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00 MS - Mandado de Seguranca - PERSE - Legalidade, Isonomia e Razoabilidade (1)

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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) DE UMA DAS VARAS FEDERAIS DA 
SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DO PERNAMBUCO, 
 
 
 
Tema: Adesão às medidas de desoneração fiscal do 
Programa Emergencial de Retomada do Setor de 
Eventos (PERSE), instituído pela Lei nº 14.148/2021 e 
parcialmente regulamentado pela Portaria nº 7.163/21 do 
Ministério da Economia; 
Observação: Alteração atípica, imprevisível, 
excepcional e relevante da realidade jurídico-tributária, 
superveniente ao escoamento do prazo legal 
ordinário para opção pelo regime do Simples 
Nacional. 
 
 
 
CAFÉ DO MERCADO RESTAURANTE E LANCHONETE LTDA, sociedade 
empresária inscrita no CNPJ/MF sob nº 26.757.274/0001-13 (doc. 01 – Atos Constitutivos), 
sediada na Rua das Calçadas, nº 154, São José, Recife/PE, CEP nº 50.020-290 (doc. 02 – 
Consulta de Inscrição e Situação Cadastral) e neste ato representada por Ivson Santos 
Barbosa (doc. 03 – Consulta do Quadro Societário e doc. 04 - Documento de Identificação 
do Representante Legal), vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência, por 
intermédio de seus advogados regularmente constituídos (doc. 05 - Procuração), com 
fundamento nos artigos 5º, inciso LXIX, da CF, e 1º, caput, da Lei nº 12.016/2009, para 
impetrar o presente 
 
MANDADO DE SEGURANÇA C/C MEDIDA LIMINAR 
 
em face do DELEGADO DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL EM RECIFE/PE, 
autoridade vinculada ao MINISTÉRIO DA ECONOMIA, que desempenha as suas funções 
na Delegacia da Receita Federal situada na Avenida Alfredo Lisboa, nº 1152, Recife/PE, CEP 
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50030-150 órgão integrante da administração direta da UNIÃO FEDERAL/FAZENDA 
NACIONAL, pessoa jurídica de direito público interno e representada pela 
PROCURADORIA GERAL DA FAZENDA NACIONAL EM RECIFE/PE, com 
endereço para notificação e demais comunicações processuais no Empresarial Charles Darwin, 
Rua Senador José Henrique, nº 231, 20º andar, Ilha do Leite, Recife/PE, CEP 50070-460, com 
endereço eletrônico para recebimento de notificações e intimações judiciais no 
judicial.prfn5@pgfn.gov.br, o que faz pelas razões de fato e de direito a seguir expostas. 
 
I – DOS FATOS; 
 
01. A Impetrante, como consabido, é uma sociedade empresária que há mais de 05 
(cinco) anos, desempenhando atividades econômicas no ramo dos bares e restaurantes desde 
23 de dezembro de 2016, identificadas pelos CNAEs “56.11-2-01 - Restaurantes e similares” 
e “56.11-2-03 - Lanchonetes, casas de chá, de sucos e similares”. 
 
02. Durante sua existência, a Demandante sempre buscou manter sua situação de 
regularidade fiscal, nem que fosse através do parcelamento das dívidas tributárias que não 
pôde adimplir imediatamente (doc. 06 – Mais Recente Certidão de Regularidade Fiscal 
Federal). 
 
03. Desde o início do cenário pandêmico, a Contribuinte passou a sofrer com os deletérios 
efeitos econômicos – diretos e indiretos – ocasionados, que impactaram significativamente 
seu faturamento mensal (doc. 07 – Comparativo de Faturamentos Anuais), quer pelas 
medidas sociais de prevenção pelo isolamento, quer pelas imposições estatais de fechamento 
dos estabelecimentos, no contexto de combate à COVID-19 (doc. 08 – Decretos Estaduais e 
Municipais). 
 
04. No entanto, atualmente a Autora ainda segue perseverando em suas operações, 
mantendo vários postos de trabalho diretos. 
 
05. Não por outras razões, a Impetrante deseja se valer do PERSE, regido pela Lei nº 
14.148/2021, editada originalmente aos 03 de maio de 2021, mais especificamente para se 
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enquadrar na desoneração fiscal dos tributos federais, possibilitando a redução à zero, 
pelo prazo de 60 (sessenta) meses, das alíquotas do Imposto sobre a Renda de Pessoa 
Jurídica – IRPJ, da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido – CSLL, da Contribuição 
ao PIS/PASEP e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social – COFINS, 
devidos pelas empresas conotadas pelo art. 2º da Lei 14.148/2021, in verbis: 
 
Art. 2º Fica instituído o Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos 
(Perse), com o objetivo de criar condições para que o setor de eventos possa mitigar 
as perdas oriundas do estado de calamidade pública reconhecido pelo Decreto 
Legislativo nº 6, de 20 de março de 2020. 
§ 1º Para os efeitos desta Lei, consideram-se pertencentes ao setor de eventos as 
pessoas jurídicas, inclusive entidades sem fins lucrativos, que exercem as seguintes 
atividades econômicas, direta ou indiretamente: 
I - realização ou comercialização de congressos, feiras, eventos esportivos, sociais, 
promocionais ou culturais, feiras de negócios, shows, festas, festivais, simpósios ou 
espetáculos em geral, casas de eventos, buffets sociais e infantis, casas noturnas e 
casas de espetáculos; 
II - hotelaria em geral; 
III - administração de salas de exibição cinematográfica; e 
IV - prestação de serviços turísticos, conforme o art. 21 da Lei nº 11.771, de 17 de 
setembro de 2008. 
§ 2º Ato do Ministério da Economia publicará os códigos da Classificação Nacional 
de Atividades Econômicas (CNAE) que se enquadram na definição de setor de 
eventos referida no § 1º deste artigo. 
 
06. Sucede, todavia, que a citada medida desonerativa somente foi promulgada, para 
se incorporar ao supracitado diploma normativo, no dia 18 de março de 2022, após derrubada 
do veto presidencial ao art. 4º, oportunamente transcrito: 
 
Art. 4º Ficam reduzidas a 0% (zero por cento) pelo prazo de 60 (sessenta) meses, 
contado do início da produção de efeitos desta Lei, as alíquotas dos seguintes tributos 
incidentes sobre o resultado auferido pelas pessoas jurídicas de que trata o art. 2º desta 
Lei: 
I - Contribuição para os Programas de Integração Social e de Formação do Patrimônio 
do Servidor Público (Contribuição PIS/Pasep); 
II - Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins); 
III - Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL); e 
IV - Imposto sobre a Renda das Pessoas Juridicas (IRPJ). 
 
07. E muito embora já se enquadrasse, por equiparação legal (art. 21 da Lei nº 
11.771/2008), à classe de prestadores de serviços turísticos (doc. 09 – Consulta ao 
CADASTUR), antes da citada inovação legal desonerativa (da edição, promulgação e 
derrubada do veto presidencial) – até então de incerta positivação –, em 23 de dezembro de 
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2016 teve que optar pelo Regime Tributário de Apuração e Arrecadação do Simples Nacional 
(doc. 10 – Prova do Enquadramento Tributário). 
 
08. Porém, caso a citada medida legal desonerativa não houvesse sido objeto de veto 
presidencial (doc. 11 – Veto Presidencial), somente derrubado pelo Parlamento no presente 
ano (doc. 12 – Derrubada Legislativa do Veto), certamente a Impetrante teria tido a 
oportunidade de optar pelo Lucro Presumido. 
 
09. Na realidade, a opção pelo lucro presumido seria mais do que óbvia (art. 4º da Lei nº 
14.390/2022), e afigurar-se-ia uma verdadeira imposição concorrencial, mormente porque a 
Autora é contribuinte de ICMS (doc. 13 – Inscrição Estadual) e poderia se valer no âmbito 
do Estado de Pernambuco do Regime Especial para Bares e Restaurantes, cuja opção outorgaria 
situação global de significativa economia tributária, dado o preenchimento dos requisitos 
jurídicos para tanto (doc. 14 – Satisfação dos Critérios do Regime Especial de ICMS – 
Certidão Negativa de Débitos Estaduais). 
 
10. Diante desse cenário relatado e devidamente comprovado, mediante provas pré-
constituídas idôneas, suficientes e satisfatórias, conclama-se a tutela jurisdicional para 
declarar e efetivar o direito líquido e certo à opção, inclusão e manutenção da medida 
desonerativa de caráter tributário outorgada pela Lei do PERSE (alíquota 0% para IRPJ, CSLL, 
PIS/PASEP e COFINS), bem como às demais outras disposições contidas no referido diploma 
legal, tais como adesão ao parcelamento de débitos fiscais (doc. 15 – Extrato de Débitos) 
estipuladoem seu art. 3º, cujo prazo se encerra em 31 de outubro de 2022, conforme Portaria 
PGFN nº 7.917/2021. 
 
