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Capítulo 21 Jesus, o servo onipotente (Jo 13.1-38) A partir d e agora , Jesus não se dirige mais ao povo, às multidões, ao mundo como um todo, mas apenas aos seus discípulos. A porta da oportunidade para o povo estava fechada. O ministério público de Jesus havia chegado ao fim. João 13 a 17 é a mensagem de despedida de Jesus para seus discípulos amados, culminando com sua oração intercessora por eles e por nós.1 Charles Erdman diz que entramos agora no capítulo 13 de João, o lugar santo do edifício sagrado desse evangelho. Acompanhando os fatos que serão nar rados em cinco capítulos sucessivos, estaremos sozinhos com nosso Senhor e seus discípulos. E a noite em que Jesus JoAo — As glórias do Filho de Deus é traído. Seu ministério público finda-se. O dia seguinte testemunhará sua angústia e sua morte. Ele se recolhe com os Doze a um cenáculo para com eles comer a Páscoa, instituir a ceia, seu memorial, revelar aos discípulos seu amor incomparável e prepará-los para a separação que sabe estar próxima.2 Warren Wiersbe diz que o texto em apreço nos apresenta Jesus em diferentes quadros, que veremos a seguir. Jesus e o Pai: humildade singular (13.1-5) João 13.1-5 destaca duas verdades sublimes. A primeira delas é o que Jesus sabia, e a segunda, o que Jesus fez. Em primeiro lugar, o que Jesus sabia (13.1-3). São três as coisas importantes que Jesus sabia e que são destacadas no texto. Ele sabia que sua hora havia chegado (13.1). Jesus sabia que sua hora tinha chegado. Ele andou rigorosamente debaixo da agenda do céu. Cumpriu cabalmente a agenda traçada pelo Pai. 2.4 - Jesus disse para a sua mãe em Caná: A minha hora ainda não chegou. 7.30 - Os guardas não puderam prendê-lo, pois a sua hora ainda não havia chegado. 8.20 - E ninguém o prendeu no templo porque a sua hora ainda não havia chegado. 12.23 - Quando Jesus entrou triunfalmente em Jerusalém, anunciou: Chegou a hora de ser glorificado o Filho do homem. 13.1 - Na festa da Páscoa, Jesus disse: [...] sabendo Jesus que havia chegado a sua hora de passar deste mundo para o Pai. 17.1 — Tendo terminado seus ensinos no cenáculo, antes de ir para o Getsêmani, Jesus disse: [...] Pai, chegou a hora. Glorifica teu Filho, para que também o Filho te glorifique. 344 Jesus, o servo onipotente Jesus já estava à sombra da cruz. Jerusalém estava com as ruas apinhadas de gente. Cada família já se preparava para imolar o cordeiro e celebrar a Páscoa. Foram duas as razões que levaram Jesus a escolher essa data. Em primeiro lugar, o cordeiro da Páscoa era o mais vívido tipo de Cristo em toda a Bíblia. Segundo, a Páscoa era a festa onde todo o povo se reunia em Jerusalém. Sua morte seria pública. Os sacerdotes já se preparavam para a grande festa que marcava a saída do povo do cativeiro do Egito, quando Deus libertou o seu povo pelo sangue do Cordeiro. Jesus sabia que seria traído por Judas Iscariotes (13.2). Jesus nunca esteve enganado acerca de Judas Iscariotes. Desde o início, sabia que Judas Iscariotes haveria de traí-lo. O discípulo traidor é mencionado oito vezes no evangelho de João. Satanás havia entrado em Judas (Lc 22.3) e lhe dera a inspiração necessária para iniciar o processo que terminaria com a prisão e a crucificação de Cristo. Warren Wiersbe diz que o verbo “pôr”, em João 13.2: Enquanto jantavam, o diabo já havia posto no coração de Judas, Jilho de Simão Iscariotes, que traísse Jesus, significa, literalmente, “lançar” e traz à memória os dardos inflamados do maligno (Ef 6.16).3 Jesus sabia que o Pai tudo lhe havia conjiado (13.3). Mesmo na hora mais angustiosa de sua humilhação, Jesus sabia