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HISTÓRIA ANTIGA 
Unidade 2
Grécia Antiga
CEO
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Diretora Editorial
ALESSANDRA FERREIRA
Gerente Editorial
LAURA KRISTINA FRANCO DOS SANTOS
Projeto Gráfi co
TIAGO DA ROCHA
Autoria
FÁBIO RONALDO DA SILVA
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FÁBIO RONALDO DA SILVA
Olá. Pós-doutorando em História pelo PPGH/UFCG; doutor 
em História pelo PPGH/UFPE; mestre em História pelo PPGH/
UFCG. Fui professor substituto do curso de Jornalismo da UEPB e 
professor do curso de Publicidade e Propaganda da Cesrei, além 
de professor do curso de Comunicação Social da FIP e do curso de 
Produção em Audiovisual da Facisa/Cesed. Possui especialização 
em Programação Visual; graduação em Comunicação Social 
pela UEPB e em História pela UFCG. É pesquisador colíder do 
grupo de pesquisa/DGP-CNPq História e Memória da Ciência 
e Tecnologia. Realiza pesquisa nas áreas de Comunicação e 
História, atuando principalmente nos seguintes temas: estudos 
de gênero, sexualidades, velhices, imprensa homoerótica, 
homossexualidades, imagem, cinema, história oral, arquivo 
jornalístico, memória e novas tecnologias da informação. Sou 
apaixonado pelo que faço e adoro transmitir minha experiência 
de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso 
fui convidado pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de 
autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você 
nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo!
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ESEsses ícones aparecerão em sua trilha de aprendizagem nos seguintes casos:
OBJETIVO
No início do 
desenvolvimento 
de uma nova 
competência. DEFINIÇÃO
Caso haja a 
necessidade de 
apresentar um novo 
conceito.
NOTA
Quando são 
necessárias 
observações ou 
complementações. IMPORTANTE
Se as observações 
escritas tiverem que 
ser priorizadas.
EXPLICANDO 
MELHOR
Se algo precisar ser 
melhor explicado ou 
detalhado. VOCÊ SABIA?
Se existirem 
curiosidades e 
indagações lúdicas 
sobre o tema em 
estudo.
SAIBA MAIS
Existência de 
textos, referências 
bibliográfi cas e links 
para aprofundar seu 
conhecimento.
ACESSE
Se for preciso acessar 
sites para fazer 
downloads, assistir 
vídeos, ler textos ou 
ouvir podcasts. 
REFLITA
Se houver a 
necessidade de 
chamar a atenção 
sobre algo a 
ser refl etido ou 
discutido.
RESUMINDO
Quando for preciso 
fazer um resumo 
cumulativo das últimas 
abordagens.
ATIVIDADES
Quando alguma 
atividade de 
autoaprendizagem 
for aplicada. TESTANDO
Quando uma 
competência é 
concluída e questões 
são explicadas.
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Grécia Antiga: cidades-Estados e as colônias gregas ............. 9
Geografia da Grécia Antiga: relevos e 
impactos no desenvolvimento civilizacional ................................................... 9
Cidades-Estados: Atenas, Esparta e outras pólis significativas .................14
A era da colonização grega: motivações 
e impactos nas regiões mediterrânicas .........................................................20
Democracia ateniense e a oligarquia espartana ................. 24
Origens e evolução das estruturas políticas gregas ....................................24
Atenas: berço da democracia direta ..............................................................29
Esparta: oligarquia militarizada e o sistema dos éforos .............................33
Contribuições culturais da Grécia Antiga ............................. 38
Filosofia grega: berço do pensamento ocidental .........................................38
Arte na Grécia Antiga: expressão da beleza e da perfeição ......................46
Teatro grego: tragédia, comédia e o espírito cívico ...................................48
Guerras greco-persas e suas consequências 
para a Grécia Antiga ................................................................ 50
Antecedentes e motivações: a ascensão persa e a ambição grega .........50
Batalhas-chave, estratégias de maratona e plateias ...................................55
Batalha de Maratona ..........................................................................56
Batalha de Termópilas ......................................................................57
Batalha de Salamina ...........................................................................58
Batalha de Plateias ..............................................................................59
Consequências e legado: o impacto das guerras 
na política, cultura e sociedade gregas .........................................................60
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Você sabia que a cultura e a história da Grécia Antiga são 
algumas das mais influentes no desenvolvimento do pensamento 
e das artes ocidentais, e seus legados ainda são evidenciados 
em diversos aspectos de nossa sociedade atual? Isso mesmo. A 
herança da Grécia Antiga permeia desde a estrutura política de 
muitos países até os pilares filosóficos e éticos de nossa civilização. 
Sua principal responsabilidade foi estabelecer os alicerces para a 
democracia, promover avanços sem precedentes nas artes e no 
teatro, moldar os primórdios da filosofia ocidental e protagonizar 
conflitos que redefiniram o equilíbrio de poder no Mediterrâneo 
Antigo. A complexidade de suas cidades-Estados, como Atenas e 
Esparta, os desafios da colonização em terras distantes e as tensões 
com o Império Persa criaram uma tapeçaria rica e intrincada 
de eventos, ideias e inovações. Essas contribuições não apenas 
modelaram a Antiguidade, mas também lançaram as bases para 
o Renascimento e até mesmo os debates contemporâneos sobre 
governança e sociedade. Entendeu? Ao longo desta unidade letiva, 
você vai mergulhar nesse universo!
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S Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 2. Nosso objetivo 
é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências 
profissionais até o término desta etapa de estudos:
1. Compreender a história e a geografia da Grécia Antiga, 
incluindo as cidades-estados e as colônias gregas, 
bem como o surgimento e o desenvolvimento dessa 
civilização.
2. Avaliar e discernir as formas de governo na Grécia 
Antiga, como a democracia ateniense e a oligarquia 
espartana, para entender como funcionavam as 
estruturas políticas e os sistemas de governo das 
cidades-estados gregas.
3. Identificar as principais contribuições culturais da 
Grécia Antiga, como a filosofia, a arte e o teatro.
4. Entender o contexto histórico das Guerras Greco-
Persas e as suas consequências para a Grécia Antiga, a 
fim de compreender a importância desses conflitos e o 
seu impacto na história e cultura gregas.
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Grécia Antiga: cidades-Estados 
e as colônias gregas
OBJETIVO
Ao término deste capítulo, você será capaz de 
entender como funcionava a intrincada tapeçaria 
de cidades-Estados na Grécia Antiga e o papel 
crucial da geografi a e da colonização no surgimento 
e desenvolvimento dessa civilização. Isso será 
fundamental para o exercício de sua profi ssão, 
especialmente se estiver envolvido em áreas 
como Historiografi a, Arqueologia ou Educação 
Histórica. As pessoas que tentaram analisar 
ou lecionar sobre a Grécia Antiga sem a devida 
instrução frequentemente tiveram problemas ao 
interpretar corretamente as dinâmicas sociais, 
políticas e geográfi cas que moldaram esse berço 
da civilização ocidental. E então? Motivado para 
desenvolver essa competência? Vamos lá!
Geografi a da Grécia Antiga: 
relevos e impactos no 
desenvolvimento civilizacional
A Grécia Antiga, berço da democracia e epicentro de 
grandes desenvolvimentos fi losófi cos e culturais, foi moldada, 
em grande medida, por sua geografi a peculiar. Esse território, 
composto em sua maioria por penínsulas e ilhas, revela uma 
intricada interação entre terra e mar. Assim, o território grego não 
é extenso, mas é notavelmente diversifi cado.
As penínsulas estendiam-se comodedos em direção 
ao Mar Egeu, o que garantia que nenhuma parte do território 
estivesse muito distante do mar. Esse fator, além de infl uenciar a 
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dieta e economia gregas, também moldou o caráter e o espírito 
aventureiro dos antigos helenos. A paisagem da Grécia incentivou a 
fragmentação política e também impulsionou os gregos para o mar.
Além disso, o clima mediterrâneo desempenhou um papel 
vital na defi nição do estilo de vida grego. Com verões quentes e 
secos, e invernos suaves, o território era propício para cultivos 
como de oliveiras e videiras. Assim, tornava-se evidente a profunda 
ligação entre a terra, o clima e as pessoas que ali habitavam.
VOCÊ SABIA?
A montanhosidade da Grécia, com suas elevações 
recortando o território, não só determinou a divisão 
física, mas também teve profundos impactos nas 
nuances sociopolíticas de seus habitantes. De fato, 
mais de 80% da Grécia é coberta por montanhas, 
uma confi guração geográfi ca que trouxe tanto 
desafi os quanto oportunidades.
Entre as consequências diretas dessa topografi a 
montanhosa, encontra-se o isolamento das diversas comunidades. 
A comunicação terrestre era muitas vezes difícil, dando origem a 
cidades-Estados (pólis) autônomas e altamente independentes. 
Além disso, a natureza das montanhas gregas, que fragmentavam 
o território, resultou no surgimento de várias pólis com governos 
e leis próprias.
O relevo, por outro lado, também proporcionou benefícios 
defensivos. As montanhas tornaram-se barreiras naturais contra 
invasões, enquanto as colinas ofereciam locais estratégicos para o 
estabelecimento de acrópoles, centros cívicos e religiosos que se 
tornaram o coração de muitas pólis.
Contudo, em termos econômicos, as terras montanhosas 
da Grécia não eram ideais para a agricultura em larga escala, ao 
serem muitas vezes áridas e rochosas. Isso conduziu a uma forte 
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dependência de cultivos específi cos, como olivais e vinhedos, bem 
adaptados às condições do solo grego, e também impulsionou a 
busca por terras mais férteis por meio da colonização.
A proximidade com o Mar Egeu foi, sem dúvida, uma das 
características geográfi cas mais infl uentes na história da Grécia 
Antiga. Tal presença aquática não apenas moldou a paisagem e 
o ambiente, mas, crucialmente, o caráter e o comportamento dos 
antigos helenos. À medida que as terras montanhosas limitavam 
a expansão terrestre e a agricultura, os gregos viram no mar um 
horizonte de possibilidades.
