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# • COLEÇÃO sinopses PARA CONCURSOS Coordenação Leonardo Garcia José Roberto Mello Porto PROCESSO COLETIVO INCLUI • Questões recentes de concursos • Quadros de ATENÇÃO com partes importantes destacadas pelos autores • Palavras-chave destacadas • Entendimentosjurisprudenciais sobre o tema • Jurisprudência do STF e do STJ Prefácio: Daniel Amorim Assumpção Neves 2° edição Reuista, atualisada e ampliada Ill www.editorajuspodivm.com.br EDITORA Jt(ÇPODIVM José Roberto Mello Porto Defensor Público do Estado do Rio de Janeiro. Ex-assessor da Presidência do Supremo Tribunal Federal (2020/2021). Doutorando em Direito Processual (UERJ). Mestre em Direito Processual (UERJ). Pós-graduado em Direito Privado (UCAM). Membro do Instituto Brasileiro de Direito Processual (IBDP). Presidente da Comissão de Estudos em Processo Ciuil da Ordem dos Aduogados do Brasil — Seccional Rio de Janeiro (2019/2021). @joserobertomelloPorto EDITORA fiisPODIVM www.editoraluspodivm.com.br COLEÇAO sinopses PARA CONCURSOS Coordenação Leonardo Garcia José Roberto Mello Porto PROCESSO COLETIVO 2' edição Reoisto, atualijado e ampliado 2022 1 1 EDITORA I JusPODIVM www.editorajuspodivm.com.br 141 EDITORA JusPODIVM www.editorajuspodivm.com.br Rua Canuto Saraiva, 131 - Mooca - CEP: 03113-010 - São Paulo - São Paulo Tel: (11) 3582.5757 • Contato: https://www.editorajuspodivm.com.br/sac Copyright: Edições JusPODIVM Diagramação: Lupe Comunicação e Design (lupecomunicacao@gmaiLcom) Capa: Ana Caquetti 5617 Sinopses para Concursos - v.54 - Processo Coletivo / José Roberto Mello Porto - São Paulo: Editora JusPodivm, 2022. 304 p. (Sinopses para Concursos / coordenador Leonardo Garcia) Bibliografia. ISBN 978-65-5680-812-3. 1. Direito Processual. 2. Processo coletivo. I. Porto, José Roberto Mello. II. Garcia, Leonardo. Ill. Título. CDD 341.4 Todos os direitos desta edição reservados a Edições JusPODIVM. É terminantemente proibida a reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer meio ou processo, sem a expressa autorização do autor e das Edições JusPODIVM. A violação dos direitos autorais caracteriza crime descrito na legislação em vigor, sem prejuízo das sanções civis cabíveis. Atualizado até informativo 710 do STle 1.024 do STF. Coleção Sinopses para Concursos A Coleção Sinopses para Concursos tem por finalidade a prepa- ração para concursos públicos de modo prático, sistematizado e objetivo. Foram separadas as principais matérias constantes nos editais e chamados professores especializados em preparação de concursos a fim de elaborarem, de forma didática, o material necessário para a aprovação em concursos. Diferentemente de outras sinopses/resumos, preocupamo-nos em apresentar ao leitor o entendimento do STF e do ST) sobre os principais pontos, além de abordar temas tratados em manuais e livros mais densos. Assim, ao mesmo tempo em que o leitor en- contrará um livro sistematizado e objetivo, também terá acesso a temas atuais e entendimentos jurisprudenciais. Dentro da metodologia que entendemos ser a mais apropriada para a preparação nas provas, demos destaques (ern outra cor) às palavras-chaves, de modo a facilitar não somente a visualização, mas, sobretudo, a compreensão do que é mais importante dentro de cada matéria. Quadros sinóticos, tabelas comparativas, esquemas e gráficos são uma constante da coleção, aumentando a compreensão e a memorização do leitor. Contemplamos também questões das principais organizadoras de concursos do país, como forma de mostrar ao leitor como o assunto foi cobrado em provas. Atualmente, essa "casadinha" é fundamental: conhecimento sistematizado da matéria e como foi a sua abordagem nos concursos. Esperamos que goste de mais esta inovação que a Editora Jus- podivm apresenta. 6 Processo Coletivo - Vol. 54 • José Roberto Mello Porto Nosso objetivo é sempre o mesmo: otimizar o estudo para que você consiga a aprovação desejada. Bons estudos! Leonardo Garcia leonardo@leonardogarcia.com.br www.leonardogarcia.com.br instagram: @leomgarcia Guia de leitura da Coleção A Coleção foi elaborada com a metodologia que entendemos ser a mais apropriada para a preparação de concursos. Neste contexto, a Coleção contempla: • DOUTRINA OTIMIZADA PARA CONCURSOS Além de cada autor abordar, de maneira sistematizada, os as- suntos triviais sobre cada matéria, são contemplados temas atuais, de suma importância para uma boa preparação para as provas. Registre-se, por fim, ser intensa a polêmica em torno desse pressuposto processual (capacidade de ser parte), pois: 0 há quem o negue, enquanto pressuposto processual autô- nomo (DINAMARCO. V. 2, 2009, p. 61); ii) há quem silencie quanto a ele (RODRIGUES, 2003, p. 273); iii) há quem o considere requisito de validade (LACERDA, 1953, p. 60-68). • ENTENDIMENTOS DO STF E STJ SOBRE OS PRINCIPAIS PONTOS Atenção! Insta conferir alguns posicionamentos do STF e ST). O STJ vinha se posicionando pela inconstitucionalidade dessa prática, pois, na forma do art. 93, III, CF, órgãos jurisdicionais são estruturados de forma hierarquizada, havendo hierar- quia entre os membros dos tribunais e os juízes de primeira instância e, por isso, não é cabível revisão de julgados de juízes de primeira instância por outros juízes de primeira instância - salvo nos Juizados Especiais (art. 98, CF) (como se deu no HC n. 9.405-SP, 6' T., Rel. para acórdão Min. Maria The- reza de Assis Moura, j. 11.09.207, DJ 17.11.2007; e HC n. 98.769- SP, 5' T., Rel. Min. Laurita Vaz, j. 08.05.2008, Die 02.06.2008). 8 Processo Coletivo - Vol. 54 • José Roberto Mello Porto • PALAVRAS-CHAVES EM OUTRA COR As palavras mais importantes (palavras-chaves) são colocadas em outra cor para que o leitor consiga visualizá-la e memorizá-la mais facilmente. Na verdade, no contexto dos meios de prova, não há óbice ao emprego daqueles previstos em lei estrangeira, por predomi- nar em nosso ordenamento o princípio da atipicidade (art. 332, CPC). Admite-se o emprego de meios atípicos de prova, desde que legais e moralmente legítimos, ainda que não previstos em lei processual brasileira. • QUADROS, TABELAS COMPARATIVAS, ESQUEMAS E DESENHOS Com esta técnica, o leitor sintetiza e memoriza mais facilmente os principais assuntos tratados no livro. Ação Direito • QUESTÕES DE CONCURSOS NO DECORRER DO TEXTO Através da seção "Como esse assunto foi cobrado em concurso?" é apresentado ao leitor como as principais organizadoras de con- curso do país cobram o assunto nas provas. Como esse assunto foi cobrado em concurso No VIII concurso para provimento de cargo de Procurador do Trabalho - MPT, foi reconhecido o equívoco da assertiva de que "a jurisdição é o instrumento pelo qual o Estado declara o direito no caso concreto". Dedico esse livro a três pessoas fundamentais na minha cami- nhada até a aprovação: minha mãe, Lorena, minha avó, Assunção, e minha (eterna) namorada, Maria Carolina. Amo vocês. Nota do Autor Caros leitores, Fiz esse livro com enorme dedicação e com um foco bem claro: facilitar a aprovação de vocês. Sei que muitos não devem ter es- tudado o Direito Processual Coletivo na faculdade, e outros tantos não o fizeram como gostariam. Paciência. A caminhada até a aprovação não contempla arrependimentos: é um contínuo olhar para frente. Lamentar é perder tempo e per- der tempo é demorar mais para ser aprovado. Ponto. Essa sinopse traz os principais elementos do Processo Coletivo - e que caem em prova. Eu a estruturei em quinze capítulos: quator- ze deles com elementos fundamentais e um com vários aspectos menores, peculiares dos processos coletivos, quando comparados aos processos individuais. Inseri as ações em espécie (o que têm de particular) nos pró- prios capítulos, sem destacar um para a ação popular, outro para o mandado de segurança coletivo, paraa ação de improbidade administrativa (que, aliás, é tratada de forma isolada em outra obra dessa coleção) e para o mandado de injunção coletivo. Acre- dito que, assim, é facilitada a percepção do que é, efetivamente, o microssistema de processos coletivos. Fico à disposição de todos para retirar dúvidas e complementar o estudo. Podem me procurar pelo Instagram (@joserobertomello- porto) e seguir o canal do Telegram (José Roberto Mello Porto), onde há conteúdo diário de qualidade. Bons estudos! O sonhado cargo nunca esteve tão perto! José Roberto Mello Porto Prefácio O autor do presente livro me honrou com a missão de escrever o seu prefácio. Antes de destacar as evidentes e indiscutíveis quali- dades da obra, peço a paciência do leitor para uma breve explica- ção das razões que podem ter motivado tal convite. Anos atrás - nem me lembro precisamente quando - recebi um telefonema de Carlos Vinha, à época o "comandante" do Curso Forum, localizado na Cidade Maravilhosa. Ele queria me fazer um convite: ministrar um curso de zo horas de processo coletivo. Per- guntado se eu tinha interesse, não faltei com a verdade a res- ponder que sim. Questionado se estava acostumando em ministrar aulas daquela matéria, respondi novamente que sim, mas dessa vez faltei com a verdade, considerando que nunca havia ministrado aulas dessa matéria. Convite aceito deixei São Paulo e rumei ao Rio de janeiro, con- sideravelmente nervoso, para dar início ao curso de processo co- letivo. E naquela distante manhã de terça-feira, da Rua Candelária, nasceram duas paixões: processo coletivo e Curso Forum. Até os dias atuais ministro aulas no Curso Forum, indo ao Rio de janeiro toda semana. E finalmente, anos atrás, escrevi meu Manual de Pro- cesso Coletivo. E o que isso tudo tem a ver com a presente obra e seu autor? Muita coisa. José Roberto Mello Porto foi meu aluno no Curso Fo- rum e atualmente, já sob a batuta de Camila incelli, é meu colega na