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JU R0 31 7_ V3 .0 SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO: PRINCÍPIOS E IMUNIDADES 2 Adriana Mayumi Kanomata Renato Traldi Dias São Paulo Platos Soluções Educacionais S.A 2022 SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO: PRINCÍPIOS E IMUNIDADES 1ª edição 3 2022 Platos Soluções Educacionais S.A Alameda Santos, n° 960 – Cerqueira César CEP: 01418-002— São Paulo — SP Homepage: https://www.platosedu.com.br/ Head de Platos Soluções Educacionais S.A Silvia Rodrigues Cima Bizatto Conselho Acadêmico Alessandra Cristina Fahl Ana Carolina Gulelmo Staut Camila Braga de Oliveira Higa Camila Turchetti Bacan Gabiatti Giani Vendramel de Oliveira Gislaine Denisale Ferreira Henrique Salustiano Silva Mariana Gerardi Mello Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Coordenador Gislaine Denisale Ferreira Revisor Andréa Depintor Editorial Beatriz Meloni Montefusco Carolina Yaly Márcia Regina Silva Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)_____________________________________________________________________________ Dias, Renato Traldi Sistema constitucional tributário: princípios e imunidades / Renato Traldi Dias, Adriana Mayumi Kanomata. – São Paulo: Platos Soluções Educacionais S.A., 2022. 74 p. ISBN 978-65-5356-261-5 1. Princípios. 2. Capacidade contributiva. 3. Imunidade. I. Kanomata, Adriana Mayumi. II. Título. CDD 342 _____________________________________________________________________________ Evelyn Moraes – CRB: 010289/O D541s © 2022 por Platos Soluções Educacionais S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Platos Soluções Educacionais S.A. https://www.platosedu.com.br/ 4 SUMÁRIO Sistema Constitucional: Princípios e Imunidades ____________ 05 Igualdade, Capacidade Contributiva e Efeito Confiscatório ___ 38 Imunidade recíproca, religiosa e no terceiro setor ___________ 56 Imunidade Cultural e Teoria Geral das Imunidades __________ 68 SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO: PRINCÍPIOS E IMUNIDADES 5 Sistema Constitucional: Princípios e Imunidades Autoria: Adriana Mayumi Kanomata Leitura crítica: Juliana Caramigo Gennarini Objetivos • O tema a ser abordado tem por objeto o estudo das limitações ao poder de tributar da União, Estados e Municípios, regras essas previstas na Constituição Federal. • A observância dos princípios e imunidades constitucionais garante a legalidade e legitimidade na relação entre o ente tributando e o contribuinte, sendo, assim, matéria essencial ao Direito Tributário. 6 Resumo da Aula Prezado aluno, neste estudo você aprenderá quais são os princípios constitucionais de forma detalhada, bem como as imunidades constitucionais existentes e sua extensão dentro do ordenamento jurídico. Conhecerá, ainda, as exceções, as referências jurisprudenciais e doutrinárias sobre o tema, como forma de aprofundamento na matéria. Boa leitura e bem-vindo ao estudo. 1. Introdução: Poder de Tributar, Competência e Limites A intervenção do Poder Público no patrimônio e renda dos contribuintes, visando à arrecadação aos cofres públicos, é considerada necessária para a manutenção e funcionamento da máquina estatal, mas não é um poder absoluto. A Constituição da República Federativa do Brasil elenca, no art. 3º, os objetivos fundamentais dos entes que compõem a Federação (União, Estados, Distrito Federal e Municípios), quais sejam: • construir uma sociedade livre, justa e solidária; • garantir o desenvolvimento nacional; • erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; • promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Para o atingimento daqueles objetivos, é fato que os entes federados precisam buscar recursos financeiros necessários e investir em ações 7 governamentais. Esses recursos podem ser captados através do pagamento de tributos impostos à população que, teoricamente, seria destinatária dos benefícios promovidos por aqueles objetivos, podendo e devendo exigir o correto investimento dos valores arrecadados. Tributo é a prestação pecuniária compulsória exigida por um ente público de pessoas físicas e jurídicas pertencentes a um determinado, exigência essa decorrente de lei. O poder de tributar é uma face da soberania nacional, sendo certo que soberania representa a prevalência da vontade do Estado em detrimento das vontades individuais.1 O poder de tributar é constitucionalmente discriminado, outorgando a cada ente político a extensão e os limites de seus respectivos poderes. “A conclusão a tirar, portanto, é que a República reconhece a todas as pessoas o direito de só serem tributadas em função do superior interesse do Estado. Os tributos só podem ser criados e exigidos por razões públicas. Em consequência, o dinheiro obtido com a tributação deve ter destinação pública, isto é, deve ser preordenado à mantença da res publica”.2 É na Carta Magna que são fixados os meios dos quais os entes federados podem se valer para auferir receita através da tributação. O poder de tributar é, repise-se, uma manifestação da soberania do Estado. Por outro lado, à capacidade dos entes federados, constitucionalmente outorgada, de instituir tributos, denominamos competência tributária. Assim, competência tributária e poder de tributar são institutos diferentes: o poder de tributar representa a manifestação e busca do interesse público em detrimento do privado; a competência tributária corresponde apenas ao exercício desse poder através da instituição de tributos, com base em lei. 1 MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. São Paulo: Malheiros, 2008, p. 28 e 29. 2 CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de Direito Constitucional Tributário. 9. ed. São Paulo: Malheiros, 1997, p. 73. 8 Destarte, a competência tributária é outorgada pela Constituição Federal a cada um dos entes federados, que poderão instituir apenas os tributos presentes dentro da previsão constitucional. Vale lembrar, ainda, que a Constituição Federal não institui tributos. Ela apenas outorga competências delimitadas para cada ente político, ficando sob a responsabilidade desses a instituição dos tributos. 1.1 Modalidades de competência A competência tributária pode ser classificada em cinco modalidades, conforme entendimento que podemos encontrar na doutrina em geral.3 Assim sendo, a competência tributária pode ser dividida em cinco modalidades: privativa, comum, especial, residual e extraordinária. a. Privativa: refere-se à instituição dos impostos. Denomina-se privativa, pois a Constituição Federal determinou quais impostos cada ente político poderá instituir, não havendo liberdade nos exercícios da competência tributária. Não podem, assim, instituir os impostos que bem entenderem. Neste passo, cada um tem seu grupo particular de impostos: União (art. 153 da Constituição Federal): imposto de importação (II); imposto de exportação (IE); imposto sobre a renda (IR); imposto sobre produtos industrializados (IPI); imposto sobre operações financeiras (IOF); imposto territorial rural (ITR) e imposto sobre grandes fortunas (IGF). Estados e Distrito Federal (art. 155 da Constituição Federal): imposto sobre transmissão causa mortis e doações (ITCMD); imposto sobre circulação de mercadorias e serviços (ICMS); e o imposto sobre a propriedade de veículo automotor (IPVA). 3 AMARO, Luciano. Direito Tributário Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 95-96. 9 Municípios (art. 156 da Constituição Federal): imposto predial e territorial urbano (IPTU); imposto sobre a transmissão de bens imóveis (ITBI); e o imposto sobre serviços (ISS). Lembramos que o Distrito Federal,por consequência do seu perfil diferenciado, possui competência cumulativa, cabendo-lhe instituir impostos estaduais e municipais (art. 147, CF). Assim sendo, o Distrito Federal ficará responsável pela instituição e arrecadação dos seguintes impostos: ITCMD, ICMS, IPVA, IPTU, ITBI e ISS. b. Comum: engloba taxas e contribuições de melhoria, que são de competência de quaisquer dos entes federados. Frise-se que a instituição das taxas e contribuições é comum a todos os entes políticos, sendo específico apenas o serviço público ou a obra pública a eles vinculados (art. 145, II e III, CF). c. Especial: essa competência refere-se aos empréstimos compulsórios e as contribuições aqui denominadas especiais (art. 148 e 149 da CF). Via de regra, essas contribuições especiais são de competência federal, exceto a contribuição para o custeio do serviço de iluminação pública que se encontra sob a competência dos Municípios e do Distrito Federal (art. 149-A, CF). d. Residual: a competência exclusiva da União. Essa competência permite à União ampliar o rol de tributos inicialmente conferidos pela Constituição. Porém, para que a União possa criar novos impostos (impostos residuais), necessariamente deverá atender aos seguintes requisitos (art. 154, I, CF): I. a instituição deverá ocorrer por lei complementar; II. o imposto deverá observar o princípio da não cumulatividade; e III. não poderá ter fato gerador nem mesmo base de cálculo idênticos aos dos impostos já discriminados pela Constituição Federal. 