que o texto básico legal estabelece. 17/29 18 / 29 59. Consequentemente, as portarias, assim como os demais atos administrativos internos, não atingem nem obrigam aos particulares, pela manifesta razão de que os cidadãos não estão sujeitos ao poder hierárquico da Administração Pública. 60. Portanto, se a Lei 14.148/21, ao indicar no seu art. 2º as pessoas jurídicas que poderiam se enquadrar no PERSE, indicou, dentre as beneficiárias, aquelas que prestam serviços turísticos, nos termos do art. 21 Lei 11.771/2008. E, se esta lei, ao se referir aos prestadores de serviços turísticos, incluiu os restaurantes, bares, cafeterias e similares, apenas estabelecendo que eles poderiam ser cadastrados no CADASTUR do Ministério do Turismo, não poderia uma portaria do Ministério da Economia simplesmente inovar no mundo jurídico para, em relação a determinadas atividades (como a dos restaurantes), restringir o enquadramento no PERSE apenas àqueles que já tivessem cadastro no CADASTUR na época da publicação da Lei 14.148/21 (ou seja, em maio de 2021). 61. Melhor dizendo, não poderia a Portaria ME nº 7.163/2021, além de ter indicado os CNAEs que se referem às atividades estabelecidas na Lei nº 14.148/2021, ter inovado no mundo jurídico para criar critérios temporais que acabaram por limitar o enquadramento de diversas pessoas jurídicas no PERSE, dentre elas, a Impetrante. 62. No momento em que a Portaria dispôs sobre determinadas pessoas jurídicas somente poderiam se enquadrar no PERSE se tivessem cadastro no CADASTUR anterior a maio de 2021, acabou por extrapolar a Lei nº 14.148/2021, por restringir direito que o legislador ordinário não determinou. 63. Na realidade, quem trata da necessidade de cadastro no CADASTUR para determinadas atividades é a própria Lei do Turismo (Lei 11.771/2008). Essa lei remete ao Ministério Turismo o cadastro dessas atividades, para que sejam consideradas como atividades turísticas. Nesse sentido, como essa lei não determina nenhum prazo, se o Ministério do Turismo fizer o cadastro da empresa e esta estiver regular no referido cadastro, significa dizer que ela exerce atividade considerada turística e, por essa razão, se enquadra no benefício do PERSE. 18/29 19 / 29 64. Inexiste, portanto, imposição legal que determine que o cadastro no CADASTUR seja anterior a maio de 2021, sendo assim ilegal e inconstitucional a imposição neste sentido prevista pela Portaria ME nº 7.163/2021, ao restringir direitos instituídos em lei formal. 65. Ademais, é preciso ter em mente que os programas de benefícios e parcelamentos tributários visam, de um lado, favorecer a regularização de débitos de pessoas jurídicas, e, de outro, fomentar determinado tipo de setor da economia, que neste caso foi direcionado ao setor de eventos e turismo, em vista dos inúmeros prejuízos amargados pelas empresas desses setores neste período extenso da crise da COVID 19. Nesse sentido, o enquadramento da Impetrante como empresa pertencente ao setor de turismo, atendidas as condições legais da norma original, é direito subjetivo desta. Nesse contexto, a Portaria não pode impor óbice que a lei não prevê. 66. Nessa medida, a exigência trazida pela Portaria ME nº 7.163/21 de regularidade de cadastro no CADASTUR em maio de 2021 para as atividades indicadas no Anexo II, representa inaceitável inovação não prevista na Lei 14.148/21, por extrapolação da lei regulamentada, a qual não faz dita exigência, o que representa clara infringência ao princípio da legalidade, esculpido no art. 97 do CTN e artigo 150 da CRFB/88. 