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O administrador hospitalar sua formação e perspectivas profissionais

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1. A Resolução n.o 18do
Conselho Federal de Educação;
2. O campo de trabalho do
profissional de
administração hospitalar;
3. Uma experiência sobre
formação de bacharéis em
administração hospitalar
nos Estados Unidos;
4. Considerações sobre
a formação do administrador
hospitalar no Brasil;
5. Conclusões.
Reinaldo Cavalheiro Marcondes *
*Professor do Curso de
Pôs-Graduação em Administração da
Faculdade de Economia e
Admínístração da USP;
Consultor Associado da
BCCL - Boucinhas & Campos - Consultores.
R. Adm. Emp. Rio de Janeiro,
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Tem sido intensa, desde o início da década de 70, a multi-
plicação de cursos universitários. Praticamente todos os já
tradicionais tiveram seccionamentos para dar origem a
novas especializações, como ocorreu com o de medicina
(com a criação dos cursos de fisioterapia, fono-audiología,
radiologia, biomedicina) e o de engenharia (com os cursos
de engenharia operacional e tecnologia). Os cursos de
bacharelado em administração de empresas e pública tam-
bém foram seccionados em diversos outros que utilizam
disciplinas comuns, entre eles, o curso de comércio exte-
rior e análise de sistemas. O curso de administração hospi-
talar enquadra-se neste caso.
1. A RESOLUÇÃO N.o 18 DO CONSELHO FEDERAL
DE EDUCAÇÃO
No dia 4 de junho de 1973, o plenário do Conselho Fe-
deral de Educação (CFE) aprovou a criação da habilitação
em administração hospitalar, integrada no curso de gra-
duação em administração de empresas, que li 12 de julho
deste mesmo ano passou a ser a Resolução n.o 18, fixando
seu currículo mínimo.
A justificativa dada pela comissão especial que ana-
lisou a proposta inicial para a criação desta nova habilita-
ção foi a de que o hospital, um importante ramo da pres-
tação de serviços que se reflete marcantemente na comu-
nidade e na economia, vinha sendo dirigido no Brasil qua-
se que totalmente por elementos que pouco ou nada
sabiam sobre administração. Contudo, acrescentou a
comissão, a necessidade de preparo de administradores
hospitalares não justificaria, dada a realidade brasileira, o
fato de se criar um curso universitário autônomo, já que
este novo profissional deveria ter formação específica em
admínístração de empresas.
O currículo mínimo ficou assim estabelecido:
a) Matérias básicas: matemática, estatística, contabili-
dade, teoria econômica, psicologia aplicada à administra-
ção, instituições de direito público e privado, legislação
social, legislação tributária, teoria geral de administração.
b) Matérias profissionais comuns: administração finan-
ceira, administração de pessoal, administração de material.
c) Matérias profissionais espectficas: fundamentos da
administração da saúde, administração hospitalar, legisla-
ção hospitalar e da previdência social, documentação mé-
dica, psicologia e ética médico-hospitalar, custos hospita-
lares, prática profissional.
d) Complementares: estudo de problemas brasileiros,
educação física, estágio supervisionado.
O curso teve sua duração fixada de forma idêntica ao
de administração de empresas, ou seja, 2.700 horas/aula,
que devem ser cumpridas num mínimo de três e num
máximo de sete anos. Naturalmente, a prática generalizada
17 (2); 23-28, mar.jabr. 1977
O administrador hospitalar sua formação e perspectivas profissionais
indica como aceitável que seja desenvolvido entre quatro e
cinco anos.
A Resolução permite que as pessoas graduadas em
outros cursos superiores possam aproveitar as disciplinas já
estudadas. complementando-as com as que faltam para
obtenção do diploma de bacharel em administração hos-
pitalar. Para isto, deverão cumprir um mínimo de 1.350
horas nesta adaptação. Como parece óbvio, apenas os
bacharéis em administração de empresas e pública, terão
possibilidade de realizar tal complementação, pois os di-
plomados em ciências médicas dificilmente poderão apro-
veitar suas disciplinas já cursadas.
Os bacharéis em administração hospitalar terão seus
diplomas emitidos pelas faculdades que tenham os cursos
de administração reconhecidos na habilitação hospitalar, e
farão seus registros profissionais nos Conselhos Regionais
de Técnicos de Administração, passando a ser denomina-
dos técnicos de administração, como os da habilitação em
empresas.
