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C2. Cultura & Comportamento, A fundo Carlos Andreazza __ A8 Política de Estado Caderno A. Opinião, Política, Internacional, Metrópole, Saúde, Esportes, Para fechar... E&N. Destacar Economia & Negócios F U N D A D O E M 1 8 7 5 J U L I O M E S Q U I T A ( 1 8 6 2 — 1 9 2 7 ) Eliane Cantanhêde __ A7 Cuca e Diniz deixam Athletico Paranaense e Fluminense Dança dos técnicos __ A16 estadão.com.br Veredicto: o sistema não tem culpa INSS revisará 800 mil benefícios para cortar gasto e atender TCU 15° Mín. 18° Máx. Notas e Informações __ A3Uma força-tarefa do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) deve fazer até o fim do ano cerca de 800 mil perícias presenciais do Benefí- cio por Incapacidade Temporá- ria, o antigo auxílio-doença, e do Benefício de Prestação Conti- nuada (BPC), pago a idosos e pessoas de baixa renda com defi- ciência, afirmou ao Estadão o presidente do INSS, Alessandro Stefanutto. O objetivo é atender a exigências do Tribunal de Con- tas da União (TCU) – que cobra do governo revisões periódicas de benefícios, como determina a lei – e contribuir para a revisão de gastos obrigatórios da União. Stefanutto estima que, caso me- tade dos benefícios seja conside- rada indevida, uma média quan- do se faz esse tipo de reavalia- ção, a revisão representaria cor- te de R$ 600 milhões por mês nos gastos federais. Esse tipo de ação ganhou força após os sinais de esgotamento no Congresso das medidas arrecadatórias. Chefe do instituto diz que despesa pode cair R$ 600 milhões por mês Tempo em SPEdição de hoje 3 CADERNOS – 44 páginas K E V O R K D J A N S E Z I A N / A F P OAB sugere aumento da car- ga horária mínima presen- cial nos cursos e diminuição do modo a distância. Novas regras para cursos de Direito podem restringir ensino a distância Graduação __ A13 O avanço da jogatina Brasil empata sem gols com a Costa Rica e frustra torcida Magazine Luiza faz parceria comercial com o AliExpress; ações sobem E&N Varejo online __ B16 Ministério quer incluir carro elétrico no ‘imposto do pecado’ E&N Culpa da bateria __ B7 E&N Despesas federais __ B1 Nos 30 anos do Plano Real, uma reunião de ideias ‘Pente-fino em benefício não deve gerar grande economia’ Entrevista: Jeferson Bittencourt __ B5 Após 14 anos __ A9 Assange faz acordo com os EUA, deixa prisão e sai do Reino Unido O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, concordou em se declarar culpado de uma única acusação de crime de dissemina- ção ilegal de material de segurança nacional. Em troca, conse- guiu sua libertação de uma prisão britânica. O WikiLeaks infor- mou no X que ele deixou o Reino Unido ontem. Na Região Nordeste, o crescimento chegou a 60%. Somente no Piauí, o aumento foi de 111%. O governo diz não saber a causa desse alto volume de pedidos. __ B2 Pedidos de BPC sobem 40% em seis meses VINICIUS DOTI / FUNDAÇÃO FHC Especialistas recomendam mais verba e efetivação de pac- to assinado com Estados. To- tal de focos é quase seis vezes maior do que o de junho de 2020, pior ano em incêndios. Fogo recorde no Pantanal expõe falhas do governo federal na prevenção Queimadas __ A12 Copa América __ A15 AliExpress atuará como vende- dor do marketplace do Magalu. Juntas, plataformas têm 700 milhões de visitas mensais. Pasta do Desenvolvimento alega que as baterias, a maio- ria vinda da China, têm forte pegada de carbono. 2.363 É o número de focos de fogo registrados no Pantanal em junho, até ontem Captação da empresa paulis- ta de saneamento é estima- da em cerca de US$ 3 bilhões (cerca de R$ 16,2 bilhões). Oferta de ações da Sabesp deve ser a quinta maior do mundo no ano E&N Privatização __ B14 Persio Arida, Pedro Malan e Gustavo Franco com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em SP; economistas destacaram como legado do plano o foco na responsabilidade fiscal, além do controle da inflação. FHC também foi visitado por Lula.__ A8, B8 e B9 Terça-feira 25 de JUNHO de 2024 l R$ 7,00 l Ano 145 l Nº 47733 A2 TERÇA-FEIRA, 25 DE JUNHO DE 2024 O ESTADO DE S. PAULO l CLAREZA. “É preciso fortalecer os órgãos de combate à lavagem de dinheiro, regular e organizar a informação. Hoje não há regra clara sobre como usar dados do Coaf, por exemplo, e muitas in- vestigações terminam anula- das”, destacou Pierpaolo Bottini. l PREOCUPAÇÃO. “Criamos um comitê e definimos que a melhor estratégia seria estudar de onde vem e para onde vai o dinheiro do crime organizado. A atual in- segurança é uma barreira ao cres- cimento econômico e à vinda de investidores estrangeiros”, res- saltou Camila Funaro Camargo Dantas, CEO da Esfera Brasil. l INCENTIVO. O BNDES aprovou o primeiro financiamento do Fi- name Direto. São R$ 23 milhões para a Mil Madeiras Preciosas, es- pecializada em manejo sustentá- vel. “O banco está empenhado em identificar gargalos da cadeia produtiva voltada à economia da floresta”, disse a diretora so- cioambiental, Tereza Campello. l PERSISTÊNCIA. O deputado fe- deral Kim Kataguiri (União Brasil) disse à Coluna que man- terá a pré-candidatura à Prefei- tura de São Paulo e levará seu nome à convenção municipal do partido. O congressista afir- mou que só recuará se a chan- ce de vencer a disputa interna na legenda “se tornar zero”. l SEI NÃO. Kim disse desconhe- cer planos do União para ele ser o candidato em 2028. No sábado passado, o presidente municipal do partido, Milton Leite, confir- mou à Coluna apoio à reeleição de Ricardo Nunes e falou em pro- jetos futuros para o deputado. l PRAZOS. O Conselho de Ética deve votar o processo de cassa- ção do deputado Chiquinho Bra- zão em setembro. Até lá, a estima- tiva é de que a Câmara gaste pelo menos R$ 400 mil em salários pa- ra ele e os funcionários de seu ga- binete. Preso desde março e réu no STF, o deputado é acusado de mandar matar Marielle Franco. l QUEIXA. O Sindicato dos Quími- cos do ABC protocolou denún- cia contra a Basf, ontem, no Gabi- nete Federal de Economia e Con- trole de Exportação da Alema- nha. Os trabalhadores acusam a empresa de riscos a saúde e segu- rança e exigem pagamento de adicional de periculosidade. l OUTRO LADO. A Basf – multina- cional alemã – afirma não ter co- nhecimento da denúncia no exte- rior. Também ressalta que a segu- rança dos colaboradores é “um valor inegociável” e alega que faz o pagamento do adicional com base em laudo que aponta as áreas que oferecem risco. PRONTO, FALEI! Marconi Perillo Presidente nacional do PSDB “Achei a visita de Lula civilizada e um reconhecimento ao papel do Plano Real para o País. Fer- nando Henrique é o maior esta- dista vivo da América Latina.” Crime organizado avança em áreas lícitas e empresários vão sugerir ações ao governo Lula A atuação do crime organizado no Brasil já passa por pelo menos 21 atividades, incluindo setores lícitos da economia – como transporte público, mercado imobiliário, mineração e exploração de madeira. Estudo realizado pela Esfera Brasil, em parceria com o Fó- rum Brasileiro de Segurança e consultoria do advogado criminalista Pierpaolo Bottini, seguiu o caminho do di- nheiro e sugere ao governo Lula cinco ações, que também dependem do Congresso. A Coluna teve acesso aos dados que serão divulgados hoje. O grupo pede ampliação e forta- lecimento do Conselho de Controle de Atividades Finan- ceiras (Coaf ); implantação