Prévia do material em texto
PROJETOS INTERDISCIPLINARES EM CIÊNCIAS EXATAS E NATURAIS AULA 5 Profª Izabela de Gracia Yabe 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula, vamos falar sobre modelagem matemática, sua forma de aplicação e contribuição para o entendimento de matérias específicas. Este tema procura transformar problemas da realidade em problemas matemáticos a fim de resolvê-los a partir da compreensão do mundo real. A modelagem é o caminho para o desenvolvimento de bons projetos. O professor leva para sala de aula problemas diários que ocorrem na comunidade, na escola ou mesmo em casa. Esses infortúnios podem ser debatidos e ministrados de forma focada, resultando em problemas matemáticos. Esse modo de ensino foge bastante da forma tradicional, em que os obstáculos já são prontos para resolução. Ao contrário, a modelagem traz aspectos diferentes para essa solução, que acontece por meio de atividades práticas diárias em que os estudantes conseguem unir a teoria da matemática com o cotidiano em busca do desenvolvimento do contexto real. Quando o professor leva para a sala de aula situações que fazem parte da rotina e as transforma em questões matemáticas, a matéria se apresenta como novidade, despertando maior interesse e participação dos alunos. TEMA 1 – O QUE É MODELAGEM MATEMÁTICA? A modelagem consiste em trazer a realidade para a sala de aula, visando transformá-la em questões didáticas a serem resolvidas. Essa é, na verdade, a essência de “trazer a matemática para sala de aula”. Se pararmos para pensar, nossos dias estão repletos de matemática, uma vez que pode ser encontrada no cotidiano de todos. Identificamos em revistas, jornais, gráficos, notícias, encartes de farmácias e lojas, enfim, está rotina; constantemente na vida das pessoas. Entretanto, ainda que seja tão presente, a matemática, muitas vezes, não é praticada com as crianças na escola como deveria. Uma forma bastante interessante de levar o problema para sala de aula é dando exemplos de porcentagem de desconto. Outra forma de aplicar a matéria para alunos do 4º e 5º ano é trazê-la em forma de descontos em algo que 3 seja do interesse dos estudantes, como, por exemplo, o desconto em jogos, roupas, brinquedos etc. Quanto às crianças menores, uma boa forma de se trabalhar é por meio de encartes, ensinando os valores, a contagem de reais e centavos. Quando se trabalha o dinheiro no ambiente escolar, as crianças apresentam uma excelente aceitação, principalmente quando utilizado “de mentira”. Assim, quando tratamos da representação da realidade envolvendo crianças, devemos considerar a utilização de brinquedos ou jogos, facilitando o entendimento e aguçando a curiosidade dos alunos. Barbosa (2003, p. 69), descreve a modelagem como “[...] um ambiente de aprendizagem no qual os alunos são convidados a problematizar e investigar por meio da matemática, situações com referência arealidade”. O autor descreve a matemática como um ambiente de aprendizagem, enquanto Bessanez (2002) aponta a realidade na resolução dos problemas matemáticos. Ou seja, as aulas que consideram a prática da modelagem matemática têm como objetivo aliar a teoria à prática. Logo, o que se espera é um processo de ensino-aprendizagem inovador que fuja do tradicionalismo, trazendo um novo foco para as aulas. Um exemplo real envolve uma entrevista realizada pelos alunos a um pipoqueiro que trabalhava em frente à escola. Nessa entrevista, as crianças foram responsáveis por elaborar as perguntas e apontar os problemas por elas encontrados. As perguntas e os problemas elaborados refletiam a realidade das crianças. Assim, utilizando-a e problematizando-a de forma matemática, possibilitou a fuga das aulas tradicionais, tornando-as mais dinâmicas e viabilizando o desenvolvimento de projetos interessantes. TEMA 2 – A ESTRUTURA DO PROJETO Para trabalhar com modelagem é ideal que sejam seguidos alguns passos que auxiliam na organização do projeto e, consequentemente, a facilidade em auxiliar o aluno. As etapas do