Esse vasto “campo azul” tornou-se uma espécie de estrada 
líquida para os gregos, conectando-os a outras terras e culturas. O 
Mar Egeu, com suas inúmeras ilhas e sua proximidade com a Ásia 
Menor, incentivou a atividade naval, tornando os gregos mestres 
na arte da navegação e construção de embarcações. E não é 
exagero dizer que, graças ao mar, o mundo antigo testemunhou 
uma espécie de globalização à moda grega.
IMPORTANTE
De modo específi co, o Mar Egeu proporcionou 
oportunidades para comércio, exploração e 
colonização. Cidades como Atenas, com seu porto 
de Pireu, prosperaram com o comércio marítimo. 
O estímulo à navegação não só fortaleceu a 
economia, mas também a diplomacia e a difusão 
cultural. As viagens marítimas possibilitaram 
o contato com diferentes povos e culturas, 
enriquecendo a civilização grega com novas ideias, 
tecnologias e práticas.
O Mar Egeu, portanto, não foi apenas um recurso 
geográfi co para a Grécia Antiga, mas um verdadeiro agente de 
transformação cultural, econômica e social. Conforme a escrita 
avança, é essencial examinar mais detalhadamente os aspectos 
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específi cos desse impacto, como os padrões de comércio, as rotas 
marítimas e as interações culturais entre a Grécia e as outras 
civilizações.
REFLITA
A paisagem geográfi ca da Grécia Antiga 
desempenhou um papel signifi cativo na 
emergência das pólis, ou cidades-Estados. O termo 
“pólis” pode ser descrito como uma cidade ou 
comunidade autônoma com suas próprias leis, 
própria governança e identidade cultural. Mas o 
que a geografi a tem a ver com a formação dessas 
entidades únicas e fundamentais para a Grécia?
De início, as características montanhosas da Grécia, que 
discutimos anteriormente, criaram barreiras naturais entre 
diferentes comunidades. Essas barreiras naturais fomentaram um 
sentido de autonomia, uma vez que a comunicação e o comércio 
entre diferentes regiões se tornavam desafi adores. Assim, as 
comunidades locais começaram a estabelecer suas próprias 
regras, tradições e formas de governo, independentemente de 
outras regiões vizinhas.
Ademais, a proximidade com o mar, especialmente o Mar 
Egeu, também impactou a formação das pólis. Como mencionado, 
os gregos eram navegadores habilidosos. A necessidade de 
estabelecer postos comerciais e portos seguros levou ao 
estabelecimento de pólis costeiras. Essas cidades, ao contrário de 
suas contrapartes no interior, tinham uma relação mais estreita 
com o comércio marítimo e frequentemente engajavam-se em 
relações comerciais com outras civilizações mediterrâneas.
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Imagem 2.1 – Mar Egeu
Fonte: Wikimedia Commons 
A interação entre geografia e política também é crucial. Em 
regiões onde o terreno era favorável à agricultura, como o vale 
de Esparta, a pólis poderia se concentrar no cultivo de alimentos, 
tornando-se uma potência agrícola. Em contraste, pólis como 
Atenas, com acesso limitado a terras agrícolas, mas com um porto 
proeminente, voltaram-se para o comércio e a marinha.
Essa combinação de fatores geográficos, juntamente 
com aspectos sociopolíticos, culminou na formação da pólis, 
um pilar da civilização grega. As pólis não eram apenas centros 
administrativos, mas também centros de cultura, religião e poder. 
Elas são, em muitos aspectos, um reflexo direto do terreno e do 
ambiente que as rodeia.
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Cidades-Estados: Atenas, Esparta 
e outras pólis signifi cativas
Ao abordarmos a Grécia Antiga, um termo se destaca pelo 
seu signifi cado e pela sua presença na construção dessa civilização: 
a pólis. Esse conceito, amplamente discutido e analisado por 
estudiosos, foi a base da organização política, social e cultural da 
Grécia Antiga e moldou as práticas e crenças da sociedade grega.
IMPORTANTE
A palavra “pólis” pode ser traduzida simplesmente 
como “cidade” ou “cidade-Estado”, mas seu 
signifi cado vai muito além dessas defi nições. A pólis 
era uma comunidade de cidadãos e suas famílias, que 
dispunham de um território e eram politicamente 
autônomos, regidos por leis próprias e possuindo 
instituições para a tomada de decisões coletivas.
Diferentemente das grandes monarquias e dos impérios 
da Antiguidade, a Grécia estava dividida em várias dessas cidades-
estados, cada uma com suas próprias leis, seus costumes e 
governos. E, dentro dessas pólis, havia uma clara distinção 
entre cidadãos, metecos (estrangeiros residentes) e escravos, 
cada grupo com direitos e responsabilidades específi cos. Essa 
distinção, como apontado por Pomeroy et al. (2004), era crucial 
para entender a dinâmica das pólis, já que a participação política 
era uma prerrogativa dos cidadãos, enquanto os outros grupos 
eram excluídos de diversos aspectos da vida pública.
Assim, ao nos depararmos com o conceito de pólis, estamos 
não apenas abordando uma unidade política, mas toda uma 
cosmovisão que permeava a vida dos gregos antigos. Cada pólis 
era um universo em si, com suas particularidades e características 
que a diferenciavam das demais. Mas, ao mesmo tempo, existia 
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uma identidade coletiva que unia os gregos em torno de valores, 
crenças e práticas compartilhadas.
Dentre todas as pólis gregas, Atenas destaca-se não 
apenas pela sua grandeza e seu poderio, mas também por ser 
reconhecida como o berço da democracia. Essa cidade-Estado 
foi pioneira em estabelecer um sistemapolítico que, apesar de 
diferente das democracias modernas, lançou as bases para o 
desenvolvimento do conceito de participação cidadã na tomada 
de decisões públicas.
É fundamental compreender que a democracia ateniense, 
conforme retrata Aristóteles em sua obra “Política”, era concebida 
como “uma constituição em que os homens livres e os cidadãos 
são iguais perante a lei e têm participação, em maior ou menor 
grau, no processo de tomada de decisão” (Aristóteles, 2002). No 
entanto, é crucial observar que essa igualdade era restrita aos 
cidadãos, excluindo mulheres, escravos e metecos.
Imagem 2.2 – Atenas
Fonte: Freepik 
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Sob a liderança de Péricles, no século V a.C., Atenas viveu 
seu auge democrático. Foi nesse período que a participação 
cidadã se consolidou, com a instituição do pagamento de diárias 
aos cidadãos que atuavam nas funções públicas, o que permitia 
que até mesmo os mais pobres pudessem participar ativamente 
da política ateniense.
VOCÊ SABIA?
A “ekklesia”, ou assembleia do povo, era a principal 
instituição democrática de Atenas, em que os 
cidadãos se reuniam regularmente para debater e 
votar leis, decretos e outras questões de interesse 
público. Havia também a “boulé”, um conselho 
de 500 cidadãos, escolhidos por sorteio, que 
preparava os assuntos a serem discutidos na 
ekklesia. Juntos, esses órgãos garantiam que o 
poder em Atenas estivesse nas mãos do povo, pelo 
menos em teoria.
No entanto, vale ressaltar que a democracia ateniense era 
intrinsecamente ligada à ideia de “isonomia”, ou seja, “igualdade 
perante a lei”, mas estava longe de ser um sistema inclusivo, visto 
que grandes parcelas da população eram excluídas do processo 
decisório.
Ao refl etir sobre Atenas e o seu legado democrático, 
é essencial reconhecer tanto suas contribuições quanto suas 
limitações, pois, ao fazê-lo, podemos entender melhor a evolução 
do conceito de democracia e o seu impacto nas sociedades 
subsequentes. Ao falar da Grécia Antiga, Esparta é certamente 
uma das cidades-Estado que desperta grande interesse. Enquanto 
Atenas é celebrada por seu pioneirismo na democracia e suas 
contribuições culturais, Esparta é lembrada pela rigidez e pelo 
foco de sua sociedade militarista.
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Imagem 2.3 – Espartanos 
Fonte: Freepik
Diferentemente da abertura democrática de Atenas, 
Esparta tinha um regime oligárquico. A configuração política 
espartana era única, com dois reis governando simultaneamente, 
pertencentes a duas casas reais diferentes, e um grupo de anciãos 
que compunham o conselho (“gerousia”). Esse sistema era mantido 
e respaldado por uma robusta máquina militar, a qual definia a 
vida na cidade.
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O treinamento militar em Esparta começava cedo. Os 
jovens eram retirados de suas famílias aos sete anos e iniciavam o 
“agoge”, um programa de formação que os preparava para a vida 
militar e cidadã (Finley, 1989). Esse intenso treinamento não visava 
apenas preparar guerreiros fi sicamente aptos, mas também 
mentalmente resistentes. A dedicação à disciplina e ao coletivo 
estava acima de qualquer individualidade.
VOCÊ SABIA?
Os hilotas, uma classe de servos, desempenhavam 
um papel crucial na estrutura espartana. Eram eles 
que sustentavam a economia da cidade, liberando 
os cidadãos espartanos para se dedicarem 
integralmente à arte da guerra. Contudo, essa 
relação era tensa e permeada por medo, o que 
levava Esparta a instituir rituais como a “cripteia” 
para controlar e subjugar os hilotas.
Porém, ao contrário de muitos mitos sobre Esparta, a 
cidade não se resumia apenas à guerra. A educação, por exemplo, 
também era valorizada, especialmente para as mulheres, que 
tinham uma formação robusta – embora diferente dos homens, 
pois eram preparadas para serem mães de guerreiros.
Assim, Esparta, com sua estrutura rígida e seu foco no 
militarismo, oferece um contraste fascinante à abertura e liberdade de 
Atenas. Por trás do estereótipo do guerreiro espartano, encontramos 
uma sociedade complexa e multifacetada, que moldou o mundo antigo 
de formas que ainda ressoam até os dias atuais. Ao mergulharmos 
mais fundo na intrincada tapeçaria das cidades-estados gregas, é 
possível perceber que, apesar de suas individualidades marcantes, 
essas pólis estavam fortemente interconectadas, seja por alianças, 
competições ou mesmo rivalidades.
