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HISTÓRIA MEDIEVAL 
Unidade 3
Religião e Igreja 
na Idade Média
CEO 
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
DIRETORA EDITORIAL 
ALESSANDRA FERREIRA
GERENTE EDITORIAL 
LAURA KRISTINA FRANCO DOS SANTOS
PROJETO GRÁFICO 
TIAGO DA ROCHA
AUTORIA 
FÁBIO RONALDO DA SILVA
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Fábio Ronaldo da Silva
Olá. Pós-doutorando em História pelo PPGH/UFCG. 
Doutor em História pelo PPGH/UFPE. Mestre em História pelo 
PPGH/UFCG. Foi professor substituto do curso de Jornalismo 
da UEPB, professor do curso de Publicidade e Propaganda da 
Cesrei. Além de professor do curso de Comunicação Social das 
FIP e do curso de Produção em Audiovisual da Facisa/Cesed. 
Possui especialização em Programação Visual; graduação em 
Comunicação Social pela UEPB e História pela UFCG.É pesquisador 
co-líder do Grupo de Pesquisa/DGP-CNPq? História e Memória da 
Ciência e Tecnologia? Realiza pesquisa nas áreas de Comunicação 
e História, atuando principalmente nos seguintes temas: Estudos 
de gênero, sexualidades, velhices, imprensa homoerótica, 
homossexualidades, imagem, cinema, história oral, arquivo 
jornalístico, memória, novas tecnologias da informação. Sou 
apaixonado pelo que faço e adoro transmitir minha experiência 
de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso 
fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de 
autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você 
nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo!
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6 HISTÓRIA MEDIEVAL 
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Papel da Igreja Católica na Idade Média ................................. 9
A Igreja como centro de vida comunitária ...................................................... 9
A Igreja e a propagação do Cristianismo ....................................................... 13
Papel da Igreja na formação da Lei e da Ordem ......................................... 19
Organização eclesiástica e a hierarquia da Igreja Católica 22
Estrutura hierárquica da Igreja Católica na Idade Média ........................... 22
Papado e Concílios: as decisões eclesiásticas ..............................................25
O clero secular e o clero regular: funções e distinções ............................. 31
Práticas religiosas e devoções populares durante a Idade 
Média ........................................................................................ 36
A popularização dos santos e a devoção as relíquias ................................ 36
Práticas místicas e eremitas na Idade Média ............................................... 41
Festas e celebrações litúrgicas no calendário medieval ............................ 45
Relações entre a Igreja e o Estado ......................................... 48
Doutrina das Duas Espadas: fundamento teológico das relações Igreja-
Estado na Idade Média .....................................................................................48
Conflitos de interesses: investiduras, concordatos e excomunhões ....... 52
Alianças e concessões: papado, monarquias e o equilíbrio de poderes 56
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Você sabia que a área de estudo da Igreja Católica na Idade 
Média é uma das mais importantes para compreender a evolução 
da sociedade europeia e suas relações com o poder? Isso mesmo. A 
Igreja na Idade Média era mais do que apenas um centro de devoção 
religiosa. Ela era o centro da vida comunitária, desempenhando 
papéis importantes em várias áreas, incluindo a propagação do 
Cristianismo, a formação da lei e da ordem, a estrutura hierárquica 
e as decisões eclesiásticas. A Igreja desempenhava um papel 
fundamental na organização da vida cotidiana das pessoas, 
incluindo o clero secular e regular, a devoção popular aos santos 
e relíquias, as práticas místicas e a celebração de festas litúrgicas. 
Além disso, a Igreja teve um papel crucial nas relações entre a Igreja 
e o Estado, fundamentada na Doutrina das Duas Espadas, que 
influenciou conflitos de interesses, alianças e concessões entre o 
papado, monarquias e o equilíbrio de poderes. Entendeu? Ao longo 
desta unidade letiva você vai mergulhar neste universo!
8 HISTÓRIA MEDIEVAL 
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Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 3. Nosso objetivo 
é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências 
profissionais até o término desta etapa de estudos:
1. Compreender o papel da Igreja Católica na Idade Média 
e sua influência na sociedade. 
2. Identificar a organização eclesiástica e a hierarquia da 
Igreja Católica medieval. 
3. Discernir sobre as práticas religiosas e devoções 
populares durante a Idade Média. 
4. Entender as relações entre a Igreja e o Estado, incluindo 
os conflitos e alianças entre poderes seculares e 
eclesiásticos.
9HISTÓRIA MEDIEVAL 
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Papel da Igreja Católica na 
Idade Média
OBJETIVO
Ao término deste capítulo, você será capaz de 
entender como funcionava a profunda entrelaçada 
relação entre a Igreja Católica e a sociedade 
medieval. Esse estudo será fundamental para 
o exercício de sua profissão, especialmente 
se estiver engajado em estudos históricos ou 
discussões que envolvam as raízes culturais e 
espirituais da Europa. As pessoas que tentaram 
interpretar a Idade Média sem a devida instrução 
tiveram problemas ao contextualizar eventos, 
discernir a motivação de personagens históricos e 
compreender as nuances da vida cotidiana desse 
período. E, então? Motivado para desenvolver esta 
competência? Vamos lá. Avante!
A Igreja como centro de vida 
comunitária
Durante a Idade Média, a Igreja desempenhou um papel 
central na vida das pessoas e nas comunidades em toda a Europa. 
Era o principal ponto de encontro, uma fonte de autoridade moral 
e espiritual e um organizador de eventos e festas comunitárias. As 
igrejas eram mais do que apenas edifícios; elas eram os pilares da 
vida comunitária medieval.
De acordo com Jacques Le Goff (1989), a Igreja foi a 
instituição mais estável e coerente da sociedade medieval, 
formando um núcleo que fornecia ordem e unidade às diferentes 
esferas da vida. Em uma época de feudalismo e servidão, a Igreja 
oferecia a muitos um senso de propósito e pertencimento. Para a 
maioria dos europeus medievais, a religião e a Igreja eram partes 
integrantes da vida cotidiana.
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A presença constante da Igreja nas vidas das pessoas da 
Idade Média é uma característica que distingue essa época de 
outras na história europeia. O papel central da Igreja manifestava-
se nas frequentes celebrações e festas religiosas que ocorriam 
nas igrejas, servindo como um ponto focal para a comunidade se 
reunir e fortalecer seus laços.
As igrejas também estavam envolvidas em eventos 
importantes da vida das pessoas, como nascimentos, casamentos 
e funerais. A Igreja desempenhava um papel crucial na sagração 
das principais etapas da vida, oferecendo rituais e cerimônias que 
traziam significado e solenidade a esses momentos.
Assim, a Igreja não apenas servia como um guia 
espiritual, mas também atuava como um agente de coesão social, 
fortalecendo a comunidade e oferecendo apoio em momentos de 
necessidade.
A arquitetura das igrejas na Idade Média, especialmente 
na Europa Ocidental, carrega um profundo simbolismo e revela a 
importância desses edifícios na vida das comunidades medievais. 
A construção das igrejas na Idade Média seguia uma estética 
baseada na espiritualidade e na simbologia, com uma preocupação 
constante em refletir as doutrinas religiosas e criar um espaço 
propício para o culto divino.
As igrejas também eram decoradas com arte sacra, 
incluindo pinturas, vitrais e esculturas. Esses elementos visuais 
não eram meramente decorativos, mas serviam como ferramentas 
de ensino para uma população em grande parte analfabeta. 
SegundoEmile Mâle (2000), a arte nas igrejas medievais era “uma 
manifestação do desejo de transmitir a fé cristã de uma forma 
acessível e compreensível para todos, independentemente de sua 
educação formal”. Através da arte, as igrejas contavam histórias 
bíblicas e ensinavam princípios morais e doutrinas religiosas.
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A arquitetura e a arte das igrejas medievais não eram 
meramente funcionais ou estéticas, mas desempenhavam um papel 
crucial na vida espiritual e comunitária das pessoas da época. Elas 
eram um reflexo da profunda conexão entre a Igreja e a sociedade 
medieval, reforçando a centralidade da fé na vida cotidiana e 
fornecendo um espaço que promovia a conexão com o divino.
As celebrações e festas religiosas eram eventos centrais 
na vida das comunidades medievais. A liturgia, as festas e as 
celebrações religiosas faziam parte integrante da vida cotidiana 
e desempenhavam um papel importante na coesão social e na 
afirmação da identidade comunitária.
O calendário litúrgico medieval era marcado por várias 
festas e celebrações ao longo do ano, cada uma com suas próprias 
tradições e rituais. As festas religiosas serviam como um meio 
de transmitir e reforçar os valores e as crenças da Igreja e de 
estreitar também os laços entre os membros da comunidade. As 
festas eram ocasiões para se reunir, celebrar e, muitas vezes, fazer 
penitência.
A festa mais importante era a Páscoa, que celebrava a 
ressurreição de Cristo. Durante a Semana Santa, que precedia a 
Páscoa, eram realizadas várias cerimônias e rituais, incluindo a 
Via Sacra e a celebração da Última Ceia. O Natal, a celebração do 
nascimento de Jesus, também era uma festa importante, marcada 
por missas solenes, festas e troca de presentes.
Outras festas importantes incluíam a festa de Todos os 
Santos, em que se lembravam e honravam os santos e mártires 
da Igreja, e a festa de Corpus Christi, que celebrava a presença real 
de Cristo na Eucaristia. Além dessas festas, havia também festas 
locais em honra dos santos padroeiros das igrejas e comunidades.
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As festas religiosas eram momentos de celebração, mas 
também de reflexão e renovação espiritual. Segundo Hilário Franco 
Júnior (1992), as festas eram ocasiões para a comunidade se reunir 
e fortalecer sua fé, bem como para reafirmar sua identidade e 
valores. Assim, as festas e celebrações religiosas desempenhavam 
um papel crucial na vida espiritual e comunitária das pessoas na 
Idade Média.
A Igreja não apenas atuava como um ponto central para 
celebrações e festas religiosas, mas também desempenhava um 
papel crucial nos eventos de vida das pessoas na Idade Média. 