docência do mesmo curso. Da relação professor-aluno surgiu a relação professor-professor, mas, ainda mais importante, uma re- lação de amizade, que certamente justificou, muito além de outras condições, o presente convite. E qual não foi a minha felicidade em prefaciar justamente uma obra de Processo Coletivo, a matéria que me levou ao Curso Forum, onde conheci o autor e, durante os anos, com ele construí uma relação de amizade. A obra é organizada em 15 capítulos, o que por si só já anuncia tratar-se de obra de fôlego. Me agradou muito a opção do autor de 14 Processo Coletivo - Vol. 54 • José Roberto Mello Porto não tratar de forma setorizada as espécies de ação coletiva, mas distribuir a obra em capítulos que se referem a temas da tutela coletiva, tratando incidentalmente, e quando necessário, das pecu- liaridades de cada ação. 1-lá toda uma base para que o leitor ingresse no "mundo" do processo coletivo sem sobressaltos: a exposição de conceitos es- senciais, a origem da tutela coletiva, a descrição da situação legis- lativa atual e o enfrentamento dos princípios do processo coletivo, tão importantes para a compreensão e interpretação das normas do microssistema coletivo, bem como da aplicação subsidiária a tal microssistema processual do Código de Processo Civil. Após formada a base necessária para voos mais longos, o autor se debruça em institutos processuais que, embora presentes na tu- tela individual, tem muitas peculiaridades na tutela coletiva. Nesse sentido a legitimidade ativa e passiva; o litisconsórcio e as inter- venções de terceiro, a competência, a sentença e coisa julgada, a liquidação e a execução. Não escapou também ao autor temas atuais e de extrema re- levância acadêmica e prática, como a adoção das ações coletivas para a implementação de políticas públicas, os processos estrutu- rais e os instrumentos extrajudiciais coletivos, inclusive a possibi- lidade de os conflitos serem resolvidos por atividade distinta da jurisdicional. Não resta dúvida de que o autor, seja pela organização da obra, seja pela escrita fluida e agradável, ou ainda pelo conteúdo de seus escritos, merece os parabéns! E o agradecimento de todos que se interessam pelo tema da tutela coletiva por ter se empe- nhado tanto para apresentar um trabalho de tamanha qualidade. Só estou com uma dúvida: ainda não estou plenamente conven- cido que prefaciei uma sinopse, tamanha a completude do traba- lho. Seja como for, sinopse ou não, a obra merece atenta leitura. Daniel Amorim Assumpção Neves Sumário CAPITULO I I CONCEITOS ESSENCIAIS 21 1. Tutela coletiva e meios de solução coletiva de conflitos 21 2. Ação coletiva e processo coletivo 22 2.1. Situações limítrofes 23 3. Classificações doutrinárias 24 3.1. Processo coletivo comum e processo coletivo especial 24 3.2. Tutela coletiva pela via principal e tutela coletiva pela via incidental 24 3.3. Tutela metaindividual (transindividual) e tutela pluri- -individual 25 3.4. Técnicas individuais de repercussão coletiva e técnicas coletivas de repercussão individual 25 3.5. Coletivização parcial e coletivização total 26 3.6. Tutela de direitos coletivos e tutela coletiva de direitos 26 CAPÍTULO II I ORIGEM DA TUTELA COLETIVA 27 1. Origem remota 27 2. Origem próxima 28 CAPÍTULO III I LEGISLAÇÃO NO BRASIL 29 1. Evolução legislativa 29 2. Microssistema de tutela coletiva 34 CAPÍTULO IV > PRINCÍPIOS DO PROCESSO COLETIVO 37 1. Acesso à justiça 37 2. Universalidade da jurisdição 38 3. Isonomia 38 4. Segurança jurídica 39 5. Economia processual 39 6. Devido processo legal coletivo 40 7. Primazia do mérito ou continuidade da ação coletiva 40 8. Disponibilidade motivada (da ação e dos recursos) 40 9. Não taxatividade 43 16 Processo Coletivo - Vol. 54 • José Roberto Mello Porto lo. Atipicidade, máxima amplitude ou absoluta instrumentalidade 48 11. Obrigatoriedade temperada ou mitigada (indisponibilidade) 51 12. Discricionariedade controlada 51 13. Obrigatoriedade da execução 51 14. Prevalência da execução dos prejuízos individuais 53 15. Participação 53 16. Publicidade 53 17. Ampla divulgação ou adequada notificação dos membros do grupo 54 18. Informação aos legitimados 54 19. Máximo benefício ou regime jurídico in utilibus 56 zo. Reparação integral do dano 56 21. Máxima efetividade, predominância dos aspectos inquisitivos ou ativismo judicial 57 22. Competência adequada 58 23. Aplicação integrada das normas 58 CAPÍTULO V I DIREITOS E INTERESSES 59 i. Terminologia 59 1.1. Interesse material e interesse processual 59 1.2. Interesse privado, interesse social, interesse geral e inte- resse público 59 1.3. Interesses ou direitos coletivos? 60 2. Classificação 62 2.1. Direitos difusos 64 2.2. Direitos coletivos 65 2.3. Direitos individuais homogêneos 67 2.4. Direitos individuais indisponíveis 70 2.5. Quadro síntese 72 3. Direitos essencialmente coletivos e direitos acidentalmente coletivos 74 4. Objetos específicos 74 4.1. Ação popular 74 4.2. Ação de improbidade administrativa 76 4.3. Mandado de segurança coletivo 78 4.4. Mandado de injunção coletivo 79 CAPÍTULO VI I CONFLITOS COLETIVOS 81 1. Classificação 81 Sumário 17 1.1. Litígios transindividuais de difusão global 82 1.2. Litígios transindividuais de difusão local 82 1.3. Litígios transindividuais de difusão irradiada 83 1.4. Quadro síntese 84 CAPÍTULO VII LEGITIMIDADE 85 1. Natureza 85 2. Legitimados ativos 88 2.1. Ação civil pública 88 2.1.1. Ministério Público 89 2.1.2. Defensoria Pública 94 2.1.3. Administração Pública loo 2.1.4. Associações 101 2.1.5. Sindicatos 111 2.1.6. Partidos políticos 112 2.1.7. Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) 112 2.1.8. Cooperativas 113 2.1.9. Comunidades indígenas 114 2.2. Ação popular 114 2.3. Ação de improbidade administrativa119 2.4. Mandado de segurança coletivo 120 2.5. Mandado de injunção coletivo 124 3. Legitimados passivos 125 3.1. Ação civil pública 125 3.2. Ação popular 126 3.3. Ação de improbidade administrativa 126 3.4. Mandado de segurança coletivo 127 3.5. Mandado de injunção coletivo 129 4. Legitimidade bifronte 130 5. Representatividade adequada 132 6. Legitimidade extraordinária convencionada 133 7. Quadro síntese 134 CAPÍTULO VIII LMSCONSORCIO E INTERVENÇÕES 135 1. Litisconsórcio 135 2. Intervenção do indivíduo 137 3. Intervenção do Ministério Público e da Defensoria Pública 140 4. Intervenção de terceiros 143 18 Processo Coletivo - Vol. 54 • José Roberto Mello Porto CAPÍTULO IX I COMPETÊNCIA 145 1. Competência de Justiça 145 2. Competência de foro 146 2.1. Ação civil pública 146 2.2. Ação popular 149 2.3. Ação de improbidade administrativa 152 2.4. Mandado de segurança coletivo 153 2.5. Quadro síntese 153 3. Competência de juízo 153 CAPÍTULO X I RELAÇÃO ENTRE AÇÕES 159 1. Relação entre ações coletivas 159 2. Relação entre ação coletiva e ações individuais 165 2.1. Ação individual anterior à ação coletiva 166 2.2. Ação coletiva anterior à ação individual 170 2.3. Quadro síntese 171 CAPITULO XI > SENTENÇA E COISA JULGADA 173 i. Sentença coletiva 173 1.1. Direitos difusos e coletivos 173 1.2. Direitos individuais homogêneos 177 2. Coisa julgada 180 2.1. Limites objetivos 180 2.2. Limites subjetivos 180 2.3. Limites territoriais 183 2.4. Coisa julgada secundum eventum probationis 187 2.5. Coisa julgada secundum eventum litis in utilibus 190 3. Transporte in utilibus 191 4. Coisa julgada coletiva penal 192 CAPÍTULO XII I MEIOS DE IMPUGNAÇÃO DAS DECISÕES 193 1. Recursos 193 1.1. Cabimento 193 1.2. Legitimidade 195 1.3. Interesse 196 1.4. Tempestividade 196 1.5. Desistência e renúncia 197 1.6. Efeito suspensivo 198 Sumário 19 2. Remessa necessária 199 3. Requerimento de suspensão da decisão 203 CAPÍTULO XIII I LIQUIDAÇÃO E EXECUÇÃO 207 1. Direitos transindividuais 207 2. Direitos individuais homogêneos 208 3. Modalidades de execução 209 3.1. Execução coletiva 210 3.2. Execução individual 212 3.3. Execução pseudocoletiva 213 4. Meios executivos 214 5. Execução provisória 218 6. Execução negociada 219 CAPÍTULO XIV I TEMAS PECULIARES DO PROCESSO COLETIVO 221 1. Despesas processuais 221 2. Tutela provisória 229 3. Ação coletiva passiva 232 4. Controle de constitucionalidade 234 4.1. Controle de políticas públicas 235 5. Processos estruturantes 239 6. Acordos 241 6.1. Improbidade administrativa 243 7. Negócios jurídicos processuais 246 8. Ônus da prova 247 9. Peculiaridades procedimentais 248 9.1. Emenda da petição inicial 248 9.2. Reconvenção 249 9.3. Ação popular 250 9.4. Ação de improbidade administrativa 252 io. Prescrição 252 ii. Decadência 260 12. Dano moral coletivo 261 CAPÍTULO XV I INSTRUMENTOS EXTRAJUDICIAIS 265 i. Procedimentos instrutórios 265 1.1. Inquérito civil 266 20 Processo Coletivo - Vol. 54 • José Roberto Mello Porto 1.1.1. Instauração 272 1.1.2. Instrução 274 1.1.3. Conclusão 275 2. Recomendação 278 3. Compromisso de ajustamento de conduta 280 3.1. Termo de ajustamento de conduta 285 4. Mediação e arbitragem 290 BIBLIOGRAFIA 291 •Capítulo Conceitos Essenciais 1. TUTELA COLETIVA E MEIOS DE SOLUÇÃO COLETIVA DE CONFLITOS Ao exercer a função jurisdicional, o Estado busca garantir pro- teção a determinado bem jurídico, lesado ou ameaçado. Tal pro- teção, produto dessa atividade eminentemente estatal, é a tutela jurisdicional. Em linhas simples, Daniel Assumpção afirma que a tutela coleti- va é tutela voltada a proteção de determinados direitos materiais, eleitos pelo legislador. Em outras palavras, a tutela será coletiva quando o direito protegido for coletivo: • Por essência (direitos metaindividuais - difusos e coletivos em sentido estrito). • Por opção legislativa (direitos individuais homogêneos). • Por outro lado, alguns autores preferem compreender a tutela como um elemento relacionado ao direito material protegido, em