quem era, de onde tinha vindo, o que faria e para onde retornaria. Não era uma vítima indefesa. Não era um mártir. Era o Redentor, cumprindo plenamente o projeto do Pai. Em segundo lugar, o que Jesus fez (13.1,4,5). João nos informa duas atitudes de Jesus, ambas sublimes e gloriosas. Jesus amou seus discípulos com amor perseverante (13.1). Mesmo sabendo que seus discípulos o abandonariam vergo nhosamente em pouco tempo, deixando-o nas mãos dos 345 JoAo — As glórias do Filho de Deus pecadores; mesmo sabendo que Judas o trairia, que Pedro o negaria e que os outros se dispersariam, Jesus amou os seus discípulos até o fim. Jesus amou-nos a ponto de deixar a glória, entrar no mundo, fazer-se carne, tornar-se pobre, ser perseguido, odiado, zombado, cuspido, pregado numa cruz, carregando sobre o seu corpo no madeiro os nossos pecados e morrer por nós em uma rude cruz. Esse é um amor imenso, eterno, infinito. Nenhum pregador jamais pode pregar completamente esse amor. Nenhum escritor jamais pode descrever completamente esse amor. Nenhum poeta jamais conseguiu descrever esse amor. Estou certo de que, ainda que todos os mares fossem tinta, e todos as nuvens fossem papel; mesmo que todas as árvores fossem pena e todos os seres humanos fossem escritores, nem mesmo assim se podería descrever o amor de Cristo. Seu amor excede todo o entendimento e toda possibilidade de plena descrição. O principal dos pecadores pode ir a Jesus com ousadia e confiar no seu perdão. Jesus se deleita em receber pecadores. Jesus não nos lança fora por causa dos nossos fracassos. Ele jamais nos rejeita por causa da nossa fraqueza. Aqueles a quem Jesus ama desde o princípio, ele ama até o fim. Aqueles que vão a ele jamais serão lançados fora. Jesus lavou os pés de seus discípulos com humildade sincera (13.4,5). Com esse gesto, Jesus nos ensina que privilégios não implicam orgulho, mas humildade. Jesus sabia quem era. Sabia de onde tinha vindo e para onde estava indo. Sabia sua origem e seu destino. Sabia que era o rei dos reis, o Filho do Deus altíssimo. Sabia que o Pai tudo confiara a suas mãos e que era o soberano do universo. Contudo, sua majestade não o levou à autoexaltação, mas à humilhação mais profunda. O que ele sabia determinou o que ele fez. 346 Jesus, o servo onipotente Sua humildade não procedeu da sua pobreza, mas da sua riqueza. Sendo rico, fez-se pobre. Sendo rei, fez-se servo. Sendo Deus, fez-se homem. Sendo soberano do universo, cingiu-se com uma toalha e lavou os pés dos discípulos. Era costume que, antes de se assentarem à mesa, as pessoas lavassem os pés. Os discípulos tinham vindo de Betânia. Seus pés estavam cobertos de poeira. Eles não podiam assentar-se à mesa antes de lavar os pés. Esse era o serviço dos escravos, principalmente do escravo mais humilde de uma casa. Jesus estava no cenáculo com eles. Ali não havia servos. Jesus esperou que eles tomassem a iniciativa de lavar os pés uns dos outros. Mas eles eram orgulhosos demais para fazer um serviço de escravo. Ninguém tomou a iniciativa. Aliás, os discípulos abrigavam no coração a dúvida de quem era o mais importante entre eles (Lc 22.24 30). O vaso de água, a bacia, a toalha-avental, dispostos ali à vista de todos, os acusavam. Esses utensílios constituíam uma acusação silenciosa contra aqueles homens! Mesmo assim, ninguém se mexia.4 Eles pensavam que privilégios implicava grandeza, reconhecimento, aplausos e regalias. Jesus, porém, reprova a atitude deles, mostrando-lhes que, entre os que o seguem, mede-se a grandeza de qualquer um pelo serviço prestado.5 D. A. Carson diz corretamente que os discípulos ficariam felizes em lavar os pés de