10 Ainda, outro dispositivo constitucional que trata da competência residual é do art. 195, § 4º, que permite à União instituir novas contribuições sociais. Para tanto, a Constituição Federal também previu condições a observância do art. 154, I para que as novas contribuições ocorram, adaptando apenas o último requisito, conforme a seguir exposto: I. ser veiculadas por lei complementar; II. ser não cumulativas; e III. não poderão ter fato gerador, nem base de cálculo das contribuições sociais já existentes. Podemos concluir, assim, que a norma constitucional segue a seguinte premissa: novos impostos não podem ter fato gerador e base de cálculo dos impostos já existentes; as novas contribuições, igualmente, não podem ter fato gerador e base de cálculo iguais às contribuições já existentes. Nesse sentido, segue abaixo trecho do voto do Ministro Carlos Velloso acerca do assunto, demonstrando o entendimento que se perpetua no Supremo Tribunal Federal: [...] quando o § 4º, do art. 195, da C.F., manda obedecer a regra da competência residual da União – art. 154, I – não estabelece que as contribuições não devam ter fato gerador ou base de cálculo de impostos. As contribuições, criadas na forma do § 4º, do art. 195, da C.F., não devem ter, isto sim, fato gerador e base de cálculo próprios das contribuições já existentes. É que deve ser observado o sistema. E o sistema é este: tratando-se de contribuição, a Constituição não proíbe a coincidência da sua base de cálculo com a base de cálculo do imposto, o que é vedado, expressamente, relativamente às taxas. (BRASIL, 1988, art. 145, § 2º) (RE 228321/RS. Julgamento em 01/10/1998. DJ 30/05/2003). 11 Entende-se, assim, que a instituição de uma contribuição social nova com fato gerador ou base de cálculo idêntica à de algum imposto já discriminado não afronta o texto constitucional. Violação ocorreria caso essa nova contribuição social tivesse fato gerador ou base de cálculo de alguma já existente contribuição social (para a seguridade social). e. Extraordinária: é também uma competência exclusivamente direcionada à União Federal. Sob essa competência, a União poderá instituir o imposto extraordinário de guerra nos casos de guerra externa ou iminência de guerra externa (art. 154, II, CF). Esse tributo não deve ser confundido com o empréstimo compulsório, pois, não obstante seja instituído sob a mesma justificativa, ele é classificado como competência especial. 1.2 Limitações ao poder de tributar As limitações ao poder de tributar, constitucionalmente previstas, podem ser representadas pelos princípios e imunidades. O que fazem, pois, estas limitações é demarcar, delimitar, fixar fronteiras ou limites ao exercício do poder de tributar. São, por conseguinte, instrumentos definidores (ou demarcadores) da competência tributária dos entes políticos no sentido de que concorrem para fixar o que pode ser tributado e como pode sê-lo, não devendo, portanto, ser encaradas como ‘obstáculos’ ou “vedações” ao exercício da competência tributária, ou “supressão” dessa competência, consoante propósito das imunidades tributárias, já observou Paulo de Barros Carvalho.4 Presentes na seção II do capítulo correspondente ao Sistema Tributário Nacional (artigos 150 a 152 da Carta Magna), as limitação buscam, acima de tudo, assegurar a observância das garantias fundamentais dos contribuintes que não podem ser suprimidas. Prevê o art. 60, § 4º da Constituição Federal: 4 AMARO, Luciano. Direito Tributário Brasileiro. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1998, p. 105. 12 Art. 60 § 4º–Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: I. a forma federativa de Estado; II. o voto direto, secreto, universal e periódico; III. a separação dos Poderes; IV. os direitos e garantias individuais. Do texto constitucional acima transcrito, verificamos que a redução das garantias individuais não é possível, impossibilidade essa prevista em cláusula pétrea. Por outro lado, não há impedimento para reforço do rol daquelas mesmas garantias, sob o manto constitucional. Um exemplo de incremento na garantia constitucional ocorreu com o advento da EC nº 42/03, que tratou do princípio da anterioridade. Até aquela emenda, o princípio da anterioridade tinha por parâmetro apenas o exercício financeiro, ou seja, quando houvesse a instituição ou aumento de um tributo, ele poderia ser aplicado apenas no exercício financeiro seguinte à publicação da norma. Nesse formato, era possível aplicar o aumento da alíquota de um tributo no dia 1º de janeiro através de uma lei publicada em 31 de dezembro do ano anterior, ou seja, no dia anterior. A emenda constitucional nº 42/03 trouxe uma nova face ao princípio da anterioridade ao exigir que, além da observância do exercício financeiro, um prazo de 90 dias entre a publicação da lei e a cobrança do tributo deveria ser respeitado. Assim, após a reforma constitucional, além da necessidade de se aguardar pelo próximo exercício financeiro, o tributo não podia ser exigido antes de 90 dias a contar da publicação da lei, aumentando, assim, a garantia dos contribuintes. De fato, houve um aperfeiçoamento do princípio da anterioridade original, não havendo óbice constitucional para tanto. O que não poderia ser feito, ainda que 13 por emenda constitucional, é a redução do conceito e amplitude daquele princípio, por representar diminuição das garantias dos contribuintes. Observação se faz quanto às hipóteses que são exceções ao princípio da anterioridade, que será estudado oportunamente, nas próximas aulas. 1.3 Princípios A Constituição Federal, nos artigos 150 a 152, fixou valores a serem observados pelos entes tributantes, para a instituição e cobrança das exações, sob pena de incorrerem na exigência ilegal. Os princípios constitucionais são diretrizes que devem ser obedecidas quando do exercício do poder de tributar, sendo forma, inclusive, de dar segurança jurídica na relação Fisco- contribuinte. A finalidade mais ampla dos princípios pode ser considerada o respeito aos direitos fundamentais dos indivíduos previstos na Constituição Federal, que são imutáveis, nos termos do art. 60, §4º. Eles buscam, de forma geral, que as regras e normas confeccionadas pelos legisladores não violem garantias individuais como direito de ir e vir, direito à liberdade de culto religioso, dentre outros previstos na Carta Maior. Considera-se, assim, que o poder de tributar não éabsoluto. União, Estados, Distrito Federal e Municípios não podem instituir e cobrar tributos de forma arbitrária, sem freios, garantindo, assim, que os contribuintes serão afetados de forma mais justa. O valor e importância dos princípios não podem ser subestimados pelo legislador e pelo aplicador da lei. 14 É válido dizer que a criação da norma poderá ser questionada caso seja confrontante com qualquer princípio constitucionalmente previsto, cabendo ao Poder Judiciário a declaração de constitucionalidade da norma questionada. Em muitos casos, o conteúdo da lei, ainda que em apenas uma cláusula, poderá gerar dúvidas quanto à sua validade, por conta de possível violação de um ou mais princípios. Nesses casos, a interpretação das normas deve ser realizada com base nos próprios conceitos, buscando atingir a finalidade de que o legislador constituinte buscou ao incorporar ao texto magno determinado princípio. Geraldo Ataliba bem expressou a importância dos princípios na interpretação das normas: [...] o grande valor prático dos princípios da Constituição, dos princípios fundamentais, é que eles nos dão orientação para interpretar os outros princípios e para interpretar as regras da própria Constituição. Então o princípio é diretriz para o intérprete. Diretriz aponta um rumo. [...] Pois bem, todos os intérpretes, desde o primeiro até os intermediários que somos nós ou a administração pública, até o juiz que é o último, tem que interpretar seguinte o caminho, o rumo apontado pelos princípios.5 Os princípios, assim, podem ser considerados hierarquicamente superiores às regras gerais, pois essas somente podem ser confeccionadas se obedecerem às diretrizes previstas naqueles. Aliás, princípios e regras guardam entre si algumas diferenças quanto à sua aplicação. As regras caracterizam-se como sendo razões definitivas, prescrições que impõem determinada conduta, enquanto os princípios são razões prima 5 ATALIBA, Geraldo, Periodicidade do Imposto de Renda I, Mesa de Debates, RDT, n. 63, Malheiros, 1997, p. 35. 15 facie, prescrições de otimização. Em eventual conflito de regras, assim, ter- se-ia de definir qual delas aplicar, eis que não há meio termo na aplicação ou não ao caso concreto; já em eventual colisão de princípios, trabalhar- se-ia de modo a construir uma regra para o caso concreto mediante a atribuição de pesos aos diversos interesses colidentes, de modo a dar aplicação, na maior medida possível, ao princípio mais relevante em face das circunstâncias específicas sob apreciação.6 Evidente, assim, que, para cada caso concreto, haverá a apreciação dos princípios mais relevantes e aplicáveis, criando-se as regras disciplinadoras sem possíveis máculas de ilegalidades. Seguimos, assim, no estudo destes princípios, previstos na Carta Maior: • Princípio da legalidade • Princípio da isonomia • Princípio da irretroatividade • Princípio da anterioridade • Princípio da proibição ao confisco Para Saber Mais Para estudo da diferença entre regras e princípio, leia Teoria dos Direitos Fundamentais, de Robert Alexy. A seguir, você estudará os princípios detalhadamente. 6 PAULSEN, Leandro. Direito Tributário, Constituição e Código Tributário à Luz da Doutrina e da Jurispru- dência. 9. ed. Porto Alegre, Livraria do Advogado, 2007, p. 835. 16 1.4 Princípio da legalidade e o fator tempo nos princípios “Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I. exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça”. (BRASIL, 1988, art. 150) A intervenção da Administração Pública no patrimônio dos administrados não pode ser um ato arbitrário, subjetivo. Deve, ao contrário, ser ato fundamentado em lei, conforme prevê o art. 5º, II da Constituição Federal: Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] II. ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei. O princípio da legalidade é um princípio geral do Direito, sob o qual devem se debruçar todos os atos da vida civil, sendo a base de direitos, obrigações e segurança jurídica das relações entre administração pública e administrados. Em matéria tributária, o princípio da legalidade ganha uma considerável dimensão, pois o ato de instituir, aumentar e cobrar um tributo está intrinsecamente ligado à lei. A sua importância em âmbito fiscal verifica-se na própria Constituição: o princípio da legalidade foi reforçado no art. 150, I da Carta Magna, quando veda à União, Estados, Distrito Federal e Municípios “exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça”. 17 De fato, como conceituou Roque Antônio Carrazza, o princípio da legalidade é a “fonte de produção primária por excelência de normas tributárias, abaixo apenas da Constiução Federal”.7 Sacha Calmon Navarro, ainda, considerou o princípio em tela como “princípio fundante dos demais”8 tamanha a importância da legalidade no Sistema Tributário. A necessidade de a lei ser instrumento essencial à criação das exações está também prevista em nosso Código Tributário Nacional, ao conceituar tributo: “Art. 3º Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada”. (BRASIL, 1966, art. 3º) No art. 97, reforça a necessidade da lei como instrumento de criação, cobrança e extinção dos tributos: Art. 97. Somente a lei pode estabelecer: I. a instituição de tributos, ou a sua extinção; II. a majoração de tributos, ou sua redução, ressalvado o disposto nos artigos 21, 26, 39, 57 e 65; III. a definição do fato gerador da obrigação tributária principal, ressalvado o disposto no inciso I do § 3º do artigo 52, e do seu sujeito passivo; IV. a fixação de alíquota do tributo e da sua base de cálculo, ressalvado o disposto nos artigos 21, 26, 39, 57 e 65; V. a cominação de penalidades para as ações ou omissões contrárias a seus dispositivos, ou para outras infrações nela definidas; VI. as hipóteses de exclusão, suspensão e extinção de créditos tributários, ou de dispensa ou redução de penalidades”. 7 CARRAZZA, Roque Antônio. Curso de Direito Constitucional Tributário. 30. ed. São Paulo: Malheiros Edito- res, 2015, p. 290. 8 COELHO, Sacha Calmon Navarro. Curso de Direito Tributário Brasileiro. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999, p. 196. 18 Assim sendo, trata-se de verdadeira garantia fundamental do contribuinte, garantindo-lhe a reserva absoluta da lei para a criação das exações. Em rigor, é a lei ordinária que será utilizada para esse fim, e apenas em casos expressamente elencados na Constituição Federal é que o legislador deverá se valer de lei complementar. São eles: 1. Empréstimos Compulsórios (art. 148, CF); 2. Imposto sobre Grandes Fortunas (art. 153, VII, CF); 3. Impostos residuais (art. 154, I, CF); e 4. Contribuições sociais residuais (art. 195, § 4º c/c art. 154, I, CF). Além da lei ordinária e lei complementar, admite-se a Medida Provisória como meio instituidor de tributos, observados os limites estabelecidos no art. 62 da Constituição Federal. Nos termos daquele dispositivo constitucional, a medida provisória deverá atender aos requisitos de urgência e relevância e não poderá versar sobre matéria reservada à lei complementar (art. 62, § 1º, III, CF). Isso porque a Medida Provisória tem força de lei ordinária, não podendo, portanto, adentrar em matéria reservada à lei complementar. Confira-se: CONSTITUCIONAL – TRIBUTÁRIO – BLOQUEIO DE CRUZADOS NOVOS – EMPRÉSTIMO COMPULSÓRIO – INCONSTITUCIONALIDADE DOS ARTS. 5.º, 6.º, 7.º, 8.ºE 9.º DA LEI N.º 8.024/90, ORIUNDA DA MEDIDA PROVISÓRIA N.º 168/90.• O bloqueio dos cruzados novos efetuado pela Medida Provisória n.º 168/90 configura empréstimo compulsório, ficando afastadas as hipóteses de requisição, confisco, confisco temporário e servidão de uso, as quais, se aceitas, não afastariam a inconstitucionalidade. • No caso, o empréstimo compulsório está fundamentado no inciso II, do art. 148, da Lei Maior, estando sujeito ao princípio da anterioridade, o 19 que descaracteriza a urgência. Além do mais só poderia ter sido criado por lei complementar. • Medida provisória não é instrumento idôneo para iniciar procedimento legislativo que vise dispor sobre matéria reservada à lei complementar. • O bloqueio de cruzados novos feriu ainda o princípio da isonomia e, consequentemente, o da capacidade contributiva. • Feriu ainda o ato jurídico perfeito. • Arguição de inconstitucionalidade acolhida. (TRF3, Pleno, AMS – APELAÇÃO CÍVEL Nº 0010150-06.1990.4.03.6100, Rel. Des. Fed. AMERICO LACOMBE, DOE DATA:15/04/1991, grifo nosso). Seja qual for o meio a ser utilizado para a instituição do tributo, o princípio da legalidade tributária, previsto no art. 150, I da Constituição Federal, determina que o ato de tributar deve ter por base uma lei que traga elementos essenciais da exação de forma clara, permitindo que a cobrança seja legítima para o contribuinte. Hugo de Brito Machado lembra, ainda, que a lei é a manifestação legítima da vontade do povo: Sendo a lei a manifestação legítima da vontade do povo, por seus representantes nos parlamentos, entende-se que o ser instituído em lei significa ser o tributo consentido. O povo consente que o Estado invada seu patrimônio para dele retirar meios indispensáveis à satisfação das necessidades coletivas. Mas não é só isso. Mesmo não sendo a lei, em certos casos, uma expressão desse consentimento popular, presta-se o princípio da legalidade para garantir a segurança nas relações do particular (contribuinte) com o Estado (fisco), as quais devem ser inteiramente disciplinadas, em lei, que obriga tanto o sujeito passivo como o sujeito ativo da relação obrigacional tributária.9 9 MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 23. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2003, p. 46. 20 Nesse sentido, devemos entender que a lei é, além de instituidora do tributo, garantidora de que ele será cobrado dentro dos requisitos previamente fixados, que o ente tributante não irá agir de forma arbitrária no exercício da arrecadação. Ou seja, ela irá disciplinar direitos e obrigações tanto do sujeito passivo quanto do sujeito ativo da relação tributária, sendo assegurado a qualquer dos lados o socorro perante o Poder Judiciário nos casos de violação à lei instituidora. A lei trará a definição e descrição minuciosa do tributo e indicará todos os seus elementos: descrição da hipótese de incidência; base de cálculo; alíquota ou qualquer outro critério para definir o valor do tributo; características do sujeito passivo; sujeito ativo. Em relação ao prazo para pagamento, caso a lei não faça essa previsão, a autoridade administrativa poderá fixá-lo, sendo elemento essencial para o cumprimento da obrigação tributária. Vale frisar que somente o Poder Legislativo pode, dentro de suas funções, exigir ou aumentar tributos, sendo essa atividade de competência exclusiva. Sobre a reserva absoluta da lei: A legalidade tributária implica reserva absoluta da lei, impondo que os tributos sejam instituídos não apenas com base em lei ou por autorização legal, mas pela própria lei, dela devendo ser possível verificar os aspectos da norma tributária impositiva de modo a permitir ao contribuinte o conhecimento dos efeitos tributários dos atos que praticar ou posições jurídicas que assumir. Não há a possibilidade de delegação de competência legislativa ao Executivo para que institua o tributo, qualquer que seja, tampouco para que integre a norma tributária impositiva, ressalvadas apenas as atenuações através das quais a própria Constituição, de modo excepcional, autoriza a graduação de alíquotas pelo Executivo.10 10 PAULSEN, Leandro. Direito Tributário, Constituição e Código Tributário à Luz da Doutrina e da Jurispru- dência. 9. ed. Porto Alegre, Livraria do Advogado, 2007, p.170. 21 Destarte, aos outros poderes é vetada a instituição e aumento de tributos através de portarias, regulamentos, instruções normativas etc., mesmo que tenha ocorrido, por lei, a delegação de poderes para tal atribuição. A descrição material e formal da exação, de maneira precisa e rígida, garante à relação entre Fisco e contribuinte a necessária segurança jurídica para que a cobrança não seja eivada de dúvidas quanto à sua legalidade. Assim sendo, com a completa descrição de todos os elementos da tributação, com a ocorrência do fato gerador, a subsunção do fato à norma acontece, nascendo a exigência do tributo. Sobre normas que não trazem em seu conteúdo todos os elementos necessárips, vale trazer à baila o entendimento de Leandro Paulsen: A norma impositiva incompleta, por insuficiência de dados, não assegura ao contribuinte a certeza quanto ao surgimento ou ao conteúdo da sua suposta obrigação tributária, sendo, pois, incapaz de implicar o surgimento da obrigação tributária, já que não pode ser suplementada por regulamento em face da reserva absoluta da lei. Isso não significa, contudo, que todos os cinco aspectos da norma tributária impositiva (material, espacial, temporal, pessoal e quantitativo) devam, necessariamente, constar da lei de modo expresso e didático. [...] A conclusão sobre ser ou não ser completa a norma tributária impositiva estabelecida por lei depende da possibilidade de se determinar os seus diversos aspectos independentemente de complementação normativa infralegal, ainda que mediante análise mais cuidadosa do texto da lei e da consideração do tipo de fato gerador, da competência do ente tributante e dos demais elementos de que se disponha.11 Importante ressaltar aqui que as obrigações acessórias não se equivalem aos tributos. Isto quer dizer que elas não se submetem ao princípio da legalidade, por serem deveres “instrumentais ou formais”.12 11 PAULSEN, Leandro. Direito Tributário, Constituição e Código Tributário à Luz da Doutrina e da Jurispru- dência. 9. ed. Porto Alegre, Livraria do Advogado, 2007, p. 171. 