contraposição ao processo, instrumento para tanto. Prefiro, contudo, entender a tutela como gênero para resolver conflitos coletivos. Existem, atualmente, no ordenamento brasileiro, três meios de solução coletiva de conflitos, como ensinam Aluisio Mendes e Larissa Pochmann: 2) Ações coletivas (processos coletivos); 2) Instrumentos de resolução de múltiplas demandas em reduzi- da atividade jurisdicional, que podem ser: a) Processos (causas) modelo, quando o incidente dispen- sa o julgamento de um caso concreto, como em um IRDR em que o recorrente do processo principal desiste do recurso, de acordo com o art. 976, §L., do CPC; ou 22 Processo Coletivo - Vol. 54 • José Roberto Mello Porto Processos (causas) piloto, quando existe o julgamento de um caso concreto, com extensão da ratio decidendi (fun- damentos da decisão) para os demais casos similares. Meios extrajudiciais de solução de conflitos coletivos. A esse respeito, vale destacar que, indiretamente, o Superior Tribunal de justiça já reconheceu os incidentes de fixação de teses como meios de tutela coletiva, ao reler o funcionamento do mi- crossistema de processos coletivos (art. 104 do CDC) à luz da sis- temática dos recursos repetitivos, inserida no art. 543-C do CPC/73, sublinhando a obrigatória suspensão dos processos quando da afetação do tema para julgamento "por amostragem" - como será visto no capítulo referente à relação entre ações. Como esse assunto foi cobrado em concurso? (FUNDEP - 2019 - DPE/MG - Defensor Público) No direito brasileiro, há duas espécies de processos jurisdicionais coletivos: as ações coletivas e o julgamento de casos repetitivos, com objetivos distintos, mas cujos resultados devem ser analisados caso a caso para aferir a prejudicia- lidade entre a coisa julgada coletiva e a eficácia vinculante da tese jurídica. A alternativa foi considerada correta. 2. AÇÃO COLETIVA E PROCESSO COLETIVO Pode-se conceituar ação coletiva como o exercício de direito que dá origem à demanda veiculada por um processo coletivo. Por sua vez, existe divergência quanto à conceituação do , cesso coletivo, na doutrina, que pode ser dividida em dois grandes grupos. A primeira corrente (Aluisio Mendes e Antonio Gicli) conceitua o processo coletivo a partir de três elementos fundamentais, que o diferem do processo individual: A legitimidade é, como regra, extraordinária, vez que, quanto aos direitos transindividuais, a legitimidade or- dinária funciona como um impeditivo para o acesso à justiça. Pontualmente, porém, aponta-se a ação coleti- va movida pela comunidade indígena como um excep- cionalíssimo caso de legitimidade ordinária, em que o I • Conceitos Essenciais 23 Ministério Público funcionará como assistente (art. 37 da lei 6.001/73). O objeto do processo coletivo, o seu pedido media- to, que deve ser um direito coletivo ou coletivamente considerado. A coisa julgada alcançada no processo coletivo, onde a imutabilidade do comando da sentença atinge toda a co- letividade (ergo omnes) ou um grupo, categoria ou classe em especial (ultra partes), indo além da mera eficácia subjetiva inter partes. Dentro dessa primeira linha conceitual, alguns autores (Rodol- fo Mancuso e Sérgio Shimura) elegem um critério finalístico, afas- tando a legitimidade da definição, bastando que haja proteção de objeto coletivo e a peculiar coisa julgada. A segunda corrente (Fredie Didier e Hermes Zaneti) foca no objeto do processo e entende que, para que exista processo co- letivo, é suficiente que haja uma relação jurídica material litigiosa coletiva, que depende de: a) O sujeito ativo ou passivo ser um grupo; e b) O objeto ser umasituação jurídica coletiva (direito, de- ver ou estado de sujeição de tal grupo). 2.1. Situações limítrofes Apesar da clareza desse conceito, a natureza coletiva do pro- cesso nem sempre se mostrava evidente. Certas ações ocupam au- têntica zona cinzenta entre o processo individual e o coletivo. São três as hipóteses apontadas pela doutrina (especialmen- te, Ada Pellegrini Grinover, Kazuo Watanabe e Luiz Paulo de Araújo Filho): 3.) Ações pseudocoletivas: prepondera o interesse individual dos sujeitos de direito, tornando-se improdutivo o manejo da ação coletiva. Após o processo judicial coletivo, a sentença genérica teria que passar por uma execução individual tão ou quase tão complexa quanto o procedimento de conhecimento. Exem- plo: danos causados por um mesmo agente a diversas pes- soas, mas atingindo cada uma delas de forma muito peculiar, exigindo perícia complexa na fase de liquidação individual. 24 Processo Coletivo - Vol. 54 • Jose Roberto Mello Porto 2) Ações individuais com alcance coletivo: o direito pleiteado pelo autor individual, se reconhecido pelo judiciário, gerará inevitáveis reflexos em terceiros e na coletividade. Exemplo: pedido de não fechamento da rua em que o autor mora, sem autorização. 3) Ações pseudoindividuais: a relação de direito material, global- mente considerada, recomenda a solução coletiva, e não pul- verizada em diversas ações individuais. Exemplo: uma tarifa abusiva inserida em contrato de adesão por empresa conces- sionária de serviço público. 3. CLASSIFICAÇÕES DOUTRINARIAS A doutrina tem desenvolvido algumas classificações, que em- barcam tanto as diversas modalidades de solução coletiva de con- flitos - especialmente, as duas primeiras - como aspectos exclusi- vos dos processos coletivos. 3.1. Processo coletivo comum e processo coletivo especial A doutrina (Teor Zavascki, Gregório Assagra de Almeida) per- cebeu - e bem - que as ações de controle concentrado de constitu- cionalidade também são espécie de processo coletivo. O segundo autor cunhou as denominações processo coletivo comum e proces- so coletivo especial. No processo coletivo comum (ações coletivas em geral), o con- flito objeto da relação jurídica processual é concreto, envolvendo direitos materiais. Por outro lado, no processo coletivo especial, o conflito é abs- trato, teórico, em tese, consistindo na análise de compatibilidade entre um ato normativo e o texto constitucional. Afinal, existe um interesse coletivo em um sistema constitucional coeso. 3.2. Tutela coletiva pela via principal e tutela coletiva pela via incidental Em outra obra (Teoria Geral dos Casos Repetitivos), realizei a diferenciação entre a tutela coletiva pela via principal e a tutela coletiva pela via incidental. Cap. I • Conceitos Essenciais 25 O primeiro grupo de instrumentos de tutela coletiva (pela via principal) diz respeito a ações autônomas, por meio de processos judiciais que possuam como objeto principal a resolução de confli- tos coletivos, em concreto (materiais) ou em abstrato (normativos). O segundo grande grupo de instrumentos de tutela coletiva (pela via incidental) no ordenamento jurídico brasileiro é composto por incidentes, que dependem da prévia existência de ações, indi- viduais e coletivas, que versem sobre determinada matéria. A partir delas, os tribunais podem, de ofício ou mediante pro- vocação, iniciar procedimento voltado à resolução de uma questão jurídica, pacificando um tema teórico, firmando tese jurídica a ser adotada por todos os órgãos julgadores subordinados à corte que julgou o incidente. 3.3. Tutela metaindividual (transindividual) e tutela pluri-indivi- dual Nessa mesma linha, alguns autores, como Bruno Dantas, di- ferenciam a tutela metaindividual ou transindividual - processos coletivos - da tutela pluri-individual, referente aos incidentes de tratamento de questões repetitivas. 3.4. Técnicas individuais de repercussão coletiva e técnicas coleti- vas de repercussão individual Marcelo Abelha traça interessante distinção entre as técnicas individuais de repercussão coletiva e as técnicas coletivas de re- percussão individual (as ações coletivas que tutelam direitos indi- viduais homogêneos). Técnicas coletivas de repercussão individual (TCRI) Técnicas individuais de repercussão coletiva (TIRC) Tratam de situações coletivas Tratam de situações repetitivas Coisa julgada secundum eventum lids in utilibus Vinculação à conclusão do julga- mento, salvo distinguishing Sem suspensão de demandas individuais (de acordo com a lei) Suspensão das demandas em curso Requer legitimidade adequada (rol legal de legitimados) Qualquer parte no processo pode suscitar 26 Processo Coletivo - Vol. 54 • José Roberto Mello Porto Diante dessas diferenças, o autor conclui que as primeiras téc- nicas seriam mais benéficas que as outras, argumentando que o contraditório seria insuficiente nas TIRC - como no Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas e nos Recursos Repetitivos. 3.5. Coletivização parcial e coletivização total Gustavo Osna, por sua vez, analisando o Multidistrict norte- -americano, realiza distinção entre essa técnica de coletivização parcial (voltada, inicialmente, apenas à possibilidade de realização de instrução conjunta, otimizando a produção de provas unificada para diversos processos) e a técnica de coletivização total (as class actions, processos coletivos norte-americanos). Uma desvantagem da primeira é que o ganho à isonomia, ao acesso à justiça e à administração judiciária é relativo, dependen- do da provocação dos envolvidos. 