Jesus; eles não podiam conceber, entretanto, a ideia de lavar os pés uns dos outros, visto que essa era uma tarefa normalmente reservada aos servos inferiores. Pares não lavam os pés uns dos outros, exceto raramente e como sinal de grande amor.6 Foi no meio de tais homens que se sentiam muito importantes, entre eles Judas Iscariotes, o traidor, que Jesus se levanta. Mesmo sabendo que era o Filho de Deus e que tinha vindo do céu e voltava para o céu, Jesus cinge-se 347 JoAo — As glórias do Filho de Deus com uma toalha, deita água em uma bacia e começa a lavar os pés dos discípulos e a enxugá-los com a toalha. Jesus repreendeo orgulho dos discípulos com sua humildade. Jesus mostra que, no reino de Deus, maior é o que serve. A grandeza no reino de Deus não é medida por quantas pessoas estão a seu serviço, mas a quantas pessoas você está servindo. Devemos ter o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus. Ele, sendo Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus. Ele se esvaziou. Ele se humilhou. Ele sofreu morte humilhante, e morte de cruz. Devemos nos revestir de humildade. Porque aquele que se humilhar será exaltado. Jesus, sendo o soberano do universo, cingiu-se com uma toalha. Sendo o rei dos reis, inclinou-se para lavar os pés sujos dos seus discípulos. Ah, como precisamos dessa lição de Jesus hoje! Temos hoje muitas pessoas importantes na igreja, mas poucos servos. Muita gente no pedestal, mas poucas inclinadas com a bacia e a toalha na mão. Muita gente querendo ser servida, mas poucas prontas a servir. A humildade de Jesus repreende o nosso orgulho. Concordo com as palavras de William Barclay: “O mundo se encontra cheio de gente que está de pé sobre sua dignidade quando deveria estar ajoelhada aos pés de seus irmãos”.7 Humildade e amor são virtudes que as pessoas do mundo podem entender, se elas não compreendem dou trinas. O cristão mais pobre, o mais fraco e o mais ignorante pode todos os dias encontrar uma ocasião para praticar amor e humildade. Cristo nos ensinou a fazer isso. O que Jesus teve em mente não foi um rito externo, o lava-pés, mas uma atitude interna de humildade e vontade de servir. 348 Jesus, o servo onipotente Jesus e Pedro: eficácia da salvação e santificação diária (13.6-11) A respeito do diálogo que se estabeleceu entre Jesus e Pedro, durante o lava-pés, destacamos aqui três pontos. Em primeiro lugar, a perplexidade de Pedro (13.6). O Senhor está ajoelhado diante dos seus discípulos, lavan do-lhes os pés. Eles até que poderiam lavar os pés de Jesus, como Maria, em Betânia, fizera com o caro perfume, mas Jesus lavar-lhes os pés? Pedro fica completamente tomado de perplexidade e pergunta a Jesus: Senhor, tu me lavarás os pés a mim? Pedro revela nesse texto, mais uma vez, o seu temperamento ambíguo e contraditório. Num momento, ele proíbe Jesus de lhe lavar os pés; em outro momento, quer ser banhado dos pés à cabeça. Pedro não entende o que Jesus está fazendo. Ele vê, mas não compreende. Seu coração estava certo, mas sua cabeça estava completamente errada. Pedro tem mais amor do que conhecimento, mais sentimento do que discernimento espiritual. Ao mesmo tempo que chama Jesus de Senhor, diz-lhe: [...] tu lavarás os meus pés? Pedro errou quanto ao estado de humilhação de Cristo e errou também quanto ao significado do ato realizado por Jesus. Ele pensou num ato literal enquanto Jesus estava apontando para uma purificação espiritual. A linguagem de Jesus aqui é a mesma do capítulo 3, quando ele fala sobre o nascimento espiritual, do capítulo 4, quando ele fala sobre a água espiritual, e do capítulo 6, quando ele fala sobre o pão espiritual. Agora Jesus fala sobre a limpeza espiritual. Pedro já havia demonstrado essa ambiguidade: confessa Jesus e depois o repreende (Mt 16.16,22). Agora, chama Jesus de Senhor e ao mesmo tempo o proíbe de lavar-lhe os pés (13.6-8). Promete ir com Jesus até a morte e então o nega três vezes (13.36-38). 