A proximidade geográfi ca das cidades-estados, junto com 
as similaridades culturais, possibilitou uma série de interações 
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que influenciaram a história grega. Como observam Pomeroy et 
al. (2004), as relações entre as pólis eram moldadas tanto por suas 
necessidades mútuas quanto por competições e rivalidades. Em 
muitos casos, essas interações eram pacíficas e colaborativas, 
como nos Pan-Helênicos, jogos religiosos que reuniam diferentes 
pólis em celebração.
No entanto, apesar da cooperação em certas esferas, 
rivalidades eram uma característica intrínseca da relação entre 
várias cidades-estados. A mais célebre dessas rivalidades, 
sem dúvida, era entre Atenas e Esparta. Essas duas potências 
dominaram a paisagem política da Grécia durante grande parte 
do período clássico. Conforme destaca Finley (1989), a tensão 
entre essas pólis se deu, em grande medida, pelas diferenças 
fundamentais em seus sistemas políticos, econômicos e sociais.
Além de Atenas e Esparta, muitas outras cidades-estados 
mantinham rivalidades com seus vizinhos por motivos territoriais, 
controle de recursos ou hegemonia regional. A ilha de Creta, por 
exemplo, foi palco de constantes conflitos entre suas cidades 
por causa da disputa por território e controle marítimo. Essas 
rivalidades, por vezes, culminaram em grandes conflitos, como as 
Guerras do Peloponeso.
No entanto, é crucial entender que, mesmo em meio a 
essas rivalidades, havia um senso comum de identidade helênica. 
As cidades-estados, apesar de suas diferenças, compartilhavam 
língua, religião e valores culturais. Esse fator foi essencial, 
especialmente quando enfrentaram ameaças externas, como as 
invasões persas.
A complexidade das relações entre as pólis reflete a 
multifacetada natureza da Grécia Antiga. Entre cooperações e 
conflitos, essas cidades-estados traçaram uma história rica e 
influente que ressoa até os dias atuais.
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A era da colonização grega: 
motivações e impactos nas 
regiões mediterrânicas
A era da colonização grega, que se estendeu 
aproximadamente dos séculos VIII a VI a.C., representa um capítulo 
fascinante e decisivo na história da Grécia Antiga. Durante esse 
período, os gregos estabeleceram colônias em diversas regiões do 
Mediterrâneo e Mar Negro, levando consigo sua cultura, língua e 
suas tradições. 
A expansão não foi apenas um movimento de conquista 
ou de busca por novas terras. Ela também foi uma resposta a 
complexas condições socioeconômicas e políticas na própria 
Grécia, marcada por uma crescente população, por escassez de 
terras cultiváveis e confl itos internos.
VOCÊ SABIA?
A colonização, segundo Moses Finley, 
representou uma “solução grega” para problemas 
eminentemente gregos (Finley, 1989). A 
necessidade de aliviar pressões demográfi cas e 
econômicas dentro das pólis originou uma série 
de expedições ultramarinas. Essas novas colônias, 
por sua vez, tornaram-se centros independentes 
de cultura e comércio, infl uenciando e sendo 
infl uenciadas pelas civilizações com as quais 
entraram em contato.
Por meio desse processo, a cultura grega disseminou-
se, interagindo e se mesclando a diversas outras culturas do 
Mediterrâneo. A colonização foi uma das expressões do “milagre 
grego”, um período de intensa criatividade e expansão que legou 
ao mundo contribuições inestimáveis em diversos campos do 
conhecimento. 
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Diversos foram os motivos que impulsionaram a era da 
colonização grega. Entre eles, podem ser mencionados:1. Pressões demográficas: o crescimento populacional 
nas cidades-Estados gregas criou uma demanda por 
terras adicionais para agricultura e habitação. Essa 
pressão demográfica foi um dos principais catalisadores 
para a busca por novos territórios. O crescimento 
populacional na Grécia nesse período foi, sem dúvida, 
um dos fatores que impulsionou a colonização;
2. Escassez de terras cultiváveis: o relevo montanhoso 
da Grécia limitava a quantidade de terras aptas para a 
agricultura. Esse fator, combinado com o crescimento 
populacional, gerou uma demanda insatisfeita por 
terras aráveis. A busca por novas terras, ricas em solo 
fértil, tornou-se uma questão de sobrevivência para 
muitas comunidades;
3. Conflitos internos: disputas internas, muitas vezes por 
poder ou território, também serviram como um impulso 
para a colonização. Para algumas pólis, enviar colonos 
para estabelecer novos assentamentos foi uma forma 
de diminuir tensões internas, de modo a redistribuir a 
população e os potenciais agitadores;
4. Estímulo econômico: a expansão comercial foi um 
forte motivador. Estabelecer colônias significava ter 
acesso direto a rotas comerciais, recursos naturais 
e mercados novos. Os gregos estavam cientes das 
oportunidades econômicas que esses novos territórios 
poderiam oferecer, com destaque para a produção de 
cereais, metais e outros produtos de valor;
5. Identidade e cultura: embora seja um fator menos 
tangível, a disseminação da cultura e identidade gregas 
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também pode ser considerada uma motivação. Para 
muitos gregos, fundar uma nova pólis era uma forma 
de replicar e perpetuar o modelo de vida e governança 
que valorizavam.
Nesse cenário, a colonização não foi apenas uma questão 
de expansão territorial. Foi uma necessidade intrincada e 
multifacetada, resultado de uma série de desafios e oportunidades 
que a Grécia enfrentava naquele momento histórico.
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RESUMINDO
E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu 
mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de 
que você realmente entendeu o tema de estudo 
deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. 
Você deve ter aprendido que a geografi a da Grécia 
Antiga, marcada por seus relevos montanhosos 
e sua estratégica localização entre a Ásia e a 
Europa, desempenhou um papel fundamental na 
moldagem do desenvolvimento civilizacional dos 
gregos. Esse relevo infl uenciou não só as atividades 
econômicas, mas também a organização política e 
social, dando origem às pólis ou cidades-estados.
Falando em cidades-estados, mergulhamos 
profundamente nas características distintas e nos 
legados de Atenas e Esparta, duas das pólis mais 
emblemáticas da Grécia Antiga. Atenas, como o 
berço da democracia, e Esparta, com sua sociedade 
militarista, representam os extremos de uma 
ampla gama de sistemas políticos e sociais que 
fl oresceram na região. Além dessas, muitas outras 
pólis desempenharam papéis cruciais, cada uma 
com sua própria identidade e suas contribuições à 
tapeçaria da história grega.
E, claro, não poderíamos deixar de explorar a era da 
colonização grega. Você deve ter percebido como 
motivações variadas, desde a busca por terras aráveis 
até o desejo de estabelecer rotas comerciais, levaram 
os gregos a se aventurarem além de suas fronteiras 
naturais. Essas jornadas não só estabeleceram a 
presença grega em vastas regiões do Mediterrâneo, 
mas também tiveram impactos profundos nas 
áreas colonizadas, gerando intercâmbios culturais, 
políticos e econômicos que moldariam o mundo 
antigo. Esperamos que você tenha aproveitado essa 
viagem no tempo tanto quanto nós! 
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Democracia ateniense
e a oligarquia espartana
OBJETIVO
Ao término deste capítulo, você será capaz de 
entender como funcionavam as estruturas políticas 
e os sistemas de governo das cidades-estados 
gregas, particularmente a democracia ateniense 
e a oligarquia espartana. Isso será fundamental 
para o exercício de sua profi ssão. As pessoas 
que tentaram interpretar ou mesmo ensinar 
sobre as intricadas nuances das políticas gregas 
sem a devida instrução tiveram problemas ao 
transmitir a complexidade e riqueza desse período 
histórico. E então? Motivado para desenvolver essa 
competência? Vamos lá!
Origens e evolução das 
estruturas políticas gregas
A Grécia Antiga não emergiu do vácuo; foi o produto 
de milênios de evolução cultural, social e política. Antes das 
sofi sticadas cidades-estados, que se tornariam icônicas na história 
mundial, a Grécia era uma tapeçaria de clãs e tribos, muitas vezes 
em confl ito entre si e com infl uências de culturas circundantes.
É essencial compreender o mundo egeu do início da Idade 
do Bronze para situar a emergência das primeiras cidades-estados 
gregas. O Império Minoico de Creta, por exemplo, exerceu uma 
profunda infl uência sobre a Grécia Continental muito antes de 
Atenas ou Esparta sequer existirem. Como destaca Finley (1989), 
a presença minoica no continente grego não foi meramente um 
fenômeno de borda; ela chegou tão ao norte quanto a Tessália. 
Esse domínio e essa interação precoces formaram a base da 
organização política grega.
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Simultaneamente, os micênicos, na Grécia Continental, 
começaram a desenvolver seus próprios centros de poder por volta 
de 1600 a.C., muitas vezes construídos sobre colinas e fortifi cados, 
os quais desempenhariam um papel central no desenvolvimento 
subsequente das pólis. Esses centros eram governados por reis, e 
a sociedade era estruturada em torno de uma elite palaciana.
Além disso, a posição geográfi ca da Grécia, situada entre o 
Oriente e o Ocidente, fez dela um caldeirão de culturas. Os gregos 
foram infl uenciados pelas civilizações do Oriente Próximo, como os 
hititas e os fenícios. Essa mistura de infl uências, juntamente com 
as inovações locais, pavimentou o caminho para o fl orescimento 
das cidades-estados.
O cenário político e social que antecedeu a formação das 
primeiras estruturas políticas na Grécia foi moldado por diversas 
infl uências, tanto internas quanto externas. A compreensão desse 
contexto é crucial para entendermos a emergência e a evolução 
das cidades-estados gregas e as suas distintas estruturas políticas.
A monarquia, uma das formas mais antigas de organização 
política na Grécia Antiga, detém uma posição especial no 
entendimento da evolução das estruturas políticas gregas. Muitas 
das cidades-estados gregas, que mais tarde seriam conhecidas 
por suas experimentações democráticas ou oligárquicas, tiveram 
suas origens no sistema monárquico. 
