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21/05/2019
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Valor Incontroverso: o que eu devo saber para depositar em juízo?
Professor Mestre Rafael Corte Mello
Objetivos
• Identificar a importância do tema e o problema 
envolvido;
• Esclarecer o que é “valor incontroverso”?
• Indicar de onde surgiu essa exigência para obtenção 
de liminar contra negativação?
•
• Propor uma solução adequada para essa questão;
•
• Complementarmente, explicar sobre os encargos 
com atraso (configuração da mora), como ficam?
•
• Diferenciar depósito judicial do “valor incontroverso” 
de garantia do juízo;
•
• (vii) E, por fim, responder se é difícil o procedimento 
de depósitos mensais?
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A importância do tema e o 
problema envolvido
“Até que sejam revistas as cláusulas contratuais ditas abusivas, o valor
incontroverso é o valor livremente pactuado entre as partes, sendo certo que a
ausência do pedido de depósito ou de garantia do juízo no valor total do débito
obsta o deferimento da liminar ora perseguida.”
- TJMG
Elementos essenciais da sentença
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Ele pretendia depositar em juízo o valor que
entendia devido para obter ordem judicial liminar
de afastamento de negativação do nome do cliente.
Isso, é claro, apenas enquanto durar a discussão
sobre a abusividade de cláusulas contratuais em
ação judicial revisional.
Elementos essenciais da sentença
Qual o problema dessa afirmação?
Afirmar que o valor incontroverso é exatamente o que o banco-adversário estava
cobrando do cliente prejudica o direito de um consumidor revisar sua dívida na Justiça,
pelas seguintes razões:
• O devedor teria que pagar integralmente seu débito para poder discutir sem ter
prejuízos de negativação;
• O cumprimento dessa exigência poderia ser impossível para quem não tem recursos;
• Também poderia inviabilizar a reestruturação de um devedor que estivesse passando
por dificuldades econômicas por baixa de faturamento.
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A ação não pode prosseguir sem o 
depósito integral?
Elementos essenciais da sentença
De onde surgiu a exigência de depósito 
do “valor incontroverso” para obtenção 
de liminar contra negativação?
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QUAL A DIFERENÇA ENTRE JURISPRUDÊNCIA E PRECEDENTE?
Jurisprudência: é conjunto de todas as decisões
judiciais. Servem para persuadir o juiz do caso em
julgamento de que você tem razão, pois outro juiz
ou tribunal já decidiu da maneira que você está
propondo;
Precedente vinculante: é uma decisão sobre um
tema jurídico concreto. Serve para vincular o juiz do
caso a decidir da mesma forma. É o chamado efeito
vinculante.
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Art. 489
São elementos essenciais da sentença:
• § 1o Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória,
sentença ou acórdão, que:
VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente
invocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a
superação do entendimento.
Fonte: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm
E o que isso tem a ver com a exigência de
depositar o “valor incontroverso”?
Pois bem, no ano de 2008 foi publicado julgamento do tipo
vinculante, em que ficou consagrada a tese da vinculação da
liminar proibitiva da negativação com o prévio depósito do
“valor incontroverso”.
Nesse julgamento (RESP. 1.061.530-RS, p. 32), foi tomado por
base o leading case, que era o Recurso Especial nº
527.618/RS, do qual foi Relator o Sr. Ministro Cesar Asfor
Rocha.
Era uma ação da Federação Gaúcha de Basketball contra o
banco estadual Banrisul.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm
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A importância disso tudo é a 
identificação da ratio decidendi. 
Uma expressão que os juristas utilizam para
identificar a razão de decidir, ou seja, o coração
dos fundamentos que foram utilizados como razão
de julgar, logo, o fundamento vinculante, em si.
E nas razões vinculantes encontramos o contexto e a motivação de julgar do 
Ministro (2003):
Devo registrar que tenho me deparado, com relativa freqüência, com situações 
esdrúxulas e abusivas nas quais devedores de quantias consideráveis buscam a 
revisão de seus débitos em juízo, que nada pagam, nada depositam e, ainda, 
postulam o impedimento de registro nos cadastros restritivos de crédito. 
(...)