projeto exploram um pouco de como deve ser realizado o trabalho com a modelagem. Vejamos: 4 2.1 Interação É necessário o professor ter entrosamento com o tema que será trabalhado. A interação com o assunto debatido envolve diretamente a escolha do tema; por exemplo, na entrevista com o pipoqueiro, foi decidido pelas crianças que o vendedor seria entrevistado, pois o assunto em alta no momento era o preço da pipoca. O profissional deve buscar a interação do assunto e o reconhecimento da situação problema, tendo como objetivo a familiaridade com o tema, uma vez que este será utilizado como modelo de pesquisa. 2.2 Matematização É o levantamento de hipóteses dentro da situação apontada, tendo como objetivo a utilização do modelo matemático para resolução de problemas. 2.3 Modelo matemático Na matemática, existem vários modelos, dentre eles, fórmulas e regras. A modelagem tem como objetivo a interpretação da solução, trazendo para sala de aula a realidade do dia a dia e a transformando em um modelo matemático. Após a organização e finalização do projeto, deve ser realizada uma avaliação e, quando constatado erro matemático, o professor deve utilizar a mediação para apontar o caminho correto ao aluno. A aplicação do método de mediação permite que o estudante observe seu erro e, a partir dele, busque encontrar uma forma de acerto. É nesse momento que o aluno realiza a autoavaliação. Podemos afirmar, então, que a mediação é a melhor proposta pedagógica quando se trabalha com modelagem matemática, valendo a pena colocá-la em prática. TEMA 3 – PASSOS PARA REALIZAÇÃO DO PROJETO Como colocado no início dessa aula, existem passos a serem adotados para a realização do projeto quando as crianças já chegam no 5 ambiente escolar com um tema. Este passo a passo contempla a organização e o registro das ideias apresentadas. Utilizaremos, como exemplo prático, o projeto Pipoqueiro. • A escolha do tema gerador: normalmente é apresentado pelo aluno e decidido pela equipe; porém, o professor também pode sugerir algum tema que julgue interessante. Nesse caso, os alunos escolheram o tema. Uma vez que o pipoqueiro vende seu produto em frente à escola, os estudantes tiveram a curiosidade de saber como o trabalho do pipoqueiro funcionava. • A seleção dos conteúdos: consiste em selecionar, dentro do tema, o conteúdo que será trabalhado. Cabe ao professor realizar essa seleção. As quatro operações matemáticas foram trabalhadas desde a compra da pipoca, sua venda baseada em peso, a utilização de dinheiro para o pagamento do produto e assim por diante. • A definição da questão: saber o que motivou o aluno a escolher o tema. Os alunos queriam saber qual era o lucro do pipoqueiro. • Problematização e resolução do problema: buscar, por meio dos conceitos matemáticos, a solução do problema. Nesse ponto é necessário o auxílio do professor. As crianças devem auxiliar o docente na composição dos problemas e suas resoluções. • Construção de conceitos matemáticos: o professor deve auxiliar as crianças na construção dos conceitos a serem utilizados durante o projeto. • Solução da situação problematizada: o professor auxilia os alunos na busca pela solução da questão. Qual a solução? Existe ou não o lucro do pipoqueiro? • Apresentação: o professor auxilia o aluno na escolha da forma da apresentação dos problemas. 6 • Retrospecto: é a avalição para a descoberta se o projeto atingiu ou não objetivo. É analisado pelo professor, que é responsável por verificar se o objetivo esperado foi alcançado. Na prática, é exatamente assim que o projeto acontece. Após verificar o passo a passo, fica claro que a realização do projeto não consiste somente em trazer alguma situação da realidade paraa sala de aula, mas, também, de transpor a situação real para um modelo matemático a ser seguido. É uma proposta extremamente interessante que auxilia muito o aluno na compreensão dos temas propostos. Outro exemplo a ser considerado foi a montagem de um minimercado na sala de aula com intuito dos estudantes trabalharem