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Importância da Intuição nas Organizações

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AULA 4 
TOMADA DE DECISÃO 
E INTUIÇÃO 
Prof. Fábio Eduardo da Silva 
 
 
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INTRODUÇÃO 
Nesta aula, vamos refletir sobre a importância da intuição em várias áreas. 
Você já deve ter percebido que decidimos intuitivamente na maior parte do tempo. 
Nosso sistema é rápido, eficaz, sem esforço consciente ou deliberativo 
(Kahneman, 2012). Não temos estrutura para decidir conscientemente na maior 
parte do tempo, pois simplesmente travaríamos! Então a primeira reflexão de 
fazemos é que a intuição é muito importante, de fato essencial ao nosso modo 
usual de decidir, independente do contexto. 
Neste texto, vamos focar em algumas áreas nas quais a intuição parece se 
destacar. Vamos explorar o contexto organizacional no qual a intuição ocorre: a 
4ª Revolução Industrial. O que a intuição tem a ver com ela? Estaria também a 
consciência humana evoluindo exponencialmente, num movimento transformador 
massivo? Trata-se de uma mudança de paradigma e a intuição está nele, tanto 
num nível pessoal quanto organizacional! Por exemplo, a administração intuitiva; 
isso é possível? Se sim, que efeitos produz, para que é usada? E quais países 
mais usam a intuição no mundo? E o Brasil? 
Fenômenos paranormais ou anômalos, ou ainda intuição-psi, você 
vivenciou alguma coisa desse tipo? É muito possível que sim, visto que em 
estudos brasileiros, cerca de 8 a cada 10 pessoas relatam ter tido ao menos um 
deles! Mas esses fenômenos existem mesmo? Se sim, podem ser usados nas 
organizações? 
Observe que a intuição parece ter muitas faces e utilidades! Nas ocupações 
de risco, por exemplo: na enfermagem, clínica, diagnóstico, terapia. Entre os 
bombeiros, no exército e na aplicação da lei. E por fim, no ensino. Seria a intuição 
boa ou ruim para a educação? Que implicações teria ela para essa área? 
TEMA 1 – CONTEXTO DA INTUIÇÃO NAS ORGANIZAÇÕES 
1.1 A intuição no contexto da 4ª Revolução Industrial 
O contexto da intuição nas organizações é a 4ª Revolução Industrial! 
Marcada pela disrupção tecnológica sem precedentes, se, por um lado, está 
modificando completamente a forma de funcionamento do mundo (nos negócios, 
no governo e política, na educação, na cultura e sociedade em geral), por outro, 
está trazendo novos problemas que exigem novas soluções. A inteligência 
 
 
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artificial (IA) está cada vez mais natural no nosso dia a dia e vai se tornar comum 
nas demais tecnologias; a internet das coisas (IoT), na qual nossos objetos se 
interconectam uns com os outros por meio da internet; as realidades virtual e 
aumentada, transportando-nos para multiversos cibernéticos; a análise massiva 
de dados (big data) produzida por toda essa interligação; as nano, bio e 
neurotecnologias, que vão nos tornar híbridos com as máquinas (em certa medida 
já o somos, smartphones são extensões de nosso cérebro, que é muito plástico) 
e revolucionar vários campos; os sistemas inovadores de produção e 
armazenamento de energia; drones, para as mais impensadas funções; 
impressoras 3D, que imprimirão de tudo, seja físico ou biológico (uma das formas 
da biologia sintética), micro ou macroscópico; a computação cognitiva e quântica; 
e, como não poderia faltar, a robótica, presente na automação massiva das 
indústrias (que reduzirá ao extremo seus quadros de funcionários) e nas mais 
diferentes interfaces com humanos (Filatro et al., 2019; Fava, 2018; Perasso, 
2016; Saiba..., 2019). 
A 4ª Revolução Industrial está ainda nos seus primórdios, o que significa 
que as principais mudanças ainda estão por vir. Entre elas, talvez a mais grave 
seja a perda de milhões de vagas de trabalho, em especial nos países mais 
industrializados. Muitos empregos vão se transformar, extinguir-se, mas outros 
tantos surgirão. Assim, a requalificação profissional representa um grande desafio 
e provavelmente vai fazer surgir outro tipo de desigualdade social, entre as 
pessoas com baixa e elevada qualificação, esta essencial para a empregabilidade 
nessa nova fase. Esse cenário de futuro cada vez mais presente, tem Volatilidade 
intensa, Incertezas crescentes, Complexidade nunca vista e Ambiguidade 
emergente (VUCA) e exigirá, de fato já está exigindo, novas habilidades e o 
aprimoramento de inteligências aplicáveis a um contexto extremamente 
novo (Fava, 2016; Época, 2019). 
Fava (2016) fala das inteligências necessárias para o século XXI, dentre as 
quais a inteligência cognitiva, ligada à nossa capacidade de raciocinar, planejar, 
sintetizar, resolver problemas e tomar decisões, pensar de forma abstrata e 
categorizar. Também, o que se faz cada vez mais necessário, aprender 
rapidamente com a experiência, para se adaptar a um mundo novo e 
aceleradamente mutável. Essa é uma área onde a inteligência artificial, a 
inteligência cognitiva e a aprendizagem de máquinas vão atuar amplamente, 
podendo substituir inúmeras atividades realizadas por seres humanos, os quais 
 
 
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precisam desenvolver suas habilidades cognitivas. Para isso, a educação precisa 
se atualizar para contribuir com esse desenvolvimento. 
 Como estamos no plano das funções cognitivas, também conhecidas 
como funções executivas, adicionamos uma habilidade crucial relacionada a essa 
área, a atenção. Em meio à multiplicidade e à crescente quantidade de 
estímulos/informações a que estamos submetidos (infoxicação), treinar a atenção 
se faz crucial. Para que não nos percamos na ilusão da multitarefa, na dispersão 
do foco e no fascínio absorvente das novas tecnologias, o treino estimula a 
atenção, o centramento, e a presentificação se apresenta como necessidade 
adaptativa atual, pois está relacionada tanto à percepção quanto ao controle ou 
regulação emocional, o que inclui a gestão do stress e ansiedade, e 
consequentemente a manutenção da própria saúde física, mental e emocional. 
Neste tema, devemos destacar as técnicas de mindfulness, que têm sido 
aplicadas nas mais diferentes áreas, tais como negócios, educação, segurança e 
saúde (Marti; Garcia-Campayo; Demarzo, 2016; Loughton; Morden, 2015). 
O treino estimula a atenção também se relaciona diretamente com a força 
de vontade, que Fava (2018) nos indica como inteligência volitiva e inclui a 
proatividade como elemento crucial para empregabilidade em tempo de mudança, 
no qual atividades que não requerem criatividade, ou seja, que podem ser 
repetidas facilmente, serão substituídas máquinas ou programas: 
Os profissionais poderão enfrentar a faina de maneira muito 
diferente: uns se encarregam de lançar novas iniciativas, gerar 
mutações construtivas e liderar de forma dinâmica e ativa. Outros tentam 
manter a conjuntura, se conformar com o tradicional, ficar apenas com a 
cabeça acima da água, serem bons Guardiões do status quo. Os 
primeiros abordam as questões de frente e trabalham para uma 
transmutação construtiva. Os segundos seguem a corrente, são 
empurrados pelo fluxo da multidão sem qualquer diferencial e conduzem 
passivamente os negócios de forma conservadora em uma 
enfadonha rotina. [...] Proatividade, dinamismo e iniciativa se resumem 
no que denominaria de inteligência volitiva. [...] Nesse mundo 
tecnológico, a mais notável característica para o profissional do Futuro é 
o QV [Quociente volitivo] (Fava, 2018, p. 124-125). 
 É esse tipo de inteligência que permite o processo de inovação, de 
transformações e metamorfoses essenciais à competitividade e à sobrevivência 
das organizações. Implica também a eficiência, ou seja, fazer a coisa da maneira 
correta, fazer bem feito, gerando eficácia, ou seja, o resultado, o alcance das 
metas, daquilo que foi planejado. Na concorrência crescente dessa nova fase, que 
inclui não apenas outros profissionais e outras organizações, mas também as 
máquinas inteligentes, a inteligência volitiva se faz essencial (Fava, 2018). 
 
