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Fatores intrínsecos que influenciam a multiplicação microbiana nos alimentos Profa. Msc. Priscilla Maria Carvalho Oliveira Definição: relacionados com as características próprias do alimento. Atividade de água (aw); pH; Potencial de oxido-redução (Eh); Fatores anti-microbianos naturais; Estrutura biológica (composição parede celular) Fatores Intrínsecos Definição: relacionados com o ambiente que o alimento se encontra. temperatura, umidade, tensão de oxigênio Fatores Implícitos: relações de dependência entre microrganismos Fatores Extrínsecos TEOR DE UMIDADE Após um processo padronizado de secagem do alimento, podemos definir: Umidade (%) = [(Pi – Pf) / Pi] × 100 Onde: Pi = Peso inicial da amostra; Pf = Peso final da amostra. O teor de umidade é a medida da quantidade total de água contida num alimento (água total), e é geralmente expresso como uma porcentagem (%) do peso total. Colocar as cápsulas vazias na estufa para retirar a umidade, colocar no dessecador para esfriar. Pesar vazia (anotar o peso) Ex.: Peso da cápsula: 200 g Pesar uma quantidade definida de amostra na cápsula previamente seca (+/- 10 g), anotar o peso da cápsula + amostra. Ex.: Peso da cápsula + amostra = 209,5 g UMIDADE Fonte: Própria Colocar a cápsula na estufa (24 hs) ou por 6 horas até peso constante. Retirar a cápsula da estufa com uma pinça e colocar num dessecador para esfriar. Pesar, depois de frio, o conjunto cápsula mais amostra seca (anotar o peso). Ex.: peso da cápsula + amostra dessecada 202,5 g Fonte: Própria CÁLCULO DE UMIDADE Peso da cápsula: 200 g Peso da cápsula + amostra integral = 210 g Peso da cápsula + amostra dessecada =205 g UMIDADE = (Peso da cápsula + amostra integral) – (Peso da cápsula + amostra dessecada) UMIDADE = 210 g – 205 g = 5 g 5 g de umidade_______________ 10 g de amostra integral X _______________ 100 g de amostra integral X = 50% de umidade MI = MS + U 100=MS + 50 MS= 50% de matéria seca na MI Peso da amostra = 10 g A Umidade é uma das medidas analíticas mais importantes, sendo utilizada no processamento e testes de produtos alimentícios, tendo importância direta para: - Processador e consumidor; - Qualidade do alimento; - Estabilidade do alimento; - Uniformidades de resultados; - Valor nutritivo e Especificações de padrões de identidade e qualidade do produto. Como o custo da matéria prima é baseado no peso, algumas vezes os fabricantes tentam usar água adicional para obter lucros ilícitos. Quanto maior for o teor de umidade padrão do alimento, maior a chance de o produto ser fraudado, isto é, temos fraude com adição de água no leite, mas não na farinha de trigo por exemplo. Enquanto o teor de umidade simplesmente define a quantidade de água nos alimentos e ingredientes, a atividade de água, em termos práticos, é a água do alimento que vai reagir com microrganismos (e também participar de outras reações, como as enzimáticas). Quanto mais elevada for a atividade da água, mais rápido os microrganismos (como bactérias, leveduras e bolores) serão capazes de crescer; logo a importância da Aw está na sua relação com a conservação dos alimentos. ATIVIDADE DE ÁGUA (Aa ou Aw) O conteúdo de água de um alimento é expresso pelo valor obtido na determinação da água total contida no alimento. Entretanto, esse valor não fornece indicações de como a água esta distribuída no alimento. A água contida nos alimentos encontra-se sob duas formas: ÁGUA LIGADA - está combinada quimicamente com outras substâncias. Este tipo de água não é utilizada como solvente, não permite o desenvolvimento de microrganismos e é difícil de ser eliminada. ÁGUA LIVRE - está presente nos espaços intergranulares e entre os poros do material. É eliminada com facilidade. Atua como meio de dispersão e nutriente para o crescimento de microrganismos ou reações químico-enzimáticas. UMIDADE = ÁGUA LIGADA + ÁGUA LIVRE O teor de água livre é expresso como atividade de água. Medida da água disponível nos alimentos para