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Dominação e Resistência na Antiguidade

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311Relações	de	dominação	e	resistência	nas	sociedades	grega	e	romana	na	antigüidade:	mulheres,	plebeus	e	escravos
História
• Procure assitir ao filme Spartacus. 
• Analise o documento 8 levando em consideração os motivos da revolta de Espártaco e o desen-
volvimento da mesma. Identifique os fragmentos do texto em que os escravos se utilizam de sím-
bolos do poder romano. Por que se utilizam destas representações de poder? À luz da sua com-
preensão da sociedade romana por que Espártaco teve tantos adeptos à sua causa? Produza uma 
narrativa histórica sobre este tema.
• Se você conseguiu assistir ao filme, compare e escreva as diferenças e semelhanças nas represen-
tações presentes nesta produção cinematográfica com as surgidas no documento 8.
 ATIVIDADE
Filme: Spartacus
Estados Unidos da América, 1960, direção de Stanley Kubrick.
Sinopse: O filme narra a trajetória de Spartacus desde quando se tornou líder de 78 escravos que escaparam da escola de gladia-
dores em Capua, a 130 milhas de Roma, no ano 73 a.C. e suas lutas durante dois anos, no comando de 90 mil homens.
(http://www.webcine.com.br/filmessc/spartacu.htm; Acesso em: 02/12/2005).
	 Referências	Bibliográficas
ARISTÓFANES. A greve dos sexos (Lisístrata); A revolução das mulheres. Rio de Janeiro: Zahar, 
1996.
BLOCH, Leon. Lutas sociais na Roma antiga. Lisboa: Publicações Europa-América, 1956. 
HOMERO. Odisséia. Lisboa: Livraria Sá da Costa Editora, 1972.
PINSKY, Jaime. 100 textos de história antiga. 5. ed. São Paulo: Contexto, 1991.
PLATÃO. A República. São Paulo: Escala, 2005, (parte I). 
ROSTOVTZEFF, M. História de Roma. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1967.
ROUSSELLE, Aline. A política dos corpos entre a procriação e continência em Roma. IN: 
DUBY, Georges; PERROT, Michelle (org.). História das mulheres no ocidente: a antigüidade. Porto: 
Edições Afrontramento,1993, v.1.
SALLES, Catherine. Nos submundos da antigüidade. São Paulo: Brasiliense, 1982.
de revoltas nas províncias. O preço dos escravos passou a ficar mui-
to elevado para os senhores de terras e, aos poucos, estes escravos se 
transformaram em colonos livres destes senhores, onde recebiam pro-
teção militar em troca do produto do seu trabalho no campo. Contu-
do, nas cidades, os escravos continuavam a existir em todos os setores 
do mundo do trabalho romano. 
312 Relações	Culturais
Ensino	Médio
Relações	de	dominação	e	resistência	nas	sociedades	grega	e	romana	na	antigüidade:	mulheres,	plebeus	e	escravos
	 Obras	consultadas
BONNARD, A. A civilização grega. São Paulo: Livraria Martins Fontes, 1980. 
FINLEY, M I. Aspectos da antigüidade. Rio de Janeiro: Edições 70, 1965. 
GIORDANI, M. C. História de Roma: Antigüidade clássica II, 8. ed. Petrópolis: Vozes, 1985.
MOSSÉ, C.. O cidadão na Grécia antiga. Lisboa: Edições 70, 1993.
VIDAL-NAQUET, P. O mundo de Homero. São Paulo: Cia das Letras, 2002. 
	 Documentos	consultados	Online
http://www.webcine.com.br/filmessc/spartacu.htm; Acesso em: 02 dez. 2005.
http://www2.uol.com.br/chicobuarque/letras/mulheres_76.htm; Acesso em: 06 dez. 2005..
http://adorocinema.cidadeinternet.com.br/filmes/troia/troia.htm; Acesso em: 15 dez. 2005.
http://www.cinepop.com.br/filmes/troia.htm: Acesso em: 15 dez. 2005.
 ANOTAÇÕES
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História
 ANOTAÇÕES
314 Relações	culturais
Ensino	Médio
315Relações	de	dominação	e	resistência	na	sociedade	medieval	européia:	camponeses,	artesãos,	mulheres,	hereges	e	doentes
História
17
Sueli Dias1n
1Colégio Estadual Nilo Cairo – Apucarana – PR
 obre as pessoas da Idade Média foi dito:
E ninguém contestou?