349 JoAo — As glórias do Filho de Deus Em segundo lugar, a incompreensão de Pedro (13.7,8). Jesus responde a Pedro que sua ação só seria compreendida por ele mais tarde. Pedro não estava, nesse momento, alcançando o significado espiritual do gesto de Jesus. Via apenas um ato físico, um serviço incompatível com a grandeza de seu mestre. Pedro precisava entender o que era ser lavado por Cristo. Jesus não estava falando sobre uma lavagem física, mas espiritual. Quem não for lavado, purificado, justificado e santificado por Cristo não tem parte com ele (ICor 6.11). Cristo precisa lavar-nos para reinarmos com ele em sua gloria. William Hendriksen diz que o significado dessa passagem é simples, porém muito profundo. “Pedro, a menos que, por meio de minha obra completa de humilhação — da qual essa lavagem de pés é apenas parte - eu o limpar de seus pecados, você não participara comigo dos frutos de meu mérito redentor”.8 Concordo com as palavras de D. A. Carson: “Os dois eventos - o lava-pés e a crucificação - são, na verdade, da mesma qualidade. O reverenciado e exaltado Messias assume a função de servo desprezado para o bem de outros”.9 Judas não estava limpo, ou seja, ele não tinha sido transformado, convertido. Em terceiro lugar, a súplica de Pedro (13.9-11). Pedro pula de um extremo ao outro. Essa era uma característica de sua personalidade. Como uma gangorra, oscilava de um lado para o outro (Mt 14.28,30; 16.16,22; Jo 13.37; 18.17,25). Pedro não quer apenas que seus pés sejam lavados, mas pede um banho completo. Jesus responde que isso não era necessário. O banho (símbolo da salvação) já havia acontecido. Pedro precisava agora de purificação (símbolo da santificação). Necessitava entender que, uma vez salvo, salvo para sempre. Quem já se banhou não 350 Jesus, o servo onipotente precisa lavar senáo os pés. A salvação é uma dávida eterna. A palavra grega “lavar” nos versículos 5-6,8,12,14 é nipto e significa “lavar uma parte do corpo”. Mas a palavra grega “lavar” no versículo 10 é louo e significa “lavar o corpo completamente”.10 A distinção é importante, porque Jesus estava ensinando aos discípulos a importância de uma caminhada santa. Quando um pecador confia em Jesus, é banhado completamente, seus pecados são perdoados (1 Co 6.9-11; T t 3.3-7; Ap 1.5), e Deus nunca mais se lembra desses pecados (Hb 10.17). Contudo, como os crentes andam neste mundo, eles são contaminados e precisam ser purificados. Não precisam de nova justificação, mas de constante purificação. As Escrituras dizem: Se confessarmos os nossos pecados, ele éfiel ejusto para nosperdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça (1 Jo 1.9). Quando andamos na luz, temos comunhão com Cristo. Quando somos purificados, andamos em intimidade com Cristo. Nessa mesma linha de pensamento. E E Bruce diz que o banho é uma referência ao cancelamento inicial do pecado e à purificação da culpa, que é recebida na regeneração, enquanto a repetida lavagem dos pés corresponde à remoção regular da impureza incidental da consciência por meio da confissão dos pecados a Deus e de uma vida de acordo com sua Palavra.11 Pedro precisava entender que os salvos necessitam de contínua purificação. Precisamos ser lavados continuamente e purificados das nossas impurezas. O mesmo sangue que nos lavou em nossa conversão nos purifica agora diaria mente em nossa