2. O CAMPO DE TRABALHO DO PROFISSIONAL DE
ADMINISTRAÇÃO HOSPITALAR
24
A justificativa dada 'pelo CFE para a criação desta habíli-
ração, apesar de ter sido suficiente para a edição da Reso-
lução n.o 18, na realidade não sintetiza a amplitude do
campo de trabalho do profissional. Alguns fatos merecem
ser observados. Um deles é a ação que vem sendo desen-
volvida pelos vários órgãos governamentais que atuam no
setor Saúde, visando a formação de recursos humanos para
responderem às complexas tarefas de administração do
setor. Isto mostra que a Resolução é apenas um dado do
problema. O próprio Ministério da Educação instituiu há
algum tempo junto a algumas universidade federais os cha-
mados Núcleos de Assistência Técnica (NAT), distribuídos
por diversas regiões do País, de forma a poder atuar mais
efetivamente na formação de recursos humanos para as
instituições universitárias. Entre estes núcleos está o de
administração hospitalar, cujo objetivo é tanto assessorar
os hospitais universitários na melhoria da sua eficácia
administrativa, como o de treinar pessoal para atuar nos
níveis médios e superiores dos mesmos.
A Secretaria de Planejamento da Presidência da Re-
pública, por meio de projetos especiais desenvolvidos pelo
PNTE, atualmente incorporado pelo Cebrae, vem atuando
na preparação de executivos hospitalares em diversas capi-
tais do País, em convênio com o Instituto de Desenvolvi-
mento de Pesquisas Hospitalares de São Paulo (IPH).
O Ministério da Saúde, da mesma forma, vem-se cons-
cientizando da necessidade de formação de pessoal para
esta área, de modo a poder viabilizar seus programas e
projetos. Através de um documento elaborado por este
Ministério para o Seminário Nacional de Saúde, realizado
em Brasília no final de 1975, ficou claramente indicada a
necessidade de formação de administradores para o setor
Saúde.
Revista de Administração de Empresas
Ao lado destas iniciativas que têm demandado esfor-
ços do Governo federal e também dos estados, se bem que
estes em menor amplitude, a pressão da demanda pelo
profissional da administração hospitalar, parece-nos, será
bem mais significativa por parte das instituições públicas e
privadas que executam os projetos e as atividades de assis-
tência à saúde da população, Como o hospital tem sido a
base do nosso sistema de saúde, é a instituição por exce-
lência para utilizar o administrador.
Até bem pouco tempo no Brasil não havia programas
de apoio ou ordenação das atividades hospitalares, sendo o
hospital visto mais como uma instituição de benemerência
e para o treinamento de profissionais de medicina e enfer-
magem, Como um dos resultados do desenvolvimento
econômico havido no início da década de 70, passou-se a
ter uma ampliação nas faixas consumidoras de serviços de
saúde; o que resultou na expansão dos leitos oferecidos
através da construção de novas unidades hospitalares e da
ampliação das existentes. No interesse de atender à cres-
cente demanda pelos serviços médico-hospitalares e orde-
nar o crescimento e a distribuição destes serviços, foram
tomadas iniciativas importantes pelo Governo federal. A
primeira delas foi tomar o Instituto Nacional de Previdên-
cia Social (INPS) o monopsonista dos serviços de assistên-
cia à saúde no País. Outra iniciativa foi a criação do Fundo
de Apoio do Desenvolvimento Social (FAS) junto à Caixa
Econômica Federal, para financiar a expansão de unidades
do setor social, com ênfase nas de saúde. Uma outra ini-
ciativa foi a edição da Lei n.o 6.229, que instituiu o Siste-
ma Nacional de Saúde, pretendendo-se com isto a ordena-
ção das atividades dos diversos ministérios e órgãos regio-nais que são intervenientes no setor Saúde, cada um atra-
vés de sua especialidade.
Há 10 anos atrás o Governo também criara estímulos
e mecanismos especiais para o desenvolvimento de diver-
sos setores econômicos do País, cujo resultado foi a ex-
pansão da economia nos anos subseqüentes. Entre as
diversas conseqüências, uma que :105 interessa de perto
refere-se ao crescimento da demanda de profissionais de
administração para empresas privadas e também para as
então recém-criadas empresas públicas, que expandiram-se
substancialmente para além das expectativas.