a matemática. O projeto teve como tema gerador Brincando de fazer compras, definido pelas crianças antes mesmo de chegar em sala de aula. Quando a temática é apresentada, o educador deve iniciar o registro das ideias das crianças, ressaltando que esse registro é coletivo, ou seja, todos têm participação. Após definição do tema, a professora selecionou os conteúdos que seriam abordados durante o projeto: cálculo mental, as quatro operações e sistema monetário. Essa proposta teve como questão-base: Por que precisamos conferir o troco? A problematização e suas resoluções surgiram conforme a brincadeira acontecia; isso porque os alunos precisavam realizar cálculos para saber se o valor do qual dispunham seria suficiente para comprar o que precisavam. O objetivo da professora era trabalhar a subtração. Então, quando assumia o papel de caixa do minimercado, procurava ofertar aos alunos o troco errado, forçando, assim, que realizassem os cálculos mentalmente, para que não saíssem prejudicados. Após uma semana brincando de fazer compras, a professora e todos os alunos conseguiram atingir o objetivo traçado, que foi realizar cálculos mentais para correta conferência do troco. Uma vez realizada a brincadeira, os alunos se dirigiram para a sala onde desenharam e registraram as situações ocorridas para, então, promoverem a construção do problema. Os estudantes não são habituados a escrever problemas, mas sim a resolvê-los e, desta forma, é possível colocar o ensino de um ponto de vista diferente do comum. 7 Ao término do projeto, as crianças se reuniram em grupos, apresentaram os problemas identificados uns para os outros e expuseram suas conclusões. TEMA 4 – “PROJETO CATA-VENTOS” A modelagem, dentro de uma brincadeira infantil, em um primeiro momento, pretende resgatar as brincadeiras que, culturalmente, ficaram esquecidas. Ela permite a exploração do cotidiano a partir da ludicidade infantil. A partir dessa proposta, foi criado o Projeto Cata-ventos. Nesse projeto, como ponto de partida, foi realizada uma pesquisa sobre as brincadeiras antigas, em que os alunos resgataram várias brincadeiras já esquecidas pelo tempo. Para essa pesquisa os alunos tiveram contribuição dos pais e avós e levaram as ideias coletadas para escola. Uma vez apresentadas para professora, a turma realizou uma votação para decidir qual seria a brincadeira escolhida a ser trabalhada. Foram realizados gráficos e tabelas para dividir e selecioná-las, bem como os votos. O tema escolhido, após todo o levantamento realizado, foi o cata- vento. Os alunos realizaram pesquisas sobre o tema e referências de como fazê-los. Neste projeto, também foram realizadas perguntas que auxiliaram no desenrolar das atividades, como: • O que é vento? • Em que época do ano venta mais? • Quais brincadeiras necessitam de vento? • Que objetos necessitam de vento para funcionar? • O que é cata-vento? As áreas do conhecimento aparecem em todas as perguntas realizadas, ou seja, a matemática não está sozinha, todas as matérias contribuem para realização do projeto. Após todas as pesquisas, foram confeccionados três tipos de cataventos, utilizando modelos matemáticos distintos; quadrado, retangular e hexagonal, que foram testados durante três semanas. 8 Esse projeto envolveu as matérias de matemática, ciências naturais, geografia, artes, geometria e física, utilizando a modelagem matemática como suporte. Foi uma experiência extremamente divertida e engrandecedora. TEMA 5 – MODELAGEM MATEMÁTICA E A OBESIDADE INFANTIL Pois bem, situações da realidade tratadas em sala de aula: essa é a modelagem matemática. Outro tema que deve ser considerado quando tratamos de suas ricas propostas é a obesidade infantil. As autoras Santana, Silva e Mouro (2011) desenvolveram um projeto neste sentido, trabalhando a alimentação infantil. Foi utilizada a alimentação dos estudantes, integrada com ciências naturais, dentro da modelagem matemática: • Tema escolhido: alimentação. • Tabela alimentar: foi solicitado aos alunos que construíssem