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esclarecermos a importância do CACS em nossa discussão, é preciso compreender 
que o art. 24 da Lei sobredita diz que: 
 
O acompanhamento e o controle social sobre a distribuição, a transferência 
e a aplicação dos recursos dos Fundos serão exercidos, junto aos 
respectivos governos, no âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal 
e dos Municípios, por conselhos instituídos especificamente para esse fim. 
(BRASIL, 2007) 
 
Os conselhos haveriam de ser, então, instituídos especificamente com a 
finalidade de exercer controle sobre os recursos do FUNDEB de seu respectivo ente 
da federação. Entretanto, diversas atribuições têm sido direcionadas ao CACS. A 
própria lei de que tratamos, no parágrafo 13 do artigo 24, estabelece que: 
 
Aos conselhos incumbe, também, acompanhar a aplicação dos recursos 
federais transferidos à conta do Programa Nacional de Apoio ao Transporte 
do Escolar - PNATE e do Programa de Apoio aos Sistemas de Ensino para 
Atendimento à Educação de Jovens e Adultos e, ainda, receber e analisar 
as prestações de contas referentes a esses Programas, formulando 
pareceres conclusivos acerca da aplicação desses recursos e 
encaminhando-os ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação – 
FNDE (BRASIL, 2007) 
 
Ou seja, ao mesmo tempo em que o conselho é instituído especificamente 
para exercer controle sobre o uso dos recursos do FUNDEB ele é também 
incumbido de acompanhar e emitir pareceres sobre a utilização de recursos que não 
compõem o respectivo Fundo, o que evidencia certa ambiguidade em relação à 
função de tais conselhos. Recentemente essa tendência tornou-se incisiva, sendo 
recorrente o advento de novas atribuições ao CACS. Por exemplo, veja-se o art. 10 
da Lei nº 12.695, de 25 de julho de 2012: 
 
O acompanhamento e o controle social da transferência e da aplicação dos 
recursos repassados para a execução das ações do PAR, conforme Termo 
de Compromisso, serão exercidos em âmbito municipal e estadual pelos 
conselhos previstos no art. 24 da Lei no 11.494, de 20 de junho de 2007 
 
Parágrafo único. Os conselhos a que se refere o caput analisarão as 
prestações de contas dos recursos repassados aos entes federados e 
encaminharão ao FNDE demonstrativo sintético anual da execução físico-
financeira, com parecer conclusivo acerca da aplicação dos recursos. 
(BRASIL, 2012) 
 
 
http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%2012.695-2012?OpenDocument
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Lei/L11494.htm#art24
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Isso significa que nova incumbência é atribuída ao CACS, agora de controle 
sobre a utilização de recursos que não compõem o respectivo FUNDEB, desta vez 
em relação ao Plano de Ações Articuladas (PAR), que tem comportado diversas 
ações financiadas pelo Governo Federal no âmbito das PPEs. Ainda, redação 
praticamente idêntica a transcrita acima é lida no art. 9º da Lei nº 12.722/2012, que 
trata de apoio financeiro da União aos Municípios e ao Distrito Federal para 
ampliação da oferta da educação infantil, ou seja, outra vez o CACS é incumbido de 
acompanhar a execução de um programa financiado por recursos que não compõem 
o respectivo FUNDEB. 
Essa ambiguidade de que se revestem as atribuições do CACS que, instituído 
para atuar no controle dos recursos do FUNDEB, assume obrigação de controle 
sobre recursos que não fazem parte do respectivo Fundo, têm reflexos que geram 
incerteza quanto a sua característica social no momento em que passam a atuar em 
programas que não incorporam as mesmas finalidades do FUNDEB. Para que 
melhor se evidencie esta situação, vemos abaixo a composição prevista ao CACS 
para cada uma das esferas em que deve ser instituído: 
 
Quadro 4: Composição do CACS/FUNDEB na Esfera Federal 
COMPOSIÇÃO DO CACS/FUNDEB NA ESFERA FEDERAL 
Quantidade Descrição 
A 4 Representantes do Ministério da Educação; 
B 1 Representante do Ministério da Fazenda; 
C 1 Representante do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão; 
D 1 Representante do Conselho Nacional de Educação; 
E 1 Representante do Conselho Nacional de Secretários de Estado da Educação - 
CONSED; 
F 1 Representante da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação - CNTE; 
G 1 Representante da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação - UNDIME; 
H 2 Representantes dos pais de alunos da educação básica pública; 
I 2 Representantes dos estudantes da educação básica pública, um dos quais indicados 
pela União Brasileira de Estudantes Secundaristas - UBES; 
Fonte: Lei nº 11.494/2007, adaptado. 
 
