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Conceito de Trabalho na História

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21O	Conceito	de	trabalho
História
1
RELAÇÕES DE TRABALHO:
O conceito de trabalho
Altair Bonini1n
1Colégio de Aplicação Pedagógico da Universidade Estadual 
de Maringá – Maringá – UEM
ertamente você já ouviu 
essa música sendo canta-
rolada por aí, ela expressa 
uma opinião sobre o traba-
lho. Por que será que o au-
tor diz que não quer saber 
de emprego, conseqüente-
mente, de um trabalho ou 
ocupação? O que significa o 
trabalho para ele? Acreditamos que a realidade hoje seja 
diferente. Talvez uma questão importante que ocupa gran-
de parte do tempo dos jovens na atualidade seja a busca 
por um emprego, para, através deste, poder conquistar 
dignidade e respeito entre seus familiares e/ou comunida-
de, adquirir mercadorias e produtos que julgue necessário, 
entre tantas outras coisas que o trabalho proporciona. Para 
tanto, empenha-se em um longo período de preparação.
Entretanto, os seres humanos vivem uma contradição, tan-
to podem satisfazer-se pelo trabalho conquistando seus 
objetivos, quanto o trabalho pode significar sofrimento, 
cansaço, a monotonia das atividades repetitivas ou a ex-
ploração de suas capacidades físicas e intelectuais. 
Podemos pensar o que se entende por trabalho? Sem-
pre foi da forma como é realizado hoje? Quais os 
significados que o trabalho vem adquirindo no 
decorrer da história? Para as sociedades atuais, 
qual a importância do trabalho?
Ora bolas
Não me amole
Com esse papo
De emprego, uuuuu
Não tá vendo
Não tô nessa
E o que eu quero é
Sossego... Sossego
(Composição: Tim Maia [1942-1998], 1978).n
22 Relações	de	trabalho
Ensino	Médio
	 O	que	é	o	trabalho?
Parece tarefa fácil definir o que significa o termo trabalho. Entretan-
to, quando nós iniciamos essa atividade, percebemos a complexidade 
do conceito, que pode ser visto sob vários prismas e adquirir significa-
dos diversos, desde o uso cotidiano, quando se fala “o trabalho da má-
quina escavadeira” ou “a mulher entrou em trabalho de parto,” até ex-
plicações filosóficas, que procuram entender as dimensões do trabalho 
para o homem e para a vida em sociedade.
A própria palavra trabalho não é algo que tenha uma definição cla-
ra. Em quase todas as línguas européias existem mais de uma defini-
ção, em grego tem uma denominação para esforço e outra para fabri-
cação. Em latim existe a separação entre labore, a ação, e operare, que 
corresponde à obra. Em outras línguas existem pelo menos duas deno-
minações ligadas à realização de um trabalho, por exemplo, em fran-
cês existe a diferença entre travaillere e ouvrer; trabajar e obrar em 
espanhol como no inglês labour e work.
Em nossa língua, a palavra trabalho originou-se do latim tripalium, 
que era um instrumento agrícola utilizado pelos romanos para bater o 
trigo, as espigas de milho ou o linho. Com o tempo, tripalium foi re-
lacionado com instrumento de tortura, juntamente com o verbo Tri-
paliare, que significa torturar. Desta forma, em português, a palavra 
originou-se vinculada às idéias de padecimento, sofrimento, esforço, 
laborar e obrar.
Na Filosofia, o conceito de trabalho é visto como a expressão das 
forças espirituais ou corporais em atividade, tendo em vista um fim 
que deve ser alcançado. Mesmo que não se produza nada imediata-
mente visível (trabalho intelectual) como um resultado exteriormente 
perceptível, um produto ou uma mudança de estado (trabalho corpo-
ral), pode existir uma separação entre o trabalho intelectual e o braçal, 
e essas duas formas de trabalho encaixam-se nesta definição. 