67. No sentido de que somente a lei pode criar, modificar ou extinguir direitos, de modo que norma regulamentar não pode inovar no mundo jurídico, sendo-lhe vedado restringir ou ampliar os direitos postos pela lei regulamentada, pode-se observar os julgados a seguir: Questiona a impetrante a legalidade da IN 1.765/2017 da Secretaria da ReceitaFederal, que determinou: “No caso de saldo negativo de IRPJ ou de CSLL, o pedido de restituição e a declaração de compensação serão recepcionados pela RFB somente depois da confirmação da transmissão da ECF, na qual se encontre demonstrado o direito creditório, de acordo com o período de apuração” (Redação do art. 161 – A, da IN 1.717/2017). Por sua vez, o art. 7º, § 2º da Lei 9.430/96, que trata da compensação de tributos pagos a maior, determina: “§ 3º Havendo saldo de imposto pago a maior, a pessoa jurídica poderá compensá-lo com o imposto devido, correspondente aos períodos de apuração subseqüentes, facultado o pedido de restituição.” A lei é clara, o saldo credor de imposto recolhido em excesso poderá ser compensado pelo contribuinte nos períodos de apuração subsequentes, ou seja, no período de apuração seguinte. Ora, a IN 1.765/2017, ao condicionar o recebimento dos pedidos de restituição e declaração de compensação à prévia apresentação e processamento da ECF – 19/29 20 / 29 Escrituração Contábil Fiscal, acabou por restringir, ilegalmente, o exercício do direito de repetição de indébito ao mês de julho do período de apuração subsequente. Não pode ato normativo infralegal, especialmente em matéria tributária, impor restrição não prevista em lei, sob pena de afronta ao Princípio da Legalidade. Autorizando a lei a repetição de indébito no período de apuração subsequente, no caso, a partir de janeiro de 2018, não pode a Secretaria da Receita Federal editar norma postergando, mesmo que indiretamente, o exercício do direito de repetição de indébito para julho de 2018. Incidiu, ainda, a IN 1.765/2017 em uma segunda ilegalidade, ao condicionar o exercício do direito de repetição de indébito à prévia apresentação da ECF, pois, nos termos do § 1º do art. 74 da Lei 9.430/1996, com a redação da Lei 10.637/2002, “a compensação de que trata o caput será efetuada mediante a entrega, pelo sujeito passivo, de declaração na qual constarão informações relativas aos créditos utilizados e aos respectivos débitos compensados.” Expressamente determinou a lei que a mera declaração de compensação apresentada pelo contribuinte é hipótese de extinção imediata do crédito tributário, sob condição resolutória de posterior homologação pelo fisco. A apresentação da ECF, como exige o fisco, é necessária somente para o ato posterior de homologação da compensação, e não para o exercício do direito de compensação. Portanto, incidiu a IN 1.765/2017 em dupla ilegalidade. Ante o exposto, presentes os requisitos legais, DEFIRO o pedido de medida liminar para afastar os efeitos da IN 1.765/2017 da Secretaria da Receita Federal, assegurando ao impetrante o exercício do direito de compensação do saldo credor/negativo apurado em 2019, a partir de janeiro de 2020. (TRF-3 – Proc. 5005537-02.2020.4.03.6100, Data de Publicação: 07/04/2020) PROCESSO Nº: 0805347-94.2019.4.05.8000 - APELAÇÃO CÍVEL APELANTE: FAZENDA NACIONAL