Buscar

A Glória de Maria no Céu

Prévia do material em texto

foi uma glória plena, completa, ao contrário da glória dos demais santos. É
verdade que todos os bem-aventurados gozam perfeita paz e pleno
contentamento. Entretanto é inegável que nenhum deles goza a glória que teria
podido merecer, se com maior fidelidade tivesse amado e servido a Deus.
Embora, pois, de fato, os santos no céu nada mais desejem além do que gozam,
poderiam, contudo, desejar-se uma glória ainda maior. Outrossim, é verdade,
eles nada sofrem com a lembrança dos pecados cometidos e do tempo perdido.
Todavia não se pode negar que dá sumo contentamento o bem que se fez em
vida, a inocência conservada e o tempo bem empregado. Maria no céu nada
deseja e nada tem que desejar. Qual dos santos, no paraíso, diz S. Agostinho,
perguntado se cometeu pecados, pode responder que não, exceto Maria? Segundo
a definição do Sagrado Concílio de Trento, Maria nunca cometeu alguma culpa,
algum mínimo defeito. Não somente ela não perdeu jamais a graça divina, nem
jamais a ofuscou, mas nunca a teve ociosa. Nada fez que fosse sem mérito. Não
disse palavra, não teve pensamento, não deu respiração, que não dirigisse à
maior glória de Deus. Em suma, nunca afrouxou ou parou um momento de
correr para Deus. Nada perdeu por sua negligência. Correspondeu, pois, sempre
à graça com todas as suas forças e amou a Deus quanto pôde. Senhor, diz-lhe
agora no céu, se não vos amei quanto vós mereceis, ao menos vos amei quanto
pude.
Nos santos as graças têm sido diversas, como diz S. Paulo: Há, em
verdade, diferenças de graças (1Cor 12,4). Cada um deles, correspondendo à
graça recebida, se tornou excelente em alguma virtude, este no zelo da salvação
das almas, aquele na vida penitente, este nos sofrimentos de tormentos, aquele na
contemplação. Por isso a S. Igreja, celebrando as respectivas festividades, diz de
cada um: Não se achou ninguém semelhante a ele. E segundo os merecimentos,
são no céu distintos na glória: “Como uma estrela difere da outra” (1Cor 15,41).
Dos mártires distinguem-se os apóstolos, das virgens os confessores, dos
penitentes os inocentes. Mas a Santíssima Virgem, tendo sido Virgem, tendo sido
cheia de todas as graças, foi mais sublime que cada um dos santos, em toda
espécie de virtudes. Foi apóstola dos apóstolos, foi Rainha dos mártires, porquanto
padeceu mais que todos. Foi o modelo das virgens, o exemplo das casadas. Uniu
em si a inocência perfeita à perfeita mortificação. Em suma, possuiu em seu
coração todas as virtudes mais heroicas, que jamais praticou algum santo. Dela
se diz isso: À tua direita assiste a rainha, em vestes tecidas de ouro, cobertas de
variegados atavios (Sl 44,10). Pois que todas as graças, dotes e merecimentos dos
outros santos, todos se acham reunidos em Maria, explica o Abade Raimundo
Jordão.
O resplendor do sol ofusca o brilho de todas as estrelas. Também assim
a glória da Mãe de Deus excede a de todos os bem-aventurados, diz Basílio de
Seleucia. E acrescenta aqui Nicolau, monge: Ao raiar do sol, a luz da lua e das