As igrejas eram locais onde as pessoas se reuniam para marcar 
momentos significativos de suas vidas, como nascimentos, 
casamentos e mortes.
O batismo era um dos sacramentos mais importantes da 
Igreja Católica e era geralmente realizado na infância. Segundo 
Hilário Franco Júnior (1992), o batismo era visto como uma 
maneira de limpar a criança do pecado original e marcá-la como 
membro da comunidade cristã. Esse rito de passagem era muitas 
vezes acompanhado de festas e celebrações em honra do recém-
batizado.
Outro momento de vida significativo era o casamento. O 
casamento era considerado um sacramento e era celebrado com 
uma cerimônia religiosa na igreja, seguida de uma festa para a 
comunidade. O casamento não era apenas uma união entre 
duas pessoas, mas também uma maneira de fortalecer os laços 
familiares e comunitários.
A morte também era um evento de vida marcado pela 
Igreja. As missas de réquiem eram celebradas para comemorar os 
falecidos e ajudar em sua jornada ao além. As missas de réquiem e 
as cerimônias fúnebres eram uma maneira de lembrar os mortos 
e confortar os vivos.
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A Igreja e a propagação do 
Cristianismo
A propagação do Cristianismo foi um dos principais objetivos 
da Igreja na Idade Média. Os missionários desempenharam um 
papel crucial nesse processo, viajando para regiões distantes e 
convertendo povos que ainda não eram cristãos. O Cristianismo 
se espalhou rapidamente por toda a Europa além disso, mudando 
significativamente a cultura e a sociedade dessas áreas. Mas como 
exatamente as missões e conversões ocorreram? Quem foram os 
principais agentes desse processo?
De acordo com Peter Brown (2006), os missionários eram 
geralmente monges que viajavam para terras não cristãs com o 
objetivo de converter as populações locais. Eles, muitas vezes, 
enfrentavam perigos consideráveis e trabalhavam em condições 
adversas para espalhar a fé cristã. A conversão não era apenas uma 
mudança de crença religiosa, mas também uma transformação 
cultural e social. As populações convertidas geralmente adotavam 
costumes e práticas europeias, alterando significativamente sua 
forma de vida.
Exemplo: Um exemplo notável de missionário na Idade 
Média é São Bonifácio, conhecido como “Apóstolo dos 
Germânicos”. Segundo Jacques Le Goff (2003), São 
Bonifácio foi um missionário inglês, que viajou para a 
região germânica no século VIII e desempenhou um papel 
fundamental na conversão dos povos germânicos ao 
Cristianismo. Ele fundou mosteiros, organizou a igreja na 
região e foi martirizado em sua missão.
As missões e conversões foram processos cruciais na 
propagação do Cristianismo na Idade Média. Os missionários, 
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muitas vezes monges, viajaram para terras não cristãs e convertiam 
as populações locais, mudando significativamente a cultura e a 
sociedade dessas áreas.
Durante a Idade Média, mosteiros e escolas tornaram-
se centros de educação e evangelização. De acordo com Le Goff 
(2003), os mosteiros tornaram-se lugares de aprendizado, onde 
os monges copiavam manuscritos e mantinham bibliotecas. 
Em um período em que a alfabetização era rara, esses centros 
educacionais desempenharam um papel fundamental na 
preservação e disseminação do conhecimento.
Imagem 3.1 – Igreja Católica e seus elementos
 
Fonte: Freepik
A renascença carolíngia no século VIII e IX, impulsionada 
pelo rei Carlos Magno, desempenhou um papel importante no 
desenvolvimento da educação. As escolas da catedral e palatinas 
tornaram-se centros de aprendizado e formação de clérigos. 
Esses educadores, por sua vez, desempenharam um papel crucial 
na evangelização, ensinando os princípios do Cristianismo e 
catequizando a população.
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Exemplo: Alcuíno de York foi uma figura-chave nesse 
processo. Alcuíno foi um educador e teólogo que ajudou 
a desenvolver o currículo das escolas carolíngias e se 
tornou um importante conselheiro de Carlos Magno. Sua 
abordagem à educação e evangelização refletia a crença 
de que a aprendizagem era um meio para uma maior 
compreensão da fé cristã.
A educação e a evangelização foram instrumentos 
essenciais na propagação do Cristianismo na Idade Média. 
Mosteiros e escolas desempenharam um papel crucial na 
preservação e disseminação do conhecimento, enquanto 
educadores, como Alcuíno de York, ajudaram a formar uma nova 
geração de clérigos dedicados à evangelização.
Prosseguindo com nossa análise sobre a Igreja e a 
propagação do Cristianismo na Idade Média, é essencial considerar 
a importância da construção de igrejas e catedrais. A arquitetura 
religiosa desempenhou um papel crucial no fortalecimento e 
disseminação da fé cristã.
As igrejas e catedrais construídas durante a Idade 
Média representavam não apenas locais de culto, mas também 
marcadores do domínio e da influência cristã. Para o historiador 
Georges Duby (2013), a construção de catedrais na Europa Medieval 
era um sinal de fé triunfante e um testemunho da riqueza e poder 
dos principais patrocinadores dessas edificações. Muitas catedrais 
eram verdadeiras obras-primas arquitetônicas e eram construídas 
ao longo de várias décadas, ou até mesmo séculos, tornando-se 
testemunhos duradouros da fé cristã.
Exemplo: Um bomexemplo disso é a Catedral de Notre-
Dame em Paris, iniciada no século XII. A catedral não 
apenas desempenhava um papel importante na liturgia e 
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na vida religiosa da cidade, mas também era um símbolo 
do poder e influência da Igreja em Paris. Durante a Idade 
Média, a construção de igrejas e catedrais envolveu 
uma grande colaboração entre mecenas, artistas e a 
comunidade local, cada um desempenhando um papel na 
edificação desses monumentos.
Construir igrejas e catedrais também tinha um valor 
educacional. Os vitrais, afrescos e as esculturas que adornavam 
essas edificações religiosas serviam para instruir os fiéis sobre as 
histórias e os ensinamentos bíblicos, uma vez que a maioria da 
população era analfabeta. 
Imagem 3.2 - Catedral de Notre-Dame
 
Fonte: Commons
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Portanto, a construção de igrejas e catedrais na Idade 
Média não só atestava o poder e a influência da Igreja, como 
também desempenhava um papel vital na propagação e no 
fortalecimento da fé cristã na Europa.
As Cruzadas, que ocorreram entre o final do século XI e o 
início do século XIII, tiveram um papel significativo na expansão do 
Cristianismo durante a Idade Média. Essas expedições militares, 
em grande parte incentivadas pela Igreja Católica, tinham o 
objetivo de conquistar e defender territórios sagrados no Oriente 
Médio, particularmente a cidade de Jerusalém, que é considerada 
sagrada por cristãos, judeus e muçulmanos.
O papa Urbano II, que convocou a Primeira Cruzada em 
1095, alegou que as Cruzadas eram uma forma de penitência para 
os pecados dos cruzados, prometendo a remissão de pecados a 
quem participasse. Esse incentivo espiritual atraiu muitos cristãos 
europeus, que viam nas Cruzadas uma oportunidade de se 
redimirem e, ao mesmo tempo, expandir o Cristianismo.
Imagem 3.3 – Papa Urbano II
 
Fonte: Commnos
18 HISTÓRIA MEDIEVAL 
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Além dos motivos religiosos, as Cruzadas também foram 
impulsionadas por razões políticas e econômicas. Os cruzados 
buscavam consolidar o controle sobre as rotas comerciais no 
Mediterrâneo e fortalecer o domínio cristão na região. Como 
observa o historiador Thomas Asbridge (2012), as Cruzadas 
levaram a um aumento do comércio entre o Oriente e o Ocidente, 
além de estimular o desenvolvimento de novas tecnologias e 
abertura para novos conhecimentos.
Apesar dos impactos positivos para o mundo cristão, as 
Cruzadas também causaram muita destruição e sofrimento, 
sobretudo para as populações muçulmanas e judias do Oriente 
Médio. A cidade de Jerusalém, por exemplo, foi palco de 
massacres e saques após a conquista pelos cruzados em 1099. 
Essa hostilidade teve consequências duradouras nas relações 
entre cristãos e muçulmanos, e os efeitos desses conflitos ainda 
são sentidos nos dias de hoje (Maalouf, 2020). 
A expansão do Cristianismo também foi marcada por 
episódios de violência e coerção. As Cruzadas, por exemplo, foram 
uma série de expedições militares empreendidas pela cristandade 
europeia para retomar o controle de locais sagrados no Oriente 
Médio, especialmente Jerusalém, dos muçulmanos. Durante as 
Cruzadas, muitas atrocidades foram cometidas em nome da fé 
(Riley-Smith, 1991).
O legado da Igreja na propagação do Cristianismo é 
complexo e multifacetado. A conversão e difusão do Cristianismo 
entre diversas populações teve efeitos duradouros, moldando as 
tradições culturais, políticas e sociais de várias regiões. Contudo, 
os métodos usados para alcançar esses objetivos também tiveram 
um impacto negativo, particularmente na relação entre diferentes 
grupos religiosos e culturais.
19HISTÓRIA MEDIEVAL 
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Papel da Igreja na formação da 
Lei e da Ordem
Durante a Idade Média, a Igreja Católica teve um papel 
fundamental na formação da legislação e na manutenção da 
Ordem na Europa. A Igreja não apenas promulgou suas próprias 
leis, como também exerceu influência sobre as leis seculares dos 
diversos reinos europeus.
A Igreja Católica adotou a Lei Canônica, um sistema de leis 
que governavam a conduta dos clérigos e dos fiéis, bem como 
as relações internas da Igreja. A Lei Canônica foi fortemente 
influenciada pelo Direito Romano e pelos ensinamentos cristãos. 
O “Decretum Gratiani”, um tratado de direito canônico escrito por 
Gratian no século XII, é considerado o ponto de partida para o 
desenvolvimento sistemático da Lei Canônica na Europa Medieval 
(Duggan, 2010).