APELADO: VIACAO CIDADE DE MACEIO LTDA ADVOGADO: David Araújo Padilha e outros RELATOR(A): Desembargador(a) Federal Roberto Wanderley Nogueira - 1ª Turma MAGISTRADO CONVOCADO: Desembargador(a) Federal Daniela Zarzar Pereira De Melo Queiroz JUIZ PROLATOR DA SENTENÇA (1° GRAU): Juiz(a) Federal André Luís Maia Tobias Granja EMENTA PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA. PARCELAMENTO SIMPLIFICADO. LEI 10.522/2002. ART. 14-C. VALOR SUPERIOR A R$ 1.000.000,00. LIMITAÇÃO DE VALOR. PORTARIA CONJUNTA PGFN/RFB Nº 15/09. INAPLICABILIDADE. PRINCÍPIO DA RESERVA LEGAL. 1. Apelação a desafiar sentença, que concedeu a segurança, para, 1) deferir o parcelamento simplificado das CDAs n. 15.882.002-9 e 15.919.292-7, emitindo a DARF para pagamento das sucessivas parcelas; 2) determinar que a autoridade coatora se abstenha de negar a expedição de CPD-EN, bem como de inscrevê-las no CADIN, ou praticar quaisquer sanções à empresa sob a alegação de rescisão ou indeferimento do parcelamento, por ser superior ao valor máximo fixado na Portaria conjunta PGFN/RFB n. 15/09, id. 4058000.5040336. 2. Sustenta a apelante, em síntese, 1) necessária distinção entre a Portaria RFB/PGF n. 15/2009, revogada pela Portaria 20/29 21 / 29 RFB/PGF n. 448/2019, objeto da demanda, que condiciona a possibilidade de parcelamento de débito superior a R$ 1.0000.000,00 (um milhão de reais), à apresentação de garantia real ou fidejussória; 2) inexistência de direito líquido e certo a amparar a pretensão da apelada; 3) a limitação estabelecida pelo art. 22, da Portaria Conjunta PGFN/RFB n. 448/2019, a adesão ao parcelamento simplificado, não fere o princípio da legalidade, id. 4058000.520281. 3. A Lei nº 10.522/02, ao dispor sobre o parcelamento simplificado, não estabeleceu limites de valores para a concessão do parcelamento para os débitos de até R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais), posteriormente, passou a englobar débitos de até R$ 5.000.000,00 (cinco milhões de reais). 4. Por seu turno, a Portaria Conjunta PGFN/RFB nº 15/2009, que trata do parcelamento de débitos perante a Receita Federal e a Fazenda Nacional, foi revogada pela Portaria Conjunta PGFN/RFB nº 895/2019, que remeteu à regulamentação da matéria referente aos parcelamentos de que tratam os arts. 10 a 13, e 14 a 14-F da Lei nº 10.522/2002, por meio de atos próprios da Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil e da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, no âmbito de suas atribuições. 5. Considerando que a norma legal não prevê expressamente limitação de valor como requisito à concessão do parcelamento, não pode essa condição ser imposta, através de norma administrativa Portaria Conjunta PGFN/RFB nº 15/2009, enquanto ato infralegal, impor limite máximo para a concessão do parcelamento simplificado, sob pena de incorrer em violação ao princípio da reserva legal em matéria tributária. 