11. Isto porque, adiantando pontualmente a fundamentação, a despeito de atualmente a 
Impetrante se encontrar filiada ao Regime do Simples Nacional, que veda a aplicação da 
redução à 0% da alíquota sobre tributos federais (art. 24, §1º, da Lei Complementar nº 
123/2006): 
 
a) sua adesão ao citado regime tributário se deu meses antes do advento da 
derrubada legislativa de veto presidencial, que culminou na introdução de 
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regime tributário desonerativo significativamente mais favorável, após os 
marcos temporais constitucionalmente estabelecidos para tanto (art. 66, §§4º, 6º 
e 7º, da CRFB/88); 
 
b) o supracitado art. 4º, - tardia e recentemente - incorporado à Lei 14.148/2021, 
ostenta evidente caráter indutor de recuperação econômica para setores 
específicos e estratégicos, alterando substancialmente o panorama normativo, 
por introduzir novos parâmetros transitórios (pelo prazo de 60 meses) para 
aferir potencialidades e projetar cargas tributárias, em cálculos normativos 
outrora impossíveis e inexigíveis do Contribuinte; 
 
c) a irretratabilidade da opção pelo regime do Simples Nacional, prescrita pelo 
caput do art. 16 da Lei Complementar nº 123/2006, pressupõe a manutenção 
de um panorama jurídico relativamente estável, sem alterações atípicas, 
imprevisíveis, excepcionais e relevantes na legislação tributária, passíveis de 
ocasionar distúrbios concorrenciais (art. 170, inciso IV, da CRFB), em prejuízo 
à função social da empresa (art. 5º, inciso XXIII, §§1º e 2º, da CRFB/88). Afinal: 
 
c.1) nas lições de Neil MacCormick, as regras haverão de ser interpretadas 
como normas relativas, que estabelecem condições “ordinariamente 
necessárias e presumivelmente suficientes”1; 
c.2) não se pode olvidar “da limitação da capacidade humana em prever todas 
as circunstâncias relevantes e, por conseguinte, da correspondente 
deficiência estrutural das regras”, fato que levou Carsten Backer a 
ponderar que, como “não é possível prever todas as exceções, não é 
possível criar uma regra sem exceções”2; e 
c.3) o princípio geral do rebus sic stantibus permeia toda a ordem jurídica 
brasileira, a exemplos dos regimes jurídicos: c.3.1) de revisão dos 
 
1 MACCORMICK, Neil. Retórica e o Estado de Direito: uma teoria da argumentação jurídica. Rio de Janeiro: 
Elsevier, 2008. p. 101. 
2 BACKER, Carsten. Regras, princípios e derrotabilidade. In: Revista Brasileira de Estudos Políticos, Vol. 102. 
Belho Horizonte: jan./jun. 2011, p. 67/68. 
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contratos públicos e privados; c.3.2) da desconstituição, alteração e ou 
rescisão da coisa julgada material; c.3.3) do exercício da autotutela 
administrativa; e c.3.4) da alterabilidade relativa dos lançamentos 
tributários. 
 
d) o regime do Simples Nacional foi concebido para ser justamente a concretização 
do mandamento constitucional reiterado de “tratamento diferenciado e 
favorecido para as microempresas e para as empresas de pequeno porte” (art. 
146, inciso III, alínea “d”, da CRFB/88), “constituídas sob as leis brasileiras e 
que tenham sua sede e administração no país” (art. 170, inciso IX, da 
CRFB/88), “visando a incentivá-las” (art. 179 da CRFB/88); 
 
e) o acolhimento da pretensão autoral apenas servirá para colocar-lhe em patamar 
de igualdade (arts. 5º, caput, §§1º e 2º, e 150, caput, inciso II, da CRFB/88), em 
comparação a seus concorrentes de maior porte, que por impossibilidade 
jurídica – frequentemente pautada na existência de faturamento anual superior 
a R$ 4.800.000,00 (quatro milhões e oitocentos mil reais), ex vi do art. 3º, caput, 
inciso II, da Lei Complementar nº 123/2006 - optaram pelo regime do lucro 
presumido; 
 
f) atualmente encontra-se em fase de estudo e planejamento um projeto de geração 
e comercialização de energia elétrica que se afigura como fato impeditivo à 
manutenção da referida empresa no regime do Simples Nacional, a teor do art. 
17, inciso VII, da Lei Complementar nº 123/2006; e 
 
g) faz-se imprescindível pronunciamento jurisdicional para conferir segurança 
jurídica à Impetrante, de modo que possa redefinir seu regime jurídico-tributário 
em caráter sistemático, harmônio e coerente. 
 
II – DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS; 
 
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II.1 – É CABÍVEL A IMPETRAÇÃO DO PRESENTE MANDADO DE SEGURANÇA 
PARA DECLARAR E ASSEGURAR DIREITOS, PREVENINDO A PRÁTICA DE 
ILICITUDES PELA FAZENDA PÚBLICA; 
 
12. Como consabido, a Constituição da República Federativa do Brasil confere à 
Impetrante a garantia fundamental do mandado de segurança (art. 5º, inciso LXIX), com o fito 
de instrumentalizar a proteção à direito líquido e certo de sua titularidade, que no caso presente 
compreendemos encontrar amparo na legislação e na jurisprudência pátrias. 
 
13. Ademais, o interesse de agir no processamento do presente writ repousa nas 
pretensões que a Contribuinte, ora Impetrante, tem de ver protegidos seus direitos patrimoniais, 
atualmente ameaçados pelo cenário normativo propício à interpretações acríticas, apressadas e 
divergentes. 
 
14. Busca-se, pois, dirimir uma crise de incerteza, constituída por interpretações 
antagônicas e conflituosas em matéria de tributação! 
 
15. Portanto, sobressai o cabimento da presente medida judicial para coibir a manutenção 
de quadro de enriquecimento ilícito estatal, como nossa Corte Cidadã já acertadamente 
reconheceu para a declaração do direito a adesão a regime fiscal alcançado pela norma legal. 
 
16. E outra não pode ser a conclusão, mormente quando se observar que, segundo a 
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, todo e qualquer juiz pode e deve exercer o 
controle difuso de inconstitucionalidade (Cf. Edcl no AgInt no AREsp nº 1.169.402/SP e RMS 
46.033/SC). 
 
II.2 – FAZ-SE PRESENTE O INTERESSE DE AGIR PARA CONCLAMAR A 
TUTELA JURISDICIONAL; 
 
17. Eis o teor dos arts. 19, inciso I, e 20, do CPC/15: 
 
Art. 19. O interesse do autor pode limitar-se à declaração: 
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I - da existência, da inexistência ou do modo de ser de uma relação jurídica; 
[...] 
Art. 20. É admissível a ação meramente declaratória, ainda que tenha ocorrido a 
violação do direito. 
 
18. Vê-se às claras que o legislador, como forma de maximizar a eficácia social do direito 
fundamental de acesso à justiça (art. 5º, inciso XXXV, da CRFB/88), reafirmou o quanto 
disposto no CPC/73 para possibilitar discussões judiciais: 
 
i) ainda que “apenas” para declarar a “inexistência ou o modo de ser de uma 
relação jurídica”; e 
ii) mesmo que “tenha ocorrido violação do direito”. 
 
19. Ademais, em modalidades adjetivas como a presente, nas quais a Fazenda Pública 
sequer será condenada ao pagamento de honorários advocatícios sucumbenciais, 
sobressai o interesse público na aplicação do direito ao caso concreto, para fins de maximização 
da segurança jurídica, tão necessária para coibir prováveis arbitrariedades da Administração 
Tributária Federal. 
 
20. E até mesmo a presença de precedentes vinculantes, nos termos do art. 927, inciso III, 
do CPC/153, não autoriza a extinção sem resolução do mérito, mas apenas sua observação, 
em prol da efetiva tutela de direitos! 
 
 
II.3 – O ÔNUS PROBATÓRIO ENCONTRA-SE DEVIDAMENTE SATISFEITO; 
 
21. Como pontifica Sérgio Cruz Arenhart4, o conceito de “direito líquido e certo” 
alberga grande amplitude sindicável: 
 
 
3 Art. 927. Os juízes e os tribunais observarão: [...] III - os acórdãos em incidente de assunção de competência ou 
de resolução de demandas repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e especial repetitivos; [...]. 
4 In CANOTILHO, J. J. Gomes [et. al.]. Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva/Almedina, 
2013. P.477/478. 
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A rigor, todo direito que exista é líquido e certo, sendoevidente que a complexidade 
do raciocínio jurídico – que pode ser mais acessível para alguém e menos para outrem 
– não tem nenhuma relação com a mencionada categoria. A liquidez e a certeza do 
direito têm sim vinculação com a maior ou menor facilidade na demonstração dos 
fatos sobre os quais incide o Direito. Desse modo, a questão do direito líquido e certo 
se põe no campo da prova das afirmações de fato feitas pelo impetrante. 
 
