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Indaial – 2023 Estratégias dE NEgociação Prof.ª Liliane de S. Vieira da Silva. 3a Edição Copyright © UNIASSELVI 2023 Elaboração: Prof.ª Liliane de S. Vieira da Silva. Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: aprEsENtação A globalização, aliada ao avanço da ciência e da tecnologia, diminuíram barreiras, possibilitando um número maior de trocas e compartilhamentos de dados e informações. Ampliaram-se as relações entre pessoas, entre empresas, entre países e entre blocos comerciais, o que, consequentemente, requer dos profissionais uma expertise maior no que se refere à negociação. A visão tradicional sobre negociação quase sempre esteve relacio- nada à disputa, incutindo a ideia de que alguém deveria perder para que o outro pudesse ganhar. Atualmente, um novo paradigma emerge, em que uma nova postura de cooperação e disposição vem sendo adotada, a fim de se estabelecer relacionamentos duradouros que possibilitem vantagens para ambos os lados. Neste atual cenário, a capacidade de negociação é reconhecida como uma das dez competências do século XXI. Saber negociar tornou-se fundamental para aqueles que almejam sucesso pessoal e profissional. Tal habilidade pode ser aprendida e aperfeiçoada durante a convivência prática com as pessoas ao redor e também por meio de estudos teóricos, como é o caso dos conhecimentos que você irá adquirir por meio da leitura deste livro. Neste livro, você terá acesso às reflexões sobre o conceito de negociação, identificação de situações nos campos profissional e pessoal, cuja resolução depende de conhecimentos específicos de negociação, bem como aplicação de ferramentas e técnicas de negociação que propiciem maior eficácia nas negociações. A fim de cumprir com tais objetivos, este livro foi organizado em três unidades. O primeiro tópico da Unidade 1 visa proporcionar uma visão geral sobre negociação e sua importância no atual cenário. Assim, apresenta- se as bases conceituais da negociação e também as variáveis básicas da negociação. O segundo tópico da Unidade 1 possui como tema os Tipos de ne- gociação. Neste tópico serão abordados os tipos e os estilos de negociadores. Apresenta-se uma visão geral dos princípios básicos dos estilos adotados nas negociações. O Tópico 3 da primeira unidade discorre sobre as técnicas de negociação. Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA A Unidade 2 discorre, no primeiro tópico, sobre negociação e conflito. No segundo tópico, apresenta-se os conteúdos sobre negociação, conciliação, mediação e arbitragem. Por fim, apresentam-se os conceitos sobre negociação baseada em princípios. A Unidade 3 traz uma importante contextualização sobre “Oportu- nidades da Negociação”, em que são discutidos temas como a influência da cultura nas negociações e as negociações intraculturais e multiculturais. A seguir, concentramos nos desafios da negociação e a negociação estratégica. Desejo a você bons estudos! Prof.ª Liliane de S. Vieira da Silva. Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE sumário UNIDADE 1 — PRINCÍPIOS DE NEGOCIAÇÃO .......................................................................... 1 TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO: NEGOCIAR É PRECISO ............................................................... 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3 2 NEGOCIAÇÃO .................................................................................................................................... 3 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 6 3 BASES CONCEITUAIS DA NEGOCIAÇÃO ................................................................................ 6 4 VARIÁVEIS BÁSICAS DA NEGOCIAÇÃO: TEMPO, INFORMAÇÃO E PODER ............ 16 5 PROCESSO DA NEGOCIAÇÃO .................................................................................................... 23 6 MODELOS DE NEGOCIAÇÃO ..................................................................................................... 25 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 28 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 29 TÓPICO 2 — TIPOS DE NEGOCIAÇÃO ........................................................................................ 31 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 31 2 NEGOCIAÇÃO INTEGRATIVA NEGOCIAÇÃO DISTRIBUTIVA ....................................... 31 3 ESTILOS DE NEGOCIADORES .................................................................................................... 39 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 43 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 44 TÓPICO 3 — ZONA POSSÍVEL DE NEGOCIAÇÃO – ZOPA ................................................... 47 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 47 2 ZONA POSSÍVEL DE NEGOCIAÇÃO - ZOPA .......................................................................... 47 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 51 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 52 REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................54 UNIDADE 2 — NEGOCIAÇÃO E CONFLITO .............................................................................. 59 TÓPICO 1 — CONFLITO .................................................................................................................... 61 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 61 2 TIPOS DE CONFLITOS ................................................................................................................... 61 3 ESTILOS DE GESTÃO DE CONFLITOS ..................................................................................... 68 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 75 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 76 TÓPICO 2 — TÉCNICAS DE NEGOCIAÇÃO: CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO .................. 79 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 79 2 NEGOCIAÇÃO .................................................................................................................................. 79 3 CONCILIAÇÃO ................................................................................................................................. 82 4 MEDIAÇÃO ....................................................................................................................................... 87 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 91 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 92 TÓPICO 3 — NEGOCIAÇÃO BASEADA EM PRINCÍPIOS: ÉTICA NAS NEGOCIAÇÕES ................................................................................................. 95 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 95 2 NEGOCIAÇÃO BASEADA EM PRINCÍPIOS ............................................................................ 95 3 ÉTICA .................................................................................................................................................. 99 4 ÉTICA NAS ORGANIZAÇÕES .................................................................................................... 100 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 105 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 109 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 110 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 113 UNIDADE 3 — NEGOCIAÇÕES EM CONTEXTOS MULTICULTURAIS ............................ 117 TÓPICO 1 — NEGOCIAÇÃO: DESAFIOS E OPORTUNIDADES ......................................... 117 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 119 2 NEGOCIAÇÃO INTERNACIONAL ...............................................................................................119 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 135 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 136 TÓPICO 2 — NEGOCIAÇÕES MULTICULTURAIS .................................................................. 139 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 139 2 O IMPACTO DA CULTURA NAS NEGOCIAÇÕES ...................................................139 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 150 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 151 TÓPICO 3 — DESAFIOS DA NEGOCIAÇÃO ............................................................................. 153 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 153 2 A IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇÃO NAS NEGOCIAÇÕES ...............................153 3 NEGOCIAÇÃO ESTRATÉGICA .................................................................................................. 156 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 162 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 168 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 169 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 172 1 UNIDADE 1 — PRINCÍPIOS DE NEGOCIAÇÃO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • • conhecer os princípios, definições e conceitos da negociação; • • • compreender as bases conceituais da negociação; • • • identificar o processo de negociação; • • • analisar as variáveis básicas da negociação; • • • traduzir os estilos de negociadores; • • • conhecer as principais técnicas de negociação; • • • desenvolver capacidades técnicas de negociação; • • • aplicar técnicas de negociação. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – INTRODUÇÃO: NEGOCIAR É PRECISO TÓPICO 2 – TIPOS DE NEGOCIAÇÃO TÓPICO 3 – ZONA POSSÍVEL DE NEGOCIAÇÃO – ZOPA 2 Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 3 TÓPICO 1 — UNIDADE 1 INTRODUÇÃO: NEGOCIAR É PRECISO 1 INTRODUÇÃO Olá, acadêmico! A partir de agora vamos adentrar no universo da negociação, examinando seu conceito, identificando as fases que compõe este processo, as abordagens, tipos de negociação e os estilos de negociadores. O tema negociação é de fundamental importância, uma vez que estamos o tempo todo negociando. Para algumas pessoas, a negociação é uma arte, para outras, é uma habilidade adquirida por meio da prática e de estudos. O que você pensa sobre isso? Considera a negociação uma arte ou uma habilidade? De modo geral, a negociação como área de estudo compreende as técni- cas, abordagem e estratégias utilizadas em negociações, mas também está rela- cionada à comunicação, inteligência emocional e argumentação, como veremos a parti de agora. 2 NEGOCIAÇÃO Negociar é preciso? Se o título deste tópico fosse uma indagação, qual seria sua resposta? Vejamos alguns fatores que podem não somente esclarecer possíveis dúvidas, mas também nos fazer refletir a importância da negociação. FIGURA 1 – NEGOCIAÇÃO FONTE: <https://bit.ly/3z94itQ>. Acesso em: 8 jun. 2021. UNIDADE 1 — PRINCÍPIOS DE NEGOCIAÇÃO 4 A partir de 1901, a paz foi instaurada como uma das cinco categorias do prêmio Nobel. Tal fato representa o reconhecimento do bem causado pelas ações de indivíduosou organizações que, conforme o testamento de Alfred Nobel (1895), fazem "o maior ou melhor trabalho pela fraternidade entre as nações, pela abolição ou redução de exércitos permanentes e pela realização e promoção de congressos de paz". Os ganhadores do prêmio foram responsáveis por estabelecer acordos de paz entre países, eliminação de armas químicas, resolução de conflitos, luta pela democracia e direitos humanos. O principal instrumento para o alcance desses feitos foi justamente a negociação. O trabalho de negociação pode solucionar diversos conflitos, como: • Acordos de paz entre nações. • Resoluções em casos de sequestros. • Acordos sindicais. • O fim de greves em órgãos públicos. • Aquisição ou fusões de empresas. Você deve se lembrar da greve dos caminhoneiros, em 2018, também chamada de Crise do Diesel. Como mais de 60% dos itens no país são transportados por meio do modal rodoviário, a paralisação da categoria causou um grande caos, causando diversos problemas, como: • Falta de combustíveis nos postos. • Aeroportos operando em estado crítico; vários voos cancelados. • Falta de abastecimento de alimentos em várias regiões e consequente aumento nos preços dos produtos alimentícios remanescentes. • Impacto nas exportações. • Suspensão de aulas em escolas e universidades. • Segunda fase da prova da OAB suspensa. • Relatos de falta de produtos em supermercados, principalmente hortifrutigranjeiros. • Suspensão de procedimentos em hospitais por conta de falta de medicamentos. • Paralisação de produções em fábrica. • Descarte de leite por parte de produtores por ser um alimento perecível. • Risco de desabastecimento de água potável no Distrito Federal por falta de insumos para o tratamento. A greve que culminou em uma das maiores crises de abastecimento já vista no país só chegou ao fim depois de muita negociação. Um outro evento, que ocorreu em 1981, nos Estados Unidos, também foi a greve dos controladores de voo. Logo no início do primeiro mandato do presidente norte-americano Ronald Reagan, a greve convocada pelo sindicato da categoria teve a adesão de cerca de 13 mil empregados, mas foi rapidamente controlada. TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO: NEGOCIAR É PRECISO 5 Com um plano B estabelecido, Reagan deu um ultimato de 48 horas para a categoria voltar à ativa, enquanto o secretário de Transportes, Drew Lewis convocava operadores aposentados, militares da Força Aérea, para assumir o trabalho dos grevistas que foram substituídos. Observa-se que a negociação está para além das transações comerciais, sendo utilizada para manter a ordem, a segurança, a fluidez da economia, a paz e, por que não dizer, a vida. Como exemplo, observe o texto a seguir: Um homem foi injustamente acusado de ter assassinado uma mulher. O verdadeiro autor do crime era uma pessoa influente no reino, e por isso desde o primeiro momento se procurou um “bode expiatório” para acobertar o assassino. O homem acusado foi levado à julgamento. O resultado já era sabido por todos: a forca. Ele sabia que tudo iria ser feito para condená-lo e que teria poucas chances de sair vivo dessa história. O juiz, que também estava combinado para levar o pobre homem à morte, simulou um julgamento justo, fazendo uma proposta ao acusado. Disse o juiz: Sou de uma profunda religiosidade e por isso vou deixar sua sorte nas mãos do Senhor, vou escrever num pedaço de papel a palavra INOCENTE e no outro pedaço a palavra CULPADO. Você irá sortear um dos papéis e aquele que sair, será o veredicto. O Senhor decidirá seu destino! – determinou o juiz. Sem que o acusado percebesse, o juiz preparou os dois papéis, mas em ambos escreveu CULPADO, de maneira que naquele instante não existia nenhuma chance do acusado se livrar da forca. Não havia alternativas para o homem. O juiz colocou os dois papéis em uma mesa e mandou o acusado escolher um. O homem parou por alguns instantes, pensou e aproximou-se da mesa desconfiado. Pegou um dos papéis e rapidamente colocou-o na boca e engoliu. Os presentes no julgamento reagiram surpresos e indignados com a atitude do homem. Mas o que você fez? E agora? Como vamos saber qual será seu veredicto? Não será difícil! – respondeu o homem. Basta olhar o outro pedaço de papel que sobrou e saberemos que acabei engolindo o contrário. FONTE: <https://radio93.com.br/eraumavez/o-homem-e-a-forca/>. Acesso em: 8 jun. 2021. UNIDADE 1 — PRINCÍPIOS DE NEGOCIAÇÃO 6 AUTOATIVIDADE O texto que você acabou de ler demonstra o quanto a negociação é necessária, pois em muitos casos é impossível não negociar. Comente sobre qual foi a estratégia mais inusitada que você já teve que usar para alcançar êxito em uma negociação. 3 BASES CONCEITUAIS DA NEGOCIAÇÃO Antes de discutir as bases conceituais da negociação, é importante salientar o que não é negociação. Negociar não é impor nem desprezar, não é seduzir muito menos ludibriar. Segundo Hirata (2007), só existe negociação efetivamente quando a relação entre as pessoas envolvidas é de interdependência, caso contrário, a relação que se estabelece é de barganha. Barganha ou berganha, que tem origem na palavra inglesa bargain, é um processo no qual são feitos acordos por meio da troca. A palavra possui um sentido pe- jorativo. Poder de barganha se refere à negociação de influência ou vantagens que ocorre comumente de forma moralmente condenável. NOTA Acuff (2004, p. 28) enfatiza que a “negociação é um processo de comunicação de mão dupla cujo objetivo é chegar a um acordo mútuo sobre necessidades e opiniões divergentes. Negociar significa persuadir, ao invés de usar força bruta. Ademais, negociar quer dizer que o outro lado sentir-se-á satisfeito com o resultado da negociação”. Persuadir significa conduzir alguém a crer ou aceitar uma ideia ou pro- posta, significa convencer. O poder de persuasão é, sem dúvidas, uma habilidade fundamental a todo negociador. Um advogado, por exemplo, com tal habilidade consegue solucionar conflitos por meios consensuais, poupando tempo, além de representar melhor os interesses das partes. Ainda, pode-se afirmar que de todos os modos de gestão de conflitos, os que fazem uso das técnicas de negociação são mais flexíveis, eficientes e econômicos (BENJAMIN, 2012). TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO: NEGOCIAR É PRECISO 7 A negociação, é, portanto, um processo social presente no cotidiano de todo indivíduo. São filhos que negociam com os pais, diplomatas que negociam acordos com outras nações, empresas que negociam com outras empresas, compradores que negociam com vendedores, patrões e funcionários que negociam acordos coletivos. As pessoas negociam até mesmo quando não o pensam estar fazendo. No âmbito organizacional, a negociação é parte fundamental das atividades do dia a dia dos executivos, diretores, líderes e gestores. Thompson (2005) elenca cinco razões-chave para que a negociação assuma uma importância crescente no mundo empresarial. Veja a seguir: • A Natureza Dinâmica do Negócio: a mobilidade e a flexibilidade são hoje fatores imperativos no contexto atual do mercado de trabalho. Este dinamismo faz com que as pessoas tenham que negociar e renegociar durante a sua vida e ao longo de toda a sua carreira profissional. As