Por isso, tenho me posicionado no sentido de que deve o devedor demonstrar o 
efetivo reflexo da revisional sobre o valor do débito e deposite ou, no mínimo, 
preste caução, ao menos do valor incontroverso.
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E foram por essas razões que o Julgador propôs a criação do terceiro requisito: o 
“depósito do valor incontroverso”. Nos seguintes termos:
Essa regra pode ser interpretada mais benevolamente ao devedor, a impedir a 
negativação de seu nome nos serviços de restrição ao crédito. Contudo, para 
tanto, é preciso, penso eu, a presença concomitante desses três elementos:
(...)
c) que, sendo a contestação apenas de parte do débito, deposite o valor referente 
à parte tida por incontroversa, ou preste caução idônea, ao prudente arbítrio do 
magistrado.
Estava criada, aí, a exigência de depositar o “valor incontroverso”.
É possível depreender algumas importantes premissas que compõem as
razões de decidir:
• O abuso por parte de litigantes que apresentavam pedidos de revisão de parte do
débito e com isso deixavam de pagar a totalidade do débito;
• A constatação de haver um direito do credor de negativar o devedor (cadastro de
inadimplentes);
• Por outro lado, também a ressalva com o reconhecimento de o direito ao cadastro de
inadimplentes dever ser interpretado de modo mais benevolente em favor dos
devedores;
• Para que haja essa interpretação mais benevolente, o devedor deveria apontar qual
seria o impacto de sua pretensão revisional sobre o saldo devedor e seguir pagando o
restante não impactado;
• Em seguida a conclusão pela necessidade de criação de requisitos para a interpretação
mais favorável aos consumidores, dentre elas, o depósito daquilo que não estava sendo
questionado (o “valor incontroverso”).
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Essa decisão foi tão contundente que se tornou texto de lei como
requisito da petição inicial.
Isso quer dizer que com ou sem pedido liminar sobre a negativação, para a ação poder
tramitar ela também terá que ser acompanhada de depósito do valor incontroverso:
Art. 330
§ 2º Nas ações que tenham por objeto a revisão de obrigação decorrente de
empréstimo, de financiamento ou de alienação de bens, o autor terá de, sob pena de
inépcia, discriminar na petição inicial, dentre as obrigações contratuais, aquelas que
pretende controverter, além de quantificar o valor incontroverso do débito.
§ 3º Na hipótese do § 2º, o valor incontroverso deverá continuar a ser pago no
tempo e modo contratados.
Proposta de solução mais adequada a essa questão
O respeito ao precedente vinculante é o respeito às razões de decidir.
Afinal: o “valor incontroverso” seria o “valor integral da dívida”?
Nos parece que estamos diante de duas posições antagônicas:
PRIMEIRA POSIÇÃO: antes da vigência do precedente vinculante;
SEGUNDA POSIÇÃO: após a vigência do precedente vinculante.
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A primeira posição radicalizava o direito do 
consumidor em detrimento do direito do credor. 
Bastaria ajuizar ação revisional para seu nome ficar 
proibido de ser negativado.
A segunda posição radicaliza o direito do credor em 
detrimento do direito do consumidor. A pessoa 
natural ou jurídica sem força financeira ficaria com 
seu nome negativado se pretendesse ajuizar ação 
revisional.
E o qual seria a solução mais adequada?
Evitar as posições radicais em direção ao respeito às razões de decidir do precedente 
vinculante.
Tratar “valor incontroverso” como “valor integral da dívida”, para além de ser um 
equívoco literal, é também um erro técnico.
Ir contra às premissas do precedente: 
• Por outro lado, também a ressalva com o reconhecimento de o direito ao cadastro de inadimplentes 
dever ser interpretado de modo mais benevolente em favor dos devedores;• Para que haja essa interpretação mais benevolente, o devedor deveria apontar qual seria o impacto de 
sua pretensão revisional sobre o saldo devedor e seguir pagando o restante não impactado;
• Em seguida a conclusão pela necessidade de criação de requisitos para a interpretação mais favorável 
aos consumidores, dentre elas, o depósito daquilo que não estava sendo questionado (o “valor 
incontroverso”).