3.6. Tutela de direitos coletivos e tutela coletiva de direitos Teori Zavascki cunhou classificação muito conhecida - e, por- tanto, cobrada em provas - ao divorciar a tutela de direitos coleti- VOS — quando o objeto são direitos difusos ou coletivos em sentido estrito - da tutela coletiva de direitos - quando o objeto do proces- so forem direitos individuais homogêneos. a Capítulo Origem da Tutela Coletiva 1. ORIGEM REMOTA Na família romano-germânica (civil law), o antecedente mais re- moto das ações coletivas é a ação popular do direito romano, que consistia na tutela, pelo cidadão, da coisa pública, vista como direito próprio seu, embora o resultado do processo vinculasse todos os membros da coletividade. Protegia-se, portanto, direito difuso. Num primeiro momento, o objeto da ação tinha contornos pe- nais, com pedidos inibitórios e sancionatórios. Porém, posterior- mente se passou a admitir a tutela de logradouros públicos e de bens de uso comum do povo. Esse instrumento permaneceu em ordenamentos de diversos Estados filiados à tradição romana, até um significativo desapare- cimento com a queda do Império Romano, reaparecendo no século XIX. No Brasil, a ação popular foi recepcionada pelas ordenações Filipinas de 1603 e permanece até os dias atuais, tendo sido objeto de regulamentação pela lei 4.717/65. Por sua vez, a tradição anglo-saxã (common law) encontra os mais antigos ascendentes das ações coletivas na Inglaterra medie- val (século XII), onde os interesses coletivos de certos grupos pas- saram a ser representados, processualmente, por seus líderes. Posteriormente, no século XVII, foi criada a bill of peace inglesa (século XVII): nos autos da ação individual, se requeria autorização para que fosse processada coletivamente, evitando multiplicação de processos, para afastar a exigência de presença de todos os interessados na relação processual para que fossem atingidos pela coisa julgada (compulsory joinder rule/necessary parties rule). 28 Processo Coletivo - Vol. 54 • josé Roberto Mello Porto 2. ORIGEM PRÓXIMA De maneira mais recente, a doutrina costuma apontar três ele- mentos determinantes na evolução do processo coletivo. O primeiro foi o estudo das gerações (dimensões) de direitos fundamentais. Percebeu-se que, ao lado dos direitos de liberdade (primei-ra dimensão, envolvendo uma abstenção estatal) e de igualdade (segunda dimensão, envolvendo uma atuação estatal), existem di- reitos de fraternidade ou solidariedade (terceira dimensão), que demandam uma preocupação intergeracional, difusa. O segundo elemento fundamental foi o estudo empreendido, na década de 1950, por Mauro Cappelletti e Bryant Garth, intitulada Projeto Florença de Acesso à justiça. Após uma análise empírica de diversos países, identificaram- -se três grandes grupos de barreiras a serem ultrapassadas para que se atingisse um real e efetivo acesso à justiça, por meio de três correspondentes ondas renovatórias. A primeira onda se refere ao empecilho dos custos do proces- so, um obstáculo decisivo para o hipossuficiente econômico. A segunda onda diz respeito à tutela dos direitos transindivi- duais em juízo. De fato, a concepção tradicional e individualista do processo civil não conseguia atender pretensões referentes a direi- tos metaindividuais e indivisíveis. Elementos centrais, como a legi- timidade e a coisa julgada, precisavam ser repensados e receber nova roupagem - o que impulsionou a compreensão de que deve- riam ser desenhados novos instrumentos, como o processo coletivo. Por fim, a terceira onda apresentada no estudo diz respeito ao aperfeiçoamento da forma do processo, ideia a envolver os pro- cedimentos previstos pela legislação, os custos em geral (também os custos sociais do litígio) e o tempo exigido para que houvesse satisfação do direito material. O terceiro marco do moderno estímulo ao Direito Processual Coletivo é a massificação das relações sociais, jurídicas e, portanto, processuais, com proliferação de demandas judiciais repetitivas. Ao comentar a Constituição Federal, em 1991, josé Carlos Bar- bosa Moreira já averiguava a ocorrência de fenômenos de massa (produção de massa, distribuição de massa, cultura de massa), os quais desaguariam em processos de massa. elCapítulo Legislação no Brasil 1. EVOLUÇÃO LEGISLATIVA O direito processual brasileiro foi concebido em bases eminen- temente individualistas. No entanto, é inegável que certos elemen- tos da tutela coletiva já se encontravam em nosso ordenamento, de maneira esparsa. Daniel Assumpção Neves elege quatro marcos legislativos do processo coletivo no Brasil: a Lei da Ação Popular, a Lei da Ação Civil Pública, a Constituição Federal e o Código de Defesa do Con- sumidor. De fato, esses são os diplomas fundamentais para serem estudados e que são cobrados nas provas. Mesmo antes da Lei de Ação Popular, porém, o ordenamento abordava a temática dos direitos coletivos, timidamente. Podem ser apontados os seguintes diplomas, anteriores a 1965: 1) Ação popular prevista nas Ordenações Filipinas e nas Constitui- ções Federais (salvo na de 1937); 2) Representação coletiva de associações de certas classes de funcionários (Leis 1.134/50, 2.480/55 e 3.761/60 e de advoga- dos, pela OAB (Lei 4.2154/63). O primeiro marco legislativo de destaque, de todo modo, é a Lei da Ação Popular (Lei 4.717/65). São elementos inaugurados por esse diploma: a) Previsão do objeto: originariamente, a tutela do patri- mônio público, assim entendido como os bens e direi- tos de valor econômico, artístico, estético ou histórico (art. 1.). Posteriormente, a lei 6.513/77 agregou os bens 30 Processo Coletivo - Vol. 54 • José Roberto Mello Porto públicos de valor turístico a esse conceito legal. Com a Constituição Federal de 1988, a ação popular passou a ter como objetos também a moralidade administrativa, o meio ambiente e o patrimônio histórico e cultural (art. 5., Lxxiii, da CF). Legitimidade ativa extraordinária do cidadão (art. 1. e §30); c) Legitimidade bifronte da pessoa jurídica de direito públi- co (art. 60, §30); Coisa julgada material secundum eventum probationis (art. 18); Execução obrigatória da sentença condenatória (art. 16); Reexame necessário da sentença terminativa ou de im- procedência (art.19); g) Prazo prescricional (art. 21). O segundo marco é a Lei da Ação Civil Pública (Lei 7.347/85), que foi inovadora quanto aos seguintes elementos: ,-1), Rol de direitos tuteláveis (art. 1.): originalmente, de na- tureza taxativa, vez que vetada a menção a "qualquer interesse difuso"; b) Rol de legitimados ativos (art. 50); c) Previsão do inquérito civil (arts. 8. e 90); d) Ministério Público como fiscal da lei (art. 50, §1.); e) Assunção da ação pelo Ministério Público, em caso de abandono (art. 5., §30). Sua natureza é predominantemente processual, ressalvadas pontuais disposições de natureza penal (art. to), cuja finalidade é fazer valer as requisições ministeriais instrutórias, e material (art. 13), ao criar o fundo para receber as condenações em dinheiro relativas a direitos difusos e coletivos. O terceiro marco é a Constituição Federal de 1988, abordando a temática dos direitos coletivos sob a ótica material e processual, valendo destacar: • Legislação no Brasil 31 g) Inserção de direitos coletivos no rol de direitos funda- mentais, notadamente no título do Capítulo I do Título II, que passa a mencionar direitos e deveres individuais e coletivos; I)) Ampliação da cláusula de acesso ao judiciário, que não mais menciona apenas lesão a direito individual (art. 5., XXXV); C) Direito de representação associativa, com a legitimidade das associações para a tutela dos associados (art. 50, XXI); d) Legitimidade dos sindicatos para direitos coletivos e indi- viduais da categoria (art. 8., III); e) Ampliação do objeto da ação popular (art. 5., LXXIII); f) Menção expresso à ação civil pública e ampliação de seu objeto (art. 129, III); Criação do mandado de segurança coletivo (art. 5., 1XX). O quarto marco da evolução legislativa do processo coletivo brasileiro é o Código de Defesa do Consumidor (lei 8.078/90). Des- tacam-se os seguintes elementos inaugurados: a) Possibilidade de se firmar termo de ajustamento de con- duta às exigências legais (art. 5., §6.) e de litisconsórcio entre Ministérios Públicos (art. 50, §50), inseridos na Lei da ACP; h) Conceituação dos direitos tuteláveis (art. 81, parágrafo único); c) Regras de competência, inserindo o critério da extensão do dano (art. 93); d) Extensão subjetiva da coisa julgada (art. 103); e) Regras de relação entre ações coletivas e ações indivi- duais (art. 104). O CDC possui tanta relevância que a doutrina chama seu título Ill de Código Brasileiro de Processos Coletivos (Fredie Didier e Her- mes Zaneti), bem como modelo estrutural para as ações coletivas (Aluisio Mendes). 32 Processo Coletivo - Vol. 54 • José Roberto Mello Porto Além dos quatro pilares ou marcos legislativos, vários outros diplomas tratam ou trataram dos direitos coletivos e do processo coletivo. Vale mencionar os seguintes: i) Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/81), com previsão de ação de responsabilização civil por danos ambientais; 2) Lei Orgânica dos Ministérios Públicos Estaduais (LC 40/81), com previsão da função institucional de promoção da ação civil pública; 3) Lei de apoio às pessoas portadoras de deficiência (Lei 7.853/89), com previsão de legitimidade, coisa julgada secun- dum eventum probationis, reexame necessário e legitimidade recursal; 4) Lei de responsabilização por danos aos investidores do mer- cado de capitais (Lei 7.913/89), com previsão de ação coletiva para tanto, com sistemática de execução própria; 5) Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90), com ca- pítulo próprio voltado à tutela coletiva desses sujeitos vulne- ráveis, com regras próprias de competência, fixação de multa cominatória, gratuidade e criação de fundo específico, para além da permissão de proteção de direitos individuais indis- poníveis desses sujeitos; 6) Lei de Improbidade Administrativa (Lei 8.429/92), com previsão de ação própria para sancionar os agentes do ato de improbi-dade e para ressarcimento dos danos; 7) Lei Orgânica do Ministério Público da União (LC 75/93), com previsão da função institucional de tutelar direitos coletivos em sentido amplo, pela via da ação civil