pessoas têm que continuamente criar possibilidades, integrar os seus interesses com os dos outros e reconhecer a permanente concorrência dentro e entre as empresas. • A interdependência: a crescente interdependência das pessoas dentro das organizações, hierárquica e funcionalmente, faz com que que elas tenham que saber integrar os seus interesses e trabalhar em conjunto nas várias unidades de negócio e áreas funcionais. O grau crescente de especialização e conhecimento do mundo empresarial implica que as pessoas estejam cada vez mais dependentesde outros, no fornecimento de partes de um serviço ou de um produto completo. Os gestores necessitam de saber promover os seus próprios interesses, e criar valor acrescentado para as suas organizações. • Competição: num mercado cada vez mais competitivo, continuamos a assistir ao fenômeno crescente da concentração. As grandes empresas afirmam-se como grandes atores nos maiores mercados, conseguindo economias de escala e grandes lucros. As restantes empresas perdem posição, ficando muitas vezes em situações muito fragilizadas, essencialmente com pouco mercado. A tendência nos próximos anos não será diferente da atual, os grandes serão cada vez maiores e muitos pequenos correrão o risco de desaparecer. Esta realidade significa que as empresas devem ser peritas em ambientes competitivos, e saber navegar neste ambiente é fundamental para negociar com sucesso. • A Era da Informação: enquanto negociador, a era da informação traz também oportunidades e desafios para o gestor. A velocidade e a disponibilidade da informação levam a que os gestores tenham que estar preparados para negociar em cima do acontecimento, no momento certo. O desenvolvimento da informática e a gestão da informação vieram ampliar as obrigações e a capacidade das empresas para criar valor acrescentado para os seus clientes. UNIDADE 1 — PRINCÍPIOS DE NEGOCIAÇÃO 8 • A Globalização: as barreiras culturais, como a língua, os hábitos e o câmbio devem ser eficazmente ultrapassados pelos gestores para que possam desen- volver as suas capacidades de negociação globais. Comunicar e negociar junto de pessoas de diferentes nacionalidades, estratos e estilos de comunicação é um desafio primordial para os gestores. Ao refletir esses cinco itens elencados, é possível concluir que em uma economia globalmente integrada, as negociações entre pessoas de diferentes contextos culturais são cada vez mais frequentes. É por isso que negociar tornou-se uma função-chave para os gestores. Conforme enfatiza Boff (2011, p. 112): A negociação é uma ferramenta valiosa, para todos os profissionais, no cenário atual do mundo das organizações e dos negócios. Todos os profissionais negociam diversas coisas, o tempo todo, com seus clientes internos, externos, líderes e liderados, tais como, recursos humanos e financeiros, prazos, orçamentos, contratos, dentre tantas outras e, portanto, é de fundamental importância saber como abordar cada momento que envolve uma negociação para que se obtenham resultados positivos. Ainda, Pollan e Levine (1994, p. 6) enfatizam que a "negociação é, depois de ler e escrever, é a habilidade mais importante e necessária para alguém se tornar bem-sucedido pessoalmente, financeiramente e nos negócios". Desse modo, saber negociar tornou-se uma competência fundamental a todo líder e gestor. Tal tarefa é parte fundamental da atividade empresarial, conforme aponta Mintzberg (1973, p. 91): “embora possa até ser classificada por muitos como um trabalho não gerencial, trata-se de uma parte vital da função de um administrador”. FIGURA 2 – BASES CONCEITUAIS DA NEGOCIAÇÃO FONTE: <https://bit.ly/3rlBXhk>. Acesso em: 8 jun. 2021. TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO: NEGOCIAR É PRECISO 9 No dicionário, o termo “negociação” abarca sinônimos como negócio, transação, negociamento. De acordo com Rosalem e Santos (2007), o termo deriva do latim negocium, palavra formada pela junção dos termos nec (nem, não) + ocium (ócio, repouso). Negociar significa negar o ócio. Seu uso mais frequente, tanto no latim quanto no português, gira em torno de comércio, tráfico, relações comerciais, transação, combinação, ajuste. O termo está associado à estratagema ou truque para ganhar dinheiro com facilidade, oportunidade. No inglês, o termo equivalente negociate tem apenas o significado de transação comercial. A negociação como campo de conhecimento vem sendo explorado por diversas áreas de estudo, como Direito, Administração, Engenharia, Marketing, Secretariado. Godinho e Macioski (2005, p. 144) afirmam que “nas escolas de negócios e de direito, novas disciplinas têm sido criadas contemplando o estudo das técnicas de influenciar as pessoas, ensinando os futuros profissionais a discutir preços, normas, cláusulas e acordos, a persuadir, a conceder, a intimidar e a blefar”. No entanto, Teixeira, Fialho e Silva (2011) apontam que por mais que a palavra negociação seja conhecida, pode-se dizer com propriedade que o assunto “negociação” ainda é pouco desenvolvido no meio acadêmico, com muita pouca teoria e conceitos definidos. Vale ressaltar o estudo de Martinelli (2001), que analisou o estado da arte sobre o tema Negociação, identificando as diferentes visões de autores renomados, a partir de 14 definições referentes a 11 autores distintos. Portanto, as definições selecionadas mostraram-se significativas nas décadas de 1970 a 1990, tendo em vista que se tem três definições até 1980, cinco entre 1985 a 89 e seis conceitos entre 1993 a 1996. Os principais aspectos que caracterizam os conceitos de negociação estão apresentados no Quadro 1. QUADRO 1 – ASPECTOS DAS DEFINIÇÕES DE NEGOCIAÇÃO AUTOR ASPECTOS Cohen (1980) Obter vantagens Cohen (1980) Uso da informação e do poder Nierenberg (1981) Relacionamento humano Fisher & Ury (1985) Importância da comunicação Matos (1989) Busca de interesses comuns Matos (1989) Importância da participação no processo Steele att ali (1989) Movimento de posições divergentes para um acordo Steele att ali (1989) Uso da barganha no processo UNIDADE 1 — PRINCÍPIOS DE NEGOCIAÇÃO 10 Acuff (1993) Busca de um acordo Mills (1993) Negociamos sempre Gibbons & Mc Govern (1994) Importância da flexibilidade Hodgson (1996) Instrumento da satisfação das necessidades Robinson (1996) Negocia-se desde o dia em que se nasce Lewick et al. (1996) Negociação estratégia FONTE: Adaptado de Martinelli (2001) As pesquisas que surgiram nos últimos anos sobre a temática possuem seu foco na riqueza e complexidade das negociações. Por meio de diferentes perspectivas teóricas, estabelecem visões diferentes do processo de negociação. É possível dividir essas vertentes em estudo normativo, descritivo e prescritivo (BELL; RAIFFA; TVERSKY, 1989 apud PAULA; SOUZA, 2007). Conforme apresenta-se no quadro a seguir. QUADRO 2 – ABORDAGENS DA NEGOCIAÇÃO Abordagem Normativa Abordagem Descritiva Abordagem Prescritiva Modelar o processo assumindo um comportamento racional dos negociadores. O foco do estudo normativo é a elaboração de modelos formais da negociação que, a partir da hipótese de racionalidade dos negociadores, podem ser usados para facilitar a obtenção de compromissos estáveis e eficientes. O objetivo é prescrever o comportamento dos negociadores, de maneira que eles alcancem bons resultados durante a negociação e a excelência no processo, que normalmente é a abordagem considerada por cientistas comportamentais, historiadores, psicólogos, sociólogos, antropólogos e cientistas políticos. Esses profissionais se concentram na descrição e análise das percepções e comportamento dos negociadores e suas implicações no processo e nos resultados obtidos. Diferenças individuais, influências sociais e a influência do ambiente são discutidas nesta abordagem. Na abordagem descritiva, os pesquisadores estão interessados em entender e descrever o comportamento dos negociadores, com o foco nos aspectos comportamentais e na forma como as decisões são tomadas efetivamente. Na abordagem prescritiva, o objetivo principal é desenvolver técnicas que direcionam os negociadores na maneira como eles devem se comportar. FONTE: Adaptado de Bell, Raiffa e Tversky (1989 apud PAULA; SOUZA, 2007) TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO: NEGOCIAR ÉPRECISO 11 Como é possível observar no quadro exposto, o estudo normativo tem seu foco no estabelecimento de modelos formais da negociação que, a partir da hipótese de racionalidade dos negociadores, possibilitam a obtenção de compromissos estáveis e eficientes. O foco desse modelo é desenvolver técnicas que direcionam os negociadores na maneira como eles devem se comportar. Na abordagem prescritiva, o objetivo é prescrever o comportamento dos negociadores, de maneira que eles alcancem bons resultados durante a negociação e a excelência no processo. Na abordagem descritiva, os pesquisadores que geralmente são cientistas comportamentais, historiadores, psicólogos, sociólogos, antropólogos e cientistas políticos estão interessados em entender e descrever o comportamento dos negociadores, com o foco nos aspectos comportamentais