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Mikaelle Teixeira Mendes – Med 33 ATLS – Advanced Trauma Life Suport problema 1 História: James K. Styner (ortopedista) afirmou que deveria haver padronização do atendimento após o acidente de Nebraska, em 1976. Preparação: • Fase pré-hospitalar: exame primário e secundário o Notificar o hospital destino antes de iniciar o transporte e avaliar a segurança da cena o Informar: tempo de lesão, eventos relacionados à lesão e histórico do paciente o Focar em manter as vias aéreas + controle do sangramento e choque + imobilização o Deve-se esforçar para minimizar o tempo na cena Zonas do trauma: � Quente: epicentro do acidente (evitar excesso de pessoas e recursos pelo risco de eventos adversos) � Morna: região segura mais próxima do evento (onde se deve montar posto medico avançado para tratamento inicial das vitimas mais graves) � Fria: região mais segura, onde se deve concentrar a maior parte dos recursos para atendimento • Fase hospitalar: Deve haver um planejamento antecipado, para a chegada de pacientes traumatizados o Área reservada para o trauma o Equipamentos testados e funcionando, em locais estratégicos o Cristalóides aquecidos o Convocação de médicos adicionais se necessário o Prontidão do laboratório (exames) e contatos de centros de transferência para traumas o Profissionais devem estar protegidos contra doenças transmissíveis e sob uso de EPI’s. ǃ No livro há um esquema sobre a decisão de triagem no local do trauma Triagem: Envolve a classificação dos doentes de acordo com o tipo de tratamento necessário, recursos disponíveis, severidade do trauma e sobrevida. É baseada nas prioridades ABC (caminho do metabolismo aeróbio - descritas posteriormente) ǃ Múltiplas vitimas � se não excedem a capacidade de atendimento deve-se priorizar os pacientes mais graves ↪ Crianças, idosos e gestantes apresentam peculiaridades, mas não são prioridade absoluta em casos de múltiplas vitimas ǃ Vítimas em massa � excedem a capacidade de atendimento, logo, deve-se priorizar os que tem maior possibilidade de sobrevida (menor gasto de tempo, equipamentos, recursos etc) Avaliação inicial: � Exame primário e reanimação � Medidas auxiliares ao exame primário � Exame secundário e história � Medidas auxiliares ao exame secundário � Reavaliação e monitorização contínua � Cuidados definitivos Exame primário e reanimação - ABCDE do trauma: Durante o exame primário, o socorrista deve identificar e tratar as lesões com risco iminente de morte. As etapas podem ser realizadas simultaneamente, mas a sequencia deve ser respeitada. o A: Airways � vias aéreas com proteção da coluna cervical o B: Breathing � respiração e ventilação o C: Circulation � circulação com controle da hemorragia.. o D: Disability � disfunção neurológica o E: Exposure � exposição geral (despir) e ambiente (controle da temperatura) A - vias aereas com protecao da coluna cervical: • Avaliar sinais de obstrução: corpos estranhos, fraturas faciais/traqueais e outras lesões o Também se avalia a chance de o paciente evoluir com perda progressiva da via aérea • Aspirar o sangue acumulado ou as secreções que podem estar obstruindo a via ↪ Pacientes que conversam verbalmente provavelmente não tem perigo imediato, mas avaliar a via repetidamente é importante • Manobra inicial: elevação do mento (chin lift) ou tração da mandíbula (jaw thrust) � retiram a base da língua lá de trás (pode ser usada a cânula de Guedel – induz vomito) o Cuidado com a coluna! Normalmente, se protege com colar cervical, mas na hora da manobra, ele deve ser aberto. ↪ Sempre considerar uma lesão de coluna cervical o Se o paciente estiver inconsciente e sem o reflexo do vômito, colocar uma via orofaríngea definitiva (intubação) o Se Glasgow < 8 ou houver dúvidas sobre a capacidade do paciente de manter a integridade das vias aéreas, colocar uma via cirúrgica (traqueostomia ou cricotireoidostomia) B - respiração e ventilação: • A permeabilidade da via. aérea, por si só, não garante a ventilação adequada; deve-se iniciar reanimação se necessário • Deve haver a troca necessária de gases (funcionamento adequado dos pulmões, da parede torácica e do diafragma) ↪ Usar oxímetro de pulso para monitorar SiO2. • Avaliar