Mas será que podemos separar trabalho intelectual e trabalho cor-
poral? O pedreiro não utiliza inteligência e raciocínio para erguer uma 
parede de tijolos? O escritor não tem desgaste físico ao escrever um li-
vro? Para pensadores, como Karl Marx (1818-1883), é por meio do tra-
balho que o homem modifica a natureza e o mundo para satisfazer as 
necessidades humanas (pessoais ou sociais) e assim transformar a na-
tureza em objetos de cultura, ou seja, ao mesmo tempo em que a na-
tureza é transformada, o mesmo ocorre com o homem. 
Saibamos que, para os filósofos que compartilham do pensamen-
to de Marx, o que distingue o trabalho humano do dos animais é que 
naquele há consciência e intencionalidade, enquanto os animais tra-
balham por instinto, sem consciência. Outra característica do trabalho 
humano é que ele expressa a liberdade humana, visto que não pode-
mos ser programáveis como um robô, podemos realizar as tarefas de 
formas variáveis e até nos realizarmos nelas.
No dicionário Auré-
lio, a palavra “Trabalho” 
está relacionado à aplica-
ção das forças e faculda-
des humanas para alcan-
çar um determinado fim. 
Atividade coordenada, de 
caráter e/ou intelectual, 
necessária à realização de 
qualquer tarefa, serviço ou 
empreendimento. O exer-
cício dessa atividade co-
mo ocupação, ofício, pro-
fissão, etc.
(Adaptado de Novo di-
cionário Aurélio da 
Língua Portuguesa, 
1986, p. 1695.)
23O	Conceito	de	trabalho
História
Karl Marx – 1818-1883.n
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Karl Marx nasceu em 05 
de maio de 1818, na anti-
ga Prússia Renana – compõe 
a atual Alemanha. De família 
abastada e culta, estudou na 
Universidade de Bona e de-
pois na de Berlim, formou-se 
em Direito. Em 1841 termi-
nou o doutorado em Filosofia. 
Tentou a carreira universitária, 
mas grande parte de sua vi-
da desenvolveu a função de 
jornalista. Contava sempre 
com a ajuda do amigo ale-
mão F. Engels, com quem es-
creveu obras como O mani-
festo comunista (1848) e 
A ideologia alemã (1845-
46). Faleceu em 14 de março 
de 1883. Dentre suas obras, 
podemos destacar: A misé-
ria da filosofia (1847), O 
capital (1867), Sobre a 
crítica da economia po-
lítica (1859).
Desta forma, na linguagem diária não parece haver diferenças quan-
do utilizamos este termo ou conceito, é na linguagem científica que os 
significados tornam-se mais complexos. É isto que vamos buscar en-
tender neste Folhas.
Documento 1
 Antes de tudo é um processo entre o homem e a Natureza, um pro-
cesso em que o homem, por sua própria ação, media, regula e controla seu 
metabolismo com a Natureza. Ele mesmo se defronta com a matéria natural 
como uma força natural. Ele põe em movimento as forças naturais perten-
centes à sua corporalidade, braços e pernas, cabeça e mão, a fim de apro-
priar-se da matéria natural numa forma útil para sua própria vida. Ao atuar, 
por meio desse movimento, sobre a Natureza externa a ele, ao modificá-la, 
ele modifica, ao mesmo tempo, sua própria natureza. Ele desenvolve as po-
tências nela adormecidas e sujeita o jogo de suas forças a seu próprio domí-
nio. Não se trata aqui das primeiras formas instintivas, animais, de trabalho. 
O estado em que o trabalhador se apresenta no mercado como vendedor 
de sua própria força de trabalho deixou para o fundo dos tempos primitivos 
o estado em que o trabalho humano não se desfez ainda de sua primeira for-
ma instintiva. Pressupomos o trabalho numa forma em que pertence exclu-
sivamente ao homem. Uma aranha executa operações semelhantes às do 
tecelão, e a abelha envergonha mais de um arquiteto humano com a cons-
trução dos favos de suas colméias. Mas, o que distingue, de antemão, o 
pior arquiteto da melhor abelha é que ele construiu o favo em sua cabeça, 
antes de construí-lo em cera. No fim do processo de trabalho obtém-se um 
resultado que já no início deste existiu na imaginação do trabalhador, e, por-
tanto, idealmente. Ele não apenas efetua uma transformação da forma da 
matéria natural: realiza, ao mesmo tempo, na matéria natural seu objetivo, 
que ele sabe que determina, como lei, a espécie e o modo de sua atividade 
e ao qual tem que subordinar sua vontade. E essa subordinação não é um 
acontecimento isolado. Além dos órgãos que trabalham, é exigida a vonta-
de orientada a um fim, que se manifesta com atenção durante todo o tempo 
de trabalho, pelo próprio conteúdo e pela espécie e modo de sua execução, 
atrai o trabalhador, portanto, quanto menos ele aproveita, como jogo de su-
as própriasforças físicas e espirituais. (MARX, 1985 [1867], pp. 149-150).