A implementação da Lei Canônica foi um esforço contínuo 
da Igreja para regular a conduta dos membros do clero e dos fiéis. 
A Igreja também estabeleceu tribunais eclesiásticos para resolver 
disputas internas e para julgar casos que envolviam clérigos e 
leigos. Esses tribunais desempenharam um papel significativo na 
aplicação da Lei Canônica e na manutenção da ordem dentro da 
Igreja (Black, 1979).
20 HISTÓRIA MEDIEVAL 
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IMPORTANTE
As origens da Lei Canônica estão enraizadas 
na história inicial da Igreja Cristã. Durante os 
primeiros séculos do Cristianismo, os líderes 
da Igreja formularam uma série de regras e 
regulamentos que serviam como diretrizes para 
o comportamento moral e ético dos cristãos. 
Essas regras eram conhecidas como “cânones”, 
que significa “regra” ou “medida”. Os primeiros 
cânones eram basicamente decretos promulgados 
por concílios ecumênicos, que eram reuniões de 
bispos e outros líderes da Igreja para discutir e 
resolver questões teológicas e administrativas.
No entanto, a Lei Canônica como um sistema legal distinto 
começou a tomar forma no século XI, quando os estudiosos 
eclesiásticos começaram a coletar, organizar e codificar os cânones 
existentes em livros sistemáticos. O movimento para codificar 
a Lei Canônica foi impulsionado pela Reforma Gregoriana, um 
esforço liderado pelo Papa Gregório VII para reformar e centralizar 
a Igreja Católica. A Reforma Gregoriana também promoveu o 
desenvolvimento de tribunais eclesiásticos e a aplicação mais 
rigorosa da Lei Canônica.
A influência da Igreja na formação da legislação secular 
pode ser vista em vários aspectos. A Igreja transmitiu conceitos do 
Direito Romano e da Lei Canônica para os códigos de lei dos reinos 
europeus. Além disso, a Igreja colaborou com os governantes 
seculares para estabelecer a ordem e a justiça. A Inquisição, por 
exemplo, foi uma extensão dos tribunais eclesiásticos que atuou 
na perseguição de hereges e na manutenção da ortodoxia.
A Igreja, assim, teve um impacto duradouro na formação 
da lei e da ordem na Europa. Sua influência pode ser vista tanto na 
legislação quanto nas práticas judiciais que foram estabelecidas 
durante a Idade Média.
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RESUMINDO
E, então? Gostou do que lhe mostramos? 
Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos 
certeza de que você realmente entendeu o tema 
de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o 
que vimos. Você deve ter aprendido que a Igreja 
Católica desempenhou um papel central na vida da 
sociedade medieval. Ela não apenas atuou como 
autoridade espiritual, guiando os fiéis em sua fé 
e prática religiosa, mas também exerceu grande 
influência moral e política, orientando a conduta 
das pessoas e dos governantes. Você viu como a 
Igreja se posicionava como autoridade moral da 
sociedade, impondo regras e valores que eram 
adotados não apenas pelos fiéis, mas também por 
muitos governantes da época. Em uma sociedade 
onde a religião estava profundamente entrelaçada 
com a vida cotidiana, a Igreja tinha uma influência 
significativa sobre a vida das pessoas e a 
organização da sociedade. Também discutimos o 
papel da Igreja no desenvolvimento da arte e da 
arquitetura medieval. A Igreja foi uma importante 
patrona das artes, e muitas das maiores obras de 
arte e arquitetura da Idade Média foram criadas 
a seu serviço. As catedrais góticas, por exemplo, 
são um testemunho impressionante da habilidade 
dos arquitetos medievais e do profundo desejo de 
expressarsua fé por meio da arte. Em resumo, a 
Igreja Católica foi uma força poderosa na Idade 
Média, moldando a cultura, a moral e até a política 
da sociedade medieval. Como você viu neste 
capítulo, a influência da Igreja estendeu-se muito 
além dos aspectos puramente religiosos e afetou 
muitas áreas da vida e do pensamento na Europa 
Medieval. Esperamos que você tenha aprendido 
muito sobre a complexa relação entre a Igreja e a 
sociedade medieval.
22 HISTÓRIA MEDIEVAL 
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Organização eclesiástica e a 
hierarquia da Igreja Católica
OBJETIVO
Ao término deste capítulo, você será capaz 
de entender como funcionava a organização 
eclesiástica e a hierarquia da Igreja Católica 
Medieval. Esse estudo será fundamental para o 
exercício de sua profissão, especialmente se você 
estiver envolvido em estudos históricos, teológicos 
ou sociológicos. As pessoas que tentaram analisar 
o papel e a influência da Igreja Católica na Idade 
Média sem a devida instrução tiveram problemas 
ao compreender as relações de poder, as funções 
eclesiásticas e o impacto da estrutura da Igreja 
na sociedade medieval. E, então? Motivado para 
desenvolver esta competência? Vamos lá. Avante!
Estrutura hierárquica da Igreja 
Católica na Idade Média
A Igreja Católica foi uma das instituições mais influentes 
durante a Idade Média na Europa. Durante esse período, a Igreja teve 
um papel fundamental na vida das pessoas, servindo como um pilar 
moral, espiritual e, em muitos casos, político. A estrutura hierárquica 
da Igreja foi crucial para garantir que ela mantivesse a ordem e 
continuasse a exercer influência sobre a sociedade medieval.
A estrutura hierárquica da Igreja era bem definida, com 
o Papa no topo, seguido pelos cardeais, arcebispos, bispos, 
sacerdotes e, finalmente, os monges e as freiras. Cada nível tinha 
suas próprias responsabilidades e autoridade, permitindo que 
a Igreja fosse administrada de forma eficiente. Essa estrutura 
permitiu que a Igreja se mantivesse unida e coordenada em um 
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período em que as comunicações eram lentas e o poder secular 
muitas vezes estava fragmentado.
A Igreja desempenhou um papel importante na 
consolidação do poder real e na formação do Estado português. 
Segundo Mattoso, o clero foi fundamental para a criação de 
um sentimento de unidade nacional e para a consolidação 
da identidade portuguesa. O apoio da Igreja foi crucial para a 
afirmação do poder real em Portugal, o que se refletiu também 
em outras partes da Europa.
O estabelecimento de uma estrutura hierárquica clara 
e eficiente permitiu à Igreja administrar seus vastos territórios 
e exercer influência sobre os assuntos seculares. A Igreja 
também desempenhou um papel importante na preservação e 
disseminação do conhecimento, sendo responsável pela fundação 
de várias universidades e escolas de ensino superior.
A estrutura hierárquica da Igreja também desempenhou 
um papel importante na promoção da justiça e da ordem social. 
A Igreja possuía seu próprio sistema de leis, conhecido como 
Direito Canônico, que era aplicado aos membros do clero e, em 
alguns casos, também aos leigos. Isso ajudou a manter a ordem e 
a estabilidade nas áreas sob a influência da Igreja.
A estrutura hierárquica da Igreja foi fundamental para a sua 
capacidade de exercer influência sobre a sociedade medieval. Ao 
estabelecer uma organização clara e eficaz, a Igreja pôde manter 
a ordem, promover a justiça e desempenhar um papel importante 
na política, na educação e na cultura da Europa medieval.
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Imagem 3.4 – Igreja Católica
 
Fonte: Freepik
No topo da hierarquia estava o Papa, o bispo de Roma, 
que era considerado o sucessor de São Pedro. O Papa tinha 
autoridade suprema sobre todos os membros da Igreja e seu 
papel era de suma importância para manter a unidade da Igreja 
e resolver disputas doutrinárias. Durante a Idade Média, os papas 
exerceram um grande poder político, influenciando decisões de 
reis e imperadores. 
Abaixo do Papa estavam os cardeais, que eram os 
conselheiros do Papa e tinham a responsabilidade de eleger o 
novo Papa quando o antecessor morresse. Eles também tinham o 
papel de ajudar o Papa a governar a Igreja.
Os arcebispos eram responsáveis por várias dioceses, 
que eram as áreas administrativas da Igreja. Eles tinham a função 
de supervisionar os bispos em sua jurisdição e também tinham 
poderes judiciais em assuntos eclesiásticos.
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Os bispos eram os líderes das dioceses e tinham a 
responsabilidade de supervisionar os sacerdotes em suas 
paróquias, bem como administrar os assuntos da diocese. Os 
bispos também tinham autoridade para ordenar novos sacerdotes.
Os sacerdotes eram os líderes das paróquias, que eram 
as unidades básicas da Igreja. Eles tinham a responsabilidade de 
realizar os sacramentos, como a Eucaristia e o batismo, e de cuidar 
das necessidades espirituais de seus paroquianos.
Os monges e as freiras viviam em mosteiros e conventos 
e se dedicavam à vida monástica, que envolvia a oração, o estudo 
e o trabalho manual. Eles também desempenharam um papel 
importante na preservação e disseminação do conhecimento 
durante a Idade Média.
A estrutura hierárquica da Igreja Católica medieval permitiu 
que a Igreja funcionasse de maneira eficiente e coordenada em 
um período em que as comunicações eram lentas e o poder 
secular muitas vezes estava fragmentado. Essa estrutura também 
desempenhou um papel crucial na promoção da justiça e da 
ordem social na Europa Medieval.
A inter-relação entre os diferentes níveis hierárquicos 
era fundamental para o funcionamento eficaz da Igreja. Cada 
nível tinha autonomia para tomar decisões dentro de sua área de 
responsabilidade, mas sempre sob a supervisão do nível superior. Essa 
estrutura hierárquica permitia à Igreja manter a ordem e a unidade em 
uma vasta organização, que se estendia por toda a Europa.
Papado e Concílios: as decisões 
eclesiásticas
Na Idade Média, a Igreja Católica exercia uma influência 
abrangente e poderosa sobre a sociedade europeia. A estrutura 
26 HISTÓRIA MEDIEVAL 
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hierárquica da Igreja foi fundamental para manter sua ordem e 
influência. No topo dessa hierarquia estava o Papa, considerado 
o líder supremo da Igreja, e abaixo dele estavam os bispos, 
padres e diáconos. Durante esse período, o Papado e os Concílios 
Eclesiásticos foram elementos cruciais na governança da Igreja e 
na determinação de sua doutrina, disciplina e liturgia.