pública e do inquérito civil; 8) Lei Antitruste (Lei 8.884/94), com previsão de tutela da ordem econômica por meio de ação civil pública; 9) Leis restritivas do processo coletivo, com vedações a liminares (Lei 8.437/92), aos efeitos territoriais (Lei 9.494/97) e ao objeto da ação civil pública (MP 2.180/01); io) Lei das Anuidades Escolares (Lei 9.870/99), com previsão de ajuizamento de ação civil pública por associação de alunos e pais de alunos; Cap. III • Legislação no Brasil 33 Estatuto do Torcedor (Lei 10.671/03), com possibilidade de res- ponsabilização das torcidas organizadas - o que é visto por alguns como hipótese de ação coletiva passiva; 12) Estatuto do Idoso (Lei 10.741/03), com normas específicas para a tutela coletiva dos direitos de tais sujeitos, em determinados aspectos, como competência, tutela de direitos individuais in- disponíveis e criação de fundo próprio; 13) Lei Maria da Penha (Lei 11.340/06), com abordagem de tutela coletiva pelo Ministério Público e associações; 14) Lei 11.448/07 e LC 132/09, outorgando legitimidade à Defensoria Pública; 15) Lei do Mandado de Segurança (Lei 12.016/09), que complemen- tou a previsão constitucional da impetração coletiva; 16) Estatuto da Igualdade Racial (Lei 12.288/10), com previsão de ação civil pública em prol dos grupos discriminados; 17) Lei de Defesa da Concorrência (Lei 12.529/n), com previ- são de ação coletiva preventiva e repressiva em favor dos prejudicados; 18) Lei Anticorrupção (Lei 12.846/13), que adota o rito da ação civil pública para a ação de responsabilização das pessoas jurídi- cas que pratiquem condutas nela previstas; 19) Lei do Mandado de lnjunção (Lei 13.300/16), com inédita previ- são da impetração coletiva. Ainda a respeito desse tema, é importante destacar que o Código de Processo Civil de 2015, embora seja o diploma proces- sual geral - e, assim, aplicável aos processos coletivos -, não abor- dou a tutela coletiva. Apenas dois artigos tangenciam os processos coletivos: a) Art. 139, X: poder do magistrado de oficiar os legitima- dos para a tutela coletiva, quando perceber demandas repetitivas ("X - quando se deparar com diversas de- mandas individuais repetitivas, oficiar o Ministério Pú- blico, a Defensoria Pública e, na medida do possível, outros legitimados a que se referem o art. 5. da Lei no 7.347, de 24 de julho de 1985, e o art. 82 da Lei no 8.078, 34 Processo Coletivo - Vol. 54 • José Roberto Meto Porto de ii de setembro de 1990, para, se for o caso, promo- ver a propositura da ação coletiva respectiva."); b) Art. 333: conversão da ação individual em ação coletiva. Esse interessante instrumento, que serviria para a me- lhor solução de situações limítrofes, especialmente as demandas individuais com alcance coletivo, foi vetado pela Presidência da República. 2. MICROSSISTEMA DE TUTELA COLETIVA Como visto, as normas de regência do processo coletivo foram surgindo aos poucos, formando um microssistema de tutela coleti- va, também chamado de microssistema coletivo, minissistema cole- tivo, sistema único coletivo ou sistema integrado de tutela coletiva. Trata-se de um conjunto de normas que, pela semelhança de suas finalidades, se aplicam reciprocamente, respeitadas, excep- cionalmente, as peculiaridades de cada diploma específico. Esse microssistema é formado por dois tipos de norma: 2) Núcleo duro: diplomas legais aplicáveis a todas as espécies de ações, que são: a) Lei da Ação Civil Pública; e b) Código de Defesa do Consumidor (no seu Título III). 2) Outras normas, aplicáveis complementarmente, por: a) Possuírem temática específica, como a Lei da Ação Popu- lar, a Lei do Mandado de Segurança, a Lei de Improbida- de Administrativa, o ECA; b) Se aplicarem subsidiariamente, como o CPC. > Como esse assunto foi cobrado em concurso? (CESPE - 2018 - Polícia Civil/MA - Delegado de Polícia) O MP de determi- nado estado da Federação ajuizou uma ação civil pública por improbi- dade administrativa contra determinado servidor estadual. Nessa situação hipotética, a ação civil pública deverá observar inte- gralmente a regulamentação específica, não sendo possível a aplicação subsidiária do CPC. A alternativa foi considerada incorreta. Cap. III • Legislação no Brasil 35 Diante dessa concorrência de normas, surgem alguns ques- tionamentos práticos, quando existe conflito entre as leis do microssistema. Um primeiro questionamento é o seguinte: entre a LACP e o CDC, o que deve prevalecer? A doutrina aponta saídas variadas: 1) Primeira corrente (Fredie Didier, Hermes Zaneti, José dos San- tos Carvalho Filho): prevalece a LACP, que, em seu artigo 21, remete ao CDC, "no que for cabível"; 2) Segunda corrente: prevalece o CDC, especialmente quando a matéria for de direito consumerista, inclusive porque tal di- ploma remete à LACP no seu artigo 90, "quando não contrariar suas disposições"; 3) Terceira corrente (Daniel Assumpção Neves): prevalece a nor- ma que potencializa a efetividade da tutela coletiva e a prote- ção dos direitos em juízo. Um segundo questionamento diz respeito ao choque entre dis- positivo do núcleo duro e outro em norma subsidiária. De novo, a doutrina diverge, em algumas posições: 2) Primeira corrente (Fredie Didier, Hermes Zaneti): prioridade da regra do núcleo duro, uniformizando o tratamento; 2) Segunda corrente (Gregório Assagra de Almeida): prioridade da lei específica da matéria jurídica, prestigiando a vontade do legislador; 3) Terceira corrente (Daniel Assumpção Neves, Fernando Gajardo- ni): prioridade da lei mais benéfica para a tutela. A jurisprudência não é definitiva quanto a tais questões. O Superior Tribunal de Justiça, por exemplo, por vezes trata a Lei da Ação Popular como regra geral (caso da remessa necessária) e, em outras, como lei específica. Como esse assunto foi cobrado em concurso? (MPE/SC - 2019 — MPE/SC - Promotor de Justiça)0 microssistema da tu- tela coletiva é o conjunto formado pelas normas processuais, materiais e heterotópicas sobre processo coletivo nas diversas normas jurídicas positivadas em nosso ordenamento jurídico. A alternativa foi considerada correta. gliCapítulo Princípios do Processo Coletivo Os princípios jurídicos, fontes do direito, orientam todos os seus ramos e, portanto, também o processo civil. Atualmente, a constatação da constitucionalização do processo civil (Luiz Fux) - teoria do direito processual constitucional (Paulo Cezar Pinheiro Carneiro) - impede a compreensão da ciência de maneira divor- ciada dos mandamentos constitucionais, em especial as garantias fundamentais largamente estampadas. O legislador de 2015, tomado pelo atual estado principiológico do direito, foi didático ao enunciar extenso rol (exemplificativo) de valores a serem perquiridos no desenrolar da relação processual. Evidentemente, existem valores especialmente voltados ao processo coletivo, alguns exclusivos e outros com particular enfo- que quando analisados sob a ótica da tutela coletiva. 1. ACESSO À JUSTIÇA Essa primeira e fundamental garantia, extraída do artigo 50, XXXV, da Constituição Federal, assegura a possibilidade de provoca- ção da tutela jurisdicional, em havendo qualquer lesão ou ameaça de lesão ao patrimônio jurídico do cidadão. Nos estudos de Cappelleti e Garth, a segunda onda renova- tória do acesso à justiça se referia, justamente, à necessidade de desenvolvimento de instrumentos capazes de levar a juízo, ade- quadamente, direitos transindividuais - espaço ocupado pela tute- la coletiva pela via principal (processos coletivos). Complementarmente, a autorização legal para a tutela cole- tivizada de direitos individuais, porque homogêneos, prestigia o acesso à justiça, na medidaem que faz surgir interesse processual, 38 Processo Coletivo - Vol. 54 • José Roberto Meio Porto sob o plano global (danos agregados), quando, individualmente, pela irrelevância dos danos isolados, não existiria. Nesse ponto, fundamental trazer a paradigmática obra de Paulo Cezar Pinheiro Carneiro como marco teórico, válida para todos os processos, individuais e coletivos, com base em quatro subprincípios: 3.) Princípio da acessibilidade: pressupõe três elementos: (i) o direito à informação, (ii) a legitimidade adequada, e (iii) os custos condizentes. 2) Princípio da operosidade: indica que os agentes envolvidos no processo devem extrair dele o máximo possível. 3) Princípio da utilidade: indica que a jurisdição ideal seria ague- la que pudesse, no momento mesmo da violação, conceder, a quem tem razão, o direito material. 4) Princípio da proporcionalidade. 2. UNIVERSALIDADE DA JURISDIÇÃO Decorre do acesso à justiça a ideia da ampliação dos sujeitos atingidos pela atividade jurisdicional. Na tutela coletiva, a coleti- vidade cujos direitos são tutelados pode ser formada até mesmo por todos os sujeitos, ou ao menos os envolvidos em determinada situação. Essa circunstância representa autêntica vantagem para o exer- cício da jurisdição, em razão dos princípios fundamentadores da tutela coletiva, resolvendo-se conflitos que envolvem, não raro, massas de pessoas. O acesso à justiça no direito processual cole- tivo deve ser garantido a um número cada vez maior de pessoas, englobando cada vez mais causas (Ada Pellegrini Crinover). 3. ISONOMIA As ações coletivas (tutela coletiva pela via principal) prestigia- ram consideravelmente a isonomia, funcionando como mecanismo de reequilíbrio (Aluisio Mendes). Afinal, em geral o que sucede é uma disputa de um litigante acidental (one shot) contra um habi- tuado ao litígio (repeat player), gozando de uma visão macro do problema, capaz de vislumbrar os reais custos do processo, para além de maior formação jurídica, por vezes. Cap. IV . Princípios do Processo Coletivo 39 Além disso, existe um segundo papel do princípio da igual- dade, no aspecto processual, garantindo uma justa resposta ju- risdicional, que se pressupõe idêntica para casos que ostentam o mesmo direito material. É incoerente que dois usuários do serviço de justiça recebam soluções díspares do mesmo judiciário (que é uno), quando o provoquem em razão de lides iguais. 