e na forma como as decisões são tomadas efetivamente. Nessa abordagem, o foco está na descrição e análise das percepções e comportamento dos negociadores e suas implicações no processo e nos resultados obtidos. Diferenças individuais, influências sociais e a influência do ambiente são discutidas nesta abordagem (KERSTEN, 2002; NEALE; BAZERMAN, 1991). Vejamos outras definições sobre o tema. Os autores Fisher e Ury, (1985, p. 30) afirmam que a “negociação é um processo de comunicação bilateral com o objetivo de se chegar a uma decisão conjunta”. Para Brett (2000), negociação é uma forma de interação social, um processo em que duas ou mais partes tentam solucionar metas percebidas como incompatíveis. Sendo uma interação socialmente motivada entre indivíduos ou grupos com interesses divergentes e comuns, a negociação promove o confronto entre diferentes valores, visões e perspectivas do mundo. (SOBRAL; CARVALHAL; ALMEIDA, 2007). A negociação é o processo de buscar a aceitação de ideias, propósitos ou interesses, visando ao melhor resultado possível, de tal modo que as partes envolvidas terminem a negociação, conscientes de que foram ouvidas, tiveram oportunidades de apresentar toda sua argumentação e que o produto final seja maior que a soma das contribuições individuais (JUNQUEIRA, 1988, p. 5). Nesta mesma linha de raciocino, Acuff (1993) argumenta que negociação é o processo de comunicação com o propósito de se atingir um acordo agradável sobre diferentes ideias e necessidades. Também Carvalhal et al., (2012) enfatiza que a negociação surge como processo e forma de resolver conflitos para viabilizar os resultados desejados, visto que se gerenciar é administrar e liderar, a negociação deve ser um instrumento inseparável do cotidiano dos gestores. UNIDADE 1 — PRINCÍPIOS DE NEGOCIAÇÃO 12 Para Lewicki, Saunders e Barry (2014, p. 3), a negociação “é uma forma de tomada de decisão na qual duas ou mais partes discutem um assunto no esforço de resolver as diferenças relativas a seus interesses”. Segundo os autor, há quatro pontos caracterizam as negociações: • 1) Toda e qualquer negociação envolve duas ou mais partes interessadas, um gerente pode negociar com seus colaboradores um breve recesso no final do ano, desde que a equipe possa deixar até dois colaboradores nos postos de trabalho. Os colaboradores podem entre eles definir quem serão os escolhidos para cumprirem o recesso dos demais. • 2) Em toda negociação existe um conflito de interesses, sendo que uma parte deseja uma coisa e a outra parte uma outra coisa, isso é o conflito. No exemplo do recesso de final de ano dos colaboradores, um grupo pode desejar ficar e aproveitar o recesso do final do ano. O outro grupo, para a negociação não ter conflito, deveria ficar na semana do Natal, entretanto os dois grupos querem a mesma semana do final de ano. E agora? Temos um conflito. • 3) As partes negociam deliberadamente. Usam argumentos para convencer a outra parte, evocam benefícios e tentam convencer o que a outra parte pode obter. No caso do recesso de final de ano, um grupo pode argumentar para convencer o outro grupo que no final de ano o recesso é menos atraente, que o outro grupo poderá curtir com a família o Natal com mais tempo, enfim, realiza- se toda uma justificativa para convencer as partes de que quem desfrutar do recesso no Natal terá mais benefícios que aqueles que fruírem do recesso no final de ano. As argumentações de uma parte podem convencer aqueles que desejam a mesma coisa, mas também podem contra-argumentar e esse processo dialógico da negociação é que vai dar as sustentações necessárias para que um grupo faça a opção pelo recesso da semana do Natal ou da semana do Ano Novo. • 4) Quando o processo de negociação ocorre, as partes envolvidas esperam, em troca do que dão, receber aquilo que desejam e que acham ser justo. Há duas possibilidades de resultado do processo: ou há negociação ou não há, e quando não há, as partes podem perder. Já pensou se o gerente desiste do recesso de final de ano, por que a equipe não chegou a um denominador comum? Todos perderam. Entretanto, se a equipe chegar a um acordo que seja bom para todos, que haja concessões de ambas as partes, todos poderão fruir de um recesso de trabalho no final de ano. Para se tornar um bom negociador, é preciso não apenas conhecer os estilos de negociação e as estratégias adotadas pela outra parte, mas, sobretudo conhecer a si mesmo, o autoconhecimento e o controle emocional (inteligência emocional) são fatores decisivos durantes uma negociação. Também é preciso lembrar que nenhuma negociação é estática, podendo ocorrer imprevistos, posto que, o ser humano é dotado de sentimentos e emoções que se externalizam em suas práticas diárias e situações inesperadas podem ocorrer durante uma negociação. TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO: NEGOCIAR É PRECISO 13 Essas situações são chamadas de entraves, a falta de controle emocional é reconhecida como um desses entraves ou bloqueios. Conforme afirma Pessoa (2009), problemas emocionais em uma negociação ocorrem quando envolve herança entre herdeiros; pensão alimentícia entre ex-cônjuges; empresários com viés competitivo, acostumados a tratar seus opositores com ar de inferioridade; ou ainda colaboradores de unidades diferentes da organização que não se admiram. Outro entrave é a falta de confiança, que ocorre em situações em que uma das partes possui um histórico de acordos ruins para outra parte. Ninguém negocia para perder, mas obviamente para se chegar a um con- senso alguém precisa ceder, isso muitas vezes ocorre pelo bem comum das partes. Para compreender a evolução do tema no decorrer da história vamos nos apropriar do texto de Robert Benjamin, “The Natural History of Negotiation and Mediation: The Evolution of Negotiative Behaviors, Rituals, and Approaches”. O autor traz uma importante análise quanto ao foco dado à negociação no decorrer da história. Observe a figura a seguir: FIGURA 3 – LINHA DO TEMPO FONTE: Adaptado de Benjamin (2012) De acordo com Benjamin (2012), assim como a linguagem e a comunicação evoluíram em resposta às mudanças ocorridas na sociedade, as abordagens de negociação também se adaptaram às mudanças. No início da história humana o foco da negociação está na sobrevivência. No século XVI renascimento a ênfase da negociação com mais consciência e estratégia. No século XVII a XIX período da revolução cientifica e iluminismo abordagem racionalista. Segundo Freitas (1994, p. 13-14), na pós-modernidade, as organizações já não podem mais lidar com os conflitos que emergem usando apenas o rigor da autoridade. À medida que as sociedades se tornam mais abertas; o poder, mais questionável; UNIDADE 1 — PRINCÍPIOS DE NEGOCIAÇÃO 14 as pessoas, mais reivindicativas, a participação nas decisões passa a ser considerada como um direito não só dos cidadãos, mas também dos membros da organização. É possível concluirque hodiernamente tornou-se mais complexo lidar com os assuntos culturais, sociais e políticos, o que requer um conhecimento maior no que diz respeito à psicologia e neurociência. Você já percebeu que negociar é uma arte. A forma como encaramos uma negociação está diretamente relacionado a nossa mentalidade, alguns profissionais percebem a negociação como um desafio árduo e demasiadamente difícil, já outros percebem a negociação como uma oportunidade de crescimento, circunstância ideal para estreitar relacionamentos e criar networking. O texto que você vai ler agora demonstra exatamente isso! Dois pontos de vista sobre negociação. NOTA Uma grande empresa da área de calçados, mundialmente conhecida tinha números e métricas formidáveis. Seu DRE e seu balanço patrimonial eram perfeitos: situação econômica e financeira em "timing" consonantes. E, então, o diretor de Marketing sugeriu que os seus dois melhores gestores de negócios participassem de um desafio. Chamados para uma reunião na sala do diretor, não conseguiam esconder as suas inseguranças. Com muitas dúvidas, receberam das mãos do diretor, o briefing contendo suas missões. A missão dos dois, basicamente era: vender todo o estoque de calçados. Eles seriam enviados à África, cada um em um período diferente: dois semestres, duas visitas distintas, com todas as despesas pagas, com suas famílias e uma equipe técnica, em datas distintas. Desafio aceito. No primeiro semestre, primeiro gestor partiu para um dos países africanos. O primeiro, chegou com dúvidas. Com a equipe, faziam muitas reuniões e trabalharam açabarcando uma grande área de trezentos quilômetros quadrados, pesquisando e fazendo levantamentos. Basicamente o trabalho foi sendo realizado. Terminando os seis meses, o primeiro chegou à empresa. Logo, enviaram o segundo e a segunda equipe. O trabalho foi o mesmo! Levantamento estatístico, planejamento de vendas, reuniões e muitas aventuras profissionais. O segundo voltou após seis meses. No fim de ano, a empresa reuniu os dois gestores para uma reunião com todos os investidores e sócios. Parecia a sala do "Aprendiz" (programa da rede Record, apresentado por