REFLITA
Mas o que exatamente era ser um monarca na 
Grécia? E como esse sistema operava nas várias 
pólis?
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Os reis na Grécia Antiga, especialmente nas fases iniciais, 
eram vistos não apenas como líderes políticos, mas também 
desempenhavam funções religiosas. O rei micênico tinha tanto um 
papel sacerdotal quanto um papel de chefe de guerra. Esse duplo 
papel fortalecia sua posição, pois seu comando era tanto divino 
quanto terreno. Os reis tinham o dever de realizar certos rituais 
e sacrifícios em nome de sua cidade e, por meio dessa prática 
religiosa, garantiam a proteção e o favor dos deuses para sua pólis.
A transição da monarquia para outras formas de governo, 
especialmente em regiões como Atenas, não foi abrupta. Em 
muitos casos, os reis (ou “basileis”, como eram chamados) 
foram lentamente substituídos por arcontes, líderes eleitos que 
governavam por um tempo determinado (Hansen, 2002, p.35). 
A estrutura da monarquia começou a ser desafiada quando 
a necessidade de governança ampliada surgiu, devido ao 
crescimento populacional e às complexidades emergentes nas 
relações sociais.
EXEMPLO: em Esparta, por exemplo, a monarquia se 
manteve de uma forma dual, de modo que dois reis, 
cada um de uma linha dinástica diferente, governavam 
simultaneamente. Essa particularidade espartanaé 
destacada por Pomeroy et al. (2004), ao afirmarem que 
os dois reis espartanos possuíam funções militares 
e religiosas, mas que seu poder político era bastante 
limitado pelo conselho de anciãos e pela assembleia.
Essa metamorfose da monarquia nas cidades-estados 
gregas representa uma resposta às mudanças sociais, econômicas 
e políticas ocorridas ao longo do tempo. Enquanto a monarquia 
serviu como uma forma eficaz de governança nas fases iniciais, a 
complexidade emergente das pólis gregas demandou formas de 
governança mais participativas e representativas.
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O declínio da monarquia como sistema predominante 
de governo nas cidades-estados gregas abriu caminho para 
o surgimento da aristocracia. Mas o que foi exatamente essa 
aristocracia? E por que ela se consolidou como uma das principais 
formas de governo em diversas pólis?
VOCÊ SABIA?
A palavra “aristocracia” tem suas raízes no grego 
“aristos” (melhor) e “kratos” (poder), signifi cando 
literalmente “o poder dos melhores”. Esse nome, 
no entanto, é um tanto quanto irônico, pois os 
“melhores” aqui referidos eram, em muitos casos, 
simplesmente os mais ricos ou os que pertenciam 
a famílias tradicionais. Eles constituíam a elite 
social e política das cidades-estados.
O poder desses nobres estava ligado, em grande parte, à 
posse de terras e ao domínio econômico. Muitas vezes, as decisões 
políticas tomadas por esses aristocratas benefi ciavam seus 
próprios interesses, em detrimento do bem-estar da população 
mais pobre. No entanto, era inegável que esses indivíduos 
desempenhavam funções administrativas, judiciais e militares, 
garantindo a organização e defesa da cidade.
Em cidades como Atenas, o poder da aristocracia se 
manifestou no Areópago, um conselho composto por ex-arcontes, 
que desempenhavam um papel vital nas decisões jurídicas e 
políticas. Porém, com o passar do tempo e com as crescentes 
tensões sociais, esse sistema oligárquico passou a ser contestado, 
o que abriu caminho para outras formas de governo, como a 
tirania e, posteriormente, a democracia.
Entretanto, é importante reconhecer que a aristocracia 
não foi meramente um período de opressão. Em várias cidades-
estados, foi sob o governo aristocrático que surgiram importantes 
desenvolvimentos culturais e fi losófi cos. Poetas, fi lósofos e artistas 
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frequentemente encontravam patronos entre a elite aristocrática, 
que financiava suas obras e seus projetos. Dessa forma, embora 
a aristocracia tenha sido marcada por desigualdades e conflitos 
internos, ela desempenhou um papel crucial na evolução política 
e cultural da Grécia Antiga.
Embora as formas de governo mais comumente associadas 
à Grécia Antiga sejam a democracia e a oligarquia, um outro regime 
político que emergiu nesse período foi a tirania. Contrariamente 
às conotações negativas que a palavra “tirano” carrega nos dias 
de hoje, na Grécia Antiga, os tiranos não eram necessariamente 
líderes despóticos ou opressivos, embora alguns certamente 
tivessem sido.
Os tiranos surgiram no cenário político grego no final do 
século VII e início do século VI a.C., em meio a conflitos internos 
e instabilidade. Como observa Finley (1989), os tiranos surgiram 
como líderes populares, ajudando a classe mais baixa a lutar 
contra a aristocracia e a redistribuir as terras.
Muitas vezes, os tiranos eram indivíduos carismáticos que, 
aproveitando-se das disputas internas entre as classes sociais das 
cidades-estados, consolidavam seu poder por meio de estratégias 
hábeis e promessas de reformas. Pisístrato, em Atenas, é um 
exemplo clássico. Embora tenha tomado o poder de forma 
ilegítima, ele trouxe estabilidade e prosperidade para a cidade, 
implementando reformas que beneficiaram a classe camponesa.
Todavia, a tirania, enquanto forma de governo, tinha suas 
próprias limitações. Em muitos casos, o poder dos tiranos estava 
ligado à sua figura pessoal. Sem mecanismos institucionais bem 
estabelecidos para a transição de poder, a morte de um tirano 
frequentemente levava a lutas pelo poder ou mesmo ao retorno 
da aristocracia.
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Além disso, a natureza não institucionalizada do poder 
tirânico significava que os tiranos eram, muitas vezes, vistos como 
usurpadores, especialmente pelas elites. Em resposta a essa 
percepção, muitos tiranos se voltaram para o patrocínio das artes 
e a realização de grandes obras públicas para legitimar seu poder 
e deixar um legado duradouro.
Enquanto a tirania pode ser considerada um “desvio 
do padrão” quando olhamos para a evolução política da Grécia 
Antiga, ela desempenhou um papel crucial durante um período 
de intensa transformação social e política. E, ao fazer isso, ajudou 
a pavimentar o caminho para o surgimento da democracia, 
especialmente em lugares como Atenas.
Atenas: berço 
da democracia direta
A história de Atenas, um dos mais emblemáticos centros 
urbanos da Grécia Antiga, não se resume somente ao esplendor de 
sua era democrática. Sua trajetória política e social é um reflexo de 
lutas internas, interações com outros povos e, claro, da incessante 
busca pelo entendimento do papel do cidadão dentro da pólis.
No período arcaico, que abrange os séculos VIII a VI 
a.C., Atenas viveu transformações profundas. Inicialmente, 
os atenienses eram governados por reis, tal como ocorria em 
diversas outras cidades gregas. Porém, a monarquia em Atenas 
foi sucedida pela oligarquia, um sistema em que um grupo 
restrito de nobres detinha o poder. A estrutura social oligárquica 
da época estava fundamentada no controle das melhores terras 
e, consequentemente, na produção agrícola, principal atividade 
econômica da Grécia Antiga.
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No entanto, essa concentração de poder começou 
a enfrentar resistências. As transformações econômicas 
impulsionadas pelo crescimento do comércio e a ascensão de 
uma classe de artesãos e comerciantes que buscavam maior 
participação política foram chaves para essas mudanças. Segundo 
Pomeroy et al. (2004), a rigidez da oligarquia não era adequada 
para responder às demandas de uma sociedade em constante 
evolução. Foi nesse ambiente de agitação social e política que as 
bases para o surgimento da democracia ateniense foram lançadas.
Essa transição de Atenas para um modelo mais inclusivo 
e participativo não foi linear e encontrou muitos obstáculos. 
Entretanto, entender esse contexto é fundamental para apreciar 
o surgimento da democracia, que, em suas particularidades, 
seria uma resposta aos desafios que a cidade enfrentou em sua 
evolução.
Ao pensar em democracia, uma das primeiras imagens 
que surge à mente é a de Atenas, onde essa forma de governo 
floresceu de maneira única. Mas o que, exatamente, entendemos 
por “democracia direta”, especialmente quando aplicada ao 
contexto ateniense?
A democracia direta pode ser definida como um sistema 
em que os cidadãos participam ativamente nas decisões 
políticas, em vez de delegar esse poder a representantes eleitos. 
Conforme Finley (1989), a democracia ateniense se caracterizava 
por uma participação direta e não representativa, em que cada 
cidadão tinha voz ativa nas principais decisões da pólis. Isso é 
fundamentalmente diferente de muitas democracias modernas, 
nas quais os cidadãos escolhem representantes para tomarem 
decisões em seu nome.
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Imagem 2.4 – Ruínas de Atenas 
Fonte: Wikimedia Commons
Em Atenas, diversas instituições democráticas foram 
estabelecidas para assegurar essa participação ativa dos cidadãos. 
A mais notável era a Eclésia, a assembleia popular, que era aberta a 
todos os cidadãos do sexo masculino com mais de 18 anos. Na Eclésia, 
os cidadãos poderiam propor leis, debater questões públicas e tomar 
decisões importantes. A Eclésia era o núcleo do poder democrático 
ateniense, assegurando que as principais decisões fossem tomadas 
pelo conjunto dos cidadãos, e não apenaspor uma elite.
Outra instituição fundamental era o Conselho dos 
Quinhentos, composto por cidadãos escolhidos por sorteio, 
que preparavam as agendas para as reuniões da Eclésia e 
supervisionavam a administração da cidade. A ideia de escolher 
líderes por sorteio pode parecer estranha para nós hoje, mas, 
como em Atenas, acreditava-se que o sorteio garantia igualdade 
entre os cidadãos, reduzindo a possibilidade de corrupção e 
favorecimento.
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Essas instituições, em conjunto com práticas como o 
ostracismo, por meio das quais os cidadãos poderiam votar 
para exilar indivíduos considerados uma ameaça à democracia, 
garantiam que o poder estivesse nas mãos do povo. No entanto, 
é crucial lembrar que a democracia ateniense tinha seus limites. 