a distensão venosa jugular, a posição da traqueia e a excursão da parede torácica � expor o pescoço e tórax do paciente ATLS: Mikaelle Teixeira Mendes – Med 33 o Auscultar os pulmões � verificar fluxo aéreo e murmúrio vesicular bilateral o Inspeção e palpação � detectar lesões e expansão torácica o Percussão � pode identificar anormalidades, mas é dispensada, por causa do barulho da reanimação • Tratar com urgência: Lesões que comprometem a ventilação (graves) � pneumotórax hipertensivo (realizar descompressão torácica), hemotórax maciço, pneumotórax aberto e lesões brônquicas • Lesões que comprometem a ventilação (simples): pneumotórax simples, hemotórax simples, costelas fraturadas, tórax instável e contusão pulmonar ↪ Pneumotórax simples pode se tornar hipertensivo: quando se intuba e faz VPP (ventilação c/ pressão +), antes de descomprimir o pneumotórax com dreno ǃ Todo paciente traumático deve receber oxigênio suplementar. Em pacientes não entubados, deve-se colocar uma máscara- reservatório, para atingir a oxigenação ideal. Lesão com risco de morte Tratamento Pneumotórax hipertensivo Punção descompressiva no 2º (criança) ou 5º (adulto) espaço ou transformar em pneumotórax aberto Pneumotórax Curativo 3 pontas Lesão da árvore traqueobrônquica Suporte ventilatório/ drenagem/ broncoscopia/ cirurgia Hemotórax maciço Drenagem pleural e avaliação cirúrgica precoce Tamponamento cardíaco Pericardiocentese e avaliação cirúrgica precoce C - circulação com controle da hemorragia: choque • A hemorragia é a principal causa de mortes pós-traumáticas evitáveis ↪ Considerar frequência cardíaca, pressão arterial, diurese e consciência • Achar a fonte de sangramento � parar o sangramento � repor volume • Os principais fatores circulatórios a considerar são: volume sanguíneo, débito cardíaco e hemorragia • Volume sanguíneo e debito cardíaco: o Descartado o pneumotórax hipertensivo como causa de choque, a hipotensão em doentes traumatizados deve ser considerada hipovolêmica até que se prove o contrario o Realizar avaliação rápida e precisa do estado hemodinâmico: ↪ Nível de consciência: quando o volume sanguíneo está diminuído, a perfusão cerebral pode estar prejudicada; ↪ Cor da pele: pele do rosto/extremidades pode estar pálidas/cinzas em pacientes hipovolêmicos; ↪ Pulso: pulso rápido e filiforme é habitualmente um sinal de hipovolemia; é importante avaliar um pulso central bilateral, pois se ausentes, indicam necessidade de ressuscitação imediata o Identificar + controlar + iniciar ressuscitação (rapidamente) • Hemorragia: o Identificar a fonte (externa ou interna) o Externa: controlada na pesquisa primária, com pressão manual direta sobre o ferimento ↪ Torniquete: pode ser usado na exsanguinação de extremidades quando a compressão direta não for efetiva (pode causar lesões isquêmicas, além de lesar nervos e veias) o Interna: as principais áreas são tórax, abdome, retroperitônio, bacia e ossos longos; geralmente identificada por exame físico e de imagem; ↪ O tratamento pode incluir descompressão do tórax, compressão da pelve, uso de imobilizadores e intervenção cirúrgica. o Há particularidades a serem consideradas nos casos de idosos, atletas, crianças e gestantes – olhar ATLS. ǃ Conduta: dois acessos periféricos venosos calibrosos � 1.000ml de Ringer Lactato (10ª Ed. e dps reavalia) ou SF 0,9% aquecidos (39ºC) – não aquecer em micro-ondas!!! ↪ Caso o acesso periférico não seja possível: pode ser feito acesso central ou intraósseo ǃ Reposição sanguínea depende do grau de choque: hemorragiamaciça = > 10UI transfundidas; reposição de plasma e plaquetas OBS: TCE isolado não pode dar choque hemorrágico!!! OBS2: Sangramento abdominal: USG (FAST), LPD e TC OBS3: diurese é o melhor marcador da reposição volêmica D - disfunção neurologica: • Avaliar: o Avaliação bilateral das pupilas; o Escala de coma de Glasgow; o Sinais de lateralidade • GCS: método rápido, simples e objetivo, para determinar o nível de consciência (TCE) • A �consciência pode indicar �perfusão cerebral ou lesão cerebral direta (manter ABC + a pressão de perfusão > intracerebral) ↪ Pode também ser influenciada por hipoglicemia, álcool e drogas • Determinar o nível da lesão medular (se existir): o Lesão cerebral