Hoje no Brasil não há empresário, por menor que seja
o porte de sua empresa, que não sinta a necessidade de
contar com administradores profissionais para gerir a sua
administração. A oferta de empregos para administradores
de empresas é, ainda agora, bastante grande, não apenas
para os níveis médios da estrutura, mas também para as
cúpulas das empresas.
As decisões governamentais no setor Saúde hoje irão
sem dúvida refletir-se nos próximos anos em maior deman-
da de administradores hospitalares.
Quando um hospital se credencia junto ao INPS para
atender seus beneficiários, os mecanismos e regras estabe-
lecidos são de tal ordem que exigem, cada vez mais, pes-
soas preparadas para que possa operar convenientemente.
A orientação do INPS vem sendo a de se oferecer assís-
tência médico-hospitalar a um contingente cada vez maior
de pessoas, com uma qualidade que atenda a padrões
mínimos estabelecidos pela instituição. Isto traz implica-
ções administrativas muito grandes, pois o hospital - sen-
do tradicionalmente um território exclusivo do médico, em
que a orientação vinha sendo a de se ter a "remuneração
na margem", ou seja, no atendimento individual - passou
a orientar-se pela "remuneração no giro", em que a mesma
dedicação deve resultar em número bem maior de atendi-
mentos. Como a prática da medicina vem-se tornando
cada vez mais sofisticada e especializada, seu custo, conse-
qüentemente, vem ascendendo mais que proporcional-
mente ao aumento de renda da população. Como esta
prática precisa ser apoiada por um esquema organizacional
compatível com tal sofisticação, o hospital é diretamente
onerado em seu custo operacional. Necessita, assim, con-
tar com recursos humanos cada vez mais especializados e
com nível mais alto de escolaridade. Também precisa
adquirir equipamentos que demandam altos investimentos
e que tendem a se tornar obsoletos mais rapidamente. Isto
faz com que o INPS se consolide cada vez mais como
monopsonista e o hospital terá que se preparar adminis-
trativamente nos mesmos moldes de uma empresa, para
sobreviver.'
Mesmo que o hospital não seja credenciado junto ao
INPS, mas atue com um sistema paralelo ao seguro-saúde
nos moldes dos diversos grupos privados de assistência
médico-hospitalar, a. sua admínístração precisa também
estar preparada para administrar uma vasta carteira de
"segurados". Sua organização terá que ser tão complexa
quanto a das companhias privadas de seguros, portanto,
empresarial por excelência.
Se o hospital obtiver financiamento do FAS, de acor-
.do com as regras, ele terá que liqilidar a sua dívida por
meio de amortizações que se estenderão ao longo de mui-
tos anos. Naturalmente, muita coisa ocorrerá neste perío-
do, mas a única certeza que os hospitais terão serão os
valores a saldar e seus prazos. Sobre as entradas, ou seja, as
receitas, irão pairar sempre dúvidas. Neste período, os
equipamentos que eram novos passarão a ser superados,
desgastados e onerosos para sua manutenção, as instala-
ções e o edifício ficarão obsoletos, desgastados e não esta-
rão mais adequados às condições da época. Com estas difi-
culdades naturais, como serro pagas as dívidas? Aqui se
faz sentir a necessidade de um profissional de administra-
ção que ajude a estabelecer as políticas administrativas e
auxilie na operação do hospital em bases de racionalidade
econômica mínima.
Considerando o hospital como constituído por duas
dimensões, uma médica e outra hospitalar propriamente
dita, pode-se dizer que o administrador terá uma ampla
atuação nesta última. Na dimensão médica estão os profis-
sionais da medicina, que pela sua própria natureza, atuam
com bem mais independência que os demais, pois são os
responsáveis pela aplícação da tecnologia fundamental
sobre os pacientes. Na outra dimensão estio aqueles que
desempenham atividades de facílitação da aplicação da
tecnologia médica e que dão suporte aos primeiros, ou
seja, o pessoal hospitalar. Temos assim, nesta dimensão, os
profissionais de enfermagem, serviço social, nutrição, téc-
nicos de radiologia e laboratório, arquivo médico e esta-
tística, suprimentos, serviços de retaguarda, lavanderia,
administração de pessoal, contabílídadee finanças. Há
uma intensa inter-relação entre cada uma destas atividades
que pressionam no sentido de obter materiais e recursos
para .fazer face à efetivação da assistência ao paciente.