os microrganismos, expressa como o quociente entre a pressão do vapor de água dos alimentos e a pressão do vapor de água pura. Aw = Pressão de vapor do alimento Pressão de vapor da água pura Na água pura o valor máximo da Aw é 1. Nos alimentos ricos em água com valores de Aw acima de 0,9 poderão se formar soluções diluídas com componentes dos alimentos que servirão de substrato para os microrganismos poderem crescer. ATIVIDADE DE ÁGUA (Aa ou Aw) Qual produto apresenta maior atividade de água? Nossa mente está condicionada a achar que um produto com elevada atividade de água terá elevado teor de umidade ou o contrário (baixo/baixo). Isto muitas vezes ocorre, todavia é possível, por exemplo, um produto apresentar baixo teor de umidade e alto ou médio valor de atividade de água, como é o caso do pão. O teor de umidade (água total) do pão é baixo (40%), enquanto sua Aw (água livre) é alta (0,96). Quando comparamos as atividades de água do pão com a da geleia, 0,96 e 0,86, respectivamente, nota-se que a disponibilidade de água para crescimento microbiano no pão é maior. Outra comparação interessante é entre a carne fresca e o pão. Embora o teor de umidade da carne fresca (70) seja maior do que o teor no pão (40), ambas possuem um valor de Aw muito próximo (carne fresca = 0,985 vs pão = 0,96). Valores de atividade de água entre 0 e 0,20 indicam que a água está fortemente ligada, enquanto valores de atividade de água na faixa de 0,70 a 1,00 indicam que a maioria da água encontra-se livre, sendo esta passível de ser utilizada em reações químicas, enzimáticas e para o desenvolvimento de microrganismos. Medir a atividade de água nos alimentos é importante para: Prever o desenvolvimento microbiano; Avaliar as reações químicas e vida de prateleira; Avaliar a estabilidade física; Projetar a embalagem – proteção contra umidade ambiente; Analisar a transferência de umidade entre ingredientes; Considerar o intercâmbio de umidade com o meio ambiente; Predizer a curva de isoterma – Umidade vs Aw. Tratando-se de Segurança de Alimentos, é pertinente apresentar os valores mínimos de Aw para o crescimento e produção de toxina de patógenos de importância alimentar. Aw ALIMENTOS MICRORGANISMOS 0,98 e superior Carnes e pescados frescos, frutas e hortaliças, leite Multiplica-se a maioria dos microrganismos que alteram os alimentos e todos os patógenos transmitidos por alimentos. 0,98 – 0,85 Carne bovina seca, leite condensado Multiplica-se Staphylococcus aureus e muitos fungos produtores de micotoxinas. Leveduras e fungos são os microrganismos primários da alteração. 0,85 – 0,60 Farinhas, cereais, vegetais desidratados Não se multiplicam bactérias patogênicas. Alteração por microrganismos xerófilos, osmófilos, halófilos. Inferior a 0,60 Confeitos, massas, biscoitos, leite em pó, ovos em pó, etc Não se multiplicam os microrganismos embora possam seguir sendo viáveis por muito tempo. Tabela 1 - Influência da atividade de água e crescimento microbiano Fonte CECCHI (2003). O comportamento microbiano frente à Aw quanto à disponibilidade de água livre é extremamente variável, sendo as bactérias mais exigentes, em relação aos fungos e as leveduras. Os alimentos de baixa atividade de água (< 0,60) são microbiologicamente estáveis. A Aw é um dos fatores intrínsecos dos alimentos e é uma medida QUALITATIVA que permite avaliar a disponibilidade de água livre que é susceptível a diversas reações, ao passo que o teor de umidade é uma medida meramenteQUANTITATIVA, medindo o percentual em peso, de toda água presente no alimento, tanto livre quanto ligada. A atividade de água pode ser utilizada como parâmetro de controle de qualidade, mostrando valores efetivos da disponibilidade da água no alimento para participar de reações de deterioração oxidativa, enzimáticas e microbiológicas, sendo que estes fatores podem afetar diretamente a qualidade sensorial (oxidação lipídica/ranço) ou sanitária do alimento. Já o teor de umidade está mais associado ao rendimento e qualidade