do SUS da segurança; aprova- ção da Lei de Proteção de Dados de Interesse da Segurança Pública; regulamentação de apostas e dos criptoativos. FOTO:DIVULGAÇÃO PAULO SERGIO ARISI CLICK Tomás Paiva Comandante do Exército Encontrou a antropóloga Barba- ra Maisonnave Arisi, em Atalaia do Norte, na tríplice fronteira. Eles falaram da segurança dos povos isolados do Vale do Javari. por Kleber Sales ROSEANN KENNEDY TWITTER: @COLUNADOESTADAO COLUNADOESTADAO@ESTADAO.COM ESTADAO.COM.BR/POLITICA/COLUNA-DO-ESTADAO PierpaoloBottini, advogado criminalista COM EDUARDO GAYER E AUGUSTO TENÓRIO SINAIS PARTICULARES Coluna do Estadão AQUI É MAIS FÁCIL OQUE PRECISA ENCONTRAR ONLINE Conheça e acompanhe! LAR MODAEBELEZA TECH BEBÊS E CRIANÇAS BEM-ESTAR PRESENTES PROMOÇÕES G ET TY IM AG ES INÊS 249 O ESTADO DE S. PAULO Publicado desde 1875 A lheia à realidade do País, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, tendo o senador Davi Alco- lumbre (União-AP) à fren- te, aprovou há poucos dias o projeto de lei (PL) que autoriza a exploração de jogos de azar em todo o território nacio- nal. Inclusive, e sobretudo, o jogo do bicho, que é explorado há muitas déca- das, como se sabe, por alguns dos crimi- nosos mais sanguinários do Brasil – ain- da que sobre eles se projete uma aura fajuta de “benfeitores sociais”, “agita- dores culturais” ou coisa que o valha. A bem da verdade, houve resistência no colegiado ao fortíssimo lobby pela aprovação do PL da Jogatina. O aperta- do placar de votação na CCJ – 14 votos favoráveis e 12 contrários – indica que o tema não é consensual entre os senado- res e que a tramitação do texto, aprova- do pela Câmara dos Deputados em feve- reiro de 2022, não deverá ter vida fácil no plenário do Senado. É o que este jor- nal espera que aconteça. Poucas propostas legislativas se apresentam tão frontalmente contrá- rias ao melhor interesse público do que a legalização dos jogos de azar no País, principalmente nessa quadra histórica em que o poder do Estado tem sido ain- da mais confrontado por organizações criminosas cada vez mais poderosas – bélica e financeiramente –, ousadas e diversificadas. Recentemente, o jornal O Globo mos- trou como o Comando Vermelho (CV), o Primeiro Comando da Capital (PCC) e a cúpula do jogo do bicho no Rio de Janeiro, liderada pelo notório bicheiro Rogério Andrade, têm usado as platafor- mas de apostas esportivas, as chama- das “bets”, para lavar dinheiro oriundo de suas atividades delitivas e ainda ma- ximizar seus lucros espúrios. Conve- nhamos: era evidente que essas organi- zações criminosas, mais cedo ou mais tarde, avançariam sobre as tais “bets” – uma excrescência por si sós num país onde a jogatina, convém lembrar, ainda é ilegal. Ora, se isso já acontece com o bilio- nário, porém circunscrito, mercado das “bets”, qualquer cidadão de bom senso haverá de supor que a legalização dos jogos de azar, com a instalação de cassinos País afora, só ampliará de for- ma exponencial as possibilidades de ação daquelas verdadeiras máfias. Ou a alguém ocorre que empresários legíti- mos e honestos do setor de turismo e entretenimento terão desejo e cora- gem de “concorrer”, por assim dizer, na exploração da jogatina com empresas de fachada controladas pelo PCC, pelo CV ou pela cúpula do jogo do bicho do Rio, por exemplo? Haja ingenuidade. No melhor cenário para a sociedade brasileira, o PL da Jogatina seguirá co- mo uma espécie de fantasma a vagar pelos escaninhos do Congresso, como sói acontecer há três décadas, sempre à espreita para ameaçar, de tempos em tempos, colocar o País à beira de um abismo moral, social e institucional. São sobejamente conhecidos os ter- ríveis danos que a jogatina provoca no seio familiar e, como consequência, na sociedade como um todo. Mas o óbice moral, por mais expressivo que seja, não é o único nem o mais premente interdito a esse projeto desestabiliza- dor. Ao fim e ao cabo, está-se tratando de uma lei que abrirá uma avenida para o enriquecimento ilícito de alguns pou- cos à custa do bem-estar econômico e social da coletividade. A ladainha que acompanha as discus- sões sobre a legalização dos jogos de azar no Brasil – o mesmo país em que metade da população não tem acesso a esgotamento sanitário em pleno século 21 – é tão velha quanto a tramitação do projeto. Seus defensores alegam que a instalação de cassinos estimularia o tu- rismo e criaria milhares de empregos, abarrotando o Tesouro com os recur- sos advindos da tributação dos jogos. A ninguém ocorre ressaltar, por ig- norância ou má-fé, o outro lado dessa moeda, qual seja, a abertura de inúme- ras novas possibilidades de atuação do crime organizado. O relator do PL da Jogatina na CCJ do Senado, Irajá Abreu (PSD-TO), ale- gou que “os jogos já são uma realidade” no País, de modo que seria esperado, e até inteligente, passar a taxar os explo- radores e os explorados pelo vício a fim de gerar receitas para o Estado. Subjaz a essa ideia genial, ora vejam, a capitula- ção diante de um problema que há de ser corrigido, não agravado.l NOTAS E INFORMAÇÕES AMÉRICO DE CAMPOS (1875-1884) FRANCISCO RANGEL PESTANA (1875-1890) JULIO MESQUITA (1885-1927) JULIO DE MESQUITA FILHO (1915-1969) FRANCISCO MESQUITA (1915-1969) LUIZ CARLOS MESQUITA(1952-1970) JOSÉ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1988) JULIO DE MESQUITA NETO (1948-1996) LUIZ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1997) RUY MESQUITA (1947-2013) CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO PRESIDENTE ROBERTO CRISSIUMA MESQUITA MEMBROS FRANCISCO MESQUITA NETO JÚLIO CÉSAR MESQUITA LUIZ CARLOS ALENCAR RODRIGO LARA MESQUITA DIRETOR PRESIDENTE FRANCISCO MESQUITA NETO DIRETOR DE JORNALISMO EURÍPEDES ALCÂNTARA DIRETOR DE OPINIÃO MARCOS GUTERMAN DIRETORA JURÍDICA MARIANA UEMURA SAMPAIO DIRETOR DE MERCADO ANUNCIANTE PAULO BOTELHO PESSOA DIRETOR FINANCEIRO SERGIO MALGUEIRO MOREIRA O avanço da jogatina Projeto aprovado na CCJ do Senado legaliza até o jogo do bicho, notória lavanderia de dinheiro de criminosos sanguinários, o que deixa claro seu caráter absolutamente deletério para o País AAmérica Latina é a região mais violenta do mundo. Com 9% da população mundial, ela registra mais de um terço dos homicí- dios. Além das vidas ceifadas e traumas sociais, a violência implica perdas eco- nômicas. Gastos que poderiam ser in- vestidos em atividades produtivas ou assistência social são consumidos pela segurança. Segundo o Banco Interame- ricano de Desenvolvimento, a violên- cia custa 3,6% do PIB dos países latino- americanos, duas vezes mais que nos países desenvolvidos e o equivalente aos gastos da região com infraestrutu- ra ou à renda dos 30% mais pobres. Isso sem contar os custos colaterais: menos empregos, mais emigração, erosão das instituições e corrupção. O crime agra- va a pobreza e a pobreza incentiva o crime. Uma série do Estadão investi- gou exemplos e contraexemplos de co- mo reverter essa espiral viciosa. Entre os últimos está El Salvador. Não se pode dizer que a política de ma- no dura do presidente Nayib Bukele se- ja ilusória, ao menos não a curto prazo. As taxas de homicídios caíram a níveis europeus. Mas ela é insustentável e não serve de modelo a outros países. Constituições democráticas pre- veem estados de exceção e a suspensão de liberdades civis em meio a calamida- des como