Que relações de dominação existiam neste 
período da história da humanidade?
Existiam manifestações de resistência?
RELAÇÕES CULTURAIS:
Relações de dominação e resistência na 
sociedade medieval européia: camponeses, 
artesãos, mulheres, hereges e doentes
316 Relações	culturais
Ensino	Médio
	 O	(pré)conceito	de	Idade	Média
Buscar compreender as relações sociais do período denominado 
medieval (séculos V a XV) fará com que você se depare com uma 
relação de dominação na própria acepção da palavra. O termo Idade 
Média foi empregado primeiramente no século XVI, por homens que 
naquela época consideravam-se contemporâneos e queriam designar 
com desprezo o tempo entre eles e a Antiguidade Clássica. 
Pelo domínio político, econômico e cultural que a religião cristã 
exerceu sobre o Ocidente e sobre parte do Oriente, no Império 
Bizantino, recorreu-se no século XVII e XVIII, à idéia de Idade Média 
como: “tempo de interrupção do progresso humano iniciado na anti-
guidade, tempo de barbárie, tempo de superstição e ignorância, tempo 
de estagnação, enfim, noite dos mil anos”.
O estilo do Romantismo, mais presente nas artes e na literatura 
do século XIX, criou um novo (pré)conceito para a Idade Média, 
radicalizando-a como período do surgimento das nacionalidades, por-
tanto uma época a ser imitada. No século XX, estendendo-se para o início 
do século XXI, a historiografia procurou resgatar o conhecimento sobre 
a Idade Média, baseando-se na compreensão e não no julgamento dos 
fatos. Isso não significa que os historiadores contemporâneos tenham 
conhecido todas as relações e características sobre o período medieval, 
significa apenas que compreendeu-se não ser possível entender um 
período anterior a partir dos valores vividos no momento presente. 
Este é o trabalho do historiador:
Texto 1
Ao examinar qualquer período do passado, o estudioso necessariamente trabalha com restos, com 
fragmentos – as fontes primárias, no jargão dos historiadores – desse passado, que portanto jamais po-
derá ser integralmente reconstituído. Ademais, o olhar que o historiador lança sobre o passado não po-
de deixar de ser um olhar influenciado pelo seu presente. Na célebre formulação de Lucien Febvre, fei-
ta em 1942, “a História é filha de seu tempo”, por isso cada época tem “sua Grécia, sua Idade Média 
e seu Renascimento”.
(Adaptado de FRANCO JR, 2004, p.14)
Escreva uma narrativa histórica destacando o domínio que os períodos posteriores pretendem lan-
çar quando criam (pré)conceitos sobre determinadas épocas.
 ATIVIDADE
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História
	 Sociedades	Medievais:		
uma	reflexão	sobre	a	sociedade	feudal
Muitas sociedades desenvolveram-se no período medieval, tanto no 
Oriente, quanto no Ocidente. Entretanto, o modo pelo qual a História 
explicava esta questão, baseando-se numa visão eurocêntrica, fez com 
que os reinos bárbaros e as propriedades feudais do Ocidente europeu 
ou o Império Bizantino e Império Islâmico, no Oriente, entre os século 
V e XV, se tornassem as referências mais comuns.
Nas relações da sociedade feudal, que ocorreram em boa parte da 
Europa ocidental, percebe-se a desigualdade social medida pela posse 
ou exclusão da terra e, para compreendê-la, é preciso resgatar algumas 
idéias centrais sobre este sistema: o feudalismo.
O feudalismo tem suas origens na crise do Império Romano e nas 
estruturas políticas e econômicas dos reinos germânicos, especialmente 
dos francos. Atingiu seu apogeu entre os séculos IX e XII. Foi um sistema 
baseado nas relações de suserania e vassalagem, na posse dos feudos 
e na servidão. Tinha o poder político descentralizado. Sua sociedade 
era estamental, hierárquica e imobilista. Foi ideologicamente mantida 
pelo teocentrismo imposto pela Igreja Católica. Nesta sociedade os 
mais pobres davam seus bens, suas propriedades e até mesmo sua 
liberdade em troca da proteção e segurança de um senhor.