12 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 1996, p.199-200. 22 No entanto, a própria legislação prevê exceções. 1.5 Exceções ao princípio da legalidade As exceções ao princípio da legalidade estão dispersas na legislação fiscal: • Art. 153, §1º da Constituição Federal autoriza a alteração de alíquota por outro veículo que não a lei para o Imposto de Importação (II), Imposto sobre a Exportação (IE), Impos- to sobre o Produto Industrializado (IPI) e Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). • Art. 177, §4º, I, “b”, da Constituição Federal prevê que a Contribuição de Intervenção sobre Domínio Econômico (CIDE) poderá ter sua alíquota reduzida e restabelecida por ato do Poder Executivo. • Art. 155, §4º, IV, da Constituição Federal: o ICMS Combustível poderá ter suas alíquo- tas definidas “mediante deliberação dos Estados e Distrito Federal”, em Convênios firma- dos perante o Conselho Nacional de Política Fazendária (CONFAZ). Frisamos aqui que os tributos acima indicados são instituídos por lei. A exceção verifica- se na possibilidade de haver alteração das alíquotas por decreto, dentro dos limites legais, conforme determina o art. 153, §1º da Carta Magna: Art.153. § 1º–É facultado ao Poder Executivo, atendidas as condições e os limites estabelecidos em lei, alterar as alíquotas dos impostos enumerados nos incisos I, II, IV e V. 23 Assim sendo, ainda que a própria Constituição preveja a possibilidade de o Poder Executivo interferir em alguns aspectos do ato de tributar, esses, ainda, estão submetidos ao princípio da legalidade, uma vez que os limites e requisitos insculpidos emlei devem ser obrigatoriamente respeitados. 1.6 A lei complementar como ferramenta do Sistema Tributário Nacional Além de ser possível, dentro das previsões constitucionais, instituir tributos em âmbito da lei complementar, a Carta Maior atribuiu a ela outras funções essenciais ao Sistema Tributário Nacional, nos seus artigos 146 e 146-A, quais sejam: • Dispor sobre conflitos de competência, em matéria tributária, entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios. • Regular as limitações constitucionais ao poder de tributar. • Estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária. • Trazer a definição de tributos e de suas espécies, bem como, em relação aos impostos, estabelecer seus respectivos fatos geradores, bases de cálculo e contribuintes. • Dispor sobre obrigação, lançamento, crédito, prescrição e decadência. • Oferecer adequado tratamento tributário ao ato cooperativo praticado pelas sociedades cooperativas. • Definir um tratamento diferenciado e favorecido para as microempresas e para as em- presas de pequeno porte. • Instituir um regime único de arrecadação dos impostos e contribuições da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. 24 • Poderá estabelecer critérios especiais de tributação, com o objetivo de prevenir desequilíbrios da concorrência, sem prejuízo da competência de a União, por lei, estabelecer normas de igual objetivo. Verificamos, assim, que caberá à lei complementar tratar de alguns elementos auxiliares e complementares ao ato de tributar, tarefas outorgadas pela Carta Maior. 1.7 O fator tempo nos princípios: princípio da anterioridade e princípio da irretroatividade Um fator importante que deve estar presente na previsão legal das exações é justamente o tempo, ou seja, a partir de que período aquela obrigação tributária será exigida. O tempo nas obrigações tributárias traz um caráter de segurança jurídica na relação Estado- contribuinte, uma vez que deixa claro para ambas as partes a partir de que momento determinado fato será considerado hipótese de incidência e o prazo para pagamento. A Constituição Federal incluiu em seu texto princípios referentes ao aspecto temporal dos tributos, que deverão ser observados pela lei instituidora e que estão associados à previsibilidade ou não surpresa. 1.8 Princípio da anterioridade Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: [...] III–cobrar tributos: 25 [...] b. no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou; c. antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou, observado o disposto na alínea b; Buscando evitar a insegurança jurídica entre ente tributante e contribuintes, o legislador constitucional garantiu a inclusão do princípio da anterioridade. Como já mencionado, é um princípio que busca a previsibilidade e a não surpresa, a fim de garantir que o contribuinte não será tributado de forma inesperada. Mas a anterioridade é mais ainda, não se limitando a afastar aquilo que seja brusco e inesperado, o que pegue de improviso, mas, sim, assegurando conhecimento antecipado, por tempo suficiente, do que advirá já com certeza, pois decorrente de lei publicada. [...] Note-se que, em havendo, por exemplo, projeto de lei com tramitação em regime de urgência com larga discussão nos meios de comunicação, não há que se falar em surpresa do contribuinte relativamente ao aumento de carga tributária que o agrave, mas nem por isso restará autorizada a sua incidência.13 Por esse princípio, o ente tributante deve observar a anterioridade anual (art. 150, III, b, CF), e anterioridade nonagesimal (art. 150, III, c, CF). Na anterioridade anual, fica vedada a cobrança do imposto no mesmo exercício financeiro da publicação da lei que o instituiu ou aumentou. Ou seja, a lei deverá ser anterior ao exercício em que o tributo será cobrado, possibilitando ao contribuinte o planejamento financeiro para quitação da obrigação fiscal. 13 PAULSEN, Leandro. Direito Tributário, Constituição e Código Tributário à Luz da Doutrina e da Jurispru- dência. 9. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007, p. 207-208. 26 Lembramos que o exercício financeiro tem início no dia 1º de janeiro de cada ano. A anterioridade nonagesimal determina que o tributo poderá ser exigido somente 90 dias após a sua publicação. Essa nova garantia foi introduzida no texto constitucional através da EC 42/03, a fim de evitar que uma lei publicada em 31 de dezembro instituindo ou majorando um imposto fosse exigida a partir do primeiro dia do exercício seguinte (1º de janeiro). Com a anterioridade nonagesimal, um imposto criado ou cuja alíquota tenha sido aumentada por lei publicada em 31 de dezembro poderá ser cobrado apenas ao final de março do exercício seguinte. Vale trazer à baila julgamento proferido pelo STF: EMENTA Agravo regimental no recurso extraordinário. Tributário. PIS. EC nº 10/1996. Majoração de alíquota. Anterioridade. Irretroatividade. Necessidade de observância. 1. A Emenda Constitucional nº 10/96 não foi mera prorrogação da Emenda Constitucional nº 01/94. Em consequência, a majoração da alíquota da Contribuição ao Programa de Integração Social (PIS) somente será devida após o decurso de noventa dias, contados a partir da publicação da referida emenda, em observância aos princípios da anterioridade nonagesimal e da irretroatividade das normas. 2. Agravo regimental a que se nega provimento. (STF, 2ªT., RE 953074 AgR / SP, Rel. Min. DIAS TOFFOLI, DJe PUBLIC 19-10-2016). Atentamos, ainda, não haver confusão entre o princípio da anterioridade e o princípio da anualidade, [...] segundo o qual a cobrança de tributos depende de autorização anual do Poder Legislativo mediante previsão no orçamento. Essa aprovação anual, concedida com a aprovação do orçamento, tem um sentido nitidamente democrático. [...] É preciso que, anualmente, tenham os representantes do povo conhecimento do emprego que o governo pretende fazer dos recursos arrecadados mediante os tributos.14 14 MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 23. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2003, p. 49. 27 São exceções a esse princípio as seguintes exações: imposto de importação (II), imposto de exportação (IE), imposto sobre operações financeiras (IOF), imposto extraordinário de guerra (art. 150, §1º, CF), empréstimos compulsórios destinados a despesas com calamidades públicas, guerra externa ou sua iminência (art. 148, I, CF). Esses podem ser cobradas imediatamente. As contribuições de seguridade social, CIDE combustível e imposto sobre produtos industrializados (IPI) estão submetidas somente à anterioridade nonagesimal (art. 195, § 6º), podendo ser cobradas no mesmo exercício financeiro. O IR, IPVA e IPTU seguem a anterioridade anual apenas, ou seja, não precisam observar a anterioridade nonagesimal, mas só podem ser exigidos no exercício financeiro seguinte. Exceção se faz quando há alteração na base de cálculo desses impostos, quando necessariamente a anterioridade nonagesimal deverá ser igualmente atendida. 1.9 Princípio da irretroatividade Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: [...] III. cobrar tributos: a. em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei que os houver instituído ou aumentado. (BRASIL, 1988, art. 150) Pelo princípio da irretroatividade, entende-se a proibição de cobrança do tributo em relação a fatos geradores anteriores à própria lei que instituiu ou aumentou o imposto. 