Mulheres, escravos e metecos (estrangeiros residentes) eram 
excluídos desse processo.
No cerne da democracia ateniense, estava o ideal de 
isonomia – ou igualdade diante da lei. Mesmo com suas limitações, 
Atenas nos deixou um legado duradouro: um modelo de 
participação e engajamento cívicos que ainda ressoa nos debates 
políticos contemporâneos.
O brilho da democracia ateniense muitas vezes ofusca 
as imperfeições e limitações presentes em sua estrutura. Afinal, 
para nós, contemporâneos, quando falamos de democracia, 
esperamos uma inclusão abrangente e igualitária. No entanto, é 
fundamental contextualizar e entender que a Atenas do século 
V a.C. tinha uma visão bastante diferente do que consideramos 
como ideal democrático hoje.
Para começar, é importante sublinhar quem era 
considerado um cidadão em Atenas. Tal título não era universal. Na 
verdade, como aponta Péricles, em seu famoso discurso funerário 
citado por Kury e Tucídides (1982), a cidadania era limitada aos 
nascidos de pais atenienses. Isso excluía uma considerável 
parcela da população: os metecos. Estes, mesmo contribuindo 
significativamente para a economia e a cultura atenienses, eram 
excluídos da esfera política.
E o que dizer da questão da escravidão? A democracia 
ateniense dependia, em grande parte, do trabalho escravo. 
Segundo Finley (1989), a escravidão era uma pedra angular da 
economia e sociedade atenienses, ao permitir que os cidadãos se 
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dedicassem à política e a outras atividades cívicas. Mesmo quando 
a pólis tomava decisões que afetavam diretamente os escravos, 
estes não tinham voz ou voto nas decisões.
No que concerne ao papel das mulheres na democracia 
ateniense, seu silenciamento era ainda mais evidente. As mulheres 
não só eram excluídas da participação política, como também 
tinham seus direitos civis restritos. As mulheres em Atenas viviam 
principalmente em espaços privados, excluídas das instituições e 
práticas que defi niam a democracia ateniense.
IMPORTANTE
Além disso, a democracia ateniense tinha limitações 
de ordem prática. Os cidadãos precisavam estar 
presentes fi sicamente para votar, o que excluía 
aqueles que estivessem fora da cidade por qualquer 
motivo. E havia sempre o perigo da tirania da maioria, 
ocasião em que a opinião majoritária poderia, em 
teoria, impor decisões prejudiciais a minorias.
Essas limitações não diminuem a importância histórica da 
democracia ateniense, mas nos lembram que nenhum sistema é 
perfeito. A Atenas Clássica proporcionou um experimento pioneiro 
de autogoverno que ainda infl uencia as noções contemporâneas 
de democracia. No entanto, é crucial que estudemos essa 
experiência com uma visão crítica, entendendo suas imperfeições 
e os contextos nos quais ela existia.
Esparta: oligarquia militarizada e 
o sistema dos éforos
Esparta foi fundada por volta do século X a.C., a partir 
da fusão de quatro aldeias dóricas. Essa fusão, ao longo do 
tempo, deu origem a uma cidade-Estado que, ao contrário do 
modelo de pólis típico grego, centrado em atividades urbanas, 
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tinha sua essência nas aldeias rurais e nas atividades agrárias. A 
conformação do território espartano, com suas planícies férteis, 
tornou possível o desenvolvimento de uma sociedade agrária e 
fortemente hierarquizada.
Com o passar dos séculos, as conquistas territoriais de 
Esparta, especialmente sobre os messênios, moldaram não 
apenas as fronteiras geográficas, mas também a estrutura social 
espartana. A subjugação dos messênios e sua transformação em 
hilotas, servos pertencentes ao Estado espartano, fundamentou 
as bases da economia e do sistema social espartano (Finley, 1989).
Dentro desse panorama inicial, é essencial compreendermos 
a construção da identidade espartana alicerçada em seu contexto 
histórico. Ao longo dos próximos tópicos, mergulharemos mais 
profundamente na estrutura social, política e militar dessa 
enigmática pólis.
Ao mergulhar na sociedade espartana, é possível perceber 
a construção de uma complexa teia de hierarquias e relações de 
poder. Essa sociedade, em suas particularidades, moldou uma das 
mais emblemáticas cidades-Estado da Grécia Antiga.
Comecemos pelos “esparciatas” ou “homoioi” (iguais), uma 
elite militar composta pelos cidadãos espartanos legítimos, que 
detinham os privilégios políticos e tinham como principal obrigação 
servir ao exército. A educação dos esparciatas, o agoge, não era 
apenas física, mas também moral e cívica, de modo a prepará-los 
para tornarem-se cidadãos exemplares. Essa formação coletiva 
e rigorosa, que começava na infância, tinha como finalidade 
a incorporação dos valores espartanos, focados na disciplina, 
coragem e lealdade ao Estado.
No degrau imediatamente abaixo dos esparciatas, 
encontramos os “periecos”. Estes eram os habitantes livres dos 
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territórios subjugados por Esparta e que, apesar de não possuírem 
direitos políticos plenos, tinham certa autonomia econômica, 
concentrando-se, principalmente, no comércio e artesanato. 
Devido a essa estrutura, os periecos frequentemente atuavam 
como ponte entre Esparta e as demais pólis, dada a sua atividade 
comercial.
Porém, uma das características mais notáveis da sociedade 
espartana era a presença dos hilotas. Subjugados, esses servos 
estatais, conforme relatado por Plutarco, eram a base da 
economia agrária espartana, cultivando as terras que pertenciam 
aos esparciatas. Diferentemente de outros escravos na Grécia 
Antiga, os hilotas não eram propriedade privada, mas sim do 
estado espartano. Eles representavam, ao mesmo tempo, uma 
força de trabalho essencial e uma constante ameaça, dada a sua 
superioridade numérica e o ressentimento contínuo em relação à 
sua condição.
A dinâmica entre esses grupos refletia a tensão intrínseca 
da cidade-Estado espartana. A coesão social era mantida não 
apenas pela supremacia militar dos esparciatas, mas também 
por rituais e práticas que reforçavam a hierarquia e a identidade 
coletiva espartana. Em meio a essa complexa teia social, o Estado 
de Esparta consolidava sua presença dominante no Peloponeso e 
na história da Grécia Antiga.
Além disso, no intrincado cenário político espartano, os 
“éforos” emergem como uma instituição fascinante e, por vezes, 
enigmática. A importância desse sistema dentro da configuração 
oligárquica de Esparta é incontestável e merece uma análise mais 
aprofundada. A palavra “éforo” deriva do grego “ephoros”, podendo 
ser traduzida como “supervisor” ou “guardião”. A denominação 
por si só já nos dá uma pista do papel vital que esses indivíduos 
desempenhavam no estado espartano.
36 HISTÓRIA ANTIGA 
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IMPORTANTE
Eram eleitos cinco éforos anualmente, e sua eleição 
não se restringia a uma classe ou elite, permitindo, 
assim, uma representatividade mais ampla dentro 
do sistema espartano. Eles não apenas atuavam 
como um contraponto ao poder dos reis, mas 
também detinham funções executivas, judiciais e 
até mesmo religiosas.
Um aspecto interessante do cargo de éforo é a limitação 
temporal. Ao limitar seu mandato a um ano, evitava-se a 
concentração de poder e garantia-seuma constante renovação 
nos quadros da governança. Essa brevidade também tinha como 
intuito minimizar as chances de corrupção ou abuso de poder. 
Além disso, os éforos tinham o poder de convocar e dissolver a 
Ápela (assembleia dos cidadãos espartanos) e, mais crucialmente, 
até mesmo intervir e controlar os reis de Esparta. 
Essa era uma peculiaridade notável, pois em poucos 
lugares da Grécia um monarca poderia ser submetido a tal grau de 
escrutínio e controle por uma entidade civil. Entretanto, apesar dos 
poderes consideráveis que detinham, os éforos eram responsáveis 
perante a lei, assim como qualquer outro cidadão. Eles podiam ser 
julgados e até mesmo exilados por suas ações, o que demonstrava 
que, no coração da política espartana, havia um entendimento 
profundo da necessidade de equilíbrio e responsabilidade.
Concluindo, o sistema dos éforos era uma engenhosa 
solução política encontrada pelos espartanos para manter o 
equilíbrio de poderes em sua cidade-Estado. Representava uma 
forma única de democracia oligárquica que, ao garantir uma 
certa descentralização do poder, proporcionava estabilidade e 
prosperidade ao Estado lacedemônio.
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RESUMINDO
E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu 
mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de 
que você realmente entendeu o tema de estudo 
deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você 
deve ter aprendido que a Grécia Antiga não era uma 
entidade monolítica, mas sim um conjunto de cidades-
Estados, cada uma com suas peculiaridades e formas 
de governança. Em “Origens e evolução das estruturas 
políticas gregas”, detalhou-se como as diferentes formas 
de governo surgiram e se adaptaram ao longo do 
tempo. Demos destaque a Atenas, onde vimos o quão 
inovadora e única foi sua abordagem à governança. 
Atenas é conhecida como o berço da democracia direta, 
onde os cidadãos tinham um papel ativo nas decisões 
políticas. Embora tivesse suas limitações, essa forma 
de democracia se tornou uma inspiração para muitos 
sistemas políticos ao redor do mundo ao longo da 
história. Estudamos Esparta, uma cidade marcada por 
sua oligarquia militarizada. Lá, o foco estava em manter 
uma máquina de guerra efi ciente e uma sociedade 
estratifi cada, na qual os cidadãos espartanos no topo 
se benefi ciavam do trabalho dos grupos subalternos. 
Mas nem tudo era simples militarismo em Esparta. O 
sistema dos éforos nos mostrou que Esparta tinha suas 
próprias nuances políticas, com checks and balances, de 
forma a assegurar que o poder não se concentrasse 
excessivamente. Por meio dessas lentes, percebemos 
que, embora Atenas e Esparta sejam frequentemente 
destacadas como polaridades na Grécia Antiga, 
ambas refl etem o espírito inovador e adaptável da 
política grega. Cada cidade-Estado oferece uma janela 
única para a rica tapeçaria de ideias e sistemas que 
caracterizaram essa época fundamental na história 
humana. Esperamos que, com este capítulo, você tenha 
ganhado uma compreensão mais profunda e apreciativa 
desses sistemas, que continuam a infl uenciar o mundo 
até hoje.