1. Comente os aspectos do pensamento de Marx, presentes no documento 1, que contribuem para 
entendermos melhor o que é o trabalho. Quais as características do trabalho humano que este pen-
sador destaca? 
 ATIVIDADE
24 Relações	de	trabalho
Ensino	Médio
	 Outra	visão
Na linguagem bíblica, a idéia de trabalho está relacionada à maldi-
ção divina, como castigo decorrente do pecado original, “Ganharás o 
teu pão com o suor do teu rosto” (Gênesis III, 19), também se relacio-
na com o pensamento de que aquele que não contribui com seu tra-
balho não tem direitos, uma vez que, “se alguém não quiser trabalhar 
não coma também.” (II Tessal, 3, 8-10). É por meio de um esforço do-
loroso que o homem sobrevive na natureza. Mesmo assim, o homem 
continua totalmente dependente de Deus, “pois sem ele todo esforço 
não dá nenhum resultado” (Sl. 127, 1). O trabalho realizado neste es-
pírito sempre é recompensado por Deus “que um dia dará ao homem 
o descanso por seus esforços” (Apc.14,13). Então, pela Bíblia, o traba-
lho pode significar o sofrimento, mas também a salvação.
	 O	trabalho	e	sua	valorização
Durante boa parte da História, o trabalho foi 
visto como atividade desvalorizada, considera-
do, pelos gregos antigos, como a expressão da 
miséria humana. Para Platão (428 - 347 a.C.) e 
Aristóteles (384-322 a.C.), o trabalho era aqui-
lo que estava ligado à necessidade: de alimen-
tar-se, de cobrir-se, entre outras. Dessa forma, 
a necessidade limita a liberdade do homem e, 
assim, tudo que se destinava ao produzir e co-
mercializar, ficava a cargo dos escravos. 
Para os romanos, que também era uma so-
ciedade escravista, o trabalho era algo vil, oposto ao lazer e às ativida-
des intelectuais.
Durante a Idade Média (séculos V a XV), seguiu-se o referencial re-
ligioso católico do trabalho como castigo, sofrimento e penitência do 
homem, ou seja, dos servos, já que o nobre não deveria trabalhar, pois 
a sociedade estava dividida em três ordens com funções bem defini-
das: aos nobres cabia guerrear, ao clero orar e aos servos trabalhar.
Somente na modernidade (séculos XV ao XVIII), com mudanças 
profundas pela qual a sociedade européia passou com o revigoramen-
to comercial e urbano, que o trabalho passou a ser valorizado. Neste 
período, o trabalho foi idealizado como um símbolo de liberdade do 
homem, de transformação da natureza, das coisas e da sociedade, as-
sumindo os anseios da burguesia nascente.
Documento 2 
Servos trabalhando, 
c. séculos XII a XIV.
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25O	Conceito	de	trabalho
História
 A valorização do trabalho se deu, principalmente, com a difusão 
das idéias renascentistas e iluministas. No Renascimento (séculos XV 
ao XVI), o trabalho passa a ser visto como um estímulo para o desen-
volvimento dos seres humanos, e como expressão da personalidade 
humana ao se tornar um criador por sua atividade. Assim, é por meio 
do trabalho que os seres humanos preenchem suas vidas e podem re-
alizar qualquer coisa.
Mas, foi no Iluminismo, no século XVIII, que o trabalho foi exalta-
do ao lado da técnica, quando o capitalismo se consolidava e surgiam 
as primeiras fábricas. Com os estudos de economistas e filósofos, co-
mo John Locke (1632-1704), Adam Smith (1723-1790) e David Ricardo 
(1779-1823), o trabalho passou a ser exaltado como fonte de toda a ri-
queza e valor sociais.
