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Capítulo 21
Jesus, o servo 
onipotente
(Jo 13.1-38)
A partir d e agora , Jesus não se 
dirige mais ao povo, às multidões, ao 
mundo como um todo, mas apenas aos 
seus discípulos. A porta da oportunidade 
para o povo estava fechada. O ministério 
público de Jesus havia chegado ao 
fim. João 13 a 17 é a mensagem de 
despedida de Jesus para seus discípulos 
amados, culminando com sua oração 
intercessora por eles e por nós.1 Charles 
Erdman diz que entramos agora no 
capítulo 13 de João, o lugar santo 
do edifício sagrado desse evangelho. 
Acompanhando os fatos que serão nar­
rados em cinco capítulos sucessivos, 
estaremos sozinhos com nosso Senhor e 
seus discípulos. E a noite em que Jesus
JoAo — As glórias do Filho de Deus
é traído. Seu ministério público finda-se. O dia seguinte 
testemunhará sua angústia e sua morte. Ele se recolhe com 
os Doze a um cenáculo para com eles comer a Páscoa, 
instituir a ceia, seu memorial, revelar aos discípulos seu 
amor incomparável e prepará-los para a separação que 
sabe estar próxima.2
Warren Wiersbe diz que o texto em apreço nos apresenta 
Jesus em diferentes quadros, que veremos a seguir.
Jesus e o Pai: humildade singular (13.1-5)
João 13.1-5 destaca duas verdades sublimes. A primeira 
delas é o que Jesus sabia, e a segunda, o que Jesus fez.
Em primeiro lugar, o que Jesus sabia (13.1-3). São três as 
coisas importantes que Jesus sabia e que são destacadas no 
texto.
Ele sabia que sua hora havia chegado (13.1). Jesus sabia 
que sua hora tinha chegado. Ele andou rigorosamente 
debaixo da agenda do céu. Cumpriu cabalmente a agenda 
traçada pelo Pai.
2.4 - Jesus disse para a sua mãe em Caná: A minha hora 
ainda não chegou.
7.30 - Os guardas não puderam prendê-lo, pois a sua 
hora ainda não havia chegado.
8.20 - E ninguém o prendeu no templo porque a sua 
hora ainda não havia chegado.
12.23 - Quando Jesus entrou triunfalmente em Jerusalém, 
anunciou: Chegou a hora de ser glorificado o Filho do homem.
13.1 - Na festa da Páscoa, Jesus disse: [...] sabendo Jesus 
que havia chegado a sua hora de passar deste mundo para o Pai.
17.1 — Tendo terminado seus ensinos no cenáculo, antes 
de ir para o Getsêmani, Jesus disse: [...] Pai, chegou a hora. 
Glorifica teu Filho, para que também o Filho te glorifique.
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Jesus, o servo onipotente
Jesus já estava à sombra da cruz. Jerusalém estava com 
as ruas apinhadas de gente. Cada família já se preparava 
para imolar o cordeiro e celebrar a Páscoa. Foram duas as 
razões que levaram Jesus a escolher essa data. Em primeiro 
lugar, o cordeiro da Páscoa era o mais vívido tipo de Cristo 
em toda a Bíblia. Segundo, a Páscoa era a festa onde todo 
o povo se reunia em Jerusalém. Sua morte seria pública. Os 
sacerdotes já se preparavam para a grande festa que marcava 
a saída do povo do cativeiro do Egito, quando Deus libertou 
o seu povo pelo sangue do Cordeiro.
Jesus sabia que seria traído por Judas Iscariotes (13.2). 
Jesus nunca esteve enganado acerca de Judas Iscariotes. 
Desde o início, sabia que Judas Iscariotes haveria de traí-lo. 
O discípulo traidor é mencionado oito vezes no evangelho 
de João. Satanás havia entrado em Judas (Lc 22.3) e lhe 
dera a inspiração necessária para iniciar o processo que 
terminaria com a prisão e a crucificação de Cristo. Warren 
Wiersbe diz que o verbo “pôr”, em João 13.2: Enquanto 
jantavam, o diabo já havia posto no coração de Judas, Jilho 
de Simão Iscariotes, que traísse Jesus, significa, literalmente, 
“lançar” e traz à memória os dardos inflamados do maligno 
(Ef 6.16).3
Jesus sabia que o Pai tudo lhe havia conjiado (13.3). Mesmo 
na hora mais angustiosa de sua humilhação, Jesus sabia quem 
era, de onde tinha vindo, o que faria e para onde retornaria. 