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Contribuições culturais
da Grécia Antiga
OBJETIVO
Ao término deste capítulo, você será capaz de 
entender como funciona a rica tapeçaria cultural 
da Grécia Antiga, que fundamentou as bases do 
pensamento e da estética ocidentais. Isso será 
fundamental para o exercício de sua profi ssão, 
especialmente se você busca inspirações nas raízes 
da fi losofi a, da arte e do teatro. As pessoas que 
tentaram interpretar ou reproduzir as contribuições 
gregas sem a devida instrução tiveram problemas 
ao contextualizar ou representar adequadamente 
essas ricas tradições. E então? Motivado para 
desenvolver essa competência? Vamos lá. Avante!
Filosofi a grega: berço
do pensamento ocidental
A busca pelo entendimento do mundo, pelo “porquê” 
das coisas, é uma constante na história humana. Mas foi na 
Grécia Antiga, com suas cidades-Estado, seus debates públicos 
e sua incessante curiosidade, que essa busca tomou uma forma 
organizada e sistemática, dando origem à fi losofi a tal como a 
conhecemos. Compreender a fi losofi a grega é mergulhar nas 
raízes do pensamento ocidental, reconhecendo o legado de seus 
intelectuais e suas refl exões que, até hoje, formam a base de 
muitos debates acadêmicos e sociais.
A transição do pensamento mítico, a partir do qual os 
fenômenos eram explicados por meio das ações de deuses 
e entidades sobrenaturais, para o pensamento racional, 
caracterizado por uma abordagem lógica e crítica, foi um marco 
no desenvolvimento intelectual da humanidade. Afi rma-se que a 
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fi losofi a nasce quando se reconhece que as narrativas míticas que 
explicam a origem do mundo não são mais sufi cientes. A partir de 
então, é a razão que deve fornecer as respostas.
Nesse contexto, surgiram os primeiros fi lósofos, 
conhecidos como pré-socráticos, que se aventuraram a explicar o 
mundo ao seu redor não por meio de mitos, mas sim pela razão. 
Esse novo modo de pensar, que questionava e ponderava sobre 
a realidade, estabeleceu as bases para o desenvolvimento da 
fi losofi a, uma tradição que permanece viva até os dias atuais.
As cidades-estados gregas, em especial Atenas, 
proporcionaram um ambiente propício para o fl orescimento desse 
novo modo de pensar. A ágora, espaço de debate e discussão 
pública, se tornou palco para refl exões fi losófi cas, onde as ideias 
eram confrontadas e refi nadas.
O período pré-socrático, que se estende aproximadamente 
do século VII a.C. ao fi nal do século V a.C., marca uma revolução 
intelectual na Grécia. Os fi lósofos desse período são assim 
chamados por terem vivido antes de Sócrates, fi gura central no 
desenvolvimento da fi losofi a ocidental. Entretanto, a denominação 
“pré-socrático” não deve sugerir uma mera antecipação a Sócrates, 
pois as preocupações e questões levantadas por esses pensadores 
são distintas e fundamentais por si.
IMPORTANTE
Os pré-socráticos se concentraram, em grande 
parte, em tentativas de compreender a origem e 
a natureza fundamental do universo. Ao contrário 
da explicação mítica tradicional, que apelava para 
a vontade e ação de divindades, eles buscaram 
uma explicação baseada na razão, observação 
e especulação. Eles se perguntavam: “o que é a 
substância primordial do universo?”; “como os 
múltiplos fenômenos que observamos surgem a 
partir dessa substância única?”.
40 HISTÓRIA ANTIGA 
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Talvez o mais icônico dos pré-socráticos, Tales de Mileto, 
afirmava que a água era o princípio fundamental de tudo. Seu 
argumento era baseado na observação de que a água é essencial para 
a vida e pode assumir diversas formas: líquida, sólida e gasosa (Reale; 
Antiseri, 2010). Anaxímenes, outro filósofo mileto, propôs que o ar 
era esse princípio, visto que é vital para a vida e pode se transformar 
em outras substâncias quando condensado ou rarefeito.
A pluralidade de respostas e a diversidade de métodos são 
características marcantes desse período. Pitágoras, por exemplo, 
introduziu a noção de que os números eram a realidade fundamental, 
enquanto Heráclito defendia que tudo estava em constante mudança, 
o que se resumia em sua famosa frase “não se pode entrar duas 
vezes no mesmo rio” (Kirk; Raven; Schofield, 1982).
Imagem 2.6 – Tales de Mileto 
Fonte: Wikimedia Commons
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A contribuição dos pré-socráticos para a filosofia e para 
a ciência é inestimável. Eles estabeleceram as bases para uma 
abordagem racional e sistemática da realidade, opondo-se ao 
pensamento mítico-religioso predominante e, assim, pavimentando 
o caminho para os grandes filósofos que os seguiriam.
Ao nos aprofundarmos na história da filosofia grega, 
é impossível ignorar a figura de Sócrates, um dos pilares que 
sustentam o edifício do pensamento ocidental. Enquanto os 
pré-socráticos voltavam-se primordialmente para as questões 
cosmogônicas e ontológicas,Sócrates fez uma reviravolta, 
deslocando o foco da reflexão para o ser humano e as suas ações.
Conforme nos relata Xenofonte, em suas “Memoráveis” 
(Xenofonte, 1993), Sócrates não escreveu suas ideias, mas 
sua metodologia dialética, o conhecido método socrático, era 
fundamental para sua abordagem filosófica. Tal método baseava-
se em fazer perguntas contínuas até que uma contradição fosse 
revelada, mostrando-se, assim, a falha no argumento inicial. Era 
uma maneira de incitar o interlocutor a refletir profundamente 
sobre suas convicções.
A célebre frase “só sei que nada sei”, frequentemente 
atribuída a Sócrates (Platão, 2005), resume bem sua humildade 
intelectual e seu compromisso com a verdade. O filósofo 
reconhecia a limitação do conhecimento humano e acreditava que 
a verdadeira sabedoria estava em reconhecer tal limitação.
Contudo, além do método socrático e de sua postura 
humilde, um dos legados mais significativos de Sócrates foi sua 
ênfase na ética. Ele acreditava que a virtude estava intrinsecamente 
ligada ao conhecimento e que, ao conhecer o bem, o indivíduo 
naturalmente agiria de acordo (Platão, 1999). Para Sócrates, 
a imoralidade surgia da ignorância e era, portanto, uma falha 
epistemológica.
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Nesse sentido, Sócrates era também um defensor do 
autoconhecimento. O lema “conhece-te a ti mesmo”, inscrito no 
Templo de Delfos, é central para sua fi losofi a. Ele entendia que, 
ao reconhecer e compreender nossas próprias ignorâncias e 
limitações, poderíamos nos aproximar da virtude e da verdadeira 
sabedoria.
VOCÊ SABIA?
Sócrates pagou caro por sua revolução ética. 
Acusado de corromper a juventude ateniense 
e introduzir novos deuses, ele foi condenado 
à morte. Contudo, sua infl uência perdurou, 
especialmente por meio de seus discípulos, como 
Platão e Xenofonte, que perpetuaram seu legado 
em suas obras.
A busca de Sócrates pela verdade e virtude abriu caminho 
para seu aluno mais famoso, Platão, fundar a fi losofi a tal como 
a conhecemos hoje. As concepções de Platão se revelam não 
apenas como uma continuação dos diálogos socráticos, mas como 
uma ampliação da visão de mundo por meio de sua própria lente 
conceitual.
A Teoria das Ideias, também conhecida como Teoria das 
Formas, é talvez a contribuição mais infl uente e original de Platão 
à fi losofi a. Segundo essa teoria, existem duas realidades distintas: 
o mundo das aparências, onde vivemos e que percebemos por 
meio dos nossos sentidos, e o mundo das ideias, uma esfera 
transcendente que abriga as formas eternas e imutáveis, das 
quais as coisas do nosso mundo são apenas cópias imperfeitas. 
Assim, para Platão, uma cadeira no mundo físico é apenas uma 
aproximação da ideia ou forma eterna de “cadeira” existente no 
mundo das ideias.
Dentro desse contexto, Platão acredita que os fi lósofos são 
os mais bem equipados para governar a cidade, visto que somente 
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eles podem ter acesso ao mundo das ideias e, assim, conhecer 
a verdadeira natureza da justiça, da virtude e do bem (Rezende, 
2005). Em sua obra “A República”, Platão elabora uma proposta 
de uma cidade ideal, governada por filósofos-reis. Ele defende 
que, em uma sociedade justa, cada indivíduo deve desempenhar 
o papel para o qual é melhor adaptado, seja como produtor, 
guardião ou governante.
Imagem 2.7 – Platão 
Fonte: Wikimedia Commons
Contudo, é fundamental salientar que a política de Platão 
não se resume a uma cidade idealizada. Em obras como “As Leis”, 
ele reconhece a necessidade de um governo mais pragmático, 
considerando as falhas humanas e a realidade das cidades-Estado 
gregas (Chauí, 2018).
Sua influência se estende por toda a história da filosofia 
ocidental, servindo de base para inúmeros filósofos posteriores. 
Sendo talvez o seu mais notório aluno, Aristóteles, que, embora 
tenha discordado de várias das posições de seu mestre, levou 
adiante a tradição filosófica de investigação rigorosa e sistemática.
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Aristóteles, discípulo de Platão e tutor de Alexandre, o 
Grande, fi rmou-se como uma das maiores mentes do pensamento 
ocidental. Sua abordagem à realidade e à lógica, bem distinta 
daquela de seu mestre, refl ete o compromisso do fi lósofo em 
reconciliar os conceitos fi losófi cos com as observações práticas e 
empíricas do mundo (Reale, 2010).