Direta ou indiretamente sobre as diversas atividades desta
dimensão, o profissional de administração tem que atuar.
Sua responsabilidade é muito direta sobre a gestão dos
recursos fínanceiros a curto prazo, sobre a manutenção de
equipamentos e instalações, sobre a substítuíção dos equi-
pamentos, sobre a contratação e remuneração do pessoal,
sobre a administração das receitas provenientes de convê-
nios com o INPS ou outras instituições, sobre os supri-
mentos, envolvendo compras e estoques, sobre os sistemas
operacionais e a organização dos serviços, de forma a se
conseguir bom nível de eficácia.
3. UMA EXPERI~NCIA SOBRE FORMAÇÃO DE
BACH~IS EM ADMINISTRAÇÃO HOSPITALAR
NOS ESTADOS UNIDOS
O Prof. George R. Wren, diretor do Instituto de Admínís-
tração da Saúde da Universidade Estadual da Geórgia, nos
Estados Unidos, nos relata uma interessante experiência
sobre a criação, funcionamento e resultados obtidos com a
formação de bacharéis em administração de empresas com
habilitação para hospitais. 2
Como bem pode ter sido a inspiração do nosso mo-
delo, a Resolução n.o 18, aquela universidade americana
desenvolveu seu programa de bacharelado em administra-
ção hospitalar dentro da estrutura doseu já existente curo
so de administração de empresas. Assim, o aluno ao ter-
minar os quatro anos de seu curso, recebe o título de
bacharel em administração de empresas, índícando-se a
ênfase em hospital.
O objetivo fundamental para a montagem daquele
programa foi preparar pessoal para a média administração
dos hospitais, pois a grande maioria dos cursos de adminis-
tração na área da Saúde nos Estados Unidos orientava- se
para formação de mestres e doutores. Com um esquema
bem definido de posicionamento profissional, os pós-gra-
duados tornavam-se administradores e diretores de hospi-
tais, não ficando ninguém nos níveis intermediários.
Assim, o bacharel deveria ocupar estes lugares carentes de
profissionais atuando como assistentes de administradores.
Com esta motivação, ínicíou-se em 1965, o programa
da Universidade Estadual da Ge6rgia, apoiado com recur-
sos da Fundação W. K. Kellog. O currículo elaborado foi
distribuído através de três módulos:
1. formação básica: dois anos, com as disciplinas comuns
para toda a universidade.
Administrador hospitalar
25
2. administração de empresas: um ano, envolvendo as
disciplinas: contabilidade, marketing, finanças, adminis-
tração geral, legislação comercial, processamento de da-
dos, seguros, administração de ativos, pesquisa o}?eracio-
nal.
3. administração hospitalar: um ano, último, incluindo
as disciplinas: organização, hospital e comunidade, conta-
bilidade hospitalar, pessoal, legislação hospitalar, adminís-
tração de materiais, administração hospitalar privada,
administração clínica, problemas especiais na administra-
ção hospitalar.
Em 1970, 39 estudantes já haviam recebido os seus
diplomas de bacharel, cujos cursos foram concluídos en-
tre 1967 e 1969. Através de uma pesquisa realizada com
estes ex-alunos para se conhecer as posições que estavam
ocupando naquela data (1970), resultou o seguinte perfíl:26
1. trabalhando na média administração em hospitais 18
1.1 chefes de unidades de enfermagem em grande
hospital 4
1.2 idem, mas em hospital psiquiátrico 1
1.3 assistente de gerente de pessoal 1
1.4 contadores, controllers ou assistentes destes 3
1.5 gerente administrativo 1
1.6 administradores de pequenos hospitais 2
1.7 gerente de serviço de alimentação 1
1.8 administradores de casas de repouso 2
1.9 assistentes de administradores 3
2. freqüentando curso ou com o título de mestre em
administração de saúde 8
3. freqüentando curso ou já com título de mestre
em administração de empresas ou outra área de
profissionalização 3
4. servindo nas Forças Armadas 7
5. não atuando no campo 1
6. não localizados 2
Apesar do pouco tempo decorrido entre a obtenção
do diploma e esta pesquisa, que naturalmente pode não
revelar com precisão diversas tendências, é possível ter
uma idéia do bom resultado trazido pelo programa, prin-
cipalmente se atentarmos para o fato de que metade dos
bacharéis estava atuando na média administração e 20% se
encaminhavam para os programas de pós-graduação em
administração de saúde. Este fato, segundo o Prof. Wren,
facilitou o estabelecimento de objetivos para cada um dos
níveis, graduação e pós-graduação na universidade, permi-
tindo-se uma boa articulação entre ambos.