IMPORTANTE
O Papado desempenhou um papel fundamental 
na Igreja Católica Medieval. Como líder espiritual 
da Igreja, o Papa tinha autoridade sobre todos 
os cristãos e era considerado o sucessor de São 
Pedro, o primeiro bispo de Roma. O Papa não 
apenas governava a Igreja em questões de fé e 
moral, mas também tinha poder temporal sobre 
os Estados Pontifícios, um território na Itália 
central que era governado diretamente pelo Papa. 
O Papado, por sua posição de autoridade, ajudou 
a manter a unidade e a ordem dentro da Igreja e 
a garantir a observância das doutrinas e práticas 
estabelecidas.
Os Concílios Eclesiásticos também foram fundamentais 
para a governança da Igreja na Idade Média. Eram reuniões 
de bispos que se congregavam para discutir e decidir sobre 
questões de doutrina, disciplina e liturgia. Os Concílios ajudaram 
a resolver disputas teológicas, estabelecer regras para a conduta 
clerical e definir a liturgia e os rituais da Igreja. Os Concílios eram 
convocados pelo Papa ou por um grupo de bispos, e suas decisões 
tinham autoridade vinculativa para toda a Igreja (Duggan, 2010).
Durante a Idade Média, o Papado e os Concílios trabalharam 
em conjunto para manter a unidade e a ordem na Igreja Católica. 
Eles desempenharam um papel crucial na definição da doutrina e 
das práticas da Igreja e na governança da comunidade cristã.
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A evolução do Papado na Idade Média é um temacomplexo 
e multifacetado, que se entrelaça com a história política, social e 
religiosa da Europa Medieval. No início da Idade Média, o Papa 
era reconhecido como o líder espiritual da Igreja Católica, mas 
o poder temporal que detinha era limitado, principalmente aos 
Estados Pontifícios. No entanto, ao longo do período medieval, o 
Papado expandiu sua autoridade, alcançando um apogeu durante 
a Reforma Gregoriana no final do século XI.
A Reforma Gregoriana, liderada pelo Papa Gregório VII, 
foi um movimento que visava a purificação da Igreja Católica e a 
afirmação da autoridade papal sobre a autoridade secular. Esse 
movimento foi uma resposta à corrupção que assolava a Igreja, 
incluindo a simonia (compra e venda de cargos eclesiásticos) e 
o nicolaísmo (casamento de padres, considerado uma prática 
proibida). Gregório VII, por meio dos Dictatus Papae, declarou 
que apenas o Papa poderia convocar e presidir concílios, 
excomungar reis, e que ninguém poderia julgar o Papa. Esse foi 
um desafio direto ao poder dos reis e imperadores, levando a 
conflitos como a Querela das Investiduras, uma disputa entre o 
Papa Gregório VII e o Imperador Henrique IV sobre quem tinha 
o direito de nomear bispos.
Outro ponto significativo na evolução do Papado na 
Idade Média foi a criação da Cúria Romana no século XII. A Cúria 
Romana era um corpo administrativo que auxiliava o Papa na 
governança da Igreja, instituição que desempenhou um papel 
vital na centralização do poder papal, consolidando a posição do 
Papa como líder supremo da Igreja Católica.
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VOCÊ SABIA?
No entanto, a autoridade papal também enfrentou 
desafios, como a controvérsia dos Pobres Homens 
de Lyon, também conhecidos como valdenses, 
um movimento herético que surgiu no século XII. 
Esse movimento defendia uma vida de pobreza e 
simplicidade, em contraste com a riqueza e o luxo 
do clero da época.
A evolução do Papado na Idade Média foi marcada por 
avanços na autoridade papal e por desafios à sua liderança. O 
Papado conseguiu centralizar o poder e afirmar sua supremacia 
sobre a autoridade secular, mas também enfrentou críticas e 
heresias que questionavam a legitimidade de seu domínio.
A convocação de concílios eclesiásticos na Idade Média 
foi uma prática comum da Igreja Católica, que visava discutir, 
resolver e estabelecer doutrinas, práticas litúrgicas e questões 
disciplinares. Esses encontros, que reuniam membros do clero de 
diversas regiões, eram uma forma eficaz de manter a unidade e a 
coesão dentro da Igreja em uma época de intensas transformações 
políticas, sociais e culturais.
Os concílios podiam ser convocados por papas, reis ou 
imperadores e eram caracterizados pela participação de bispos, 
arcebispos, cardeais e outros membros do alto clero. Um dos 
aspectos mais relevantes dos concílios era a sua capacidade de 
promover discussões abertas, permitindo a participação de clérigos 
de diferentes regiões e perspectivas teológicas. Essa diversidade 
de opiniões permitia que a Igreja estabelecesse doutrinas mais 
robustas e abrangentes, incorporando as peculiaridades das 
diferentes regiões cristãs da Europa.
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VOCÊ SABIA?
Um dos concílios mais importantes da Idade Média 
foi o Concílio de Clermont, convocado pelo Papa 
Urbano II em 1095. Durante este concílio, o Papa 
fez um apelo à cristandade para que os fiéis se 
unissem em uma cruzada para libertar a Terra 
Santa do domínio muçulmano. Este chamado 
marcou o início da Primeira Cruzada e teve um 
impacto significativo na história da Europa e do 
Oriente Médio.
Outro concílio importante foi o Concílio de Latrão IV, 
realizado em 1215, que foi convocado pelo Papa Inocêncio III. 
Nesse concílio, foram estabelecidos vários cânones, incluindo a 
definição da doutrina da transubstanciação, a obrigatoriedade da 
confissão e da comunhão anual, e a proibição do casamento entre 
pessoas próximas. O concílio também reafirmou a supremacia 
do papado sobre os reis e os príncipes seculares, enfatizando a 
primazia da autoridade espiritual sobre a autoridade secular.
Os concílios eclesiásticos foram fundamentais para a 
consolidação e a expansão do Cristianismo na Europa Medieval. 
Eles permitiram que a Igreja Católica mantivesse a unidade 
doutrinária e disciplinar, enquanto se adaptava às mudanças 
políticas, sociais e culturais do período.
As decisões eclesiásticas, tomadas durante os concílios ou 
pelos papas, tiveram efeitos significativos na sociedade medieval. 
Mediante essas decisões, a Igreja Católica buscou consolidar sua 
autoridade, controlar a conduta dos fiéis e uniformizar as práticas 
litúrgicas. Essas decisões influenciaram a vida cotidiana das 
pessoas, a política e a cultura.
Exemplo: Por exemplo, no âmbito do casamento, a Igreja 
impôs normas rígidas que afetavam a vida familiar dos 
fiéis. Por meio do Concílio de Trento (1545-1563), a Igreja 
30 HISTÓRIA MEDIEVAL 
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reafirmou a indissolubilidade do casamento e proibiu o 
casamento de parentes próximos. Essa decisão eclesiástica 
influenciou a organização das famílias, a herança e até 
mesmo as alianças políticas entre nobres.
As decisões eclesiásticas também afetavam a economia. 
Por exemplo, a Igreja proibia a cobrança de juros sobre 
empréstimos, prática conhecida como usura. Essa proibição 
foi reforçada no Terceiro Concílio de Latrão (1179) e limitava as 
atividades dos banqueiros e comerciantes. Apesar da proibição, a 
prática da usura continuou em algumas regiões, levando a Igreja a 
tomar medidas adicionais para combater essa prática.
VOCÊ SABIA?
No campo da política, as decisões eclesiásticas 
tinham efeitos diretos. A Igreja tinha o poder 
de excomungar ou interditar monarcas que 
desobedecessem a suas decisões. Essas medidas 
eram usadas como uma forma de pressão 
política para forçar os governantes a cumprir as 
determinações da Igreja. A excomunhão do rei João 
da Inglaterra, em 1209, é um exemplo claro de como 
a Igreja usava seu poder para influenciar a política.
As decisões eclesiásticas afetavam a vida cotidiana, a 
política e a economia na sociedade medieval. Mediante essas 
decisões, a Igreja buscava consolidar sua autoridade e controlar 
a conduta dos fiéis.
Ao longo da Idade Média, a Igreja Católica desempenhou 
um papel central na vida da Europa Ocidental. Sua autoridade era 
inquestionável, e a estrutura hierárquica da Igreja desempenhava 
um papel importante na manutenção de sua influência e poder 
sobre a sociedade medieval. No entanto, essa mesma estrutura 
hierárquica e as decisões da Igreja também foram objeto de 
críticas, muitas vezes vindas de dentro da própria Igreja.
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As críticas à estrutura hierárquica da Igreja surgiram 
principalmente devido às questões de corrupção, abuso de poder 
e riqueza excessiva de certos membros do clero. Alguns líderes 
religiosos abusavam de suas posições para enriquecer, levando a 
um afastamento das raízes espirituais e morais da Igreja. O Papa 
Gregório VII, no século XI, tentou abordar algumas dessas questões 
por mei das reformas gregorianas, que visavam acabar com a simonia 
(compra de posições eclesiásticas) e o nicolaísmo (casamento de 
clérigos), entre outras práticas consideradas corruptas.
Tais críticas também se estendiam às decisões da Igreja e 
às suas práticas. O teólogo e reformador religioso João Huss, por 
exemplo, criticou a venda de indulgências e a corrupção dentro da 
Igreja. Sua crítica foi uma das precursoras da Reforma Protestante, 
que levou a uma divisão significativa na cristandade ocidental.
Os pensadores medievais, como o filósofo e teólogo 
Tomás de Aquino, também ofereceram críticas à estrutura e às 
práticas da Igreja. No entanto, essas críticas eram frequentemente 
de natureza filosófica ou teológica, e não necessariamente 
condenavam a estrutura hierárquica ou as decisões da Igreja.
As críticas à estrutura hierárquica e às decisões da Igreja 
na Idade Média foramvariadas e surgiram de várias fontes. Elas 
refletiam as preocupações de muitos sobre a corrupção e o abuso 
de poder dentro da Igreja e levaram a reformas significativas.