a violência aguda. Mas, para serem justificadas e eficazes, essas me- didas precisam ter um prazo curto, nun- ca violar direitos fundamentais, basea- rem-se nas evidências da ciência crimi- nal, contar com uma mobilização nacio- nal para restringir abusos e um plano robusto de retorno à normalidade. Nada disso está sendo observado em El Salvador. O estado de emergên- cia decretado em 2022 deveria durar 30 dias, mas é reeditado todo mês. A histó- ria mostra que a perpetuação de esta- dos de exceção é contraproducente e reforça as dinâmicas que visam a com- bater. A deterioração do Estado de Di- reito afasta investidores e incentiva a corrupção e a organização das gangues. O superencarceramento transforma os presídios em quartéis-generais do crime. Franquear a segurança pública a militares não treinados para isso acar- reta violações a direitos humanos, cor- rupção e infiltração do crime. El Salvador já tentou políticas de ma- no dura antes e a recidiva foi pior. De resto, a violência lá é produto de gan- guesque extorquem comunidades lo- cais. Mas as grandes alavancas da vio- lência na América Latina são organiza- ções criminosas transnacionais mais estruturadas, ricas e municiadas. Em Honduras, que ocupa uma posição-cha- ve na rota do narcotráfico, a replicação do “método Bukele” nem sequer produ- ziu um alívio momentâneo. Uma vez que um vespeiro está for- mado, não é inteligente debelá-lo com uma pancada. Uma estratégia mais pa- ciente, orgânica e multifatorial é ne- cessária para enfrentar o crime organi- zado. A repressão ostensiva aos indiví- duos mais brutais, uma tática conheci- da como “dissuasão focada”, pode amainar situações de violência extre- ma. Mas só operações de inteligência e asfixia financeira logram um des- mantelamento eficaz das organiza- ções criminosas. A Colômbia, por exemplo, ainda tem muito a fazer no combate ao cri- me. Mas em uma geração ela reduziu as taxas de homicídio de calamitosas para “normais”, ao menos para a América Latina. Medellín, em especial, conside- rada a cidade “mais violenta do mun- do” na época de Pablo Escobar, alcan- çou o menor nível de violência em 40 anos, em parte por táticas de dissuasão focadas para desencorajar os chefes das facções a atos violentos e promo- ver pacificações entre eles. Essa estratégia tem limites. As tréguas reduzem a violência a curto pra- zo, mas, a longo, permitem às facções se consolidarem. Além de policiamen- to focado nas zonas mais perigosas e investimentos em capacidade investi- gativa, Medellín promoveu a reapro- priação do espaço público pela popula- ção, programas sociais e educacionais para reduzir incentivos dos jovens ao crime e o fortalecimento do Judiciário. No fim, o crime organizado prospe- ra onde há um vácuo do Estado, e a solução definitiva para debelá-lo é o Estado reocupar esses espaços, com in- fraestrutura, serviços, um Judiciário eficiente e condições de crescimento econômico.l A chaga da violência na América Latina Situações extremas podem exigir táticas extremas. Mas sem estratégia multifatorial, elas serão contraproducentes. Estado precisa reocupar os espaços dominados pelo crime organizado TERÇA-FEIRA, 25 DE JUNHO DE 2024 A3 INÊS 249 Cobrar não é resolver ESPAÇO ABERTO P roblemas recorren- tes são o atestado de que a sociedade brasileira está mui- to longe de um está- gio civilizatório compatível com os anseios nacionais. A ca- tástrofe do Rio Grande do Sul mostrou que as mudanças cli- máticas estão aí. Fenômenos semelhantes poderão aconte- cer em qualquer outro lugar. O poder público, por si só, é im- potente para resolver todas as questões. Primeiro: reverter o está- gio atual do planeta, esfrian- do-o, ainda é missão impossí- vel. Ainda que a emissão de dióxido de carbono e dos de- mais gases e partículas vene- nosas que empesteiam a at- mosfera e causam o efeito es- tufa zerasse hoje, o mundo continuaria doente. O acúmu- lo das emissões demoraria dé- cadas – ou até séculos – para fazer com que a Terra se tor- nasse novamente saudável. Existe cobrança da mídia e dos órgãos de fiscalização e controle. Mas cobrar é insufi- ciente. Será que o papel desses organismos é só exigir, criti- car e sancionar? É-lhes veda- do contribuir com propostas factíveis? Algumas situações enseja- riam uma serena reflexão por parte de toda a sociedade. Não apenas Ministério Públi- co, Tribunais de Contas, mí- dia espontânea. Mas também a universidade, o terceiro se- tor, o empresariado, as asso- ciações beneméritas, a inteli- gência e a lucidez brasileira a serviço das soluções, muito além das reclamações. Somos pródigos em norma- tizar. Existe um Plano Munici- pal de Redução de Riscos (PMRR). Sua elaboração tar- dou porque existem espaços em que a Prefeitura não pode entrar, porque dominados pe- la criminalidade organizada. A municipalidade ofertou ao Tri- bunal de Justiça a relação dos territórios em que a pesquisa foi inviabilizada. Esse docu- mento está de posse da corte bandeirante, acionada pelo Mi- nistério Público. Nós, da área jurídica, sabe- mos bem o que significa o prin- cípio ad impossibilia nemo tene- tur. O que fazer para enfrentar tal situação? Profissionais técnicos mu- nicipais, como engenheiros e geólogos, foram hostilizados e sofreram com a desconfiança da população em alguns luga- res. Em outros, os voos de dro- nes foram cancelados, por opo- sição dos moradores. Será que os detratores, os cobradores, os fiscalizadores têm algum plano B, que enfrente a dificul- dade da Prefeitura? Técnicos que foram plantar em uma área cinzenta, despro- vida de verde, também foram obstaculizados por pessoas que impediram o plantio. Essa “ojeriza pelo verde” é mais dis- seminada do que se possa su- por. Qual o remédio para isso, embora se saiba que a cidade de São Paulo perdeu 2 milhões de árvores no extremo sul, on- de está a região dos manan- ciais mais ameaçados? Não se desconhece que as invasões naquela região onde ainda existe resíduo da Mata Atlântica exterminam as nas- centes, destroem a cobertura vegetal, constituem concreto e grave risco de ocorrência de outra crise hídrica, esta mais severa do que a de 2014. Qual a proposta que a sociedade e seus órgãos fiscalizadores ofe- recem para o município? A chamada Operação Inte- grada de Defesa das Águas (Oi- da) luta com dificuldades de efetivo e esbarra na incom- preensão daqueles que não conseguem distinguir a hierar- quia ontológica do direito à moradia, que é fundamental, sim, mas se subordina à essen- cialidade do direito à vida. Análise tópica de cada caso, a tendência magnânima de pre- miar quem não tem casa colo- ca em risco concreto uma le- gião de seres humanos que fica- rão sem água. Há porções de solo paulistano que são insus- cetíveis de sediar habitação. Muito simples assim. A cada transigência, a cada reconhecimento de “ocupa- ção consolidada”, a cada tese do “fato consumado”, é um nú- mero incalculável de viventes e de nascituros que não terão como sobreviver em terras paulistanas. Nas inspeções que os sacrifi- cados partícipes da Oida fa- zem aos espaços sob crescente e incessante ocupação, com empreendimentos irregula- res, clandestinos e crimino- sos, verifica-se a redução da área verde, imprescindível à saúde das nascentes. A conta- minação do sistema Guarapi- ranga-Billings já é um fato. Se- rá insolúvel esse conflito