Roberto Justus). Os dois, confiantes, estavam TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO: NEGOCIAR É PRECISO 15 prontos para iniciarem suas explanações, com flip chart, data show e toda a tecnologia possível! O momento era crucial para definição de suas carreiras! Chegou a hora do primeiro gestor. E, assim, começou sua apresentação. Ele apresentou seus resultados: zero de vendas! Seis meses. Zero de vendas. Com os olhares esbugalhados, os sócios e investidores, acionistas da corporação, não acreditavam no que viam e escutavam! E ele deu sua explicação: "Ninguém usava sapato! Ninguém queria comprar algo inútil para eles. Achavam que era algo que não agregava, apesar de todos os esforços". Disse o primeiro. Obviamente, comentou que a promoção dos sapatos havia sido feita em uma área carente, com péssimo IDH etc. E terminou sua apresentação. O mediador, então chamou o segundo, sem comentar nada sobre a apresentação do primeiro. O segundo iniciou a sua apresentação. Com aquele sorriso de campeão, apresentou os histogramas do sucesso: 100% da produção semestral havia sido comprada pelo comércio de toda a área abrangida. Por que? E eis a resposta do segundo gestor: "Ninguém usava sapato". Surpreendentemente, os acionistas se levantaram e bateram salvas de palmas para o grande feito! O primeiro gestor teve de iniciar aulas de gestão com o segundo para corrigir seu desempenho. E o segundo recebeu louvável promoção! FONTE: <https://administradores.com.br/artigos/a-fabula-do-vendedor-de-sapatos>. Acesso em: 30 mar. 2021. Caro acadêmico, aprenda mais sobre negociação assistindo o filme “O poderoso chefão”. DICAS FONTE: <https://bit.ly/3irVWa0>. Acesso em: 8 jun. 2021. UNIDADE 1 — PRINCÍPIOS DE NEGOCIAÇÃO 16 O filme é um clássico do cinema e conta com a atuação impecável do ator Marlon Brando no papel de Don Vito Corleone. Apesar da trama se desenvolver sobre o submundo do crime o filme traz diversas inspirações sobre etapas da negociação e comportamento dos participantes é possível observar técnicas de persuasão e exemplos do que não fazer na hora de negociar. O filme revela um dos pontos fundamentais de toda negociação o relacionamento das partes que inicia antes mesmo de sentar-se à mesa para se negociar. 4 VARIÁVEIS BÁSICAS DA NEGOCIAÇÃO: TEMPO, INFORMAÇÃO E PODER Este é um dos tópicos mais importantes desta unidade, pois o domínio das variáveis explicitadas a seguir determinará o desfecho de uma negociação. Existem três variáveis que influenciam uma negociação: o poder, o tempo e a informação; sendo importante ter pelo menos duas das três variáveis para efetivar a negociação (FISHER; URY; PATTON, 2005). Em negociações, essas variáveis são chamadas de tríade da negociação, conforme é possível observar na figura a seguir: FIGURA 4 – TRÍADE DA NEGOCIAÇÃO FONTE: <https://bit.ly/3zijLYM>. Acesso em: 8 jun. 2021. • Poder Vamos iniciar explicitando a variável poder. Não é uma tarefa simples conceituar o termo poder, mas sabe-se que o poder implica numa vontade de que nossa vontade prevaleça sobre o outro, sendo alcançado pela posição social, status, dinheiro, rede de contatos etc. TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO: NEGOCIAR É PRECISO 17 FIGURA 5 – PODER FONTE: <https://static.mundoeducacao.uol.com.br/mundoeducacao/2020/05/dominacao-po- der.jpg>. Acesso em: 8 jun. 2021. O poder é um conceito estudado por filósofos, sociólogos e demais estudiosos. O mais notório deles foi o filósofo inglês Thomas Hobbes (1588-1679), que enfatizava que todas as pessoas buscam o poder para assim utilizá-lo sobre os outros. Para Hobbes, as pessoas são egoístas e movidas pelo medo da morte e por ganhos pessoais, assim, o poder do homem está atrelado aos meios de que dispõe para alcançar o futuro, quer sejam esses meios naturais ou mesmo instrumentais. Desse modo, entende-se que as partes que envolvem uma negociação em muitos dos casos visam obter ganhos unilaterais, ou seja, em que apenas sua vontade prevalece. Martinelli e Almeida (1997, p. 24) mencionam que “ao contrário do que se pensa, tem-se mais poder do que se imagina. Ainda que não usem abertamente os poderes em uma negociação, é útil conhecê-los”. O poder significa impor uma vontade própria em uma relação social, a qual influencia diretamente na capacidade de determinar o comportamento do outro, mesmo havendo resistência de uma das partes. Este é o poder potencial, que em um processo de negociação, dependendo dos participantes, pode ser evidenciado por alguém. Essas variáveis ocorrem no dia a dia dos indivíduos e cabe, a cada um, explorá-las a fim de aproveitar as oportunidades surgidas (MARTINELLI; ALMEIDA 1997). Vejamos com mais detalhes cada um desses elementos. No que se refere ao poder, elemento constituinte e até mesmo determinante das relações sociais de negociação, Cohen (1980) destaca a inter-relação do poder com o próprio conceito de negociação como sendo o uso da informação e do poder, com o fim de influenciar o comportamento dentro de uma rede de tensão. UNIDADE 1 — PRINCÍPIOS DE NEGOCIAÇÃO 18 O poder implica em relacionamentos nos quais um lado domina o outro (COHEN, 1980). Tendo em vista a variável poder, Wanderley (1998, p. 165) afirma que “os negociadores devem identificar as fontes de poder de cada parte e determinar a relação de poder existente.” ► Poder: a palavra poder sugere uma ideia de superioridade, autoridade, capacidade de exercer controle, de ter direito sobre algo ou alguém. No entanto, o poder não deve ser um objeto em simesmo, mas um meio para se chegar a um fim desejado. Dentro de limites razoáveis, e acreditando que se tem poder, é possível conseguir tudo o que se pretende, ou seja, é possível conseguir resultados por meio das pessoas, desde que se transmita confiança a elas. O poder compreende: poderes pessoais e poderes circunstanciais. Os poderes pessoais englobam poderes exclusivos da pessoa, são poderes natos, que independem do papel desempenhado pelo negociador, dos seus conhecimentos e das suas habilidades para lidar com pessoas. O poder pessoal compreende poderes, tais como: da moralidade, da atitude, da persistência, da capacidade persuasiva, da aparência, da vontade e da motivação. Já, os poderes circunstanciais, enfocam questões da situação, isto é, o momento, o tipo da negociação e a influência do meio sobre ela. O poder circunstancial compreende poderes, tais como: do especialista em determinado assunto, da posição que ocupa em determinada organização, da legitimidade, da concorrência, de investimento, de assumir riscos, de recompensa e de punição, de barganha e da competência. French e Raven (1959) descrevem cinco bases do poder que uma pessoa pode exercer sobre a outra. O poder é a extensão na qual uma pessoa pode influenciar outra para fazer algo. As bases do poder são apresentadas no quadro a seguir: QUADRO 3 – CINCO BASES DO PODER E INFLUÊNCIA INTERPESSOAL DE FRENCH E RAVEN E COMO ELAS PODEM SER UTILIZADAS BASE UTILIZAÇÃO Conhecimento Dar informações. Referência Fazer com que os subordinados gostem de você. Legítimo Obter um cargo ou título de nível hierárquico elevado. Recompensa Recompensar a observância Coerção Punir a não observância FONTE: Adapatado de French e Raven (1959) TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO: NEGOCIAR É PRECISO 19 Spector (2012), em seu livro Psicologia nas organizações, explica as cinco bases do poder. Segundo o autor, o poder do conhecimento se baseia no conhecimento e na expertise do supervisor. Um subordinado provavelmente seguirá as instruções de uma pessoa que acredita ter um conhecimento ou expertise especial na área em questão. Lewicki Saunders e Barry (2014) atribuíram essas diversas formas ao que chamam de tipologias do poder, que são associadas aos poderes: especialista, de recompensa, coercitivo, legítimo e referente. Cada um desses poderes será detalhado a seguir: • I- Poder Especialista: esse tipo de poder é inerente às pessoas que têm informações exclusivas e detalhadas sobre um determinado assunto. Imagine que um negociador tem uma informação privilegiada que os demais não têm. A partir dessa condição, o negociador que tem poder de especialista se concentra em guinar a negociação para aquilo que ele tem como ponto forte em seu favor. É importante também considerar que estamos falando de uma situação isolada em que alguém tem naquele momento uma informação que lhe dará maior condição de negociar, mas há casos em que negociadores são exímios especialistas, pois dependendo de algumas negociações ele se antecipa e procura verificar com aqueles que podem lhe nutrir de informações as quais ele usará em seu favor no processo de negociação. Como dica recomendamos que assista à série House of Cards (da plataforma Netflix). Lá, você observará que todos os episódios da série partem de um processo de barganhas para obtenção de poder. Apesar de se enquadrar em muitas das situações explicadas aqui, recomendamos que fique atento às tratativas em que há políticos e lobistas com poder especialista DICAS • II- O poder de referência é a extensão na qual o subordinado gosta do