 Leia as frases de pensadores posteriores a Locke e Smith e discuta as semelhanças e diferenças 
sobre o conceito de trabalho apresentado até esse momento. Escreva suas conclusões e apresente-
as para sala.
• “O trabalho positivo, isto é, nossa ação real e útil sobre o mundo exterior, constitui necessariamente 
a fonte inicial de toda riqueza material”. (Augusto Comte [1798-1857]: filósofo francês)
• “Produzindo seus meios de subsistência, os homens produzem indiretamente sua própria vida ma-
terial”. (Karl Marx [1818-1883]: filosófo alemão)
• “É exatamente por meio do trabalho que o homem se torna livre, o trabalho domina a natureza: com 
o trabalho ele mostra que está acima da natureza”. (KierKegaard [1813-1855]: filosofo dinamarquês)
 DEBATE
• Leia os documentos 3 e 4. Depois, escreva uma narrativa histórica sobre como estes pensadores 
entendiam o trabalho considerando a sua importância para as sociedades em que viviam?
• Após análise dos documentos 3 e 4 e das frases presentes no debate, elabore uma definição de 
trabalho articulada com os contextos sócio-históricos de sua produção. 
 ATIVIDADE
26 Relações	de	trabalho
Ensino	Médio
Documento 3
É o trabalho, portanto, que atribui a maior parte do valor à terra, sem o qual dificilmente valeria algu-
ma coisa; é a ele que devemos a maior parte dos produtos úteis da terra, por tudo isso a palha, farelo e 
pão desse acre de trigo valem mais do que o produto de um acre de terra igualmente boa, mas aban-
donada, sendo o valor daquele o efeito do trabalho. Não é simplesmente o esforço do lavrador, a labu-
ta do ceifador e do trilhador e o suor do padeiro que se têm de incluir no pão que comemos; o trabalho 
dos que amansaram os bois, extraíram e prepararam os ferros e as mós, derrubaram as árvores e pre-
pararam a madeira empregada no arado, no moinho, no forno ou em outros utensílios quaisquer, que 
são em grande parte indispensáveis a esse trigo, desde que foi semente a plantar-se até transformar-se 
em pão, terá de computar-se a conta do trabalho, e receber-se como efeito deste; a natureza e a ter-
ra forneceram somente os materiais de menor valor em si. Seria estranho o “catálogo dos artigos que 
a indústria fornece e utiliza, com relação a cada pão” antes de nos chegar às mãos, se fosse possível 
acompanhá-los: ferro, madeira, couro, casca, tábuas, pedras, tijolos, carvão, cal, pano, tinturas, piche, 
alcatrão, mastros, cordas e todos os materiais que se empregam nos navios que transportam qualquer 
dos artigos usados pelos operários em qualquer parte do trabalho; contar todos eles seria impossível 
ou, pelos menos, demasiado trabalhoso. (LOCKE, Carta da tolerância [1689], 1983, p. 51).
Documento 4
O trabalho anual de cada nação constitui o fundo que originalmente lhe fornece todos os bens ne-
cessários e os confortos materiais que consome anualmente. O mencionado fundo consiste sempre na 
produção imediata do referido trabalho ou naquilo que com essa produção é comprado de outras na-
ções.
Conforme, portanto, essa produção ou o que com ele se compra, estiver em proporção maior ou 
menor em relação ao números dos que a consumirão, a nação será mais ou menos suprida de todos 
os bens necessários e os confortos de que tem necessidade.
Essa proporção deve em cada nação ser regulada ou determinada por duas circunstâncias dife-
rentes: primeiro, pela habilidade, destreza e bom senso com os quais seu trabalho for geralmente exe-
cutado; em segundo lugar, pela proporção entre o número dos que executam trabalho útil e o dos que 
não executam tal trabalho. Qualquer que seja o solo, o clima ou a extensão do território de uma deter-
minada nação, a abundância ou a escassez do montante anual de bens de que disporá, nessa situ-
ação específica, dependerá necessariamente das duas circunstâncias que acabamos de mencionar. 
