Prévia do material em texto
Indaial – 2022 Humano II Prof.ª. Aline Pedroso de Carvalho Prof. Lucas Andrade Ananias 1a Edição DesenvolvImento Elaboração: Prof.ª. Aline Pedroso de Carvalho Prof. Lucas Andrade Ananias Copyright © UNIASSELVI 2022 Revisão, Diagramação e Produção: Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI Impresso por: C331d Carvalho, Aline Pedroso de Desenvolvimento humano II. / Aline Pedroso de Carvalho; Lucas Andrade Ananias. – Indaial: UNIASSELVI, 2022. 218 p.; il. ISBN 978-85-515-0646-2 ISBN Digital 978-85-515-0642-4 1. Psicologia comportamental. – Brasil. I. Ananias, Lucas Andrade. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 158 Caríssimo acadêmico! É com muita alegria e satisfação que daremos início a mais uma jornada em nosso processo formativo! Este é o livro didático referente à disciplina de Desenvolvimento Humano II do curso de Graduação em Psicologia. Mas antes de apresentá-lo, iremos nos apresentar a você. O autor Prof. Lucas Andrade Ananias é Bacharel em Psicologia pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (2011) e Licenciado em Letras - Português pela Universidade Federal de Santa Catarina (2022). Mestre em Educação pela Universidade Federal de Santa Maria (2015) e Doutorando em Educação pela mesma instituição. Tem experiência no serviço público de saúde e na área da assistência social. A autora Prof. Aline Pedroso de Carvalho é Bacharel em Psicologia pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (2012) e Especialista em Psicologia Clínica: Terapia Cognitivo-Comportamental pelo Centro Universitário Internacional (2021). Tem experiência na área da assistência social e no atendimento clínico. O presente livro objetiva a compreensão do desenvolvimento em três momentos específicos da vida humana: o jovem adulto, a meia-idade e a terceira idade. Serão abordadas algumas de suas caracterizações, aspectos físicos, cognitivos e questões relacionadas ao desenvolvimento psicossocial. Todo o conteúdo procura identificar linhas de pensamento a partir de contribuições teóricas de autores da área, de modo a promover uma reflexão sobre as temáticas e apresentar pesquisas atuais nos estudos do desenvolvimento humano. Na Unidade 1, abordaremos o ingresso na vida adulta. Propomos uma discussão sobre quem é o jovem adulto a partir de contribuições teóricas (biológicas, psicológicas e sociológicas), aspectos físicos e cognitivos a partir de questões como as transformações físicas e sexualidade, o desenvolvimento psicossocial a partir dos papéis sociais exercidos neste momento de vida, os relacionamentos interpessoais, entre outros. Também apresentaremos um pouco sobre as condições de saúde nesta faixa etária. Em seguida, na Unidade 2, também abordaremos as diversas contribuições teóricas relacionadas ao adulto na meia-idade, considerando as condições físicas, algumas das doenças mais comuns neste período, as condições de saúde mental, a qualidade de vida, as relações familiares e os diversos papéis sociais que se apresentam nesta etapa de desenvolvimento. APRESENTAÇÃO Por fim, na Unidade 3, apresentaremos alguns aspectos relacionados à transição da fase adulta à velhice. Discutiremos como se manifestam as transformações, as descobertas e os aprendizados que vão se acumulando no decorrer da vida. A adaptação à terceira idade, as diversas contribuições teóricas e as condições de saúde também serão apresentadas, juntamente com as transformações físicas, os aspectos culturais e as mudanças nos papéis sociais exercidos, considerando a vida conjugal e a família multigeracional. Após trabalharmos com as questões referentes à terceira idade na Unidade 3, abordaremos a pesquisa sobre o desenvolvimento humano e algumas possibilidades de intervenção na atualidade. São temáticas importantes para refletirmos sobre a construção do conhecimento científico quando falamos do desenvolvimento humano. Ao término de cada tópico, você terá à sua disposição atividades de autoavaliação. E ao término de cada unidade, um artigo científico especialmente selecionado para aprofundar as discussões propostas. Esperamos que o material apresentado neste livro seja motivador e que desperte a curiosidade sobre um assunto tão incrível como é o desenvolvimento humano. Desejamos uma boa jornada rumo à edificação do conhecimento. E no caso de qualquer dúvida, estaremos à disposição! Bons estudos! Prof.ª. Aline Pedroso de Carvalho Prof. Lucas Andrade Ananias Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, a UNIASSELVI disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos. GIO QR CODE Você lembra dos UNIs? Os UNIs eram blocos com informações adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento acadêmico como um todo. Agora, você conhecerá a GIO, que ajudará você a entender melhor o que são essas informações adicionais e por que poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto estudado em questão. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina. A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um novo visual – com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada também digital, em que você pode acompanhar os recursos adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de ações sobre o meio ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Portanto, acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Junto à chegada da GIO, preparamos também um novo layout. Diante disso, você verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os seus estudos com um material atualizado e de qualidade. ENADE LEMBRETE Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conheci- mento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa- res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira,acessando o QR Code a seguir. Boa leitura! SUMÁRIO UNIDADE 1 - O JOVEM ADULTO ...............................................................................1 TÓPICO 1 - CARACTERIZAÇÃO DO JOVEM ADULTO: CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS E CONDIÇÕES DE SAÚDE MENTAL ................................... 3 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 3 2 UMA NOVA ETAPA NO DESENVOLVIMENTO HUMANO .......................................4 2.1 O RELÓGIO BIOLÓGICO E O RELÓGIO SOCIAL............................................................... 4 2.2 O INGRESSO NA VIDA ADULTA ..........................................................................................5 2.3 CONTRIBUIÇÕES BIOLÓGICAS NO DESENVOLVIMENTO DO JOVEM ADULTO ............ 7 2.4 CONTRIBUIÇÕES PSICOLÓGICAS NO DESENVOLVIMENTO DO JOVEM ADULTO ............................................................................................................ 8 2.4.1 As quatro perspectivas no desenvolvimento da personalidade .................... 8 2.5 CONTRIBUIÇÕES SOCIOLÓGICAS: A DEFINIÇÃO DE JUVENTUDES......................14 2.5.1 Integração social e apoio social .............................................................................15 3 CONDIÇÕES DE SAÚDE MENTAL DO JOVEM ADULTO .................................... 15 3.1 TRANSTORNOS RELACIONADOS AO USO ABUSIVO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS ........................................................................................................................16 3.1.1 Alcoolismo ....................................................................................................................16 3.1.2 Uso abusivo de drogas ............................................................................................. 17 3.1.3 O atendimento de dependentes ...........................................................................18 3.2 ESTRESSE ............................................................................................................................19 3.3 TRANSTORNOS DE HUMOR E TRANSTORNOS ANSIOSOS .....................................20 3.3.1 Transtornos de humor .............................................................................................20 3.3.2 Transtornos de ansiedade ......................................................................................21 4 AFINAL, QUEM É O JOVEM ADULTO? ............................................................... 21 RESUMO DO TÓPICO 1 ..........................................................................................23 AUTOATIVIDADE ...................................................................................................24 TÓPICO 2 - ASPECTOS FÍSICOS E COGNITIVOS NO JOVEM ADULTO ............... 27 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 27 2 TRANSFORMAÇÕES FÍSICAS, CONDIÇÕES DE SAÚDE E SEXUALIDADE .......... 28 2.1 TRANSFORMAÇÕES FÍSICAS E CONDIÇÕES DE SAÚDE ..........................................28 2.1.1 Condições de saúde física ...................................................................................... 29 2.2 CAPACIDADE REPRODUTIVA .........................................................................................30 2.3 SEXUALIDADE ....................................................................................................................31 2.3.1 Conceitos de diversidade sexual .......................................................................... 32 3 ASPECTOS COGNITIVOS DO DESENVOLVIMENTO ..........................................34 3.1 JOHN DEWEY: PENSAMENTO REFLEXIVO .................................................................. 35 3.2 O PENSAMENTO PÓS-FORMAL ..................................................................................... 