 
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Como comentamos, o treino da atenção é a base para esse tipo de 
inteligência, visto que a motivação é em grande parte dirigidapor processos 
afetivos, do tipo dow up, ou seja, de estruturas subcorticais (profundas no cérebro) 
para estruturas corticais (na superfície do cérebro). Atenção reflexa, automática 
também segue o mesmo processo, sendo definida de forma externa pela 
qualidade dos estímulos, tal como ocorre com as reações emocionais. Mas a 
atenção executiva segue o processo inverso (tipo top-dow), está relacionada à 
vontade consciente e pode e de fato deve ser treinada. 
Saiba mais 
Para conhecer mais sobre o midfulness e suas técnicas, indicamos as 
seguintes obras: 
MARTI, A. C. I; GARCIA-CAMPAYO, J.; DEMARZO, M. Mindfulness e 
ciência: da tradição à modernidade. São Paulo: Palas Athena, 2016. 
WALLACE, B. A. A revolução da atenção: revelando o poder da mente 
focada, Vozes, 2018. 
Fava (2018) também nos recorda da inteligência emocional, muito 
conhecida nos meios organizacionais e que tem sido foco de treinamentos cada 
vez mais frequentes. As emoções são cruciais em praticamente tudo o que 
fazemos. Influenciam (dirigem) nossa atenção, memória, aprendizado, 
julgamento, tomada de decisão, resolução de problemas, motivação e seu 
resultado direto, ação ou prática. 
Também são cruciais nos relacionamentos interpessoais, em especial com 
relação à comunicação não verbal. Tamanha sua importância que se faz 
necessário que desenvolvamos a inteligência para lidar com ela. A inteligência 
emocional pode ser sintetizada em: 
a. autopercepção, ou perceber as emoções em nós mesmos; 
b. autogestão emocional, ou gerir nossas próprias emoções para que se 
alinham as metas e objetivos que temos; 
c. percepção das emoções das outras pessoas, por exemplo, no processo da 
empatia; e 
d. lidar com a emoção das outras pessoas, nos relacionamentos 
interpessoais, com especial destaque para a gestão de conflitos (Goleman, 
2001; Gonzaga, 2018). 
 
 
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Por fim, Fava (2018) apresenta-nos a inteligência decernere, ou seja, 
aquela ligada à capacidade de discernir, que influenciará diretamente a tomada 
de decisão, particularmente em nosso ambiente VUCA. 
A inteligência decernere é faculdade de saber examinar, testar 
proposições de qualquer tipo que sejam oferecidas para aceitação, a fim 
de descobrir se elas correspondem ou não a realidade. Embora abrange 
uma ampla gama de atividades mentais, como pesquisa, escolha de 
informações, raciocínio efetivo, pensamento sistêmico, resolução de 
problemas e tomada de decisões, a parte medular da inteligência 
decernere refere-se a reivindicações de questionamento, da crítica, do 
discernimento em sua essência em vez de aceitá-las ao valor nominal. 
(Fava, 2018, p. 127) 
Essa inteligência, como bem enfatiza o autor, não conta com pesquisas 
acadêmicas, ao menos não com esse nome, mas, como você pode perceber, esse 
é o tipo de inteligência que mais se aproxima dos processos intuitivos, os quais 
têm como característica o funcionamento espontâneo e não consciente, por um 
lado, e por outro, necessitam de processos racionais, cognitivos, para que possam 
ser utilizados com eficiência e eficácia. Assim, reduz-se a infinidade de vieses e 
processos de autoengano, naturais ao nosso processamento mental. Para que 
possamos ter senso crítico em relação às informações externas, ou seja, ao nosso 
julgamento em relação às informações do mundo, precisamos desenvolver o 
senso de autocrítica, aquele pelo qual observamos nossos equívocos e nos 
tornamos mais aptos para discernir, julgar, decidir e, consequentemente, agir, 
visando mais eficiência e eficácia. 
E, mais ainda, é crucial para que possamos equiparar nosso 
desenvolvimento interior com aquele que acontece fora de nós. A maior parte da 
pesquisa científica está dedicada ao domínio de tecnologias relacionadas ao 
mundo exterior a nós mesmos(as). Há também muitos estudos sobre a nossa 
fisiologia e, em particular, sobre nossos processos neuronais. Proporcionalmente, 
é muito pequena a parcela de pesquisa dedicada a como desenvolvemos nossas 
capacidades internas, emocionais, cognitivas e intuitivas. Esse contraste pode ser 
perigoso. Parece que, se não cuidarmos de nós mesmos(as), de nosso 
desenvolvimento interno, não cuidamos bem uns dos outros, não conquistamos 
harmonia interpessoal, seja ela em nível local ou global. Tampouco conseguimos 
harmonia com o meio ambiente. 
Dentre as principais preocupações do Fórum Econômico Mundial de 2019, 
estão as tensões geopolíticas, potencialmente criadoras de conflitos sociais, 
econômicos e até mesmo bélicos. Também existe a preocupação com a 
 
 
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sustentabilidade de nosso planeta em função dos evidentes desequilíbrios 
climáticos não apenas previstos, mas, em alguns casos, já em curso. Esse fórum, 
naturalmente também dedica muito de seu foco à 4ª Revolução Industrial. Por 
exemplo, como estimulá-la em diferentes situações geopolíticas nos países em 
desenvolvimento, como o Brasil (Saiba..., 2019). 
1.2 A intuição e a evolução da consciência: vivemos um movimento 
transformador massivo? 
Toda essa fantástica evolução tecnológica econômica precisa ser 
acompanhada por uma evolução da consciência. Isso está ocorrendo? 
Se, por um lado, estamos numa época em que ocorre a maior produção e 
acumulação de riqueza jamais vistas, por outro, a desigualdade de recursos e de 
oportunidades está em proporções avassaladoras. Contrastes entre abundância 
e carência ainda caracterizam nosso desenvolvimento coletivo. Segundo a 
Organização Mundial da Saúde, 2,2 bilhões de pessoas têm sobrepeso em seus 
corpos, enquanto 850 milhões de pessoas passam fome. Quatro bilhões de 
pessoas têm smartphones, mas 800 milhões não têm eletricidade. A economia 
extrativa é predadora de nosso planeta, arriscando a vida das novas gerações. 
Nós nos aproximamos de um aquecimento médio da temperatura superior a dois 
graus, o que é preditor de catástrofes inevitáveis no plano ambiental (Marins, 
2019). 
Se considerarmos esses e outros dados, poderíamos ter uma visão 
pessimista do contexto atual. Lembre-se de que, por razões filogenéticas, 
tendemos a valorizar mais os riscos, as dificuldades e as perdas do que suas 
contrapartes. No entanto há razões para acreditar que efetivamente estamos 
passando por uma transformação na consciência Mundial, uma nova consciência, 
ou, nas palavras de Marins (2019), um movimento transformador massivo, que 
caracteriza a Era do Impacto, nome de sua obra, que combate a nossa ignorância 
e apatia e incita-nos a colaborar com esse movimento, enfatizando que “todo 
mundo pode mudar o mundo”! Inspirado na obra cinematográfica (filme 
documentário) de Maria Mourão (Quem se importa), ganhadora de vários prêmios 
internacionais, Marins fala-nos sobre o momento especial que estamos vivendo. 
Segundo ele, a melhor época da humanidade. 
 