O Quadro 4 demonstra que, na composição que o CACS deve ser instituído 
para atuar na esfera federal, há ampla hegemonia de atores que fazem parte da 
administração pública, como é o caso daqueles indicados nas linhas A, B, C, E, G, 
do Quadro 4, que totalizam 8 dos 14 membros. Ou seja, a participação de 
segmentos da sociedade que não integram o governo ou a máquina administrativa 
http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%2012.722-2012?OpenDocument
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representa quase 60% das vozes do conselho. Vejamos a composição do conselho 
em âmbito estadual: 
 
Quadro 5: Composição do CACS/FUNDEB na Esfera Estadual 
COMPOSIÇÃO DO CACS/FUNDEB NA ESFERA ESTADUAL 
Quantidade Descrição 
A 3 Representantes do Poder Executivo estadual, dos quais pelo menos 1 (um) do órgão 
estadual responsável pela educação básica; 
B 2 Representantes dos Poderes Executivos Municipais; 
C 1 Representante do Conselho Estadual de Educação; 
D 1 Representante da seccional da União Nacional dos Dirigentes Municipais de 
Educação - UNDIME; 
E 1 Representante da seccional da Confederação Nacional dos Trabalhadores em 
Educação - CNTE; 
F 2 Representantes dos pais de alunos da educação básica pública; 
G 2 Representantes dos estudantes da educação básica pública, 1 (um) dos quais 
indicado pela entidade estadual de estudantes secundaristas; 
Fonte: Lei nº 11.494/2007, adaptado. 
 
Conforme evidencia o Quadro 5, nas composições estaduais, também se 
percebe forte presença de atores representantes de áreas do próprio governo, como 
é o caso daqueles previstos nas linhas A, B e D do quadro acima, que totalizam 6 
integrantes, ou seja, metade do total de 12 conselheiros, o que também compromete 
a característica social do colegiado. Para o conselho do Distrito Federal, a 
composição é feita excluindo-se os representantes designados nas linhas D e E, o 
que reduz a presença estatal no conselho e dá ao colegiado distrital uma 
característica mais próxima daquela que assumem os conselhos nos âmbitos 
municipais, para os quais é prevista a seguinte formação: 
 
Quadro 6: Composição do CACS/FUNDEB na Esfera Municipal 
COMPOSIÇÃO DO CACS/FUNDEB NA ESFERA MUNICIPAL 
Quantidade Descrição 
A 2 Representantes do Poder Executivo Municipal, dos quais pelo menos 1 (um) da 
Secretaria Municipal de Educação ou órgão educacional equivalente; 
B 1 Representante dos professores da educação básica pública; 
C 1 Representante dos diretores das escolas básicas públicas; 
D 1 Representante dos servidores técnico-administrativos das escolas básicas públicas; 
E 2 Representantes dos pais de alunos da educação básica pública; 
F 2 Representantes dos estudantes da educação básica pública, um dos quais indicados 
pela entidade de estudantes secundaristas. 
Fonte: Lei nº 11.494/2007, adaptado. 
 