28 Como bem coloca Geraldo Ataliba, “há um limite constitucional intransponível à discrição do legislador, na fixação do aspecto temporal: não pode ser anterior à consumação (completo acontecimento) do fato. Isto violaria o princípioda irretroatividade da lei (art. 150, III, ‘a’)”.15 Essa proibição está prevista no art. 150, III, “a” do texto constitucional, reforçando a preocupação do legislador com a segurança jurídica nas relações tributárias. Sob o manto desse princípio, o contribuinte terá direito a ter conhecimento prévio da carga tributária que irá sofrer, proibindo qualquer ação arbitrária do Fisco. De fato, antes de sua publicação a lei não poderá entrar em vigor e não poderá atingir fatos pretéritos à sua vigência, sendo a publicação da lei “condição mesma da sua existência especificamente jurídica. Não existe como tal no ordenamento jurídico brasileiro uma lei que não foi publicada”.16 Conclui-se, assim, que a lei tributária deve ser aplicada a fatos futuros, nunca a fatos pretéritos. O Código Tributário Nacional, no entanto, previu algumas hipóteses em que se autoriza a aplicação da legislação atual a eventos anteriores à sua vigência. Prevê o art. 106 do CTN: Art. 106. A lei aplica-se a ato ou fato pretérito: I. em qualquer caso, quando seja expressamente interpretativa, excluída a aplicação de penalidade à infração dos dispositivos interpretados; II. tratando-se de ato não definitivamente julgado: 15 ATALIBA, Geraldo. Hipótese de Incidência Tributária. 6. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2005, p. 95. 16 MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 23. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2003, p. 256. 29 a. quando deixe de defini-lo como infração; b. quando deixe de tratá-lo como contrário a qualquer exigência de ação ou omissão, desde que não tenha sido fraudulento e não tenha implicado em falta de pagamento de tributo; c. quando lhe comine penalidade menos severa que a prevista na lei vigente ao tempo da sua prática. Verificamos do comando acima transcrito que a lei somente retroagirá para fins de interpretação de conceitos ou quando se tratar de tratamento pró-contribuinte, liberando-o ou amenizado eventual penalidade. Para melhor ilustrar o princípio, suponhamos que determinada pessoa é contribuinte de um imposto cuja alíquota em janeiro de 2015 era de 15% e multa de 20% em caso de não pagamento. Diante do inadimplemento daquele tributo, o Fisco realizou autuação em setembro de 2016. Porém, em fevereiro de 2016 foi publicada uma lei que reduziu a alíquota daquele mesmo tributo para 10% e a multa para 5%. Qual legislação utilizar? Nesse caso, a alíquota a ser aplicada será a da legislação da época do fato gerador, ou seja, 15%, pois a lei de 2016 não poderá retroagir a fatos geradores anteriores à sua vigência. No entanto, em relação à multa, deverá ser aplicado o art. 106, II, c do Código Tributário Nacional, aplicando-se a penalidade menos severa, impondo, destarte, a multa de 5%. Assim sendo, quando se tratar de penalidade, a lei atual poderá retroagir em favor do contribuinte, desde que o ato não esteja definitivamente julgado. Consequentemente, contribuintes que já tenham pago a multa decorrente de atraso no recolhimento não poderão pedir a restituição de parte daquela penalidade com base em lei nova mais benéfica. Como ilustração do princípio, segue entendimento do STF: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL. REAFIRMAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA. DIREITO TRIBUTÁRIO. OPERAÇÕES DE EXPORTAÇÃO 30 INCENTIVADAS. IMPOSTO DE RENDA PESSOA JURÍDICA. FUNÇÃO EXTRAFISCAL. SÚMULA 584 DO STF. OCORRÊNCIA DO FATO GERADOR EM CADA OPERAÇÃO. APLICAÇÃO RETROATIVA. RE 183.130, DE RELATORIA PARA ACÓRDÃO DO MINISTRO TEORI ZAVASCKI. PRECEDENTE VINCULANTE. 1. No RE 183.130, de relatoria para o acórdão do Ministro Teori Zavascki, o Plenário desta Corte assentou que a utilização do Imposto de Renda com conotação extrafiscal afasta a incidência da Súmula 584 do STF. 2. O fato gerador se consolida no momento em que ocorre cada operação de exportação incentivada pela redução da alíquota do imposto de renda, à luz da extrafiscalidade da tributação na espécie. 3. É inconstitucional a aplicação retroativa do art. 1º, I, da Lei 7.988/89, que majorou a alíquota incidente sobre o lucro proveniente de operações incentivadas ocorridas no passado, ainda que no mesmo ano-base. Precedente: RE 183.130, de relatoria para o acórdão do Ministro Teori Zavascki, Tribunal Pleno, DJe 14.11.2014. 4. Recurso extraordinário a que se dá provimento, reafirmando a jurisprudência desta Corte, em sede de repercussão geral, para reformar o acórdão recorrido e declarar a inconstitucionalidade, incidental e com os efeitos da repercussão geral, do art. 1º, I, da Lei 7.988/89, uma vez que a majoração de alíquota de 6% para 18% a qual se reflete na base de cálculo do Imposto de Renda pessoa jurídica incidente sobre o lucro das operações incentivadas no ano-base de 1989 ofende os princípios da irretroatividade e da segurança jurídica. (STF, Pleno, RE 592396 / SP, Rel. Min. EDSON FACHIN, DJe PUBLIC 28-03-2016). Vamos Pensar Para entender melhor todos os aspectos que devem ser abrangidos pela lei, elabore um breve texto com todos os aspectos da lei tributária, especialmente em relação à descrição da hipótese de incidência, a fim de ter o pleno entendimento do que deve ser a norma tributária completa. Indicamos como referência o livro Hipótese de Incidência Tributária, de Geraldo Ataliba. 31 Pontuando • Diferença entre poder de tributar e competência tributária. • Limitações ao poder de tributar. • Conceito e funções dos princípios. • Extensão e importância do princípio da legalidade e suas exceções. • Noções sobre o princípio da irretroatividade. • Noções sobre o princípio da anterioridade. Glossário Exercício financeiro: “Período anual em que deve vigorar ou ser executada a Lei Orçamentária Anual (ver verbete). No Brasil, coincide com o ano civil, iniciando-se em 1º de janeiro e terminando em 31 de dezembro” Verificação de leitura 1. Publicada lei modificando a contribuição social sobre a receita ou faturamento: a. não poderá ser exigida tal contribuição no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a referida lei, independentemente da data de sua publicação; 32 b. poderá ser exigida tal contribuição imediatamente após a data da publicação da referida lei; c. só poderá ser exigida tal contribuição após decorridos cento e vinte dias da data da publi- cação da referida lei; d. só poderá ser exigida tal contribuição após decorridos noventa dias da data da publicação da referida lei; e. só poderá ser exigida tal contribuição após decorridos cento e oitenta dias da data da publicação da referida lei. 2. Nos termos da Constituição Federal, cuidando-se de matéria relativa à limitação do poder de tributar, NÃO é vedado: a. à União, dentre outras hipóteses, instituir isenções de tributos de competência dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios; b. aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios estabelecer diferença tributária entre bens e serviços de qualquer natureza, em razão de sua procedência ou destino; c. à União, aos Estados e aos Municípios cobrar tributos em relação a fatos geradores ocorridos depois do início da vigência da lei que os houver instituído ou aumentado; d. aos Municípios utilizar tributo com efeito de confisco e instituir impostos sobre templos de qualquer culto; e. ao Distrito Federal instituir impostos sobre livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão. 33 3. A competência tributária, assim entendido o poder que os entes políticos têm para instituir tributos, encontra limites na Constituição Federal e no Código Tributário Nacional. Entre as limitações constitucionais ao poder de tributar, é incorreto afirmar que: a. é vedado à União cobrar tributos em relação a fatos geradores ocorridos antes da vigência da lei que os houver instituído ou aumentado; b. é vedado aos entes políticos – União, Estados, Distrito Federal e Municípios – instituir impostos sobre patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros; c. é vedado à União conceder isenções de tri-butos da competência dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios, exceto para os produtos definidos em lei como integrantes da denominada “cesta básica”; d. é vedado aos entes políticos, em geral, utilizar tributo com efeito de confisco; e. por meio de medida provisória, pode a União majorar imposto de sua competência. 4. Em relação ao tema competência tributária, é correto afirmar que: a. a Constituição atribui à União competência residual para instituir impostos, contribuições para a seguridade social e taxas; b. a instituição de empréstimos compulsórios requer lei complementar da União, dos Estados ou do Distrito Federal, conforme compe- tência que a Constituição confere a cada um desses entes da Federação; c. para instituir impostos com fundamento na competência residual, é imprescindível, além da 34 competência tributária, veiculação da matéria por lei complementar e observância dos princípios constitucionais da não cumulativida- de e da identidade plena com outros impostos discriminados na Constituição, no que se refere a fato gerador e base de cálculo; d. somente a União tem competência residual para instituir impostos; e. os Estados, o Distrito Federal e os Municípios têm competência para instituir impostos, taxas, contribuição de melhoria e contribuição de intervenção no domínio econômico, que a Constituição lhes reserva. 5. Considere que, após a ocorrência de um fato gerador, nova lei aumentando as alíquotas do tributo tenha sido publicada. Nessa situação, o lançamento será regido pela lei: a. em vigor na data da ocorrência do fato gerador; b. em vigor na data da feitura do lançamento; c. em vigor na data do pagamento do tributo; d. mais favorável ao incremento da arrecadação; e. discricionariamente indicada pela autoridade fazendária competente. Referências AMARO, Luciano. Direito Tributário Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2008. ATALIBA, Geraldo, Periodicidade do Imposto de Renda I, Mesa de Debates, RDT, nº 63, Malheiros, 1997. CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de Direito Constitucional Tributário. 9. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 1997. 35 CARRAZZA, Roque Antônio. Curso de Direito Constitucional Tributário. 