6. Compulsando os autos, verifica-se que o contribuinte formulou pedido de parcelamento simplificado de que trata a o art. 14-C da Lei 10.522/2002, preenchidos os requisitos para a concessão do parcelamento, não se admite qualquer tipo de óbice à adesão do contribuinte que não esteja previsto em lei. 7. Com efeito, a adesão a parcelamento de débitos tributários é uma faculdade conferida ao contribuinte nos termos e condições estabelecidas na lei de modo que a limitação de valor ao parcelamento simplificado, imposta pela Portaria Conjunta/PGFN/RFB 15/2009, ao inovar o ordenamento jurídico, é impertinente e ilegal. Precedentes do TRF5: PROCESSO: 08029677120214050000, AGRAVO DE INSTRUMENTO, DESEMBARGADOR FEDERAL LEONARDO AUGUSTO NUNES COUTINHO, 3ª TURMA, JULGAMENTO: 25/11/2021; PROCESSO: 08005065620194058000, APELAÇÃO / REMESSA NECESSÁRIA, DESEMBARGADOR FEDERAL ELIO WANDERLEY DE SIQUEIRA FILHO, 1ª TURMA, JULGAMENTO: 03/09/2020; PROCESSO: 08020851020174058000, APELAÇÃO / REMESSA NECESSÁRIA, DESEMBARGADOR FEDERAL IVAN LIRA DE CARVALHO (CONVOCADO), 1ª TURMA, JULGAMENTO: 02/07/2020 8. Apelação improvida. (PROCESSO: 08053479420194058000, APELAÇÃO CÍVEL, DESEMBARGADOR FEDERAL ROBERTO WANDERLEY NOGUEIRA, 1ª TURMA, JULGAMENTO: 10/03/2022) (grifamos) TRIBUTÁRIO. PARCELAMENTO SIMPLIFICADO. LIMITAÇÃO. INSTRUÇÃO NORMATIVA RFB nº 1.891/2019. 21/29 22 / 29 OFENSA AO PRINCÍPIO DA RESERVA LEGAL. PRECEDENTES DA TURMA. AGRAVO DE INSTRUMENTO PROVIDO. 1. Agravo de instrumento, com pedido de antecipação da tutela recursal, interposto por R M TERCEIRIZACAO E GESTAO DE RECURSOS HUMANOS EIRELI contra decisão do Juízo da 10ª Vara Federal de Pernambuco, que indeferiu o pedido de tutela de urgência que formulou no mandado de segurança por meio do qual pleiteou naquele juízo que fosse determinado à autoridade coatora a conversão do parcelamento formulado por cautela na modalidade ordinária para a modalidade simplificada relativamenteao débito oriundo do processo administrativo de nº10.480.726931/2020-91. 2. O entendimento desta Turma está consolidado no sentido de que a Lei nº 10.522/02 possibilita, através do seu art. 14-C, a adesão ao parcelamento simplificado, sem a imposição de qualquer limitação de valor. Precedentes: PROCESSO: 08001344620204058300, Apelação/Remessa Necessária, DESEMBARGADORA FEDERAL ISABELLE MARNE CAVALCANTI DE OLIVEIRA LIMA (CONVOCADA), 3ª TURMA, JULGAMENTO: 08/10/2020; PROCESSO: 08093266420194058000, Apelação/Remessa Necessária, DESEMBARGADOR FEDERAL CID MARCONI GURGEL DE SOUZA, 3ª TURMA,JULGAMENTO: 21/05/2020; PROCESSO: 08073858020184058302,AC - Apelação Civel -, DESEMBARGADOR FEDERAL CID MARCONI, 3ª Turma, JULGAMENTO: 15/10/2019; Processo: 08119519620184058100, Desembargador Federal Fernando Braga, 3ª Turma, JULGAMENTO: 27/02/2019; PROCESSO:08085539420184050000, AG - Agravo de Instrumento -, DESEMBARGADOR FEDERALROGÉRIO FIALHO MOREIRA, 3ª Turma, JULGAMENTO: 14/09/2018." (PROCESSO: 08122188420194050000, AG - Agravo de Instrumento - , DESEMBARGADOR FEDERAL GUSTAVO DE PAIVA GADELHA (CONVOCADO), 3ª Turma, JULGAMENTO: 29/01/2020,PUBLICAÇÃO: 3. A Instrução Normativa RFB nº 1.891/2019, apresenta caráter secundário e se presta somente a regulamentar as leis. Desse modo, ao determinar a limitação do valor de R$ 5.000.000,00 para pagamento de débitos por meio do parcelamento simplificado (art. 16), extrapola o poder regulamentador que é conferido à Administração Pública e, por consequência, ofende o princípio da legalidade. 4. Esse entendimento já foi manifestado pelo STJ, para quem "Os arts. 11 e 13 da Lei n. 10.522/2002 delegam ao Ministro da Fazenda a atribuição para estabelecer limites e condições para o parcelamento exclusivamente quanto ao valor da prestação mínima e à apresentação de garantias, não havendo autorização para a regulamentação de limite financeiro máximo do crédito tributário para sua inclusão no parcelamento." (RESP - RECURSO ESPECIAL - 1739641 2018.01.06739-0, GURGEL DEFARIA, STJ - PRIMEIRA TURMA, DJE DATA:29/06/2018 ..DTPB:.). 