O clero secular e o clero regular: 
funções e distinções
No período medieval, o clero desempenhava um papel 
fundamental na vida social, política e espiritual da Europa. 
Era composto por dois grupos principais: o clero secular e o 
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clero regular. Nesta seção, nos concentraremos na definição e 
características do clero secular.
DEFINIÇÃO
O termo “clero secular” refere-se aos clérigos 
que viviam e trabalhavam no mundo, ou seja, 
fora dos mosteiros e conventos, e incluía bispos, 
padres e diáconos. Esses membros do clero eram 
encarregados de administrar os sacramentos 
e pregar a doutrina da Igreja diretamente à 
população. Jacques Le Goff (1989) destaca o papel 
fundamental do clero secular na disseminação da 
fé cristã, atuando como intermediários entre a 
Igreja e o povo.
As características do clero secular podem ser 
compreendidas por meio de suas funções e responsabilidades. Os 
bispos, por exemplo, eram líderes da Igreja em uma determinada 
região geográfica chamada “diocese”. Eles eram responsáveis pela 
supervisão dos padres em suas paróquias e pela administração 
dos sacramentos de confirmação e ordenação. No entanto, os 
padres desempenhavam o papel mais direto na vida espiritual 
da comunidade, realizando batismos, casamentos, confissões e 
celebrando a missa. Os diáconos auxiliavam os padres e bispos 
em suas funções e muitas vezes eram responsáveis por tarefas 
caritativas e administrativas.
O clero secular teve um papel crucial na consolidação 
da autoridade da Igreja Católica e na estabilização da sociedade 
medieval. Ele menciona que a presença do clero secular nas 
cidades e vilarejos permitiu à Igreja ter um alcance mais amplo, 
estendendo sua influência a todos os níveis da sociedade.
O clero secular, portanto, tinha um papel ativo e fundamental 
na vida cotidiana das pessoas na Idade Média. Eles eram a face 
visível da Igreja para a maioria dos cristãos e desempenhavam um 
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papel vital na propagação da fé, na administração dos sacramentos 
e na liderança espiritual das comunidades.
DEFINIÇÃO
O clero regular, em contraste com o clero secular, 
era formado por monges, freiras e monjas que 
viviam em comunidades monásticas isoladas do 
mundo exterior, dedicando-se à vida contemplativa, 
à oração, à meditação e ao estudo das escrituras 
sagradas. A palavra “regular” vem do latim regula, 
que significa “regra”, referindo-se à regra monástica 
que os membros do clero regular seguiam.
A existência do clero regular remonta ao século III d.C., 
quando surgiram os primeiros eremitas cristãos que viviam em 
total isolamento no deserto do Egito. Posteriormente, no século IV, 
São Pacômio fundou o primeiro mosteiro como uma comunidade 
de monges vivendo sob uma regra comum. No entanto, foi 
São Bento de Núrsia quem, no século VI, estabeleceu a Regra 
de São Bento, que se tornaria o modelo para a vida monástica 
no Ocidente. A Regra de São Bento estabelecia princípios de 
obediência, estabilidade, conversão de vida, oração e trabalho. O 
famoso lema “Ora et labora” (oração e trabalho) resume a essência 
da vida beneditina.
Os mosteiros tornaram-se centros de aprendizado, cultura 
e preservação do conhecimento durante a Idade Média. Muitos 
monges eram copistas que preservavam e reproduziam manuscritos 
antigos. Além disso, os mosteiros também desempenharam um 
papel crucial na conversão de povos pagãos ao Cristianismo, na 
caridade e no atendimento aos pobres e doentes.
É importante notar que, ao longo da Idade Média, surgiram 
várias ordens monásticas, como os cistercienses, os cartuxos e 
os franciscanos, cada uma com suas próprias regras e ênfases 
espirituais. As ordens mendicantes, como os franciscanos e 
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dominicanos, diferiam das ordens monásticas ao se dedicarem à 
pregação e ao atendimento aos pobres nas cidades.
RESUMINDO
E, então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu 
mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de 
que você realmente entendeu o tema de estudo 
deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. 
Você deve ter aprendido que a Igreja Católica na 
Idade Média tinha uma estrutura hierárquica 
bastante complexa e bem definida. O Papa era a 
figura central da Igreja, seguido pelos cardeais, 
arcebispos, bispos, sacerdotes e diáconos. Cada 
um desses membros da hierarquia eclesiástica 
tinha suas funções e responsabilidades próprias, 
contribuindo para o funcionamento eficiente 
da Igreja e sua missão espiritual. O Papado e os 
Concílios eclesiásticos desempenharam um papel 
crucial na tomada de decisões dentro da Igreja 
Católica. Os Concílios eram reuniões de bispos que 
discutiam e decidiam sobre questões de doutrina, 
disciplina e liturgia. O Papa, como líder supremo 
da Igreja, tinha a última palavra nas decisões, e 
sua autoridade era reconhecida e respeitada por 
todos os membros do clero. O clero na Idade 
Média era dividido em duas categorias principais: 
o clero secular e o clero regular. O clero secular 
era composto por sacerdotes, bispos e arcebispos 
que atuavam em paróquias e dioceses, lidando 
diretamente com as necessidades espirituais e 
pastorais dos fiéis. O clero regular, por outro lado, 
era composto por monges e freiras que viviam 
em mosteiros e conventos, dedicando-se à vida 
monástica, seguindo regras estritas e vivendo 
em comunidades fechadas. O clero secular e 
o clero regular tinham diferenças significativas 
em suas funções e estilos de vida, mas ambos 
desempenhavam papéis importantes na Igreja 
Católica e na sociedade medieval. 
35HISTÓRIA MEDIEVAL 
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A interação entre esses dois grupos era fundamental 
para a propagação da fé e a manutenção da ordem 
social. Com isso, você deve ter uma compreensão 
clara de como a Igreja Católica na Idade Média 
estava organizada, quem eram os principais atores 
e quais eram suas funções. Esperamos que este 
capítulo tenha sido esclarecedor e que agora você 
possa identificar com confiança a organização 
eclesiástica e a hierarquia da Igreja Católica 
Medieval.
 
36 HISTÓRIA MEDIEVAL 
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Práticas religiosas e devoções 
populares durante a Idade 
Média
OBJETIVO
Ao término deste capítulo, você será capaz de 
entender como funcionavam as práticas religiosas 
e devoções populares durante a Idade Média. Esse 
estudo será fundamental para o exercício de sua 
profissão, principalmente se você atuar em campos 
relacionados à história, teologia ou estudos 
culturais. As pessoas que tentaram interpretar as 
práticas religiosas e devoções populares medievais 
sem a devida instrução tiveram problemas ao 
compreender a complexidade e a riqueza dessas 
manifestações. Além disso, ao entender essas 
práticas, você poderá ter insights valiosos sobre 
a formação da cultura e das tradições europeias. 
E, então? Motivado para desenvolver esta 
competência? Vamos lá. Avante!
A popularização dos santos e a 
devoção as relíquias
Os santos e as relíquias ocuparam um lugar de destaque 
na religiosidade e na cultura popular durante a Idade Média. A 
veneração aos santos e às relíquias tornou-se uma prática comum, 
afetando tanto a vida diária das pessoas quanto a organização da 
Igreja e da sociedade medieval.
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Imagem 3.5– São José
 
Fonte: Freepik
Durante a Idade Média, os santos eram vistos como 
modelos de virtude e santidade. As pessoas acreditavam que os 
santos podiam interceder por elas junto a Deus, proporcionando-
lhes proteção, bênçãos e milagres. Os fiéis buscavam a 
ajuda dos santos para resolver problemas cotidianos, como 
doenças, colheitas fracas e conflitos familiares. Assim, os santos 
desempenharam um papel crucial na espiritualidade medieval, 
servindo como mediadores entre os seres humanos e o divino.
As relíquias, porsua vez, eram objetos sagrados associados 
aos santos, como partes de seus corpos ou objetos que tiveram 
contato com eles. Acreditava-se que as relíquias possuíam poderes 
milagrosos e eram capazes de curar doenças, proteger contra o 
mal e trazer boa sorte. A veneração de relíquias tornou-se uma 
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prática comum em toda a Europa Medieval, levando à construção 
de igrejas e santuários para abrigá-las. Além disso, as relíquias 
atraíam peregrinos de longe, impulsionando a economia local e 
reforçando o poder e a influência da Igreja.
Os santos e as relíquias desempenharam um papel central 
na vida espiritual e cultural da Idade Média. Eles eram fontes de 
inspiração, conforto e proteção para as pessoas comuns e também 
serviam como símbolos de poder e autoridade para a Igreja e a 
sociedade medieval.
O culto aos santos foi uma das práticas religiosas mais 
importantes da Idade Média. A devoção aos santos fazia parte 
da vida cotidiana das pessoas, desempenhando um papel 
fundamental na espiritualidade e na cultura popular medieval.
IMPORTANTE
A santidade, segundo a Igreja Católica, era um 
estado de graça alcançado mediante a prática 
da virtude, do sacrifício e da intercessão divina. 
Os santos eram vistos como modelos de virtude, 
cujas vidas exemplares eram uma fonte de 
inspiração para os fiéis. Eles eram venerados como 
intercessores entre Deus e os seres humanos, e 
acreditava-se que podiam interceder junto a Deus 
em favor dos fiéis, proporcionando-lhes proteção, 
bênçãos e milagres.
O culto aos santos envolvia uma série de práticas 
devocionais, como orações, oferendas, peregrinações e festas em 
sua honra. As igrejas e os santuários eram construídos em locais 
associados aos santos, como locais de nascimento, morte ou 
milagres. Esses lugares atraíam peregrinos de toda a Europa, que 
buscavam a proteção e a intercessão dos santos. A veneração aos 
santos também impulsionava a economia local, por meio da venda 
de lembranças religiosas, como medalhas, imagens e relíquias.