35 3.3 SCHAIE: MODELO DE DESENVOLVIMENTO COGNITIVO PARA O CICLO DE VIDA ................................................................................................................................ 36 3.4 STERNBERG E O CONHECIMENTO PRÁTICO.............................................................. 37 3.5 MATURIDADE .....................................................................................................................38 3.6 INTELIGÊNCIA EMOCIONAL ............................................................................................ 39 4 TRABALHO, EDUCAÇÃO E LAZER ....................................................................39 4.1 EDUCAÇÃO .......................................................................................................................... 39 4.1.1 Formação .....................................................................................................................41 4.1.2 Oportunidades e desafios .......................................................................................41 4.2 TRABALHO .......................................................................................................................... 42 4.2.1 Independência financeira .......................................................................................44 4.2.2 Desafios com relação ao mundo do trabalho ...................................................45 4.3 LAZER ..................................................................................................................................45 5 O JOVEM ADULTO NA ATUALIDADE .................................................................46 6 RETOMANDO O QUE ESTUDAMOS .................................................................... 47 RESUMO DO TÓPICO 2 ......................................................................................... 48 AUTOATIVIDADE ...................................................................................................49 TÓPICO 3 - DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL NO JOVEM ADULTO ............. 51 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 51 2 OS RELACIONAMENTOS INTERPESSOAIS: A AMIZADE E O AMOR ................ 51 3 ENTRE PAPÉIS SOCIAIS, RELACIONAMENTOS INTERPESSOAIS, TRANSIÇÕES E CRISES .....................................................................................53 3.1 O PAPEL PROFISSIONAL .................................................................................................54 3.1.1 Fatores que influenciam a escolha do trabalho ................................................54 3.1.2 Sequências profissionais ........................................................................................ 55 3.1.3 As mulheres no mundo do trabalho .................................................................... 55 3.1.4 As personalidades e os ambientes de trabalho ................................................ 56 3.2 O PAPEL CONJUGAL .........................................................................................................57 3.3 O PAPEL PARENTAL .........................................................................................................58 3.4. OUTROS ASPECTOS NA VIDA DO JOVEM ADULTO .................................................. 62 3.4.1 Estudos de gênero e questões contemporâneas ............................................ 62 4 E UMA NOVA ETAPA SE INICIA ..........................................................................63 LEITURA COMPLEMENTAR ..................................................................................65 RESUMO DO TÓPICO 3 ..........................................................................................69 AUTOATIVIDADE ...................................................................................................70 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 72 UNIDADE 2 — A MEIA-IDADE ................................................................................77 TÓPICO 1 — CARACTERIZAÇÃO DA MEIA-IDADE ............................................... 79 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 79 2 A MEIA-IDADE COMO ETAPA DO DESENVOLVIMENTO HUMANO ...................80 3 CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS ............................................................................. 81 3.1 CONDIÇÕES DE SAÚDE FÍSICA .......................................................................................81 3.1.1 Mudanças a nível sensorial e motor .....................................................................82 3.2 CONTRIBUIÇÕES PSICOLÓGICAS .................................................................................84 3.2.1 As contribuições de Erik Erikson ..........................................................................84 3.2.2 Modelos de traço .....................................................................................................85 3.2.3 Tarefas evolutivas ....................................................................................................86 3.2.4 Carl Jung, George Vaillant e Daniel Levinson .................................................. 87 3.3 A TEORIA DO COMBOIO SOCIAL E A TEORIA DA SELETIVIDADE EMOCIONAL .....................................................................................88 4 CONDIÇÕES DE SAÚDE MENTAL NA MEIA-IDADE...........................................89 4.1 TRANSTORNOS DE HUMOR E TRANSTORNOS DE ANSIEDADE .............................89 4.1.1 Transtornos de humor ..............................................................................................90 4.1.2 Transtornos de ansiedade ...................................................................................... 93 4.2 ESTRESSE ........................................................................................................................... 94 4.3 USO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS ......................................................................... 94 4.3.1 Modelos explicativos para dependência química ............................................ 94 4.3.2 Alcoolismo na meia-idade .................................................................................... 95 4.3.3 Dependência química na mulher .........................................................................97 5 UM NOVO OLHAR EM RELAÇÃO À MEIA-IDADE ...............................................98 RESUMO DO TÓPICO 1 ..........................................................................................99 AUTOATIVIDADE .................................................................................................100 TÓPICO 2 - ASPECTOS FÍSICOS E COGNITIVOS NA MEIA-IDADE ...................103 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................103 2 ASPECTOS FÍSICOS E COGNITIVOS NA MEIA-IDADE....................................103 2.1 ASPECTOS FÍSICOS ......................................................................................................... 104 2.2 ASPECTOS COGNITIVOS ................................................................................................ 106 3 EDUCAÇÃO E TRABALHO ................................................................................ 107 3.1 QUALIDADE DE VIDA E SATISFAÇÃO NO TRABALHO ............................................. 108 3.2 APOSENTADORIA ............................................................................................................ 109 4 CAPACIDADE REPRODUTIVA..........................................................................109 5 RETOMANDO OS ESTUDOS ............................................................................. 112 RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................ 113 AUTOATIVIDADE ................................................................................................. 114 TÓPICO 3 - DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL NA MEIA-IDADE ..................117 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................117 2 OS PAPÉIS SOCIAIS EXERCIDOS NA MEIA-IDADE .........................................117 2.1 RELAÇÕES FAMILIARES .................................................................................................. 118 2.1.1 O casamento.............................................................................................................. 118 2.1.2 O divórcio ................................................................................................................... 119 2.1.3 A relação com os filhos .......................................................................................... 121 2.1.4 Tornar-se avó ou avô ............................................................................................. 124 3 RELACIONAMENTOS INTERPESSOAIS .......................................................... 125 3.1 AMIZADES ...........................................................................................................................125 3.2 A RELAÇÃO COM PAIS IDOSOS E O PAPEL DE CUIDADOR .................................. 126 4 TRANSIÇÕES E CRISES NA MEIA-IDADE ....................................................... 127 4.1 ADULTO PADRÃO, ADULTO INACABADO E ADULTO HÍBRIDO ............................... 128 4.2 SATISFAÇÃO E BEM-ESTAR ..........................................................................................129 4.3 ENVELHECIMENTO E INEVITABILIDADE DA MORTE ............................................... 