22. E especificamente, quanto ao mandado de segurança em matéria tributária, as 
exigências probatórias foram acertadamente analisadas pela Corte Cidadã, mais precisamente 
por ocasião do julgamento do Recurso Especial Repetitivo nº 1.715.256/SP (doc. 16 – 
Acórdão 01). 
 
23. A saber, neste recente precedente vinculante (art. 927, inciso III, da Lei nº 
13.105/2015), distinguiu-se com perfeição duas situações distintas, sintetizadas em sua ementa 
com os seguintes dizeres: 
 
i) “5. Logo, postulando o Contribuinte apenas a concessão da ordem para se 
declarar o direito à compensação tributária, em virtude do reconhecimento 
judicial transitado em julgado da ilegalidade ou inconstitucionalidade da 
exigência da exação, independentemente da apuração dos respectivos valores, 
é suficiente, para esse efeito, a comprovação de que o impetrante ocupa a 
posição de credor tributário, visto que os comprovantes de recolhimento 
indevido serão exigidos posteriormente, na esfera administrativa, quando o 
procedimento de compensação for submetido à verificação pelo Fisco. Ou seja, 
se a pretensão é apenas a de ver reconhecido o direito de compensar, sem 
abranger juízo específico dos elementos da compensação ou sem apurar o 
efetivo quantum dos recolhimentos realizados indevidamente, não cabe exigir 
do impetrante, credor tributário, a juntada das [guias que comprovam a 
existência do indébito, pois essa] providência somente será levada a termo no 
âmbito administrativo, quando será assegurada à autoridade fazendária a 
fiscalização e controle do procedimento compensatório”; e 
 
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ii) “6. Todavia, a prova dos recolhimentos indevidos será pressuposto 
indispensável à impetração, quando se postular juízo específico sobre as 
parcelas a serem compensadas, com a efetiva investigação da liquidez e certeza 
dos créditos, ou, ainda, na hipótese em que os efeitos da sentença supõem a 
efetiva homologação da compensação a ser realizada. Somente nessas hipóteses 
o crédito do contribuinte depende de quantificação, de modo que a inexistência 
de comprovação cabal dos valores indevidamente recolhidos representa a 
ausência de prova pré-constituída indispensável à propositura da ação 
mandamental”. 
 
24. Dúvidas não remanescem, pois, acerca da suficiência do acervo probatório pré-
constituído, composto por documentos idôneos que atestam o enquadramento da Impetrante 
nos benefícios fiscais concedidos pela Lei 14.148/2021. 
 
II.4 – DOS DIREITOS LÍQUIDOS E CERTOS QUE RECLAMAM TUTELA 
JURISDICIONAL; 
 
25. A Lei 14.148/2021, que dispõe sobre ações emergenciais e temporárias destinadas ao 
setor de eventos para compensar os efeitos decorrentes das medidas de combate à pandemia da 
Covid-19, instituiu o Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (PERSE), o 
qual consistem num conjunto de medidas que trazem benefícios tributários para as empresas 
de turismo e entretenimento. 
 
26. Dentre os benefícios instituídos deve-se ressaltar as medidas de parcelamento, bem 
como o estabelecimento de desoneração fiscal por meio de redução a zero das alíquotas 
de IRPJ, CSLL, PIS e COFINS, incidentes, respectivamente, sobre o lucro e a receita bruta 
das empresas dos setores abarcados. 
 
27. O art. 2º da Lei nº 14.148/2021 definiu as pessoas jurídicas que podem se enquadrar 
no PERSE (e, portanto, usufruir do benefício da desoneração citada), incluindo, dentre elas, as 
que prestam serviços turísticos, conforme o art. 21 da Lei 11.771/2008. Referida lei previu 
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ainda que ato normativo do Ministério da Economia iria publicar os códigos da Classificação 
Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) que se enquadram no setor de eventos. 
 
28. A partir da análise do panorama normativo, é possível concluir que as únicas 
exigências legais para o enquadramento no PERSE são: (a) que a empresa seja participante do 
setor de eventos e turismo; e de maneira específica, (b) que esteja contemplada no rol de 
CNAEs identificados em ato infralegal subsequente. 
 
29. Já o parágrafo único do art. 21 da Lei 11.771/2008 equiparou às prestadoras de 
serviços turísticos as empresas que desenvolvem atividades de restaurantes, cafeterias, 
bares e similares, estabelecendo ainda que elas facultativamente poderiam vir a se cadastrar 
perante o Ministério do Turismo no CADASTUR. 
 
30. O Ministério da Economia, a seu turno, editou a Portaria ME nº 7.163/2021 (doc. 17 
– Portaria Ministerial), como se verifica a seguir: 
 
Art. 1º Definir os códigos da Classificação Nacional de Atividades Econômicas - 
CNAE que se consideram setor de eventos nos termos do disposto no § 1º do art. 
2º da Lei nº 14.148, de 3 de maio de 2021, na forma dos Anexos I e II. 
§ 1º As pessoas jurídicas, inclusive as entidades sem fins lucrativos, que já exerciam, 
na data de publicação da Lei nº 14.148, de 2021, as atividades econômicas 
relacionadas no Anexo I a esta Portaria se enquadram no Programa Emergencial de 
Retomada do Setor de Eventos - Perse. 
§ 2º As pessoas jurídicas que exercem as atividades econômicas relacionadas no 
Anexo II a esta Portaria poderão se enquadrar no Perse desde que, na data de 
publicação da Lei nº 14.148, de 2021, sua inscrição já estivesse em situação regular 
no Cadastur, nos termos do art. 21 e do art. 22 da Lei nº 11.771, de 17 de setembro 
de 2008. 
Art. 2º Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação. 
 
31. Ao indicar as atividades do Anexo II, a referida portaria restringiu a utilização do 
PERSE às empresas que na data da publicação da Lei nº 14.148/2021 estivessem em 
situação regular no CADASTUR no Ministério do Turismo. 
 
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32. Entretanto, é essencial ressaltar que essa limitação trazida pela Portaria ME 
7.163/2021 haverá de ser interpretada cum granum salis, haja vista que no texto da Lei 
14.148/2021, que instituiu e detalhou como seriam todos os procedimentos e condições para 
usufruto do PERSE, não há qualquer restrição temporal em relação à exigência de 
cadastro no CADASTUR para fins de caracterização das atividades de bares e 
restaurantes como de prestação de serviços turísticos por equiparação. 
 
33. Ora, Excelência: (i) o art. 2º, §1º, inciso IV, da Lei do PERSE alude à “prestação de 
serviços turísticos, conforme art. 21 da Lei nº 11.771/2008”; (ii) a Lei nº 11.771/2008, a seu 
turno, estabelece uma mera permissão ao cadastramento de bares e restaurantes no 
CADASTUR (art. 21, parágrafo único, inciso I), ao contrário do que fez logo mais adiante, 
nos termos de seu artigo 22, de modo a abranger apenas as atividades econômicas do art. 21, 
caput, incisos I a VI, deixando de fora justamente o art. 21, parágrafo único, inciso I, senão 
vejamos: 
 
[...] 
Art. 21. Consideram-se prestadores de serviços turísticos, para os fins desta Lei, as 
sociedades empresárias, sociedades simples, os empresários individuais e os serviços 
sociais autônomos que prestem serviços turísticos remunerados e que exerçam as 
seguintes atividades econômicas relacionadas à cadeia produtiva do turismo: 
I - meios de hospedagem; 
II - agências de turismo; 
III - transportadoras turísticas; 
IV - organizadoras de eventos; 
V - parques temáticos; e 
VI - acampamentos turísticos. 
Parágrafo único. Poderão ser cadastradas no Ministério do Turismo, atendidas as 
condições próprias, as sociedades empresárias que prestem os seguintes serviços: 
I - restaurantes, cafeterias, bares e similares; 
II - centrosou locais destinados a convenções e/ou a feiras e a exposições e similares; 
III - parques temáticos aquáticos e empreendimentos dotados de equipamentos de 
entretenimento e lazer; 
IV - marinas e empreendimentos de apoio ao turismo náutico ou à pesca desportiva; 
V - casas de espetáculos e equipamentos de animação turística; 
VI - organizadores, promotores e prestadores de serviços de infra-estrutura, locação 
de equipamentos e montadoras de feiras de negócios, exposições e eventos; 
VII - locadoras de veículos para turistas; e 
VIII - prestadores de serviços especializados na realização e promoção das diversas 
modalidades dos segmentos turísticos, inclusive atrações turísticas e empresas de 
planejamento, bem como a prática de suas atividades. 
Art. 22. Os prestadores de serviços turísticos estão obrigados ao cadastro no 
Ministério do Turismo, na forma e nas condições fixadas nesta Lei e na sua 
regulamentação. 
§ 1o As filiais são igualmente sujeitas ao cadastro no Ministério do Turismo, exceto 
no caso de estande de serviço de agências de turismo instalado em local destinado a 
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abrigar evento de caráter temporário e cujo funcionamento se restrinja ao período de 
sua realização. 
§ 2o O Ministério do Turismo expedirá certificado para cada cadastro deferido, 
inclusive de filiais, correspondente ao objeto das atividades turísticas a serem 
exercidas. 
§ 3o Somente poderão prestar serviços de turismo a terceiros, ou intermediá-los, os 
prestadores de serviços turísticos referidos neste artigo quando devidamente 
cadastrados no Ministério do Turismo. 
§ 4o O cadastro terá validade de 2 (dois) anos, contados da data de emissão do 
certificado. 
§ 5o O disposto neste artigo não se aplica aos serviços de transporte aéreo. 
[...] 
 