5. Agravo de instrumento provido para ratificar a liminar e assegurar à agravante a possibilidade de adesão ao Parcelamento Simplificado dos seus débitos, afastando a restrição imposta pelo art. 16, da Instrução Normativa nº 1.891/2019, ainda que em valor superior à R$5.000.000,00 (cinco milhões de reais), se outro impedimento não existir, compensando- 22/29 23 / 29 se eventuais valores pagos antecipadamente. (TRF-5 - AI: 08141021720204050000, Relator: DESEMBARGADOR FEDERAL ROGÉRIO DE MENESES FIALHO MOREIRA, Data de Julgamento: 22/04/2021, 3ª TURMA) (grifos acrescidos) PROCESSO Nº: 0818546-25.2020.4.05.8300 - APELAÇÃO / REMESSA NECESSÁRIA APELANTE: FAZENDA NACIONAL APELADO: ALPHA PLAST INDUSTRIA E COMERCIO LTDA ADVOGADO: Márcio Fam Gondim RELATOR(A): Desembargador(a) Federal Fernando Braga Damasceno - 3ª Turma JUIZ PROLATOR DA SENTENÇA (1° GRAU): Juiz(a) Federal Marina Cofferri EMENTA: TRIBUTÁRIO. PARCELAMENTO SIMPLIFICADO. LIMITAÇÃO. INSTRUÇÃO NORMATIVA RFB Nº 1891/2019. OFENSA AO PRINCÍPIO DA RESERVA LEGAL. 1. Trata-se de apelação interposta pela UNIÃO (FAZENDA NACIONAL) contra a sentença prolatada em ação mandamental pelo Juíza Federal da 1ª Vara da Seção Judiciária de Pernambuco, que julgou procedente o pedido para determinar ao Impetrado que se abstenha de impor o limite de R$ 5.000.000,00 (cinco milhões de reais) para a concessão do parcelamento simplificado em favor da Impetrante, tratando-se de limite previsto em ato infralegal (art. 16 da Instrução Normativa no 1.891/2019) em violação ao princípio da legalidade. 2. O parcelamento pleiteado encontrou óbice expresso na previsão contida no art. 16 da Instrução Normativa RFB nº 1891/2019, que impõe teto-limite para a sua concessão e cuja validade foi defendida pela autoridade impetrada. 3. O teto-limite imposto no referido ato infralegal não deve prevalecer, eis que instituído em evidente ofensa ao diploma normativo superior que trata da matéria (Lei nº 10.522/02), considerando que nele não consta a previsão de vedações relativas ao montante da dívida a ser objeto do parcelamento simplificado. 4. Em verdade, ao contrário do que defendido pela autoridade impetrada, o parágrafo único do art. 14-C da Lei nº 10.522/02, acrescido pela Lei nº 11.941/2009, é expresso ao afastar as vedações do art. 14 para a hipótese de parcelamento simplificado. 5. Assim, considerando que a Lei nº 10.522/02 não impõe limites de valores da dívida a ser parcelada, não há como a Instrução Normativa RFB nº 1891/2019, enquanto ato infralegal, inovar sobre matéria, da qual a lei ordinária que lhe fundamenta não trata, sob pena de violação ao princípio da reserva legal em matéria tributária. 6. Demais disso, a criação de novas condições para a concessão do parcelamento por meio de ato infralegal se deu em manifesta ofensa ao que prescreve o art. 155-A do CTN, segundo o qual "O parcelamento será concedido na forma e condição estabelecida em lei específica". 7. Nesse sentido, a jurisprudência do STJ se consolidou, afirmando que "Os arts. 11 e 13 da Lei n. 10.522/2002 delegam ao Ministro da Fazenda a atribuição para estabelecer limites e condições para o parcelamento exclusivamente quanto ao valor da prestação mínima e à apresentação de garantias, não havendo autorização para a regulamentação de 23/29 24 / 29 limite financeiro máximo do crédito tributário para sua inclusão no parcelamento." (REsp 1.739.641/RS, Primeira Turma, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, DJe 29/6/2018). 