Observe esta explicação histórica sobre uma condição social da 
Idade Média, presente em sociedades feudais:
Texto 2
Tornar-se um “desclassificado” na Idade Média era sair de seu “estado”, ser privado de seus instru-
mentos de trabalho e dos signos de sua condição. Era para um camponês, a perda de suas ferramen-tas, de seus animais; para um artesão, a perda de seu ofício; para um mercador, a perda de sua loji-
nha; para um clérigo, a perda de seus livros; para um nobre, a perda de seu cavalo e de suas armas. 
Sem isso, o homem já não era mais nada, visto que já não tinha meios de existência social. A partir des-
te momento, desclassificado, excluído, o homem estava voltado à emigração e ao nomadismo. O po-
bre estava só e sem vínculos.
(MOLLAT, 1989, p.6)
Produza um texto sobre as condições que podiam tornar uma pessoa excluída da sociedade Feu-
dal.
 ATIVIDADE
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Ensino	Médio
	 Algumas	manifestações	de	dominação	e	
resistência	entre	os		camponeses
Os camponeses que trabalhavam nas propriedades feudais rece-
biam diversos nomes, conforme suas origens: podiam ser chamados de 
rústicos – em lembrança à designação romana de homem do campo; 
de vilãos – quando habitavam as vilas; de rendeiros e foreiros – 
quando eram homens livres e deviam uma parte fixa da sua produção 
ao senhor; ou simplesmente de pobres. Normalmente trabalhavam e 
viviam em propriedades que pertenciam aos nobres ou à Igreja Católica 
e estavam ligados aos seus senhores pelo compromisso da servidão.
Este compromisso obrigava o pagamento de impostos, taxas e 
serviços, além da obediência às ordens dos senhores. Os foreiros e 
rendeiros, por serem livres, tinham obrigações fixas, mas os servos, 
além destas obrigações, sujeitavam-se a muitas outras.
Entre as formas de domínio dos senhores sobre os camponeses, 
servos ou não, podem-se destacar algumas obrigações de trabalho que 
servem para ilustrar a exclusão e dependência a que estes camponeses 
estavam submetidos:
• derrubada de árvores, limpeza dos campos, plantio e colheita nas 
terras dos senhores (corvéia);
• conserto de estradas, pontes e represas;
• pagamento pelo uso dos moinhos, fornos, passagem por estradas e 
pontes das propriedades feudais;
• pagamentos de dotes de casamento para as filhas do senhor;
• indenização ao senhor pelo nascimento, morte ou casamento do 
servo;
• indenização ao senhor pelo adultério cometido pela esposa do 
servo;
• concessão ao senhor da esposa do servo na primeira noite do 
casal.
O Trabalho dos servos num 
feudo, c. século XV - iluminura. 
S/l. - Fonte: http://sepiensa.org.
mx/contenidos/historia_mundo/
media/feudal/feudalismo/feudo_
2.htm - Acesso em 28 nov. 
2005.
n
Texto 3
Você já estudou, em outros momentos, as diferenças entre servos e escravos. Para relembrar: ser-
vos eram trabalhadores dependentes. Recebiam do senhor lotes de terra, os mansos, de cujo cultivo 
dependia sua sobrevivência e em troca da qual realizavam o pagamento de determinadas taxas àquele 
senhor. Trabalhavam em lugares e tarefas indicados pelo senhor, sem nenhum tipo de remuneração. Ti-
nham a posse vitalícia e hereditária de seus mansos e a proteção militar proporcionada pelo senhor.
Os escravos existiam em pequena quantidade, nas sociedades feudais; eram mais comuns nas re-
giões mais próximas do Império Bizantino ou Império Islâmico; ao contrário de trabalhadores dependen-
tes, eram propriedade dos senhores.
(Adaptado de FRANCO JR., 2004, p. 91).
Documento 1
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História
Estas obrigações são ilustrativas porque não foram comuns à toda 
sociedade feudal. Ocorreram em algumas regiões e em diferentes 
épocas no contexto da organização da sociedade feudal européia.
