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Reparo de Tecidos_ entenda mais sobre a Regeneracao Tecidual - Sanarmed

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Reparo de Tecidos: entenda mais sobre a Regeneração 
Tecidual
Mesmo antes do término da reação in�amatória, o corpo inicia o processo de curar a lesão e
restaurar a estrutura e a função normal. Este processo é chamado de reparo de tecidos, e envolve
proliferação e diferenciação de vários tipos celulares e depósito de tecido conjuntivo.
Os defeitos do reparo de tecidos têm sérias consequências. De modo oposto, o depósito excessivo
de tecido conjuntivo (�brose) é também causa de anormalidades signi�cativas. Portanto, os
mecanismos e a regulação do processo de reparo são de grande importância �siológica e patológica.
A habilidade em reparar a lesão causada por lesões tóxicas e in�amação é crítica para a
sobrevivência de um organismo. A resposta in�amatória a micróbios e tecidos lesados não serve
apenas para eliminar estes perigos, mas também inicia o processo de reparo. O reparo de tecidos,
muitas vezes chamado de cura, se refere a restauração da arquitetura e função do tecido após a
lesão. Ocorre por dois tipos de reações: regeneração do tecido lesado e formação de cicatriz pela
deposição de tecido conjuntivo
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Imagem: Mecanismos de reparo tecidual: regeneração e formação de cicatriz. Fonte: Robbins, 2013
Reparo de Tecidos: regeneração
Na regeneração, alguns tecidos são capazes de substituir células lesadas e retornar ao estado
normal. Este processo ocorre por proliferação de células residuais (não lesadas) que retêm a
capacidade de divisão e por substituição de células-tronco teciduais.
Constitui a resposta típica a lesão em epitélios que se dividem rapidamente, como na pele e nos
intestinos e em alguns órgãos, principalmente no fígado. Mas, se os tecidos lesados são incapazes
de regeneração ou se as estruturas de suporte do tecido são gravemente lesadas, o reparo ocorre
por deposição de tecido conjuntivo (�brose), um processo que resulta em formação de cicatriz.
Embora a cicatriz �brosa não possa realizar a função das células perdidas do parênquima, ela
fornece estabilidade estrutural su�ciente para tornar o tecido lesado hábil nas suas funções.
SE LIGA NO CONCEITO! O termo �brose é mais frequentemente usado para descrever a extensa
deposição de colágeno que ocorre nos pulmões, fígado, rins e outros órgãos, resultante da
in�amação crônica, ou no miocárdio após extensa necrose isquêmica. Se a �brose se desenvolve em
um espaço do tecido ocupado por exsudato in�amatório, ela é chamada de organização, como na
pneumonia.
A regeneração e a formação de cicatriz contribuem, em vários graus, para o reparo. Ambos os
processos envolvem a proliferação de várias células e interações estreitas entre células e matriz
extracelular (MEC).
Proliferação Celular e Células Tronco
A regeneração de célula e tecidos lesados envolve a proliferação celular, que é orientada por fatores
de crescimento e criticamente dependente da integridade da matriz extracelular. Vários tipos
celulares proliferam durante o reparo do tecido.
Estas incluem as células restantes do tecido lesado que tentam restaurar a estrutura normal, as
células endoteliais para criar novos vasos que fornecem nutrientes necessários ao processo de
reparo, e �broblastos que são fonte de tecido �broso, que forma a cicatriz para preencher os defeitos
que não podem ser corrigidos por regeneração.
A proliferação desses tipos celulares é guiada por proteínas chamadas fatores de crescimento. A
produção de fatores de crescimento polipeptídicos e a habilidade das células de se dividirem em
resposta a esses fatores constituem determinantes importantes na adequação do processo de
reparo.
O tamanho normal das populações celulares é determinado por um equilíbrio entre proliferação
celular, morte celular por apoptose e diferenciação de novas células a partir de células-tronco, como
está representado na �gura abaixo. Os processos-chave na proliferação celular são a replicação do
DNA e a mitose. A sequência de eventos que controlam esses processos é conhecida como ciclo
celular, que será mais explorado a frente.
Imagem: Mecanismos que regulam as populações celulares. Fonte: Robbins, 2013.