8. Registre-se, nesse contexto, que a deferência prestada ao entendimento consolidado na jurisprudência impõe-se como medida salutar para harmonização do tratamento da matéria, contribuindo sobremaneira para a uniformização da aplicação do direito, pois afasta respostas judiciais díspares e o decorrente desprestígio da atividade jurisdicional, findando por fortalecer a cultura do precedente. 9. "A legislação que instituiu o parcelamento em epígrafe não estabeleceu qualquer restrição de valores para a sua concessão, o que evidencia que a Instrução Normativa em referência desvirtuou a sua natureza de norma complementar, trazendo inovação ao ordenamento jurídico tributário, sem respaldo legal." (PROCESSO: 08010729820214058302, APELAÇÃO / REMESSA NECESSÁRIA, DESEMBARGADOR FEDERAL IVAN LIRA DE CARVALHO (CONVOCADO), 3ª TURMA, JULGAMENTO: 07/10/2021) 10. Apelação não provida. (PROCESSO: 08185462520204058300, APELAÇÃO / REMESSA NECESSÁRIA, DESEMBARGADOR FEDERAL FERNANDO BRAGA DAMASCENO, 3ª TURMA, JULGAMENTO: 24/02/2022) TRIBUTÁRIO. PARCELAMENTO SIMPLIFICADO. LIMITES DE VALORES. FIXAÇÃO POR ATO INFRALEGAL. DESCABIMENTO. Se a Lei 10.522/02 dispõe sobre o parcelamento simplificado sem considerar limites de valores, não há como ato normativo infralegal, que é norma complementar à lei (art. 100, I, do CTN), inovar, sob pena de violação ao princípio da reserva legal em matéria tributária. (TRF-4 - AG: 50582257520204040000 5058225-75.2020.4.04.0000, Relator: ALEXANDRE ROSSATO DA SILVA ÁVILA, Data de Julgamento: 23/03/2021, SEGUNDA TURMA) EMENTA: REEXAME NECESSÁRIO DE OFÍCIO E APELAÇÃO CÍVEL - RECURSO ADESIVO: NÃO CONHECIDO - AÇÃO ORDINÁRIA - ADMINISTRATIVO - SERVIDOR ESTADUAL - PROMOÇÃO POR ESCOLARIDADE ADICIONAL - LEI ESTADUAL N.º 15.464/2005 - DECRETO N.º 44.769/2008 - RESOLUÇÃO CONJUNTA SEPLAG/SEF N.º 6.582/2008 - EXIGÊNCIA DE MATRÍCULA NO CURSO QUE CONFERE DIREITO À PROMOÇÃO ATÉ 31/12/2007 - INOVAÇÃO POR NORMA INFRALEGAL - ILEGALIDADE DA REGULAMENTAÇÃO - EXIGÊNCIA AFASTADA - CORREÇÃO MONETÁRIA E JUROS DE MORA - HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. I - A luz do art. 475, § 1º, in fine, do CPC, a instância revisora é obrigada a proceder de ofício ao reexameda sentença ilíquida quando seu prolator não o tenha determinado. II - Somente a lei (em sentido estrito) pode criar, modificar ou extinguir direitos, de modo que o regulamento não pode inovar no mundo jurídico, 24/29 25 / 29 sendo-lhe vedado restringir ou ampliar os direitos postos pela lei regulamentada. III - Na medida em que o Decreto Estadual n.º 44.769/2008 e a Resolução Conjunta SEPLAG/SEF n.º 6.582/2008 têm por objeto a regulamentação da Lei n.º 15.464/2005, tem-se que aquelas normas infralegais, ao exigirem que o servidor estadual ocupante dos cargos das carreiras mencionadas na referida lei tenha se matriculado no respectivo curso até 31/12/2007 para fazer jus à promoção por escolaridade adicional, incidem em inaceitável inovação por extrapolação da lei regulamentada, a qual não faz dita exigência. (...) (TJ-MG - AC: 10024101173607001 MG, Relator: Peixoto Henriques, Data de Julgamento: 16/02/2016, Data de Publicação: 22/02/2016) 68. Eis as razões para a concessão da segurança propugnada. II.5 – DO PERICULUM IN MORA; 69. Para além da farta plausibilidade jurídica até então articulada, calha apenas rememorar o quadro permanente de perigo da demora ao qual se encontra submetido o Contribuinte. 