sensorial (ex: crocância de um alimento). Definição: medida de acidez ou alcalinidade de um alimento; A concentração hidrogeniônica que determina o pH dos alimentos é um fator de importância fundamental na limitação dos tipos de microrganismos capazes de se desenvolver em um alimento, exercendo influência sobre o crescimento, a sobrevivência ou a destruição destes microrganismos pH As bactérias não toleram grandes variações de pH; fungos e leveduras são mais acidófilos. Em função do pH os alimentos são divididos em 3 grupos: BAIXA ACIDEZ pH acima de 4,5 (pH>4,5); são os mais sujeitos a multiplicação microbiana, tanto de espécies patogênicas quanto de espécies deteriorantes ÁCIDOS pH entre 4,0 e 4,5; há predominância de crescimento de leveduras, de bolores e de algumas poucas espécies bacterianas, principalmente bactérias láticas. MUITO ÁCIDO pH abaixo de 4,0 (pH<4,0); o desenvolvimento microbiano fica restrito quase que exclusivamente a bolores e leveduras. “Classificação baseada no pH mínimo para multiplicação e produção de toxina do C. botulinum (4,5) e no pH mínimo para a multiplicação da maioria das bactérias”. pH O pH de um alimento não exerce apenas influência sobre a velocidade de multiplicação dos microrganismos, mas também interfere na qualidade dos alimentos, durante o armazenamento, tratamento térmico, dessecação, ou durante qualquer outro tipo de tratamento, ou seja, é também responsável direto pela deterioração de produtos alimentícios O objetivo da determinação do pH nos alimentos é a possível avaliação da microbiota predominante, o potencial e a provável natureza dos processos de deterioração a que ele poderá vir a sofrer, como também o tipo, a intensidade e os parâmetros do processamento térmico a que deve ser submetido. pH Distribuição de alguns microrganismos, de acordo com o pH Em geral: Frutas; refrigerantes; vinhos e vinagres deterioração em geral devido a fungos e leveduras (pH < 3,5). Carnes e pescados pH ideal para a proliferação de bactérias, fungos e leveduras. Carnes relação “stress” vs. Glicogênio. Carnes relação “stress” vs. Glicogênio. O animal recém abatido após um período de repouso, apresenta em seus músculos, pH em torno de 6,9 a 7,2. No músculo vivo, o ATP circula continuamente para a manutenção do metabolismo, mas quando o suprimento de oxigênio é cortado através da sangria, o músculo torna-se anaeróbio, e o ácido pirúvico não entra no ciclo de Krebs-Johnson e na cadeia citocrômica para formar ATP. Como resultado, os prótons que são produzidos durante a glicólise e durante a hidrólise de ATP a ADP causam diminuição significativa do pH intracelular. O pH da carne de animais estressados deteriora-se mais rapidamente – pH alto Maior gasto de energia para manter o pH intracelular; Desnaturação de proteínas, DNA Alteração da atividade das enzimas responsáveis pelas atividades vitais da célula; Menor velocidade de crescimento Efeito dos ácidos nos microrganismos Definição: índice do grau de oxidação de um sistema, medido em milivolts. quando elemento perde e- oxida; quando elemento ganha e- reduz. O oxigênio é o fator que mais contribui para o aumento do potencial redox de um alimento. Potencial de Oxido-Redução (Eh) Os microrganismos no grau de sensibilidade ao potencial redox do meio de multiplicação e podem, de acordo com o Eh requerido, ser dividido em grupos, como: Microrganismos aeróbios: requerem Eh + (+350 a +500mV) e são representados pelos fungos filamentosos, bactérias do Gênero Pseudomonas, Acinebatobacter, Moraxella, Micrococcus, algumas espécies do Gênero Bacillus e leveduras oxidativas. Microrganismos anaeróbios: requerem Eh – (< -150mV). O oxigênio chega a ser tóxico para a célula, porque gera peróxidos letais ao microrganismo. O Gênero Clostridium compreende espécies anaeróbias. Microrganismo facultativos: crescem em Eh + e Eh-, sendo representadas pelas leveduras fermentativas, enterobactérias e bactérias do Gênero Bacillus. Microrganismo microaerófilos: cresce melhor em Eh baixo. As