 
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Como o mundo está mais transparente, para o mal e para o bem tanto 
exsudando diariamente o que tem de ruim quanto multiplicando tudo que 
há de bom - que não é pouco -, temos que eleger minuto a minuto o que 
vamos impulsionar: egoísmo, etnocentrismo, utilitarismo, ódio, tribalismo 
e nacionalismo ou compreensão, tolerância, amor, empatia, diversidade, 
colaboratividade e globocentrismo. Na dinâmica da hiperconexão, na 
lógica das conexões ecossistêmicas, cabe a nós, tão somente, 
impulsionar problemas ou coedificar soluções. Mas Livres, mais 
informados, mais conectados e mais conscientes, nossa 
responsabilidade com toda a humanidade aumenta. Nossas ações 
individuais se multiplicam com facilidade e contam agora mais do que 
nunca. A liberdade conquistada, física ou digital, não é o território do 
conforto como pensam alguns. É o território da decisão, onde o 
pensamento, ao ser compartilhado, se torna ação massiva. (Marins, 
2019, p. 31-32) 
Nesse movimento transformador massivo ocorre a integração de milhões 
de pessoas, preocupadas, por exemplo, com a degradação ambiental e o 
esgotamento dos recursos que poderão levarao fim da sobrevivência humana! O 
Homo economicus, já bastante idoso, com cerca de 250 anos, parece dar lugar 
ao Homo solidários, noeticus ou emphaticus. Milhares de empreendedores já 
definem seu sucesso principalmente pelo impacto social e socioambiental voltado 
a beneficiar toda a sociedade, sem ser os maiores do mundo e sim os melhores 
para o mundo! Grandes iniciativas que beneficiam milhões de pessoas convivem 
com pequenas e médias. Diferentes tamanhos, sempre ideias transformadoras, 
são capazes de descentralizar soluções, de promover mudanças efetivas em toda 
a sociedade e economia. São os designers do futuro: 
Universo de seres humanos empáticos, empreendedores conscientes, 
líderes integrais e cidadãos colaborativos, atuando em rede e 
sistematicamente desfrutando possibilidades inéditas, local ou 
globalmente. [...] reflexo de um novo nível de consciência da 
humanidade. [...] ocorrências relacionadas a um momento histórico 
global, uma era de transição planetária, o momento auspicioso para 
nossa espécie. [...] é um gigantesco movimento transformador massivo 
que está em curso, acessível a todos e entretecido de fios invisíveis. É 
a era do impacto. (Marins, 2019, p. 31-32) 
Em sua obra, Marins (2019) não se apresenta como otimista visionário, mas 
mostra dados impressionantes, seja pela qualidade ou pela quantidade, que 
suportam suas ideias. Esse processo ao qual se refere o autor é o movimento 
transformador da liberdade, o movimento transformador da economia e o 
movimento transformador da consciência. Em termos de liberdade, fala-nos sobre 
o quanto foi conquistado em termos de nossas necessidades fisiológicas (física), 
 
 
9 
da equidade de raça e de gênero e da liberdade política (cívica) e religiosa 
(espiritual). 
A segunda dimensão, da economia, indica que nosso mercado capitalista 
migra para uma nova fase, a do pós-capitalismo. As transformações profundas 
que estão ocorrendo na forma de pensar e de agir, incluindo a dimensão da 
inovação e as ferramentas tecnológicas para um novo futuro: “tinge a economia 
estatal, privada e da ecologia, com movimentos de evolução dessa percepção e 
a sua associação com empreendedorismo social e os novos designs econômicos” 
(Marins, 2019, p. 38). 
Por fim, o autor considera que a mais importante dimensão desse 
movimento transformador massivo é aquela relacionada à consciência! A sua 
evolução permite o aperfeiçoamento coletivo e a conquista de um nível de 
liberdade pós-convencional. “Essa terceira subdimensão se dedica aos 
movimentos de evolução que vão do egocentrismo, passam pelo etnocentrismo e 
chegam ao globo-centrismo” (Marins, 2019, p. 38). 
Para o autor, a descentralização, a exponencialidade e a inovação operam 
tanto quanto pressupostos quanto na geração de resultados. Tem sido assim para 
milhões de cidadãos que conquistam uma nova capacidade de pensar e de agir, 
descentralizando decisões, soluções e o uso de recursos e informações. Estas, 
que até bem pouco tempo estavam centralizadas pelo governos, corporações e 
universidades, agora estão distribuídas em torno do planeta de forma exponencial 
(Marins, 2019, p. 38): 
essas tremendas transformações que ocorrem em todo o mundo estão 
associadas a elevação do nível de consciência da humanidade, 
fenômeno evolutivo da espécie humana que vem sendo estudado nas 
últimas décadas por pesquisadores da psicologia do desenvolvimento. 
Essas pesquisas indicam a existência de uma curva exponencial no 
estágio de desenvolvimento da consciência de todos os indivíduos. 
Pelo que vimos até o momento, a percepção/valorização da intuição, como 
parte essencial de nosso funcionamento (em especial da tomada de decisão), e 
seu uso deliberado e relativamente consciente são parte dessa evolução da 
consciência. Permitindo-me especular, talvez seja a intuição um dos principais 
propulsores dessa evolução, senão o maior. Vejamos mais sobre isso. 
 
 
 
 
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1.3 A intuição na mudança de paradigma 
Como comentamos, habitamos a mudança (volatilidade), incerteza, 
complexidade e ambiguidade (conflito) – VUCA. O mundo não apenas muda 
rápido, mas cada vez mais rápido. Os padrões predominantemente racionais de 
pensamento não são mais suficientes para compreendê-lo como está ou no que 
ele se tornará, nem para lidar com esses quadros emergentes (Parikh; Neubauer; 
Lank, 2003, Filatro et al., 2019). 
Para lidar com mudanças tão rápidas, é necessário certo sentido de 
estabilidade interior; para lidar com a complexidade é necessário uma 
âncora de simplicidade; para lidar com a incerteza, a pessoa tem de 
desenvolver um nível mais profundo de sistema de apoio interno; e para 
lidar com o conflito faz-se necessário uma capacidade especial de 
síntese, um nível mais profundo de percepção. A intuição parece 
facilitar o cultivo dessas qualidades. (Parikh; Neubauer; Lank, 2003, p. 
44, grifo nosso) 
Quadro 1 – O papel da intuição ao se lidar com a mudança: 
 
 
 
Fonte: Parikh; Neubauer; Lank, 2003, p. 44 
A mudança global em curso pode ser vista como parte da evolução (da 
consciência) humana. Passamos por várias revoluções, parece que estamos 
agora nos dirigindo para a revolução da “consciência”, para conquistarmos mais 
percepção de nosso mundo interior. Assim, a intuição é vista como um nível mais 
profundo de consciência, associado a uma informação distinta, não acessível ao 
nível dos sentidos. A 4ª Revolução Industrial é um processo coletivo fruto de nossa 
evolução intelectiva e inventiva, é externa e traz impactos muito fortes, mas ainda 
não conhecidos. O desenvolvimento da intuição, ou melhor, a conscientização e 
seu aprimoramento podem ser considerads também uma revolução, mas 
silenciosa, possivelmente essencial para que nos adaptemos de forma saudável 
à revolução externa (Marins, 2019; Parikh; Neubauer; Lank, 2003). 
Parece não ter permanecido nenhuma âncora! As ideologias foram 
desconfiguradas, não cumpriram com suas promessas de padrões e qualidade de 
vida. O mesmo ocorreu com os sistemas de valores materialistas e espiritualistas 
(Parikh; Neubauer; Lank, 2003). 
 
Mudança 
Complexidade 
Estabilidade 
Simplicidade 
Intuição 
 
 
11 
Mudança de paradigma – num nível profundo, a aceleração das mudanças 
com a consequente perda das referências convencionais pode indicar a 
transformação na visão da realidade, ou seja, na emergência de um novo 
paradigma, no qual a perspectiva positivista, determinista, mecanicista, 
materialista e reducionista dá lugar a um prisma mais subjetivista de uma visão 
aproximada, holística, interligada, na forma de rede ordenada, semelhante a um 
pensamento. Essa visão impacta as organizações e seus líderes. Observe tais 
mudanças nas gravuras (Parikh; Neubauer; Lank, 2003, p. 48-49): 
Figura 1 – Mudanças nas organizações 
 
 
1.4 Intuição no nível da organização 
Respeitabilidade-reconhecimento cada vez maiores: conforme 
levantamento dos autores, mais e mais administradores de alto nível, incluindo 
 