Não era uma vítima indefesa. Não era um mártir. Era o 
Redentor, cumprindo plenamente o projeto do Pai.
Em segundo lugar, o que Jesus fez (13.1,4,5). João nos 
informa duas atitudes de Jesus, ambas sublimes e gloriosas.
Jesus amou seus discípulos com amor perseverante (13.1). 
Mesmo sabendo que seus discípulos o abandonariam vergo­
nhosamente em pouco tempo, deixando-o nas mãos dos
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JoAo — As glórias do Filho de Deus
pecadores; mesmo sabendo que Judas o trairia, que Pedro o 
negaria e que os outros se dispersariam, Jesus amou os seus 
discípulos até o fim.
Jesus amou-nos a ponto de deixar a glória, entrar no 
mundo, fazer-se carne, tornar-se pobre, ser perseguido, 
odiado, zombado, cuspido, pregado numa cruz, carregando 
sobre o seu corpo no madeiro os nossos pecados e morrer 
por nós em uma rude cruz. Esse é um amor imenso, 
eterno, infinito. Nenhum pregador jamais pode pregar 
completamente esse amor. Nenhum escritor jamais pode 
descrever completamente esse amor. Nenhum poeta jamais 
conseguiu descrever esse amor. Estou certo de que, ainda 
que todos os mares fossem tinta, e todos as nuvens fossem 
papel; mesmo que todas as árvores fossem pena e todos 
os seres humanos fossem escritores, nem mesmo assim se 
podería descrever o amor de Cristo. Seu amor excede todo 
o entendimento e toda possibilidade de plena descrição.
O principal dos pecadores pode ir a Jesus com ousadia e 
confiar no seu perdão. Jesus se deleita em receber pecadores. 
Jesus não nos lança fora por causa dos nossos fracassos. Ele 
jamais nos rejeita por causa da nossa fraqueza. Aqueles 
a quem Jesus ama desde o princípio, ele ama até o fim. 
Aqueles que vão a ele jamais serão lançados fora.
Jesus lavou os pés de seus discípulos com humildade sincera 
(13.4,5). Com esse gesto, Jesus nos ensina que privilégios 
não implicam orgulho, mas humildade. Jesus sabia quem 
era. Sabia de onde tinha vindo e para onde estava indo. 
Sabia sua origem e seu destino. Sabia que era o rei dos reis, 
o Filho do Deus altíssimo. Sabia que o Pai tudo confiara a 
suas mãos e que era o soberano do universo. Contudo, sua 
majestade não o levou à autoexaltação, mas à humilhação 
mais profunda. O que ele sabia determinou o que ele fez.
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Jesus, o servo onipotente
Sua humildade não procedeu da sua pobreza, mas da sua 
riqueza. Sendo rico, fez-se pobre. Sendo rei, fez-se servo. 
Sendo Deus, fez-se homem. Sendo soberano do universo, 
cingiu-se com uma toalha e lavou os pés dos discípulos.
Era costume que, antes de se assentarem à mesa, as pessoas 
lavassem os pés. Os discípulos tinham vindo de Betânia. 
Seus pés estavam cobertos de poeira. Eles não podiam 
assentar-se à mesa antes de lavar os pés. Esse era o serviço 
dos escravos, principalmente do escravo mais humilde 
de uma casa. Jesus estava no cenáculo com eles. Ali não 
havia servos. Jesus esperou que eles tomassem a iniciativa 
de lavar os pés uns dos outros. Mas eles eram orgulhosos 
demais para fazer um serviço de escravo. Ninguém tomou 
a iniciativa. Aliás, os discípulos abrigavam no coração a 
dúvida de quem era o mais importante entre eles (Lc 22.24­
30). O vaso de água, a bacia, a toalha-avental, dispostos ali 
à vista de todos, os acusavam. Esses utensílios constituíam 
uma acusação silenciosa contra aqueles homens! Mesmo 
assim, ninguém se mexia.4 Eles pensavam que privilégios 
implicava grandeza, reconhecimento, aplausos e regalias. 