(SMITH, 1985 [1776], p. 35).
	 O	Mundo	do	trabalho	contemporâneo
Nas sociedades modernas, ocorre uma volta à idéia de que todos 
têm que trabalhar e a constante repressão à vadiagem. O trabalhador 
era impulsionado a exercer uma atividade, mesmo que por um salá-
rio que mal pagava sua alimentação. Desse modo, o trabalho assalaria-
do se impõe como condição de existência humana, na medida em que 
esta foi a forma de produzir instituída na sociedade contemporânea. 
27O	Conceito	de	trabalho
História
Documento 5
Linha de montagem 
Divulgação: Cummins do Brasil
Tem-se com isso um processo de disciplinari-
zação da força de trabalho. Assim consolida-
do o capitalismo, a classe trabalhadora passou 
a reivindicar para si, como direito,o emprego 
remunerado. A partir deste momento, o traba-
lho passa a ser visto como parte da personali-
dade dos trabalhadores, o que podemos cha-
mar de consciência profissional dos operários, 
assim, a luta por direitos civis, políticos e so-
ciais é intensificada.
	 A	divisão	do	trabalho
Nas sociedades pré-industriais já existia uma divisão do trabalho 
como repartição de tarefas necessárias à sobrevivência de um grupo, 
cujo objetivo era obter maior rendimento. A partir do surgimento da 
sociedade industrial (na Inglaterra do séc. XVIII), a divisão do trabalho 
aparece como algo significativo para seus sujeitos. Um dos primeiros 
pensadores a falar sobre esse assunto foi Adam Smith, destacando su-
as vantagens para o sistema capitalista de então.
Adam Smith nasceu em 05 
de julho de 1723, no Rei-
no Unido. Publicou sua obra 
mais importante, A rique-
za das nações, em 1776. 
Foi o protótipo do filósofo ilu-
minista: esperançoso porém 
realista, especulativo e, ao 
mesmo tempo, prático. Sem-
pre respeitador do passado 
clássico, mas dedicado com 
afinco à grande descober-
ta de sua época, o progres-
so. Faleceu em 17 de julho 
de 1790.
Documento 6
Tomemos, pois, um exemplo, tirado de uma manufatura muito peque-
na, mas na qual a divisão de trabalho tem sido muito notada: a fabricação 
de alfinetes. Um operário não treinado para essa atividade (que a divisão de 
trabalho transformou num indústria específica) nem familiarizado com a utili-
zação das máquinas ali empregadas (sua invenção provavelmente também 
se deveu à mesma divisão do trabalho), dificilmente poderia talvez fabricar 
um único alfinete em um dia, empenhando o máximo trabalho; de qualquer 
forma, certamente não conseguirá fabricar vinte. Entretanto, da forma como 
essa atividade é hoje executada, não somente o trabalho todo constitui uma 
indústria específica, mas ele está dividido em uma série de setores, dos 
quais, por sua vez, a maior parte também constitui provavelmente um ofício 
especial. Um operário desenrola o arame, um outro o endireita, um terceiro 
o corta, um quarto faz as pontas, um quinto o afia nas pontas para a colo-
cação da cabeça do alfinete; para fazer uma cabeça de alfinete requerem-
se 3 ou 4 operações diferentes; montar a cabeça já é uma atividade diferen-
te, e alvejar os alfinetes é outra; a própria embalagem dos alfinetes também 
constitui uma atividade independente. Assim, a importante atividade de fa-
bricar um alfinete está dividida em aproximadamente 18 operações distin-
tas, as quais, em algumas manufaturas, são executadas por pessoas dife-
rentes, ao passo que em outras, o mesmo operário executa 2 ou 3 delas. Vi 
28 Relações	de	trabalho
Ensino	Médio
uma pequena manufatura deste tipo, com apenas dez empregados, e na qual alguns desses executa-
vam 2 ou 3 operações diferentes. Mas, embora não fossem muito hábeis, e, portanto, não estivessem 
particularmente treinados para o uso das máquinas, conseguiam, quando se esforçavam, fabricar em 
torno de 12 libras de alfinetes por dia. Ora, uma libra contém mais de 4 mil alfinetes de tamanho médio. 