O domínio dos senhores sobre os camponeses aumentava a 
desigualdade social e, muitas vezes, estes não tinham o necessário 
para o sustento. Como citou um historiador contemporâneo, na obra 
Os pobres na Idade Média (MOLLAT, 1989), os miseráveis chegavam a fazer 
“pão de caroços de uva, flores de nogueira e raízes de samambaia, 
acompanhadas de relva comum dos campos”. Esta realidade suscitou 
diversas manifestações de protesto dos camponeses e, igualmente, 
diversas formas de repressão. Observe este documento, é um fragmento 
de um código de leis do século VII, das regiões feudais que compõem, 
atualmente, o norte da Itália:
Documento 2
Se, em alguma de nossas terras, os rústicos ousarem tramar rebelião e se levantarem as armas, lu-
tando contra qualquer um, se porventura roubarem escravos ou animais deixados pelo senhor na ca-
sa de um servo seu, então o senhor prejudicado deverá ser indenizado. Se o senhor for ferido pelos re-
voltosos, que estes últimos paguem uma indenização pela sua presunção. E se algum dos rústicos for 
morto nenhuma indenização lhe será devida porque quem o matou o fez para defender o que possuía.
(Edictum Rotharis Regis apud MACEDO, 1995, p. 23).
Analise o documento 2 e responda:
- Quem são os personagens citados no documento?
- Que tipo de relação estão estabelecendo?
- Que significado este tipo de relação dá à sociedade feudal?
 ATIVIDADE
Muitas vezes, quanto maior a pressão da nobreza sobre os excluídos 
da terra, maiores as estratégias de resistência adotadas. Os camponeses 
faziam roubos nas terras do senhor, caçavam escondido nas florestas 
dos nobres, incendiavam colheitas, prestavam um mal trabalho nas 
corvéias, recusavam-se em entregar impostos em espécie, fugiam dos 
pagamentos e obrigações do compromisso de servidão.
Entre os séculos X a XIII, ocorreram muitas manifestações de 
resistência dos camponeses em diversas regiões da Europa Feudal. 
Foram manifestações motivadas pelas péssimas colheitas e pelo medo 
da fome. Reivindicavam melhores condições sociais e respeito à 
identidade do camponês, pois este sempre fora inferiorizado e excluído 
pela nobreza.
320 Relações	culturais
Ensino	Médio
Documento 3 
Veja num trecho do poema épico de Robert Wace (1115-1175), O Romance de Rolando, escrito 
no século XI, o tratamento dado aos camponeses que se rebelaram na Normandia, em 996:
Raoul exaltou-se de tal modo 
Que não fez julgamentos
Pô-los todos tristes e doloridos
A muitos arrancar os dentes
E a outros mandou empalar
Arrancar os olhos, cortar os pulsos
A todos mandou assar os jarretes
Mesmo que com isso morressem
Outros foram queimados vivos
Ou metidos em chumbo a ferver
Assim mandou tratar a todos
Ficaram com aspecto horroroso
Não foram depois disso vistos em parte nenhuma
Onde não fossem bem reconhecidos
A comuna ficou reduzida a nada
E os vilãos portaram-se bem
Retiraram-se e demitiram-se
Daquilo que tinham começado
(Adaptado de LE GOFF, 1994, p. 61).
Entre estas muitas manifestações de resistência, pode-se destacar a 
revolta ocorrida na França, em 1358 – A Jacquerie. 
Foi uma revolta de apenas alguns dias, mas unificou diversas regiões 
da França contra os abusos da nobreza, o pagamento dos impostos e 
a desigualdade social, especialmente em época de pobreza e miséria 
crescentes, motivadas pela fome e pelas epidemias que assolaram a 
Europa no século XIV. 
Na Jacquerie, participavam camponeses, sobretudo servos que 
reivindicavam o fim das obrigações feudais, mas muitos burgueses, 
No ano de 996, na Normandia, região do norte da França, 
ocorreu uma grande revolta dos camponeses contra os senhores. 
Os camponeses viviam em situação de miséria: as colheitas eram 
insuficientes, os impostos, além de abusivos, eram pagos em espécie, 
as roças viviam ameaçadas ora pelas secas, ora pelas enchentes, as 
guerras e invasões eram constantes. Enfim, para diminuir a falta de 
alimentos, os camponeses ocuparam alguns rios e florestas, praticaram 
a caça e a pesca sem o consentimento dos senhores. Considerando 
isso uma invasão de terras, o duque Ricardo II (996-1026) enviou o 
conde Raoul com muitos cavaleiros para defender os interesses dos 
nobres e “cuidar” dos camponeses.

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