30. ed. São Paulo, Malheiros Editores, 2015. CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 1996. COELHO, Sacha Calmon Navarro. Curso de Direito Tributário Brasileiro. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999. MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. São Paulo: Malheiros Editores, 2008. MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário, 23ª ed. São Paulo, Malheiros Editores, 2003. PAULSEN, Leandro. Direito Tributário, Constituição e Código Tributário à Luz da Doutrina e da Jurisprudência. 9. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007. Gabarito Questão 1 - D. Resolução: Existem duas qualidades de contribuições sociais: genéricas e específicas. As contribuições sociais específicas são aquelas destinadas a custear a seguridade social, portanto, contribuições cuja arrecadação deve ser encaminhada à saúde, assistência social ou previdência social. Contribuições cuja arrecadação seja destinada a qualquer outro segmento que não os três indicados são denominadas como genéricas. As contribuições sociais específicas, por sua vez, têm como contribuintes, entre outros, o empregador, cabendo a esse recolher contribuições sociais calculadas sobre a folha de salários, receita ou faturamento, ou ainda sobre o lucro (art. 195, I, CF). Em relação ao princípio da anterioridade, que impõe as regras para a exigência dos tributos, conforme dispõe o art. 195, § 6º, CF, as contribuições sociais para a seguridade social observam apenas a anterioridade nonagesimal, aguardando-se apenas 90 dias contados da data da publicação da lei. 36 Questão 2 - C. Resolução: A alternativa C tenta demonstrar o princípio da irretroatividade (art. 150, III, a, CF), contudo União, Estados, Distrito Federal e Municípios estão proibidos em cobrar tributos em relação a fatos geradores ocorridos ANTES do início da vigência da lei que os houver instituído ou aumentado. Não há proibição constitucional em cobrar tributos em razão de fatos geradores acontecidos após o início da vigência da lei. Questão 3 - C. Resolução: O princípio da isenção heterônoma veda à União conceder isenção para tributos estaduais e municipais (art. 151, III, CF), sendo a ela permitido somente oferecer o benefício para os tributos sob sua competência. Não há disposição sobre exceções à regra conforme indicado na afirmativa. Alternativa inverídica, portanto, a que responde CORRETAMENTE a questão. Questão 4 - D. Resolução: A competência residual tanto para instituir novos impostos (art. 154, I, CF) como para instituir novas contribuições sociais (art. 195, § 4º, CF) é outorgada exclusivamente à União. Questão 5 - A. Resolução: A questão exige conhecimento quanto à legislação aplicável ao lançamento. Nesse ponto, é preciso observar o art. 144 do CTN e seus parágrafos. Nesse sentido, quanto à matéria- alvo do lançamento (o tributo exigido), esse deverá observar a legislação em vigor no momento da ocorrência do fato gerador, de modo que o tributo deverá ser recolhido conforme alíquota vigente naquele instante. 37 Já quando há alteração de critérios informadores do lançamento, condizentes às atividades de fiscalização e arrecadação, ampliando os poderes de investigação das autoridades administrativas ou outorgando ao crédito maiores garantias ou privilégios, então a legislação que deve ser observada é a que se encontrar em vigor (art. 144, § 1º, CTN). A questão é sobre qual alíquota aplicar após lei aumentando sua porcentagem. Lei nova não deve retroagir para alcançar fato gerador anteriormente ocorrido (art. 150, III, a, CF); logo, o lançamento deverá se reportar à legislação em vigor na data da ocorrência do fato gerador, ainda que na época a alíquota fosse mais elevada. 38 Igualdade, Capacidade Contributiva e Efeito Confiscatório Autoria: Adriana Mayumi Kanomata Leitura crítica: Juliana Caramigo Gennarini 39 1. Igualdade, Capacidade Contributiva e Efeito Confiscatório 1.1 Princípio da igualdade e capacidade contributiva Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: [...] II. instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente, proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida, independentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos. (BRASIL, 1988, art. 150) No dispositivo acima transcrito, verificamos que o legislador constituinte proibiu ao ente tributante de instituir tratamento desigual “entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente, proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida, independentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos”. Assim sendo, aos contribuintes é assegurado que ninguém receberá privilégios ou tratamentos diferenciados, devendo ser a lei aplicada com isonomia a todos que se encontrem dentro de uma mesma situação ou que componham o perfil de sujeição passiva previsto em lei. Sacha Calmon Navarro Coelho alerta que o legislador deve ficar atento a dois pontos, em relação ao princípio da legalidade: A. “discriminar adequadamente os desiguais, na medida de suas desigualdades; 40 B. não discriminar entre os iguais, que devem ser tratados igualmente”.1 Ainda, Leandro Paulsen esclarece os critérios utilizados para a diferenciação entre contribuintes para buscar tratamento igualitário: A isonomia imposta pelo art. 150, II, da CF impede que haja a diferenciação tributária entre contribuintes que estejam em situação equivalente, ou seja, discriminação arbitrária. Justifica-se a diferenciação tributária quando haja situações efetivamente distintas, se tenhaem vista uma finalidade constitucionalmente amparada e o tratamento diferenciado seja apto a alcançar o fim colimado.2 O princípio da igualdade, ou princípio da isonomia, está ligado, também, à capacidade contributiva do indivíduo. Isso porque o tratamento igualitário deve buscar equivalência entre o ônus fiscal e a capacidade financeira do contribuinte. Assim, quem recebe mais poderá pagar mais e quem recebe menos pagará menos. Em outras palavras, para que exista uma tributação mais justa, alcançando a tão almejada justiça fiscal, aqueles que podem devem contribuir com uma parcela maior e vice-versa. Dessa forma, sempre que for possível a criação de impostos pessoais, eles deverão ser implementados, de forma que o montante que será arrecadado com a nova exação deve ficar em segundo plano. Roque Carrazza ensina que: Na verdade, quando o legislador ordinário tiver opções, deverá, obrigatoriamente, ao criar in abstracto o imposto, atender aos reclamos do princípio da capacidade contributiva, isto é, deverá imprimir à 1 COELHO, Sacha Calmon Navarro. Curso de Direito Tributário Brasileiro. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999, p. 245. P 2 AULSEN, Leandro. Direito Tributário, Constituição e Código Tributário à Luz da Doutrina e da Jurispru- dência. 9. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007, p. 194. 41 exação caráter pessoal, graduando-a segundo a aptidão econômica do contribuinte. Estamos percebendo que, no Brasil, capacidade contributiva é o mesmo que capacidade econômica. Conquista do Estado Moderno, ajuda a realizar a justiça fiscal, porque tem por escopo fazer com que cada pessoa colabore com as despesas públicas na medida de suas possibilidade3. Nesse sentido, o art. 145, §1º da Constituição Federal prevê que, sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e observarão a capacidade econômica do contribuinte. De fato, o tratamento igualitário deve ter como parâmetro a capacidade de cada contribuinte, ou seja, a fixação das alíquotas deve variar de acordo com a situação econômica do sujeito passivo da relação tributária. Assim sendo, não há violação ao princípio em tela a cobrança de imposto progressivo, onde quem tem maior capacidade contributiva se submete a uma alíquota maior. Nesse caso, a norma discrimina o tratamento (alíquotas diferentes) para trazer a justiça fiscal. A título de exemplo, vamos considerar dois grupos de contribuintes: grupo A, que recebe até 2 salários mínimos, e o grupo B, que recebe acima de 10 salários mínimos. Se tributarmos a renda de ambos os grupos em 10%, não estaremos considerando o caráter pessoal e a capacidade contributiva de cada grupo, inexistindo, nesse caso, tratamento igualitário. No entanto, ao aplicarmos alíquotas diferenciadas (10% para o grupo A e 15% para o grupo B), estaremos garantindo equivalência no tratamento entre quem recebe menos e quem recebe mais. Para ilustrar o princípio, segue jurisprudência do STF: 3 CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de Direito Constitucional Tributário. Malheiros. 2006. São Paulo. p. 102 42 EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. LEI ESTADUAL: PROGRESSIVIDADE DE ALÍQUOTA DE IMPOSTO SOBRE TRANSMISSÃO CAUSA MORTIS E DOAÇÃO DE BENS E DIREITOS. CONSTITUCIONALIDADE. ART. 145, § 1º, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. PRINCÍPIO DA IGUALDADE MATERIAL TRIBUTÁRIA. OBSERVÂNCIA DA CAPACIDADE CONTRIBUTIVA. RECURSO EXTRAORDINÁRIO PROVIDO. [...] Tenho afirmado que essa norma constitucional é a introdução expressa pelo constituinte originário do princípio da igualdade material tributária a ser observado pelos Estados em todos os casos em que, por meio de tributação, venha a intervir no domínio do contribuinte. Por essa razão, não se há cogitar de inconstitucionalidade na situação aqui posta, qual seja, de um Estado dando sequência, dando aplicação plena, dando concretude a esse princípio, nos termos do § 1º do artigo 145, para se fazer a gradação, mediante a adoção da técnica de progressividade para assegurar a aferição da capacidade econômica do contribuinte. (STF, Pleno, RE 562045 / RS, Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI, DJe PUBLIC 27-11- 2013). Frisamos, ainda, que existe entendimento no sentido de haver exceções ao princípio da isonomia, quando se tratar de tributação com base na extrafiscalidade ou no poder de polícia. O Fisco, por exemplo, poderá aplicar alíquotas mais altas para produtos que entender nocivos à saúde da população em geral, como bebidas alcóolicas. Certamente outros produtos assemelhados (sucos, refrigerantes, achocolatados etc.) poderão ter alíquotas menores. No entanto, a desigualdade será fundamentada justamente na função extrafiscal do tributo, ou seja, aumentar a carga tributária para que, de forma indireta, reduza o incentivo ao consumo da bebida alcóolica. Outro exemplo, ainda, é o tratamento diferenciado às microempresas e empresas de pequeno porte, previsto no art. 146, IV da CF, que 43 determina que a legislação (complementar) institua regimes mais favoráveis e simplificados no recolhimento de contribuições do empregador. Não se trata de violação ao princípio da igualdade, mas de adaptar a tributação com a capacidade contributiva daquele perfil de empresa. Por outro lado, alguns poderiam exigir a extensão para si de determinadas leis concedendo benefícios para determinado grupo de contribuintes, sob a alegação de violação do princípio da isonomia. No entanto, é fato que o legislador e o Poder Judiciário deverão analisar as especificidades de cada caso, sendo que o STF já manifestou posicionamento no sentido de não ter autorização para exercer funções legislativas, sendo-lhe vedado estender a aplicação de leis. E M E N T A: RECURSO EXTRAORDINÁRIO – TRIBUTÁRIO – PARCELAMENTO DE DÉBITOS – LEI Nº 10.522/2002 – IMPOSSIBILIDADE DE EXTENSÃO DE TAL BENEFÍCIO A EMPRESA OPTANTE PELO SIMPLES NACIONAL – ALEGADA OFENSA AO PRINCÍPIO DA ISONOMIA – INOCORRÊNCIA – ATUAÇÃO DO JUDICIÁRIO COMO LEGISLADOR POSITIVO – INADMISSIBILIDADE – RECURSO IMPROVIDO. Tenho por inacolhível a pretensão recursal deduzida pela parte agravante, eis que, tal como ressaltado na decisão ora agravada, não se revela lícito, ao Poder Judiciário, atuar na anômala condição de legislador positivo ( RTJ 126/48 – RTJ 143/57 – RTJ 146/461-462 – RTJ 153/765 – RTJ 161/739-740 – RTJ 175/1137, v.g.), para, em assim agindo, e nos limites do pleito deduzido, ela, empresa contribuinte, proceder à imposição de seus próprios critérios, afastando, desse modo, os fatores que, no âmbito de nosso sistema constitucional, só podem ser legitimamente definidos pelo Parlamento. É que, se tal fosse possível, o Poder Judiciário – que não dispõe de função legislativa – passaria a desempenhar atribuição que lhe é institucionalmente estranha (a de legislador positivo), usurpando, desse modo, no contexto de um sistema de poderes essencialmente limitados, competência que não lhe pertence, com evidente transgressão ao princípio 44 constitucional da separação de poderes. (STF, 2ªT, RE 709315 AgR / RS, Rel. Min. CELSO DE MELLO, DJe PUBLIC 14-12-2012) Em relação ao poder de polícia, podemos citar a progressividade do IPTU decorrente da ausência de uso do imóvel, ou seja, por conta da falta de função social da propriedade. Outro ponto que deve ser destacado com relação ao princípio da capacidade contributiva, diz respeito a sua aplicação às taxas. Nesse sentido, o art. 145, § 1º, da Constituição Federal (BRASIL, 1988), afirma que “sempre que possível os impostos terão caráter pessoal”. Tendo em vista tal redação, a questão que surge é: será que referido princípio pode ser aplicado às taxas? Como é sabido, as taxas são tributos vinculados a uma atividade estatal e podem ser cobradas em decorrência do exercício do poder de polícia ou da prestação de serviços públicos. Dessa forma, os valores relativos às taxas devem refletir o preço da atividade estatal que está sendo colocada à disposição ou efetivamente prestada ao contribuinte.Percebe-se, portanto, que numa primeira análise, não se leva em consideração a capacidade contributiva do contribuinte para o pagamento das taxas. O que se leva em consideração é o valor da atividade prestada pelo Estado. Para ficar mais claro, como as taxas judiciais, todas as vezes em que um cidadão ingressa na justiça com uma ação judicial, ele deve efetuar o pagamento de taxas para o Estado, em razão da prestação de um serviço público, que é a prestação do serviço jurisdicional. Nesse caso, o valor da taxa é calculado de acordo com o valor dado à causa. Se a demanda tiver o valor de 1 milhão de reais, o valor da taxa 45 que deverá ser pago será o mesmo se o autor da ação for uma grande empresa com alta capacidade contributiva ou for uma pessoa física aposentada. Portanto, fica evidente que para a definição do valor da taxa, não é levada em consideração a capacidade contributiva do contribuinte. No entanto, o ordenamento jurídico trouxe mecanismos para que as disparidades pudessem ser corrigidas, como é o caso das isenções ou benefícios fiscais. Assim, para que o contribuinte não seja prejudicado, em determinadas situações poderá fazer jus à isenção e deixar de efetuar o pagamento da taxa para o fisco. Voltando ao exemplo da ação judicial, é o que ocorre aos beneficiários de justiça gratuita. Dessa forma, a legislação permite que o princípio constitucional da capacidade contributiva seja, de certa forma, respeitado por essa espécie tributária. 1.2 Princípio do não confisco Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: [...] IV. utilizar tributo com efeito de confisco. O art. 150, IV, da Carta Maior prevê que é vedado à União, Estados, Distrito Federal e Municípios utilizar os tributos para fins de confisco. No texto constitucional há várias garantias para o cidadão que salvaguardam seu patrimônio. O maior exemplo disso é a garantia constitucional ao direito de propriedade. 46 No entanto, o direito de propriedade não é absoluto. Tanto que o ordenamento jurídico prevê a possibilidade de se tributar a propriedade de cada indivíduo. Justamente neste ponto é que deve ser analisado o princípio do não- confisco na seara tributária, eis que, apesar de ser possível a tributação do patrimônio do contribuinte, isto deve ser realizado de maneira a não onerar de forma insuportável o indivíduo. Entende-se que o tributo deve ser um encargo que seja suportável pelo contribuinte, sem que lhe traga sacrifícios além do normal, ou seja, sentido como verdadeira penalidade. O ônus fiscal não pode ser tamanho a ponto de impedir a atividade e desenvolvimento econômico, não pode obstaculizar a produção de riquezas nem suprimir patrimônio ou meios de produção dos contribuintes. Nesse sentido, é o ensinamento de Sacha Calmon Navarro: Os tributos visam obter meios, mas sempre preservando as fontes onde se cevam e, até, induzem o crescimento das mesmas. Quanto maior a economia de uma nação, melhor para as finanças públicas. Esta a índole do regime. Falar-se em confisco neste panorama é nonsense. [...] Neste sentido, o princípio do não confisco nos parece mais com um princípio da razoabilidade na tributação [...].4 Destarte, o confisco tem a ver com tributação abusiva, que não anda em compasso com o princípio da razoabilidade. O caráter confiscatório do tributo, caso seja questionado, deverá ser analisado e declarado pelo Poder Judiciário, que tem poder para controlar a constitucionalidade dos atos administrativos voltados à arrecadação de tributos. 4 COELHO, Sacha Calmon Navarro. Curso de Direito Tributário Brasileiro. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999, p. 253. 47 Nesse sentido, é fato que, por exemplo, o imposto de renda que possuir alíquota que comprometa a subsistência do contribuinte, que deixe faltar recursos para despesas essenciais, deve ser considerado confiscatório. Assim sendo, se identificado que a finalidade e destinação da cobrança vai muito além do necessário para a manutenção da máquina estatal e que avança de forma abusiva sobre o patrimônio e renda do contribuinte, a natureza confiscatória do tributo deverá ser reconhecida. Vale lembrar que a Constituição Federal não previu exceções a esse princípio. Porém, existem alguns impostos que são mais “maleáveis” e que comportam alíquotas maiores, como, por exemplo, o imposto sobre a importação ou IPI, que são tidos como tributos extrafiscais. Em outras situações, existe um aparente conflito entre princípios constitucionais, que acaba por permitir uma tributação mais elevada. É o caso, por exemplo, do ITR. A legislação ao ITR estabelece que suas alíquotas podem variar de 0,03% a 20% do valor do imóvel, dependendo do grau de utilização e produtividade da terra. Num primeiro momento, a alíquota de 20% poderia parecer confiscatória, mas, neste caso, é privilegiado outro princípio constitucional, o da função social da propriedade. De acordo com o princípio da função social da propriedade, a terra deve ser produtiva para que as desigualdades sociais sejam amenizadas, evitando-se, com isso, a existência de grandes latifúndios improdutivos. Levando em conta esse princípio, o legislador decidiu tributar com alíquotas maiores de ITR as propriedades improdutivas e com alíquotas menores as glebas que efetivamente são utilizadas para agropecuária na maioria de sua extensão. 48 Portanto, entre dois princípios constitucionais, o do não-confisco e o da função social da propriedade, prevaleceu esse último, em prol da garantia dos cidadãos. Ainda, frisamos que o conceito de tributo não se mistura com a multa aplicada ao contribuinte. A vedação constitucional trata apenas do tributo. Porém, o STF, em julgamento proferido no AgRg no RExt 833.106/GO, diante da omissão de limitação constitucional, limitou a 100% sobre o valor do tributo a multa imposta, sob pena de ser considerada confiscatória. TRIBUTÁRIO – MULTA – VALOR SUPERIOR AO DO TRIBUTO – CONFISCO – ARTIGO 150, INCISO IV, DA CARTA DA REPÚBLICA. Surge inconstitucional multa cujo valor é superior ao do tributo devido. Precedentes: Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 551/RJ – Pleno, relator ministro Ilmar Galvão – e Recurso Extraordinário nº 582.461/SP – Pleno, relator ministro Gilmar Mendes, Repercussão Geral. (AgReg. no RE 833.106/GO, 1ª T., Rel. Min. MARCO AURÉLIO, DJe- 11-12-2014) As chamadas sanções políticas são também consideradas afrontas ao princípio do não confisco, sendo consideradas medidas coercitivas utilizadas pela Administração Pública para forçar o contribuinte a pagar o tributo. Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal já consolidou seu entendimento: Súmula nº 70: É inadmissível a interdição de estabelecimento como meio coercitivo para a cobrança de tributo. Súmula nº 323: É inadmissível a apreensão de mercadorias como meio coercitivo para pagamento de tributos. 49 Súmula nº 547: Não é lícito à autoridade proibir que o contribuinte em débito adquira estampilhas, despache mercadorias nas alfândegas e exerça suas atividades profissionais. Vamos Pensar Elabore um breve texto sobre o princípio do não confisco e sua aplicação na atualidade, frente à jurisprudência atual. Recomenda-se como leitura inicial a obra O Princípio do não confisco no Direito Tributário, escrita por Estevao Horvath. Pontuando • Princípio da igualdade e parâmetros de fixação da isonomia entre contribuintes. • Capacidade contributiva como referência do tratamento igualitário. • Conceito de não confisco. • Tributos e multas frente ao princípio do não confisco. Glossário Confisco: “apropriação dos bens de uma pessoa, especialmente se for por parte do Estado” (Dicionário Didático, Vários colaboradores. 3. ed. São Paulo: Edições SM, 2009). 50 Verificação de leitura 1. Considerando aspectos relacionados à incidência de imposto, às contribuições sociais, ao princípio da igualdade tributáriae às normas gerais do direito tributário, assinale a opção correta: a. Segundo o STF, não haverá ofensa ao princípio da isonomia tributária se a lei complementar, por motivos extrafiscais, imprimir trata- mento desigual a microempresas e empresas de pequeno porte de capacidade contributiva distinta, afastando do regime diferenciado aquelas cujos sócios tenham condição de disputar o mercado de trabalho sem assistência do Estado. b. A contribuição previdenciária não incide sobre o 13.º salário. c. O CTN admite expressamente a compensação mediante o aproveitamento de tributo, objeto de contestação judicial pelo sujeito passivo, antes do trânsito em julgado da respectiva decisão judicial. d. Não incide ICMS sobre o valor da tarifa de energia elétrica correspondente à demanda de potência efetivamente utilizada. e. O princípio da isonomia proíbe a cobrança do tributo sem lei que o estabeleça. 2. Quanto às limitações do poder de tributar, é correto afirmar: a. Os Estados podem instituir tributo com efeito de confisco desde que se trate de desapropriação de 51 bens de concessionário público que não cumpriu suas obrigações contratuais. b. Aos Estados e aos Municípios é vedado exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça. c. Os Estados ou os Municípios podem instituir impostos sobre templos de qualquer culto, desde que durante as suas realizações ocorram doações por parte dos fiéis, pois se trata de formação de renda e/ou prestação de serviço. d. Aos Estados e aos Municípios é vedado exigir ou aumentar tributos nas hipóteses de calamidade pública, salvo quando absolutamente necessário para evitar danos irreversíveis ao patrimônio público, ao orçamento público ou à saúde pública. 3. À luz da Constituição, avalie as formulações seguintes e, ao final, assinale a opção que corresponde à resposta correta. I. É vedado à União elevar a alíquota do imposto sobre a renda e proventos de qual- quer natureza, de 27,5% para 41%, incidente sobre renda líquida igual ou superior a R$ 120.000,00, auferida no ano civil por pessoa física, por força da disposição constitucional vedatória da utilização de tributo com efeito de confisco, bem como assim da que prevê a graduação de impostos segundo a capacidade econômica do contribuinte. II. A cobrança de pedágio pela utilização de vias conservadas pelo poder público não constitui violação do dispositivo constitucional que veda o estabelecimento de limitações ao tráfego de pessoas ou bens por meio de tributos interestaduais ou intermunicipais. 52 III. Somente à União compete instituir impostos extraordinários, na iminência ou no caso de guerra externa, compreendidos ou não em sua competência tributária, podendo a respectiva cobrança ser iniciada no mesmo exercício financeiro em que seja publicada a lei ordinária que os instituir. a. Somente I é falsa. b. I e II são falsas. c. I e III são falsas. d. II e III são falsas. e. Todas são falsas. 4. Considerando a matéria tributária definida na CF, assinale a opção correta: a. É facultado ao Poder Executivo, respeitados as condições e os limites legais, alterar as alíquotas do imposto sobre produtos industrializados. b. Dado o princípio da isonomia, os impostos não podem ter caráter pessoal. c. As limitações constitucionais ao poder de tributar podem ser reguladas por lei ordinária. d. As contribuições de intervenção no domínio econômico não incidem sobre as receitas de- correntes de importação. e. O imposto sobre a propriedade territorial rural será progressivo e não incidirá sobre pequenas glebas rurais exploradas pelo proprietário, mesmo que ele possua outro imóvel. 5. Em termos de sistema tributário nacional: 53 a. o Código Tributário Nacional nada mais é do que simples lei ordinária federal, na forma e na substância; b. é vedado a União transferir o exercício supletivo de sua competência tributária; c. a Lei Complementar nº 5.172/66 (CTN) as- segura a harmonia do Sistema Tributário, colaborando também para sua autonomia; d. não existe concentração fiscal e tributária na União; há repartição igualitária dos tributos entre União, Estados, DF e Municípios; e. o CTN é uma lei ordinária. Referências COELHO, Sacha Calmon Navarro. Curso de Direito Tributário Brasileiro. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999. PAULSEN, Leandro. Direito Tributário, Constituição e Código Tributário à Luz da Doutrina e da Jurisprudência. 9. ed. Porto Alegre, Livraria do Advogado, 2007. SABBAG, Eduardo de Moraes. Direito Tributário. 3. ed. São Paulo: Siciliano Jurídico, 2003. SILVA, José Afonso da. Curso de direito Constitucional Positivo. 17. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2000. VÁRIOS COLABORADORES. Dicionário Didático, 3. ed. São Paulo: Edições SM, 2009. Gabarito Questão 1 - A. Resolução: O princípio da isonomia busca o tratamento igualitário para aqueles que se encontram em condição 54 equivalente. Já é pacífico o entendimento de que as micros e pequenas empresas merecem tratamento diferenciado – sem violar o princípio da isonomia –, pois não são consideradas equivalentes a empresas de grande porte. Tanto é que existe previsão na própria Constituição de incentivo através de tratamento jurídico diferenciado e simplificação de suas obrigações (art. 179). É o caso do Simples Nacional, instituído pela Lei complementar 123/06. Questão 2 - B. Resolução: Aos Estados e Municípios, bem como à União, é vedado instituir ou cobrar impostos sem lei que o estabeleça, com base no princípio da legalidade. Ressaltamos, no entanto, que na alternativa A existe uma afirmação falsa, ao tratar da suposta possibilidade de efeito confiscatório de tributo em hipótese não prevista constitucionalmente. Questão 3 - A. Resolução: O princípio da vedação ao confisco deve ser observado por todos os entes federados, contudo, segundo a Constituição Federal (art. 150, IV), NÃO HÁ CASOS DE TRIBUTOS EXCEPCIONAIS à regra estabelecida. Já a graduação dos impostos segundo a capacidade econômica do contribuinte é permitida para impostos pessoais (art. 145, §1º, CF), tal qual OCORRE com o imposto de renda. Afirmativa FALSA. Questão 4 - A. Resolução: Conforme o previsto no art. 153, § 1º, da CF/88, o Poder Executivo poderá, “atendidas às condições e os limites estabelecidos em lei”, alterar as alíquotas do IPI. 55 Questão 5 - C. Resolução: A lei 5.172/1966, o Código Tributário Nacional, tem status e cumpre as funções de lei complementar, atendendo à exigência do art. 146, III da Constituição Federal. Nela estão fixadas as normas gerais do Sistema Tributário Nacional, incluindo as regras de competência entre União, Estados, Municípios e Distrito Federal, bem como as regras de repartição de receitas que não são igualitárias entre os entes federados. 56 Imunidade recíproca, religiosa e no terceiro setor Autoria: Renato Traldi Dias Leitura crítica: Andréa Depintor Objetivos • Tomar conhecimento do instituto da imunidade recíproca e da lógica por trás de sua criação. • Familiarizar-se com o instituto da imunidade religiosa e o impacto da Emenda Constitucional 116/2022. • Aprender como se aplica a imunidade específica do terceiro setor. 57 1. Introdução: isenção versus imunidade Antes de se iniciar o estudo das imunidades propriamente ditas, é importante se ressaltar a diferença entre elas e as isenções. Como bem sumariza Sabbag (2021), a isenção se trata da dispensa legal – portanto, infraconstitucional – de pagamento. Ou seja, há incidência do tributo – já que ocorre o fato gerador e é constituído vínculo jurídico- obrigacional entre contribuinte e Fisco –, mas a obrigação de pagá-lo é imediatamente desconsiderada e ele sequer chega a ser lançado. Por sua vez, a imunidade implica em não incidência originária da Constituição; ou seja, sequer chega a incidir o tributo – não ocorre o fato gerador e não é constituído vínculo jurídico-obrigacional entre contribuinte e Fisco –, de modo que não há o que se dispensar, pois