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O culto aos santos, no entanto, não estava isento de 
críticas. Alguns membros da Igreja e teólogos questionavam a 
autenticidade de algumas relíquias e a excessiva veneração aos 
santos, argumentando que isso desviava a atenção dos fiéis da 
verdadeira fé em Deus. Apesar dessas críticas, o culto aos santos 
continuou a ser uma prática central na religiosidade medieval.
O culto aos santos foi uma prática fundamental na 
espiritualidade e na cultura popular da Idade Média. Os santos eram 
vistos como modelos de virtude e intercessores entre Deus e os seres 
humanos, desempenhando um papel importante na vida cotidiana 
das pessoas e na organização da Igreja e da sociedade medieval.
DEFINIÇÃO
Relíquias, na tradição católica, são consideradas 
objetos sagrados que possuem uma relação direta 
com a vida de um santo, um mártir ou até mesmo 
com Cristo. Esses objetos podem ser partes do 
corpo do santo, objetos que pertenceram a ele ou, 
em alguns casos, objetos que estiveram em contato 
com seu corpo ou pertences. Durante a Idade 
Média, a crença no poder sagrado das relíquias era 
forte e presente em grande parte da sociedade.
As relíquias eram consideradas uma conexão direta com o 
divino, capazes de realizar milagres e garantir proteção divina. Era 
comum que as pessoas fizessem peregrinações a santuários que 
abrigavam relíquias importantes, como o Caminho de Santiago 
de Compostela, onde acreditava-se que estavam os restos do 
apóstolo Santiago.
As relíquias também desempenharam um papel 
significativo na consolidação do poder da Igreja. A posse de 
relíquias era vista como um sinal de prestígio e autoridade, o que 
fazia com que diversas igrejas e mosteiros buscassem adquirir 
relíquias para atrair peregrinos e obter doações.
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Contudo, a busca incessante por relíquias sagradas e a 
crença em seu poder levaram a algumas práticas questionáveis. 
Em alguns casos, eram vendidas falsas relíquias, e até mesmo o 
furto de relíquias autênticas tornou-se uma prática recorrente. A 
apropriação de relíquias por meio de roubo era justificada pela 
crença de que elas deveriam estar em um lugar onde fossem 
devidamente veneradas.
As relíquias tinham um papel central na devoção popular 
e na vida religiosa da Idade Média. Eram vistas como um elo direto 
com o divino e eram consideradas capazes de conceder graças 
e proteção. No entanto, a crença em seu poder também deu 
origem a práticas questionáveis, como a comercialização de falsas 
relíquias e o furto de relíquias verdadeiras.
O culto aos santos e a veneração das relíquias tiveram um 
grande impacto na sociedade medieval. A igreja detinha um grande 
número de relíquias, e esses objetos sagrados eram incorporados 
nas práticas de devoção e nos rituais religiosos dos fiéis. A crença 
na intercessão dos santos e no poder das relíquias desempenhou 
um papel fundamental na vida espiritual e cotidiana das pessoas 
durante a Idade Média. 
As relíquias eram vistas como um canal direto para o 
divino. Acredita-se que eles possuíam poderes miraculosos e 
que poderiam oferecer proteção divina e cura para aqueles que 
as veneravam com fé. As relíquias também eram uma fonte 
importante de peregrinação, com pessoas viajando grandes 
distâncias para visitar os locais onde as relíquias eram mantidas 
e veneradas. A busca por esses locais sagrados também deu 
origem a um florescente comércio de peregrinação e transformou 
algumas cidades em centros de devoção e comércio.
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As relíquias também desempenharam um papel 
fundamental na legitimação do poder da igreja. Possuir relíquias 
era visto como um sinal de prestígio e autoridade para as igrejas 
e mosteiros. O fato de possuir relíquias poderosas também 
aumentava a influência da igreja sobre os fiéis e fortalecia seu 
papel como mediadora entre o divino e o terreno. O impacto das 
relíquias na sociedade medieval é evidente nas inúmeras igrejas 
e catedrais, que foram construídas para abrigar esses objetos 
sagrados, muitas vezes com arquitetura e decoração elaboradas 
para destacar a importância das relíquias que abrigavam.
As relíquias eram, assim, objetos de veneração, símbolos 
de prestígio e autoridade para a igreja, e um meio de fortalecer a 
fé e a devoção entre os fiéis.
Práticas místicas e eremitas na 
Idade Média
As práticas místicas e a vida eremítica, mais conhecida 
como vida de eremita, eram duas maneiras pelas quais os 
cristãos medievais buscavam uma conexão mais profunda com 
Deus. Esses métodos espirituais eram vistos como alternativas às 
práticas religiosas mais comuns e institucionalizadas.
Misticismo é uma corrente espiritual que busca a 
experiência direta, íntima e transformadora com o sagrado, sem 
a mediação de rituais, dogmas ou sacerdotes. A experiência 
mística, muitas vezes descrita em termos de união com Deus, é 
caracterizada por um sentimento de amor e êxtase espiritual. 
Entre os místicos medievais, podemos destacar figuras, como 
João da Cruz, Teresa de Ávila, e Juliana de Norwich, que em suas 
vivências e escritos buscavam uma profunda relação pessoal com 
Deus, que era descrita como uma experiência direta e íntima.
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DEFINIÇÃO
O misticismo, em sua essência, refere-se à busca 
direta e íntima de uma conexão com o divino, que 
muitas vezes é vivenciada por meio de práticas de 
meditação, oração profunda e contemplação. A 
experiência mística é muitas vezes descrita como 
um encontro transformador com Deus, que pode 
levar a um profundo sentimento de união com o 
sagrado. O misticismo tem uma longa tradição na 
história da Igreja, com muitos místicos influentes 
surgindo durante a Idade Média, como João da 
Cruz, Teresa de Ávila, e Juliana de Norwich. Esses 
místicos geralmente relatam experiências intensas 
de amor divino e êxtase espiritual em suas obras 
(McGinn, B., 1992).
Durante a IdadeMédia, a busca pela experiência direta 
com o divino foi uma característica marcante de muitos religiosos 
e religiosas. Nesse período, várias figuras se destacaram por suas 
experiências místicas e suas contribuições à espiritualidade cristã.
Um dos místicos mais importantes da Idade Média foi São 
João da Cruz, um místico e poeta espanhol que viveu durante o 
século XVI. Ele é conhecido por sua poesia religiosa profunda e 
pela sua obra “Noite escura da alma”, na qual descreve a jornada 
da alma desde o sofrimento e a purificação até a união com Deus.
Outra figura significativa foi Santa Teresa de Ávila, uma 
carmelita reformadora e escritora mística espanhola que viveu no 
século XVI. Em sua obra “O livro da vida”, Santa Teresa descreve 
suas experiências místicas e a importância da oração contemplativa 
para a vida espiritual.
Já no norte da Europa, a mística alemã Hildegarda de 
Bingen se destacou por suas visões e escritos proféticos. Em sua 
obra “Scivias”, Hildegarda descreve suas visões e interpretações 
das Escrituras, além de discutir temas teológicos e éticos.
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Esses místicos, entre outros, tiveram um impacto duradouro 
na tradição espiritual cristã e continuam a inspirar pessoas em 
busca de uma experiência mais profunda com o divino.
As práticas místicas na Idade Média envolviam diversas 
expressões de devoção, oração e busca por experiências espirituais 
mais profundas. No contexto cristão medieval, o misticismo 
era visto como uma forma de se aproximar de Deus por meio 
de experiências íntimas e pessoais de comunhão com o divino. 
Essas práticas eram caracterizadas pela busca por uma união com 
Deus e eram frequentemente acompanhadas por experiências de 
visões, êxtases e estados alterados de consciência.
VOCÊ SABIA?
Os místicos medievais, muitas vezes, se dedicavam 
a práticas ascéticas, como jejuns, vigílias e orações 
prolongadas, buscando purificar-se e preparar-se 
para receber as graças divinas. Uma das práticas 
místicas mais conhecidas é a oração contemplativa, 
que consiste em um tipo de oração em que o fiel 
busca o silêncio interior, a quietude da mente e a 
abertura ao mistério de Deus. A contemplação era 
vista como uma forma de entrar em comunhão 
direta com Deus, sem a mediação de palavras ou 
conceitos. Os místicos medievais frequentemente 
descreviam essa experiência como um “mergulho” 
no oceano do amor divino, onde a alma se perde e 
se encontra em Deus.
Uma das figuras mais representativas dessa tradição 
contemplativa é São João da Cruz, que em sua obra “Subida do 
Monte Carmelo”, descreve o processo de purificação e união com 
Deus, comparando-o a uma jornada espiritual de subida a uma 
montanha. Outra figura importante é Santa Teresa de Ávila, que 
em sua obra “O castelo interior”, compara a alma a um castelo 
com várias moradas, nas quais o fiel avança em direção ao centro, 
onde reside o Rei, isto é, Deus. Para Santa Teresa, a oração 
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contemplativa era um meio de acessar essas moradas interiores e 
alcançar a união com Deus.
É importante ressaltar que as práticas místicas não estavam 
restritas apenas aos membros do clero ou aos eremitas. Muitos 
leigos também se dedicavam a essas práticas, buscando uma 
experiência mais profunda de Deus em suas vidas cotidianas. O 
movimento dos Beguinos e Beguinas, por exemplo, era composto 
por leigos que viviam em comunidades e se dedicavam à oração, 
ao serviço aos pobres e às práticas ascéticas, buscando uma vida 
de maior devoção e proximidade com Deus.
Assim, as práticas místicas na Idade Média eram diversas 
e variadas, envolvendo tanto membros do clero quanto leigos, e 
buscavam uma experiência mais profunda e direta de Deus por 
meio da oração, da contemplação e das práticas ascéticas.
IMPORTANTE
Os eremitas desempenharam um papel significativo 
na sociedade medieval, influenciando a vida 
espiritual e social da época. A figura do eremita, 
um indivíduo que se retira da sociedade para viver 
uma vida de isolamento, contemplação e oração, 
tem suas raízes no Cristianismo primitivo, quando 
muitos buscavam o deserto para se dedicar à vida 
ascética. Ao longo da Idade Média, o papel dos 
eremitas evoluiu e se adaptou às mudanças sociais 
e religiosas da época.