primária: resulta do efeito estrutural da lesão sob o cérebro o Lesão cerebral secundária: pode ocorrer devido oxigenação e perfusão inadequadas E - exposição e controle do ambiente: • Despir o paciente (cortar as roupas) � fazer a avaliação (rodar em monobloco) � cobrir o paciente com cobertores aquecidos (evitar hipotermia) e aquecer fluidos intravenosos • A hipotermia é uma complicação potencialmente letal � a temperatura da área de ressuscitação deve ser aumentada para minimizar a perda de calor corporal Mikaelle Teixeira Mendes – Med 33 Medidas auxiliares à avaliação primária e à reanimação: a. Monitorização eletrocardiográfica: ↪ Arritmias (taquicardia, fibrilação atrial, contrações prematuras e alteração de ST) podem indicar trauma cardíaco contuso ↪ Atividade elétrica sem pulso (AESP) pode indicar tamponamento cardíaco, pneumotórax hipertensivo e/ou hipovolemia profunda ↪ Bradicardia, condução aberrante ou extrassístole: suspeitar de hipóxia ou hipoperfusão b. Sondas urinárias e gástricas: o Urinária: é um indicador da volemia e reflete a perfusão renal do doente � o mais indicado é a inserção da sonda vesical ↪ O cateterismo transuretral da bexiga é contraindicado para pacientes com possível lesão uretral ou com equimose perineal ↪ Importante avaliar a integridade, fazendo um uretrograma retrógrado antes de inserir o cateter o Gástrica: indicada para reduzir a distensão gástrica, para diminuir os riscos da aspiração (não o impedem) e avaliar a presença de hemorragia do TGI alto no trauma ↪ O tubo só é eficaz se colocado preso à sucção adequada, se não, pode induzir o vômito ↪ O sangue aspirado pode indicar sg orofaríngeo (engolido), inserção traumática ou lesão real do trato digestivo superior ↪ Se houver lesão da placa cribriforme � inserir o tubo gástrico por via oral, para evitar a passagem intracraniana. c. Outras monitorações: o Frequência respiratória e gasometria arterial: são usadas para monitorar a respiração do paciente o Oximetria de pulso: avalia taxa de pulso e a saturação de O2 contínuo, medindo-se a quantidade de luz vermelha/ infravermelha que emerge dos tecidos, provenientes da absorção da luz pela oxihemoglobina e desoxihemoglobina ↪ Não mede a pressão parcial de O2 e CO2! o Pressão arterial: deve ser aferida, mas não traduz o real estado da perfusão tecidual d. Radiografias e procedimentos diagnósticos: podem ser feitos lactato sanguíneo, raio-x, FAST, ultrassom e DPL o Raio-X: podem mostrar lesões potencialmente fatais, que requerem tratamento adicional (tórax AP e pelvico); ↪ Radiografias pélvicas podem evidenciar fraturas que indicam a necessidade de transfusões sanguíneas precoces ↪ As radiografias podem ser realizadas na sala de emergência com aparelho portátil, mas não devem interromper a reanimação o FAST e LPD: uteis para detecção rápida de sangramento oculto intra-abdominal, pneumotórax e hemotórax Considerar a necessidade de transferencia do doente: • Durante a análise primária, o médico obtém informações suficientes para determinar a necessidade de transferir o paciente para outra instituição para atendimento definitivo ↪ É importante não atrasar a transferência! • Só realize testes que melhorem a capacidade de ressuscitar, estabilizar e garantir a transferência segura do paciente • Deve-se haver uma comunicação entre os médicos de referência e de recebimento. Exame secundário: “é uma avaliação da cabeça aos pés” que só deve ter inicio depois de completar a avaliação primária (ABCDE) e forem adotadas as medidas de reanimação (demonstrando normalização de sinais vitais). Lembrar que a avaliação primária é prioridade! • História: história do mecanismo do trauma o “AMPLA”: Alergia; Medicamento de uso habitual; Passado médico/ Prenhez; Liquidos e alimentos ingeridos recentemente; Ambiente e eventos relacionados ao trauma o O trauma geralmente é classificado em dois grandes grupos ↪ Trauma fechado: geralmente é resultante de colisões automobilísticas, quedas e outras lesões relacionadas a transporte, recreação ou trabalho. É importante informar: � Uso de cinto de segurança � Deformação do volante � Direção do impacto � Danos do automóvel e ejeção do passageiro ↪ Trauma penetrante: ferimentos por arma de fogo, arma branca e empalametos (é importante a velocidade, calibre, trajetória do projetil e distancia da arma ao doente) ǃ Lesões térmicas: queimaduras (podem se apresentar isolados ou acompanhado de trauma fechado ou penetrante) � resultantes de incêndios, explosões etc ↪ Lesões por inalação ou intoxicação por monóxido de carbono complicam as lesões das queimaduras (importante saber o local e substancias que alimentaram as chamas) o Ambientes de risco: exposição a elementos químicos, tóxicos e radiação podem produzir disfunções pulmonares, cardíacas e de outros órgãos, além de representarem perigo ao pessoal médico-hospitalar. Exame fisico: • Cabeça: o Procura de lacerações, contusões ou evidencias de fraturas; o Olhos: avaliar acuidade visual, pupilas, hemorragia do fundo e da conjuntiva, lesões penetrantes, lentes de contato (remover para evitar edema), deslocamento do cristalino etc • Estruturas maxilofaciais: palpar as estruturas ósseas, exame intra- oral e tecidos moles. o Traumas que não obstruem vias aéreas só são tratados após estabilizar o paciente o Caso haja fratura da placa cribriforme, realizar intubação gástrica via oral • Coluna cervical e pescoço: a ausência de déficit neurológico não exclui a lesão da espinha cervical o Fazer radiografias e/ou TC o Pescoço: inspeção + palpação + ausculta o Cintos de segurança podem romper a íntima das artérias, dissecção e trombose � fazer angiografia o Lesões perfurantes no pescoço só devem ser tratadas por equipe especializada o Paralisias de membros devem ser suspeitas de lesão na base dos nervos cervicais “Dedos e sondas em todos os orifícios”: medidas auxiliares � Toque vaginal: pode-se sentir uma “espícula óssea” (sinal de fratura de pelve); se sair sangue pode ser lesão de intestino... � Toque retal: avalia o esfíncter (hipotônico indica lesão raquimedular) � Sonda vesical: avaliação da diurese/debito urinário (repos. volêmica) � Sonda nasogástrica: esvazia o estomago pra não broncoaspirar Mikaelle Teixeira Mendes – Med 33 • Tórax: o Inspeção visual: pneumotórax aberto ou segmentos instáveis (retalho costal móvel) o Palpação de toda a caixa torácica, incluindo clavículas, arcos costais e esterno (pressão esternal é dolorosa se há fratura) o Lesões torácicas podem manifestar por dor, dispneia e hipóxia o Murmúrio vesicular: anterossuperior (identificação de pneumotórax) e face posterior das bases (hemotórax) o Bulhas abafadas e �pressão de pulso podem indicar tamponamento cardíaco • Abdome e pelve: importante reavaliar, pois com o tempo, os achados abdominais podem mudar o Fraturas pélvicas podem ser suspeitadas por equimoses nas asas ilíacas, púbios, grandes lábios ou escroto o Avaliar os pulsos periféricos (lesão vascular) o Com achados abdominais duvidosos: fazer DPL, US ou TC • Períneo, reto e vagina: o Períneo:procurar contusões, hematomas, lacerações e sangramento uretral o Reto: realizar toque retal, para avaliar presença de sangue no lúmen intestinal, existência de próstata alta, presença de fraturas pélvicas, integridade da parede e esfíncter; o Vagina: avaliar presença de sangue e lacerações vaginais + teste de gravidez • Sistema musculoesquelético: o Inspecionar as extremidades, palpando os ossos e fazendo exame de sensibilidade e movimento, para avaliar presença de fraturas ocultas o Rupturas ligamentares podem gerar instabilidade articular o Perdas da sensibilidade ou da contratilidade muscular voluntaria podem ser resultantes de uma lesão nervosa ou de isquemia o Esse exame só é completo com um exame do dorso do paciente • Sistema neurológico: o Avaliação motora e sensorial das extremidades e reavaliação do nível de consciência e resposta pupilar o Calcular escala de Glasgow o Caso haja piora do estado neurológico, reavaliar oxigenação e ventilação o Avaliar fraturas lombares (radiografias) o Proteger a medula espinhal em todos os momentos, até que a lesão na coluna seja excluída Reavaliação e monitorização contínua: o doente traumatizado deve ser reavaliado constantemente para assegurar que novos achados não sejam negligenciados Cuidado definitivo: Após a avaliação detalhada das lesões e as capacidades da instituição, considera-se ou não sua transferência para outro centro de traumas, para receber o cuidado definitivo .