entre o direito e a ilicitude? Serão in- vencíveis os infratores que per- sistem no extermínio do que resta de floresta e na elimina- ção dos mananciais? Se a situação atingiu tal está- gio de inobservância do sofisti- cado acervo normativo que de- riva do artigo 225 da Constitui- ção da República, não seria o caso de uma arregimentação de todos os interessados e da elaboração de algo mais viável do que requerer, denunciar, pe- ticionar, recorrer, reiterar, ameaçar, sancionar? O Plano Preventivo de Chu- vas de Verão (PPCV) da Prefei- tura de São Paulo funcionou. É iniciativa exitosa. Já a Oida, em defesa das águas, precisa de reforço. E seria convenien- te que a atuação tópica das ins- tituições que demandam se conjugasse num projeto abran- gente, que também propicias- se os instrumentos imprescin- díveis ao enfrentamento de um perigo concreto, gravíssi- mo e que afeta a todos. Denunciar, reclamar, exi- gir soluções não é o bastante. É preciso resolver. Para isso, o chamamento à razão e a parti- cipação de todos, inclusive os que não se consideram parte do problema, é mais do que urgente. l Festa junina Uma farra Nesta semana de festas juninas, teremos a quadrilha das princi- pais figuras dos Três Poderes da República viajando a Portugal para participar do “Gilmarpaloo- za” e a quadrilhade parlamenta- res liberados para as festanças em seus Estados. Enquanto is- so, a quadrilha dos brasileiros co- muns em todo o País continuará lançando balões de insatisfação, pulando as fogueiras do dia a dia e dançando para pagar suas con- tas e custear essa farra toda. Carlos Gaspar São Paulo Administração federal Aparelhamento O Estadão publicou reporta- gem mostrando que o atual go- verno petista está inflacionando os quadros das estatais: de janei- ro de 2023 a março de 2024, 4 mil empregados foram contratados por empresas e bancos públicos, segundo dados da Secretaria de Coordenação e Governança das Empresas Estatais (23/6, B4 e B5). Imaginem a colocação de mais de dez petistas ou aliados por dia, sem concurso, nos qua- dros das estatais. Alguém tem al- guma dúvida de que o PT está no- vamente aparelhando a adminis- tração federal e de que este é o principal motivo para o partido ser contra as privatizações? Avi- sem ao ministro Fernando Had- dad que equilibrar as contas pú- blicas passa pela redução de des- pesas, e não apenas pelo aumen- to de impostos. Parece que o PT não colabora muito para isso. Carlos Alberto Duarte São Paulo Estado inchado Não demorou muito, e em 15 me- ses de governo petista 4 mil em- pregos foram criados para aten- der os companheiros. Está aí uma das razões que levam o PT a defender o Estado inchado. Pri- meiro eles, depois o País. Mário Cobucci Júnior São Paulo Poder Lula repete gestões anteriores do PT e infla quadros das estatais (Es- tadão, 23/6). Oh, que novidade! Francamente, não temos mais de julgar Lula nem o PT, que sem- pre foram assim. Temos é de ape- lar para quem vota neste tipo de governo que não quer governar, quer apenas poder para susten- tar sua ideologia retrógrada. Roberto Moreira da Silva Cotia ‘Era do clima’ Desafios urbanos Para o sucesso dos Dez caminhos para melhorar a cidade (Esta- dão, 23/6, C6 e C7), é fundamen- tal que sua implantação se dê a partir de projetos de reconfigu- ração viária bem elaborados, em conformidade com as normas técnicas e a legislação, com obras que ampliem fisicamente as calçadas e diminuam as pis- tas, mantendo o nível de ambas diferenciado, ao invés das inefi- cientes intervenções com pintu- ra da pista e colocação de vasos decorativos. Também é preciso evitar a distorção das medidas propostas, como o que vem ocor- rendo com os parklets, que se transformaram em camarotes e puxadinhos de maus bares, apro- priando-se do espaço público e estrangulando, quando não im- pedindo, o uso das calçadas pe- los pedestres. Jaques Mendel Rechter São Paulo Redes sociais Crianças em risco O editorial O risco das redes sociais para crianças (Estadão, 23/6, A3) trata de um tema que merece a atenção de todos que se preocu- pam com a formação e o desen- volvimento integral de nossas crianças e adolescentes. É preci- so identificar benefícios, malefí- cios, vantagens e desvantagens e encontrar o equilíbrio e a justa medida na liberação dos usos dos recursos tecnológicos pos- tos à nossa disposição. Estudos e pesquisas sobre os efeitos de in- ternet, telas, celulares e mídias sociais sobre a saúde e a educa- ção de crianças e adolescentes in- dicam a necessidade de engaja- mento, intervenção, controle e proteção dos responsáveis pelo desenvolvimento saudável de nossos filhos, netos e alunos. O grande desafio é assegurar a jus- ta medida entre a repressão e a liberação geral. Não podem ser ignorados os sinais de alerta dian- te dos quadros de ansiedade, de- pressão, agressividades, trans- tornos mentais e dependências que ocorrem entre nossas crian- ças e adolescentes. De nada adianta demonizar ou adotar uma atitude negacionista. O ca- minho do meio e do equilíbrio diante da tecnologia é a atitude mais sensata. Reconhecer a im- portância das plataformas digi- tais e colocá-las a nosso favor faz parte do esforço conjunto das fa- mílias e das escolas para prote- ger, educar, cuidar e salvar nos- sas crianças e adolescentes. Que saibamos enfrentar e vencer este baita desafio. João Pedro da Fonseca São Paulo O Estado reserva-se o direito de selecionar e resumir as cartas. Correspondência sem identificação (nome, RG, endereço e telefone) será desconsiderada l E-mail: forum@estadao.comFÓRUM DOS LEITORES José Renato Nalini REITOR DA UNIREGISTRAL, DOCENTE DA PÓS-GRADUAÇÃO DA UNINOVE, É SECRETÁRIO-EXECUTIVO DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS DE SÃO PAULO A cada reconhecimento de ‘ocupação consolidada’, é um número incalculável de viventes e nascituros que não terão como sobreviver em terras paulistanas A4 O ESTADO DE S. PAULO TERÇA-FEIRA, 25 DE JUNHO DE 2024 INÊS 249 l “Tem que garimpar bem, a maioria das lo- jas vende discos a preços absurdos.” DANILO OLIVEIRA l “Isso não passa de modismo nostálgico. Streaming continua sendo a opção mais prática e econômica.” DIONATH LUZ l “O segredo é procurar nos sebos, onde ain- da se acha num preço menos ruim.” ALLAN DIAS l “Depois do advento do streaming, não quero nunca mais ouvir LP.” MARCOS GUGEF Pesquisa recente, divulgada pela Pro- Música Brasil, revelou aumento no faturamen- to das vendas de discos de vinil em 2023 em rela- ção a 2022, chegando a R$ 11 milhões – maior, claro, que o já capenga comércio de CDs. l ‘O Brasil é um deserto de homens e ideias’ Comentários de leitores no portal e nas redes sociais ‘Conectado’: assine e co- mece o dia bem informado. l https://bit.ly/3K6DaB3 PRODUTOS DIGITAIS O monólito brilhante que apareceu em Las Vegas. l https://l1nq.com/2GLDG Crescimento da econo- mia solar vai mudar o mundo. l https://l1nq.com/owkli ESPAÇO ABERTO O comentário so- bre o Brasil de Oswaldo Aranha, feito há cem anos, continua atual. A falta de liderança no go- verno, no Congresso, no meio empresarial e na sociedade civil em geral torna difícil pensar um Brasil acima de interesses parti- dários, particulares e setoriais. A divisão política interna e a po- larização de opiniões impedem que se discuta e, muito menos, que se forme consenso sobre um projeto nacional ou