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Na composição do CACS municipal, descrita no Quadro 6, a representação 
de órgãos ou entidades governamentais ou representativas de segmentos do 
governo é evidente apenas na linha A, que inclui dois representantes no conselho, 
de um total de 9, o que poderia sugerir a expressiva presença social no conselho. 
Contudo, já se discutiu que para que o controle efetivamente tenha um caráter social 
ele deve ser realizado pelos beneficiários das políticas públicas. Neste ponto é que 
se evidencia a ambiguidade de que falo, pois enquanto o conselhofoi criado para 
controlar a aplicação dos recursos do FUNDEB, cuja finalidade é, entre outras, a 
valorização dos profissionais da educação, pode-se considerar os representantes 
das linhas B, C e D como beneficiários da política. Porém, quando o controle 
realizado pelo CACS é direcionado a outros programas da educação – como PNATE 
e PAR –, não diretamente atrelados às carreiras do magistério, tem-se que os três 
não mais compõem o grupo de beneficiários dos programas, sem deixarem de ser 
agentes públicos, dado o cargo que ocupam e, como tais, integrantes da 
administração pública e não cidadãos que emergem da sociedade para investir-se 
no conselho, o que retira de sua participação o caráter social precípuo que o 
conselho haveria de ter. 
Fazendo-se esta nova leitura, onde diretores e professores são entendidos 
não como beneficiários dos recursos, mas como agentes públicos, temos que a 
representatividade dos beneficiários dos programas na composição do conselho é 
de 44% (4 representantes de um total de 9). Assim, percebe-se que em todas as 
esferas a composição dos conselhos do FUNDEB possui a maioria de seus 
integrantes ligados à máquina estatal, sendo minoritária a participação daqueles que 
representam estritamente os beneficiários dos programas, ou seja, a sociedade. 
Assim, melhor seria dizermos que se trata não de conselhos sociais, mas de 
conselhos com participação social. 
Com isso, institucionaliza-se um mecanismo com a participação de 
representantes de segmentos da sociedade no controle das PPEs. Essa 
participação, porém, reveste-se de ambiguidade, vez que potencialmente contraria a 
previsão de que “só pode existir democracia quando a sociedade civil, formada por 
cidadãos, distingue-se do Estado ao mesmo tempo que o controla” (RICHARDSON, 
2005, p. 241). A diferenciação, aqui, parece ser pouco clara. Se o objetivo de 
controlar o uso dos recursos é garantir que estes sejam utilizados na finalidade 
prevista, para que efetivamente atendam ao interesse público, é preciso ampliar, 
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nesta malha, a participação dos interessados nos resultados das políticas que estão 
sendo implementadas, ou seja, a própria sociedade. E é desta necessidade que 
emerge a noção de controle social, da qual trato a seguir. 
O objetivo de tratar primeiramente dos conselhos para só depois discutir o 
controle social propriamente dito reside na incerteza de que tais conselhos possam, 
de imediato, ser identificados com o conceito de controle social. Como se viu, a 
expressiva presença de representantes de segmentos do governo na composição 
dos conselhos, especialmente do CACS, pode prejudicar o caráter social de sua 
ação, mantendo com isso o controle realizado por tais conselhos mais próximo do 
controle realizado pelo concedente do que de uma possível evidência de 
accountability vertical. 
 
 
3.3.6 Controle Social 
 
 
 
A noção de controle social possui larga presença histórica e, se não antes, 
consta explicitamente na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, 
a qual continha os seguintes dispositivos: 
 
Artigo 14º- Todos os cidadãos têm o direito de verificar, por si ou pelos seus 
representantes, a necessidade da contribuição pública, de consenti-la 
livremente, de observar o seu emprego e de lhe fixar a repartição, a colecta, 
a cobrança e a duração. 
Artigo 15º- A sociedade tem o direito de pedir contas a todo o agente público 
pela sua administração. (FRANÇA, 1789) 
 
Não ambiciono aqui fazer traçado histórico entre a Assembleia Nacional 
associada à Revolução Francesa e nossos atuais princípios de controle social, 
mesmo assim, é importante esclarecer que se trata de um princípio que remonta às 
bases democráticas modernas. Na efetiva democracia, o controle social exige-se 
presente no sistema de controle da administração pública, visto que “o verdadeiro 
controle do governo – em qualquer de suas divisões: executivo, Legislativo e 
Judiciário – só vai ocorrer efetivamente se as ações do governo forem fiscalizadas 
pelos cidadãos” (CAMPOS, 1990, p. 34). 
Assim, pode-se argumentar que, em uma democracia, nenhum controle 
haveria de existir se não fosse, em essência, social. No atual contexto político 
65 
 