Por conseguinte, essas 10 pessoas conseguiam produzir entre elas mais de 48 mil alfinetes por dia. 
Assim, já que cada pessoa conseguia fazer 1/10 de 48 mil alfinetes por dia, pode-se considerar que 
cada um produzia 4800 alfinetes diariamente. Se, porém, tivessem trabalhado independentemente um 
do outro, e sem que nenhum deles tivesse sido treinado para esse ramo de atividade, certamente cada 
um deles não teria conseguido fabricar 20 alfinetes por dia e talvez nem mesmo 1, ou seja: com certe-
za não conseguiria produzir a 240ª. parte e talvez nem mesmo a 4800ª. parte daquilo que hoje são ca-
pazes de produzir, em virtude de uma adequada divisão do trabalho e combinação de suas diferentes 
operações. (SMITH, 1985 [1776], pp. 41-42).
Entretanto, para Marx, essa divisão do trabalho não trouxe van-
tagens aos operários porque, ao “apertar apenas um parafuso”, por 
exemplo, perdem o controle e o conhecimento sobre o processo de 
produção. Ao especializar-se em apenas uma pequena tarefa não con-
seguem mais perceber o conjunto da atividade em que seu esforço se 
insere.
Documento 7
Os conhecimentos, a compreensão e a vontade, que o camponês ou artesão desenvolve mesmo 
que em pequena escala, agora passam a ser exigidos apenas pela oficina em seu conjunto. As potên-
cias intelectuais ampliam-se por um lado, porque desaparecem por muitos lados. Esse processo de 
dissociação começa na cooperação simples, desenvolve-se na manufatura, que mutila o trabalhador 
convertendo-o em trabalhador parcial e se completa na grande indústria, que separa trabalho e ciên-
cia. (MARX, 1983 [1867], p. 283).
O sociólogo francês Émile Durkheim (1858-1917) ti-
nha uma visão otimista do trabalho, apesar de reconhe-
cer seus efeitos negativos. Segundo Durkheim, a espe-
cialização servia para fortalecer a solidariedade social 
dentro das comunidades. Para este pensador, era pre-
ciso estabelecer vínculos sociais que resultassem na so-
lidariedade social. A divisão do trabalho deveria pro-
porcionar a cooperação entre os indivíduos e, assim, 
conseguir o bom funcionamento da sociedade. 
Émile Durkheim nasceu em Epinal, França, em 15 de abril de 1858 e faleceu 
em 15 de novembro 1917. Dedicou sua vida à sociologia, tornando-a uma ciên-
cia autônoma, sendo ministrada no ensino superior francês e, depois, em todo o 
mundo. Escreveu, entre outras obras: Elementos da sociologia (1889), Da 
divisão do trabalho social (1893) e O suicídio (1897).
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29O	Conceito	de	trabalho
História
Documento 8
A divisão do trabalho é, portanto, um resultado da luta pela vida, mas é um resultado suavizado. Gra-
ças a divisão do trabalho, com efeito, os rivais não são obrigados a se eliminarem mutuamente, mas po-
dem coexistir uns ao lado dos outros. E também, a medida que ela se desenvolve, proporciona a um 
grande número de indivíduos, que nas sociedades mais homogêneas estariam condenados ao desapa-
recimento, os meios de se manter e de sobreviver. Entre muitos povos inferiores, todo organismo mal-
formado deveria perecer, pois não tinha utilidade em nenhuma função. Nas sociedades mais avança-
das, o que acontece é muito diferente. Um indivíduo deficiente pode encontrar, nos quadros complexos 
de nossa organização social, um lugar onde pode prestar serviços à coletividade. (Aptadado de DURKHEIM 
apud ARON, 1982, p. 371-372).