sobre a relevância do Brasil no mundo, suas prioridades e vulnerabilida- des, com uma visão estratégica de médio e longo prazo. A tarefa ainda é mais compli- cada não só pelas dificuldades internas, mas sobretudo por- que o mundo passa por rápidas transformações com a emergên- cia de uma nova ordem interna- cional. Na economia global, as regras são colocadas de lado e prevalecem o poder e interesses dos países individualmente con- siderados, com ênfase no prote- cionismo e em medidas restriti- vas unilaterais que desrespei- tam as regras vigentes e chegam a ser utilizadas como armas na competição entre Estados. Dentro desse quadro difícil, não se vê claramente a reação do Brasil. No discurso, o atual go- verno definiu corretamente suas prioridades: desenvolvi- mento econômico com redução da pobreza, estabilidade econô- mica com redução da taxa de ju- ro e da inflação, além de uma no- va política industrial. Externa- mente, voltar a ter uma voz no mundo e nas organizações multi- laterais, dar prioridade ao meio ambiente, à mudança de clima e a liderar a América do Sul. O problema é que, depois de um ano e meio de governo, tan- to interna quanto externamen- te, as prioridades do governo não estão sendo concretizadas ou apenas parcialmente. A dis- funcionalidade do governo e a falta de rumo e de objetivos cla- ros fazem com que as reformas estruturais na economia, na área social e na educação e na saúde não estejam sendo alcan- çadas. A situação se complica ainda mais na política externa e de defesa e segurança nacional pela desorganização da ordem internacional com duas guerras (na Europa e em Gaza) e uma crescente competição e con- frontação entre EUA e China, com efeitos políticos, econômi- cos e comerciais para todos os países. Apesar de ser uma potên- cia média global,por não ter ex- cedente de poder, não há espa- ço para o Brasil influir, com pe- so próprio, no curso das con- frontações bélicas na Ucrânia e em Gaza. Dada a atual configuração geopolítica e geoeconômica, o Brasil, país continental, com mais de 210 milhões de habitan- tes, oitava economia do mundo, não pode ficar refém de deci- sões ideológicas e de interesses partidários. Embora pertencen- do ao Ocidente, por seus valo- res e princípios, o Brasil está ca- da vez mais dependente da Ásia, para onde vão 50% das exporta- ções e 37% dos produtos agríco- las. Na defesa dos interesses na- cionais, o governo atual não tem alternativa, a não ser ado- tar uma posição de equi- distância na crescente confron- tação entre o Ocidente e o antio- cidente, liderado por China e Rússia e fortalecido com a am- pliação do Brics. Neutralidade ativa, aliás, como a Índia está fa- zendo, ao jogar nos diversos ta- buleiros com sua voz indepen- dente na defesa de seus interes- ses, mantendo boas relações com todos. O Brasil precisa sair de uma posição defensiva, principista, e passar a defender explicita- mente seus interesses. Voz po- derosa nas questões ambien- tais, de segurança alimentar e de transição energética, o País já deveria ter questionado as restrições da União Europeia no tocante ao desmatamento e as exportações de produtos agrícolas, e às emissões de gás de efeito estufa quanto a produ- tos industriais (CBAM). A exemplo do que todos os paí- ses estão fazendo, devemos continuar a apoiar as medidas de defesa de meio ambiente e redução das emissões de gás carbônico, mas não devemos perder de vista a prioridade pa- ra o desenvolvimento econômi- co e a redução da pobreza, que virão com o aproveitamento de nossas riquezas na biodiversi- dade, de minerais críticos e ra- ros, com valor agregado para fa- vorecer a indústria, e da ener- gia fóssil na Margem Equato- rial, como estão fazendo a Fran- ça, na Guiana Francesa, e a Guiana. A liderança da integra- ção regional na América do Sul começa a ganhar forma na ques- tão ambiental na Amazônia e nos programas de integração física no Norte (rodovias, ferro- vias e hidrovias) e no Sul (rodo- vias), abrindo caminho para os produtos brasileiros chegarem à Ásia pelos portos do Pacífico. As reuniões do G-20, da COP-30 e do Brics talvez sejam as últimas oportunidades de o Brasil firmar sua voz na defesa de seus interesses concretos e não entrar em um jogo político, sem ver suas propostas aceitas. Recentemente, como contri- buição a essa discussão, o Insti- tuto Federalista e o Sagres divul- garam o documento Projeto de Nação – O Brasil em 2035. E atual- mente encontra-se em fase fi- nal de elaboração, no Centro de Defesa e Segurança Nacional (Cedesen), documento sobre o lugar do Brasil no mundo, com o objetivo de promover uma am- pla discussão sobre as perspecti- vas do Brasil, não limitada a ape- nas um pequeno grupo de eco- nomistas e acadêmicos. O Exe- cutivo, o Congresso e a socieda- de civil têm uma grande respon- sabilidade de, por um momen- to, colocar interesses menores de lado e pensar nos rumos do País, hoje à deriva, com visão de médio e longo prazo. l TEMA DO DIA NAS REDES SOCIAIS Veja outros destaques e participe das discussões no Link da Bio do Instagram do Estadão. https://bit.ly/LDBEstadao Rubens Barbosa As reuniões do G-20, da COP-30 e do Brics talvez sejam as últimas oportunidades de o País firmar sua voz na defesa de seus interesses concretos PEDRO LIMA/ESTADÃO Av. Eng. Caetano Álvares, 55 – CEP: 02598-900 – São Paulo - SP l (11) 3856-2122 l Fax: (11) 3856-2940 l E-Mail: forum@estadao.com l Central do assinante: Capital e regiões metropolitanas: 4003-5323 l Demais Localidades: 0800-014-77-20 l https://meu.estadao.com.br/fale-conosco l Central ao leitor: (11) 3856-2122 l falecom.estado@estadao.com classificados por telefone: (11) 3855-2001 Preços venda avulsa: SP: R$ 7,00 (segunda a sábado) e R$ 9,00 (domingo). 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PAULO A5 INÊS 249 Uso de IA cresce mais na Justiça estadual, diz CNJ RAYSSA MOTTA A corrupção eleitoral, caracteri- zada pela compra de votos, es- tá no topo das condutas mais repudiadas pelos eleitores, con- forme pesquisa contratada pe- lo Instituto Não Aceito Corrup- ção (Inac). O levantamento, realizado entre março e maio deste ano, abordou as práticas corruptas e sua aceitação pela sociedade. Funcionários fan- tasmas, rachadinha e nepotis- mo também estão entre as con- dutas consideradas inaceitá- veis, que geram repúdio. A pesquisa buscou medir a aceitação de múltiplas práti- cas corruptas. No levantamen- to da empresa Ágora Pesquisa foram ouvidos 2.026 eleitores, com idades entre 16 e 75 anos, de diferentes regiões, classes sociais e gêneros. Os entrevistados também foram questionados sobre a compra de votos. 