brasileiro, e no foco de nossa pesquisa, o ambiente de que tratamos sugere que “no 
controle social, os cidadãos se tornam controladores dos governantes não apenas 
nas eleições, mas ao longo do mandato de seus representantes.” (PINHO e 
SACRAMENTO, 2009, p. 1353). 
Pelo que já discutimos neste capítulo, pode-se considerar que a prerrogativa 
de qualquer cidadão ser parte ativa para promover uma denúncia junto ao Tribunal 
de Contas da União evidencia alguma possibilidade de controle social no Brasil. 
Porém, há requisitos para que o cidadão defenda seus interesses por este meio, tal 
como o conhecimento pormenorizado das ações do governo. E, sem adentrar às 
possibilidades de participação de determinado cidadão individualmente11, a 
pretensão de controle social tem tomado conotação mais ampla na administração 
pública brasileira: 
 
Nesse sentido, o controle/participação social é entendido como um espaço 
de representação da sociedade, onde se articulam diferentes sujeitos, com 
suas diversas representações: movimentos populares, entidades de classe, 
sindicatos, governo, entidades jurídicas, prestadores de serviço, entre 
outros, e uma população com suas necessidades e interesses que 
envolvem o indivíduo, família e grupos da comunidade. 
 
O controle social consiste, portanto, em canais institucionais de participação 
na gestão governamental, com a presença de novos sujeitos coletivos nos 
processos decisórios, não se confundindo com os movimentos sociais que 
permanecem autônomos em relação ao Estado. (ASSIS e VILLA, 2003, p. 
377) 
 
Ou seja, o controle social tem sido muitas vezes utilizado como sinônimo de 
participação social, alcançando outros aspectos da gestão da coisa pública que 
excedem ao controle. Di Pietro (1998) sugere que existe a tentativa de criação de 
uma rede, onde o controle social alia-se com o controle interno e externo, com 
especial participação do próprio órgão de gestão da política pública – isto é, do 
próprio concedente –, o qual está incumbido do alcance das metas e objetivos 
estabelecidos: 
 
A idéia do Governo é que o controle de resultados seja efetuado por órgão 
público que conte com a participação de usuários do serviço e seja exercido 
em função de metas estabelecidas por meio de contrato de gestão [...] 
 
Quanto aos tipos de controle social hoje existentes, podem ser 
mencionados, entre outros: aquele exercido pelo próprio usuário, com os 
direitos à informação e à denúncia de irregularidades perante inúmeros 
_______________ 
11
 Para detalhamento das previsões de participação popular na administração pública brasileira, ver Perez (2004). 
66 
 
órgãos que atuam como espécies de Ombudsman (Tribunal de Contas, 
Ministério Público, Comissões de Ética, PROCON etc.); o controle exercido 
pela mídia, que, à parte os abusos, tem conseguido resultados bastante 
positivos, forçando investigações, exigindo transparência no trato da coisa 
pública e levando, muitas vezes, a punições; o controle exercido pelas 
organizações não-governamentais, que alcançam resultados semelhantes. 
Mas todos esses constituem meios informais e eventuais de controle. (DI 
PIETRO, 1998) 
 
Perceba-se que a descrição da autora quanto ao controle social aproxima-se 
em muito da societal accountability discutida Capítulo II deste trabalho, e não se 
restringe de modo algum ao exercício de controle realizado por conselhos, como 
CAE e CACS. Rua (2009) complementa essa ideia esclarecendo que o fomento ao 
controle social tende a gerar um ciclo de participação, acompanhamento e 
accountability: 
 
A avaliação representa um potente instrumento de gestão na medida em 
que pode – e deve - ser utilizada durante todo o ciclo da gestão, 
subsidiando desde o planejamentoe formulação de uma intervenção, o 
acompanhamento de sua implementação, os consequentes ajustes a serem 
adotados, e até as decisões sobre sua manutenção, aperfeiçoamento, 
mudança de rumo ou interrupção. Além disso, a avaliação pode contribuir 
para a viabilização de todas as atividades de controle interno, externo, por 
instituições públicas e pela sociedade levando maior transparência e 
accountability às ações de governo. (RUA, 1998) 
 