131 5 PARA NÃO CONCLUIR ...................................................................................... 132 LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................134 RESUMO DO TÓPICO 3 ........................................................................................140 AUTOATIVIDADE ................................................................................................. 141 REFERÊNCIAS .....................................................................................................143 UNIDADE 3 — A TERCEIRA IDADE E A CONTEMPORANEIDADE DO DESENVOLVIMENTO HUMANO .............................................. 147 TÓPICO 1 — CARACTERIZAÇÃO DA TERCEIRA IDADE ......................................149 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................149 2 TRANSIÇÃO DA FASE ADULTA À VELHICE .....................................................149 2.1 AFINAL, COMO SE REFERIR À “VELHICE”? ................................................................ 150 3 CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS ........................................................................... 152 3.1 CONTRIBUIÇÕES FÍSICAS E BIOLÓGICAS ...................................................................152 3.1.1 Teorias sobre o envelhecimento ......................................................................... 154 3.2 CONTRIBUIÇÕES PSICOLÓGICAS ............................................................................... 155 3.2.1 Teoria da continuidade .......................................................................................... 156 3.2.2 Modelo de avaliação cognitiva e estratégias de enfrentamento .............. 156 3.2.3 Aspectos psicossociais .........................................................................................157 4 CONDIÇÕES DE SAÚDE NA TERCEIRA IDADE ................................................158 4.1. SAÚDE FÍSICA .................................................................................................................. 159 4.1.1 Cuidados .................................................................................................................... 159 4.1.2 Doenças crônicas comuns e outras debilidades ...........................................160 4.1.3 Uso de medicamentos ........................................................................................... 161 4.2 SAÚDE MENTAL ............................................................................................................... 162 4.2.1 Transtornos de sintomas somáticos ................................................................. 162 4.2.2 Demência e Alzheimer ......................................................................................... 163 4.2.3 Ansiedade ................................................................................................................ 163 4.2.4 Depressão ............................................................................................................... 164 4.2.5 Esquizofrenia .......................................................................................................... 164 4.2.6 Álcool e substâncias psicoativas ...................................................................... 164 5 COMO É VISTA A TERCEIRA IDADE? ............................................................... 165 5.1 CULTURA ............................................................................................................................ 166 5.2 TERCEIRA IDADE NA MODERNIDADE .........................................................................167 6 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES ..........................................................................168 RESUMO DO TÓPICO 1 ........................................................................................ 169 AUTOATIVIDADE ..................................................................................................171 TÓPICO 2 - ASPECTOS FÍSICOS, COGNITIVOS E PSICOSSOCIAIS NA TERCEIRA IDADE ....................................................................... 173 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 173 2 TRANSFORMAÇÕES FÍSICAS .......................................................................... 173 2.1 LONGEVIDADE ...................................................................................................................175 2.2 SONO ................................................................................................................................... 177 2.3 SEXUALIDADE .................................................................................................................. 177 3 ASPECTOS COGNITIVOS NA TERCEIRA IDADE ............................................. 179 3.1 MEMÓRIA............................................................................................................................ 180 3.2 SCHAIE: MODELO DE DESENVOLVIMENTO COGNITIVO PARA O CICLO DE VIDA .............................................................................................................................. 180 4 OS PAPÉIS SOCIAIS NA TERCEIRA IDADE ..................................................... 181 4.1 O PAPEL DO IDOSO NA SOCIEDADE ........................................................................... 182 4.2 RELAÇÕES FAMILIARES ................................................................................................ 182 4.2.1 Vida conjugal ........................................................................................................... 183 4.2.2 Família multigeracional ........................................................................................ 183 4.3 RELAÇÕES SOCIAIS ....................................................................................................... 184 5 O FIM DA VIDA ..................................................................................................185 5.1 MORTE ................................................................................................................................ 186 5.2 MEDO DA MORTE .............................................................................................................187 5.3 LUTO ................................................................................................................................... 188 6 PARA FINALIZAR O TÓPICO ............................................................................189 RESUMO DO TÓPICO 2 .........................................................................................191 AUTOATIVIDADE ................................................................................................. 193 TÓPICO 3 - A CONTEMPORANEIDADE NOS ESTUDOS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO .................................................. 195 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 195 2 A PESQUISA SOBRE O DESENVOLVIMENTO HUMANO .................................. 195 3 POSSIBILIDADES DE ATUAÇÃO ......................................................................198 3.1 O ATENDIMENTO PSICOLÓGICO AO ADULTO: JOVEM ADULTO E MEIA-IDADE ................................................................................................................... 198 3.1.1 Psicologia Escolar ou Educacional ..................................................................... 199 3.1.2 Psicologia Jurídica ................................................................................................. 199 3.1.3 Psicologia Hospitalar ............................................................................................. 199 3.1.4 Psicologia Social .................................................................................................... 200 3.1.5 Psicologia em Saúde ............................................................................................. 201 3.2 O ATENDIMENTO PSICOLÓGICO NA TERCEIRA IDADE .......................................... 201 3.2.1 Contratransferência ..............................................................................................203 4 FINALIZANDO ................................................................................................. 204 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................... 206 RESUMO DO TÓPICO 3 ........................................................................................ 212 AUTOATIVIDADE ................................................................................................. 213 REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 215 1 UNIDADE 1 - O JOVEM ADULTO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • elaborar linhas de pensamento sobre o jovem adulto a partir da contribuição teórica de autores da área do desenvolvimento humano; • conhecer as condições de saúde mental do jovem adulto; • identificar características do desenvolvimento no jovem adulto a partir de aspectos físicos, cognitivos e psicossociais; • compreender as relações interpessoais que se estabelecem no decorrer do desenvolvimento psicossocial no jovem adulto. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – CARACTERIZAÇÃO DO JOVEM ADULTO: CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS E CONDIÇÕES DE SAÚDE MENTAL TÓPICO 2 – ASPECTOS FÍSICOS E COGNITIVOS NO JOVEM ADULTO TÓPICO 3 – DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL NO JOVEM ADULTO Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 1! Acesse o QR Code abaixo: 3 CARACTERIZAÇÃO DO JOVEM ADULTO: CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS E CONDIÇÕES DE SAÚDE MENTAL 1 INTRODUÇÃO Ao longo da vida humana, é possível observarmos algumas mudanças que são partilhadas por pessoas de todas as culturas. Estamos falando sobre mudanças universais, as quais permitema categorização dos ciclos de vida e a identificação das características do bebê, da criança, do adolescente, do adulto e do idoso. Ao falarmos sobre a idade adulta, especialmente com relação às definições acerca do início das etapas de desenvolvimento referentes ao jovem adulto, à meia- idade e à terceira idade, Bee (1997) pondera que são diversos os eventos, os fatores ou as mudanças físicas e cognitivas a serem consideradas. A autora traz ainda que essas definições variam de acordo com o tempo sócio-histórico, sem que haja um consenso entre os cientistas sociais sobre subdivisões específicas da vida adulta. Neste tópico, tomaremos como base as contribuições de Bee (1997) em O ciclo vital e de Papalia e Feldman (2013) em Desenvolvimento humano, por considerar que estas obras se aproximam didaticamente na demarcação dos ciclos de vida humana. Abordaremos as caracterizações do jovem adulto, tendo como referência autores como Erikson (1998), Osório (2001), Sadock, Sadock, Ruiz (2017), entre outros. Para organizar os estudos, este tópico está subdividido da seguinte forma: o subtópico “Uma nova etapa no desenvolvimento humano” tem como objetivo a caracterização do jovem adulto a partir de aspectos biológicos, psicológicos e sociais; o subtópico “Condições de saúde mental do jovem adulto” aborda alguns transtornos emocionais que podem se desenvolver nesta faixa etária; e por fim o subtópico “Afinal, quem é o jovem adulto?”, que propõe uma retomada dos estudos realizados. Ao término da leitura, você terá à disposição um resumo do tópico e uma autoatividade para avaliar o conhecimento adquirido. Esperamos que o conteúdo desenvolvido levante interessantes discussões sobre a caracterização do jovem adulto. TÓPICO 1 - UNIDADE 1 4 2 UMA NOVA ETAPA NO DESENVOLVIMENTO HUMANO Após a saída da adolescência, dá-se início à idade adulta – a mais longa do ciclo vital. Trata-se de uma nova etapa no desenvolvimento humano, geralmente cercada de muitas incertezas e expectativas. Novos papéis são constituídos ao mesmo tempo em que os agora jovens adultos vivenciam novas formas de ver a vida, novas descobertas e buscas por oportunidades. FIGURA 1 – JOVENS ADULTOS FONTE: <https://bit.ly/3O8NWZE>. Acesso em: 26 fev. 2022. Para os estudiosos do desenvolvimento humano, surgem alguns questionamentos importantes sobre esse início da vida adulta. O que define o ingresso do adolescente nesta etapa do desenvolvimento? Como se dá a dinâmica no decorrer deste processo evolutivo? Quais são as principais contribuições das ciências biológicas, psicológicas e sociológicas para a compreensão da entrada na vida adulta? Estes e outros questionamentos serão problematizados na sequência. 2.1 O RELÓGIO BIOLÓGICO E O RELÓGIO SOCIAL Baseado em Papalia e Feldman (2013), temos dois conceitos que nos ajudam a explicar a entrada na vida adulta. Trata-se dos conceitos de relógio biológico e de relógio social. A partir do termo maturação, introduzido pelo psicólogo estadunidense Arnold Gesell em 1925, podemos pensar sobre os padrões de mudança que são geneticamente programados. É como se fossemos acompanhados durante toda a nossa vida por um instrumento que define as etapas do desenvolvimento. Poderíamos chamá-lo de relógio biológico, cuja função seria a programação das transformações que o nosso organismo deverá apresentar no decorrer da vida. A expansão do vocabulário da criança ou as mudanças hormonais que ocorrem especialmente no início da puberdade constitui-se como exemplos de maturação, ajudando a entender a ideia de relógio biológico. 5 Podemos pensar ainda que o relógio biológico é acompanhado por outro instrumento de programação. Trata-se de um relógio social, que também afeta o desenvolvimento da vida humana ao definir uma sequência de experiências padronizadas que dizem respeito a uma cultura. É o caso do momento em que a criança passa a frequentar a escola ou em que o jovem adulto ingressa no mundo do trabalho. São estas experiências, de menor probabilidade de serem universais, que possibilitam a identificação de características referentes a determinados grupos etários, como o jovem adulto. É importante ressaltar que o relógio biológico e o relógio social dificilmente se encontram sincronizados. Embora seja necessária uma definição legal para determinar o momento em que um adolescente se torna um jovem adulto, como a maioridade civil a partir dos dezoito anos em nosso país, o início desta etapa do desenvolvimento humano não é marcado por uma data ou evento específico em nossa cultura. “Os caminhos individuais para a vida adulta são influenciados por fatores como gênero, capacidade acadêmica, primeiras atitudes com relação à educação, raça e etnia, expectativas do final da adolescência e classe social” (PAPALIA; FELDMAN, 2013, p. 484). Considera-se, portanto, que são as experiências subjetivas que conduzem a passagem de uma etapa de desenvolvimento para a outra. 2.2 O INGRESSO NA VIDA ADULTA De acordo com Bee (1997), a vida adulta é segmentada em três períodos. A primeira parte iniciaria aos 20 anos e se estenderia até os 40 anos de idade, referindo-se à faixa etária correspondente ao jovem adulto. A autora lembra que esta é uma divisão arbitrária, pois não se trata de uma demarcação universal. Trata-se de uma referência para uma sociedade tecnologicamente avançada, considerando que em algumas culturas o ponto de início da adultez pode ser estabelecido mais cedo. Logo no início da vida adulta “[…] ocorre uma mudança básica na direção de uma maior autonomia, maior busca de conquistas, maior autoconfiança e positividade pessoal. O jovem adulto não apenas se torna fisicamente independente de sua família, mas fica, cada vez mais, psicologicamente independente também” (BEE, 1997, p. 441). É a partir da dominação destes vários papéis que o jovem adulto vai demarcando aspectos relacionados à individualidade. O início da vida adulta é frequentemente um tempo de experimentação antes de assumir papéis e responsabilidades adultos. Tarefas tradicionais do desenvolvimento como encontrar um emprego estável e desenvolver relacionamentos amorosos de longo prazo podem ser adiadas até os 30 anos ou até mais tarde (PAPALIA; FELDMAN, 2013, p. 508). 6 Papalia e Feldman (2013) sustentam que há uma moratória e um alívio das pressões nesta etapa de desenvolvimento. A partir do ingresso no mundo adulto, pode-se falar sobre o conceito de recentralização, que seria um processo subjacente à mudança para a identidade adulta. De acordo com as autoras, são três os estágios de recentralização. No estágio 1, temos um aumento nas expectativas por autoconfiança. No estágio 2, a permanência da conexão com a família ao mesmo tempo em que o jovem adulto passa a assumir seus próprios compromissos e consegue meios para sustentá-los. Uma das marcas deste estágio está nos envolvimentos temporários e exploratórios em cursos, empregos e relacionamentos interpessoais. Já o estágio três define a independência da família de origem e a possibilidade de constituição de uma nova família a partir de um relacionamento afetivo. A maioria das pessoas leigas compreende que a aceitação da responsabilidade por si mesma, a tomada de decisões independentes e a independência financeira constituem-se como critérios que definem a idade adulta em uma sociedade industrializada como a nossa cultura ocidental. Tais critérios são importantes de serem considerados e relacionam-se a múltiplas etapas que vão ocorrendo simultaneamente, como a definição da profissão, o ingresso em uma universidade, a saída da casa dos pais, o casamento, os filhos, entre outros eventos (PAPALIA; FELDMAN, 2013). Após o período de entrada na vida adulta, decorreriam algumas mudanças significativas na personalidade. Conforme Bee (1997), os jovens entre os 30 e 40 anos seriam mais independentes, confiantes e afirmativos. Embora não se trate de um padrão, mas sim de uma referência acerca dos papéis que se fazempresentes na idade adulta, é preciso destacar que tais características possibilitariam conquistas em diversos aspectos da vida. Ao mesmo tempo, estes jovens adultos se sentiriam menos presos a convenções sociais. Quem também se destaca nesta abordagem é Osório (2001), que reflete acerca de uma falsa impressão de estabilidade no processo de desenvolvimento humano. Segundo o autor, nesta etapa de vida, localizam-se consequências saudáveis ou patogênicas de etapas de desenvolvimento anteriores. Em meio a crises e tumultos da adolescência e a crises da meia-idade, o jovem adulto enfrenta um período de incertezas e contradições. A inserção no mundo do trabalho e aquisição de responsabilidades são exemplos de instabilidades com a qual o jovem adulto precisa lidar. Há certamente uma diminuição da intensidade com a qual indivíduo reagiria diante do mundo em sua adolescência. Se na etapa anterior havia fantasias e sonhos, este momento a vida pode representar o rompimento de idealizações, levando a frustrações e desencantos diante do contato com a realidade (OSÓRIO, 2001). 