Jesus, porém, reprova a atitude deles, mostrando-lhes que, 
entre os que o seguem, mede-se a grandeza de qualquer um 
pelo serviço prestado.5 D. A. Carson diz corretamente que 
os discípulos ficariam felizes em lavar os pés de Jesus; eles 
não podiam conceber, entretanto, a ideia de lavar os pés 
uns dos outros, visto que essa era uma tarefa normalmente 
reservada aos servos inferiores. Pares não lavam os pés uns 
dos outros, exceto raramente e como sinal de grande amor.6
Foi no meio de tais homens que se sentiam muito 
importantes, entre eles Judas Iscariotes, o traidor, que 
Jesus se levanta. Mesmo sabendo que era o Filho de Deus e 
que tinha vindo do céu e voltava para o céu, Jesus cinge-se
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JoAo — As glórias do Filho de Deus
com uma toalha, deita água em uma bacia e começa a lavar 
os pés dos discípulos e a enxugá-los com a toalha. Jesus 
repreendeo orgulho dos discípulos com sua humildade. 
Jesus mostra que, no reino de Deus, maior é o que serve. 
A grandeza no reino de Deus não é medida por quantas 
pessoas estão a seu serviço, mas a quantas pessoas você está 
servindo. Devemos ter o mesmo sentimento que houve 
também em Cristo Jesus. Ele, sendo Deus, não julgou 
como usurpação o ser igual a Deus. Ele se esvaziou. Ele se 
humilhou. Ele sofreu morte humilhante, e morte de cruz. 
Devemos nos revestir de humildade. Porque aquele que se 
humilhar será exaltado.
Jesus, sendo o soberano do universo, cingiu-se com 
uma toalha. Sendo o rei dos reis, inclinou-se para lavar 
os pés sujos dos seus discípulos. Ah, como precisamos 
dessa lição de Jesus hoje! Temos hoje muitas pessoas 
importantes na igreja, mas poucos servos. Muita gente 
no pedestal, mas poucas inclinadas com a bacia e a toalha 
na mão. Muita gente querendo ser servida, mas poucas 
prontas a servir. A humildade de Jesus repreende o nosso 
orgulho. Concordo com as palavras de William Barclay: 
“O mundo se encontra cheio de gente que está de pé sobre 
sua dignidade quando deveria estar ajoelhada aos pés de 
seus irmãos”.7
Humildade e amor são virtudes que as pessoas do 
mundo podem entender, se elas não compreendem dou­
trinas. O cristão mais pobre, o mais fraco e o mais 
ignorante pode todos os dias encontrar uma ocasião para 
praticar amor e humildade. Cristo nos ensinou a fazer 
isso. O que Jesus teve em mente não foi um rito externo, 
o lava-pés, mas uma atitude interna de humildade e 
vontade de servir.
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Jesus, o servo onipotente
Jesus e Pedro: eficácia da salvação e santificação diária 
(13.6-11)
A respeito do diálogo que se estabeleceu entre Jesus e 
Pedro, durante o lava-pés, destacamos aqui três pontos.
Em primeiro lugar, a perplexidade de Pedro (13.6). O 
Senhor está ajoelhado diante dos seus discípulos, lavan­
do-lhes os pés. Eles até que poderiam lavar os pés de Jesus, 
como Maria, em Betânia, fizera com o caro perfume, mas 
Jesus lavar-lhes os pés? Pedro fica completamente tomado 
de perplexidade e pergunta a Jesus: Senhor, tu me lavarás os 
pés a mim? Pedro revela nesse texto, mais uma vez, o seu 
temperamento ambíguo e contraditório. Num momento, 
ele proíbe Jesus de lhe lavar os pés; em outro momento, 
quer ser banhado dos pés à cabeça. Pedro não entende o 
que Jesus está fazendo. Ele vê, mas não compreende. Seu 
coração estava certo, mas sua cabeça estava completamente 
errada. Pedro tem mais amor do que conhecimento, mais 
sentimento do que discernimento espiritual. Ao mesmo 
tempo que chama Jesus de Senhor, diz-lhe: [...] tu lavarás 
os meus pés? Pedro errou quanto ao estado de humilhação 
de Cristo e errou também quanto ao significado do ato 
realizado por Jesus. Ele pensou num ato literal enquanto 
Jesus estava apontando para uma purificação espiritual. A 
linguagem de Jesus aqui é a mesma do capítulo 3, quando 
ele fala sobre o nascimento espiritual, do capítulo 4, quando 
ele fala sobre a água espiritual, e do capítulo 6, quando ele 
fala sobre o pão espiritual. Agora Jesus fala sobre a limpeza 
espiritual. Pedro já havia demonstrado essa ambiguidade: 
confessa Jesus e depois o repreende (Mt 16.16,22). Agora, 
chama Jesus de Senhor e ao mesmo tempo o proíbe de 
lavar-lhe os pés (13.6-8). Promete ir com Jesus até a morte 
e então o nega três vezes (13.36-38).