70. Sem a medida de desenquadramento do SIMPLES para adesão ao PERSE, a Impetrante sofrerá concorrência desleal, face a impossibilidade de adesão aos benefícios da isenção fiscal; arcará com juros e multas maiores pela não migração de seu parcelamento; esvaziará mais ainda os seus caixas tanto pelo desembolso de parcelas mensais maiores, como pelo pagamento de tributos e queda de faturamento. 71. Caso o desenquadramento sem a adesão ao PERSE, a Impetrante sofrerá grave prejuízo econômico, pois terá a obrigação de adimplir com IRPJ, CSLL, PIS e COFINS com exigibilidade imediata. Portanto, os atos de desenquadrar do SIMPLES, garantido o PERSE precisam ser uníssonos. 72. Ocorre, Excelência, que a não concessão da liminar prejudicará a contribuinte pois ela terá que recolher os tributos no formato do SIMPLES Nacional e ao final do processo requisitar a sua restituição. Ademais, ficará com a exigibilidade retroativa da Contribuição Previdenciária Patronal, e demais contribuições parafiscais, com incidência de multas e juros, ficando ainda 25/29 26 / 29 impossibilitada de usufruir de benefícios fiscais na esfera estadual, ICMS, pois não conseguirá retroagir para adotar o regime especial de bares e restaurantes, determinado pela legislação pernambucana. O que faria, como exemplo, com que a sua carga tributária, em vez de ser de 4% sobre o faturamento, passasse a ser de praticamente 18%, ensejando uma verdadeiro incremento absurdo de carga tributária, conforme quadro exemplificativo abaixo: SEM LIMINAR E C/ SEGURANÇA CONCEDIDA C/ LIMINAR E C/ SEGURANÇA CONCEDIDA FATURAMENTO R$ 100.000,00 R$ 100.000,00 COMPRAS R$ 30.000,00 R$ 30.000,00 FOLHA DE PAGAMENTO R$ 20.000,00 R$ 20.000,00 ICMS R$ 18.632,25 R$ 4.000,00 CPP E DEMAIS CPF R$ 7.704,00 R$ 5.760,00 PERSE R$ - TOTAL R$ 26.336,25 R$ 9.760,00 1 -ICMS apurado considerando atraso de 1 ano, taxa Selic incidente, e compras 30% tributáveis a 18% 2 - CPP apurado com 1 ano de atraso 73. Perceba, Excelência, que são múltiplas e severas as consequências que a não concessão da medida limiar pode causar a impetrante, inviabilizando a adesão ao benefício do PERSE, fazendo com a sua carga tributária, na realidade, seja majorada em quase três vezes! 74. Urge, portanto, a necessidade de concessão de tutela provisória in limine litis para reafirmar os direitos do Contribuinte. III – PEDIDOS; 26/29 27 / 29 01. Pelo exposto, requer a Impetrante: i) o acolhimento das provas pré-constituídas ora apresentadas; ii) pronunciamento liminar para: ii.a) reconhecer o direito aos regimes de desoneração e parcelamento da Lei do PERSE e efetivá-los, determinando o desenquadramento do Simples Nacional para implantá-los fiel e plenamente, notadamente para aplicação da alíquota de 0% para o PIS/PASEP, COFINS, CSLL, IRPJ (ordinário e adicional), no regime de apuração de lucro presumido, conforme determinado pelo art. 4º da Lei 14.148/2021, e adesão ao parcelamento junto à PGFN, nos termos do 3º, § 3º da Lei nº 14.148/2021; ou ii.b) subsidiariamente, reconhecer o direito da Impetrante aos regimes tributários atualmente disciplinados na Lei do PERSE, quando não estiver enquadrada no SIMPLES NACIONAL, para fins de aplicar a alíquota de 0% para o PIS/PASEP, COFINS, CSLL, IRPJ (ordinário e adicional), no regime de apuração de lucro presumido, conforme determinado pelo art. 4º da Lei 14.148/2021. iii) a notificação da autoridade coatora, para prestar informações no prazo legal (art. 7º, inciso I, da Lei nº 12.016/2009); iv) a intimação órgão de representação judicial das pessoas jurídicas de direito público interessadas, em conformidade com o art. 7º, inciso II, da Lei nº 12.016/2009; v) a intimação do Ministério Público para se manifestar (art. 12 da Lei nº 12.016/2009); vi) no MÉRITO, por sentença: 27/29 28 / 29 vi.1) a concessão ou confirmação dos pleitos liminares, em todos os seus termos e efeitos respectivos, como aqueles listados nos pedidos “ii.a)” e “ii.b)”; vi.2) a declaração do direito líquido e certo a enquadrar-se na desoneração fiscal dos tributos federais concedida pela Lei do PERSE, bem como aos parcelamentos previstos naquele mesmo diploma normativo, mediante desenquadramento do Simples Nacional para filiação ao Lucro Presumido, possibilitando a redução à zero das alíquotas do IRPJ (ordinário e adicional), CSLL, PIS/PASEP e COFINS, devidos pelas empresas listadas no art. 2º da Lei 14.148/2021, desde 18 de março de 2022 e independente do CADASTUR; ou vi.2) caso não seja concedida a liminar, mas seja concedida a segurança, que a Contribuinte possa se desenquadrar com efeitos retroativos do regime do SIMPLES NACIONAL, e também, com o mesmo efeito, datados do ajuizamento deste writ, enquadrar-se no regime especial de bares e restaurantes conforme a legislação do Estado de Pernambuco, e assim, apurar e recolher a contribuição previdenciária patronal, as demais contribuições parafiscais reflexas, e o ICMS nos termos apurados pelo regime de específico citado acima, sem a incidência de multa de mora, mas apenas com juros moratórios; vi.3) a declaração do direito líquido e certo a enquadrar-se na desoneração fiscal dos tributos federais concedida pelo PERSE no Lucro Presumido, e independentemente do cadastro no CADASTUR, possibilitando a redução à zero das alíquotas do IRPJ (ordinário e adicional), CSLL, PIS e COFINS, e a ratificação da adesão ao parcelamento PERSE ou a possibilidade de adesão com efeitos retroativos ao ajuizamento do processo; vi.4) após o trânsito em julgado do provimentomeritório: a extinção dos créditos tributários indevidos, relativos às competências que sucederam a impetração do writ; e 28/29 29 / 29 vi.5) a condenação da Impetrada ao ressarcimento de todas as despesas e custas processuais. Requer-se, por derradeiro, que todas as intimações sejam publicadas na Imprensa Oficial em nome do advogado THIAGO AUGUSTO DOS SANTOS CARVALHO, brasileiro, inscrito na OAB/RN sob o no 17.100, sob pena de nulidade. Atribuímos à presente causa o valor de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais). Termos em que, respeitosamente, pede e espera deferimento. Recife/PE, 04 de agosto de 2022. Thiago Augusto dos Santos Carvalho OAB/RN - 17.100 André Adolfo da Silva OAB/RN – 17.325 29/29 22081112042319800000023837469 Processo: 0813059-06.2022.4.05.8300 Assinado eletronicamente por: THIAGO AUGUSTO DOS SANTOS CARVALHO - Advogado Data e hora da assinatura: 11/08/2022 12:10:10 Identificador: 4058300.23769820 Para conferência da autenticidade do documento: https://pje.jfpe.jus.br/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam https://pje.jfpe.jus.br/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam