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Resenha de Democracia, Distribuição e Correntes de Diásporas do livro Recriar África de James Sweet

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SWEET, James. Recriar África: cultura, parentesco e religião no mundo afro português (1441-1770). Lisboa: Edições 70, 2007. Cap.1: Demografia, Distribuição e Correntes de Diáspora, pp. 29-48. 
James Sweet é professor de História e tem sua pesquisa voltada para os aspectos sociais e culturais dos africanos e seus descendentes no mundo em geral. Escritor do livro “Recriar África: cultura, parentesco e religião no mundo afro-português (1441-1770)” da qual será analisado o capítulo 1 denominado “Demografia, distribuição e correntes de diásporas”. Nessa primeira parte será possível conhecer sobre os escravos e as rotas demográficas estabelecidas durante o tráfico de escravos no contexto colonial de Portugal nos anos anteriormente citados, dando devida importância para os aspectos étnicos das comunidades escravas que estavam estabelecidas no Brasil. 
O autor inicia sua obra através da narração da captura de uma garota que é levada para um navio negreiro com destino para o Brasil, mostra-se então, os pontos de permanência religiosa da menina mesmo distante de seu local de origem e as acusações feitas pelos seus senhores em relação ao que eles consideravam descrença. Sweet busca mostrar como se configurava as relações de parentesco e os mecanismos culturais e religiosos dos escravos africanos estabelecidos na atmosfera luso-africana, mesmo diante de um novo ambiente e colocado sobre situações conflitantes, os escravos preservavam suas origens e em alguns casos ainda fortalecem seus valores perante o encontro de indivíduos pertencentes do mesmo grupo. 
Essas permanências eram muitas vezes utilizadas para provocar os proprietários de escravos, ainda mais que determinados negociantes de escravos fixaram sua atenção somente em uma região, fazendo com que ocorresse a reunião de alguns indivíduos que compartilhavam os mesmos aspectos culturais. Contudo, é preciso ressaltar um ponto importante colocado por Sweet no que se refere a utilização de uma análise para compreender esses aspectos étnicos dos escravos que realizavam as diásporas, pois na maioria das vezes os escravizados acabavam não compreendendo os aspectos étnicos do qual estavam relacionados. No primeiro tópico “O tráfico de escravos no mundo colonial português 1441- 1770” será abordado as diferentes fases do tráfico de escravos. Sweet afirma que cada fase teria relação com o início de um novo século, a primeira fase iria de 1441 até 1521 e exportaria uma quantidade significativa de indivíduos da costa da África para a Península Ibérica e as Ilhas Atlânticas; a segunda fase começou por volta de 1518 e começa a redirecionar o comércio de escravos que antes era da Europa e das Ilhas Atlânticas para as Américas, essa mudança na rota é vista como um instrumento importante para se ter mais lucros. 
A terceira fase vai estabelecer os aspectos de predominância dos escravos da África Central que se tinha iniciado na fase anterior, aberta durante o século XVI e que teve sua continuidade até o século XVIII. A expressiva participação de centro africanos no comércio de escravos é apontada por Sweet como uma influência das guerras estabelecidas por Portugal nessas regiões e a justificativa da venda dos prisioneiros como escravos. Os aspectos que levaram para a última fase tem início de um processo ocorrido no final do século XVII que altera completamente essa dominância de escravos vindos da África Central. 
A quarta fase ocorre do desvio de atenção da África Central para Costa da Mina por Pernambuco e Baía, principalmente diante da descoberta de ouro em Minas Gerais no século XVIII, com a intensificação de tráfico de escravos da Mina é possível afirmar uma alteração no contexto histórico da escravatura brasileira. Com essas mudanças, o autor reconhece que seria formado uma população africana no Brasil, e não mais algo tão específico quando era dominante o comércio de escravos centro 
africanos. 
James Sweet afirma a necessidade de se prestar atenção durante a análise das mudanças demográficas, pois é preciso entender que elas não podem ser vistas como algo fixo, pois deve-se levar em consideração as avaliações dos processos de mudanças sociais e culturais que ocorreram ao longo do tempo e de maneira gradual. Além disso, o historiador demonstra ter consciência sobre as diversidades presentes nas populações africanas, entretanto, reconhece que essas diferenciações não são obstáculos para a reinvenção de formas culturais africanas. 
O autor explica detalhadamente através da utilização de mapas e da sua pesquisa como estavam organizadas as zonas culturais, quais eram suas delimitações territoriais e os grupos que cada uma englobava. Expõe a generalização feita pelos portugueses ao tratarem todos os africanos como originários de um mesmo grupo ou como representantes do grupo étnico que tinham sido comprados, quando não tinham suas identidades inventadas pelos europeus. No Brasil ainda buscou-se preservar as identidades mais específicas, mas as designações mais regionais, como no caso de indivíduos da África Central e da Mina, ajudaram a elaboração de novas bases culturais nas comunidades escravas. Salienta-se a importância de compreender que até mesmo uma zona regional tinha dezenas de identidades e esse processo de edificação de uma identidade coletiva fazia referência à situação que se estava estabelecido os africanos, migração forçada e do desenraizamento. 
O segundo tópico “A criação de comunidades escravas no Brasil: origens e etnias” vai propor conhecer mais sobre a composição e as mudanças na sociedade escrava ao longo do tempo através dos inventários. Sweet apresenta as fontes para análise da população escrava, mas reconhecendo que são poucos os inventários seculares que possivelmente tenham sobrevivido ao tempo, diferentemente dos inventários religiosos de jesuítas e beneditinos que prevaleceram em vários documentos. O historiador afirma a importância de não ter esses documentos registrados por religiosos como únicos meios representativos, pois eles podem refletir alguma situação de exploração religiosa, e consequentemente, não representar a população no geral. 
O autor não se prende a um único tipo de inventário para construir suas análises, uma das fontes que passaram pelo tempo como ferramenta para o reconhecimento das mudanças na estrutura social. Evidencia o processo gradativo de substituição dos indígenas escravizados por africanos escravizados, porém deixa explícito que não se deve entender que as transições acontecem da mesma forma para todos os locais. Mesmo reconhecendo a importância das fontes observadas, Sweet crítica que muitas delas escondem mais do que revelavam e que algumas, perante uma investigação comparativa, eram bastante diferentes umas das outras. 
Diante do que foi mencionado anteriormente, Sweet expõe a argumentação feita por Alden sobre as preferências de compra dos jesuítas na década de 70 do século XVII, sugerindo que era preferível a compra de escravos crioulos e mulatos, contudo, o autor se debruça sobre as fontes para afirmar que os registros da época mostravam outra coisa. Segundo os documentos, a presença de escravos africanos 
nos engenhos era bem maior, e também, os preços desses eram mais baratos do que os nascidos no Brasil. 
James Sweet traça uma cronologia bastante explicativa sobre o tráfico de escravos no Brasil e os grupos que se destacavam em cada período, além de trazer os aspectos da crioulização e o papel das instituições eclesiásticas. Acentuando a existência de uma maior parcela de crioulos nas propriedades religiosas e afirmando que muitos crioulos eram dados como esmolas ou heranças, identifica os religiosos como figuras participantes do comércio de escravos, e como agentes que obtinham privilégios perante esse sistema de doações e negociações. 
Em “Demografia, distribuição e correntes de diásporas” é possível ter contato com uma rica variedade de fontes, os mapas e as informações trazidas ajudam a elucidar o processode entendimento do assunto. É um texto que apresenta um vasto conhecimento por parte do autor, e os questionamentos propostos são respondidos por Sweet, mas incentivam o leitor a querer conhecer ainda mais sobre as transições ocorridas em função tráfico de escravos. O assunto é explicado de forma consistente e mostra que foi construído através de uma vasta pesquisa teórica, as separações das temáticas são feitas de maneira organizada e auxiliam na estruturação da obra e compreensão dos assuntos abordados.

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