Em primeiro lugar, os eremitas eram vistos como modelos 
de virtude e santidade. Suas vidas de renúncia e oração contínua 
eram admiradas por muitos, e eles eram frequentemente 
procurados para dar conselhos espirituais e orar pelos 
necessitados. Seu exemplo inspirava os fiéis a buscarem uma vida 
mais devota e a se aproximarem de Deus.
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Os eremitas também desempenharam um papel importante 
na preservação e transmissão do conhecimento espiritual e teológico. 
Muitos deles eram estudiosos e autores prolíficos, escrevendo 
tratados, comentários e obras devocionais que influenciaram a 
teologia e a espiritualidade da época. O exemplo mais notável é São 
João da Cruz, um místico e eremita espanhol, cujas obras, como “Noite 
escura da alma” e “Subida do Monte Carmelo”, são consideradas 
clássicos da literatura mística cristã.
Além disso, os eremitas desempenharam um papel social 
significativo em algumas regiões da Europa medieval. Em lugares 
onde as estruturas sociais e eclesiásticas eram menos desenvolvidas, 
os eremitas muitas vezes atuavam como líderes espirituais e 
comunitários, proporcionando orientação, apoio e ajuda aos pobres 
e necessitados. Eles também contribuíram para a fundação e o 
desenvolvimento de mosteiros e comunidades religiosas, muitos dos 
quais se tornaram centros de educação e cultura.
Os eremitas desempenharam um papel multifacetado na 
sociedade medieval, influenciando a vida espiritual, intelectual e 
social da época. Sua dedicação à oração, ao estudo e ao serviço 
aos outros deixou um legado duradouro na história da Igreja e da 
cultura medieval.
Festas e celebrações litúrgicas no 
calendário medieval
Durante a Idade Média, o calendário litúrgico desempenhou 
um papel central na vida das pessoas, especialmente na Europa. 
Este calendário, também conhecido como calendário cristão, é 
utilizado pela Igreja Católica para marcar e celebrar os principais 
eventos da vida de Jesus Cristo, da Virgem Maria e dos santos. 
Ele é dividido em várias temporadas litúrgicas, cada uma com seu 
próprio foco e celebrações específicas. No contexto medieval, a 
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observância dessas celebrações religiosas era essencial para a 
sociedade, pois, além de refletir a fé, também dava estrutura ao 
ano e influenciava muitos aspectos da vida cotidiana.
Para entender o calendário litúrgico medieval, é importante 
observar as mudanças ocorridas ao longo do tempo. O calendário 
cristão que conhecemos hoje teve sua origem no calendário 
romano, mas foi adaptado ao longo dos séculos para refletir 
as necessidades e tradições da Igreja (Duffy, 1992). No início 
do Cristianismo, a celebração da Páscoa era o principal evento 
litúrgico, e o calendário era organizado em torno dessa festa. No 
entanto, com o tempo, outras celebrações foram incorporadas, 
como o Natal e as festas dos santos, o que levou à formação do 
calendário litúrgico tal como o conhecemos hoje.
As festas litúrgicas eram não apenas momentos de devoção, 
mas também tinham impacto social, cultural e político. A observância 
das festas religiosas era uma forma de reforçar a identidade cristã 
e promover a unidade da comunidade (Le Goff, 2003). Além disso, 
as festas litúrgicas também eram oportunidades para a realização 
de feiras, encontros e festividades, desempenhando um papel 
importante na vida social e econômica das pessoas.
Compreender o calendário litúrgico medieval é essencial 
para entender a dinâmica da vida na Idade Média, pois ele 
influenciava a organização do tempo, as práticas religiosas e as 
atividades cotidianas.
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RESUMINDO
E, então? Gostou do que lhe mostramos?Aprendeu 
mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de 
que você realmente entendeu o tema de estudo 
deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você 
deve ter aprendido que a popularização dos santos 
e a devoção às relíquias desempenharam um papel 
crucial na vida religiosa da Idade Média. As relíquias, 
como os restos mortais ou objetos associados a 
santos, eram vistas como um canal de comunicação 
entre o céu e a terra, e a veneração desses objetos era 
um ato de devoção aos santos e mártires. As relíquias 
também atraíam peregrinos de todas as partes da 
Europa, que visitavam os locais sagrados em busca 
de bênçãos e milagres. As práticas místicas e os 
eremitas também tiveram uma presença marcante 
na vida religiosa medieval. Os místicos buscavam 
uma experiência direta e pessoal com Deus, através 
de orações, contemplação e disciplinas ascéticas. Os 
eremitas, por sua vez, eram indivíduos que optavam 
por viver em isolamento, longe das tentações e 
distrações do mundo, dedicando-se inteiramente à 
oração e à penitência. Essas figuras solitárias eram 
admiradas e respeitadas pela sociedade medieval, 
que as via como modelos de santidade e devoção. As 
festas e celebrações litúrgicas no calendário medieval 
eram uma parte fundamental da vida religiosa e 
social da época. O calendário litúrgico organizava o 
ano em torno de festas e celebrações que marcavam 
os principais eventos da história sagrada e da vida 
dos santos. A vida religiosa na Idade Média era 
profundamente entrelaçada com a vida cotidiana 
das pessoas. As práticas de devoção, as festas 
litúrgicas e as figuras religiosas, como os santos e os 
eremitas, moldavam a cultura, a arte e a sociedade 
da época. Era um tempo em que a fé era vivida de 
forma intensa e palpável, e a religião era uma força 
poderosa que influenciava todos os aspectos da vida. 
Esperamos que você tenha apreciado esta jornada 
pela espiritualidade e pela cultura da Idade Média, e 
que tenha se sentido inspirado por essas tradições e 
práticas que ainda ecoam nos dias de hoje.
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Relações entre a Igreja e o 
Estado
OBJETIVO
Ao término deste capítulo, você será capaz de 
entender como funcionavam as relações entre 
a Igreja e o Estado na Idade Média, incluindo os 
conflitos e alianças entre poderes seculares e 
eclesiásticos. Isso será fundamental para o exercício 
de sua profissão, especialmente se você trabalhar 
em campos relacionados à história, ciências 
políticas, teologia ou relações internacionais. As 
pessoas que tentaram analisar as relações de poder 
na Idade Média sem a devida instrução tiveram 
problemas ao interpretar os eventos históricos e 
compreender as complexas dinâmicas políticas 
e religiosas da época. A compreensão dessas 
relações é essencial para entender a evolução das 
instituições políticas e religiosas na Europa e no 
mundo. E então? Motivado para desenvolver esta 
competência? Vamos lá. Avante!
Doutrina das Duas Espadas: 
fundamento teológico das 
relações Igreja-Estado na Idade 
Média
A doutrina das Duas Espadas surgiu no contexto da 
teologia medieval, tendo sido articulada, principalmente, por 
teólogos e filósofos cristãos da Igreja Católica. Ela representava 
um esforço para compreender e definir as relações entre o poder 
espiritual, representado pela Igreja, e o poder temporal, exercido 
pelo Estado. Essa doutrina teve implicações significativas na 
história da Europa medieval, influenciando as relações políticas e 
religiosas de toda a cristandade.
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A teologia cristã na Idade Média, particularmente a 
escolástica, esforçou-se para integrar a filosofia e a religião, 
buscando respostas racionais para questões espirituais. Dentro 
desse contexto, a Doutrina das Duas Espadas surgiu como uma 
forma de conciliar as duas formas de poder: espiritual e temporal. 
Na interpretação de teólogos como Tomás de Aquino, o poder 
espiritual detinha autoridade sobre as questões da fé, enquanto 
o poder temporal era responsável pela ordem e justiça no mundo 
material (Aquino, 2005).
O Papa Bonifácio VIII formalizou a doutrina no início do 
século XIV, por meio da bula papal “Unam Sanctam”. Segundo ele, o 
poder espiritual era supremo e detinha autoridade sobre o poder 
temporal. A Igreja, representando o poder espiritual, poderia 
julgar os assuntos temporais quando necessário (Bonifácio VIII, 
Bula Unam Sanctam, 1302).
Entretanto, essa doutrina não estava isenta de controvérsias. 
As tentativas da Igreja de exercer poder sobre os Estados levaram 
a conflitos com monarcas europeus, principalmente no contexto da 
Investidura, um conflito pelo direito de nomear bispos. A disputa 
entre o Papa Gregório VII e o Imperador Henrique IV do Sacro Império 
Romano-Germânico exemplifica essa tensão (Cowdrey, 1998).
Nas relações entre a Igreja e o Estado na Idade Média, 
a Doutrina das Duas Espadas desempenhou um papel crucial 
na definição das esferas de influência de cada poder. Apesar de 
suas controvérsias e conflitos, essa doutrina teve um impacto 
duradouro na história política e religiosa da Europa Medieval.
A Doutrina das Duas Espadas é um conceito fundamental 
no estudo das relações entre a Igreja e o Estado na Idade Média. 
A ideia por trás dessa doutrina foi primeiramente concebida no 
contexto das relações entre o Papado e o Império Romano do 
Ocidente, e posteriormente consolidada na Europa Medieval. Para 
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compreender as origens dessa doutrina, é importante analisar o 
ambiente político-religioso da época.
VOCÊ SABIA?
O conceito das duas espadas tem suas raízes na 
passagem bíblica do Evangelho de Mateus, na qual 
Jesus diz a Pedro: “E eu te digo que tu és Pedro, e 
sobre essa pedra edificarei minha igreja, e as portas 
do inferno não prevalecerão contra ela. E eu te darei 
as chaves do reino dos céus; e tudo o que ligares 
na terra será ligado no céu, e tudo o que desligares 
na terra será desligado no céu” (Mateus 16:18-19). 
Aqui, Jesus confere autoridade a Pedro, o primeiro 
Papa, e reconhece a autoridade da Igreja.