supervisor e se identifica com ele. Uma pessoa tende a ser influenciada por outra a quem ela admira ou de quem gosta. Esse é um tipo que deriva daquilo que o negociador conquistou enquanto experiência adquirida e também por meio dos atributos: personalidade, atitudes éticas, integridade. Dessa forma, o responsável pelos processos de negociação pode obter o respeito dos demais participantes, tendo em vista todo o histórico de referências positivas que o negociar passou a obter por meio de sua conduta. • UNIDADE 1 — PRINCÍPIOS DE NEGOCIAÇÃO 20 • III- O poder legítimo é o poder inerente ao cargo do supervisor e provém da crença do subordinado de que o supervisor tem a autoridade ou o direito legítimo de estar no comando. O poder legítimo é quando alguém dentro de um processo de negociação responde hierarquicamente pelas negociações. É dado a ele a condição de atender tudo aquilo que está sendo discutido. Sua autoridade é chancelada pelo cargo ou função que ocupa em uma organização, assim todo o desenrolar do processo de negociação ficará a cargo daquele que tem como responsabilidade negociar dentro dos parâmetros desejáveis pela organização. • • IV- O poder de recompensa é a capacidade do supervisor de recompensar os subordinados com bônus, atribuições desejáveis, promoções a aumentos salariais. Esse é um tipo de poder em que as pessoas reconhecem o quanto o outro foi importante para que o processo de negociação pudesse ser concretizado. Certamente, há negociadores que não fazem uso dessa estratégia, até porque dependendo da ajuda concedida para alguns dos negociadores este é o trabalho da pessoa, portanto, ela não está muito preocupada em recompensar ninguém, por outro lado retribuir alguém que ajudou em uma grande negociação é importante, pois torna grato uma ação e fortalece os vínculos de parcerias. Certamente, novas negociações ocorrerão, e, certamente, aquela pessoa estará novamente no jogo e como tal ajudando a novas conquistas. As recompensas podem ser extrínsecas, como prêmios, bonificações, gratificações e outras, mas pode ser intrínseca, como a gratidão exercida perante à equipe de trabalho pelo bom trabalho desenvolvido no processo de negociação. • • V – O poder de coerção é a capacidade do supervisor de punir os subordinados com ações disciplinares, multas, demissão ou reduções salariais. Essa tipologia de poder está relacionada a punições, que em muitos dos casos inviabilizaram aquilo que foi amplamente pactuado pela equipe, que era atingir os objetivos em uma negociação. A coerção pode ser antes, durante ou depois da negociação acontecer. Antes, para fazer algum tipo de pressão caso as coisas não aconteçam como planejado, durante, quando o ato de negociar estiver ocorrendo, e depois, quando dependendo da situação resultante do processo o negociador não obteve aquilo que foi desejado. De acordo com Brito (2011), o poder no ato de negociar é determinado pela habilidade de influenciar pessoas ou situações, não abusando de autoridade, para não prejudicar o êxito no resultado. Ainda conforme Brito (2011), o poder pode ser definido com dez tipos dis- tintos, que podem influenciar a negociação, a pessoa pode possuí-lo e não usá-lo. 1. Posição – Hierarquia dentro de uma empresa, por exemplo, gerente e empregado. 2. Legitimidade – Posições de autoridade. O papa, por exemplo, para a igreja Católica. TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO: NEGOCIAR É PRECISO 21 3. Conhecimento ou especialização – Não o fato de possuí-lo, mas o modo, como a pessoa usa e aplica-o. Você pode ser brilhante, e mesmo assim não ter poder. 4. Caráter – quanto mais íntegra e leal a pessoa for, maior poder ela terá em negociações. 5. Recompensa – pessoas que tem autonomia para conferir recompensas ou algo que seja visto pela contraparte como recompensa. 6. Punição – Aqueles que podem criar um resultado negativo para sua contraparte têm o poder de punir. Os gerentes, por exemplo, podem demitir o empregado. 7. Sexo – O tratamento com o sexo oposto pode conferir poder. O ponto decisivo da negociação acontecia quando a mulher tocava casualmente a mão ou o braço do homem. 8. Estilo comportamental– Você pode ter um ou vários. A) Analítico – orientado para o processo, metódico. B) Dirigido – orientado para a tarefa, para a meta, com enfoque no resultado final. C) Protetor – orientado para o relacionamento, para os sentimentos. 9. Nenhum poder – Em alguns casos, você pode conseguir o poder se abrir mão dele. Ex. Sequestrador. 10. Loucura – Isso pode soar engraçado, mas um comportamento estranho ou irracional pode conferir grande poder a uma pessoa. Ex.: Pessoas explosivas (MARTIN, 1982 apud Brito 2011). Caro acadêmico, você pode se profundar ainda mais neste assunto lendo o artigo “Rede de relações e poder de negociação: uma análise do caso citrícola brasileiro”, no link a seguir: https://www.scielo.br/pdf/gp/v8n3/v8n3a04.pdf. O estudo traz uma análise do desenvolvimento da rede de poder citrícola brasileira a partir das relações de recursos de poder. FONTE: PAULILLO, Luiz Fernando. Rede de relações e poder de negociação: uma análise do caso citrícola brasileiro. Gestão & Produção, v. 8, n. 3, p. 250-270, 2001. DICAS • Tempo O tempo é considerado o bem mais precioso que um ser humano possui. UNIDADE 1 — PRINCÍPIOS DE NEGOCIAÇÃO 22 FIGURA 6 – TEMPO FONTE: <https://bit.ly/3ixCQ2n>. Acesso em: 8 jun. 2021. ► Tempo: o tempo envolve a noção de presente, passado e futuro e nas negocia- ções está relacionado aos prazos disponíveis para as partes, com a oportuni- dade em que questões deveriam ser abordadas e com a duração da negociação O tempo está relacionado com a necessidade de o negociador tomar decisões estratégicas para: avaliar o prazo limite disponível para si mesmo, o prazo a ser disponibilizado para a outra parte, o momento oportuno em que as ques- tões devem ser abordadas e a duração da negociação (WANDERLEY, 1998). Prazos e limites exercem influência sobre decisões, deixando a parte pressionada em desvantagem, pois geralmente quando uma parte negocia sob a pressão do tempo, pode ficar emocionalmente abalada e realizar concessões que normalmente seriam evitadas em condições mais equilibradas. O tempo conforme citado por Ghisi (2006, p. 23), “[...] refere-se ao ponto de apoio para projetar o negócio e a consequente satisfação dos envolvidos. Implica o período durante pelo qual o processo de negociação acontece”. Sabe-se que o tempo é um fator importante para a negociação e para que tenha sucesso é preciso que ele seja analisado, acompanhado e controlado, sendo delimitado por quem negocia, podendo inclusive ser negociado. É notável que geralmente o desenrolar dos fatos acontecem quando o prazo estipulado está chegando ao fim, assim afirma Ghisi. A informação é uma das mais importantes ferramentas do processo de negociação. Ghisi afirma que quanto mais preparado, mais aumentam as chances de alcançar um melhor desempenho. Pode-se afirmar que ao obter informações consistentes e com fundamento sobre a outra parte, torna o processo de negociação um tanto quanto mais fácil inclusive para traçar estratégias tornando-as mais eficazes. • Informação A informação é o ato de informar-se, de ter um conhecimento amplo e bem fundamentado, tornando-o primordial ao processo de negociação (MARTINELLI, 2001). TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO: NEGOCIAR É PRECISO 23 FIGURA 7 – INFORMAÇÃO FONTE: <https://portaldobibliotecario.com/wp-content/uploads/2018/11/busca-2.jpg>. Acesso em: 8 jun. 2021. A informação é uma questão chave no processo de negociações, ela pode garantir um fechamento desejável ou um baixo resultado – caso não tenhamos as informações necessárias. De acordo com Brito (2011), na negociação a informação representa uma parte essencial, pois: • O lado mais informado terá melhor resultado. • Prepare-se com antecedência, tendo consciência que a outra parte omitira informações no processo de negociação. 