Ao analisar o mundo do trabalho, pode-se levar em consideração 
várias formas de divisão do trabalho conforme o aspecto que se está 
privilegiando. 
a) Divisão da produção social: é feita por setores ou ramos de trabalho, 
como: agricultura, indústria e comércio.
b) Divisão técnica do trabalho: cooperação entre trabalhadores para exe-
cutar uma tarefa ou produzir uma mercadoria.
c) Divisão Internacional do trabalho: Ocorreu a partir do desenvolvimen-
to do capitalismo. Os países mais desenvolvidos tecnicamente espe-
cializaram-se, primeiramente, em produtos manufaturados e, pos-
teriormente, em tecnologia e bens de capital em geral (máquinas, 
equipamentos, instalações, etc.). Os países menos desenvolvidos 
tecnicamente, também denominados por sociólogos contemporâ-
neos de subdesenvolvidos, em desenvolvimento ou periféricos, fo-
ram obrigados a especializar-se em exportar produtos primários 
(agrícolas ou extrativos). Com isto, os trabalhadores do primeiro 
grupo de países (EUA, países da Europa Ocidental e Japão) reali-
zam o trabalho melhor qualificado e remunerado; e os trabalhado-
res do segundo grupo (países latino-americanos, africanos e asiáti-
cos) realizam, em sua maior parte, trabalhos menos qualificados e 
mal remunerados.
d) Divisão sexual do trabalho: é a separação e distribuição das atividades 
de produção de acordo com o sexo dos indivíduos. Nas socieda-
des industriais, de modo geral, esperava-se que as mulheres ficas-
sem reservadas ao mundo doméstico privado, cuidando das crian-
ças, velhos e inválidos, realizandotarefas para o consumo do grupo 
familiar. Nestas mesmas sociedades, reservou-se aos homens as ati-
vidades relacionadas ao mundo público, realizando tarefas de pro-
dução social e de direção da sociedade. Sob essa lógica, o trabalho 
das mulheres foi, muitas vezes, marginalizado. Nos casos de guer-
Podemos pensar a divisão do trabalho sob vários aspectos a partir 
do pensamento de Durkheim e seus seguidores:
30 Relações	de	trabalho
Ensino	Médio
ras, por exemplo, a presença feminina foi requisitada no mundo 
do trabalho; já em outros momentos, de progresso econômico seu 
acesso aos empregos foi limitado. Desta forma, a divisão sexual do 
trabalho estabeleceu para as mulheres as atividades mais difíceis e 
de menor remuneração, os setores e postos de trabalho de maior 
prestígio e melhores salários eram escassos, bem como, os cargos 
de chefia. 
• Produza uma explicação sobre os efeitos da divisão do trabalho para o trabalhador e para a socie-
dade. Para isso compare as diferenças de concepção presentes nos documentos 1 e 7, de Karl 
Marx e no documento 8, de Èmile Durkheim. 
 ATIVIDADE
• Organize um debate sobre a divisão sexual do trabalho. Consiga mais informações em revistas e sí-
tios eletrônicos que falem sobre as questões referentes ao trabalho feminino. Elabore propostas pa-
ra a diminuição da diferença entre os salários entre homens e mulheres. Busque informações sobre 
a vida de mulheres que conseguiram destaque nacional com seu trabalho. 
 DEBATE
	 O	mundo	do	trabalho	vai	acabar?
No contexto do mundo industrial e informatizado, o trabalho é um 
esforço planejado e coletivo. Se quase tudo é produzido em indústrias 
ou com a ajuda de equipamentos (máquinas), as pessoas certamente 
irão em direção onde este modo de produzir se encontra, ou seja, pa-
ra os grandes centros.
 Contudo, com o avanço do capitalismo, o desenvolvimento tec-
nológico e uma grande quantidade de trabalhadores o desemprego 
tornou-se uma realidade na maioria dos países industrializados e em 
quase todos os países pobres. Ocorreu, portanto, uma redução de em-
pregos. O que quer dizer ter um emprego? 
Quer dizer ter uma tarefa a ser feita, com um salário fixo, mesmo 
que essa remuneração não seja interessante. A esta noção podemos 
acrescentar que o emprego significa contar com recursos (renda) para 
ter, conseqüentemente, condições de consumir. Será que esta dimen-
são que o trabalho tomou nos últimos anos não deixou o trabalho mais 
monótono e sem sentido?
Através do que foi dito, podemos perceber que não é o trabalho 
que vem diminuindo, mas sim o número de postos de trabalho, ou se-
ja, de empregos. Passamos por uma transformação no mundo do tra-

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