IMPORTANTE
Diferente de Platão, Aristóteles estava mais focado 
no “aqui e agora”, nos fenômenos observáveis. Em 
vez de uma teoria das formas transcendentais, 
Aristóteles propôs uma fi losofi a baseada no que 
ele chamou de “substâncias” – entidades individuais 
que existem no mundo e que podem ser conhecidas 
por meio da experiência direta. Para Aristóteles, a 
realidade não está em um mundo transcendente, 
mas nas coisas individuais que encontramos e 
conhecemos em nossa experiência diária.
Além de sua visão realista, Aristóteles foi pioneiro no 
desenvolvimento da Lógica como uma disciplina fi losófi ca. Ele via a 
lógica não apenas como uma ferramenta para argumentação, mas 
como o próprio processo de pensar de forma clara e ordenada. Em 
sua obra “Organon”, ele estabeleceu as bases para o que viria a ser 
conhecido como “silogismo”, um método formal de argumentação 
que permite aos indivíduos chegar a conclusões válidas a partir de 
premissas dadas.
Desse modo, Aristóteles não apenas se destacou pela 
profundidade e amplitude de seus escritos em praticamente 
todos os campos do saber de sua época, mas também pelo modo 
sistemático e lógico com que abordou cada um deles. Enquanto 
Platão enfatizava um mundo das ideias, Aristóteles preocupava-se 
em compreender e categorizar o mundo que podia ser tocado e 
observado.
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E, assim, o pensamento aristotélico, enraizado no 
realismo e em uma abordagem lógica rigorosa, tornou-se uma 
pedra angular para o desenvolvimento do pensamento científico 
e filosófico posterior, influenciando fortemente tanto a filosofia 
medieval quanto a renascentista.
A era helenística, que se estende desde a morte de 
Alexandre, o Grande em 323 a.C. até a conquista romana do Egito 
em 30 a.C., apresenta uma transformação significativa na filosofia 
grega. Se antes os filósofos buscavam entender a essência do ser 
e a natureza da realidade, no período helenístico, eles pareciam 
mais concentrados em questões sobre a vida prática e a busca 
pela felicidade (Reale, 2010).
 • Estoicismo: encontrando a paz em meio ao caos – 
fundada por Zenão de Cítio, no início do século III a.C., 
a escola estoica enfatizava a importância da aceitação. 
Segundo os estoicos, a chave para a vida boa é aceitar 
o curso natural das coisas e reconhecer que muitos 
aspectos da vida estão fora de nosso controle;
 • Epicurismo: o prazer como caminho – fundado por 
Epicuro em 307 a.C., o epicurismo defende a busca pelo 
prazer, mas não de uma forma hedonista simples. Para 
Epicuro, o maior prazer é a ausência de dor e sofrimento, 
e a chave para alcançá-lo é o autoconhecimento e o 
controle dos próprios desejos;
 • Ceticismo: questionando as certezas – a escola cética, 
iniciada por Pirro de Élida, destacou-se por sua postura 
de questionamento radical. Os céticos argumentavam 
que a verdade absoluta é inalcançável, defendendo 
uma suspensão do julgamento sobre todas as coisas;
 • Neoplatonismo: o retorno às formas – Plotino, um 
dos maiores filósofos neoplatônicos, reinterpreta a 
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filosofia de Platão em um contexto religioso e místico. 
Ele propõe uma hierarquia do ser, com um único 
princípio divino no topo, do qual tudo emana.
Essas escolas helenísticas refletem um momento em 
que a Grécia estava sob a influência de diversas culturas, graças 
às conquistas de Alexandre. Assim, a filosofia helenística pode 
ser vista não apenas como uma extensão da filosofia clássica 
grega, mas como uma tentativa de adaptá-la a um novo mundo 
multicultural e em constante mudança.
Arte na GréciaAntiga: expressão 
da beleza e da perfeição
A arte, em todas as suas manifestações, tem o poder de 
capturar a essência de uma civilização, e na Grécia Antiga não é 
exceção. As expressões artísticas desse período são, na verdade, 
uma janela para a mente, os valores e as aspirações do povo grego. 
Ao observar a arte grega, encontramos não apenas uma busca 
estética pela beleza, mas também um profundo entendimento da 
condição humana. “A arte grega não reproduz o visível; ela torna 
visível”, escreveu uma vez o poeta alemão Rainer Maria Rilke. Essa 
perspicaz observação nos faz perceber que, mais do que retratar 
a realidade, a arte grega buscava expressar ideais (Rilke, 2006).
A Grécia Antiga, como já vimos em outros capítulos deste 
material, foi um berço para muitos dos conceitos e das práticas 
que moldam a civilização ocidental até hoje; e a arte foi um dos 
meios mais poderosos pelo qual essas ideias foram disseminadas. 
No plano da arte, os gregos buscavam a harmonia, o equilíbrio 
e a proporção, tornando visível o ideal de beleza que possuíam. 
Essa busca pela perfeição estética estava intrinsecamente ligada à 
visão de mundo dos gregos, em que a beleza e a bondade muitas 
vezes caminhavam juntas.
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O impacto duradouro da arte grega na cultura ocidental 
é evidente. Seja na escultura, na arquitetura, na cerâmica ou 
na pintura, a estética grega se infiltrou em muitos aspectos da 
expressão artística ao longo dos séculos. Esse legado é uma clara 
indicação do quão avançados e refinados eram os ideais artísticos 
da Grécia Antiga.
Ao adentrarmos o universo da arte grega, é impossível não 
nos depararmos com a riqueza de estilos e técnicas que foram 
desenvolvidos e aperfeiçoados ao longo dos séculos. Essa evolução 
estilística não ocorreu de forma isolada, mas sim em consonância 
com as transformações socioeconômicas, políticas e culturais que 
a Grécia Antiga vivenciou.
O início da arte grega, como em muitas civilizações antigas, 
foi marcado por uma forte influência das culturas do Oriente 
Próximo e do Egito. No entanto, os artistas gregos rapidamente 
começaram a desenvolver uma identidade própria. No período 
geométrico (cerca de 900 a 700 a.C.), por exemplo, vemos uma 
predominância de padrões geométricos em vasos e cerâmicas, 
bem como figuras estilizadas e simplificadas.
A seguir, o período arcaico (cerca de 700 a 480 a.C.) trouxe 
consigo uma revolução estilística. Inspirados nas estátuas egípcias, 
os gregos começaram a esculpir “kouros” (jovens) e “kore” (moças) 
marcados por uma expressão facial serena e um porte rígido. 
No entanto, mesmo inspirados pelo Egito, os gregos buscavam 
representar o corpo humano de uma forma mais naturalista, 
enfatizando características como músculos e anatomia de uma 
forma nunca antes vista.
O período clássico (480 a 323 a.C.) é, sem dúvida, o ápice 
da arte grega. Aqui, a busca pelo naturalismo alcança novos 
patamares, e as esculturas passam a expressar uma graça e um 
equilíbrio quase divinos. A harmonia, tão almejada pelos gregos, 
48 HISTÓRIA ANTIGA 
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é evidente nas obras desse período. A escultura “Discóbolo”, por 
exemplo, exemplifica a fusão perfeita entre movimento e repouso.
Por fim, o período helenístico (323 a 31 a.C.) apresenta uma 
arte mais expressiva e dramática, com esculturas que capturam 
momentos de intensa emoção ou movimento, como a famosa 
“Vênus de Milo” ou o “Laocoonte”. É uma era em que a arte se 
torna mais acessível e espalhada por todo o mundo helenístico, 
graças às conquistas de Alexandre, o Grande.
Teatro grego: tragédia, 
comédia e o espírito cívico 
O teatro grego, com sua rica tapeçaria de mitos, dramas e 
comédias, permanece uma das contribuições mais significativas 
da Grécia Antiga para o mundo da arte e cultura. Surgindo da 
interseção entre ritual religioso e reflexão social, esse fenômeno 
cultural proporcionou uma plataforma para os gregos expressarem 
suas inquietações, crenças e seus questionamentos sobre o 
universo ao seu redor.
Na Grécia Antiga, o teatro estava profundamente enraizado 
em celebrações religiosas, em especial nas festas dionisíacas, 
que honravam o deus Dionísio, divindade associada ao vinho, 
ao êxtase e à metamorfose. Ao contrário do que poderíamos 
imaginar, o teatro não era uma mera forma de entretenimento. 
Para os gregos, era um meio de conexão com o divino, uma forma 
de introspecção e, simultaneamente, um espelho da sociedade.
As máscaras, tão iconicamente associadas ao teatro grego, 
não eram meros adereços. Elas refletiam a multiplicidade do ser 
humano e os diferentes papéis que desempenhamos na grande 
peça da vida. Em sua dinâmica essencial, o teatro grego é dialógico, 
ao estabelecer um constante intercâmbio entre os atores, o coro 
e a audiência.
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RESUMINDO
E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu 
mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de 
que você realmente entendeu o tema de estudo 
deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. 
Você deve ter aprendido que a Grécia Antiga foi 
mais do que um conjunto de cidades-estados no 
sudeste da Europa; foi o berço do pensamento 
ocidental. Desvendamos o início da fi losofi a, 
quando grandes pensadores como Sócrates, Platão 
e Aristóteles lançaram as bases para as refl exões 
e investigações fi losófi cas que persistem até 
hoje. Eles questionaram a natureza da realidade, 
o propósito da vida e o papel da moralidade, 
inaugurando um legado duradouro na história do 
pensamento. Também aprendemos sobre a rica 
tapeçaria artística da Grécia, desde os estilos e 
períodos evolutivos da sua arte até a intersecção 
profunda entre arte e fi losofi a. A estética grega, 
valorizando a simetria, proporcionalidade e busca 
pela perfeição, infl uenciou inúmeras gerações 
de artistas e é evidente em muitas das grandes 
obras de arte produzidas ao longo da história. Por 
fi m, abordamos o mundo do teatro grego, uma 
das maiores contribuições culturais da Grécia 
à humanidade. Assim, ao fi nal deste capítulo, 
esperamos que você tenha captado a essência e 
o impacto duradouro da cultura grega. Seu legado 
fi losófi co, artístico e teatral continua a moldar o 
modo como pensamos, criamos e nos expressamos 
no mundo contemporâneo.