4. SEGURANÇA JURÍDICA Intrinsicamente ligada à isonomia no aspecto exoprocessual está a segurança jurídica. De fato, sabendo qual é a interpretação definitiva do tribunal acerca do direito, pode-se garantir tratamen- to igual a todos, obedecendo a esse entendimento fixado. Por ou- tro lado, a aplicação coerente da norma permite que os sujeitos se considerem seguros. 5. ECONOMIA PROCESSUAL Outro forte valor que dialoga com os anteriores é o da econo- mia processual. Trata-se de princípio que pode ser visto sob dois principais enfoques. O primeiro é o da economia processual macroscópica (econo- mia judicial ou exoprocessual). Essa vertente diz respeito ao pano- rama global do judiciário, reduzindo o número de processos. A tutela coletiva que tem por objeto direitos individuais homo- gêneos é um perfeito exemplo de economia global: em um único processo, forma-se título executivo que satisfaz número elevado de sujeitos, que, em outra hipótese, teriam que ajuizar múltiplas ações individuais. Segundo substrato do princípio é o da economia processual microscópica (economia processual em sentido estrito ou endo- processual). Este se refere à diminuição da quantidade de atos no próprio processo, objetivo possibilitado pela menor extensão das demandas que versem sobre questões repetitivas previamente solucionadas. Nos processos coletivos, não existe, propriamente, uma liga- ção direta com a economia endoprocessual. Na verdade, a produ- ção de provas conjunta pode ser até mesmo mais demorada do que seria se distribuída em várias demandas individuais. 40 Processo Coletivo - Vol. 54 • José Roberto Mello Porto 6. DEVIDO PROCESSO LEGAL COLETIVO Existem diversas normas fundamentais que, de forma mais concreta e objetiva, orientam a conduta dos sujeitos processuais nela envolvidos. Tal conjunto representa o devido processo legal coletivo, princípio mencionado modernamente pela doutrina (Edil- son Vitorelli, Fredie Didier Jr, Hermes Zaneti jr) e que se aproxima da noção de devido processo social, voltada à redução da burocra- cia e ao incremento da efetividade. Esse supraprincípio reúne diversos outros. A propósito, ine- xiste sintonia doutrinária a respeito de quais seriam os princípios próprios do direito processual coletivo, tampouco quais deles es- tariam incluídos no devido processo legal coletivo. 7. PRIMAZIA DO MÉRITO OU CONTINUIDADE DA AÇÃO COLETIVA Nos processos coletivos, a solução do mérito se torna espe- cialmente prestigiada, inclusive havendo formação de coisa julgada condicionada à apreciação de provas suficientes, nos julgamentos de improcedência - a consubstanciar o interesse no melhor julga- mento de mérito possível. Também se aponta a existência de certa fungibilidade entre ações coletivas que tenham objeto comum, como a ação civil pú- blica, a ação popular e a ação de improbidade administrativa. Em tais casos, a doutrina advoga que incompatibilidades processuais, como a ilegitimidade do autor para uma das demais, não compro- metam sua adaptação para que prossiga através da via adequada (Daniel Assumpção Neves). Ademais, e ainda nessa linha, o com- prometimento, pela prescrição, de uma das pretensões veiculá- veis pela ação de improbidade administrativa não compromete o ajuizamento posterior de outra ação quanto à parcela subsistente. Além disso, existe especial enfoque na sucessão processual, por meio do princípio da disponibilidade motivada. 8. DISPONIBILIDADE MOTIVADA (DA AÇÃO E DOS RECURSOS) Especial manifestação do princípio da primazia do mérito nos processos coletivos é o regramento da desistência (expressa ou tácita - abandono) por parte do legitimado ativo. Cap. lv • Princípios do Processo coletivo 41 O microssistema estatui diretamente que, no caso de desistên- cia infundada ou de abandono por parte das associações autoras, o Ministério Público ou outros legitimados assumirão a titularidade da demanda (art. 5 0, §30 da LACP e art. 9. da LAP). O que diz a lei? LACP: Art. 5., § 3. Em caso de desistência infundada ou abandono da ação por associação legitimada, o Ministério Público ou outro legitimado assu- mirá a titularidade ativa. LAP: Art. 9. Se o autor desistir da ação ou der motiva à absolvição da instância, serão publicados editais nos prazos e condições previstos no art. 7., inciso II, ficando assegurado a qualquer cidadão, bem como ao representante do Ministério Público, dentro do prazo de 90 (noventa) dias da última publicação feita, promover o prosseguimento da ação. Como esse assunto foi cobrado em concurso? (CESPE - 2019 - MPE/PI - Promotor de justiça) Determinada associação de proteção ao meio ambiente, legalmente constituída havia seis me- ses, ajuizou ação civil pública a fim de cessar obra que estava acon- tecendo em área destinada à preservação ambiental em determinado município. O juiz competente, considerando a relevância do bem jurí- dico tutelado, dispensou requisito de pré-constituição e deu prosse- guimento ao processo. A associação autora, entretanto, abandonou a ação sem prestar esclarecimentos ao juízo. Considerando o disposto na lei que rege a ação civil pública, assinale a opção correta, a respeito da referida ação. a) A titularidade ativa da ação poderá ser assumida por qualquer ou- tro legitimado. b) A ação deverá ser extinta sem julgamento de mérito. c) A titularidade ativa da ação deverá ser assumida exclusivamente pelo Ministério Público. d) A ação deverá ser extinta com julgamento de mérito e farácoisa julgada. e) A ação deverá ser declarada prescrita quando decorrerem cinco anos contados da data do abandono da causa. A alternativa A foi considerada correta. Na Lei da Ação Popular, existe previsão de publicação de editais e intimação do Ministério Público, para que o Parquet ou outro cida- dão se habilite no caso de desistência e de extinção terminativa do 42 Processo Coletivo - Vol. 54 • José Roberto Mello Porto processo (leitura atual da terminologia "absolvição de instância", atinente ao CPC/39). Na doutrina, Daniel Neves advoga a restrição da segunda hipótese à desistência e ao abandono, em correlação com o art. 50, §30, da LACR Como esse assunto foi cobrado em concurso? (CESPE - 2018 - PGE-PE - Procurador do Estado) É vedado ao MP assumir a titularidade de ação popular na hipótese de desistência do autor, ainda que nenhum outro cidadão legitimado promova o prosseguimen- to da ação. A alternativa foi considerada incorreta. (MPE/SC - 2019 - MPE/SC - Promotor de Justiça) Há previsão expressa no microssistema da tutela coletiva para a assunção da condução do processo, tanto na fase do conhecimento, quanto na fase de cumpri- mento de sentença. A alternativa foi considerada correta. De todo modo, não existe uma rígida e inegociável obrigação de tutela processual do conflito coletivo. Todos os legitimados po- dem, ao longo do processo, concluir pela inviabilidade da deman- da, o que não se confunde com a inviável disposição do próprio direito material. Diante disso, a desistência pode estar devidamente funda- mentada, podendo, como reconhece o Superior Tribunal de Justiça, se demonstrar a manifesta improcedência da pretensão ou que a lide seja temerária (desistência motivada). Como entende a jurisprudência? Nos termos dos arts. 5., §3., e 15, da Lei n.. 7.347/85, nos casos de desis- tência infundada ou de abandono da causa por parte de outro ente legi- timado, deverá o Ministério Público integrar o pólo ativo da demanda. Em outras palavras, homenageando-se os princípios da indisponibilidade e obrigatoriedade das demandas coletivas, deve-se dar continuidade ação civil pública, a não ser que o Parquet demonstre fundamen- talmente a manifesto improcedência da ação ou que a lide revele-se temerária. (...) (Sri, REsp zoo.289/SP, Rel. Ministro Vasco Della Giustina (Desembargador Convocado do Tj/RS), Terceira Turma, julgado em 02/09/2010) Surge, nesse particular, a discussão acerca da possibilidade de desistência pelo Ministério Público, vez que caberia à instituição Cap. IV • Princípios do Processo Coletivo 43 assumir a ação quando todos os demais legitimados não demons- trassem interesse. Existem duas correntes: 1) Primeira corrente (José dos Santos Carvalho Filho): impossível a desistência pelo Parquet, semelhantemente à ação penal pú- blica, ante a indisponibilidade dos bens tutelados. 2) Segunda corrente (majoritária): admite-se a disponibilidade processual superveniente por todos os legitimados, inclusive o Ministério Público. Em havendo um controle judicial da desistência aparentemen- te infundada pelo membro do Ministério Público, discute-se qual deveria ser o proceder do juiz: 1) Primeira corrente (Hugo Nigro Mazzilli): o magistrado deveria remeter informações ao Conselho Superior do Ministério Pú- blico, para sua deliberação, por analogia ao arquivamento do inquérito civil (art. 90, §30, da LACP); 2) Segunda corrente (Gregório Assagra de Almeida, Ricardo de Barros Leonel, Daniel Assumpção Neves): a revisão caberia ao chefe institucional, em analogia com o art. 28 do Código de Processo Penal; 3) Terceira corrente (Motauri Chiocchetti de Souza): desnecessá- ria qualquer confirmação, devendo ser extinto imediatamente o processo, sem resolução do mérito. O Superior Tribunal de Justiça possui decisão na linha da pri- meira corrente. Como entende a jurisprudência? Somente a efetiva e fundamentada demonstração pelo Parquet de que a Ação Civil Pública é manifestamente improcedente ou temerária pode en- sejar seu arquivamento, que deverá ainda ser ratificada pelo Conselho Superior do Ministério Público, nos termos do art. 9. da Lei n. 7.347/85.