Afonso (2009, p. 66) afirma que “é, aliás, na América Latina (mesmo em 
alguns países asiáticos) que estão a surgir algumas das alternativas mais 
democráticas, participativas e críticas neste campo”, da participação social. 
Anotação essa que, recorrente na literatura, refere-se especialmente a duas 
práticas: a do orçamento participativo, que não está no escopo deste trabalho, e a 
dos conselhos sociais. Ou seja, o advento dos conselhos tem sido percebido 
frequentemente de forma entusiástica. Tatagiba (2004, p. 19), afirma que: 
 
Uma das expressões mais evidentes desse processo de inovação no campo 
da participação popular foram os conselhos gestores de políticas públicas. 
Os conselhos de políticas estão entre as principais inovações institucionais 
que acompanham e particularizam o processo de redemocratização no 
Brasil, por isso, em sua dinâmica atual são espelhos pelos quais se podem 
ler registros das dimensões contraditórias de que se revestem nossas 
experiências democráticas recentes. 
 
Em relação à interação com as demais instâncias, é perceptível a aceitação 
dos controles interno e externo de que a participação social é fundamental para que 
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seja feita a devida avaliação dos resultados das políticas públicas. A CGU manifesta-
se no sentido de que o cidadão: 
 
Será sempre o melhor agente de controle da gestão pública, pois está 
presente em toda atuação estatal, quer na condição de agente público, quer 
na condição de beneficiários das políticas públicas (BRASIL, 2005, p. 18) 
 
Nesse mesmo sentido, mas mais restrito à ação dos conselhos, há 
posicionamento do TCU, entre outros, por meio do Ministro Relator Augusto Nardes, 
ao tratar de suspeitas de que conselhos do controle social teriam sua legitimidade 
afastada em razão da cooptação sofrida: 
 
4. (…) Reconheço que são fundadas as suspeitas sobre a atuação dos 
chamados conselhos municipais de controles social, previstos em 
determinados programas federais de natureza continuada. Tais conselhos, 
pela relevância de sua atividade, estão sujeitos a toda espécie de tentativa 
de cooptação pelo executivo municipal, não raro bem-sucedida. 
 
5. No entanto, é compreensível a tendência de fortalecimento dos conselhos 
locais para o controle dos programas federais que são executados em 
âmbito exclusivamente municipal, de forma permanente. Além de propiciar a 
redução significativa de Processos administrativos que se formam a partir 
do controle mais rígido da documentação, de cunho meramente formal em 
alguns casos, o Órgão federal concedente poderá direcionar maior parcela 
de seu esforço de controle para os casos mais agudos, suscitados inclusive 
pela própria comunidade beneficiária dos recursos transferidos. Essa 
tendência se me afigura fundamentalmente apropriada a ações federais 
que, além de se repetirem ano a ano na generalidade dos municípios 
brasileiros, são de interesse exclusivamente local. (BRASIL, 2009) 
 
 
Ponto de especial interesse quanto ao controle social é muito bem traduzido 
por Ribeiro (2009, p. 38), antes de afirmar com tranquilidade que, atualmente, 
“existem instituições formais que estabelecem as ‘regras do jogo’ de como se dá a 
participação da sociedade na supervisão e no controle da coisa pública”, o autor 
sintetiza que: 
 
Para que o controle social tenha efetividade, o Estado, por um lado, tem que 
criar mecanismos em sua estrutura e em seu ordenamento jurídico que 
possibilitem e assegurem aos cidadãos exercerem seus direitos, ou seja, o 
Estado tem que criar instituições formais que ditam as regras do jogo. Por 
outro lado, o Estado tem, também, que ser detentor de uma sociedade 
composta de cidadãos conscientes de seus direitos e dispostos a exercê-
los; tem que haver instituições informais na sociedade que propiciem esse 
tipo de atitude dos cidadãos. Isso implica que essa sociedade seja dotada 
de costumes que levem os cidadãos a reivindicarem e a lutarem por seus 
direitos, bem como supervisionem a administração pública por intermédio do 
controle social [...] Em decorrência, a efetividade do controle social não 
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depende isoladamente do Estado, por intermédio das instituições formais, 
ou da sociedade, por intermédio das instituições informais, mas, sim, do 
conjunto dessas duas, ou seja, de sua matriz institucional. (RIBEIRO , 2009, 
p. 36-37) 
 
