Buscar

Ação de coroas (cf. CONDE DE FICALHO, Flora dos Lusíadas, pp. 24 e 25). Alusão aos capelos com que são laureados os doutores da Universidade, às co...

Ação de coroas (cf. CONDE DE FICALHO, Flora dos Lusíadas, pp. 24 e 25). Alusão aos capelos com que são laureados os doutores da Universidade, às coroas e lauréis acadêmicos – e reminiscência clássica, supondo-se que a palavra (de baixa latinidade) bacalarius (“bacharel”) tivesse origem no “bácaro” dos romanos. Nobres vilas de novo edificou, Fortalezas, castelos mui seguros; E quase o reino todo reformou Com edifícios grandes e altos muros; Mas depois que a dura Atropos cortou O fio de seus dias já maduros, Ficou-lhe o filho pouco obediente, Quarto Afonso, mas forte e excelente. D. Dinis edificou de novo nobres vilas, construiu fortalezas e castelos mui seguros [bem fortificados]; e reformou quase todo o reino com grandes edifícios e altos muros (1). Mas, depois que a dura [cruel] Atropos (2) cortou o fio de seus dias já maduros, ficou-lhe [sucedeu-lhe] Afonso quarto, que foi filho pouco obediente filho (3), mas forte e excelente rei (4). 99 (1) Aumentou as três cidades em que era costume residir a corte (Lisboa, Coimbra e Santarém), edificou várias povoações, entre elas, Salvaterra e Vila Real, por isso tem o cognome de povoador; edificou o mosteiro de Odivelas; fez cercar de muralhas: Braga, Porto, Guimarães e Miranda. (2) Nome duma das três Parcas da fábula, e aquela que possuía a tesoura com que corta o fio da vida. D. Dinis morreu em 1325. (3) Alude-se à guerra aberta que o filho de D. Dinis moveu contra seu pai por inveja dum irmão bastardo; chegaram a avistar-se os exércitos de ambos, tendo-se evitado uma batalha campal por intervenção de Santa Isabel, que se interpôs entre o marido e o filho. (4) Nas estâncias imediatas justifica o poeta a sua afirmativa, exaltando as virtudes de D. Afonso como rei, do mesmo modo que censura os seus atos de príncipe, e vem depois a fulminá-lo pelo seu consentimento na morte de Inês de Castro. Este sempre as soberbas castelhanas Co’o peito desprezou firme e sereno; Porque não é das forças lusitanas Temer poder maior, por mais pequeno. Mas porém, quando as gentes mauritanas A possuir o hespérico terreno Entraram pelas terras de Castela, Foi o soberbo Afonso a socorrê-la. Este rei desprezou (1) sempre, com peito [ânimo] sereno e firme, as soberbas (2) castelhanas [a altivez do rei e das hostes de Castela]; porque não é próprio das forças (3) lusitanas o temer um poder [uma nação] maior, por ser mais pequeno poder. Mas porém (4) [mas apesar disso], quando as gentes mauritanas (5) de Granada entraram pelas terras de Castela a possuir [para conquistar] o terreno hespérico (6), foi o soberbo [glorioso] Afonso quarto a socorrê-la [a socorrer Castela]. (1) “Desprezou sempre” quer aqui dizer: que nunca atendeu à superioridade, em grandeza, do reino de Castela, nunca se intimidou com ela; não quer dizer que julgasse Castela digna de desprezo. (2) Note-se a repetição do vocábulo com diversa flexão, e diversa significação: no verso primeiro, a altivez, orgulho; no último, a excelência, a generosidade. (3) Fig., o caráter dos portugueses é não temerem uma 100 nação poderosa, apesar de Portugal ter menor extensão territorial, e menor número de soldados. (4) “Mas porém…”, mas ao contrário, e apesar disso (apesar de Portugal ser uma nação menos poderosa do que era Castela, apesar de certa desinteligência com este país), o rei português foi socorrer Castela. (5) Em 1330 ou 1340 o rei de Marrocos, atravessando o estreito de Gibraltar, foi a Granada para agredir Afonso XI de Castela, que mandou sua esposa (a filha de Afonso IV) pedir o socorro da cavalaria portuguesa, ao que acedeu o rei de Portugal, como vem referido nas estâncias subseqüentes. (6) “Hespéria” é, aqui, o antigo nome de Hispânia. Nunca com Semirâmis