santificação. Essa verdade pode ser ilus trada pelo sacerdócio do Antigo Testamento. Em sua consagração, o sacerdote era banhado por inteiro (Ex 29.4), um ritual realizado uma só vez. No entanto, era normal que ele se contaminasse enquanto exercia seu ministério diário, 351 JoAo — As glórias do Filho de Deus de modo que precisava lavar as mãos e os pés na bacia de bronze que ficava no átrio (Êx 30.18-21). Só então ele podia entrar no santuário para cuidar das lâmpadas, comer o pão da proposição e queimar o incenso.12 Jesus e seus discípulos: felicidade verdadeira (13.12-17) Concordo com Warren Wiersbe quando ele diz que a chave dessa passagem é João 13.17: Se, de fato, sabeis essas coisas, sereis bem-aventurados se as praticardes. A sequência é importante: humildade, santidade e felicidade. A felicidade é resultado de uma vida conduzida dentro da vontade de Deus.13 Jesus já havia ensinado seus discípulos acerca da humildade e do serviço, mas agora lhes dá uma lição prática. Vamos destacar a seguir três pontos nesse sentido. Em primeiro lugar, a lição sublime (13.12-14). Ao terminar de lavar os pés dos discípulos, Jesus retorna à mesa e pergunta se os discípulos tinham entendido a lição. Então afirma: Vós me chamaismestre e Senhor; e fazeis bem, pois eu o sou. Se eu, Senhor e mestre, lavei os vossos pés, também deveis lavar os pés uns dos outros. Os discípulos tinham uma clara compreensão de quem era Jesus. Chamavam-no de mestre e Senhor. A teologia deles estava certa. Tinham-no na mais alta conta. Sabiam que ele era o próprio Filho de Deus, o Messias, o Salvador do mundo. Mas, sem deixar de ser mestre e Senhor, Jesus lhes lavou os pés. Se Jesus, sendo o maior, fez o serviço do menor, os discípulos deveriam servir uns aos outros em vez de disputar entre si quem era o maior entre eles. Jesus nocauteia aqui a disputa por prestígio e desfaz as barracas da feira de vaidades. Em vez de buscar glória para nós mesmos, devemos nos munir de bacia e toalha para servirmos uns aos outros. 352 Jesus, o servo onipotente Em segundo lugar, o exemplo supremo (13.15,16). Jesus não foi um alfaiate do efêmero, mas o escultor do eterno. Ele não ensinou apenas com palavras, mas, sobretudo, com exemplos. O exemplo não é apenas uma forma de ensinar, mas a única forma eficaz de fazê-lo. Se o servo não é maior do que o seu senhor e se o senhor serve, então, os servos não têm desculpas para não servirem uns aos outros. Warren Wiersbe argumenta de forma correta: O servo não é maior do que seu Senhor; assim, se o Senhor tornar-se um servo, o que é feito dos servos? Ficam no mesmo nível que o Senhor! Ao se tornar um servo, Jesus não nos empurrou para baixo; ele nos elevou! Dignificou o sacrifício e o serviço [...]. O homem verdadeiramente grande é aquele que faz os outros se sentirem grandes, e foi isso o que Jesus fez com seus discípulos, ensinando-os a servir.14 Em terceiro lugar, o resultado extraordinário (13.17). A vida cristã não se limita ao conhecimento da verdade. O conhecimento precisa desembocar na obediência. A felicidade não está apenas em saber, mas, sobretudo, no praticar o que se sabe, pois o ser humano não é aquilo que ele sabe nem o que ele sente, mas o que ele faz. Concordo mais uma vez com Warren Wiersbe quando ele diz que é importante manter essas lições na ordem correta: humildade, santidade, felicidade. Sujeitar-se ao Pai, manter a vida pura e servir aos outros: esta é a fórmula de Deus para a verdadeira alegria espiritual.15 Jesus define o que é felicidade (13.17). Bem-aventurados, aqui, significa muito felizes. Mas quem é feliz? É aquele que serve, e serve aos mais fracos, da maneira mais