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JoAo — As glórias do Filho de Deus
Em segundo lugar, a incompreensão de Pedro (13.7,8). 
Jesus responde a Pedro que sua ação só seria compreendida 
por ele mais tarde. Pedro não estava, nesse momento, 
alcançando o significado espiritual do gesto de Jesus. 
Via apenas um ato físico, um serviço incompatível com 
a grandeza de seu mestre. Pedro precisava entender o que 
era ser lavado por Cristo. Jesus não estava falando sobre 
uma lavagem física, mas espiritual. Quem não for lavado, 
purificado, justificado e santificado por Cristo não tem 
parte com ele (ICor 6.11). Cristo precisa lavar-nos para 
reinarmos com ele em sua gloria. William Hendriksen diz 
que o significado dessa passagem é simples, porém muito 
profundo. “Pedro, a menos que, por meio de minha obra 
completa de humilhação — da qual essa lavagem de pés 
é apenas parte - eu o limpar de seus pecados, você não 
participara comigo dos frutos de meu mérito redentor”.8 
Concordo com as palavras de D. A. Carson: “Os dois 
eventos - o lava-pés e a crucificação - são, na verdade, 
da mesma qualidade. O reverenciado e exaltado Messias 
assume a função de servo desprezado para o bem de 
outros”.9 Judas não estava limpo, ou seja, ele não tinha sido 
transformado, convertido.
Em terceiro lugar, a súplica de Pedro (13.9-11). Pedro 
pula de um extremo ao outro. Essa era uma característica 
de sua personalidade. Como uma gangorra, oscilava de 
um lado para o outro (Mt 14.28,30; 16.16,22; Jo 13.37; 
18.17,25). Pedro não quer apenas que seus pés sejam 
lavados, mas pede um banho completo. Jesus responde 
que isso não era necessário. O banho (símbolo da salvação) 
já havia acontecido. Pedro precisava agora de purificação 
(símbolo da santificação). Necessitava entender que, uma 
vez salvo, salvo para sempre. Quem já se banhou não
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Jesus, o servo onipotente
precisa lavar senáo os pés. A salvação é uma dávida eterna. 
A palavra grega “lavar” nos versículos 5-6,8,12,14 é nipto 
e significa “lavar uma parte do corpo”. Mas a palavra grega 
“lavar” no versículo 10 é louo e significa “lavar o corpo 
completamente”.10 A distinção é importante, porque Jesus 
estava ensinando aos discípulos a importância de uma 
caminhada santa. Quando um pecador confia em Jesus, é 
banhado completamente, seus pecados são perdoados (1 
Co 6.9-11; T t 3.3-7; Ap 1.5), e Deus nunca mais se lembra 
desses pecados (Hb 10.17). Contudo, como os crentes 
andam neste mundo, eles são contaminados e precisam 
ser purificados. Não precisam de nova justificação, mas de 
constante purificação. As Escrituras dizem: Se confessarmos 
os nossos pecados, ele éfiel ejusto para nosperdoar os pecados e nos 
purificar de toda injustiça (1 Jo 1.9). Quando andamos na luz, 
temos comunhão com Cristo. Quando somos purificados, 
andamos em intimidade com Cristo. Nessa mesma linha de 
pensamento. E E Bruce diz que o banho é uma referência ao 
cancelamento inicial do pecado e à purificação da culpa, que 
é recebida na regeneração, enquanto a repetida lavagem dos 
pés corresponde à remoção regular da impureza incidental 
da consciência por meio da confissão dos pecados a Deus e 
de uma vida de acordo com sua Palavra.11
Pedro precisava entender que os salvos necessitam de 
contínua purificação. Precisamos ser lavados continuamente 
e purificados das nossas impurezas. O mesmo sangue que 
nos lavou em nossa conversão nos purifica agora diaria­
mente em nossa santificação. Essa verdade pode ser ilus­
trada pelo sacerdócio do Antigo Testamento. Em sua 
consagração, o sacerdote era banhado por inteiro (Ex 29.4), 
um ritual realizado uma só vez. No entanto, era normal que 
ele se contaminasse enquanto exercia seu ministério diário,
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JoAo — As glórias do Filho de Deus
de modo que precisava lavar as mãos e os pés na bacia de 
bronze que ficava no átrio (Êx 30.18-21). Só então ele 
podia entrar no santuário para cuidar das lâmpadas, comer 
o pão da proposição e queimar o incenso.12
Jesus e seus discípulos: felicidade verdadeira (13.12-17)
Concordo com Warren Wiersbe quando ele diz que a 
chave dessa passagem é João 13.17: Se, de fato, sabeis essas 
coisas, sereis bem-aventurados se as praticardes. A sequência é 
importante: humildade, santidade e felicidade. A felicidade 
é resultado de uma vida conduzida dentro da vontade de 
Deus.13
Jesus já havia ensinado seus discípulos acerca da 
humildade e do serviço, mas agora lhes dá uma lição 
prática. Vamos destacar a seguir três pontos nesse sentido.