(...) (STJ, REsp 1372593/SP, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, jul- gado em 07/05/2013) 9. NÃO TAXATIVIDADE O princípio da não taxatividade revela a abertura do sistema de tutela coletiva: a priori, qualquer direito pode ser tutelado no processo coletivo. 44 Processo Coletivo - Vol. 54 • José Roberto Mello Porto Sob o aspecto material, a tutela coletiva pela via principal é, a princípio, ilimitada. Embora, nas ações específicas pode haver res- trições a determinadas matérias e pedidos, como na ação popular, na ação de improbidade administrativa e no mandado de seguran- ça coletivo, o cenário geral, trazido pela ação civil pública, é amplo. Na redação originária, o art. io da LACP não trazia uma cláu- sula de abertura, uma vez que foi vetada pelo Executivo. Porém, o Código de Defesa do Consumidor acrescentou o atual inciso IV, que torna o rol exemplificativo - bem como desnecessárias as várias modificações aditivas promovidas. 1 0 que diz a lei? tACP: Art. 1. Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados: IV- a qualquer outro interesse difuso ou coletivo. Apesar da aparente limitação a direitos difusos e coletivos, não há dúvidas de que estão inseridos todos os direitos individuais homogêneos no objeto da ação civil pública. Como esse assunto foi cobrado em concurso? (CESPE - 2017 - DPE/AL - Defensor Público) A Defensoria Pública moveu ação civil pública, com base no Estatuto da Criança e do Adolescen- te, contra determinado município e em favor dos interesses de uma criança de quatro anos de idade, que não havia sido matriculada na educação infantil por falta de vagas. O réu alegou em contestação que a ação civil pública não pode ser utilizada para demandas individuais, que as vagas na educação infantil, em razão da demanda expressiva, não podem ser destinadas para casos específicos, devendo ser obser- vada uma ordem de inscrição, sob pena de violação ao princípio da igualdade perante a lei. Considerando essa situação hipotética, assinale a opção correta. a) A ação civil pública é inviável na medida em que no Estatuto da Criança e do Adolescente não há previsão expressa de ações de responsabilidade por ofensa aos direitos assegurados à criança e ao adolescente referentes ao não oferecimento ou oferta irregular do atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a cinco anos de idade. b) A medida intentada pela Defensoria Pública é descabida: a ação civil pública destina-se a tutelar interesses difusos ou coletivos, não Cap. IV • Princípios do Processo Coletivo 45 sendo instrumento jurídico-processual hábil a tutelar interesses individuais indisponíveis de apenas uma criança, de modo que o processo deve ser extinto sem resolução de mérito. c) A ação civil pública é viável na medida em que no Estatuto da Crian- ça e do Adolescente há previsão expressa de ações de responsabi- lidade por ofensa aos direitos assegurados à criança e ao adoles- cente referentes ao não oferecimento ou oferta irregular do ensino obrigatório e de atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a cinco anos de idade. d) A causa terá seguimento, visto que é cabível a ação civil pública na hipótese, mas, no julgamento do mérito, os argumentos do réu deverão ser acolhidos, já que conferir tratamento desigual à crian- ça implica violação ao princípio da igualdade, o que não encontra amparo na norma especial do Estatuto da Criança e do Adolescente. A alternativa C foi considerada correta. No entanto, o ordenamento, após essa etapa de abertura, acabou por admitir restrições no objeto da ação civil pública. A medida provisória 2.180/01 inseriu o parágrafo único no art. 1. da LACP, vedandoque a demanda tenha como objeto: a) Tributos e contribuições previdenciárias; b) FGTS e outros fundos de natureza institucional cujos be- neficiários sejam individualmente determinados. A finalidade da norma passa, naturalmente, por enfraquecer o processo coletivo e a resolução global de conflitos em desfavor do Poder Público - o que é criticado pela doutrina, por ofender a inafastabilidade da jurisdição. Algumas observações são importantes. A primeira é que a lei nada diz a respeito de tarifas, que re- muneram serviços públicos concedidos, o que não se confunde com tributos (impostos e taxas). Como entende a jurisprudência? O Ministério Público ostenta legitimidade para a propositura de Ação Civil Pública em defesa de direitos transindividuais, como sói ser a pretensão de emissão de faturas de consumo de energia elétrica, com dois códigos de leitura ótica, informando de forma clara e ostensiva os valores cor- respondentes à contribuição de iluminação pública e à tarifa de energia elétrica, ante a ratio essendi do art. 129, III, da Constituição Federal, arts. 46 Processo Coletivo - Vol. 54 • José Roberto Meio Porto 81 e 82, do Código de Defesa do Consumidor e art. 10, da Lei 7.347/85 (ST1, REsp Loio.i3o/MG, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma, DJ de 24/11/10). A segunda é que os tribunais superiores admitem ação coletiva a envolver matéria tributária, quando o resultado puder beneficiar o erário (quando se pleiteia a anulação de acordo tributário ou de concessão ilegal de isenções e benefícios em geral, por exemplo). 1 Como entende a jurisprudência? No STF: (...) O Parquet tem legitimidade para propor ação civil pública com o objetivo de anular Termo de Acordo de Regime Especial - TARE, em face da legitimação ad causam que o texto constitucional lhe confere para de- fender o erário. IV - Não se aplica à hipótese o parágrafo único do artigo 10 da Lei 7.347/1985. (...) (STF, RE 576155, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Tribunal Pleno, julgado em 12/08/2010, Repercussão Geral - Mérito). No STI: (...) O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE 576.155/DF, submetido ao rito da repercussão geral (art. 542-B do CPC), decidiu que o Ministério Público possui legitimidade para propor ação civil pública com o objeto de anular Termo de Acordo de Regime Especial - TARE, em face da legitimação ad causam que o texto constitucional lhe confere para defender o erário. 3. Aplicação do mesmo entendimento à hipótese em tela, na qual se busca, pela via da ação civil pública, a anulação de ato administrativo de efeitos concretos praticado pelo Secretário de Fazenda e Planejamento do Distrito Federal, autorizando a concessão de emprésti- mo para pagamento de 'CMS como consequência da adesão da empresa beneficiada ao Programa de Promoção do Desenvolvimento Econômico Integrado e Sustentável do Distrito Federal - PRO-OF, com suposta renúncia fiscal por parte daquele ente federativo.(...) (STJ, REsp 871.473/DE, Rel. Mi- nistra Eliana Calmon, Segunda Turma, julgado em 20/08/2013). Como esse assunto foi cobrado em concurso? (CESPE - 2019 - MPC/PA - Procurador)A respeito das competências e da legitimidade do Ministério Público no âmbito de ação civil pública, é correto afirmar, à luz do entendimento do STF, que o Ministério Público tem legitimidade para questionar, em sede de ação civil pública, a concessão de benefício fiscal a determinada empresa. A alternativa foi considerada correta. (CESPE - 2019 - DPE/DF - Defensor Público) O Ministério Público detém legitimidade ativa ad causam para propor ação civil pública que vise anular termo de acordo de regime especial (TARE) firmado entre ente federativo e determinados contribuintes. A alternativa foi considerada correta. Cap. iv • Princípios do Processo Coletivo 47 A terceira atenta para o fato de que a vedação prevista em lei é sua referência ao pedido da ação, não sendo proibida a aborda- gem de questões tributárias ou relativas aos fundos na causa de pedir. Como entende a jurisprudência? Hipótese de ação civil pública que se encontra fora do alcance da veda- ção prevista no parágrafo único do art. 1. da Lei n. 7.347/85, porquanto a matéria tributária figura como causa de pedir, e não como pedido principal, sendo sua análise indispensável para que se constate eventual ofensa ao princípio da legalidade imputado na inicial ao agente político tido como ímprobo. (ST], REsp 1387960/SP, Rel. Ministro Og Fernandes, Se- gundo Turma, julgado em 22/05/2014) Quanto à matéria previdenciária, o Supremo Tribunal Federal já admitiu ação coletiva pleiteando o acesso à informação junto ao INSS e o Superior Tribunal de justiça autorizou o ajuizamento buscando a revisão de benefício previdenciário, já que não dizem respeito a contribuições previdenciárias. Por sua vez, o pedido envolvendo os fundos institucionais com beneficiários individualizáveis, destacadamente o FGTS, também so- fre interpretação crítica. No Supremo Tribunal Federal, existem decisões concluindo pela viabilidade da ação civil pública que discuta expurgos inflacionários em contas vinculadas ao fundo e, recentemente, a corte fixou tese jurídica em julgamento com repercussão geral, no sentido da possi- bilidade de tutela de direitos sociais relativos ao FGTS. Como entende a jurisprudência? 3. A demanda intenta o resguardo de direitos individuais homogêneos cuja amplitude possua expressiva envergadura social, sendo inafastcível a legitimidade do Ministério Público para ajuizar a correspondente ação civil pública. 4. É o que ocorre com as pretensões que envolvam tributos, contribuições previdenciárias, o Fundo de Garantia do Tempo de Servi- ço - FGTS ou outros fundos de natureza institucional cujos beneficiários podem ser individualmente determinados (parágrafo único do art. da Lei 7.347/1985). 