62% disse- ram que conhecem alguém que trocou o voto por dinheiro e 54% relataram ter sofrido pe- lo menos uma tentativa direta de corrupção eleitoral nos últi- mos dez anos. O Tribunal Superior Eleito- ral (TSE) diz que a compra de votos (captação ilícita de sufrá- gio) “ocorre quando a candida- ta ou o candidato doa, oferece, promete ou entrega para o elei- tor qualquer bem ou vantagem pessoal de qualquer natureza – inclusive emprego ou função pública – para obter seu voto”. O levantamento promovido pelo Inac buscou mapear o pre- ço médio do voto conforme a região – Nordeste: R$ 124,62; Norte: R$ 138,83; Sudeste: R$ 139,58; Centro-Oeste: R$ 140,54; e Sul: R$ 142,88. Para o Roberto Livianu, pre- sidente do Inac e procurador de Justiça em São Paulo, os da- dos evidenciam o deságio da Justiça Eleitoral no Brasil. “A compra de votos é algo real e concreto”, afirmou. Os entrevistados foram questionados sobre canais de denúncia e somente 20% deles responderam que conhecem e que funcionam. No universo de oito em cada dez entrevista- dos estão os que responderam que não conhecem, ou conhe- cem (ou são conhecidos os ca- nais), mas acreditam que os ór- gãos de denúncia não funcio- nam. Neste conjunto de res- postas estão também aqueles que sabem que existem generi- camente, sem identificar quais são estes canais. Os eleitores brasileiros vol- tarão às urnas neste ano para escolher prefeitos e vereado- res nas mais de cinco mil cida- des do País. RANKING. Conforme a pesqui- sa, a corrupção aparece em oi- tavo lugar na lista de preocupa- ções da população. Saúde, edu- cação e segurança pública lide- ram o ranking. Há uma variação geracional na percepção da corrupção. Com a idade, as pessoas pare- cem se tornar mais sensíveis ao tema, mostra o levantamen- to. A preocupação também au- menta com a renda. Os entrevistados responde- ram a questionários estrutura- dos e tiveram de avaliar, com notas de 1 a 7, o grau de reprova- bilidade de cenários hipotéti- cos criados para ilustrar diferen- tes práticas de corrupção. Quan- to mais alta a nota, mais aceitá- vel é a atitude. As situações nar- radas aos entrevistados corres-pondem a uma lista de crimes – sonegação fiscal, peculato, ne- potismo, falsidade ideológica, corrupção passiva, ativa e eleito- ral, prevaricação, tráfico de in- fluência, captação ilícita de vo- tos, estelionato e furto. Os exemplos foram pensa- dos de acordo com quatro ei- xos de corrupção: de políti- cos e agentes públicos, de em- presas, praticada para obter benefícios pessoais e relacio- nada a serviços. Os resulta- dos mostram que a tolerância dos brasileiros é maior com atos de corrupção relaciona- dos a serviços, como o paga- mento de propina para se li- vrar de uma multa de trânsi- to. A maior reprovação envol- ve desvios da classe política. Para a cientista política Rita Biason, professora da Universi- dade Estadual Paulista (U- nesp) e diretora do Instituto Não Aceito Corrupção que par- ticipou da pesquisa, essa varia- ção é decorrente da realidade econômica do País. “Essa aceitação a determina- das práticas de corrupção vem de longa data, quando se refe- re à possibilidade de socorrer determinado segmento da po- pulação”, afirmou. “Tem rela- ção com a carência e com a difi- culdade de acesso a bens e ser- viços. Nós temos uma camada da população que não tem aces- so a esses serviços, então isso se torna mais tolerável do que em relação ao político. Até por- que o político tem um salário e um ganho a partir da arrecada- ção de impostos.” RESPOSTAS. Livianu avaliou que o ranking das condutas de corrupção, conforme seu grau de reprovação, oferece uma pista para o poder público ofe- recer respostas à sociedade. “Reafirma a importância de se dar respostas consistentes em relação a esses casos por parte do Sistema de Justiça, sob pe- na de agravar ainda mais o qua- dro de baixa credibilidade.” A pesquisa usou cenários hi- potéticos para testar o grau de aceitação de irregularidades por parte dos entrevistados. A prática considerada mais ina- ceitável foi o peculato, ilustra- da pelo seguinte caso: “um ser- vidor público é nomeado para um cargo de confiança, recebe o salário todos os meses, mas nunca comparecer ao traba- lho”. Essa situação registrou média de aceitação de 1,2. Na outra ponta, foi conside- rada a prática mais aceitável a prevaricação (5,2), na situação em que “um fiscal de trânsito relaxa a multa ao motorista por julgar que se trata de uma situação de emergência (mu- lher dando à luz ou alguém pas- sando mal, por exemplo)”. l Pesquisa feita pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) mostra que o número de proje- tos de Inteligência Artificial (IA) desenvolvidos por órgãos do Judiciário, como tribunais ou conselhos, cresceu 26% des- de 2022. O estudo envolveu 91 tribunais e três conselhos e identificou 140 projetos de IA. Segundo o CNJ, a expectati- va é de que a tecnologia dê mais eficiência ao Judiciário. A pesquisa faz parte do Progra- ma Justiça 4.0, iniciativa do conselho e do Programa das Nações Unidas para o Desen- volvimento (Pnud) cujo objeti- vo é acelerar a transformação digital na Justiça. Os projetos de IA são ma- peados pelo CNJ desde 2020. Nesta edição, o levantamento aponta que, das 140 soluções tecnológicas, 63 estão em uso ou aptas a serem utilizadas, 46 estão em fase final de desenvol- vimento, 17 estão em fase ini- cial e três ainda não foram ini- ciadas. Além disso, 11 projetos já foram finalizados, mas ain- da não foram implementados. A área que mais concentra projetos de IA é o Judiciário estadual, com 68 iniciativas, se- guido pela Justiça Eleitoral (23), do Trabalho (20), Fede- ral (14) e Superior (13). Os con- selhos de Justiça apresentam, ao todo, dois projetos. l GUILHER- ME NALDIS Conselhos de pelo menos quatro empresas se reuni- ram ontem para bater o martelo sobre as propostas de repactuação dos acordos de leniência que fecharam na Lava Jato. O Estadão apurou que as companhias, em sua maioria, estão dis- postas a aceitar as premis- sas fixadas pelo governo, embora tenham ressalvas que esperam ver alinhadas nos próximos 30 dias. As respostas foram enca- minhadas à Controladoria- Geral União e à Advocacia- Geral da União. O prazo terminou ontem. O gover- no concordou em ampliar os descontos, que chegam a 50% de abatimento do sal- do do acordo. Com isso, a União pode abrir mão de R$ 4 bilhões. As empresas brigam para que o porcen- tual seja aplicado sobre o valor global da multa. Participam das tratati- vas Andrade Gutierrez, Me- tha (ex-OAS), UTC, J&F, Mover (ex-Camargo Cor- rêa), Novonor (ex-Odebre- cht), Engevix e Braskem. A negociação ocorre sob su- pervisão do Supremo. l R.M. Empresas devem aceitar com ressalvas proposta de revisão de leniênciasNos últimos 10 anos, durante o período de eleições, soube de algum candidato ou cabo eleitoral que ofereceu algo pelo voto? LEVANTAMENTO Geral SIM, SOUBE NÃO SOUBE NÃO SABE/NÃO RESPONDEU 43% 3% 54% Por região FONTE: PESQUISA SOBRE PRÁTICAS CORRUPTAS E SUA ACEITAÇÃO 2024 (INAC/ÁGORA PESQUISA) / INFOGRÁFICO: ESTADÃO NORTE NORDESTE CENTRO-OESTE SUDESTE SUL SOUBE NÃO SOUBE 72% 65% 57% 48% 41% 28% 35% 43% 52% 59% OBS.: ENTREVISTAS PESSOAIS FORAM REALIZADAS ENTRE 23 DE MARÇO E 28 DE MAIO, COM 2.026 ELEITORES DE 16 A 75 ANOS, EM TODOS OS ESTADOS “A compra de votos (no Brasil) é algo real e concreto” Roberto Livianu Procurador de Justiça em São Paulo e presidente do Instituto Não Aceito Corrupção Pesquisa afirma que 54% dos eleitores dizem ter vivenciado compra de votos Levantamento do Instituto Não Aceito Corrupção mediu grau de percepção de diversas práticas corruptas; tolerância é menor no caso de desvios de políticos e agentes públicos Corrupção eleitoral A6 POLÍTICA TERÇA-FEIRA, 25 DE JUNHO DE 2024 O ESTADO DE S. PAULO INÊS 249 Q uando Lula e Fernando Henrique se encon- tram amigável e até cari- nhosamente, é hora de esquecer as guerras e encren- cas de outros tempos e pensar em como pode haver civilida- de, parceria e convivência de- mocrática entre adversários políticos, no