7 No que se refere ao relacionamento com os pais, é compreensível que a dependência emocional e socioeconômica sejam questões caras ao jovem adulto. Há uma pressão pela independência e por escolhas que podem definir o curso da vida. Em muitos casos, os jovens adultos permanecem residindo com os pais enquanto completam os estudos ou buscam inserção profissional (PAPALIA; FELDMAN, 2013). Eizirik, Kapczinski, Bassols (2001) também contribuem na discussão sobre o ingresso na vida adulta ao pontuar que teorias amparadas na ideia de estágios seriam biologizantes e deterministas. Nem mesmo o conceito de processo evolutivo seria mais satisfatório para se referir ao desenvolvimento humano. Os autores propõem o conceito de tarefas evolutivas para se referir às principais experiências que produziriam mudanças intrapsíquicas nos indivíduos. A partir dos autores supracitados, a literatura aponta que as tarefas evolutivas do jovem adulto seriam: • Desenvolvimento de um sentido de self, que permitirá a separação psicológica dos pais da infância e possibilidades de autossuficiência no mundo adulto. • Desenvolvimento de amizades adultas. • Desenvolvimento das capacidades para a intimidade emocional e sexual, o que remeteria à teoria de Erik Erikson. • Maternidade/paternidade em termos biológicos ou psicológicos. • Aquisição de uma identidade profissional adulta e ingresso no mundo do trabalho. • Desenvolvimento da criatividade a partir de novas formas de atividades interativas. • Consciência da representação do tempo e da morte. Na tentativa de caracterizar o jovem adulto, serão apresentadas a seguir algumas contribuições biológicas, psicológicas e sociológicas que procuram estabelecer o início e a definição da vida adulta como etapa do desenvolvimento humano. 2.3 CONTRIBUIÇÕES BIOLÓGICAS NO DESENVOLVIMENTO DO JOVEM ADULTO As mudanças biológicas e fisiológicas que ocorrem na puberdade indicam o início de uma nova fase do desenvolvimento humano, a qual chamamos de adolescência. Trata-se de um período de transição da infância para a idade adulta, que se destaca pela maturidade sexual a partir do desenvolvimento dos órgãos de reprodução e dos caracteres sexuais secundários. Embora não se trate de um evento específico, mas sim de um conjunto de transformações biológicas, pode-se considerar a puberdade um importante marco na definição do término de uma fase do desenvolvimento humano e início de outra. 8 No que se refere à saída da adolescência e ingresso no mundo adulto, seria mais difícil especificar um marco pelo viés biológico. São os variados eventos sociais que ocorrem por volta dos 20 anos de idade que tornam possível a identificação do início da vida adulta, como a aquisição de independência financeira e saída da casa dos pais. No entanto, diversos fatores relacionados a questões biológicas podem afetar a saúde e bem-estar do jovem adulto. Segundo Papalia e Feldman (2013), estes seriam alguns dos fatores a serem considerados: • Influências genéticas na saúde. • Influências comportamentais na saúde e na condição física. • Influências indiretas na saúde, como a questão do nível socioeconômico. • Questões de saúde mental. • Comportamentos e atitudes sexuais. ESTUDOS FUTUROS No tópico, 2 nos debruçaremos nas transformações físicas e da sexualidade do jovem adulto. Também iremos compreender um pouco mais sobre a suas condições de saúde física e capacidade reprodutiva. 2.4 CONTRIBUIÇÕES PSICOLÓGICAS NO DESENVOLVIMENTO DO JOVEM ADULTO Vários autores de distintas vertentes teóricas debruçaram-se sobre a etapa de vida do jovem adulto e contribuíram para uma teoria voltada aos aspectos psicológicos desta etapa do desenvolvimento. Suas contribuições relacionam-se especialmente à constituição e ao desenvolvimento de modelos de personalidade, os quais serão apresentados na sequência. 2.4.1 As quatro perspectivas no desenvolvimento da personalidade Quando falamos sobre questões relacionadas à personalidade, estamos nos referindo a um conjunto de determinadas características psicológicas que influenciam o comportamento humano. Segundo Papalia e Feldman (2013), estas características podem ser examinadas a partir de quatro perspectivas no desenvolvimento da personalidade do jovem adulto, a saber: 9 • Modelo de estágio normativo. • Modelo do momento dos eventos. • Modelos de traço. • Modelos tipográficos. Na sequência, abordaremos cada uma destas quatro perspectivas no desenvolvimento da personalidade do jovem adulto. Modelo de estágio normativo Segundo Papalia e Feldman (2013, p. 489), os modelos do estágio normativo “[…] descrevem o desenvolvimento psicossocial em termos de uma sequência definida de mudanças relacionadas à idade”. Neste sentido, o desenvolvimento acontece de maneira semelhante entre os jovens adultos, possibilitando a caracterização de estágios. A partir de entrevistas e materiais bibliográficos, constrói-se uma metodologia capaz de explicar como se dão as mudanças que ocorrem no percurso de vida de uma determinada população em uma determinada cultura. No caso do jovem adulto proveniente de uma cultura ocidental, seria possível refletir se as metas pessoais, de trabalhos e de relacionamentos influenciam na personalidade (PAPALIA; FELDMAN, 2013). Erik Erikson (1902-1994), que desenvolveu a Teoria do Desenvolvimento Psicossocial, defende que “[...] a pessoa evolui durante toda a vida, interagindo constantemente com o meio ambiente” (EIZIRIK; KAPCZINSKI; BASSOLS, 2001, p. 23). Sublinha-se que o autor também considera as pessoas e a sociedade nesta interação. A busca por identidade é, deste modo, uma tarefa que percorre todo o percurso da vida humana. A partir da teoria de Erik Erikson, podemos falar sobre oito estágios de desenvolvimento. Em cada estágio, o indivíduo estaria diante de um dilema que deveria ser superado, levando ao desenvolvimento do ego e passagem para o estágio seguinte. Esses estágios representam pontos ao longo de um continuum de desenvolvimento em que mudanças físicas, cognitivas, instintivas e sexuais se combinam para desencadear uma crise interna cuja resolução resulta em regressão ou crescimento psicossocial e no desenvolvimento de virtudes específicas (SADOCK; SADOCK; RUIZ, 2017, p. 169, grifo dos autores). Os estágios de desenvolvimento psicossocial são afetados pela cultura dos indivíduos e pelas interações sociais que se estabelecem. São também marcados por crises emocionais, apresentando aspectos positivos e negativos. A faixa etária dos jovens adultos corresponderia ao sexto estágio da teoria do autor, caracterizada pelo conflito intimidade versus isolamento. 10 Os jovens adultos, emergindo da busca adolescente de um senso de identidade, podem estar ansiosos e dispostos a fundir suas identidades na mútua intimidade e a compartilhá-las com indivíduos que, no trabalho, na sexualidade e na amizade prometemrevelar- se complementares. Podemos frequentemente estar “apaixonados” ou ter intimidades, mas a intimidade em questão é a capacidade de comprometer-se com associações concretas que podem exigir sacrifícios e compromissos significativos (ERIKSON, 1998, p. 62). É possível que jovens adultos que não conseguem assumir determinados compromissos pessoais se tornem excessivamente isolados. No entanto, Papalia e Feldman (2013, p. 489) lembram que estes jovens adultos “[...] necessitam de algum isolamento para refletirem sobre suas vidas. À medida que trabalham para resolver demandas conflitantes de intimidade, competitividade e distância, eles desenvolvem um sentido ético, que Erikson considerava a marca do adulto”. Embora Erikson (1998, p. 93) traduza os anos de intimidade e de amor como “[…] brilhantes, ensolarados e cheios de calor”, o autor reconhece que nem todos os indivíduos vivenciam o um padrão de casamento, de parentalidade e de criação dos filhos. Neste sentido, um senso de isolamento pode ser observado se não houver uma boa resolutividade no conflito que caracteriza a evolução psicossocial do jovem adulto. IMPORTANTE A Teoria do Desenvolvimento Psicossocial de Erik Erikson tem foco nas relações sociais, levando em consideração a análise da cultura na qual o indivíduo estabelece suas relações interpessoais. Compreende que o crescimento psicológico se dá através de estágios e cada um envolve uma crise, sendo que no jovem adulto a crise está relacionada à intimidade versus isolamento. A resolução deste estágio resultaria em uma virtude, que seria o amor. Papalia e Feldman (2013) apresentam ainda outros autores que trabalharam na perspectiva do modelo de estágio normativo: George Vaillant e Daniel Levinson. Um estudo realizado por George Vaillant com 268 estudantes de Harvard de 18 anos de idade e constatou um padrão típico de desenvolvimento: no início da vida adulta, muitos jovens do sexo masculino ainda eram influenciados por seus pais. A autonomia seria conquistada somente a partir da terceira ou quarta década de vida, marcada pela união através do casamento, os filhos e o aprofundamento nas relações de amizade. Estes eventos fariam parte de um processo normativo de desenvolvimento humano. 