34. Porém, diante da restrição temporal expressamente trazida pela Portaria ME 
7.163/2021, se a Impetrante passar a usufruir do benefício da desoneração fiscal prevista no 
PERSE, sofrerá risco iminente de ser autuada, justamente por ser a Impetrante uma empresa 
que presta os serviços descritos no CNAE 56.11-2/01, estabelecido no rol taxativo do anexo II 
da referida Portaria. 
 
35. Desta feita, estamos convencidos de que, sob pena de violar o princípio 
constitucional tributário da reserva legal (art. 150, caput, inciso I, da CRFB/88), consectário 
que é do sobre princípio da segurança jurídica (art. 5º, caput, inciso XXXVI, §§1º e 2º, da 
CRFB/88), não há como ato normativo infralegal, que é norma complementar à lei (art. 100, 
I, do CTN), inovar no ordenamento jurídico, impondo restrições ao direito da Impetrante de 
se enquadrar nos benefícios do PERSE, sob pena de violação ao princípio da reserva legal em 
matéria tributária e a hierarquia das normas. 
 
36. Logo, para fins de uma escorreita exegese do art. 1º, §2º, da Portaria ME nº 
7.163/2021: (a) ou se interpreta e aplica estritamente, apenas para a transação do PERSE, dado 
que a desoneração via alíquota 0% somente adveio posteriormente, em 2022, mediante 
derrubada legislativa do veto presidencial; (b) ou se reconhecer a ilegalidade do ato infralegal, 
dado que incumbiria ao “Ato do Ministério da Economia, nos termos do art. 2º, §2º, da Lei do 
PERSE apenas publicar “os códigos da Classificação Nacional de Atividades Econômicas 
(CNAE) que se enquadram na definição de setor de eventos referida no §1º”, o que, a toda 
evidência, não é sinônimo de estabelecer critério ou requisito adicional de índole 
restritiva. 
 
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37. Quando da leitura do art. 1º da Portaria supracitada, abstrai-se que esta dividiu os 
CNAEs em dois Anexos, sendo o Anexo I com a relação de atividades que automaticamente 
conferem a capacidade da Pessoa Jurídica de usufruir do PERSE, desde que as empresas já 
praticassem as atividades na data da publicação da lei. Por sua vez, o Anexo II contempla as 
atividades que impõem a condição da empresa já estar necessariamente cadastrada no 
Ministério do Turismo (CADASTUR), desde a data da publicação original da Lei nº 
14.148/2021, para fins de enquadramento. 
 
38. Ou seja, em vez de somente relacionar os CNAEs específicos que fazem jus ao 
enquadramento da empresa no PERSE e a subsequente fruição dos benefícios, conforme 
determina a sua lei instituidora, a Portaria nº 7.163/21 limitou o alcance dos benefícios do 
programa para as empresas que desenvolvessem certos tipos de atividades, conforme indicação 
do Anexo II, impondo a condição do cadastramento prévio no Ministério do Turismo para que 
pudessem se enquadrar nos benefícios concedidos pelo PERSE. É o caso da Impetrante, que 
tem como atividade “Restaurantes e similares” – CNAE 56.11-2-01, inserido no 
supramencionado Anexo II. 
 
39. Neste contexto, torna-se claro que a condição determinada pela Portaria ME nº 
7.163/21 excede o que lhe autoriza a Lei nº 14.148/2021. 
 
40. Ao editar a Lei nº 14.148/2021, o legislador ordinário não estabeleceu nenhuma 
restrição no tocante ao enquadramento das empresas no PERSE que não fosse somente em 
relação às atividades desenvolvidas, que logicamente teriam que ser atreladas ao setor de 
eventos e turismo, tendo a Lei somente delegado para ato normativo posterior a função de 
especificamente determinar quais seriam os CNAEs autorizados a participar do programa. 
 
41. A referida Lei não cita nenhuma condição em relação à questão temporal, nem sequer 
outro requisito necessário para que as empresas do ramo eventos e turismo se enquadrem no 
PERSE. 
 
42. De fato, a Portaria ME 7.163/2021, como norma de caráter infralegal, ao fazer tal 
restrição com a imposição do cadastro prévio no CADASTUR, exigindo a regularidade desde 
a publicação da Lei nº 14.148/21, extrapolou os limites da lei instituidora do PERSE, em 
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clara afronta aos princípios da hierarquia das normas e da reserva legal. E ainda, de 
maneira absurda, exigiu que tal cadastramento já tivesse sido realizado até a data da 
publicação da lei, impedindo até mesmo o direito de utilizá-lo a partir do cadastramento. 
 
43. Excelência, é cristalino que a intenção do legislador na edição da lei do PERSE 
era de criar um mecanismo de compensação para o setor que foi totalmente abalado pela 
crise decorrente da pandemia. Assim, a exigência de um cadastro retroativo impede que 
seja alcançada a finalidade da norma, e mais, é esdrúxulo interpretar que somente as 
empresas com o CADASTUR seriam as afetadas pela pandemia neste setor de eventos. S 
 
44. Assim, ao limitar o alcance do enquadramento legal, impondo condições até então 
inexistentes, o ato normativo criou embaraço que a lei não previu, devendo ser afastada a sua 
incidência, e por consequência, ser autorizado o regular enquadramento no PERSE da 
Impetrante, a qual promove e sempre promoveu a atividade de restaurante, relacionada 
no Anexo II da Portaria ME 7.163/2021, sem que lhe imponha qualquer restrição relativa 
ao cadastro no CADASTUR de maneira prévia à lei instituidora do programa de 
benefícios. 
 
45. Logo, mesmo o cadastro posterior à promulgação não retira o enquadramento da 
Impetrante ao regime estatuído pelo PERSE, visto que ela está dentro do rol de 
empreendimentos contemplados pelo CADASTUR, independentemente da data do seu 
deferimento. Desta feita, há clara ausência de finalidade da norma na portaria, que ilegalmente 
restringe o acesso aos benefícios concedidos pela lei. 
 
46. É imprescindível ressaltar que a Portaria ME nº 7.163/2021, ao impor limites 
adicionais não previstos na Lei nº 14.148/2021, está tratando esta última norma, de eficácia 
plena, como se norma de eficácia limitada fosse. 
 
47. As normas de eficácia limitada são aquelas que não produzem a plenitude de seus 
efeitos, dependendo da integração de uma nova lei, não contendo os elementos necessários para 
sua executoriedade. As normas de eficácia plena, por outro lado, já produzem os seus efeitosde imediato, podendo ser integradas por normas de hierarquia inferior tão somente para fins de 
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definição de procedimentos a serem seguidos, mas nunca para restringir o direito já posto em 
lei. 
 
48. Sobre o tema, é oportuno destacar que o art. 5º, inciso II, da CRFB/88 informa o 
princípio da reserva legal, enquanto que o art. 37, caput, também da Constituição Federal, 
prescreve o da legalidade administrativa. 
 
49. Tratam-se, portanto, de manifestações distintas de um mesmo preceito: o princípio da 
legalidade, que desempenha papel de destaque no Direito Administrativo, conferindo a 
necessidade de observância da lei pelo administrador público em todos os atos por este 
expedidos. Observe-se: 
 
Art. 5°. 
(...) 
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude 
de lei; 
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, 
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de 
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao 
seguinte: (...). 
 
50. Neste contexto, ao dispor que ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer algo, 
senão em virtude de lei, a Constituição Federal dirige o postulado aos particulares e ao Estado. 
Ora, apenas por meio de lei formal, aprovada por órgão constitucionalmente competente, pode 
o Estado exigir algo do particular, impondo-lhe o dever de agir ou de abster-se. 
 
51. O único instrumento hábil de que se pode utilizar a Administração Pública para impor 
ao particular a obrigação de fazer ou deixar de fazer algo é a lei. Assim, ato infralegal não pode, 
a pretexto de tratar-se de manifestação do poder regulamentar, regular matéria não contemplada 
por lei, estabelecendo restrição ao exercício de direitos ali não contemplada. 
 