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Guerras greco-persas
e suas consequências
para a Grécia Antiga
OBJETIVO
Ao término deste capítulo, você será capaz de 
entender como funcionou a complexa dinâmica 
das Guerras Greco-Persas e suas reverberações 
na Grécia Antiga. Isso será fundamental para o 
exercício de sua profi ssão, pois entender o passado 
e os seus confl itos é crucial para interpretar 
contextos contemporâneos. As pessoas que 
tentaram analisar a infl uência desses confl itos na 
formação cultural e política da Grécia sem a devida 
instrução frequentemente encontraram uma visão 
fragmentada, perdendo nuances e interconexões 
essenciais que deram forma à civilização ocidental. 
E então? Motivado para desenvolver essa 
competência? Vamos lá!
Antecedentes e motivações: 
a ascensão persa e a ambição 
grega
As margens do tempo testemunham a ascensão e queda 
de muitas civilizações, mas poucas tiveram o impacto profundo e 
duradouro que a Pérsia e a Grécia tiveram sobre a tapeçaria da 
história. Durante a Antiguidade, enquanto o grandioso Império 
Persa se expandia, absorvendo territórios e culturas, a Grécia, por 
sua vez, vivenciava o fl orescimento de suas cidades-estados, cada 
uma com sua identidade e seu modo de vida peculiares.
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Na verdade, o historiador Heródoto, frequentemente 
citado como “o pai da História”, dedicou grande parte de suas 
obras à narração desses eventos. Em “Histórias”, ele observa: 
“os persas consideram que a Ásia pertence a eles e seus povos 
nativos, enquanto consideram a Europa e a Grécia como territórios 
distintos.” (Heródoto, 2008). Essa diferenciação feita por Heródoto 
indica a clara distinção entre os dois mundos,que eventualmente 
entrariam em conflito direto.
No entanto, esse cenário não era meramente de 
antagonismo. As cidades-estados gregas, como Atenas e Mileto, 
estabeleceram colônias na Ásia Menor, uma região que, sob o 
crescente domínio persa, tornou-se um caldeirão de interações 
culturais e políticas. Esse processo de colonização grega trouxe 
consigo valores, práticas e instituições da Grécia para a Ásia 
Menor, provocando um choque, mas também uma interação 
entre a cultura grega e as populações locais. A colonização grega 
na Ásia Menor não foi apenas uma extensão territorial, mas uma 
expansão de ideias e interações.
Em meio a esse contexto de expansão e interação, tanto a 
Pérsia quanto a Grécia tinham seus olhos fixados em horizontes 
mais amplos. A ascensão persa e a ambição grega foram dois 
movimentos convergentes que, inevitavelmente, criariam as 
condições para um dos confrontos mais épicos da História Antiga.
O Império Persa, sob o domínio da dinastia Aquemênida, 
emergiu no século VI a.C. como uma potência ascendente, pronta 
para estabelecer seu domínio sobre vastos territórios. Com uma 
administração centralizada e eficaz, e líderes como Ciro, o Grande, 
e Dario I, a Pérsia começou sua marcha de conquistas, absorvendo 
nações e estabelecendo uma vasta rede de províncias que se 
estendiam da Índia à Ásia Menor e ao Egito.
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VOCÊ SABIA?
Ciro, ao conquistar territórios, não se contentava 
apenas com submissão. Ele procurava incorporar 
os valores e as práticas das regiões conquistadas, 
de modo a criar uma tapeçaria diversifi cada, mas 
coesa. Em outras palavras, a expansão persa não 
era apenas territorial, mas também cultural. Em 
sua tentativa de consolidar o império, os persas 
adotaram uma política de tolerância religiosa e 
cultural, permitindo que os povos conquistados 
mantivessem seus costumes e suas práticas, 
enquanto pagavam tributos e reconheciam a 
autoridade persa.
Entretanto, a ambição persa não estava confi nada à Ásia. 
Ao consolidar seu poder na Ásia Menor, os persas se depararam 
com as cidades-estados gregas ali estabelecidas, como Mileto. Essa 
coexistência, no entanto, estava destinada a enfrentar desafi os. 
A Revolta Jônica, que ocorreu no fi nal do século VI a.C., quando 
cidades gregas na Ásia Menor se rebelaram contra o domínio 
persa, foi um indicativo da tensão crescente. As cidades-estados 
gregas da Ásia Menor não viam com bons olhos o domínio persa, 
sentindo que sua autonomia e identidade estavam ameaçadas.
A ascensão da Pérsia não se deu apenas por meio 
de conquistas militares, mas também por meio de uma rede 
complexa de alianças, diplomacia e integração cultural. Mas essa 
expansão contínua trouxe-os cada vez mais perto do mundo 
grego, estabelecendo as bases para os confl itos subsequentes, 
uma colisão inevitável de dois mundos poderosos e ambiciosos.
Enquanto o Império Persa crescia em tamanho e poder, a 
Grécia também tinha suas próprias ambições e desejava marcar 
sua presença no Mediterrâneo. O período clássico da Grécia, 
e sobretudo o período arcaico, testemunharam uma série de 
transformações nas cidades-estados gregas, que buscavam 
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expandir seu poder e sua infl uência. Mas qual era, de fato, o cerne 
da ambição grega?
Primeiramente, é fundamental entender o papel vital que 
a colonização desempenhou na ambição helênica. As cidades-
estados gregas começaram a estabelecer colônias em várias 
partes do Mediterrâneo desde o século VIII a.C., tanto como uma 
resposta à superpopulação quanto como uma forma de garantir 
rotas comerciais mais seguras. 
VOCÊ SABIA?
A necessidade de novos territórios para a crescente 
população, bem como a busca por rotas comerciais 
seguras, impulsionou o desejo de colonização e 
expansão dos gregos pelo Mediterrâneo.
Ao mesmo tempo, as cidades-estados gregas eram 
altamente competitivas entre si. Atenas e Esparta, por exemplo, 
eram constantemente envolvidas em confl itos e competições, 
cada uma tentando superar a outra em infl uência, poder e riqueza. 
Esparta, uma oligarquia militarizada, e Atenas, uma democracia 
fl orescente, tinham diferentes sistemas políticos e sociais que, em 
muitos aspectos, refl etiam suas respectivas visões de mundo e 
ambições.
Entretanto, a ambição grega não era apenas sobre 
territórios ou dominação. Era também sobre cultura e fi losofi a. 
As cidades-estados gregas buscavam promover e espalhar seus 
valores, suas ideias e formas de vida. Os Festivais Pan-Helênicos, 
realizados em Olímpia, por exemplo, era não apenas uma 
competição esportiva, mas também uma oportunidade para as 
cidades-estados mostrarem sua cultura, arte e suas realizações. 
O desejo de superioridade cultural também era evidente 
na forma como os gregos promoviam seus festivais, teatros e 
54 HISTÓRIA ANTIGA 
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suas competições poéticas. Nesse sentido, a ambição grega se 
manifestava tanto no desejo de expansão territorial quanto na 
aspiração de se tornar culturalmente dominante. Era uma ambição 
alimentada tanto pelo desejo de poder quanto pelo anseio de 
reconhecimento e glória.
A tensão entre os persas e os gregos não foi sempre 
resultado de mera ambição territorial ou cultural, e um episódio 
particular ilustra bem isso: a Revolta Jônica.
IMPORTANTE
Os eventos que culminaram na Revolta Jônica podem 
ser vistos como um resultado direto das tentativas 
do Império Persa de consolidar seu controle sobre 
as cidades-estados gregas na região da Jônia, atual 
Turquia. Segundo Heródoto, considerado o “pai da 
história”, a Revolta Jônica foi um ponto de viragem 
signifi cativo, que colocou gregos e persas em rota 
de colisão (Heródoto, 2008).
Em suas origens, as cidades da Jônia haviam sido colonizadas 
por gregos que procuravam expandir seus horizontes. No entanto, 
com o tempo, essas cidades encontraram-se sob o domínio persa. A 
situação tornou-se insustentável quando os tiranos, apoiados pelos 
persas, começaram a governar essas cidades. Essa governança 
autocrática desagradava profundamente a mentalidade grega, que 
valorizava a autonomia e a participação cívica.
A gota d’água para o início da revolta foi a intervenção 
ateniense em apoio aos jônios. Atenas, infl uenciada pelo espírito 
de solidariedade pan-helênica, enviou assistência militar aos 
rebeldes jônios. Embora o auxílio ateniense fosse breve, ele serviu 
como um catalisador para a resistência jônia contra o jugo persa.
Os desdobramentos dessa revolta foram signifi cativos. 
Mesmo que os jônios tenham sido derrotados, o ocorrido não 
foi esquecido pelo Império Persa. Dario I, o rei persa da época, 
55HISTÓRIA ANTIGA 
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jurou vingança contra Atenas por seu envolvimento na revolta, o 
que culminou nas Guerras Médicas, uma série de conflitos que 
determinariam o destino da Grécia e do mundo helênico como 
um todo.
A Revolta Jônica, portanto, não foi apenas um levante 
isolado. Representou o início de um confronto direto entre duas 
potências, uma emergente e outra já estabelecida, que buscavam 
afirmar sua influência no Mediterrâneo Oriental. A dinâmica desse 
conflito moldaria a geopolítica da região nos séculos seguintes e 
teria ramificações duradouras na cultura e na história gregas.
Batalhas-chave, estratégias 
de maratona e plateias
O palco do Mediterrâneo no início do século V a.C. estava 
repleto de tensões geopolíticas, em que a recém-emergente 
Grécia e o vasto Império Persa estavam destinados a um embate 
de proporções épicas. A supremacia militar, ao longo da história, 
sempre foi um instrumento fundamental na articulação do poder 
político e territorial de um povo. No caso da Grécia e da Pérsia, a 
excelência militar tornou-se um meio não apenas de preservação, 
mas também de expansão de influências e domínios.
Os gregos, fragmentados em diversas cidades-estados, 
tinham em sua cultura uma forte tradição guerreira. Como 
observam Pomeroy et al. (1989), a arte da guerra era uma virtude 
apreciada

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