A habilidade dos tecidos em se autorreparar é criticamente in�uenciada por sua capacidade
proliferativa intrínseca. Com base neste critério, os tecidos do corpo são divididos em três grupos:
Tecidos lábeis
As células desses tecidos são continuamente perdidas e substituídas pela maturação de células
tronco e por proliferação das células maduras.
As células lábeis incluem as hematopoiéticas na medula óssea e a maioria dos epitélios de
superfície, como o epitélio estrati�cado escamoso da pele, cavidade oral, vagina e colo uterino; o
epitélio cúbico dos ductos das glândulas exócrinas como, por exemplo, glândulas salivares, pâncreas,
vias biliares; o epitélio colunar do trato gastrointestinal, útero e tubas uterinas; e o epitélio de
transição do trato urinário.
Esses tecidos se regeneram rapidamente após a lesão, já que o pool de células-tronco é preservado.
Tecidos estáveis
As células desses tecidos são quiescentes e, em seu estado normal, possuem baixa atividade
replicativa. Entretanto, essas células são capazes de proliferar em resposta a lesão ou perda de
massa tecidual. As células estáveis constituem o parênquima da maioria dos tecidos sólidos, como
fígado, rim e pâncreas.
Nesse grupo, estão também as células endoteliais, os �broblastos e as células musculares lisas,
sendo que a proliferação dessas células é particularmente importante na cura de feridas. Com
exceção do fígado, os tecidos estáveis possuem capacidade limitada de regeneração após a lesão.
Tecidos permanentes
As células desses tecidos são consideradas terminalmente diferenciadas e não proliferativas na
vida pós-natal. A maioria dos neurônios e as células musculares cardíacas pertence a essa
categoria. Assim, uma lesão ao cérebro ou ao coração é irreversível porque os neurônios e os
miócitos cardíacos não se regeneram, resultando em cicatriz.
Contudo, ocorrem replicação e diferenciação limitada da célula-tronco em algumas áreas do cérebro
adulto e existe alguma evidência de que a célula-tronco cardíaca possa proliferar após necrose do
miocárdio. Todavia, qualquer que seja a capacidade proliferativa que exista nesses tecidos, ela é
insu�ciente para regenerar o tecido lesado.
O músculo esquelético é classi�cado como tecido permanente, porém células satélites aderidas a
bainha endomisial fornecem alguma capacidade regenerativa a este tecido. Nos tecidos
permanentes, o reparo é tipicamente dominado por formação de cicatriz.
SE LIGA! Com exceção dos tecidos compostos primariamente por células permanentes que não se
dividem, a maioria dos tecidos maduros contém proporções variáveis dos três tipos celulares: células
em divisão contínua, células quiescentes que podem retornar ao ciclo celular e células que perderam
a habilidade replicativa.
Na maioria dos tecidos que se dividem, as células maduras são terminalmente diferenciadas e de
curta duração. Quando essas células morrem, o tecido é substituído por células geradas das células-
tronco e que se diferenciam.
Assim, nesses tecidos há um equilíbrio homeostático entre a replicação, a autorrenovação, a
diferenciação das células-tronco e a morte das células maduras, totalmente diferenciadas. Essas
relações são particularmente evidentes nos epitélios da pele e do trato gastrointestinal, que se
dividem continuamente, nos quais as células-tronco localizam-se próximas a camada basal do
epitélio e se diferenciam quando migram para camadas superiores do epitélio, antes que morram e
se desprendam da superfície.
As células-tronco são caracterizadas por duas propriedades importantes: capacidade de
autorrenovação e replicação assimétrica. A replicação assimétrica signi�ca que, quando uma célula-
tronco se divide, uma célula-�lha entra na via de diferenciação e origina uma célula madura,
enquanto a outra permanece como célula-tronco indiferenciada, retendo sua capacidade de
autorrenovação. A autorrenovação permite às células-tronco manter umapopulação funcional de
precursores por longos períodos.
Embora a literatura cientí�ca esteja repleta de descrições dos vários tipos de células-tronco,
basicamente há duas espécies. As células-tronco embrionárias (células ES) são as células-tronco
mais indiferenciadas, presentes na massa celular interna do blastocisto e que possuem extensa
capacidade de renovação. Por isso, podem ser mantidas em cultura por mais de um ano sem sofrer
diferenciação.