52. O art. 100, I do CTN dispõe que os atos normativos expedidos pelas autoridades 
administrativas são normas complementares das leis. Lê-se: 
 
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“Art. 100. São normas complementares das leis, dos tratados e das convenções 
internacionais e dos decretos: 
I - os atos normativos expedidos pelas autoridades administrativas; 
 
53. Ademais, se são normas “complementares”, não possuem as instruções normativas e 
portarias o condão de estabelecer restrições não previstas na lei (em sentido estrito), que lhe 
deu fundamento de validade, sob pena de ofensa ao princípio da legalidade, da reserva da lei e 
da hierarquia das normas. 
 
54. Desta forma, não há como ato normativo infralegal, que é norma complementar 
à Lei (art. 100, I, CTN) inovar no ordenamento jurídico, impondo restrições ao direito da 
Impetrante de se enquadrar nos benefícios do PERSE, sob pena de violação ao princípio 
da reserva legal em matéria tributária e da hierarquia das normas. 
 
55. Levando em consideração que o poder regulamentar é uma das formas de expressão 
da função normativa do Poder Executivo, a quem cabe editar normas complementares à lei, é 
função precípua do Poder Executivo, a expedição de normas de caráter regulamentar que não 
inovem na ordem jurídica. 
 
56. Sendo assim, o poder regulamentar estatal não pode ser desempenhado com o objetivo 
de criar obrigações ou impor restrições a direitos sem que tenha, como sustentação, uma lei ou 
ato normativo com força de lei, sob pena de violação do princípio da legalidade. 
 
57. O cerne da questão posta em juízo recai sobre definir os limites necessários à produção 
normativa infralegal, especificamente no que tange à Portaria ME nº 7.163/21, que introduziu 
restrição estranha à lei por ela regulamentada. 
 
58. Neste sentido, uma portaria não pode criar direitos ou obrigações novas não 
estabelecidas no texto básico, nem tampouco pode facultar, ordenar ou proibir algo que o texto 
fundamental não faculte, ordene ou não proíba, sendo-lhe, portanto, vedado facultar, impor ou 
proibir diversamente do que o texto básico legal estabelece. 
 
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59. Consequentemente, as portarias, assim como os demais atos administrativos internos, 
não atingem nem obrigam aos particulares, pela manifesta razão de que os cidadãos não estão 
sujeitos ao poder hierárquico da Administração Pública. 
 
60. Portanto, se a Lei 14.148/21, ao indicar no seu art. 2º as pessoas jurídicas que 
poderiam se enquadrar no PERSE, indicou, dentre as beneficiárias, aquelas que prestam 
serviços turísticos, nos termos do art. 21 Lei 11.771/2008. E, se esta lei, ao se referir aos 
prestadores de serviços turísticos, incluiu os restaurantes, bares, cafeterias e similares, apenas 
estabelecendo que eles poderiam ser cadastrados no CADASTUR do Ministério do Turismo, 
não poderia uma portaria do Ministério da Economia simplesmente inovar no mundo jurídico 
para, em relação a determinadas atividades (como a dos restaurantes), restringir o 
enquadramento no PERSE apenas àqueles que já tivessem cadastro no CADASTUR na época 
da publicação da Lei 14.148/21 (ou seja, em maio de 2021). 
 
61. Melhor dizendo, não poderia a Portaria ME nº 7.163/2021, além de ter indicado os 
CNAEs que se referem às atividades estabelecidas na Lei nº 14.148/2021, ter inovado no 
mundo jurídico para criar critérios temporais que acabaram por limitar o enquadramento de 
diversas pessoas jurídicas no PERSE, dentre elas, a Impetrante. 
 
62. No momento em que a Portaria dispôs sobre determinadas pessoas jurídicas somente 
poderiam se enquadrar no PERSE se tivessem cadastro no CADASTUR anterior a maio de 
2021, acabou por extrapolar a Lei nº 14.148/2021, por restringir direito que o legislador 
ordinário não determinou. 
 
63. Na realidade, quem trata da necessidade de cadastro no CADASTUR para 
determinadas atividades é a própria Lei do Turismo (Lei 11.771/2008). Essa lei remete ao 
Ministério Turismo o cadastro dessas atividades, para que sejam consideradas como atividades 
turísticas. Nesse sentido, como essa lei não determina nenhum prazo, se o Ministério do 
Turismo fizer o cadastro da empresa e esta estiver regular no referido cadastro, significa dizer 
que ela exerce atividade considerada turística e, por essa razão, se enquadra no benefício do 
PERSE. 
 
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64. Inexiste, portanto, imposição legal que determine que o cadastro no CADASTUR seja 
anterior a maio de 2021, sendo assim ilegal e inconstitucional a imposição neste sentido 
prevista pela Portaria ME nº 7.163/2021, ao restringir direitos instituídos em lei formal. 
 
65. Ademais, é preciso ter em mente que os programas de benefícios e parcelamentos 
tributários visam, de um lado, favorecer a regularização de débitos de pessoas jurídicas, 
e, de outro, fomentar determinado tipo de setor da economia, que neste caso foi 
direcionado ao setor de eventos e turismo, em vista dos inúmeros prejuízos amargados 
pelas empresas desses setores neste período extenso da crise da COVID 19. Nesse sentido, 
o enquadramento da Impetrante como empresa pertencente ao setor de turismo, 
atendidas as condições legais da norma original, é direito subjetivo desta. Nesse contexto, 
a Portaria não pode impor óbice que a lei não prevê. 
 
66. Nessa medida, a exigência trazida pela Portaria ME nº 7.163/21 de regularidade de 
cadastro no CADASTUR em maio de 2021 para as atividades indicadas no Anexo II, 
representa inaceitável inovação não prevista na Lei 14.148/21, por extrapolação da lei 
regulamentada, a qual não faz dita exigência, o que representa clara infringência ao princípio 
da legalidade, esculpido no art. 97 do CTN e artigo 150 da CRFB/88. 
 
67. No sentido de que somente a lei pode criar, modificar ou extinguir direitos, de modo 
que norma regulamentar não pode inovar no mundo jurídico, sendo-lhe vedado restringir ou 
ampliar os direitos postos pela lei regulamentada, pode-se observar os julgados a seguir: 
 
Questiona a impetrante a legalidade da IN 1.765/2017 da Secretaria da ReceitaFederal, que determinou: “No caso de saldo negativo de IRPJ ou de CSLL, o 
pedido de restituição e a declaração de compensação serão recepcionados pela 
RFB somente depois da confirmação da transmissão da ECF, na qual se 
encontre demonstrado o direito creditório, de acordo com o período de 
apuração” (Redação do art. 161 – A, da IN 1.717/2017). Por sua vez, o art. 7º, 
§ 2º da Lei 9.430/96, que trata da compensação de tributos pagos a maior, 
determina: “§ 3º Havendo saldo de imposto pago a maior, a pessoa jurídica 
poderá compensá-lo com o imposto devido, correspondente aos períodos de 
apuração subseqüentes, facultado o pedido de restituição.” 
A lei é clara, o saldo credor de imposto recolhido em excesso poderá 
ser compensado pelo contribuinte nos períodos de apuração subsequentes, ou 
seja, no período de apuração seguinte. Ora, a IN 1.765/2017, ao condicionar o 
recebimento dos pedidos de restituição e declaração de compensação à prévia 
apresentação e processamento da ECF – 
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Escrituração Contábil Fiscal, acabou por restringir, ilegalmente, o exercício 
do direito de repetição de indébito ao mês de julho do período de apuração 
subsequente. Não pode ato normativo infralegal, especialmente em 
matéria tributária, impor restrição não prevista em lei, sob pena de 
afronta ao Princípio da Legalidade. Autorizando a lei a repetição de 
indébito no período de apuração subsequente, no caso, a partir de janeiro 
de 2018, não pode a Secretaria da Receita Federal editar norma 
postergando, mesmo que indiretamente, o exercício do direito de 
repetição de indébito para julho de 2018. Incidiu, ainda, a IN 1.765/2017 
em uma segunda ilegalidade, ao condicionar o exercício do direito de repetição 
de indébito à prévia apresentação da ECF, pois, nos termos do § 1º do art. 74 
da Lei 9.430/1996, com a redação da Lei 10.637/2002, “a compensação de que 
trata o caput será efetuada mediante a entrega, pelo sujeito passivo, 
de declaração na qual constarão informações relativas aos créditos utilizados 
e aos respectivos débitos compensados.” 
Expressamente determinou a lei que a mera declaração de 
compensação apresentada pelo contribuinte é hipótese de extinção imediata 
do crédito tributário, sob condição resolutória de posterior homologação pelo 
fisco. A apresentação da ECF, como exige o fisco, é necessária somente para 
o ato posterior de homologação da compensação, e não para o exercício do 
direito de compensação. Portanto, incidiu a IN 1.765/2017 em dupla 
ilegalidade. Ante o exposto, presentes os requisitos legais, DEFIRO o 
pedido de medida liminar para afastar os efeitos da IN 1.765/2017 da 
Secretaria da Receita Federal, assegurando ao impetrante o exercício do 
direito de compensação do saldo credor/negativo apurado em 2019, a 
partir de janeiro de 2020. 
(TRF-3 – Proc. 5005537-02.2020.4.03.6100, Data de 
Publicação: 07/04/2020) 
PROCESSO Nº: 0805347-94.2019.4.05.8000 - APELAÇÃO CÍVEL 
APELANTE: FAZENDA NACIONAL APELADO: VIACAO CIDADE DE 
MACEIO LTDA ADVOGADO: David Araújo Padilha e outros 
RELATOR(A): 
Desembargador(a) Federal Roberto Wanderley Nogueira - 1ª Turma 
MAGISTRADO CONVOCADO: Desembargador(a) Federal Daniela Zarzar 
Pereira De Melo Queiroz JUIZ PROLATOR DA SENTENÇA (1° GRAU): 
Juiz(a) Federal André Luís Maia Tobias Granja EMENTA PROCESSUAL 
CIVIL E TRIBUTÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA. 
PARCELAMENTO SIMPLIFICADO. LEI 10.522/2002. ART. 14-C. 
VALOR SUPERIOR A R$ 1.000.000,00. LIMITAÇÃO DE VALOR. 
PORTARIA CONJUNTA PGFN/RFB Nº 15/09. INAPLICABILIDADE. 
PRINCÍPIO DA RESERVA LEGAL. 
1. Apelação a desafiar sentença, que concedeu a segurança, para, 1) deferir o 
parcelamento simplificado das CDAs n. 15.882.002-9 e 15.919.292-7, 
emitindo a DARF para pagamento das sucessivas parcelas; 
2) determinar que a autoridade coatora se abstenha de negar a expedição de 
CPD-EN, bem como de inscrevê-las no CADIN, ou praticar quaisquer sanções 
à empresa sob a alegação de rescisão ou indeferimento do parcelamento, por 
ser superior ao valor máximo fixado na Portaria conjunta PGFN/RFB n. 15/09, 
id. 4058000.5040336. 2. Sustenta a apelante, em síntese, 1) necessária 
distinção entre a Portaria RFB/PGF n. 15/2009, revogada pela Portaria 
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RFB/PGF n. 448/2019, objeto da demanda, que condiciona a possibilidade de 
parcelamento de débito superior a R$ 1.0000.000,00 (um milhão de reais), à 
apresentação de garantia real ou fidejussória; 2) inexistência de direito líquido 
e certo a amparar a pretensão da apelada; 
3) a limitação estabelecida pelo art. 22, da Portaria Conjunta PGFN/RFB n. 
448/2019, a adesão ao parcelamento simplificado, não fere o princípio da 
legalidade, id. 4058000.520281. 3. A Lei nº 10.522/02, ao dispor sobre o 
parcelamento simplificado, não estabeleceu limites de valores para a 
concessão do parcelamento para os débitos de até R$ 1.000.000,00 (um milhão 
de reais), posteriormente, passou a englobar débitos de até R$ 5.000.000,00 
(cinco milhões de reais). 
4. Por seu turno, a Portaria Conjunta PGFN/RFB nº 15/2009, que trata do 
parcelamento de débitos perante a Receita Federal e a Fazenda Nacional, foi 
revogada pela Portaria Conjunta PGFN/RFB nº 895/2019, que remeteu à 
regulamentação da matéria referente aos parcelamentos de que tratam os arts. 
10 a 13, e 14 a 14-F da Lei nº 10.522/2002, por meio de atos próprios da 
Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil e da Procuradoria-Geral da 
Fazenda Nacional, no âmbito de suas atribuições. 
5. Considerando que a norma legal não prevê expressamente limitação de 
valor como requisito à concessão do parcelamento, não pode essa condição 
ser imposta, através de norma administrativa Portaria Conjunta PGFN/RFB nº 
15/2009, enquanto ato infralegal, impor limite máximo para a concessão do 
parcelamento simplificado, sob pena de incorrer em violação ao princípio da 
reserva legal em matéria tributária. 
6. Compulsando os autos, verifica-se que o contribuinte formulou pedido de 
parcelamento simplificado de que trata a o art. 14-C da Lei 10.522/2002, 
preenchidos os requisitos para a concessão do parcelamento, não se admite 
qualquer tipo de óbice à adesão do contribuinte que não esteja previsto em lei. 
7. Com efeito, a adesão a parcelamento de débitos tributários é 
uma faculdade conferida ao contribuinte nos termos e 
condições estabelecidas na lei de modo que a limitação de valor ao 
parcelamento simplificado, imposta pela Portaria Conjunta/PGFN/RFB 
15/2009, ao inovar o ordenamento jurídico, é impertinente e ilegal. 
Precedentes do TRF5: PROCESSO: 08029677120214050000, AGRAVO DE 
INSTRUMENTO, DESEMBARGADOR FEDERAL LEONARDO 
AUGUSTO NUNES COUTINHO, 3ª TURMA, JULGAMENTO: 
25/11/2021; PROCESSO: 08005065620194058000, APELAÇÃO / 
REMESSA NECESSÁRIA, DESEMBARGADOR FEDERAL ELIO 
WANDERLEY DE SIQUEIRA FILHO, 1ª TURMA, JULGAMENTO: 
03/09/2020; PROCESSO: 08020851020174058000, APELAÇÃO / 
REMESSA NECESSÁRIA, DESEMBARGADOR FEDERAL IVAN LIRA 
DE CARVALHO (CONVOCADO), 1ª TURMA, JULGAMENTO: 
02/07/2020 8. Apelação improvida. 
(PROCESSO: 08053479420194058000, APELAÇÃO 
CÍVEL, DESEMBARGADOR FEDERAL ROBERTO WANDERLEY 
NOGUEIRA, 1ª TURMA, JULGAMENTO: 10/03/2022) (grifamos) 
TRIBUTÁRIO. PARCELAMENTO SIMPLIFICADO. 
LIMITAÇÃO. INSTRUÇÃO NORMATIVA RFB nº 1.891/2019. 
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OFENSA AO PRINCÍPIO DA RESERVA LEGAL. PRECEDENTES DA 
TURMA. AGRAVO DE INSTRUMENTO PROVIDO. 
1. Agravo de instrumento, com pedido de antecipação da tutela recursal, 
interposto por R M TERCEIRIZACAO E GESTAO DE RECURSOS 
HUMANOS EIRELI contra decisão do Juízo da 10ª Vara Federal de 
Pernambuco, que indeferiu o pedido de tutela de urgência que formulou no 
mandado de segurança por meio do qual pleiteou naquele juízo que fosse 
determinado à autoridade coatora a conversão do parcelamento formulado por 
cautela na modalidade ordinária para a modalidade simplificada 
relativamenteao débito oriundo do processo administrativo de 
nº10.480.726931/2020-91. 2. O entendimento desta Turma está 
consolidado no sentido de que a Lei nº 10.522/02 possibilita, através do 
seu art. 14-C, a adesão ao parcelamento simplificado, sem a imposição de 
qualquer limitação de valor. 
Precedentes: PROCESSO: 08001344620204058300, 
Apelação/Remessa Necessária, DESEMBARGADORA FEDERAL 
ISABELLE MARNE CAVALCANTI DE OLIVEIRA LIMA 
(CONVOCADA), 3ª TURMA, JULGAMENTO: 08/10/2020; PROCESSO: 
08093266420194058000, Apelação/Remessa Necessária, 
DESEMBARGADOR FEDERAL CID MARCONI GURGEL DE SOUZA, 
3ª TURMA,JULGAMENTO: 21/05/2020; 
PROCESSO: 08073858020184058302,AC - Apelação Civel -, 
DESEMBARGADOR FEDERAL CID MARCONI, 3ª Turma, 
JULGAMENTO: 15/10/2019; Processo: 08119519620184058100, 
Desembargador Federal Fernando Braga, 3ª Turma, JULGAMENTO: 
27/02/2019; PROCESSO:08085539420184050000, AG - Agravo de 
Instrumento -, DESEMBARGADOR FEDERALROGÉRIO FIALHO 
MOREIRA, 3ª Turma, JULGAMENTO: 14/09/2018." (PROCESSO: 
08122188420194050000, AG - Agravo de Instrumento - , 
DESEMBARGADOR FEDERAL GUSTAVO DE PAIVA GADELHA 
(CONVOCADO), 3ª Turma, JULGAMENTO: 29/01/2020,PUBLICAÇÃO: 
3. A Instrução Normativa RFB nº 1.891/2019, apresenta caráter 
secundário e se presta somente a regulamentar as leis. Desse modo, ao 
determinar a limitação do valor de R$ 5.000.000,00 para pagamento de 
débitos por meio do parcelamento simplificado (art. 16), extrapola o 
poder regulamentador que é conferido à Administração Pública e, 
por consequência, ofende o princípio da legalidade. 
4. Esse entendimento já foi manifestado pelo STJ, para quem "Os arts. 
11 e 13 da Lei n. 10.522/2002 delegam ao Ministro da Fazenda a 
atribuição para estabelecer limites e condições para o parcelamento 
exclusivamente quanto ao valor da prestação mínima e à apresentação de 
garantias, não havendo autorização para a regulamentação de limite 
financeiro máximo do crédito tributário para sua inclusão no 
parcelamento." (RESP - RECURSO ESPECIAL - 1739641 
2018.01.06739-0, GURGEL DEFARIA, STJ - PRIMEIRA TURMA, DJE 
DATA:29/06/2018 ..DTPB:.). 
5. Agravo de instrumento provido para ratificar a liminar e assegurar 
à agravante a possibilidade de adesão ao Parcelamento Simplificado dos 
seus débitos, afastando a restrição imposta pelo art. 16, da Instrução 
Normativa nº 1.891/2019, ainda que em valor superior à R$5.000.000,00 
(cinco milhões de reais), se outro impedimento não existir, compensando-
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se eventuais valores pagos antecipadamente. (TRF-5 - AI: 
08141021720204050000, Relator: DESEMBARGADOR FEDERAL 
ROGÉRIO DE MENESES FIALHO MOREIRA, Data de Julgamento: 
22/04/2021, 3ª TURMA) (grifos acrescidos) 
PROCESSO Nº: 0818546-25.2020.4.05.8300 - APELAÇÃO / 
REMESSA NECESSÁRIA APELANTE: FAZENDA NACIONAL 
APELADO: ALPHA PLAST INDUSTRIA E COMERCIO LTDA 
ADVOGADO: Márcio Fam Gondim RELATOR(A): Desembargador(a) 
Federal Fernando Braga Damasceno - 3ª Turma JUIZ PROLATOR DA 
SENTENÇA (1° GRAU): Juiz(a) Federal Marina Cofferri EMENTA: 
TRIBUTÁRIO. PARCELAMENTO SIMPLIFICADO. LIMITAÇÃO. 
INSTRUÇÃO NORMATIVA RFB Nº 1891/2019. OFENSA AO PRINCÍPIO 
DA RESERVA LEGAL. 
1. Trata-se de apelação interposta pela UNIÃO (FAZENDA NACIONAL) 
contra a sentença prolatada em ação mandamental pelo Juíza Federal da 1ª 
Vara da Seção Judiciária de Pernambuco, que julgou procedente o pedido 
para determinar ao Impetrado que se abstenha de impor o limite de R$ 
5.000.000,00 (cinco milhões de reais) para a concessão do parcelamento 
simplificado em favor da Impetrante, tratando-se de limite previsto em ato 
infralegal (art. 16 da Instrução Normativa no 1.891/2019) em violação ao 
princípio da legalidade. 
2. O parcelamento pleiteado encontrou óbice expresso na previsão contida no 
art. 16 da Instrução Normativa RFB nº 1891/2019, que impõe teto-limite para 
a sua concessão e cuja validade foi defendida pela autoridade impetrada. 
3. O teto-limite imposto no referido ato infralegal não deve prevalecer, eis que 
instituído em evidente ofensa ao diploma normativo superior que trata da 
matéria (Lei nº 10.522/02), considerando que nele não consta a previsão de 
vedações relativas ao montante da dívida a ser objeto do parcelamento 
simplificado. 
4. Em verdade, ao contrário do que defendido pela autoridade impetrada, 
o parágrafo único do art. 14-C da Lei nº 10.522/02, acrescido pela Lei 
nº 11.941/2009, é expresso ao afastar as vedações do art. 14 para a hipótese de 
parcelamento simplificado. 
5. Assim, considerando que a Lei nº 10.522/02 não impõe limites de 
valores da dívida a ser parcelada, não há como a Instrução Normativa 
RFB nº 1891/2019, enquanto ato infralegal, inovar sobre matéria, da qual 
a lei ordinária que lhe fundamenta não trata, sob pena de violação ao 
princípio da reserva legal em matéria tributária. 
6. Demais disso, a criação de novas condições para a concessão 
do parcelamento por meio de ato infralegal se deu em manifesta ofensa ao que 
prescreve o art. 155-A do CTN, segundo o qual "O parcelamento 
será concedido na forma e condição estabelecida em lei específica". 
7. Nesse sentido, a jurisprudência do STJ se consolidou, afirmando que "Os 
arts. 11 e 13 da Lei n. 10.522/2002 delegam ao Ministro da Fazenda 
a atribuição para estabelecer limites e condições para o 
parcelamento exclusivamente quanto ao valor da prestação mínima e à 
apresentação de garantias, não havendo autorização para a regulamentação de 
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limite financeiro máximo do crédito tributário para sua inclusão 
no parcelamento." (REsp 1.739.641/RS, Primeira Turma, Rel. 
Ministro GURGEL DE FARIA, DJe 29/6/2018). 
8. Registre-se, nesse contexto, que a deferência prestada ao entendimento 
consolidado na jurisprudência impõe-se como medida salutar para 
harmonização do tratamento da matéria, contribuindo sobremaneira para a 
uniformização da aplicação do direito, pois afasta respostas judiciais díspares 
e o decorrente desprestígio da atividade jurisdicional, findando por fortalecer 
a cultura do precedente. 
9. "A legislação que instituiu o parcelamento em epígrafe não 
estabeleceu qualquer restrição de valores para a sua concessão, o que 
evidencia que a Instrução Normativa em referência desvirtuou a sua natureza 
de norma complementar, trazendo inovação ao ordenamento jurídico 
tributário, sem respaldo legal." (PROCESSO: 08010729820214058302, 
APELAÇÃO / REMESSA NECESSÁRIA, DESEMBARGADOR 
FEDERAL IVAN LIRA DE CARVALHO (CONVOCADO), 3ª TURMA, 
JULGAMENTO: 07/10/2021) 10. Apelação não provida. 
(PROCESSO: 08185462520204058300, APELAÇÃO / REMESSA 
NECESSÁRIA, DESEMBARGADOR FEDERAL FERNANDO 
BRAGA DAMASCENO, 3ª TURMA, JULGAMENTO: 24/02/2022) 
 