 
12 
presidentes de empresas, estão admitindo o uso da intuição na tomada de decisão 
(TD). 
Sistemas computadorizados de apoio à TD: quando as informações são 
disponíveis, a TD tem sido apoiada por sistemas computadorizados, porém a 
dependência absoluta desses sistemas leva à paralisia de análise. Em cenários 
em mutação, em áreas que não podem ser computadorizadas, no excesso ou na 
falta de informação, quando as variáveis não são previsíveis com razoável grau 
de certeza, enfim, quando o clima é de incerteza, o uso da intuição é essencial. 
Falta de precedentes e problemas mal estruturados: um dos princípios da 
TD é a confiança nos precedentes, porém muitas situações emergentes não têm 
precedentes nem paralelos. De forma similar, problemas mal estruturados e que 
não podem ser avaliados analiticamente (decisões ligadas a contratação de 
executivos, aquisições, fusões) carecem da intuição. 
Escolher entrealternativas equilibradas: quando as alternativas são quase 
igualmente equilibradas, a intuição pode ser também necessária. 
Outros itens incluem inovação e empreendedorismo, bem como liderança, 
os quais serão considerados no próximo texto. 
1.5 Intuição no nível individual 
Processamento humano de informações – capacidades mentais: a intuição 
pode ser vista como uma das excepcionais capacidades humanas, ainda não 
compreendida nem desenvolvida. Com o estudo da criatividade, a intuição 
emergiu com especial significado. 
Integração: a intuição pode ser auxiliar na compreensão da consciência, na 
sua dinâmica interna e integração externa, colaborando para uma visão de 
unidade num estado aparente de separação e conflito. 
Músculo, cabeça e coração: quando primitivos, nossa força estava nas 
mãos, em nossos músculos. A civilização focou poder nas ideias. Nosso próximo 
passo é desenvolver a nossa consciência para superarmos a inteligência racional, 
precisamos conquistar a sabedoria. “Precisaremos agir tanto com a cabeça como 
com o coração, para estabelecer uma cooperação entre nós mesmos, entre 
nossas nações, nossos continentes e nossos hemisférios. Só recentemente nos 
tornamos superiores aos outros animais; agora, precisamos aprender a nos tornar 
melhores seres humanos” (Parikh; Neubauer; Lank, 2003, p. 52). 
 
 
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Sobreviver à prosperidade: pela inteligência a humanidade alcançou o 
patamar presente; precisa agora da sabedoria para a próxima etapa, para 
prosperar, libertando-se de seus temores ligados à sobrevivência, rumando para 
uma visão compartilhada do mundo provedor. Com mente e coração superiores, 
será possível construir um mundo melhor. 
Questões existenciais: a intuição pode auxiliar na compreensão de 4 
questões existenciais: necessidade de liberdade; causas do isolamento, 
significado da vida e a natureza da morte. 
TEMA 2 – SEU PAPEL NA ADMINISTRAÇÃO 
2.1 A intuição na administração (ADM) 
O conceito de descoberta de soluções criativas é fundamental para a 
compreensão de uma filosofia moderna de ADM. A maioria das empresas antigas 
diminuíram seus funcionários, os novos empregos têm sido criados por empresas 
jovens e empreendedoras, surgidas de ideias criativas (veja o tema 5). 
Profissionais de grandes empresas admitem também que utilizam a intuição, e 
que esta é mais confiável e precisam na medida em que aprendem a confiar nela: 
“A intuição é realmente necessária na administração? A primeira resposta é que 
a intuição não consiste simplesmente em conhecer o estado futuro das coisas. Ela 
também está relacionada com o modo como algumas pessoas administram o 
estado atual das coisas” (Parikh; Neubauer; Lank, 2003, p. 58) 
Ter as melhores informações possibilita tomar as melhores decisões. A 
perfeita informação é a “linha direta com Deus”, porém o poço da sabedoria virou 
um hidrante e não é mais possível manter-se atualizado sobre as informações 
úteis que são geradas, de forma cada vez mais rápida, no mundo (Parikh; 
Neubauer; Lank, 2003). Em 1900, para o conhecimento do mundo dobrar, levava 
aproximadamente 100 anos. Em 1945, 25 anos; em 2015, 13 meses e, em 2020, 
isso ocorre a cada 12 horas (Filatro et al., 2019)! 
Essa explosão de informações também desencadeia um movimento muito 
rápido de motores sociais. Isso cria um contínuo estado de mudanças, impossível 
de ser acompanhado. Pela intuição é possível examinar uma quantidade grande 
de informações e ainda encontrar aquelas que são relevantes. Pela intuição é 
também possível manter-se no crescente de fluxo de mudanças, tal qual um 
malabarista que se foca no ritmo e não em cada bola que manuseia. A intuição 
 
 
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poderá consistir-se numa orientação constante, num eixo que mantém um 
equilíbrio dinâmico em meio às mudanças contínuas e cada vez mais aceleradas 
(Parikh; Neubauer; Lank, 2003). 
2.2 Efeitos diretos da administração intuitiva 
Criação de uma visão – inovar continuamente é necessário para a 
sobrevivência empresarial. Para isso, é preciso ter uma visão do futuro e uma 
introvisão dos pontos críticos, que necessitam da implementação de estratégias. 
A mudança provoca resistências psicológicas, emoções negativas (ansiedade, 
medo), as quais precisam ser convertidas em energia positiva, como coragem. A 
criação de uma visão comum dentro da empresa produz essa energia positiva, 
dirigida à concretização do sonho coletivo. Isso será apresentado no tema 5. 
Escolha de uma direção – tendo as metas sido visionadas, um método para 
alcançá-las se faz necessário. A intuição pode auxiliar na criação dessas 
estratégias. 
Tomada de decisões – Com a direção e o método escolhido, as decisões 
operacionais precisam ser feitas. Que tarefas e qual a ordem delas? 
A longo prazo, a capacidade de manter um ritmo interior intuitivo gera 
continuamente a transformação de novos conflitos em desafios 
partilhados. A médio prazo, esta mesma capacidade permite que a 
pessoa identifique as orientações que levam a estratégias mais claras. 
Só então os administradores poderão tomar decisões quanto às tarefas 
que deverão ser executadas num determinado momento. (Parikh; 
Neubauer; Lank, 2003, p. 69) 
TEMA 3 – ALGUMAS PESQUISAS SOBRE INTUIÇÃO NAS ORGANIZAÇÕES 
3.1 Relatório global sobre intuição 
Processos intuitivos têm sido atribuídos a várias descobertas científicas, 
por exemplo, a descoberta da estrutura de anel fechado da molécula de 
compostos orgânicos por F. A Von Kekulé (1829-1896). Mas no contexto 
organizacional seria a intuição também valorizada? 
Num levantamento internacional sobre Intuição, Parikh, Neubauer e Lank 
(2003) obtiveram questionários respondidos por 1.312 administradores advindos 
de 9 países (Áustria, França, Holanda, Suécia, Reino Unido, Estados Unidos, 
Japão, Brasil e Índia). Destes, 53,6% indicaram utilizar tanto a intuição quanto a 
 
 
15 
lógica-raciocínio em seu trabalho; 7,5% assinalaram usar mais a intuição do que 
a razão, enquanto 38,9% responderam que faziam o contrário. 
Os dados do Brasil indicaram que 53,5% dos administradores utilizam mais 
a razão que a intuição, 42,1% utilizam em igual medida e apenas 4,4% utilizam 
mais a intuição, portanto abaixo da média geral do estudo (7,5%). Um dado 
interessante é que os países que mais relatam usar/valorizar a intuição são do 
primeiro mundo: Suécia – 8,9%, Holanda – 8,7%, EUA – 8,9%, Reino Unido – 
7,5% e Japão – 7,5%! 
Esses dados indicam o valor dado à intuição no contexto organizacional. 
Porém, cabe acrescentar que não valorizá-la (38,9%) não significa não utilizá-la, 
visto que estudos indicam que a utilizamos inconscientemente praticamente o 
tempo todo! Como fora comentado, processos intuitivos (de vários tipos) não 
conscientes são parte essencial de nosso funcionamento mental e funcionam 
involuntariamente quer os percebamos e valorizemos ou não! 
Retornando ao levantamento indicado acima, as principais áreas que foram 
consideradas relevantes para a aplicação da intuição foram: 
a. estratégia e planejamento empresarial; 
b. marketing; 
c. desenvolvimento de recursos humanos; e 
d. pesquisa e desenvolvimento. 
Utilidade na empresa, os pesquisadores incluem: 
a. inovação; 
b. Criação de estratégias; 
c. Tomada de decisões; 
d. Resolução de problemas; 
f. Elaboração de uma visão de futuro; 
g. Valorização dos potenciais humanos; 
h. Encontro/confirmação de sentido existencial; 
i. Melhora na autoestima e autoconfiança; 
j. Melhora no bem-estar subjetivo (felicidade); 
k. Melhora nos relacionamentos interpessoais e 
l. Vantagem competitiva (Parikh; Neubauer; Lank, 2003). 
Esses dados sugerem que não apenas a intuição tem forte importância na 
vida profissional de administradores como é utilizada voluntariamente por 61,5% 
 