Desde a época da pesquisa até o momento em que foi
relatada esta experiência (1973), a universidade estava
convencida do sucesso deste programa e recomendava que
fosse ele difundido nos Estados Unidos, pois havia conse-
guido: 1.0 atrair realmente estudantes para seus cursos;
2.o formar ao nível de bacharelado, pessoal para a média
administração dos hospitais; 3.0 verificar condições para
reter na média administração este profissional; 4.0 sentir a
demanda para empregá-lo; 5.0 certificar-se que ele tinha
Revism de Administração de Empresas
condições de desempenhar um excelente trabalho na me-
dia administração dos hospitais.
4. CONSIDERAÇOES SOBRE A FORMAÇÃO DO
ADMINISTRADOR HOSPITALAR NO BRASIL
Procurando tecer algumas considerações sobre a formação
do bacharel em administração hospitalar, vimos há pouco
dois fatos: a Resolução n.o 18, que formaliza os parâme-
tros para o curso de bacharelado, e uma recente experíên-
cia nos Estados Unidos sobre um curso desta natureza.
Nosso interesse em apresentar os resultados da Uni-
versidade Estadual da Ge6rgia foi tentar fazer algum prog-
nóstico sobre as condições de formação e absorção deste
novo profissional. O modelo curricular é semelhante, logo,
pode-se esperar que sejam bons os resultados. Um fato
motivador para aquela universidade instalar seu curso de
bacharelado foi a demanda deste profissional para os ní-
veis médios da administração nos hospitais americanos. No
Brasil, já analisamos as perspectivas para a absorção do
administrador hospitalar, originadas pela pressão das deci-
sões governamentais sobre o setor Saúde. Portanto, não
restam muitas dúvidas sobre a possibilidade de ele ser
muito bem aproveitado em futuro próximo, na média
administração dos grandes hospitais e, na alta, nos de me-
nor porte. Como em nosso País há uma tradição de se ter
médicos como administradores, certamente haverá urna
intensa disputa pelas posições de alta administração. Con-
tudo, existem problemas inerentes ao processo de sua for-
mação e profissionalização que precisam ser analisados.
Nos Estados Unidos, as profissões já estão em grande
parte consolidadas, onde cada urna delas tem seu status
definido sobre o campo de atuação. Quando o Prof. Wren
enfatiza que o bacharel em administração hospitalar tem
boas condições para ser aproveitável na média administra-
ção, o sentido que pretendeu dar é que lá será o seu lugar
e atingirá no máximo a posição de assistente de adminis-
trador. Isto significa dizer que a posição de administrador
do hospital deverá ser ocupada só e exclusivamente por
alguém com pós-graduação; o que nos EUA é um fato
corriqueiro.
A estrutura para a formação profissional nos Estados
Unidos é bastante desenvolvida, existindo pessoal habílí-
tado para praticamente todas as áreas. Tal condíção pro-
voca maior sedimentação dos indivíduos em suas posições,
resultando uma nítida especialização não apenas na forma-
ção universitária, mas também no campo de trabalho.
Nas empresas, este fato também é comum. Em recen-
te pesquisa, publicada na revista Fortune (maio de 76),
sobre os administradores profissionais que ocupavam car-
gos de direção nas 500 maiores indústrias, mais da metade
deles tinha pós-graduação em administração,
O panorama em nosso País é bastante diferente. Se
considerarmos particularmente a formação do adminis-
trador hospitalar, há uma distância muito grande com a
nossa realidade. Alguns fatos merecem ser considerados.