Negativa de respeito ao precedente: o que é proibido pela lei (arts. 489, parágrafo único e 927 do CPC).
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Foi justificado no leading case pelo Julgador:
Por isso, tenho me posicionado no sentido de que deve o devedor demonstrar o 
efetivo reflexo da revisional sobre o valor do débito e deposite ou, no mínimo, 
preste caução, ao menos do valor incontroverso.
O devedor ao ajuizar a ação deve indicar o valor devido, caso suas alegações 
sejam procedentes. E, ato contínuo, em juízo aquilo que entende devido.
Qualquer entendimento para além disso somente seria viável se algum banco 
obtivesse a “superação” do precedente. 
E os encargos com atraso (configuração
da mora), como ficam multas e outros?
Como é possível perceber, o depósito judicial do
“valor incontroverso” foi resultado de uma
construção jurisprudencial.
Notoriamente a construção desse entendimento
iniciou com base no princípio da boa-fé.
Observaram-se abusos no direito de litigar.
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No entanto, na lei, existem outras previsões de depósito judicial como, por exemplo:
• Consignação em pagamento: art. 539, CPC;
• Cumprimento da sentença: art. 523, CPC.
O depósito tem o efeito de pagamento da parcela depositada: “purgação da mora”.
Se ao final ficar demonstrado que valor da dívida era maior, sobre a diferença incidirão os
encargos de mora. Aliás, como se dá até mesmo com dívidas declaradas judicialmente:
Art. 526
§ 2º Concluindo o juiz pela insuficiência do depósito, sobre a diferença incidirão
multa de dez por cento e honorários advocatícios, também fixados em dez por cento,
seguindo-se a execução com penhora e atos subsequentes.
Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul vem decidindo a respeito:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. EFEITO LIBERATÓRIO DO DEPÓSITO 
JUDICIAL EFETUADO AINDA QUE PARA A GARANTIA DO JUÍZO. O valor do depósito, mesmo que 
efetuado com a finalidade de garantia do juízo, deve ser deduzido integralmente, na data em 
que foi realizado, e a partir de então incidem juros e correção monetária apenas sobre o saldo. 
JUROS SOBRE JUROS. Ausência de aplicação. DADO PARCIAL PROVIMENTO AO AGRAVO DE 
INSTRUMENTO.
(TJRS, AGI Nº 70051172542, DÉCIMA QUINTA CÂMARA CÍVEL, em 28 de novembro de 2012)
• Depositar é também um ato de boa-fé do devedor que tem o direito de revisar seu contrato.
• O valor depositado deverá ser tido para todos os efeitos como amortização da dívida na data
do depósito. Sob pena de causar surpresa e prejuízo aquele que confiou no Poder Judiciário.
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Existe diferença entre depósito judicial do
“valor incontroverso” e garantia do juízo?
Sim, o “valor incontroverso” é aquilo que o
devedor entende como sendo o devido.
Ao passo que “garantia do juízo” é um valor que
pode ser depositado ou caucionado por meio de
bens dados em garantia.
A diferença é que na segunda hipótese, o devedor
não tem certeza de quanto deve. Às vezes tem
mesmo dúvidas sobre: se é que deve?
A dúvida pode ser motivada pela necessidade da
exibição de documentos que viabilizarão uma
perícia contábil. Cálculos financeiros.
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Até que ocorra perícia , o devedor deve demonstrar
sua boa-fé. De modo a superar a premissa
considerada pelo precedente vinculante de que
existem abusos nos pedidos de proibição da
negativação:
• Prestar caução (indicar um bem para garantir o
pagamento ao final da ação)
• Ou fazer um depósito a título de garantia do juízo.
Ele servirá tanto para preencher as exigências legais
(Art. 330, parágrafos 2o. e 3o., CPC), quanto para
cumprimento do requisito do precedente
vinculante.
Como funciona o procedimento de 
depósitos judiciais?
É bastante simples. Basta verificar o sistema de
obtenção da emissão da guia de depósito junto ao
cartório ou secretaria onde tramita o processo
judicial.
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Espaço 
para 
perguntas
Obrigado!
www.ibijus.com
rafael@cortemello.com.br
http://www.ibijus.com/

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