 
16 
da amostra investigada. Além disso, é reconhecida como tendo valor em diversas 
áreas a atividades. 
3.2 Intuição anômala, psi ou não local e organizaçõesComo vimos no tema 1, existe um tipo de intuição que parece desafiar 
nossos conhecimentos sobre as habilidades ou potencialidades humanas. São os 
fenômenos psi (telepatia, clarividência, precognição e ação direta da mente sobre 
sistemas físicos ou biológicos), parte de um conjunto maior ditas anômalas, 
porque representam lacunas no conhecimento humano (Radin, 2011). 
Lembre-se de que a “possibilidade de se obterem informações ou 
impressões (cognitivas ou fisiológicas) por vias extrassensoriais do futuro, 
passado ou presente (fenômenos anômalos relacionados a psi), não exclui a 
influência daquelas preexistentes no organismo, ou seja, essas informações 
supostamente anômalas vão interagir com aquelas de caráter “normal”, digamos 
assim. 
As evidências para esses fenômenos são fruto de controvérsia científica, 
apesar de que as revisões sistemáticas de estudos, com base estatísticas, 
usualmente chamadas de meta-análises, têm dado suporte para a existência 
destes (Cardeña, 2018). Também os relatos das pessoas indicam que elas têm 
essas experiências. Estudos de levantamento feitos por pesquisadores da USP, 
UNESC e instituto Neuropsi (este conduzido por nós) encontraram que cerca de 
85% de 918 respondentes, de São Paulo, Paraná e Santa Catarina alegaram ter 
vivenciado pelo menos uma das experiências anômalas relacionadas à psi 
(intuição psi) que estamos considerando. Em síntese, essas experiências 
intuitivas têm elevada prevalência e impacto psicossocial e clínico (Machado, 
2009; 2010, Batista, 2016). Mas seria intuição-psi usada nas organizações? 
Numa pesquisa realizada na cidade de Recife, Barros (1998), do Instituto 
Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas, buscou saber até onde a intuição-
psi ou não local (Telepatia, Clarividência e Precognição), era empregada por 
administradores(as) de empresas como forma de solucionar problemas. 
O estudo buscou saber a postura dos(as) empresários(as) a respeito 
dessas questões e incluiu uma amostra de 300 micro, pequenas e grandes 
empresas localizadas na cidade de Recife. As empresas averiguadas englobam 
4.283 empregados. Delas foram entrevistados(as) empresários(as) que atuam em 
diferentes ramos de atividade, sendo os do campo industrial 15% das empresas, 
 
 
17 
os do comércio, 44% e os do campo de serviços, 41%. Na disposição por gênero, 
a classificação é de 70% homens e 30% mulheres. 77% das empresas originaram-
se devido à iniciativa dos próprios donos. 23% das empresas foram adquiridas por 
herança familiar. A diferença que se deseja conseguir com a origem da empresa, 
se por legado ou por iniciativa do empresário, é analisar as atitudes do empresário 
nas suas decisões, desde o momento em que este decide pelo comércio 
escolhido. Por que optar por este em vez daquele? Como o empresário chegou a 
uma decisão final e decidiu optar por um especifico ramo do comércio? Fatores 
de escolha do ramo de atividade: a experiência anterior na atividade é 
predominante com 50%, a intuição com 23% e a pesquisa de mercado com 12%. 
Deve-se evidenciar a intuição, com um total de 23% de sugestão, como uma 
opção de importância na história empresarial desde os primeiros tempos do 
estabelecimento (Barros, 1998). 
Dentre os resultados, as alternativas “Medito e encontro a solução” e “Uso 
a minha intuição” pareceram indicar formas distintas de se referir ao mesmo 
fenômeno. Isoladamente a opção “Uso a minha intuição” para resolver problemas 
foi assinalada por 34% dos empresários pesquisados. A expressão “Medito e 
encontro a solução”, se for analisada como um fator intuitivo, tem um percentual 
que sobe para 46%. Verificou-se também que a expressão “Peço ajuda a 
terceiros”, como consulta a esotéricos, foi pouco evidenciada pelos empresários 
(Barros, 1998). Em termos da referência de acerto na resolução de problemas, 
verificou-se que 2/3 dos empresários que relataram utilizar a intuição obtiveram 
acertos na ordem de 75% ou mais. Os que optaram pela ajuda mística obtiveram 
1/3 de acertos. Verifica-se também que 7% dos empresários afirmam acertar 
sempre, ou seja, 100% das vezes. Os(as) entrevistados(as) alegam entender a 
intuição como um sexto sentido, como algo que não vem do uso da razão, é uma 
forma de percepção extrassensorial, um autoconhecimento adquirido por alguma 
fonte que não se situa entre os sentidos clássicos, ficando assim bem clara a 
intuição como um fenômeno paranormal (Barros, 1998). 
Voltando ao contexto internacional, em um episódio clássico apresentado 
pela Newark College of Engineering (Faculdade de Engenharia Newark), os 
pesquisadores analisaram a habilidade de precognição entre empresários. Nesse 
teste, os participantes criavam uma sequência de números binários de 100 dígitos. 
Para verificar o acerto, 100 dígitos eram gerados por um computador, utilizando 
técnicas de geração de números aleatórios, sendo então comparados com 
 
 
18 
aqueles criados pelos empresários. Os resultados mostraram que vários 
participantes tinham a capacidade de obter escores para além das expectativas 
do acaso e, o mais importante, os empresários mais bem-sucedidos (empresas 
com mais sucesso financeiro) obtinham escores que excediam de maneira 
significativa as probabilidades do acaso. Já os empresários cujo empreendimento 
perdia dinheiro apresentaram números inferiores da média e se distanciaram 
expressivamente dos níveis do acaso (Mihalasky, 2010). 
Kasian (2006) da Akamai University, investigou os sonhos que pareceram 
predizer vendas de propriedade. Dez participantes foram selecionados e, após 
fornecer um relato de sonho escrito, os participantes foram entrevistados por 
telefone. Aos dados da entrevista integraram-se os relatos dos sonhos para 
responder à pergunta da pesquisa. Os relatos continham temas de amizade e de 
familiaridade acima da norma, e agressão e negatividade abaixo da norma. Esses 
sonhos pareceram informar, alertar, inspirar e acoplar o sonhador a perseguir 
pessoalmente opções significativas de casas. Porque as imagens sonhadas se 
assemelharam frequentemente à propriedade vendida. Junguianos considerariam 
tal correspondência entre uma experiência interna e um evento exterior uma 
sincronicidade. Na escala de absorção, os participantes marcaram 26 (p<0,02), 
alto comparada ao normativo de 20, com um desvio padrão de 6. Os participantes 
que terminaram a escala criativa da personalidade produziram uma contagem 
média de 8.6 (p<0,02), alta comparada ao normativo de 3.6, com um desvio 
padrão de 4.1. Nos testes de Torrance do pensar criativo, as contagens medianas 
dos participantes, as figurais e as verbais caíram nos percentis 90 e 56, 
respectivamente. O estudo autoriza pesquisa adicional a demonstrar como 
maneiras sutis, anômalas do saber podem suplementar decisões lógicas, 
racionais (Kasian, 2006). 
Esse professor (Silva; Martins, 2020) realizou um estudo experimental, 
desenvolvido numa empresa imobiliária de Curitiba, verificando se era possível 
que 16 corretoras se utilizem de intuição-psi (clarividência e precognição) para 
aumentar suas locações. O estudo foi conduzido no mês de junho e julho/2011. A 
proposta teve como objetivo avaliar os escores de testes psi (clarividência e 
precognição) das corretoras de imóveis e correlacioná-los com os níveis de 
locações destes. Os resultados não são conclusivos, mas foram significativos. 
Mais detalhes dessa pesquisa são apresentados posteriormente. 
Esses poucos estudos indicam que a intuição-psi ou anômala 
 