5 PROCESSO DA NEGOCIAÇÃO O processo de negociação é uma atividade planejada, que envolve a definição de algumas fases, procedimentos e atores específicos. Trata-se de um processo dinâmico, onde cada parte agrega novas informações, altera expectativas e modifica comportamentos. Assim como num jogo de golfe, em que o jogador seleciona o taco certo para cada jogada, o negociador precisa saber escolher as ferramentas adequadas a cada caso. Neste tópico, você identificará a negociação como processo, pois ela é composta por entradas e saídas. Conforme afirma Serrano (1988), ela é complexa por envolver a cooperação e também a competição, como opções que não constituem alternativas separadas, mas realidades interligadas e as motivações para estas alternativas surgem, muitas vezes, em simultâneo. A negociação como processo pode ser estudada quanto a vários aspectos, iniciamos os estudos quanto às etapas. Tendo em vista que a organização por etapas é mais facilmente assimilada quando separada cronologicamente. UNIDADE 1 — PRINCÍPIOS DE NEGOCIAÇÃO 24 O processo de negociação deve ser estruturado com base em diversos fatores, deve-se verificar qual é a posição em que se encontra, pois você pode negociar como cidadão, como consumidor ou cliente, ou ainda representando uma corporação. Assim, é necessária uma visão sistêmica para um melhor entendimento do contexto no qual se está inserido. Cavalcanti (2006) considera o processo de negociação sistêmico que inclui input e output. Os inputs caracterizam-se como as entradas: informações, comunicação, interesses, valores, entre outras, e são transformadas em saídas que sugerem as conquistas, concessões, decisão, satisfação, solução, acordo, entre outros. A negociação considerada um sistema de transformação de entradas (estímulos) em saídas(resposta). As entradas (ou estímulos) seriam os impulsos iniciais da negociação, por exemplo: a comunicação entre as partes, o uso da informação e do poder, os interesses comuns, entre outros. O processo seria a transformação desses impulsos citados em resultados, podendo ser caracterizado como a negociação em si. As saídas seriam o produto final da negociação, isto é, o acordo, a solução do conflito, as relações duradouras (CAVALCANTI, 2006, p. 41). FIGURA 8 – COMPONENTES DO PROCESSO DE NEGOCIAÇÃO FONTE: <https://bit.ly/3wUXoHb>. Acesso em: 8 jun. 2021. Concessão significa permissão/consentimento é o ato de ceder. Nas negociações as concessões ocorrem quando uma das partes aceita rever uma posição adotada, de forma a atender aos interesses ou às demandas da outra parte. Já uma negociação sem concessão ocorre quando uma das partes não aceita ceder. NOTA TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO: NEGOCIAR É PRECISO 25 Segundo Fisher e Ury e Patton (2005), quando há muitos membros em um grupo torna-se mais difícil chegar a uma concessão, quanto maior o número de participantes, mais complexa se torna uma negociação isso ocorre em conferências como das Nações Unidas em que mais de 150 países negociam. Chegou-se à compreensão de que o desafio de uma nação pode tornar-se um desafio global. Um problema climático em um país, por exemplo, pode afetar outras nações. A cooperação global é assim um imperativo do presente século. 6 MODELOS DE NEGOCIAÇÃO Hoje em dia é comum que as pessoas residam mais próximas umas das outras, em condomínios, apartamentos, localizados em cidades maiores e mais populosas, essa proximidade promove as relações, mas também os conflitos, há, portanto, a necessidade de se negociar. (BENJAMIN, 2012). Conclui-se que a intensificação das relações entre pessoas, entre empresas, entre nações, promove a negociação, que de acordo Lewicki, Saunders e Barry (2014), necessita de três razões para que ocorra, a saber: 1. A primeira delas está relacionada divisão algo que é limitado. 2. A segunda ocorre quando é necessário produzir ou criar algo novo que não é possível fazer sozinho. 3. E a terceira razão é quando há disputas em que há pessoas desejandouma coisa enquanto outras desejam outras coisas. No próximo tópico você vai aprender mais sobre as bases conceituais da negociação. Lewicki, Barry e Saunders (2010) apontam sete características comuns a todas as situações de negociação, sejam as cotidianas, de paz ou de negócios: FIGURA 9 – ELEMENTOS DA NEGOCIAÇÃO FONTE: Adaptado de Lewicki, Barry e Saunders (2010) ^ UNIDADE 1 — PRINCÍPIOS DE NEGOCIAÇÃO 26 Ao examinar a figura exposta, é possível perceber que qualquer negociação possui seis elementos: (i) a presença de duas ou mais partes, que podem ser indivíduos, grupos ou organizações; (ii) um conflito de necessidades e desejos; (iii) voluntariedade, uma vez que as partes escolhem negociar, com a expectativa de que terão melhores resultados; (iv) concessões, pois se espera que as partes alcancem uma posição intermediaria às posições iniciais, mas podem haver soluções criativas, nas quais as partes não precisem necessariamente ceder; (v) a preferência por soluções personalizadas para resolver o conflito; (vi) a gestão dos elementos subjetivos, como motivações psicológicas, emoções e valores. Apesar de a negociação ser uma abordagem eminentemente sensata para resolver as diferenças que emergem, muitas pessoas têm resistência à negociação ou mediação. Conforme afirma Benjamin (2012), muitas pessoas, independentemente da cultura, continuam a ser dominados por uma resistência centenária e profunda com relação à negociação. Segundo o autor, existem quatro fontes primárias de resistência à negociação: neurobiológica, cultural, psicológica e moral, nas próximas unidades esse tema será profundado. A negociação, definida como comunicação feita com o propósito de persuasão, é a alternativa que guarda maiores possibilidades de reduzir o stress que os conflitos organizacionais provocam, é tida como o mais preeminente modo de resolução de conflitos em razão de seu baixo custo operacional (ou custo processual) e sua celeridade (GOLDBERG et al., 1992). Vejamos a seguir as funções da negociação, conforme aponta Pruitt (1981): • desenvolver acordos específicos, ou seja, determinar como as pessoas devem se comportar em certas situações; • estabelecer procedimentos e fortalecer o relacionamento das partes envolvidas no processo; • desenvolver políticas de longo prazo sobre papéis, obrigações e privilégios. Ainda, segundo o autor, um acordo sobre políticas gerais terá implicações sobre as múltiplas decisões específicas; mediar a mudança social que ocorre com a falência de estruturas e padrões tradicionais, resultante da alteração das circunstâncias, modificação das necessidades e transformação das relações entre membros e grupos organizacionais. Nesse sentido, podemos entender melhor a mudança na consideração do papel dos sindicatos brasileiros, isto é, a passagem do vilão/agitador/fazedor de greves para um interlocutor, que não pode mais ser ignorado no processo decisório das organizações, inclusive o Estado. TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO: NEGOCIAR É PRECISO 27 As negociações distributivas (com resultado de soma zero) envolvem tipicamente uma questão única, divisível, como o dinheiro, por exemplo. São jogos “competitivos” de pura oposição de interesses, que envolvem disputas entre os dois lados, com soma zero: se um ganha, o outro perde (PESSOA, 2009). Negociações integrativas (com resultados diferentes de zero) envolvem muitas questões que diferem em importância para as partes, possibilitando ganhos mútuos que podem ser obtidos com compromissos ao longo ao longo das diversas questões. São jogos “cooperativos” que todos os jogadores ganham, ainda que não necessariamente as mesmas recompensas (PESSOA, 2009). 28 Neste tópico, você aprendeu que: RESUMO DO TÓPICO 1 • Os conceitos, características e os aspectos que envolvem uma negociação. • A negociação é um processo de comunicação bilateral com o objetivo de se chegar a uma decisão conjunta. • O processo de negociação é uma atividade planejada, que envolve a definição de fases, procedimentos e atores específicos. • Os componentes do processo de negociação são compostos por entradas e saídas. • O processo de negociação se constitui de três variáveis, presentes em toda e qualquer negociação, a saber: tempo, informação e poder, chamada de tríade da negociação. • Na literatura de negociação, um conceito é particularmente importante para uma preparação adequada: o BATNA (Best Alternative To Negotiation Agreement – Melhor Alternativa à Negociação de um Acordo). 29 • 1 A negociação é parte fundamental das atividades do dia a dia dos executivos, diretores, líderes e gestores e isso se deve a diversos fatores. Sobre as cinco razões-chave para que a negociação assuma uma importância crescente no mundo empresarial, associe os itens, utilizando o código a seguir: • • I- Globalização. • II- Dinâmica do Negócio. • III- Interdependência. • IV- Competição. • V- Informação. • • ( ) A mobilidade e a flexibilidade são hoje fatores imperativos no contexto atual do mercado de trabalho. • ( ) Empresas multinacionais e transacionais se estabelecem como grandes players dominado determinados mercados, conseguindo economias de escala e grandes lucros. • ( ) A velocidade e a disponibilidade dos dados e informação levam a que os gestores tenham que estar preparados para negociar em cima do acontecimento, no momento certo. • ( ) Comunicar e negociar junto de pessoas de diferentes nacionalidades, estratos e estilos de comunicação é um desafio primordial para os gesto- res. • ( ) O grau crescente de especialização e conhecimento do mundo empresarial implica que as pessoas estejam cada vez mais dependentes de outros, no fornecimento de partes de um serviço ou de um produto completo. Os gestores necessitam de saber promover os seus próprios interesses, e criar valor acrescentado para as suas organizações. • Assinale a alternativa apresenta a sequência CORRETA: • a) ( ) I – IV – II – III - V. • b) ( ) V - III – II – I – IV. • c) ( ) IV – I – V- III – II. • d) ( ) II – IV – V – I - III. • 2 Um conflito pode emergir de diferentes situações. Pode resultar em aprendizados ou dissoluções, dependendo da forma como foi gerenciado. Faça um texto dissertativo, explicando por que a negociação é considerada