um cardápio do que ingeriram durante o final de semana. Nessa tabela, deveria constar o registro de tudo o que foi consumido por eles e, com base no registro, realizou-se a comparação com uma tabela alimentar. • Cálculo de porcentagem diante de dados coletados da sua rotina alimentar: diante dos dados coletados, os alunos fizeram cálculos de porcentagem para identificar a quantidade de calorias consumidas no final de semana. • Construção de gráficos: a professora construiu um gráfico de alimentos generalizado; enquanto os alunos construíram gráficos individuais, contendo suas informações e os dados constantes nos relatórios pessoais. É preciso destacar, nessa abordagem, que a tabela alimentar encontrada na internet demonstra o valor nutricional dos alimentos e, com base nela, foi possível verificar quantas calorias foram ingeridas pelos alunos durante o final e semana. As pesquisas para o projeto foram realizadas em dois meses, mas sua aplicação na prática durou todo o ano letivo. Afinal, com o conhecimento adquirido, as crianças conseguiram identificar os problemas causados pela má alimentação e o risco de obesidade infantil ao qual estavam expostas. 9 NA PRÁTICA O projeto Bebedouro surgiu após um levantamento de melhorias necessárias realizado pelos alunos do segundo ano do ensino médio. Após um breve levantamento dos pontos a melhorar na escola, a aquisição de um novo bebedouro foi eleita a situação mais urgente a ser resolvida. A escola dispunha de apenas um para utilização de todos os alunos. O bebedouro ficava localizado no subsolo, enquanto a sala dos alunos do segundo ano, no andar térreo. Quando os alunos precisavam beber água, tinham que percorrer um longo caminho até o subsolo, assim, surgiu o projeto bebedouro: • Problematização: existem vantagens para a instalação do bebedouro no pátio central do colégio? • Coleta de dados: 1. O tempo que cada aluno leva para beber água no pátio coberto, quando as crianças saíam para utilizar o bebedouro, um cronômetro era ativado e, ao retorno das crianças, era parado. Desta forma, construíram uma média de tempo de utilização; 2. Quantas crianças utilizam o bebedouro no recreio; 3. Tempo disponibilizado para tomar água após a aula de educação física; 4. O percurso da sala até o pátio coberto e o pátio central. 5. Foram realizados os trajetos da sala de aula, do pátio coberto e do pátio central até o bebedouro. Os alunos apresentaram os dados em números e gráficos, conjuntamente com uma carta escrita colaborativamente, encaminhada ao responsável pela escola, explicando a situação pela qual vinham passando. Dessa maneira, os estudantes comprovaram a necessidade do bebedouro e conseguiram o que tanto almejavam. Esse é mais um projeto que utiliza a modelagem matemática no dia a dia das crianças, auxiliando na realização de ações que levam à construção do conhecimento lógico matemático, além de mostrar a força de suas opiniões. 10 FINALIZANDO Nesta aula, você conheceu a modelagem matemática e seus incontáveis benefícios. Foi possível, assim, promover uma didática que proponha aos estudantes a indagar e investigar, por meio da matemática, situações cotidianas, buscando sempre as melhores soluções. Neste sentido, é preciso lembrar que o professor deve promover o ensino daquilo que ele próprio deve saber. Para além disso, a pergunta deve ser considerada como um ponto de partida para o processode aprendizagem, e somente a partir da pergunta é que se deve sair em busca de respostas, e não o contrário. 11 REFERÊNCIAS ALMEIDA, L. M. W. Formação de professores e modelagem matemática. Anais da ANPED/Sul: PUCPR, 2004. BARBOSA, J. C. Modelagem matemática na sala de aula. Perspectiva, Erechim, v. 27, n. 98, p. 65-74, jun. 2003. BASSANEZI, R. C. Ensino-aprendizagem com modelagem matemática: uma nova estratégia. São Paulo: Contexto, 2002. MONTEIRO, A.; POMPEU JÚNIOR, G. A matemática e os temas transversais. São Paulo: Moderna, 2001. RIBEIRO, F. D. Jogos e modelagens na educação matemática. Curitiba: InterSaberes, 2012.