 
19 
possivelmente faça parte das decisões profissionais, e ainda mais, talvez estejam 
ligadas ao sucesso, à vantagem competitiva. Naturalmente, como se trata de uma 
área nascente de pesquisa, os resultados precisam replicados e novas pesquisas 
desenvolvidas em quantidade e qualidade considerável para que possamos ter 
mais referências sobre esse tipo de intuição, se de fato existe e quais suas 
características no contextoorganizacional. De qualquer forma, é uma área muito 
promissora e provavelmente relacionada às profundas mudanças atuais e ao 
futuro do desenvolvimento da consciência humana. 
TEMA 4 – OCUPAÇÕES DE RISCO 
4.1 Ocupações médicas 
4.1.1 Enfermagem e enfermagem de emergência 
Estudos qualitativos têm sugerido que a intuição é um componente na 
prática de enfermagem, em especial na enfermagem de emergência. Tem sido 
descrita como um tipo de conhecimento da enfermagem e tem ganho aceitação 
como válido não só na emergência, mas também na enfermagem clínica. Num 
estudo com 14 enfermeiras experientes, surgiram relatos semelhantes ao que é 
apresentado a seguir (Langan-Fox; Vranic, 2011). 
Por volta das 23 horas, um bebê de sete meses acompanhado por sua babá 
chegou sem nenhuma queixa específica. De repente, senti meu estômago 
revirar. Avaliei os sinais básicos do bebê, não encontrei nada incomum e o 
peguei e informei ao pediatra que eu o estava levando para a área de 
ressuscitação. Quando perguntado por que, eu respondi que ele precisava estar 
lá. O residente não teve escolha senão me seguir. Duas horas depois, o bebê foi 
internado na sala de operações, necessitando de reparo de um grande defeito 
do septo ventral não diagnosticado anteriormente. Mais tarde, o pediatra 
perguntou como eu sabia sobre a insuficiência cardíaca. Não pude responder, 
pois tinha a sensação de saber que algo estava seriamente errado. Essa 
experiência me perturbou. (Lyneham et al. citados por Langan-Fox; Vranic, 2011, 
p. 111) 
Estudos nessa área têm-se concentrado no trabalho de enfermeiras 
experientes, focando-se então em explicações ligadas à expertise profissional, 
experiência e conhecimento. Essas pesquisas têm reconhecido intuição como 
uma forma legítima de conhecimento, o que fortalece o uso dessas habilidades 
em todos os níveis de experiência e também estimula estudos acadêmicos com 
essa temática (Langan-Fox; Vranic, 2011). 
 
 
20 
a intuição é caracterizada como percepção direta, e como um fenômeno 
lícito, observável e mensurável, potencialmente ensinável e parte 
apropriada da ciência da enfermagem. (Effken, citado por Langan-Fox, 
Vranic, 2011, p. 112) 
4.1.2 Consulta clínica/Diagnóstico/Terapia 
A intuição tem sido também considerada relevante no campo das consultas 
e diagnósticos clínicos, pois a perspectiva intuitiva pode melhorar a qualidade das 
consultas, e os estudos de levantamentos feitos com médicos têm indicado que 
estes reconhecem a prevalência das experiências intuitivas em suas práticas. De 
forma similar, diagnósticos psiquiátricos também podem ter a intuição como 
função importante. “Como nós temos demonstrado, entretanto, a intuição é um 
importante componente do diagnóstico psiquiátrico e não é inferior a outras 
ferramentas diagnósticas” (Langan-Fox; Vranic, 2011, p. 112-113). 
 Médicos homeopáticos também frequentemente relatam o uso da intuição 
e a importância disso nas suas práticas. Na área de psicoterapia, a intuição 
também é utilizada para resolver problemas psicológicos, em especial por meio 
de leituras das reações durante os relatos em psicoterapia. 
 Assim, os dados sugerem que são comuns os relatos do uso da intuição 
dentro de profissões da saúde, indicando a sua eficácia detectando anomalias 
perigosas, sejam elas fisiológicas ou psicológicas. 
Num estudo que estamos conduzindo junto ao Grupo Interdisciplinar de 
Psicologia Analítica e da Religião (GIEPAR), sediado no Conselho Regional de 
Psicologia do Paraná, verificamos que 86,6% dos 179 psicólogos e psicólogas 
respondentes relatam ter vivenciado ao menos uma experiência anômala 
relacionada a psi (intuição psi). Também seus(suas) clientes relatam ter essas 
experiências, sendo que apenas 13% deles nunca relataram alguma experiência 
dessa natureza. O estudo que explora a prevalência e a relevância dessas 
experiências na prática profissional de psicólogas(os) deve ser finalizado neste 
ano (2020), trazendo mais evidência e compreensão sobre o impacto dessas 
experiências na vida profissional. 
4.2 Bombeiros, exército, aplicação da lei 
4.2.1 Bombeiros 
Combate a incêndios usualmente implica decisões muito rápidas com 
 
 
21 
base em pouquíssimas informações. Essas decisões frequentemente podem 
fazer a diferença entre a vida e a morte. Murgallis (citado por Langan-Fox; Vranic, 
2011), num artigo da Harvard Business Review, afirma que a intuição é uma 
habilidade crítica para os grupos de combate ao incêndio de alta 
performance. Relata também que ela pode ser apreendida “por meio de 
treinamento, leitura, resposta a emergências e conversas com veteranos” (Effken, 
citado por Langan-Fox; Vranic, 2011, p. 113). 
Buckman (citado por Langan-Fox, Vranic, 2011) é um treinador de 
bombeiros. Ele enfatiza a importância dos “dois primeiros segundos” no combate 
ao incêndio e que a intuição é muito relevante, ao ponto de que sua utilização 
deva ser ensinada aos bombeiros, oficiais, chefes e comandantes de incidentes. 
Buckman também afirma que a parte inconsciente adaptativa do cérebro 
processa informações de maneira rápida e silenciosa. Sua noção final é 
de que, para que um filtro se torne melhor em concluir uma rápida 
avaliação de uma determinada situação e, portanto, produza boas 
decisões, seu cérebro deve ser treinado e receber informações 
confiáveis para tomar a decisão intuitiva correta no ambiente nos 
primeiros dois segundos. (Langan-Fox, Vranic, 2011, p.114) 
4.2.2 Exército 
Intuição tática é a expressão utilizada por Reinwald (citado por Langan-
Fox; Vranic, 2011) num artigo para a revista Military Review, dos Estados Unidos. 
Trata-se do pensamento intuitivo aplicado ao combate. A compreensão imediata 
de uma situação e a atitude a ser tomada podem ser vitais no exército. É a intuição 
que permite aos líderes tomarem decisões de forma mais rápida que os inimigos 
e, em consequência disso, pode ser a “diferença entre a competência e a 
incompetência, a vitória ou a derrota”. Por essa razão, a intuição é muito 
considerada no exército, como no Programa de Avaliação e Desenvolvimento de 
Liderança (LADP), que reconhece essa habilidade como uma qualidade-chave da 
liderança, estimulando fortemente para que seja desenvolvida, principalmente 
entre os comandantes seniores. (McClean, citado por Langan-Fox; Vranic, 2011). 
Além disso, 
Os comandantes raramente controlam os eventos no campo de batalha. 
O general de sucesso não é aquele que implementa cuidadosamente 
seus planos originais, mas aquele que intuitivamente "lê" o caos no 
campo de batalha o suficiente para aproveitar as oportunidades que 
passam. . . Como é impossível pesar todos os fatores relevantes, mesmo 
para as decisões mais simples da guerra, é a intuição do líder militar [...] 
 