Essa ponderação vem a corroborar a afirmação de Campos (1990, p. 12), de 
que “é preciso observar que somente a partir do momento em que nasce um tipo de 
cidadão, que é o que efetivamente pode participar da coisa pública, é que serão 
formuladas demandas por accountability”. Neste mesmo caminho, a ciência política 
já esclarece em suas bases que “o ideal democrático supõe cidadãos atentos à 
evolução da coisa pública, informados pelos acontecimentos políticos [...] capazes 
de escolher entre diversas alternativas apresentadas” (BOBBIO, 2008). 
E esse é o ponto fundamental de nosso entrelaçamento da accountability com 
a Educação, haja vista que, conforme delineado, o controle social exige uma postura 
do Estado, mas também uma postura cidadã disseminada na sociedade. Além disso, 
como já evidenciado, toda accountability, em sentido amplo, está fundamentada no 
controle social. Inclusive, o argumento mais reiterado e lamentado para a carência 
de accountability em certas democracias, como na do Brasil, é exatamente a 
fragilidade da consciência cidadã. Nesse ponto, sempre há o apelo à educação, mas 
de forma genérica, e a questão que se põe recorrentemente é: de onde nasce a 
cultura de exercício da cidadania? 
A resposta a tal questão não pode, senão por erro, distanciar-se da 
construção histórica de uma nação. Porém, também não pode restringir-se a explicar 
o presente com base no passado e sem considerar que os dias atuais também 
podem ser alicerce para a construção de uma cidadania efetiva. Dessa forma, 
considerando que é preciso valorizar a construção histórica de nossa realidade, é 
preciso avaliar as possibilidades de criação de pilares para uma cultura de exercício 
da cidadania. E essa construção é calcada na educação. 
 
 
3.4 EDUCAÇÃO E CIDADANIA: O EMPODERAMENTO SOCIAL 
 
 
Nossa atual LDB, alinhada com a Constituição Federal, ao tratar dos 
princípios e fins da educação nacional define, em seu art. 2º, que: 
 
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A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de 
liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno 
desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e 
sua qualificação para o trabalho. (BRASIL, 1994). 
 
E, se assim está posto, certamente temos que nos preocupar com o que é 
entendido por cidadania. Em relação isso, vale perceber que o Parecer nº 7/2010 do 
Conselho Nacional de Educação propõe “uma cidadania agora compreendida como 
a participação ativa dos indivíduos nas decisões pertinentes a sua vida cotidiana” 
(BRASIL, 2010a). Além disso, é reconhecido pelo Conselho, conforme consta no 
artigo 5º da Resolução CNE/CEB nº 4/2010, que: 
 
A Educação Básica é direito universal e alicerce indispensável para o 
exercício da cidadania em plenitude, da qual depende a possibilidade de 
conquistar todos os demais direitos, definidos na Constituição Federal, no 
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), na legislação ordinária e nas 
demais disposições que consagram as prerrogativas do cidadão (BRASIL, 
2010) 
 
 
Se é, então, intuito da educação contribuir efetivamente para a construção da 
cidadania democrática,inclusive como meio para garantir outros direitos, e se a 
efetividade dessa cidadania está associada a uma accountability efetiva, esse ciclo 
sugere que as políticas públicas e os agentes de sua concepção e implementação 
são excelente campo e público para o exercício da cidadania e a concretização da 
accountability. Frare (2006, p. 66) destaca que: 
 
[...] a educação é o principal vetor para a porta de saída das políticas 
públicas, visto que a emancipação dos beneficiários e a consequente 
transformação social estão diretamente ligadas ao desenvolvimento da 
educação 
 
Na presente pesquisa, esse liame entre as PPEs e a accountability é utilizado 
especificamente como motivação para o recorte situado nas políticas cuja 
implementação compete ao FNDE, vez que “a importância da educação para 
programas sociais evidencia ainda mais a sua centralidade no processo de 
desenvolvimento do Brasil. O FNDE, evidentemente, é uma peça central nessa 
estratégia” (FRARE, 2006, p. 66). 
Por isso, é do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação que nos 
ocuparemos no Capítulo IV.

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