TRIBUTÁRIO. PARCELAMENTO SIMPLIFICADO. LIMITES DE 
VALORES. FIXAÇÃO POR ATO INFRALEGAL. DESCABIMENTO. 
Se a Lei 10.522/02 dispõe sobre o parcelamento simplificado sem 
considerar limites de valores, não há como ato normativo infralegal, que 
é norma complementar à lei (art. 100, I, do CTN), inovar, sob pena de 
violação ao princípio da reserva legal em matéria tributária. 
(TRF-4 - AG: 50582257520204040000 5058225-75.2020.4.04.0000, Relator: 
ALEXANDRE ROSSATO DA SILVA ÁVILA, Data de 
Julgamento: 23/03/2021, SEGUNDA TURMA) 
EMENTA: REEXAME NECESSÁRIO DE OFÍCIO E APELAÇÃO CÍVEL - 
RECURSO ADESIVO: NÃO CONHECIDO - AÇÃO ORDINÁRIA - 
ADMINISTRATIVO - SERVIDOR ESTADUAL - PROMOÇÃO 
POR ESCOLARIDADE ADICIONAL - LEI ESTADUAL N.º 15.464/2005 - 
DECRETO N.º 44.769/2008 - RESOLUÇÃO CONJUNTA SEPLAG/SEF 
N.º 6.582/2008 - EXIGÊNCIA DE MATRÍCULA NO CURSO QUE 
CONFERE DIREITO À PROMOÇÃO ATÉ 31/12/2007 - INOVAÇÃO POR 
NORMA INFRALEGAL - ILEGALIDADE DA REGULAMENTAÇÃO - 
EXIGÊNCIA AFASTADA - CORREÇÃO MONETÁRIA E JUROS DE 
MORA - HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. 
I - A luz do art. 475, § 1º, in fine, do CPC, a instância revisora é obrigada a 
proceder de ofício ao reexameda sentença ilíquida quando seu prolator não o 
tenha determinado. 
II - Somente a lei (em sentido estrito) pode criar, modificar ou extinguir 
direitos, de modo que o regulamento não pode inovar no mundo jurídico, 
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sendo-lhe vedado restringir ou ampliar os direitos postos pela lei 
regulamentada. 
III - Na medida em que o Decreto Estadual n.º 44.769/2008 e a Resolução 
Conjunta SEPLAG/SEF n.º 6.582/2008 têm por objeto a regulamentação da 
Lei n.º 15.464/2005, tem-se que aquelas normas infralegais, ao exigirem que 
o servidor estadual ocupante dos cargos das carreiras mencionadas na referida 
lei tenha se matriculado no respectivo curso até 31/12/2007 para fazer jus à 
promoção por escolaridade adicional, incidem em inaceitável inovação 
por extrapolação da lei regulamentada, a qual não faz dita exigência. (...) 
(TJ-MG - AC: 10024101173607001 MG, Relator: Peixoto Henriques, Data de 
Julgamento: 16/02/2016, Data de Publicação: 22/02/2016) 
 
68. Eis as razões para a concessão da segurança propugnada. 
 
II.5 – DO PERICULUM IN MORA; 
 
69. Para além da farta plausibilidade jurídica até então articulada, calha apenas 
rememorar o quadro permanente de perigo da demora ao qual se encontra submetido o 
Contribuinte. 
 