 
22 
que deve, em última análise, guiá-lo na tomada de decisões eficaz. 
(Handel citado por Langan-Fox; Vranic, 2011, p. 114). 
4.2.3 Aplicação da lei 
No estudo de levantamento feito pelo Instituto de Justiça Nacional dos 
Estados Unidos, em 2004, cerca de 90% dos entrevistados da Academia Nacional 
relataram sentir um instinto, um sexto sentido, ou seja, ter algum tipo de intuição 
manifesta via corpo. Os pesquisadores concluíram que a intuição deve ser vigiada 
e que seu uso pode produzir vieses cognitivos, os quais podem criar problemas 
nos processos investigativos criminais (Langan-Fox; Vranic, 2011). Recorde-se 
que consideramos alguns dias e enganos que usualmente cometemos ao avaliar 
e decidir. 
Outro estudo realizado em 2007 por Tussey (citado por Langan-Fox; 
Vranic, 2011) considerou uma amostra de 37 acadêmicos da polícia municipal e 
37 graduandos da universidade rural do oeste da Pensilvânia. Os resultados 
foram numa direção que apoia a ideia de que a intuição é pertinente à tomada de 
decisão dos policiais. 
TEMA 5 – INTUIÇÃO NO ENSINO 
5.1 Intuição não boa para o ensino! 
Considere o que você estudou sobre intuiçãoe responda, por favor: ela é 
uma estratégia boa para o ensino? 
Tradicionalmente, professores e professoras conduzem seus estudantes 
passo a passo, explicando conteúdos e procedimentos para que eles(elas) os 
dominem de forma explícita, sendo capazes de reproduzi-los prática e 
teoricamente de forma deliberada, consciente, justificando as razões pelas quais 
o fizeram (Iannello; Antonietti; Betsch, 2011). Estamos nos referindo ao sistema 
2, analítico, consciente, liberado, dispendioso e lento. A intuição, por sua vez, está 
mais relacionada ao sistema 1 (Intuitivo ou experiencial), no qual os processos 
mentais ocorrem rapidamente, de forma não consciente, apresentando evidências 
diretas, sem requerer raciocínio lógico, tampouco evidencia como chegou a 
determinada conclusão (Kahneman, 2012). Assim, a docência não deve conduzir 
aos processos intuitivos, ou seja, à compreensão de conceitos ou aplicação 
procedimentos intuitivamente. Ao contrário, as concepções que os alunos 
 
 
23 
apreendem espontaneamente da realidade (intuições) geralmente estão erradas 
e precisam ser estruturadas por meio dos conceitos acadêmicos. Nessa 
perspectiva, a intuição pode ser igualada ao senso comum, usualmente ilusório, 
ingênuo. 
Além disso, alguns conteúdos a serem aprendidos são contraintuitivos. 
Nesse caso, o ensino deve ser usado não apenas para ajudar os alunos 
a substituir as intuições por conceitos mais relevantes, mas também para 
combater os vieses produzidos pelas supostas evidências intuitivas [...]. 
De qualquer forma, mesmo que a intuição possa levar os alunos a 
desenvolver concepções corretas, tais concepções não representam 
conhecimento válido. Isso ocorre porque os alunos não podem articular 
e analisar essas concepções explicitamente e, portanto, não podem 
destacar seus fundamentos, sondar sua veracidade por meio de 
argumentos ou comunicar os conceitos a outros, esclarecendo por que 
eles confiam em sua validade. (Iannello; Antonietti; Betsch, 2011, p. 168) 
Ainda que a intuição pudesse ser importante no processo da descoberta, 
ou seja, no processo que o aluno chega a compreender alguma coisa, ela não 
teria condições de explicitar a justificativa ou como os alunos se deram conta 
daquilo que aprenderam. Em síntese, ela não é uma estratégia boa para o ensino. 
5.2 Intuição pode facilitar ensino? 
Da perspectiva construtivista, a pré-compreensão dos estudantes é o ponto 
inicial com base no qual se chega aos conceitos a serem compreendidos. Parece 
estar bem estabelecido que estudantes não são tábulas rasas, uma vez que eles 
e elas têm sua própria compreensão sobre aquilo que os professores irão explicar. 
Independente se refletem mais ou menos a realidade, é por certo o ponto de 
partida para o ensino, cuja base é a interação, a conexão entre docentes e 
discentes, a qual, de caráter emocional, é importantíssima para o processo de 
ensino-aprendizagem. Intuições também envolvem uma seleção de 
características da realidade, uma representação rápida, simplificada do que vai 
ser compreendido posteriormente, isso de forma leve, sem sobrecarga cognitiva. 
Em complemento, ainda que algumas intuições possam estar incorretas, elas 
serviram de base para a ampliação posterior. Outras, no entanto, podem levar os 
alunos a identificar aspectos essenciais daquilo que está em jogo, facilitando a 
sua compreensão e aprendizado. Lembre-se de que uma das características da 
intuição é o processamento simultâneo de várias características, permitindo 
compreender relações entre os vários elementos, fornecendo uma visão geral 
inicial da situação. Outro elemento importante é que a intuição trabalha com 
conhecimento familiar ao indivíduo, por isso apresenta um certo senso de certeza, 
 
 
24 
que reduz o medo e a ansiedade diante do desconhecido. Por vezes até 
acompanha um senso de confiabilidade e autoconfiança. Todos esses elementos 
são muito importantes ao processo de aprendizagem (Iannello; Antonietti; Betsch, 
2011). 
5.3 Estilos cognitivos podem facilitar ensino? 
Vários estudos têm mostrado que pessoas apresentam formas ou estilos 
de funcionamento que são tendências para atitudes comportamentos e 
estratégias semelhantes em situações comuns. Eles refletem como a pessoa age 
e não quão bem ela se sai. Se as habilidades podem ser medidas pelo nível de 
desempenho, os estilos cognitivos são mensurados pela maneira de 
desempenhar. As habilidades tendem a ser unipolares, enquanto os estilos 
usualmente são bipolares ou multipolares. Estilos cognitivos são preditores de 
desempenho acadêmico e outras habilidades gerais. Existem vários pares de 
estilos cognitivos e muitos instrumentos que os mensuram. Voltaremos 
posteriormente à temática dos estilos cognitivos, trazendo mais informações sobre 
eles. Um dos estilos que tende a uma dimensão mais unificadora de vários outros 
considera a polaridade intuição-deliberação (Iannello; Antonietti; Betsch, 2011). 
O CSI (Índice de Estilo Cognitivo) é um instrumento muito utilizado nos 
estudos de gestão e negócios. Ele se baseia na polaridade em que os extremos 
de cognição intuitiva e cognição analítica (ou deliberativa) representam um 
contínuo de uma única dimensão. As pessoas com estilo intuitivo abordam tarefas 
cognitivas de maneira rápida fácil e automática, pois confiam e seguem seus 
instintos e sentimentos. Esse estilo é caracterizado como global, impulsivo, 
divergente e indutivo. Em contraposição, as pessoas com estilo analítico confiam 
mais em técnicas lógicas mais lentas, elaboradas e planejadas para lidar com 
tarefas cognitivas. 
O instrumento indicado (CSI) apresenta os dois polos e entre eles uma 
escala contínua. Ou seja, um indivíduo pode estar no extremo no outro ou em 
qualquer ponto do espectro entre os dois. Mais do que isso, estudos sugerem 
que, mesmo que uma pessoa tenha predominância em uma das polaridades, ela 
faz uso dos dois sistemas, dependendo se a situação requer mais um ou outro 
estilo de funcionamento. Pode inclusive utilizar os dois ao mesmo tempo. O 
mesmo já foi indicado sobre o funcionamento intuitivo e analítico. Em síntese, é 
comum que as pessoas tenham tendências para uma das polaridades, mas que 
 