Em primeiro lugar, a formação superior do adminis-
trador americano, qualquer que seja a sua habilitação, é,
quase exclusivamente, feita a nível de pós-graduação e não
a nível de graduação como no Brasil. Pois bem, nós só te-
mos no Pars um curso de pós-graduação, com mestrado e
doutorado em administração hospitalar, que é o da Facul-
dade de Saúde Pública da USP. E por sinal, ainda não está
consolidado.
O que nos resta é formar bacharéis, pois para isto
nossa atual estrutura universitária tem suporte. Ficaremos
com o problema de formar professores de administração,
pois estes, necessariamente, terão que ter no mínimo o
título de mestre. Porém, esta necessidade será sanada pos-
teriormente.
Dentro desta realidade, existe até o presente apenas
uma iniciativa no sentido de formar bacharéis em adminis-
tração hospitalar, que é a da Faculdade de Administração
com Habilitação Hospitalar do IPH em São Paulo. Temos
notícia de que em 1977 a Universidade Federal da Paraíba
irá implantar também um curso de bacharelado com esta
habilitação. Exatamente neste aspecto, surge um problema
que merece muita atenção.
As faculdades de administração com habilitação hos-
pitalar, de acordo com o espírito da Resolução n.o 18, são
faculdades de administração, fundamentalmente. Isto faz
com que, ao lado das quatro centenas de cursos de admi-
nistração atualmente existentes no País, corramos o risco
de ter nos próximos anos mais um contingente deles, com
mais um rótulo: o hospitalar.
Ao analisarmos os currículos mínimos das habilita-
ções Empresas e Hospitalar, veremos que apenas o último
módulo é diferente, ou seja, "matérias profissionais espe-
cíficas". As implicações deste fato são diversas.
Uma delas é que após a obtenção do diploma, o ba-
charel em administração hospitalar tornar-se-á um profis-
sional titulado de técnico de administração e sua atividade
será regida pelas mesmas regras do bacharel em administra-
ção de empresas. Enfim, ambos serão a mesma coisa pe-
rante a legislação trabalhista. Para as instituições privadas
será fácil fazer-se a distinção, porém nas públicas ambos
serão equivalentes, pois os requisitos formais dos cargos
têm que atender ao direito administrativo.
Outra implicação advém do fato de o mercado de
trabalho remunerar aparentemente melhor o pessoal nas
empresas. Será mais difícil atrair-se alunos para a opção
hospitalar, quando a faculdade já tem a opção empresarial.
No caso de a escola manter exclusivamente a habilitação
em administração hospitalar, dada a grande proximidade
de currículos, poderá enfrentar o problema da disputa
com outras escolas. Os alunos pré-universitários tenderão a
preferir aquelas que têm maior tradição em administração
de empresas. Com isto, estes estariam diluindo o risco de,
caso não conseguirem boas condições de trabalho em hos-
pitais, terem facilidade de dirigir-se para empresas, que,
além de muito numerosas, já o reconhecem como profis-
sionais. O aluno de administração hospitalar, quando re-
cém-formado, teria dificuldades em passar para a empresa,
por sua formação ter sido mais específica, concentrada
mais em disciplinas na área de Saúde.
5. CONCLUSÕES
O que procuramos apresentar até aqui foi um quadro real
e atual das perspectivas de absorção de profissionais de
adminístraçãohospitalar e também das Implicações ineren-
tes à sua formação. Não estamos com isso procurando
esvaziar ou simplificar a abordagem da formação deste
profissional. Para tanto, faremos a seguir uma série de
sugestões extraídas basicamente da nossa experiência
como docente e responsável pela formação de pessoal em
administração de empresas na USP e como consultor em
admínistração hospitalar.
1. Julgamos fundamental para a formação do bacharel
em administração, qualquer que seja sua habilitação, que
haja um período de estágio nas instituições típicas onde
ele deverá atuar depois de diplomado. Este estágio é de
extrema importância para o aluno sentir o mundo real
onde irá aplicar as ferramentas que aprendeu a manejar na
escola. 1! comum nas escolas brasileiras despejar-se uma
bibliografia traduzida, exclusivamente de autores america-
nos, sem que haja uma ponte entre a concepção teórica e
o campo de aplicação da mesma. Isto é decorrente, em
boa parte, do fato de os docentes de administração não
atuarem na área cuja disciplina lecionam e tratarem o en-
sino mais como atividade temporária para suplementar sua
renda famíliar do que como uma carreira profissional. O
estágio programado e bem dirigido é parte integrante da
formação do bacharel em administração hospitalar. Com
isto queremos dizer que um local adequado para estágio,
hospital ou outra instituição de saúde, é o primeiro ponto
a ser enfatizado.