70. Sem a medida de desenquadramento do SIMPLES para adesão ao PERSE, a 
Impetrante sofrerá concorrência desleal, face a impossibilidade de adesão aos benefícios da 
isenção fiscal; arcará com juros e multas maiores pela não migração de seu parcelamento; 
esvaziará mais ainda os seus caixas tanto pelo desembolso de parcelas mensais maiores, como 
pelo pagamento de tributos e queda de faturamento. 
 
71. Caso o desenquadramento sem a adesão ao PERSE, a Impetrante sofrerá grave 
prejuízo econômico, pois terá a obrigação de adimplir com IRPJ, CSLL, PIS e COFINS com 
exigibilidade imediata. Portanto, os atos de desenquadrar do SIMPLES, garantido o PERSE 
precisam ser uníssonos. 
 
72. Ocorre, Excelência, que a não concessão da liminar prejudicará a contribuinte pois ela 
terá que recolher os tributos no formato do SIMPLES Nacional e ao final do processo requisitar 
a sua restituição. Ademais, ficará com a exigibilidade retroativa da Contribuição Previdenciária 
Patronal, e demais contribuições parafiscais, com incidência de multas e juros, ficando ainda 
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impossibilitada de usufruir de benefícios fiscais na esfera estadual, ICMS, pois não conseguirá 
retroagir para adotar o regime especial de bares e restaurantes, determinado pela legislação 
pernambucana. O que faria, como exemplo, com que a sua carga tributária, em vez de ser de 
4% sobre o faturamento, passasse a ser de praticamente 18%, ensejando uma verdadeiro 
incremento absurdo de carga tributária, conforme quadro exemplificativo abaixo: 
 
 
 
SEM LIMINAR E C/ SEGURANÇA 
CONCEDIDA 
C/ LIMINAR E C/ SEGURANÇA 
CONCEDIDA 
FATURAMENTO 
 R$ 
100.000,00 
 R$ 
100.000,00 
COMPRAS 
 R$ 
30.000,00 
 R$ 
30.000,00 
FOLHA DE 
PAGAMENTO 
 R$ 
20.000,00 
 R$ 
20.000,00 
 
 
ICMS 
 R$ 
18.632,25 
 R$ 
4.000,00 
CPP E DEMAIS 
CPF 
 R$ 
7.704,00 
 R$ 
5.760,00 
PERSE 
 R$ 
- 
TOTAL 
 R$ 
26.336,25 
 R$ 
9.760,00 
1 -ICMS apurado considerando atraso de 1 ano, taxa Selic incidente, e compras 30% tributáveis a 18% 
2 - CPP apurado com 1 ano de atraso 
 
 
73. Perceba, Excelência, que são múltiplas e severas as consequências que a não 
concessão da medida limiar pode causar a impetrante, inviabilizando a adesão ao 
benefício do PERSE, fazendo com a sua carga tributária, na realidade, seja majorada em 
quase três vezes! 
 
74. Urge, portanto, a necessidade de concessão de tutela provisória in limine litis para 
reafirmar os direitos do Contribuinte. 
 
III – PEDIDOS; 
 
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01. Pelo exposto, requer a Impetrante: 
 
i) o acolhimento das provas pré-constituídas ora apresentadas; 
 
ii) pronunciamento liminar para: 
 
ii.a) reconhecer o direito aos regimes de desoneração e parcelamento da Lei do 
PERSE e efetivá-los, determinando o desenquadramento do Simples 
Nacional para implantá-los fiel e plenamente, notadamente para aplicação 
da alíquota de 0% para o PIS/PASEP, COFINS, CSLL, IRPJ (ordinário e 
adicional), no regime de apuração de lucro presumido, conforme 
determinado pelo art. 4º da Lei 14.148/2021, e adesão ao parcelamento 
junto à PGFN, nos termos do 3º, § 3º da Lei nº 14.148/2021; ou 
ii.b) subsidiariamente, reconhecer o direito da Impetrante aos regimes 
tributários atualmente disciplinados na Lei do PERSE, quando não estiver 
enquadrada no SIMPLES NACIONAL, para fins de aplicar a alíquota de 
0% para o PIS/PASEP, COFINS, CSLL, IRPJ (ordinário e adicional), no 
regime de apuração de lucro presumido, conforme determinado pelo art. 
4º da Lei 14.148/2021. 
 
iii) a notificação da autoridade coatora, para prestar informações no prazo legal 
(art. 7º, inciso I, da Lei nº 12.016/2009); 
 
iv) a intimação órgão de representação judicial das pessoas jurídicas de direito 
público interessadas, em conformidade com o art. 7º, inciso II, da Lei nº 
12.016/2009; 
 
v) a intimação do Ministério Público para se manifestar (art. 12 da Lei nº 
12.016/2009); 
 
vi) no MÉRITO, por sentença: 
 
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vi.1) a concessão ou confirmação dos pleitos liminares, em todos os seus 
termos e efeitos respectivos, como aqueles listados nos pedidos “ii.a)” 
e “ii.b)”; 
vi.2) a declaração do direito líquido e certo a enquadrar-se na desoneração 
fiscal dos tributos federais concedida pela Lei do PERSE, bem como 
aos parcelamentos previstos naquele mesmo diploma normativo, 
mediante desenquadramento do Simples Nacional para filiação ao 
Lucro Presumido, possibilitando a redução à zero das alíquotas do IRPJ 
(ordinário e adicional), CSLL, PIS/PASEP e COFINS, devidos pelas 
empresas listadas no art. 2º da Lei 14.148/2021, desde 18 de março de 
2022 e independente do CADASTUR; 
ou 
vi.2) caso não seja concedida a liminar, mas seja concedida a segurança, 
que a Contribuinte possa se desenquadrar com efeitos retroativos do 
regime do SIMPLES NACIONAL, e também, com o mesmo efeito, 
datados do ajuizamento deste writ, enquadrar-se no regime especial de 
bares e restaurantes conforme a legislação do Estado de Pernambuco, 
e assim, apurar e recolher a contribuição previdenciária patronal, as 
demais contribuições parafiscais reflexas, e o ICMS nos termos 
apurados pelo regime de específico citado acima, sem a incidência de 
multa de mora, mas apenas com juros moratórios; 
vi.3) a declaração do direito líquido e certo a enquadrar-se na desoneração 
fiscal dos tributos federais concedida pelo PERSE no Lucro Presumido, 
e independentemente do cadastro no CADASTUR, possibilitando a 
redução à zero das alíquotas do IRPJ (ordinário e adicional), CSLL, 
PIS e COFINS, e a ratificação da adesão ao parcelamento PERSE ou a 
possibilidade de adesão com efeitos retroativos ao ajuizamento do 
processo; 
vi.4) após o trânsito em julgado do provimentomeritório: a extinção dos 
créditos tributários indevidos, relativos às competências que 
sucederam a impetração do writ; e 
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29 / 29 
 
vi.5) a condenação da Impetrada ao ressarcimento de todas as despesas 
e custas processuais. 
 
Requer-se, por derradeiro, que todas as intimações sejam publicadas na 
Imprensa Oficial em nome do advogado THIAGO AUGUSTO DOS SANTOS 
CARVALHO, brasileiro, inscrito na OAB/RN sob o no 17.100, sob pena de nulidade. 
 
Atribuímos à presente causa o valor de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais). 
 
Termos em que, respeitosamente, pede e espera deferimento. 
 
Recife/PE, 04 de agosto de 2022. 
 
Thiago Augusto dos Santos Carvalho 
OAB/RN - 17.100 
 
André Adolfo da Silva 
OAB/RN – 17.325 
 
 
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22081112042319800000023837469
Processo: 0813059-06.2022.4.05.8300
Assinado eletronicamente por: 
THIAGO AUGUSTO DOS SANTOS CARVALHO - Advogado
Data e hora da assinatura: 11/08/2022 12:10:10
Identificador: 4058300.23769820
Para conferência da autenticidade do documento: https://pje.jfpe.jus.br/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam
https://pje.jfpe.jus.br/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam

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