caso, dois dos grandes líderes contra a ditadu- ra e os maiores presidentes pós-redemocratização. É nes- se clima, menos negativo, me- nos carregado, que escrevo so- bre Por que a democracia brasilei- ra não morreu?, dos cientistas políticos e professores Marcus André Melo e Carlos Pereira. Corajoso, desmistificador e otimista são os três adjetivos que definem o livro, que joga luzes sobre dez anos da políti- ca, desde o impeachment de Dilma Rousseff até a derrota de Jair Bolsonaro. Na contramão da onda de desqualificação, irri- tação, desânimo, desistência, os autores nos fazem refletir so- bre esses tempos turbulentos e tirar uma conclusão reconfor- tante: apesar de todos os pesa- res, o sistema político brasilei- ro não é tão imprestável assim. Diante dos graves erros e da enxurrada de críticas ao Con- gresso, ao Judiciário e ao presi- dencialismo jabuticaba, a reali- dade é que o sistema político, as instituições, seus líderes e agen- tes demonstraram grande capa- cidade de resistência e soube- ram usar os instrumentos cons- titucionais à mão para reprimir e, ao fim e ao cabo, impedir in- vestidas antidemocráticas. Sem dar spoiler, a tese dos autores é a de que a combina- ção de presidencialismo com multipartidarismo é complexa e tensa, mas “gerou ordem e equilíbrio no sistema político”. O chefe do Executivo tem enor- mes poderes e pode, inclusive, legislar via decretos e medidas provisórias, mas o Congresso tem ferramentas como as emendas parlamentares, que, muito mal compreendidas pe- la opinião pública, garantem que não seja mero cumpridor de ordens, e o sistema dispõe de uma rede vigorosa de con- trole “externo”: Judiciário, Mi- nistério Público, tribunais de contas, PF e imprensa, livres, independentes e combativos. Presidentes, de esquerda ou direita, têm grande dificuldadede montar e manter bases con- gressuais com forças muito he- terogêneas e de distribuir ferra- mentas de equilíbrio de poder, como ministérios, cargos e emendas que cristalizam os vínculos dos parlamentares com suas próprias bases. Há exageros e desvios absurdos, mas não por culpa do sistema, como se convencionou, mas de quem administra esse sistema – como qualquer sistema. Tão corajoso, desmistificador e oti- mista, o livro de Marcus André Melo e Carlos Pereira nos brin- da com algo essencial e que an- da drasticamente em falta: ra- cionalidade. Boa leitura! l SEG. Carlos Pereira e Diogo Schelp (quinzenalmente) l TER. Eliane Cantanhêde e Carlos Andreazza l QUA. Vera Rosa e Marcelo Godoy (quinzenalmente) l QUI. William Waack l SEX. Eliane Cantanhêde l SÁB. Carlos Andreazza l DOM. Eliane Cantanhêde e J.R. Guzzo COMENTARISTA DA RÁDIO ELDORADO, DA RÁDIO JORNAL (PE) E DO TELEJORNAL GLOBONEWS EM PAUTA E-mail: eliane.cantanhede@estadao.com; Twitter: @ecantanhede Veredicto: o sistema não tem culpa PF apreendeu R$ 170 mil em casa de desembargador Operação Churrascada Por que a democracia brasileira sobreviveu? Uma resposta corajosa e racional A Polícia Federal apreendeu R$ 170 mil em espécie na casa do desembargador Ivo de Almei- da, do Tribunal de Justiça de São Paulo. Ele é suspeito de ven- der decisões judiciais. O imóvel fica na na zona norte da capital. Os investigadores buscam iden- tificar a origem do dinheiro. Além dos R$ 170 mil, foram apreendidos na Operação Churrascada, na semana passa- da, celulares e computadores. O ministro do Superior Tribu- nal de Justiça (STJ) Og Fernan- des determinou o afastamento de Ivo de Almeida de suas fun- ções por um ano. A PF pediu a prisão preventiva do desembar- gador, mas a Procuradoria-Ge- ral da República se opôs à medi- da. O advogado Alamiro Velludo Salvador Netto, que representa o desembargador, disse que aguarda acesso ao inquérito para se manifestar e “restabelecer no caso a verdade e a justiça”. l RAYS- SA MOTTA, FAUSTO MACEDO E PEPITA ORTEGA Eliane Cantanhêde TERÇA-FEIRA, 25 DE JUNHO DE 2024 POLÍTICA A7 O ESTADO DE S. PAULO INÊS 249 KARINA FERREIRA O ex-governador do Ceará Ci- ro Gomes (PDT) afirmou que o “janjismo” vai atrapalhar as eleições municipais deste ano, referindo-se à atuação da pri- meira-dama Rosângela da Sil- va, a Janja. Ele também elo- giou o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Bra- sil), ao dizer que o bolsonaris- ta “tem dotes” para disputar a Presidência da República em 2026. As declarações foram fei- tas durante entrevista veicula- da pelo canal do YouTube My News, na última quinta-feira. “Então o que está acontecen- do? Pelo movimento da econo- mia, a população vai votar con- tra o governo. E pela guerra cul- tural, sabe, o ‘janjismo’, agora remoçado e tal, vai perder a eleição o governo. Mas não vai perder (somente) em 2026, va- mos acompanhar as eleições municipais nas grandes cida- des brasileiras. Elas não são uma condição, digamos assim, mortal, mas são uma pista nos grandes centros”, afirmou o ex-presidenciável. Sobre suas apostas para pos- síveis postulantes em 2026 no campo da direita, uma vez que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) segue inelegível até 2030 por determinação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Ciro deu opinião sobre alguns no- mes apresentados. Afirmou que não entrará na disputa, pois “perdeu o encanto”. Questionado sobre o que pensa do governador de Mi- nas Gerais, Romeu Zema (Novo), Ciro se limitou a responder: “Conte-me ou- tra. É o fim da picada”. Por outro lado, elogiou Caiado, a quem disse consi- derar “um bom governa- dor”. “Esse cara tem dotes. Mas aí pega carona e vai pa- ra Israel. De novo, é um belo de um cara. Conheço mais de perto. Um médico, tem espírito público, é um bom administrador”, disse Ciro. ‘IDENTITARISMO’. Durante a entrevista, Ciro afirmou que a “esquerda internacio- nal” abandonou “a ideia de superar a miséria, a desi- gualdade e lutar por uma hu- manidade pacífica” e pos- sui “incapacidade de sair do identitarismo vesgo”. No último mês, o pedetis- ta usou seu perfil no X para criticar Janja, questionando a postura do Planalto sobre fake news envolvendo a tra- gédia no Rio Grande do Sul. Ao citar ataques sofridos por pesquisadora da USP, disse que os comentários te- riam sido coordenados pela “máquina lulopetista tritu- radora”, supostamente “sob influência” de Janja. l A rthur Lira e Ciro Noguei- ra são presenças confir- madas no Fórum de Lis- boa. O Parlamento em semaninha de folgança, a três semanas do recesso, para que o País seja discutido na Europa; o restante do Congresso pulan- do as fogueiras de São João. E há um compromisso por votar as regulamentações da reforma tributária até 18 de julho. Ninguém reclamará das co- missões atropeladas e dos regi- mes de urgência impostos, afi- nal aprovado texto desconheci- do enquanto se lhe metem ain- da mais contrabandos. Lira quer uma marca para sua ges- tão. Gostaria que fosse a refor- ma tributária. Será a instituição do orçamento secreto. Daí a sugestão. Se em Lisboa para o que os maledicentes cha- mam de Gilmarpalooza, Lira e Nogueira poderiam propor me- sa – faltaria apenas Alcolumbre – sobre a constituição e a operação do orçamento secreto. Diante de alguns ministros do Supremo, explicariam a engenharia de arre- ganho que aterrou decisão do tri- bunal e conseguiu – política de Estado – transitar de Bolsonaro a Lula sem maiores solavancos. O capeta se foi. A picanha voltou. A