 
25 
utilizem ambos os sistemas, conforme as necessidades (Iannello; Antonietti; 
Betsch, 2011). 
Um exemplo da importância desses estilos para a aprendizagem é 
mostrado nos estudos em que o aprendizado se dá por meio de hipermídia. Nela, 
os dispositivos institucionais mostram-se em vários formatos (ex.: textos, falas, 
gráficos, figuras, filmes, entre outros). Além disso, os(as) estudantes podem 
acessá-los na ordem que desejar, por exemplo, pulando de um conhecimento 
para o outro com base em suas preferências pessoais. Essa flexibilidade é 
considerada positiva, pois pode facilitar ambos os estilos cognitivos (Iannello; 
Antonietti; Betsch, 2011, p. 173): 
Riding e Grimley [...] descobriram que os alunos que possuem um estilo 
cognitivo analítico não aprendem tão bem quanto os alunos com um 
estilo intuitivo-holístico ao usar uma apresentação multimídia de 
informações que fragmentam o texto a ser aprendido em várias 
pequenas unidades. Graff [...] observou que os melhores resultados de 
aprendizagem não foram obtidos nem por analistas nem por holistas 
intuitivos, mas por estudantes que exibiam um estilo intermediário. 
Esses e outros estudos sugerem que a intuição é parte de um sistema 
mental duplo, ou seja, permite o funcionamento tanto intuitivo quanto analítico 
simultaneamente, ou a mudança de um modo para outro, para compensar as 
fraquezas de modo menos desenvolvido ou se adequar à necessidade do 
contexto. 
5.4 Por uma educação ambidestra 
Nos moldes clássicos de nossa educação ocidental, poderíamos até 
pensar que é intuição não é boa para o ensino. Centrado na atenção e na 
consciência, nosso ensino tradicional não apenas ignora os processos intuitivos 
como parece combatê-los.Culturalmente a razão, a análise, a consciência têm 
mais valor que a intuição, que é não consciência. Isso é válido para o ambiente 
escolar/acadêmico e, usualmente, também para o organizacional. Em outras 
culturas, essa valorização se dá de forma diversa (Iannello; Antonietti; Betsch, 
2011, p. 175): 
Por exemplo, em algumas tribos nômades, os pastores percebem que 
falta uma cabeça de gado não contando os animais um a um, mas 
simplesmente olhando o rebanho. Em contraste, nas escolas ocidentais 
somos ensinados a aplicar um procedimento aritmético, em vez de um 
rápido ato intuitivo para estimar o tamanho de um grupo de elementos. 
Tais diferenças culturais em relação ao uso da intuição podem ser uma 
das razões pelas quais os jogos infantis em alguns países visam treinar 
 
 
26 
esse tipo de habilidade intuitiva. Por exemplo, em algumas aldeias 
africanas, as crianças recolhem pedras em pequenas pilhas e adivinha 
quantas pedras há em cada pilha: a criança que estimou com sucesso o 
número de pedras à primeira vista é a vencedora. Da mesma forma, na 
Europa durante o período renascentista, a capacidade de avaliar a 
quantidade e / ou tamanho dos produtos a serem comprados foi muito 
apreciada, uma vez que os comerciantes nem sempre eram capazes de 
contá-los e medi-los; consequentemente, os aprendizes foram 
incentivados a confiar em intuições desse tipo. Esses exemplos 
etnográficos e históricos sugerem que a intuição pode desempenhar um 
papel no ensino. 
Comentamos que os processos intuitivos podem ser funcionalmente 
relevantes ao aprendizado porque apresentam um quadro preliminar, holístico, 
familiar e autoconfiante daquilo que será aprendido, facilitando os processos 
analíticos posteriores. Também vão sucedê-los, visto que depois que algo foi 
aprendido tende a se tornar automático, permitindo um procedimento mais rápido, 
direto e eficaz. A matemática é um exemplo simples dessa lógica. Após a 
compreensão, determinados cálculos são feitos de forma automática e a estrutura 
que foi criada para que pudessem ser compreendidos de forma linear é retirada. 
Essa é também a diferença entre um enxadrista iniciante e um mestre de xadrez. 
Antonietti et al. [...] no campo do ensino de matemática pode ser usado 
para exemplificar isso. Os autores descobriram que o estilo de 
pensamento intuitivo era predominante tanto no baixo desempenho 
como no desempenho elevado, enquanto o estilo analítico caracteriza os 
alunos medianos. Parece que a abordagem intuitiva é seguida por 
estudantes que não conseguem aplicar os algoritmos sequenciais que 
foram ensinados (o que lhes permitiria alcançar resultados aceitáveis de 
aprendizado), bem como por estudantes que não precisam seguir 
mecanicamente passo a passo, pois eles podem pular algumas 
passagens. Para resumir, as estratégias intuitivas são duplas: elas 
podem ser implementadas tanto por estudantes qualificados quanto por 
fracassados. No entanto, para produzir bons resultados de aprendizado, 
eles devem ser integrados a modos de pensar analíticos, como ocorreu 
no caso dos estudantes que superaram, mas não dos que fracassaram. 
(Iannello; Antonietti; Betsch, 2011, p. 176) 
Os resultados desses e de outros estudos sugere que o ensino não deve 
corresponder ao estilo cognitivo predominante do(a) aluno(a). Ou seja, em ensinar 
de forma intuitiva e holística aqueles(as) estudantes que têm esse estilo cognitivo 
predominante e vice-versa. Pode ser mais útil estimular que “passem de uma 
abordagem intuitiva para uma analítica e vice-versa, de acordo com os recursos 
da tarefa, demandas, recursos disponíveis, restrições situacionais, resultados 
esperados e assim por diante” (Iannello; Antonietti; Betsch, 2011, p. 176). 
 A flexibilidade cognitiva ou uma mente ambidestra parece obter melhores 
resultados tanto na educação, como sugerem os estudos relacionados à 
 
 
27 
matemática, quanto nas organizações, em particular quando nos referimos à 
inovação e ao empreendedorismo. 
5.5 Por uma educação aberta para o novo? 
Nossa educação tem sido inspirada em estudos que se baseiam em 
concepções diversas de sobre como nós humanos funcionamos. As contribuições 
da neurociência cognitiva fazem surgir novos olhares sobre o funcionamento ou o 
processamento mental. Como sabemos, uma nova teoria sobre o processamento 
consciente versus não consciente (teoria do novo inconsciente) traz uma 
perspectiva bastante diversa sobre a nossa forma normal de funcionar. Esses 
estudos revelam os mecanismos inconscientes do processamento complexo de 
informação envolvidos no afeto, na motivação, na autorregulação, no controle e 
na metacognição. Também na aprendizagem. Não temos tempo nem energia para 
funcionar de forma consciente. Para que qualquer organismo complexo possa 
trabalhar em tempo real é preciso que tenha uma imensa restrição às informações 
que acessa. Por exemplo, em nosso sistema sensorial temos apenas 0,000002% 
de consciência das informações que nos chegam a cada segundo (Hassin; 
Uleman; Bargh, 2005; Mlodinow, 2014; Callegaro, 2011; Cosenza, 2016). Que 
implicações tem esse novo modelo de funcionamento humano? 
Como fica nossa visão sobre nós mesmos e sobre os outros (ex.: alunos e 
alunas) se funcionarmos, como sugerem os estudos, amplamente de forma não 
consciente, mesmo que não consigamos perceber isso? 
Quais são as implicações disso para a comunicação (em especial a não 
verbal), memória (implícita), atenção (involuntária), aprendizado e tomada de 
decisão (TD)? 
Devemos focar numa educação que estimule a consciência ou que se 
adapte ao fato de que a maior parte do aprendizado é não consciente, tal como a 
maior parte da memória, atenção, comunicação, tomada de decisão etc.? 
Devemos ser mais tolerantes e flexíveis conosco e com os demais ou, ao 
contrário, devemos nos esforçar mais e estimular que os outros também o façam, 
para que todos sejamos mais conscientes? 
Para finalizar, recordemo-nos de que a intuição, à qual temos nos referido 
neste tópico, é aquela mais convencional, baseada no aprendizado, na 
experiência e na percepção. Como vimos antes neste texto, há ainda a intuição-
psi, anômala ou não local. Lembrando que a prevalência desse tipo de intuição 
 
 
28 
(experiências anômalas) em amostras brasileiras é muito alta, na ordem de 85%, 
qual seria o papel ou a importância desse tipo de intuição no processo de ensino-
aprendizagem? Poderia esse tipo de intuição ser ensinada-aprendida? Poderia 
auxiliar na resolução de problemas, na orientação, na tomada de decisão 
relacionadas ao contexto escolar/acadêmico? 
A produção de conhecimento científico é significativa e crescente nessas 
áreas. Diante dela, deveríamos nos abrir para o novo, talvez para uma nova 
educação? 
Com todas essas dúvidas, que nos reportam à nossa fantástica ignorância, 
por um lado, e imensas possibilidades ainda inexploradas por outro, concluímos 
nosso texto. Parabéns por chegar até este ponto! Espero que tenha gostado, ou 
ao menos se inquietado com a aventura. 
 
 
 
 
29 
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