parte vital das funções de líderes e gestores hodiernamente. AUTOATIVIDADE 30 • 3 O processo de negociação constitui-se de três variáveis básicas: poder, tempo e informação. Essas variáveis ocorrem no dia a dia dos indivíduos e cabe a cada um explorá-las a fim de aproveitar as oportunidades que emergem (MARTINELLI; ALMEIDA, 1997). Escolha uma das variáveis e explique como em uma negociação a ausência ou a exploração da variável escolhida pode impactar na negociação • 4 Estudo revela que um em cada três funcionários admite que sua companhia perde pelo menos 5 horas de trabalho semanais em conflitos entre pessoas de idade diferentes. Sobre as razões que antecedem o conflito, assinale a alternativa CORRETA: FONTE: <https://exame.com/negocios/empresas-perdem-produtividade-em-conflitos-de- geracoes/>. Acesso em: 21 jun. 2021. • a) ( ) Dissensões – Falha na comunicação – Pensamento divergente. • b) ( ) Trabalho em equipe – Pensamento convergente - Uniformidade de opiniões. • c) ( ) Pesquisa - Clima – Cultura organizacional. • d) ( ) Disputas – Medo – Concepções convergentes. • • 5 Toda relação humana é uma negociação, e não saber negociar pode custar caro. O processo de negociação deve ser estruturado com base em diversos fatores, tendo em vista que, dependendo do contexto, negociamos como cidadão, como consumidor ou cliente, ou ainda representando uma corporação. Com relação ao processode negociação, associe os itens, utilizando o código a seguir. • I- Negociação Ganha – Ganha. • II- Negociação Ganha – Perde. • III- Negociação Perde – Perde. • IV- Negociação Perde – Ganha. • • Assinale a alternativa apresenta a sequência CORRETA: • a) ( ) I – IV – II – III. • b) ( ) III – II – I – IV. • c) ( ) IV – I – III – II. • d) ( ) II – III – I – IV. 31 TÓPICO 2 — UNIDADE 1 TIPOS DE NEGOCIAÇÃO 1 INTRODUÇÃO Vimos que a negociação é a ferramenta mais utilizada para solução de conflitos e que pode ser aplicada tanto para resolver conflitos que emergem no ambiente organizacional como conflitos pessoais que emergem no ambiente familiar, por exemplo. As negociações podem ocorrer em ambientes políticos, comerciais, diplomáticos, institucionais, gerenciais, jurídicos, trabalhistas, de libertação de reféns e mediação. Podem envolver aspectos materiais (dinheiro, bens etc.), já outras se referem exclusivamente a questões intangíveis (por exemplo, exigir que alguém reconheça um erro do passado e que peça desculpas. (GUIRADO, 2012). Neste tópico, você vai conhecer os tipos de negociação quanto aos objetivos e os tipos de negociação que ocorrem dentro do ambiente organizacional. É importante salientar que na internet e demais fontes, há diversos tipos de negociação, mas quando se fala em transações no mundo dos negócios, existem essencialmente duas grandes categorias: a negociação integrativa e a negociação distributiva (LEITE, 2009). 2 NEGOCIAÇÃO INTEGRATIVA NEGOCIAÇÃO DISTRIBUTIVA A negociação do tipo integrativa possui este nome porque as partes buscam equilibrar seus interesses em um acordo. Na negociação integrativa se negociam duas ou mais questões, em um ambiente competitivo ou colaborativo, no qual os negociadores procuram criar valor por meio do compartilhamento de seus interesses, para depois distribui-lo de forma a otimizar seus benefícios. (RAIFFA, RICHARDSON, METCALFE, 2002). Conforme aponta Leite (2009), a negociação integrativa é aquilo que se observa quando, num processo de troca, existe a possibilidade concreta de se ampliar o valor para ambos os lados. 32 UNIDADE 1 — PRINCÍPIOS DE NEGOCIAÇÃO FIGURA 10 – NEGOCIAÇÃO INTEGRATIVA FONTE: <https://seguronovadigital.com.br/wp-content/uploads/2020/01/Porto-Seguro-vende- -carteira.jpeg>. Acesso em: 8 jun. 2021. Para entender melhor a negociação integrativa, vamos utilizar o exemplo proposto por Leite (2009, p. 14): A título de ilustração: suponha-se que alguém possua um terreno ava- liado em $ 300.000. Seu proprietário, que não tem urgência em rece- ber o dinheiro, faz um acordo com uma construtora que deseja erigir um prédio naquele local. Em troca, recebe a promessa de receber um apartamento de $ 500.000 quando o referido edifício estiver concluído, dentro de dois anos. Esse acordo é bom para o proprietário, na medida em que lhe proporciona um ganho de 67% sobre o valor de seu imóvel. Ao mesmo tempo, é bom também para a construtora, que reduz seu risco e não precisa de um desembolso imediato para adquirir o terreno e iniciar o empreendimento. E, se o local se valorizar durante a cons- trução e o apartamento passar a valer $ 600.000 quando o edifício ficar pronto, isso amplia ainda mais os ganhos de ambos os lados. Por outro lado, uma negociação distributiva caracteriza-se pela situação em que o ganho de um dos lados corresponde a uma perda (ou, melhor dizendo, uma redução de ganho) de igual magnitude para o outro lado (LEITE, 2009). O nome “negociação distributiva” deriva justamente do fato de que, em tal situação, o que ocorre é a distribuição de um ganho cujo total é fixo. É um tipo de negociação ganha-perde, em que as metas de uma das partes encontram-se em conflito frontal com as metas da outra parte. Os recursos – isto é, o resultado passível de ser obtido para ser rateado entre os envolvidos – são fixos e limitados. TÓPICO 2 — TIPOS DE NEGOCIAÇÃO 33 FIGURA 11 – NEGOCIAÇÃO DISTRIBUTIVA FONTE: <https://bit.ly/3eD7Wo6>. Acesso em: 8 jun. 2021. A diferença entre a negociação integrativa e a negociação distributiva são seus objetivos. Enquanto a primeira busca um equilíbrio/meio-termo que beneficie todos os envolvidos (ganha-ganha), a questão-chave da segunda é obter a maior vantagem (ganha-perde). De acordo com Leite (2009), a maioria das negociações combina ambos os aspectos ao mesmo tempo. Quase sempre há uma dimensão integrativa e uma dimensão distributiva: procura-se “expandir o bolo”, mas cada uma das partes se preocupa em assegurar para si uma boa fatia dele. A título de ilustração, suponha-se que uma empresa contrate uma empreiteira para construir um novo prédio, que lhe servirá como sede. Há várias possibilidades de que, se chegarem ao consenso com relação a alguns detalhes, tanto a empresa como a empreiteira conseguirão gerar benefícios para ambos os lados. São os chamados ganhos mútuos, que podem ser obtidos por diversos caminhos, tais como: • A utilização da obra como um instrumento de marketing da empreiteira e da contratante: se fizerem um esforço conjunto de divulgação pela mídia, ambas saem ganhando em termos de imagem institucional. • O cronograma financeiro pode ser programado de maneira que haja um casamento mais sintonizado entre a disponibilidade de recursos da contratante (a qual pode ter sobras de dinheiro em caixa para fazer alguns adiantamentos) e as conveniências financeiras da empreiteira (que, se fizer alguns pagamentos à vista, pode conseguir descontos significativos em compras e contratação de serviços). • Em determinados casos, certas necessidades (por exemplo, a obtenção das autorizações junto ao poder público) podem ser supridas mais rapidamente e com menor custo pela equipe de advogados da contratante do que pela empreiteira (ou vice-versa). Assim, um cuidadoso estudo conjunto pode identificar essas possíveis situações e delimitar exatamente quem se responsabiliza por qual tarefa, viabilizando significativas economias e reduções de prazos. 34 UNIDADE 1 — PRINCÍPIOS DE NEGOCIAÇÃO • Por questões fiscais e tributárias, especialmente sob a legislação brasileira, podem-se obter ganhos substanciais se certos materiais e serviços de apoio forem adquiridos diretamente pela contratante, cabendo à empreiteira apenas desempenhar os papéis de engenharia e gestão da obra. Como se vê, a lista de possibilidades para a obtenção de benefícios mútuos (negociação integrativa) é bastante ampla. No entanto, há, ainda, neste mesmo exemplo, um aspecto que provavelmente será distributivo: o preço. Por mais que a contratante e a empreiteira procurem agir como reais parceiras, buscando identificar e explorar todas as brechas que lhes permitam obter ganhos mútuos, ainda assim a discussão do preço da obra tende a ser claramente distributiva: qualquer centavo a mais no valor a pagar corresponde a uma vantagem extra para a empreiteira e uma idêntica desvantagem para a empresa contratante Leia mais sobre este assunto no artigo “Negociação distributiva: o comportamento do executivo brasileiro” do pesquisador Jaci Corrêa Leite. Por meio do link: https://bit.ly/2TrH6YK DICAS Ainda de acordo com Leite (2009), o que faz uma negociação pender mais para o lado integrativo é uma série de fatores combinados, tais como: • Existência de um relacionamento prévio, pessoal ou comercial, que fortaleça os laços entre as partes. • Perspectivas de relacionamento futuro. • Possibilidade de outros negócios correlatos, imediatos ou futuros. • Interesses coincidentes (um mesmo resultado é desejável a ambos os lados). • Interesses complementares entre as partes (o resultado positivo de uma não impede o ganho adicional da outra). • Interesses com graus de importância distintos entre as partes: quando se examina