Em primeiro lugar, a lição sublime (13.12-14). Ao 
terminar de lavar os pés dos discípulos, Jesus retorna à mesa 
e pergunta se os discípulos tinham entendido a lição. Então 
afirma: Vós me chamaismestre e Senhor; e fazeis bem, pois eu 
o sou. Se eu, Senhor e mestre, lavei os vossos pés, também deveis 
lavar os pés uns dos outros. Os discípulos tinham uma clara 
compreensão de quem era Jesus. Chamavam-no de mestre 
e Senhor. A teologia deles estava certa. Tinham-no na mais 
alta conta. Sabiam que ele era o próprio Filho de Deus, 
o Messias, o Salvador do mundo. Mas, sem deixar de ser 
mestre e Senhor, Jesus lhes lavou os pés. Se Jesus, sendo o 
maior, fez o serviço do menor, os discípulos deveriam servir 
uns aos outros em vez de disputar entre si quem era o maior 
entre eles. Jesus nocauteia aqui a disputa por prestígio e 
desfaz as barracas da feira de vaidades. Em vez de buscar 
glória para nós mesmos, devemos nos munir de bacia e 
toalha para servirmos uns aos outros.
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Jesus, o servo onipotente
Em segundo lugar, o exemplo supremo (13.15,16). Jesus 
não foi um alfaiate do efêmero, mas o escultor do eterno. 
Ele não ensinou apenas com palavras, mas, sobretudo, com 
exemplos. O exemplo não é apenas uma forma de ensinar, 
mas a única forma eficaz de fazê-lo. Se o servo não é maior 
do que o seu senhor e se o senhor serve, então, os servos não 
têm desculpas para não servirem uns aos outros. Warren 
Wiersbe argumenta de forma correta:
O servo não é maior do que seu Senhor; assim, se o Senhor tornar-se um 
servo, o que é feito dos servos? Ficam no mesmo nível que o Senhor! Ao 
se tornar um servo, Jesus não nos empurrou para baixo; ele nos elevou! 
Dignificou o sacrifício e o serviço [...]. O homem verdadeiramente 
grande é aquele que faz os outros se sentirem grandes, e foi isso o que 
Jesus fez com seus discípulos, ensinando-os a servir.14
Em terceiro lugar, o resultado extraordinário (13.17). 
A vida cristã não se limita ao conhecimento da verdade. 
O conhecimento precisa desembocar na obediência. A 
felicidade não está apenas em saber, mas, sobretudo, no 
praticar o que se sabe, pois o ser humano não é aquilo 
que ele sabe nem o que ele sente, mas o que ele faz. 