Em condições apropriadas de cultura, as células ES podem ser induzidas a formar células
especializadas dos três folhetos germinativos, incluindo neurônios, células cardíacas, hepáticas e
células das ilhotas pancreáticas. E as células-tronco adultas, também chamadas células-tronco
teciduais, são menos indiferenciadas do que as células ES e encontradas entre células diferenciadas
dentro de um órgão ou de um tecido. Embora possuam capacidade de autorrenovação, como as
células ES, essa propriedade é muito mais limitada. Além disso, seu potencial de linhagem, ou seja,
habilidade em originar células especializadas, é restrito a algumas ou todas as células diferenciadas
do tecido ou órgão onde são encontradas.
Enquanto a função normal das células ES é originar todas as células do corpo, as células-tronco
adultas estão envolvidas na homeostasia do tecido. Elas mantêm o tamanho do compartimento em
tecidos com alta renovação, como pele, medula óssea, epitélio intestinal e naqueles de baixa
renovação celular, como coração e vasos.
Apesar do interesse em isolar e infundir células-tronco teciduais para recolocar células
especializadas em órgãos como coração (após infarto) e cérebro (após acidente vascular
encefálico), as células-tronco teciduais são raras e muito difíceis de isolar. Além disso, elas estão
presentes em microambientes especializados, dentro do órgão, chamados de nichos de células-
tronco. Aparentemente, os sinais de outras células nesses nichos mantêm as células-tronco
quiescentes e indiferenciadas. Os nichos têm sido identi�cados em muitos órgãos.
No cérebro, as células-tronco neurais ocorrem na zona subventricular e no giro denteado; na pele, são
encontradas no bulbo do folículo piloso; e na córnea são encontradas no limbo. Provavelmente, as
células-tronco mais extensivamente estudadas são as hematopoiéticas, encontradas na medula
óssea. Apesar de raras, podem ser puri�cadas através de seus marcadores de superfície.
As células-tronco hematopoiéticas podem ser isoladas da medula óssea, bem como do sangue
periférico, após mobilização por administração de certas citocinas, como o fator estimulador de
colônia de granulócito (G-CSF). Como bem conhecido, as células-tronco podem originar todas as
linhagens celulares sanguíneas e reabastecer continuamente os elementos do sangue quando são
consumidos na periferia.
Na prática clínica, as células-tronco da medula são usadas para o tratamento de doenças, como a
leucemia e os linfomas. Além das células-tronco hematopoiéticas, a medula óssea contém uma
população distinta de células-tronco, conhecidas como células-tronco mesenquimais. Essas células
podem originar várias células mesenquimais, como condroblastos, osteoblastos e mioblastos, e
geram grande interesse pelo seu potencial terapêutico.
A identi�cação e o isolamento de células-tronco originaram um novo campo, o da medicina
regenerativa, cujo principal objetivo é o repovoamento de órgãos dani�cados pelo uso de progênies
diferenciadas de células ES ou células-tronco adultas.
Como as células ES possuem extensa capacidade de autorrenovação e originam todas as linhagens
celulares, são consideradas ideais para o desenvolvimento de células especializadas para as
propostas terapêuticas. Entretanto, como as células ES são derivadas de blastocistos humanos,
produzidos a partir de fertilização in vitro, sua progênie exibe moléculas de histocompatibilidade
(antígeno leucocitário humano [HLA]) dos doadores do óvulo e do espermatozoide e, portanto,
podem suscitar rejeição imunologicamente mediada pelo hospedeiro, como os órgãos
transplantados também fazem.
Muitos esforços são feitos para a produção de células com potencial de células ES, a partir de
tecidos de pacientes. Para realizar este objetivo, os genes expressos nas células ES e nas células
diferenciadas têm sido comparados, e pequena quantidade de genes críticos para as células-tronco
ES foi identi�cada. A introdução de tais genes em células totalmente diferenciadas, como
�broblastos ou células da epiderme, leva, extraordinariamente, a reprogramação do núcleo da célula
somática, de tal modo que as células adquirem muitas das propriedades das células ES. Essas
células são chamadas de células-tronco pluripotenciais induzidas (células iPS). Como as células iPS
podem ser derivadas de cada paciente, sua progênie diferenciada poderia enxertar com sucesso e
restaurar ou substituir células lesadas ou de�cientes do paciente, por exemplo, células β secretoras
de insulina de um paciente com diabetes. Apesar de as células iPS apontarem como promessa
considerável, seu uso clínico ainda tem de ser provado.

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