11 Um importante conceito na teoria de Daniel Levinon diz respeito ao desenvolvimento da personalidade a partir de uma estrutura de vida. Trata-se de “[...] um padrão subjacente da vida de uma pessoa em um determinado momento, construído sobre os aspectos da vida que a pessoa considera mais importantes” (PAPALIA; FELDMAN, 2013, p. 490). No caso dos homens, os eventos que ocorrem entre os 17 e 33 anos de idade corresponderiam à primeira estrutura, marcada pela saída da casa dos pais para o ingresso em uma universidade ou serviço militar. Este seria um momento de independência financeira e emocional. Por volta dos 30 anos, haveria uma primeira reavaliação desta estrutura e constituição de uma família, com definição de objetivos, metas e estipulação de prazos, os quais poderiam coincidir com a transição para a meia-idade. Já com relação às mulheres, o autor verificou semelhança nos padrões de comportamentos, com algumas restrições psicológicas e ambientais relacionadas às divisões culturais de papéis. Os estudos de George Vaillant e Daniel Levinson referenciados em Papalia e Feldman (2013) são importantes para refletirmos sobre o desenvolvimento humano do jovem adulto, mas precisam ser analisados considerando que as amostras se referem a grupos de pessoas nascidas entre as décadas de 1920 e 1940. Seus achados não podem ser aplicados a todas as culturas e em todas as épocas. Na atualidade, há uma diversidade de comportamentos e interesses que diferem significativamente dos coortes utilizados pelos pesquisadores. Modelo do momento dos eventos Esta abordagem ao desenvolvimento psicossocial considera os eventos ocorridos em determinados momentos da vida da pessoa. Pode-se dizer que as pessoas têm, geralmente, consciência do momento de vida a partir do relógio social, isto é, “[…] normas ou expectativas culturais para os momentos da vida em que certos eventos importantes, como se casar, ter filhos, começar a trabalhar e aposentar-se, devem ocorrer” (PAPALIA; FELDMAN, 2013, p. 490). De acordo com Papalia e Feldman (2013), duas questões essenciais à ideia de relógio social se referem à cultura e à geração, pois não é difícil verificar mudanças comportamentais de jovens adultos nos últimos anos. Embora o casamento e a constituição de uma família devam ocorrer em um momento apropriado na perspectiva do modelo dos eventos para nossa cultura ocidental, é provável que nem todas as pessoas tenham a necessidade de vivenciarem tais experiências. O aumento para a idade média no casamento e a tenência em adiar o planejamento de uma gravidez constituem-se como dois exemplos destas mudanças. 12 As diferenças de personalidade influenciam a forma como as pessoas respondem aos eventos de vida e podem mesmo influenciar seu momento. Por exemplo, uma pessoa resiliente tem probabilidade de experimentar uma transição mais fácil para a idade adulta e para as tarefas e eventos que se apresentam do que uma pessoa excessivamente ansiosa, que pode adiar decisões sobre relacionamento e carreira (PAPALIA; FELDMAN, 2013, p. 491). Uma das maiores contribuições do modelo de eventos refere-se à ênfase na individualidade para a compreensão da personalidade humana. Não se trata de generalizar ou considerar a idade um fator principal, mas sim de estabelecer critérios que possibilitem caracterizar o significado dos eventos na subjetividade do indivíduo. Modelos de traço Segundo Papalia e Feldman (2013, p. 491), o modelo de traço considera atributos mentais, emocionais, temperamentais e comportamentais para demarcar uma “[…] estabilidade ou mudança nos traços ou facetas da personalidade”. São aspectos ligados à saúde e bem-estar, a partir dos quais é possível refletir o amadurecimento do ser humano e sobre as relações que se estabelecem diante dos papéis sociais que vão sendo adquiridos. Bee (1997) aponta que diversos pesquisadores concordam que a maioria das pessoas apresenta variações nos traços de personalidade, embora haja uma considerável estabilidade ao longo do tempo. Da mesma forma que a autora, Papalia e Feldman (2013) recorrem ao trabalho desenvolvido por Paul T. Costa e Robert R. McCrae na caracterização de cinco modelos de traço, os quais são apresentados no quadro a seguir. QUADRO 1 – CINCO MODELOS DE TRAÇO Traço Característica Neuroticismo Ansiedade, hostilidade, depressão, insegurança, impulsividade, vulnerabilidade, preocupação, autopiedade e autoconsciência. Extroversão Afetividade, parcerias, acolhimento, gregariedade, assertividade, atividade, busca de sensações fortes e emoções positivas. Abertura para o novo Busca por novas experiências e ideias a partir de imaginação, criatividade, originalidade, curiosidade. Conscienciosidade Competentes, organizadas, respeitosas, cautelosas e disciplinadas. Amabilidade Confiantes, francas, altruístas, obedientes, modestas e facilmente seduzidas. FONTE: Adaptado de Bee (1997) e Papalia e Feldman (2013) 13 De acordo com Papalia e Feldman (2013, p. 492), o desenvolvimento do jovem adulto é marcado por constantes mudanças de traço, “[…] com aumentos especialmente grandes na dominância social (assertividade, uma faceta da extroversão), na conscienciosidade e na estabilidade emocional”. Os autores observam que nem sempre a ocorrência de mudanças é positiva. Eles reconhecem que em uma avaliação deste modelo encontram-se críticas relacionadas à avaliação subjetiva que determinou as características dos traços. DICA Além de referenciar os cinco modelos de traço de Paul T. Costa e Robert R. McCrae, o vídeo “O que é personalidade?”, do Canal Minutos Psíquicos ajuda a compreender um pouco mais sobre a estrutura da personalidade humana. Vamos assistir? Confira em https://www.youtube.com/watch?v=ZVSTxSnKUzU. Modelos tipográficos A abordagem tipológica tem Jack Block (1924-2010) como um de seus pioneiros e procura identificar tipos ou estilos mais amplos de personalidades. A partir da pesquisa tipológica, busca-se “[…] complementar e expandir a pesquisa sobre traço, examinando a personalidade como uma unidade funcional” (PAPALIA, FELDMAN, 2013, p. 492). Foram identificados três tipos de personalidade: • Pessoas ego-resilientes: seriam bem ajustadas, com autoconfiança e independência. Dentre outras características, destacam-se a articulação, atenção, cooperação e foco em tarefas; • Pessoas supercontroladas: seriam tímidas, caladas, ansiosas e confiáveis. Elas procurariam ser mais introspectivas, afastando-se de possíveis conflitos e sujeitas a transtornos depressivos; • Pessoas subcontroladas: seriam mais ativas, enérgicas e impulsivas. A fácil distração e a teimosia também seriam características desta personalidade. Esses três tipos de personalidade diferem na resiliência do ego e no controle do ego. Segundo Papalia e Feldman (2013, p. 493), a resiliência do ego pode ser definida pela “Capacidade dinâmica de modificar o próprio nível de controle do ego em resposta a influências ambientais e contextuais”. Já o controle do ego diz respeito ao “Autocontrole e autorregulação dos impulsos”. É a interação entre a resiliência do ego e o controle do ego que permite determinar se os comportamentos do indivíduo são adaptativos ou mal adaptativos. 14 2.5 CONTRIBUIÇÕES SOCIOLÓGICAS: A DEFINIÇÃO DE JUVENTUDES A abordagem do desenvolvimento humano relacionada ao jovem adulto pelo viés sociológico implica na determinação de um novo conceito: juventudes. Pode até parecer estranho em um primeiro momento pensar na pluralidade desta palavra. No entanto, não é possível falar sobre esta etapa do desenvolvimento sem abordar as diferentes formas de viver esta faixa etária. Refletir a juventude apenas de forma cronológica seria inadequado. A partir dos estudos do sociólogo italiano Alberto Melucci, considera-se que “[…] as pessoas não são jovens apenas pela idade, mas porque assumem culturalmente a característica juvenil através da mudança e da transitoriedade” (MELUCCI, 1997, p. 13). A tentativa de demarcar as juventudes em uma faixa etária com início e fim determinados implica em desconsiderar modos de viver a juventude em sociedade, na qual a condição juvenil deve ser contextualizada diante de questões histórico-culturais como classe, etnia, gênero, entre outras. O período da juventude também não pode ser resumido como um mero momento destinado à preparação para uma etapa posterior do desenvolvimento humano, que seria a vida adulta. Compreender a juventude desta forma desconsideraria a constituição de uma identidade juvenil. Mais que uma condição biológica, as juventudes encontram-se inseridas em um espaço territorial e em uma determinada cultura. A trocas de experiências, interações e expectativas promovem a criação de uma identidade juvenil, situando o jovem em um grupo social (SPOSITO, 2003; ABRAMO, 2005). Pertencer a um grupo contribui para o desenvolvimento humano, pois o contato com outras pessoas favorece o diálogo com diferentes estilos de vida e culturas, levando ao reconhecimento das diversidades. No exercício destes pensares, basta tomar como exemplo o modo como um jovem que reside em uma região metropolitana e um jovem que reside no interior do país enxergam o mundo. Mesmo compartilhando interesses em comum, seus projetos de vida podem tomar rumos diferentes. A juventude apresenta-se, portanto, como um referencial para os indivíduos nela compreendidos. Não se pode restringi-la a um só conceito, um só tempo ou um só espaço. Sua constituição é dinâmica e estabelece relações diversas, englobando fatores biológicos, socioculturais, entre outros relacionados diretamente a estilos de vida e condições sociais. 