Concordo mais uma vez com Warren Wiersbe quando ele 
diz que é importante manter essas lições na ordem correta: 
humildade, santidade, felicidade. Sujeitar-se ao Pai, manter 
a vida pura e servir aos outros: esta é a fórmula de Deus 
para a verdadeira alegria espiritual.15
Jesus define o que é felicidade (13.17). Bem-aventurados, 
aqui, significa muito felizes. Mas quem é feliz? É aquele que 
serve, e serve aos mais fracos, da maneira mais humilde. Feliz 
é aquele que não apenas chama Jesus de mestre e Senhor, 
mas também imita Jesus, servindo ao próximo. Ser feliz 
segundo o mundo é estar acima dos outros. E ser servido
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JoAo — As glórias do Filho de Deus
por todos. Ser feliz no reino de Deus é rebaixar-se para servir 
aos mais fracos. A grandeza no reino de Deus não é medida 
por quantas pessoas nos servem, mas a quantas pessoas nós 
servimos. A felicidade não é um fim em si mesma, mas um 
subproduto de uma vida que vivemos dentro da vontade 
de Deus. O mundo pensa que a felicidade é resultado de 
outros nos servirem, mas a real felicidade é servirmos aos 
outros em nome de Jesus. O mundo pergunta: “Quantas 
pessoas servem você?” Mas Jesus pergunta: “A quantas 
pessoas você está servindo?” No reino de Deus, o maior é 
o servo de todos.
O crente não deve se envergonhar de fazer nenhuma coisa 
que Jesus tenha feito (13.17). Jesus deixou a glória, o céu, 
os anjos, o trono e veio ao mundo para servir, para servir 
pecadores como eu e você. Na vida cristã, não há espaço 
para vaidade e orgulho. Nosso rei foi servo. Ele se esvaziou. 
Despiu-se da sua glória. Nasceu numa manjedoura. Não 
tinha onde reclinar a cabeça. Cingiu-se com uma toalha. 
Lavou os pés de homens fracos e cheios de vaidade. Fez um 
trabalho próprio dos escravos. E seus discípulos deveriam 
fazer o mesmo.
Jesus nos ensina sobre a inutilidade do conhecimento 
religioso que não é acompanhado pela prática (13.17). Um 
conhecimento que não se traduz em trabalho, em obra, 
em serviço, é estéril e não pode trazer felicidade. Não basta 
conhecer a verdade se não somos transformados por ela. O 
conhecimento sem amor envaidece. A fé sem obras é morta. 
A doutrina sem vida é inútil. O conhecimento sem obediência 
nos torna mais culpados diante de Deus. O conhecimento 
sem prática não nos coloca acima do nível dos demônios 
(Mc 1.24; Tg 2.20). Satanás conhece a verdade, mas não 
tem nenhuma disposição para obedecer. Conhecimento sem
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Jesus, o servo onipotente
prática descreve o caráter de Satanás, e não do crente. Por 
isso, Satanás é sumamente infeliz. Um crente feliz é aquele 
que não apenas conhece, mas pratica o que conhece.
Jesus e Judas Iscariotes: hipocrisia reprovável (13.18-32)
Jesus agora separa o joio do trigo, o cabrito das ovelhas, 
e afirma que conhece aqueles que escolheu, mas entre seus 
discípulos há um lobo com pele de ovelha, que é diabo, 
ladrão e traidor. Vamos destacar aqui alguns pontos.
Em primeiro lugar, o conhecimento perscrutador de Jesus 
(13.18-20). Jesus revela mais uma vez sua divindade, por 
intermédio de sua onisciência. Durante os três anos de 
ministério, Jesus protegeu o traidor, dando-lhe inúmeras 
oportunidades, mas o coração de Judas tornou-se mais e 
mais endurecido. Agora, chegara a hora de tirar sua máscara, 
e Jesus deixa claro que Judas Iscariotes não é um crente, um 
discípulo, um homem salvo.
Judas Iscariotes tinha sido escolhido pelo próprio Cristo 
no mesmo nível e ao mesmo tempo que haviam sido 
escolhidos Pedro, Tiago, João e os demais apóstolos. Judas 
Iscariotes foi escolhido depois de uma noite de oração, 
de acordo com a vontade de Deus, para estar com Jesus, 
para pregar o evangelho, para orar pelos enfermos e para 
expulsar demônios.
Por três anos, Judas Iscariotes andou com Cristo. 
Viu seus milagres e ouviu seus gloriosos ensinamentos. 
Viu Cristo curando os aleijados, dando vista aos cegos, 
purificando os leprosos e ressuscitando os mortos. Durante 
três anos, Judas Iscariotes viu Jesus andando por toda parte 
e libertando os oprimidos do diabo.
Durante três anos, Judas Iscariotes realizou a obra de 
Deus. Quando Jesus enviou os discípulos dois a dois, Judas
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