5. Na hipótese, o Tribunal Regional Federal da 5. Região, pautado na premissa de que o direito em questão guarda forte conotação social, concluiu que o Ministério Público Federal detém legitimidade ativa para ajuizar ação civil pública em face da Caixa Econômica Federal, uma vez que se litiga sobre o modelo organizacional dispensado go FGTS, má- 48 Processo Coletivo - Vol. 54 • José Roberto Mello Porto xime no que se refere à unificação das contas fundiárias dos trabalhado- res. 6. Recurso Extraordinário a que nega provimento. Tese de repercussão geral proposta: o Ministério Público tem legitimidade para a propositura de ação civil pública em defesa de direitos sociais relacionados ao FGTS. (STF, RE 643978, Relator(a): Min. Alexandre de Moraes, Tribunal Pleno, jul- gado em 09/10/2019). to. ATIPICIDADE, MÁXIMA AMPLITUDE OU ABSOLUTA INSTRUMENTALIDADE Sob o aspecto processual, um dos princípios mais importantes para a tutela coletiva é o da atipicidade, que decorre do princípio constitucional do acesso à justiça (art. 50, XXXV, da CF) e, especifica- mente no núcleo duro, do art. 83 do CDC e no art. 30 da LACP. 0 que diz a lei? LACP: Art. 3. A ação civil poderá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer. CDC: Art. 83. Para a defesa dos direitos e interesses protegidos por este código são admissíveis todas as espécies de ações capazes de propiciar sua adequada e efetiva tutela. Primeiramente, extrai-se dessa norma a noção de que é possí- vel pleitear qualquer espécie de tutela jurisdicional nas demandas coletivas: declaratória, (des)constitutiva, condenatória e, para os que admitem, executiva e mandamental. Nessa linha, o Superior Tribunal de justiça já realizou a me- lhor interpretação do art. 83 do CDC, lendo a conjunção alternativa ("ou") como aditiva. Como entende a jurisprudência? A exegese do art. 3. da Lei 7.347/85 ("A ação civil poderá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer"), a conjunção 'ou' deve ser considerada com o sentido de adi- ção (permitindo,com a cumulação dos pedidos, a tutela integral do meio ambiente) e não o de alternativa excludente (o que tornaria a ação civil pública instrumento inadequado a seus fins). (...) A exigência para cada espécie de prestação, da propositura de uma ação civil pública autônoma, além de atentar contra os princípios da instrumen- talidade e da economia processual, ensejaria a possibilidade de senten- ças contraditórias para demandas semelhantes, entre as mesmas partes, com a mesma causa de pedir e com finalidade comum (medidas de tutela • Princípios do Processo Coletivo 49 ambiental), cuja única variante seriam os pedidos mediatos, consistentes em prestações de natureza diversa. (Sri, REsp 625.249/PR, Rel. Ministro Luiz Fux, Primeira Turma, julgado em 15/08/2006) / Como esse assunto foi coorado em concurso? (VUNESP - 2019 - Prefeitura de Poá - Procurador Jurídico) Quanto ao dano ambiental, não é admitida a condenação do réu à obrigação de fazer ou à de não fazer cumulada com a de indenizar, devendo ser propostas ações distintas para cada um dos objetos da demanda. A alternativa foi considerada incorreta. Em segundo lugar, decorre desse princípio que a legitimidade definida pelo microssistema não deve ser limitada a determinada espécie de ação. Assim, embora a Defensoria Público e o Ministério Público não sejam legitimados, pela lei, ao ajuizamento de ação popular ou à impetração de mandado de segurança coletivo, a atipicidade reco- menda que, se tais ações forem as mais aptas à solução do conflito coletivo, se admita sua promoção - legitimidade conglobante (Her- mes Zaneti jr). Por fim, a atipicidade, aliada a outros valores, autoriza a im- petração coletiva de remédios constitucionais mesmo sem menção expressa por parte do ordenamento, como no caso do habeas cor- pus coletivo, admitido pelo STF e pelo STJ. Como entende a jurisprudência? STF: I - Existência de relações sociais massificadas e burocratizadas, cujos problemas estão a exigir soluções a partir de remédios processuais cole- tivos, especialmente para coibir ou prevenir lesões a direitos de grupos vulneráveis. H - Conhecimento do writ coletivo homenageia nossa tradição jurídica de conferir a maior amplitude possível ao remédio heroico, co- nhecida como doutrina brasileira do habeas corpus. Ill - Entendimento que se amolda ao disposto no art. 654, § 2°, do Código de Processo Penal - CPP, o qual outorga aos juízes e tribunais competência para expedir, de ofício, ordem de habeas corpus, quando no curso de processo, verificarem que alguém sofre ou está na iminência de sofrer coação ilegal. IV - Com- preensão que se harmoniza também com o previsto no art. 580 do CPP, que faculta a extensão da ordem a todos que se encontram na mesma si- tuação processual. V - Tramitação de mais de loo milhões de processos no Poder judiciário, a cargo de pouco mais de 16 mil juízes, a qual exige que 50 Processo Coletivo - Vol. 54 • José Roberto Mello Porto o STF prestigie remédios processuais de natureza coletiva para emprestar a máxima eficácia ao mandamento constitucional da razoável duração do processo e ao princípio universal da efetividade da prestação jurisdicio- nal VI - A legitimidade ativa do habeas corpus coletivo, a princípio, deve ser reservada àqueles listados no art. 12 da Lei 13.30o/2016, por analogia ao que dispõe a legislação referente ao mandado de injunção coletivo. VII - Comprovação nos autos de existência de situação estrutural em que mulheres grávidas e mães de crianças (entendido o vocábulo aqui em seu sentido legal, como a pessoa de até doze anos de idade incompletos, nos termos do art. 2. do Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA) estão, de fato, cumprindo prisão preventiva em situação degradante, privadas de cuidados médicos pré-natais e pós-parto, inexistindo, outrossim berçários e creches para seus filhos. (...) XV - Extensão da ordem de ofício a todas as demais mulheres presas, gestantes, puérperas ou mães de crianças e de pessoas com deficiência, bem assim às adolescentes sujeitas a medi- das socioeducativas em idêntica situação no território nacional, observa- das as restrições acima. (HC 143641, Relator(a): Min. Ricardo Lewandowski, Segundo Turma, julgado em 20/02/2018) STJ: Trata-se de Habeas Corpus Coletivo "em favor das crianças e adoles- centes domiciliados ou que se encontrem em caráter transitório dentro dos limites da Comarca de Cajuru-SP" contra decisão liminar em idêntico remédio proferida pela Camara Especial do Tribunal de Justiça do Esta- do de São Paulo. Narra-se que a Juíza da Vara de Infância e Juventude de Cajuru editou a Portaria 01/2011, que criaria um "toque de recolher", correspondente à determinação de recolhimento, nas ruas, de crianças e adolescentes desacompanhados dos pais ou responsáveis: a) após as 23 horas, b) em locais próximos a prostíbulos e pontos de vendas de drogas e c) na companhia de adultos que estejam consumindo bebidas alcoólicas. A mencionada portaria também determina o recolhimento dos menores que, mesmo acompanhados de seus pais ou responsáveis, sejam flagra- dos consumindo álcool ou estejam na presença de adultos que estejam usando entorpecentes. (...) Habeas Corpus concedido para declarar a ile- galidade da Portaria 01/2011 da Vara da Infância e Juventude da Comarca de Cajuru. (HC 2o7.72o/SP, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 01/12/2011) Como esse assunto foi cobrado em concurso? (FUNDEP - 2019 - DPENIG - Defensor Público) O microssistema de tutela coletiva pode ser aplicado na seara penal, a exemplo da utilização do habeas corpus coletivo, porém, de modo excepcional e justificado. A alternativa foi considerada correta. Cap. IV • Princípios do Processo Coletivo 51 OBRIGATORIEDADE TEMPERADA OU MITIGADA (INDISPONIBILIDADE) A tutela coletiva é, em grande parte dos casos, voltada a in- teresses públicos, especialmente os primários, que ostentam na- tureza indisponível. Por conta disso, tradicionalmente se atribui traços de obrigatoriedade à proteção desses bens jurídicos, re- conhecendo-se um princípio da indisponibilidade. No entanto, soa mais correto mencionar o princípio da obrigatoriedade temperada ou mitigada. Primeiramente, a obrigatoriedade se refere à tutela coletiva, não ao ajuizamento de ação coletiva. Os instrumentos extrajudiciais merecem prioritária atenção por parte dos legitimados. Além disso, no curso do processo, o legitimado pode perceber que a pretensão se enfraqueceu, afigurando-se temerário o pros- seguimento da demanda. Em casos tais, desaparece a obrigatorie- dade, desde que a desistência da ação se mostre fundada - o que será verificado nos moldes do que orienta o princípio (regra) da disponibilidade motivada. u. DISCRICIONARIEDADE CONTROLADA Aponta parte da doutrina (Hugo Mazzilli), como um princípio autônomo, que o Ministério Público, pela independência funcional de seus membros e pela autonomia institucional, decide quando intervém em uma ação coletiva, identificando interesse público, ou não - hipótese em que funcionará um sistema de controle próprio. 13. OBRIGATORIEDADE DA EXECUÇÃO Uma vez formado o título executivo, existe sistemática voltada à sua satisfação de forma obrigatória, por meio do princípio da obrigatoriedade da execução. O microssistema menciona a exis- tência de dever funcional do Ministério Público e faculdade dos demais legitimados. Quanto aos direitos transindividuais (difusos e coletivos), a Lei da Ação Civil Pública prevê que, se a associação autora não promo- ver a execução em sessenta dias, contados do trânsito em julgado, deverá fazê-lo o Ministério Público ou poderão fazê-lo os demais legitimados. Na Lei da Ação Popular, existe um marco inicial diverso: 52 Processo Coletivo - Vol. 54 • José Roberto Mello Porto contam-se os sessenta dias a partir da decisão condenatória de segunda instância. 1 0 que diz a lei? LACP: Art. 15. Decorridos sessenta