humilde. Feliz é aquele que não apenas chama Jesus de mestre e Senhor, mas também imita Jesus, servindo ao próximo. Ser feliz segundo o mundo é estar acima dos outros. E ser servido 353 JoAo — As glórias do Filho de Deus por todos. Ser feliz no reino de Deus é rebaixar-se para servir aos mais fracos. A grandeza no reino de Deus não é medida por quantas pessoas nos servem, mas a quantas pessoas nós servimos. A felicidade não é um fim em si mesma, mas um subproduto de uma vida que vivemos dentro da vontade de Deus. O mundo pensa que a felicidade é resultado de outros nos servirem, mas a real felicidade é servirmos aos outros em nome de Jesus. O mundo pergunta: “Quantas pessoas servem você?” Mas Jesus pergunta: “A quantas pessoas você está servindo?” No reino de Deus, o maior é o servo de todos. O crente não deve se envergonhar de fazer nenhuma coisa que Jesus tenha feito (13.17). Jesus deixou a glória, o céu, os anjos, o trono e veio ao mundo para servir, para servir pecadores como eu e você. Na vida cristã, não há espaço para vaidade e orgulho. Nosso rei foi servo. Ele se esvaziou. Despiu-se da sua glória. Nasceu numa manjedoura. Não tinha onde reclinar a cabeça. Cingiu-se com uma toalha. Lavou os pés de homens fracos e cheios de vaidade. Fez um trabalho próprio dos escravos. E seus discípulos deveriam fazer o mesmo. Jesus nos ensina sobre a inutilidade do conhecimento religioso que não é acompanhado pela prática (13.17). Um conhecimento que não se traduz em trabalho, em obra, em serviço, é estéril e não pode trazer felicidade. Não basta conhecer a verdade se não somos transformados por ela. O conhecimento sem amor envaidece. A fé sem obras é morta. A doutrina sem vida é inútil. O conhecimento sem obediência nos torna mais culpados diante de Deus. O conhecimento sem prática não nos coloca acima do nível dos demônios (Mc 1.24; Tg 2.20). Satanás conhece a verdade, mas não tem nenhuma disposição para obedecer. Conhecimento sem 354 Jesus, o servo onipotente prática descreve o caráter de Satanás, e não do crente. Por isso, Satanás é sumamente infeliz. Um crente feliz é aquele que não apenas conhece, mas pratica o que conhece. Jesus e Judas Iscariotes: hipocrisia reprovável (13.18-32) Jesus agora separa o joio do trigo, o cabrito das ovelhas, e afirma que conhece aqueles que escolheu, mas entre seus discípulos há um lobo com pele de ovelha, que é diabo, ladrão e traidor. Vamos destacar aqui alguns pontos. Em primeiro lugar, o conhecimento perscrutador de Jesus (13.18-20). Jesus revela mais uma vez sua divindade, por intermédio de sua onisciência. Durante os três anos de ministério, Jesus protegeu o traidor, dando-lhe inúmeras oportunidades, mas o coração de Judas tornou-se mais e mais endurecido. Agora, chegara a hora de tirar sua máscara, e Jesus deixa claro que Judas Iscariotes não é um crente, um discípulo, um homem salvo. Judas Iscariotes tinha sido escolhido pelo próprio Cristo no mesmo nível e ao mesmo tempo que haviam sido escolhidos Pedro, Tiago, João e os demais apóstolos. Judas Iscariotes foi escolhido depois de uma noite de oração, de acordo com a vontade de Deus, para estar com Jesus, para pregar o evangelho, para orar pelos enfermos e para expulsar demônios. Por três anos, Judas Iscariotes andou com Cristo. Viu seus milagres e ouviu seus gloriosos ensinamentos. Viu Cristo curando os aleijados, dando vista aos cegos, purificando os leprosos e ressuscitando os mortos. Durante três anos, Judas Iscariotes viu Jesus andando por toda parte e libertando os oprimidos do diabo. Durante três anos, Judas Iscariotes realizou a obra de Deus. Quando Jesus enviou os discípulos dois a dois, Judas 355