Os teólogos da Igreja Católica interpretaram essa passagem 
como um mandato divino para a Igreja exercer autoridade tanto 
no âmbito espiritual quanto no temporal. Dentre esses teólogos, 
Agostinho de Hipona (354-430) foi uma das primeiras figuras a 
elaborar sobre a coexistência dos dois reinos, a Cidade de Deus 
e a Cidade do Homem (Agostinho, 2012). No entanto, foi somente 
na Idade Média que a Doutrina das Duas Espadas foi formalmente 
articulada.
Papa Gelásio I (492-496) foi um dos primeiros a formular 
a Teoria das Duas Espadas em sua carta “Duo sunt” ao imperador 
Anastácio. Ele escreveu que existem dois poderes, o sacerdotal e o 
real, sendo o sacerdotal superior ao real, pois deve prestar contas 
a Deus, enquanto o real deve prestar contas à Igreja. A ideia foi 
desenvolvida e aprofundada por teólogos e papas subsequentes, 
culminando na bula “Unam Sanctam” do Papa Bonifácio VIII, que 
reivindicava a supremacia papal sobre o poder temporal.
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Imagem 3.6 – Papa Gelásio I
 
Fonte: Commons
O desenvolvimento da Doutrina das Duas Espadas reflete 
as tensões entre a Igreja e o Estado durante a Idade Média, 
à medida que ambos buscavam afirmar sua autoridade em 
um cenário político e religioso complexo. A doutrina também 
expressava a visão da Igreja sobre a natureza dual da autoridade, 
tanto espiritual quanto temporal, que era fundamental para a 
organização da sociedade medieval.
Um dos eventos mais significativos no desenvolvimento 
dessa doutrina ocorreu no final do século XI, durante a Reforma 
Gregoriana. O Papa Gregório VII procurou reafirmar a supremacia 
da Igreja sobre o poder temporal em uma série de decretos 
chamados “Dictatus Papae”. Gregório VII enfatizou que o Papa, 
como sucessor de Pedro, era o único com autoridade para 
convocar ou depor reis e imperadores.
Durante o século XIII, Tomás de Aquino, um dos maiores 
filósofose teólogos da Igreja Católica, também contribuiu para 
a formalização dessa doutrina. Ele defendeu a ideia de que a 
Igreja e o Estado devem coexistir harmoniosamente, cada um 
em sua esfera de atuação, com o poder espiritual exercendo sua 
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autoridade em assuntos de fé e o poder temporal cuidando das 
questões seculares. Entretanto, em caso de conflito, a autoridade 
espiritual deveria prevalecer sobre a temporal.
O desenvolvimento e a formalização da Doutrina das Duas 
Espadas no período medieval, portanto, surgiram de um contexto 
de lutas pelo poder e foram instrumentalizados para defender a 
supremacia da Igreja sobre o Estado. No entanto, com o passar 
do tempo, essa doutrina foi adaptada e interpretada de diferentes 
formas, dando origem a várias teorias sobre as relações entre a 
Igreja e o Estado.
Conflitos de interesses: 
investiduras, concordatos e 
excomunhões
Durante a Idade Média, a Igreja Católica desempenhou 
um papel central na vida da Europa, atuando como uma entidade 
independente e poderosa que detinha ampla influência sobre 
assuntos políticos, sociais e econômicos. No entanto, a relação 
entre a Igreja e o Estado era complexa e caracterizada por tensões 
e conflitos, principalmente no que se refere à questão dos poderes 
espiritual e temporal.
A doutrina das duas espadas, que sustentava que a Igreja 
e o Estado eram dois poderes distintos, um espiritual e outro 
temporal, mas que deveriam coexistir e colaborar para o bem da 
sociedade cristã, era o fundamento teológico das relações entre 
a Igreja e o Estado. No entanto, na prática, essa relação estava 
longe de ser harmoniosa, e as tensões entre os dois poderes eram 
frequentes. Os conflitos geralmente surgiam devido às diferentes 
interpretações da doutrina e à tentativa de ambas as partes de 
exercerem autoridade sobre áreas que a outra considerava de sua 
competência exclusiva.
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Imagem 3.7 – Formas de conflito
Investiduras
Concordatos
Excomunhões
Fonte: Autor (2023).
Nesse contexto, surgem três principais formas de conflito 
entre a Igreja e o Estado durante a Idade Média: as investiduras, 
os concordatos e as excomunhões. As investiduras eram o ato de 
nomear clérigos para cargos de poder na Igreja, os concordatos 
eram acordos formais entre a Igreja e os governantes seculares, 
e as excomunhões eram o ato de expulsar alguém da Igreja 
Católica. Cada uma destas formas de conflito tinha suas próprias 
características e implicações para as relações entre a Igreja e o 
Estado (Russell, 2014).
DEFINIÇÃO
As investiduras constituíam uma das principais 
fontes de conflito entre a Igreja e o Estado na 
Idade Média. A questão das investiduras girava 
em torno do direito de nomear bispos e outros 
clérigos de alto escalão. Tradicionalmente, o 
direito de investidura estava nas mãos dos reis e 
imperadores, que selecionavam os bispos com base 
em critérios políticos e econômicos. No entanto, 
os papas buscavam afirmar o controle da Igreja 
sobre a nomeação dos clérigos, argumentando 
que apenas a Igreja deveria ter o direito de investir 
autoridade espiritual.
A disputa sobre as investiduras atingiu seu ápice no século 
XI com o conflito conhecido como a Querela das Investiduras. 
O Papa Gregório VII e o Imperador Henrique IV entraram em 
confronto direto sobre a questão das investiduras, com cada um 
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reivindicando o direito exclusivo de nomear clérigos. O conflito 
resultou na excomunhão de Henrique IV e na promulgação do 
Decreto sobre a Liberdade da Igreja pelo Papa Gregório VII, que 
proibia os governantes leigos de conceder investiduras.
O conflito sobre as investiduras foi finalmente resolvido 
no Concílio de Worms em 1122, com a assinatura do Concordato 
de Worms. O acordo estabeleceu que o imperador tinha o direito 
de estar presente na eleição dos bispos e de dar-lhes símbolos de 
autoridade temporal, enquanto o papa tinha o direito de conceder-
lhes os símbolos de autoridade espiritual. O acordo marcou o fim 
da Querela das Investiduras e estabeleceu um precedente para a 
resolução de futuros conflitos entre a Igreja e o Estado (Bolton, 1983).
As disputas sobre as investiduras ilustram as complexas 
relações de poder entre a Igreja e o Estado na Idade Média. A 
questão das investiduras destacou a tensão entre os interesses 
espirituais da Igreja e os interesses temporais do Estado, uma 
tensão que persistiu ao longo da Idade Média e além.
Os concordatos eram acordos formais entre a Igreja 
Católica e os Estados, muitas vezes estabelecidos para resolver 
disputas ou formalizar relações. Esses acordos tiveram um impacto 
significativo nas relações entre a Igreja e o Estado e são essenciais 
para compreender a dinâmica do poder durante a Idade Média.
VOCÊ SABIA?
A formalização de acordos, como o Concordato 
de Worms, representou um passo importante na 
busca de uma relação equilibrada entre o poder 
secular e o eclesiástico. Entretanto, esses acordos 
não eliminaram completamente os conflitos. Em 
muitos casos, os reis e imperadores continuaram 
a tentar controlar as nomeações eclesiásticas e 
influenciar a política da Igreja, enquanto os papas 
continuaram a se envolver em assuntos seculares.
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Além disso, os concordatos também podem ser vistos como 
uma forma de a Igreja reafirmar sua autoridade e influência em 
um mundo cada vez mais complexo e politicamente fragmentado. 
Por exemplo, ao longo dos séculos XIII e XIV, o papado assinou 
vários concordatos com diferentes monarquias europeias, 
estabelecendo relações diplomáticas formais e reforçando a 
posição da Igreja como uma potência internacional.
Os concordatos eram uma ferramenta diplomática vital 
para a Igreja Católica durante a Idade Média. Eles ajudaram a 
resolver conflitos, formalizar relações e garantir a influência 
contínua da Igreja em assuntos temporais e espirituais.
Durante esse período, a excomunhão era uma ferramenta 
poderosa nas mãos da Igreja Católica, usada para impor disciplina 
e punir aqueles que se opunham à autoridade papal, incluindo 
monarcas e líderes seculares.
VOCÊ SABIA?
Uma das razões para a excomunhão de líderes 
seculares foi a recusa em seguir as diretrizes da Igreja. 
O Papa Gregório VII, por exemplo, excomungou 
o Imperador Henrique IV durante a Querela das 
Investiduras, um conflito entre a Igreja e o Estado 
sobre o direito de nomear bispos. A excomunhão 
foi uma arma eficaz, pois significava a exclusão do 
indivíduo da comunidade cristã, o que poderia ter 
implicações políticas e sociais graves, incluindo a perda 
de apoio entre os súditos. Nesse caso, a excomunhão 
de Henrique IV levou-o a pedir o perdão do Papa, 
ilustrando o poder da Igreja na época.
As excomunhões também eram usadas para punir reis 
e nobres que se envolviam em disputas territoriais ou conflitos 
armados com outros Estados cristãos sem a aprovação da Igreja. 
O Papa Inocêncio III excomungou o Rei João da Inglaterra após 
este recusar-se a aceitar o arcebispo de Canterbury nomeado pelo 
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Papa. A excomunhão, nesse caso, aumentou a pressão sobre o rei, 
levando-o a submeter-se à autoridade papal.
As excomunhões eram medidas extremas, mas eficazes, 
que a Igreja empregava para exercer influência sobre os 
governantes seculares. Esses exemplos mostram a complexa 
relação entre a Igreja e o Estado na Idade Média e a tensão entre 
autoridade espiritual e poder secular.
Alianças e concessões: papado, 
monarquias e o equilíbrio de 
poderes
No período medieval, o papel da Igreja Católica na Europa 
estava firmemente entrelaçado com o das monarquias. A relação 
entre o papado e as monarquias envolvia frequentemente alianças 
e concessões mútuas, o que afetava significativamente o equilíbrio 
de poderes na região. O contexto histórico desse período foi 
marcado por uma série de conflitos religiosos e políticos, em 
meio aos quais o papado

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