bactérias lácticas são encontradas nesse grupo. O Eh se trata de um fator importante a ser usado na conservação dos alimentos e também permite avaliar quais microrganismos irão se desenvolver em determinados alimentos. Pode-se, por exemplo, utilizar a exaustão, embalagens não permeáveis ao O2 submetidas a vácuo, atmosfera com gases inertes, deaeração e carbonatação para se controlar os microrganismos aeróbios. Esses recursos são usados largamente para queijos, vegetais, produtos cárneos e outros, a fim de evitar os fungos filamentosos superficiais. No caso dos enlatados, o ambiente anaeróbio favorece a multiplicação de bactérias esporuladas, anaeróbias ou facultativas. Constituintes antimicrobianos Antimicrobianos Constituintes Naturais dos Alimentos A estabilidade de alguns produtos de origem animal e vegetal ocorre, na natureza, devido à presença de constituintes antimicrobianos, que são substancias naturalmente presentes nesses alimentos tendo a capacidade de retardar ou inibir a multiplicação microbiana. ( efeito microbicida ou micro estático) Apresentam diversos mecanismos: a) Inibição da síntese de ácidos nucléicos, proteínas ou parede celular; b) Quebra da integridade da membrana; c) Interferência em processos metabólicos essenciais para microrganismos. Exemplos: O ovo contem lisozima (muramidase), que destroi a parede celular de bactérias Gram +. Amora possui ácido benzóico, que atua principalmente contra os fungos, Cravo da Índia possui óleos essenciais (principalmente eugenol) e lipídeos com ação antimicrobianas, Canela possui aldeídos cinâmicos, Leite mesmo sendo um produto altamente perecível possui em sua composição substancias antimicrobianas (lactenina e fator anticoliformes), que mantém a estabilidade antimicrobiana do produto nas duas primeiras horas depois da ordenha. Alho - Contém substâncias voláteis (alicinas) que apresentam atividade antimicrobiana. Atuam sobre as Salmonelas, Shigelas, micobactérias, Leuconostoc plantarum, Staphylococcus aureus, Leuconostoc mesenteroides, Bacillus cereus, Clostridium botulinum, Candida albicans, Aspergillus flavus e Penicillium, entre outros. Produto Microrganismos Alho Salmonella typhymurium, Escherichia coli, Staphylococcus aureus, Bacillus cereuse subtilis, Candida albicans Cebola Aspergillus flavuse parasiticus Canela Aspergillus parasiticus e muitos outros fungos eventualmente produtores de micotoxinas Louro Clostridium botulinum Orégãos Salmonellaspp., Vibrio parahaemolyticuse muitos fungos eventualmente produtores de micotoxinas Tomilho Vibrio parahaemolyticus Jennifer Biling e Paul W. Sherman (1998) estudaram o efeito antimicrobiano de vários condimentos, tendo concluído que o alho, a cebola, os oreganos e a pimenta da Jamaica (allspice), inibem todas as estirpes de bactéria testadas , o tomilho, a canela e os cominhos cerca de 80%. Efeitos inibidores de condimentos. Estruturas biológicas Constituem uma barreira para o acesso dos microrganismos às partes perecíveis de certos alimentos, ou seja, às partes que possuem nutrientes quepermitem a multiplicação dos microrganismos e que são (teoricamente) estéreis. Exemplos: casca de ovos; casca de frutas; casca de nozes; películas que envolvem sementes; cortes cárneos inteiros são mais protegidos que fatiados CECCHI, H. M. Fundamentos teóricos e práticos em análise de alimentos. 2. ed. Campinas: editora da Unicamp, p. 2003. 207. DAMODARAN, S.; PARKIN, K.L.; FENNEMA, O.R. Química de Alimentos de Fennema. 4ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2010. INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Normas Analíticas do instituto Adolfo Lutz. v. 1: Métodos químicos e físicos para análise de alimentos, IV. ed. São Paulo: IMESP, p.98-99, 2005. LABUZA, T. P.; TANNEMBAUM, S. R.; KAREL, M. Water content and stability of lowmoisture and intermediate-moisture foods. Food Technology. p .543-550, 1970. https://foodsafetybrazil.org/diferenca-entre-atividade-de-agua-aw-e-o-teor- de-umidade-nos-alimentos/ REFERÊNCIAS