gente tanta Veio os campos idáspicos enchendo; Nem Átila, que Itália toda espanta, Chamando-se de Deus açoute horrendo, Gótica gente trouxe tanta, quanta Do Sarraceno bárbaro estupendo, Co’o poder excessivo de Granada, Foi nos campos tartésios ajuntada. Semíramis (1), a rainha que foi tão célebre pelas suas conquistas na Ásia, nunca veio [andou] enchendo os campos de batalha idáspicos (2) com tanta gente; nem Átila (3) – que espantou a Itália toda, chamando-se horrendo açoute de Deus – trouxe do Norte tanta gente gótica, quanta foi a do bárbaro imperador de Marrocos, o estupendo sarraceno, juntada, nos campos tartéssios (4), com o excessivo poder [o enorme exército] de Granada (5), para conquistar Castela. (1) Rainha lendária da Assíria, a quem se atribui a fundação de Babilônia, e a heroicidade militar – mais gloriosa do que a de Nino seu esposo, que submeteu toda a Ásia até o Indo. (2) Campo de batalha nas margens do Indo (I, 53; VII, 52). (3) O rei dos hunos (434–453), o vencedor dos Imperadores do Oriente e do Ocidente. (4) Os campos de Tarifa (Andaluzia). (5) Cidade de Espanha: foi capital dum pequeno Estado muçulmano (1233–1492), notável ainda hoje por vários edifícios: a soberba catedral, o palácio da Alhambra, etc. 101 102 E vendo o rei sublime castelhano A força inexpugnábil, grande e forte Temendo mais o fim do povo hispano, Já perdido uma vez, que a própria morte Pedindo ajuda ao forte Lusitano, Lhe mandava a caríssima consorte, Mulher de quem a manda, e filha amada Daquele a cujo reino foi mandada. E o sublime (1) rei castelhano, vendo a grande, forte e inexpugnável força (2) dos mouros, temendo – mais do que a própria morte – o fim [a extinção] do povo hispânico, que já uma vez estivera perdido (3), mandou a caríssima (4) consorte – a rainha Dona Maria – dirigir-se ao forte rei lusitano, pedindo-lhe ajuda; a mulher [a esposa] de quem a mandava era a filha amada daquele rei a cujo reino era mandada. (1) Digno (por este epíteto se vê que a palavra “soberbas” na estância 99 não tem sentido de vitupério). (2) Exército. (3) Alusão à perda da independência hispânica, quando morreu Rodrigo, o último rei visigodo (710). (4) A história diz que a esposa de Afonso XI não era bem tratada por este, mas que, sendo muito virtuosa, lhe prestava obediência, ao ponto de vir implorar auxílio do pai. Cf. III, 99, nota 5. O epíteto “caríssima” (verso 6) talvez aqui tenha sido empregado pelo poeta com a significação de “boníssima”. As forças mauritanas ameaçavam Tarifa, e se esta cidade forte da Andaluzia fosse por elas conquistada, daí resultaria a perda completa da Espanha. Entrava a formosíssima Maria Pelos paternais paços sublimados; Lindo o gesto, mas fora de alegria, E seus olhos em lágrimas banhados. Os cabelos angélicos trazia Pelos ebúrneos ombros espalhados. Diante do pai ledo, que a agasalha, Estas palavras tais chorando espalha: Entrou a formosíssima Maria pelos sublimados [suntuosos] paços (1) paternais; lindo era o seu gesto [rosto], mas fora de alegria [sem alegria]; e os seus olhos estavam banhados em lágrimas; trazia os angélicos (2) cabelos espalhados [soltos] pelos ebúrneos (3) ombros; apresentando-se diante do ledo pai – que a sua filha agasalha [acaricia] – espalha [profere] clamando estas palavras tais quais: (1) Os paços de

Essa pergunta também está no material:

Os Lusíadas - Edição Didática
503 pág.

Montagem e Edição Colégio EquipeColégio Equipe

Ainda não temos respostas

Ainda não temos respostas aqui, seja o primeiro!

Tire dúvidas e ajude outros estudantes

✏️ Responder

SetasNegritoItálicoSublinhadoTachadoCitaçãoCódigoLista numeradaLista com marcadoresSubscritoSobrescritoDiminuir recuoAumentar recuoCor da fonteCor de fundoAlinhamentoLimparInserir linkImagemFórmula

Para escrever sua resposta aqui, entre ou crie uma conta

User badge image

Mais conteúdos dessa disciplina