15 2.5.1 Integração social e apoio social Novas responsabilidades diante de um mundo cada vez mais veloz levam à necessidade de ressignificar as nossas condições de existência. Se antes muitos jovens objetivavam a vivência de eventos delimitados em si mesmos, como a saída da casa dos pais e a união afetiva, temos hoje inúmeros eventos ocorrendo de modo simultâneo em nossas vidas. Desta forma, alguns objetivos podem ser alcançados em um curto espaço de tempo enquanto outros demandam maior espaço de tempo. De acordo com Papalia e Feldman (2013), as relações sociais são muito importantes para a saúde e o bem-estar do jovem adulto. As autoras identificam dois aspectos que parecem estar inter-relacionados: integração social e apoio social. Compreender estes aspectos nos ajuda na construção de novos referenciais e projetos de vida. A integração social diz respeito aos relacionamentos, atividades realizadas em conjunto e papéis sociais que os jovens adultos desempenham, como os papéis de mãe, pai, amigo, colega, entre outros. Comportamentos saudáveis podem ser influenciados na coletividade, como a prática de atividades físicas, esportes e alimentação saudável. Quem possui redes sociais amplas apresenta menor probabilidade de desenvolver sintomas ansiosos e depressivos. Segundo Papalia e Feldman (2013, p. 460), “[…] os efeitos benéficos da integração social podem dever-se em parte às diminuições nos níveis de estresse que vínculos sociais fortes podem gerar”. O apoio social, por sua vez, refere-se a recursos que podem ser materiais, informativos e psicológicos que as pessoas utilizam para lidar com determinados eventos cotidianos. Mesmo sob estresse, pessoas com uma rede de apoio social adequada conseguem manter padrões de alimentação, sono e autocuidado, reduzindo o risco para o desenvolvimento de transtornos emocionais (PAPALIA; FELDMAN, 2013). 3 CONDIÇÕES DE SAÚDE MENTAL DO JOVEM ADULTO Ao tratarmos das condições de saúde mental do jovem adulto, tanto Bee (1997) quanto Papalia e Feldman (2013) observam que há riscos de que o jovem adulto apresente algum transtorno emocional. Além dos autores supracitados, sugere-se a utilização do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V) como referência na abordagem destas condições, que podem causar comprometimentos significativos no desenvolvimento do jovem adulto. De acordo com Bee (1997, p. 398), “[…] o início da vida adulta é um período de estresse e risco pessoais bastante elevados”. No entanto, há diferenças com relação à faixa etária do jovem adulto em que incidem questões de saúde mental. Há um maior 16 risco no desenvolvimento de algum transtorno mental entre os 25 e 44 anos de idade. O padrão considerado pela autora refere-se a transtornos relacionados ao uso abusivo de substâncias psicoativas, como o álcool e outras drogas, o estresse, os transtornos de humor e os transtornos ansiosos. 3.1 TRANSTORNOS RELACIONADOS AO USO ABUSIVO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS Substâncias psicoativas são substâncias não produzidas pelo organismo capazes de causar alterações no funcionamento cerebral e no estado mental. Álcool e drogas como opioides (morfina, heroína, entre outras), canabinoides (maconha), sedativos, cocaína, estimulantes, alucinógenos, tabacos e solventes voláteis são alguns exemplos (NICASTRI, 2013). O consumo destas substâncias sempre existiu em todas as culturas humanas. “Em nossa sociedade, observa-se que a grande maioria da população faz uso de algum tipo de substância lícita, como álcool, tabaco e medicamentos. […] Das substâncias de uso ilícito, a maconha, a cocaína e os solventes são as mais utilizadas” (BÜCHELE; CRUZ, 2013, p. 101). De acordo com Papalia e Feldman (2013), o uso abusivo de substâncias psicoativas configura-se como uma importante questão de saúde mental para jovens adultos. Por esta razão, abordaremos alguns transtornos relacionados ao uso destas substâncias. 3.1.1 Alcoolismo O álcool etílico é considerado uma droga depressora da atividade mental e merece atenção especial por se tratar da droga psicotrópicamais amplamente disseminada na atualidade. Trata-se de uma substância derivada da fermentação de carboidratos presentes em vegetais, como a cana-de-açúcar e a cevada. Seus efeitos variáveis, indo desde a desinibição do comportamento, o que leva a uma facilitação nas interações sociais, até a possibilidade de hipotermia e morte por parada respiratória (NICASTRI, 2013). A definição de alcoolismo, de acordo com Silveira (2013, p. 82), “[…] nem sempre acompanhou os critérios diagnósticos formais para as síndromes”. O autor destaca que há uma diferença entre os termos alcoólatra e alcoolista. Enquanto o primeiro termo estigmatiza o dependente do álcool como alguém que idolatra a substância, isto é, escolheria ou optaria em continuar fazendo seu uso abusivo, o termo alcoolista seria uma alternativa por reconhecer que embora o álcool seja uma substância lícita, socialmente aceita e facilmente disponível, poderia expor o indivíduo a muitos riscos. 17 O alcoolismo configura-se como um tema complexo que pode representar um abismo dentro do convívio familiar e social. Segundo Papalia e Feldman (2013), trata- se de “[…] uma condição física de longo prazo caracterizada pelo beber compulsivo que a pessoa é incapaz de controlar” (p. 461). O risco de alcoolismo encontraria o auge justamente no início e no término da faixa etária correspondente ao jovem adulto, com tendência a um declínio gradativo a partir dos 40 anos (BEE, 1997). NOTA O sufixo nominal “ismo” vem do grego e pode ser usado em diversos contextos. Pode remeter a sistemas políticos (feudalismo, absolutismo…), religião (budismo, cristianismo…), esportes (aeromodelismo, ciclismo) e a algumas doenças (alcoolismo, bruxismo, tabagismo…). Por esta razão, é importante observar a sua aplicação, de modo a não o utilizar de modo pejorativo em algumas situações. 3.1.2 Uso abusivo de drogas As drogas podem ser classificadas em depressoras, estimulantes ou perturbadoras da atividade mental. As drogas depressoras costumam causar a diminuição de algumas atividades do Sistema Nervoso Central. Destacam-se o álcool, barbitúricos, benzodiazepínicos, opioides e solventes. As drogas estimulantes tendem a deixar o indivíduo em maior estado de alerta, com aceleração dos processos psíquicos. O tabaco, a cafeína, as anfetaminas e a cocaína são alguns exemplos. Já as drogas perturbadoras também são denominadas alucinógenas, pois podem provocar delírios e alucinações no indivíduo. São exemplos a maconha, os alucinógenos, a dietilamida do ácido lisérgico (LSD), ecstasy, anticolinérgicos e esteroides anabolizantes (NICASTRI, 2013). De acordo com Papalia e Feldman (2013), há uma relação entre o uso abusivo de drogas e alguns transtornos de humor ou ansiedade. A exposição do indivíduo a substâncias que causam dependências pode desencadear alterações neurológicas, sensações de desconforto e fissura. Os autores pontuam que entre 18 e 25 anos de idade, o jovem adulto atinge o auge do uso de drogas ilícitas, sendo que a partir do estabelecimento de responsabilidades para o futuro, há uma tendência na interrupção de uso. 18 IMPORTANTE Dois conceitos importantes que estão relacionados ao uso abusivo de substâncias psicoativas são a abstinência e a tolerância. Enquanto a abstinência é acompanhada por fortes sintomas físicos, tais como ansiedade, agitação, tremores, entre outros, a tolerância refere-se à diminuição do efeito da substância psicoativa em questão e necessidade do organismo em obter maiores quantidades da substância. 3.1.3 O atendimento de dependentes Quando se fala em transtornos relacionados ao uso abusivo de álcool e outras substâncias psicoativas, o trabalho preventivo é extremamente importante. É no exercício de novas formas de pensar e de enfrentar a problemática que se pode identificar fatores de risco e proteção a partir do próprio indivíduo, de sua família, escola e/ou comunidade (ZEMEL, 2013). Em alguns casos, porém, o uso de substâncias psicoativas já se configura como dependência para muitos jovens adultos, sendo necessário realizar intervenções multiprofissionais. Instituída pela Portaria nº 3.088, de 23 de dezembro de 2011, a Rede de Atenção Psicossocial traz as diretrizes para o atendimento a pessoas com sofrimento ou transtorno mental. Esta portaria também define como pessoas que fazem uso abusivo de álcool e de outras substâncias psicoativas podem ser atendidas no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) (BRASIL, 2011). A Rede de Atenção Psicossocial é constituída pela atenção básica em saúde, atenção psicossocial especializada, atenção de urgência e emergência, atenção residencial de caráter transitório, atenção hospitalar e reabilitação psicossocial. Como exemplo de serviços estratégicos de atenção psicossocial especializada, os municípios com mais de 20 mil habitantes podem dispor dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Constituídos por equipes multidisciplinares que atuam diante de situações de crise, os CAPS atuam na complexidade das temáticas do alcoolismo e do uso abusivo de outras substâncias psicoativas, identificando a rede de apoio do indivíduo e observando como se dá a comunicação entre ele e as pessoas de convívio no enfrentamento da dependência. Os atendimentos individuais, familiares e grupais são algumas possibilidades de intervenção. Ao trabalhar em oficinas com jovens adultos tanto na questão do alcoolismo como do uso abusivo de outras substâncias psicoativas, deve-se alertar sobre os riscos e os efeitos de cada substância a curto e longo prazo. Podem ser apresentados materiais audiovisuais, músicas, leituras, depoimentos de usuários e ser realizada 19 uma exposição com materiais meramente ilustrativos. Neste tipo de atividade, é importante que haja um pacto de respeito à diversidade de opiniões e interação sem julgamentos, de modo a promover uma troca de experiências de vida capaz de contribuir na discussão destes temas. 