2. Decorrente da multiplicidade de cursos de adminis-
tração no País, a estrutura de ensino existente poderia
perfeitamente absorver mais uma habilitação. Como o
campo hospitalar é bem mais restrito que o empresarial,
deveriam ser estabelecidos alguns centros especiais junto
às universidades brasileiras que mantivessem cursos de
administração e hospitais de ensino ou centros de ciências
da saúde com seus diversos cursos pertinentes. O entro-
samento entre as diversas disciplinas poderia dar uma for-
mação multidisciplinar indispensável ao bacharel em admi-
nistração hospitalar, além de ele poder estagiar nos locais
que servem de campo de ensino e treinamento para os
demais profissionais. Afinal, o administrador hospitalar é
também um profissional do setor Saúde.
Com esta outra argumentação, queremos dizer que o
segundo ponto a ser enfatizado é a utilização das estru-
turas universitárias já existentes, em vez de se criarem cur-
Administrador hospitalar
27
NÃO IlV1PORTA
ONDE vOCÊ ESTEJA
NOSSAS PUBIlCAçÕES
CHEX3-AM ATÉ vOCÊ.
28
sos isolados que certamente não conseguirão produzir o
efeito necessário.
Para a víabílízação de tais sugestões, algumas dificul-
. dades deverão ser superadas. Com relação ao estágio indis-
pensável aos alunos, o primeiro problema reside na grande
dificuldade de os hospitais brasileiros, mais acentuada-
mente os privados, aceitarem ser local de aprendizado pro-
. fissional, particularmente para um profissional ainda mui-
to recente. Talvez imaginem eles que é competência exclu-
siva da universidade lançar no mercado de trabalho profis-
sionais com alto nível, o que não é tarefa exclusiva da
universidade, principalmente em se tratando de adminis-
tradores. Um segundo problema é o fato de os próprios
cursos de administração existentes não terem ainda dado a
devida importância ao estágio e, conseqüentemente, não
terem desenvolvido uma estrutura didática que enfatize
esta etapa na formação do aluno. Isto é em grande parte
decorrência do que já comentamos sobre a pouca motiva-
ção acadêmica do professor de administração, que não se
dedica o suficiente para orientar os alunos, e o custo que
acarreta para as faculdades.
Com relação à sugestão sobre a utilização das estru-
turas universitárias já existentes, a dificuldade maior reside
na obtenção de um resultado significativo ao se tentar
integrar, dentro de uma universidade, os currículos das
áreas médicas ou de saúde, com os das áreas de administra-
ção de empresas: são ambientes bastante distintos, pouco
conciliáveis, se apenas forem somadas suas disciplinas. O
administrador hospitalar tem expectativas diferentes das
do administrador de empresas que é orientado para buscar
Basta pedir pelo Reembolso Postal
Editora da FGV - Praia de Botafogo, 190
CP 9052 - ZC·02 - Rio de Janeiro
Revüta de Adminütraç40 de Empresas
sempre a eficácia tendo em vista os resultados econômi-
cos. O primeiro está envolvido em um contexto onde há
vidas humanas em jogo, onde há disputas entre os vários
profissionais que estão distintamente agrupados por espe-
cialidade e com seus status bem definidos. Na empresa, as
regras são iguais para todos. No hospital, aquelas regras
que valem para os médicos não valem para as enfermeiras,
e assim por diante. Portanto, deverá ser gradual e lenta a
aproximação entre as várias unidades de ensino de uma
universidade, para a montagem do curso de administração
hospitalar.
Resumindo, esperamos que este profissional mereça
uma atenção especial por parte dos hospitais, que irão
recebê-lo, e também das universidades, para que não vejam
esta habilitação como simples extensão dos cursos de
administração de empresas, isolada do contexto da saúde.
D
1 Há anos atrás, semelhante tendência resultou na criação aos
programas de "Medicare" e "Medicaid" nos Estados Unidos.
2 Publicada na revista Hospital Administration com o título
Undergraduate education of hospital and health administration in
1973; v. 18, n.? 1, Winter 1973.

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