3.2 ESTRESSE Considerando as exigências do mundo moderno, muitos jovens adultos podem encontrar dificuldade no enfrentamento de problemas cotidianos, ocasionado a elevação do nível de estresse, que segundo Margis et al. (2003), refere-se a um estado gerado pela percepção de estímulos a partir de uma excitação emocional que, em nível fisiológico, é caracterizada pelo aumento da secreção de adrenalina. Sua manifestação é sistêmica e a resposta ao estresse se dá a nível cognitivo, comportamental e fisiológico. De acordo com Papalia e Feldman (2013), é possível a ocorrência de estresse diante da não ocorrência de determinados eventos esperados ou ainda quando a pessoa se depara com eventos inesperados, como a perda do emprego. Questões relacionadas ao estudo, ao trabalho, aos relacionamentos interpessoais e outras decorrentes de grandes esforços emocionais também podem levar os jovens adultos a reagir de maneira desadaptativa, com possíveis prejuízos ao sono (BEE, 1997). Os adultos muito neurotizados, conforme Bee (1997), apresentam dificuldade em lidar com esta que é uma reação natural do organismo diante de perigos ou ameaças. Mudanças importantes nas vidas de jovens adultos podem levar a crises e evidenciarem consequências. Sob estresse financeiro, homens tendem a tornarem-se mais irritadiços. Se eles levarem tais características a outros aspectos de suas vidas, é possível um menor sucesso no desempenho de papéis profissionais e familiares. Há também o transtorno de estresse pós-traumático, que conforme o DSM-V: […] pode incluir flashbacks com uma qualidade alucinatória, e a hipervigilância pode atingir proporções paranoides. Todavia, há necessidade de um evento traumático e de aspectos sintomáticos característicos relativos a revivências ou reações ao evento para que seja feito um diagnóstico (APA, 2014, p. 105). De acordo com Sadock, Sadock, Ruiz (2017, p. 294) este transtorno “[…] ocorre após um evento traumático no qual o indivíduo acredita que esteja em perigo físico ou que sua vida esteja ameaçada. Tambémpode surgir após testemunhar um acontecimento violento ou fatal ocorrendo com outra pessoa”. Neste caso, sintomas como medo, flashbacks, pesadelos e hiperexcitação devem persistir por cerca de um mês, causando sofrimento ao indivíduo. 20 Duas características relacionadas ao estresse estão relacionadas a efeitos sobre a função imunológica e a necessidade de encorajamento. Sobre a função imunológica, estudos recentes trazem que o estresse pode afetar certos aspectos do sistema imunológico (SADOCK; SADOCK; RUIZ, 2017). Com relação à necessidade de encorajamento, Bee (1997) aponta que diante de eventos estressores, muitos jovens adultos recorrem à presença dos pais, o que caracterizaria uma permanência de apego. 3.3 TRANSTORNOS DE HUMOR E TRANSTORNOS ANSIOSOS Se na adolescência a questão da identidade afetava diretamente o humor dos indivíduos, o início da idade adulta também pode desencadear alguns sentimentos desadaptativos diante das inúmeras mudanças de papéis, podendo haver um aumento de sentimentos desadaptativos e sensibilidade. Assim, é importante abordar os transtornos de humor e os transtornos ansiosos que podem surgir nesta etapa do desenvolvimento humano. 3.3.1 Transtornos de humor Conforme Sadock, Sadock, Ruiz (2017, p. 347), o humor caracteriza-se como “[…] uma emoção ou um tom de sentimento difuso e persistente que influencia o comportamento de uma pessoa e colore sua percepção de ser no mundo”. Dentre os transtornos de humor, destaca-se o transtorno depressivo maior, que geralmente requer intervenção médica. “Pessoas que são diagnosticadas com transtorno depressivo maior frequentemente têm humores deprimidos ou instáveis na maior parte do dia, quase todos os dias, mostram pouco interesse e prazer em atividades anteriormente prazerosas” (PAPALIA; FELDMAN, 2013, p. 463). Um transtorno depressivo maior é caracterizado por um episódio depressivo que dura pelo menos duas semanas, sendo que sintomas como alterações de apetite, peso, sono, falta de energia, culpabilização e pensamentos recorrentes de morte ou suicídio podem se fazer presentes. Há uma prevalência de transtornos de humor duas vezes maior nas mulheres do que nos homens. Questões hormonais e modelos comportamentais são algumas razões para esta disparidade. Embora a idade média na manifestação de transtornos depressivos situe-se por volta dos 40 anos, cerca de metade dos pacientes podem apresentar um transtorno depressivo maior entre os 20 e os 50 anos de idade (SADOCK; SADOCK; RUIZ, 2017). 21 3.3.2 Transtornos de ansiedade A ansiedade refere-se à manifestação de sensações difusas e desagradáveis. Alguns sintomas como dores de cabeça, palpitações, desconfortos e inquietações podem se apresentar diante de algum perigo iminente ou imposição do meio para que o indivíduo responda a ameaças ambientais (SADOCK; SADOCK; RUIZ, 2017). No dia a dia, é normal a experiência da ansiedade em determinadas situações, como diante de uma prova de escola ou entrevista de emprego. Entretanto, quando a ansiedade se apresenta como uma apreensão crônica, pode ser configurada como um transtorno. Os transtornos de ansiedade estão associados com morbidade significativa e com frequência são crônicos e resistentes a tratamento. Eles podem ser vistos como uma família de transtornos mentais relacionados, mas distintos, que inclui (1) transtorno de pânico, (2) agorafobia, (3) fobia específica, (4) transtorno de ansiedade social ou fobia e (5) transtorno de ansiedade generalizada (SADOCK; SADOCK; RUIZ, 2017, p. 387). Se o jovem adulto apresenta dificuldades em lidar com os vários papéis que surgem no decorrer do processo típico do desenvolvimento humano e reage de maneira desadaptativa, é necessário avaliar a possibilidade de algum transtorno de ansiedade. Em muitos casos, pode requerer a necessidade de tratamento psicoterápico e medicamentoso. DICA Com relação às condições de saúde mental estudadas neste tópico, sugerimos como referência o DSM-V, que aborda em capítulos específicos os Transtornos Relacionados a Trauma e a Estressores, Transtornos Depressivos, Transtornos de Ansiedade, entre outros. Você encontrará a apresentação de critérios diagnósticos, as características associadas, a prevalência, o desenvolvimento e curso, os fatores de risco, entre outros aspectos. 4 AFINAL, QUEM É O JOVEM ADULTO? Chegamos ao fim deste primeiro tópico, que propôs uma reflexão sobre quem é o jovem adulto. Compreendemos que se trata do início de uma nova etapa no desenvolvimento humano, não como uma preparação ou período de estabilidade, mas sim como uma faixa etária com suas próprias especificidades. Não há dúvidas quanto à dificuldade em definir quem é o jovem adulto. A própria literatura acadêmica sempre tomou cuidado para não restringir em poucas palavras um período de vida tão complexo em experiências. 22 Sabemos que foram diversos os conceitos trabalhados a partir de aspectos biológicos, psicológicos e sociais abordados neste tópico. Também abordamos questões relacionadas à condição de saúde mental do jovem adulto, como os transtornos relacionados ao uso abusivos de substâncias psicoativas, o estresse, os transtornos de humor e transtornos ansiosos. Diante do conteúdo trabalhado, este seria o momento de responder à pergunta “Afinal, quem é o jovem adulto?”. A resposta para esta pergunta é: às vezes temos a ideia de que precisamos de apenas uma resposta, quando na verdade precisamos de vários caminhos. Eis a razão pela qual optamos em apresentar diferentes autores e perspectivas teóricas neste tópico. Seguimos adiante! 23 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • O início da idade adulta situa-se a partir da saída da adolescência e está caracterizada pela constituição de novos papéis sociais, cercados de muitas incertezas e expectativas. • É difícil especificar um marco de viés biológico para determinar o ingresso na vida adulta. • São quatro as perspectivas no desenvolvimento da personalidade no jovem adulto, a saber: modelo de estágio normativo, modelo do momento dos eventos, modelos de traço e modelos tipográficos. • O modelo de estágio normativo é caracterizado por um sequenciamento de mudanças relacionadas à idade e tem Erik Erikson como um de seus principais autores. • A ênfase na individualidade é uma das maiores contribuições do modelo do momento dos eventos. • Neuroticismo, extroversão, abertura para o novo, conscienciosidade e amabilidade são cinco fatores do modelo de traços relacionados à estabilidade ou a mudanças nas facetas da personalidade. • A partir do modelo tipográfico, é possível refletir a interação entre a resiliência do ego e o controle do ego, de modo a determinar se os comportamentos do indivíduo são adaptativos ou mal adaptativos. • Considerando as contribuições sociológicas, pode-se compreender que as juventudes se encontram inseridas em um espaço territorial e em uma determinada cultura. • O alcoolismo e o uso abusivo de outras drogas, o estresse, os transtornos de humor e os transtornos ansiosos são importantes questões relacionadas à condição de saúde mental do jovem adulto. RESUMO DO TÓPICO 1 24 1 Ao propor o conceito de tarefas evolutivas, Eizirik, Kapczinski, Bassols (2001) contribuem na discussão sobre a definição de características que fazem parte da faixa etária referente ao jovem adulto. Com relação à visão dos autores sobre o processo do desenvolvimento humano, assinale a alternativa CORRETA: FONTE: EIZIRIK, C.; KAPCZINSKI, F.; BASSOLS, A. M. S. Noções básicas sobre o funcionamento psíquico. In: EIZIRIK, C. et al (Orgs.). O ciclo da vida humana: uma perspectiva psicodinâmica. Porto Alegre: Artmed, 2001. p. 15-28. a) ( ) Eizirik, Kapczinski e Bassols pontuam que o conceito de tarefas evolutivas dialoga com o conceito de processo evolutivo para caracterizar o desenvolvimento humano. b) ( ) A segmentação ou definição das etapas do desenvolvimento humano a partir de estágios consideram