democracia está ga- rantida por Xandão. E o orça- mento secreto continua. E con- tinua a Codevasf, sob o mesmo comando de quando os golpis- tas nos acossavam. Não deixa de ser expressão da estabilida- de de nossa República. Manchete do Estadão para reportagem de Daniel Weter- man: “Governo Lula paga R$ 7 bilhões do orçamento secreto de Bolsonaro sem respeitar de- cisão do STF”. São restos a pa- gar, que a turma da reconstru- ção distribui como fazia a Casa Civil de Nogueira. Sem transpa- rência – desconhecidos os pa- tronos das emendas – e autori- tariamente, grana somente às paróquias dos amigos dos do- nos do Parlamento. Nem Flávio Dino, líder do go- verno no STF, pôde matar no peito. Declarou que Lula – em cujo governo formava até an- teontem, Juscelino Filho como colega – e o Congresso não te- riam comprovado “cabalmen- te” o cumprimento da decisão do Supremo. A decisão é de 2022. O mode- lo de 2023, acordado a partir da PEC da Transição, já foi supera- do. O orçamento secreto é fu- gaz e camaleônico, vai de facha- da em fachada, e sua dinâmica se adapta a qualquer superfície. Em 2024, evolui sob as emen- das de comissão. Dino chegará lá em algum momento. Lula já chegou. Está feliz com Juscelino, ministro das Co- municações, indiciado em fun- ção do uso de dinheiros do orça- mento secreto para que a Code- vasf, sob gerência apadrinhada, pavimentasse, via empreiteira amiga, estrada que serve à fa- zenda da família em município cuja prefeita lhe é irmã. O relator do caso é Dino. Que também está no progra- ma de Lisboa. l Carlos Andreazza Política de Estado SOFIA AGUIAR MATHEUS DE SOUZA BRASÍLIA O presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou ontem, em São Paulo, o ex-presidente Fernan- do Henrique Cardoso (PSDB). O encontro, que durou cerca de 35 minutos, ocorreu fora da agenda oficial do petista e, se- gundo a assessoria do Palácio do Planalto, teve caráter priva- do. Antes da visita a FHC, Lula se reuniu com os escritores Noam Chomsky e Raduan Nas- sar. Fernando Henrique, por sua vez, recebeu o ex-ministro da Fazenda Pedro Malan. Lula viajou para São Paulo no domingo. O compromisso não estava previsto na agenda oficial. Nas redes sociais, o pre- sidente falou sobre os encon- tros na capitalpaulista com FHC, Chomsky, Nassar e com o jornalista Mino Carta. Publi- cou também sobre uma agen- da com o ex-presidente José Sarney no Maranhão, ocorrida na sexta-feira passada. Em campos opostos da po- lítica desde a década de 1990, Lula e FHC se aproximaram em meados de 2021. Na dispu- ta ao Planalto, no ano seguin- te, o ex-presidente declarou voto no petista no segundo tur- no contra Jair Bolsonaro (PL). Na época, o tucano afirmou que a decisão era motivada “por uma história de luta pela democracia e inclusão social”. MINAS GERAIS. De volta à capi- tal federal, Lula deve partici- par do lançamento do Plano Sa- fra e do Plano Safra Agricultu- ra Familiar, amanhã. Na quin- ta-feira, o petista tem agenda em Contagem (MG), para fa- zer anúncios do governo fede- ral. Na sexta-feira, o compro- misso será em Juiz de Fora, também em Minas, na inaugu- ração de uma obra. l JORNALISTA SEG. Carlos Pereira e Diogo Schelp (quinzenalmente) l TER. Eliane Cantanhêde e Carlos Andreazza l QUA. Vera Rosa e Marcelo Godoy (quinzenalmente) l QUI. William Waack l SEX. Eliane Cantanhêde l SÁB. Carlos Andreazza l DOM. Eliane Cantanhêde e J.R. Guzzo O orçamento secreto é camaleônico, e sua dinâmica se adapta a qualquer superfície E-mail: ca.andreazza@gmail.com; Twitter: @andreazzaeditor Governador de Goiás já se movimenta por 2026 Para lembrar l Presidência Com 86% de aprovação en- tre os goianos, segundo pes- quisa Genial/Quest divulga- da em abril que mediu a acei- tação de quatro governado- res de direita em seus Esta- dos, Ronaldo Caiado está decidido a disputar a Presi- dência em 2026 l Movimentação “Considero que posso me apresentar ao meu partido, o União Brasil, pensando numa pré-candidatura. Mi- nha trajetória de vida me credencia para isso”, disse o governador ao Estadão l Nomes Além de Caiado, pelo menos outros três governadores aliados de Bolsonaro são ci- tados para 2026: Ratinho Júnior (PSD), do Paraná; Tarcísio de Freitas (Republi- canos), de São Paulo; e Ro- meu Zema (Novo), de Minas Ciro Gomes afirma que ‘janjismo’ projeta derrota do governo nas eleições Ex-governador fala sobre a atuação da primeira-dama e diz que Caiado ‘tem dotes’ para concorrer à Presidência em 2026 Ex-ministro EVENTO DA FUNDAÇÃO FHC DEBATE LEGADO DO PLANO REAL. PÁGS. B8 E B9 Lula esteve com tucano Fernando Henrique Cardoso em São Paulo RICARDO STUCKERT / PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA Em agenda privada em São Paulo, Lula visita Fernando Henrique Ex-presidente A8 POLÍTICA TERÇA-FEIRA, 25 DE JUNHO DE 2024 O ESTADO DE S. PAULO INÊS 249 WASHINGTON O fundador do WikiLeaks, Ju- lian Assange, concordou em se declarar culpado de uma única acusação de crime de dissemi- nação ilegal de material de se- gurança nacional em troca de sua libertação de uma prisão britânica, encerrando um im- passe de quase 15 anos com os EUA. O WikiLeaks informou no X que ele deixou a prisão e o Reino Unido ontem e voltou para Austrália. Assange, de 52 anos, teve seu pedido atendido para compa- recer perante um juiz federal em um dos postos avançados mais remotos do Judiciário americano, o tribunal em Sai- pan, a capital das Ilhas Maria- nas do Norte, perto da Austrá- lia, segundo um processo judi- cial tornado público ontem. As- sange deve ser sentenciado em uma audiência amanhã. O acor- do, que precisa ser aprovado por um juiz, deverá considerar o tempo de cinco anos que ele já cumpriu na prisão, evitando assim uma nova pena. O australiano foi celebrado e criticado por revelar segre- dos de estado na década de 2010. Isso incluía material so- bre atividade militar america- na no Iraque e no Afeganistão, bem como telegramas confi- denciais compartilhados en- tre diplomatas. Em 2010, a Suécia exigiu a prisão de Assange sob acusa- ções apresentadas contra ele de estupro e assédio sexual no país. Assange negou as acusa- ções, mas teve de ser submeti- do a prisão domiciliar na Ingla- terra. Em maio de 2012, o Su- premo Tribunal de Londres concordou com sua extradição para a Suécia. Para Assange, os casos o fariam ser mandado pa- ra os EUA. No mês seguinte, ele refugiou-se na Embaixada do Equador em Londres para evitar a extradição. Em 2019, um grande júri federal indiciou Assange por 18 acusações rela- cionadas à disseminação pelo WikiLeaks de documentos de segurança nacional. Isso incluía um tesouro de materiais enviados à organiza- ção por Chelsea Manning, uma ex-analista de inteligên- cia do Exército dos EUA que entregou informações sobre planejamento e operações mi- litares quase uma década an- tes. Manning foi perdoada pe- lo governo Obama. Assange po- deria ter enfrentado 170 anos em uma prisão federal. Logo após o anúncio das acu- sações na Justiça, a Polícia Me- tropolitana de Londres entrou na Embaixada do Equador e o prendeu. Ele estava sob custó- dia das autoridades britânicas desde então. TEMPO PRESO. Funcionários do Departamento de Justiça aceita- ram um acordo sem tempo de prisão adicional porque Assange já havia cumprido mais tempo do que a maioria dos acusados de um crime semelhante – neste caso, mais de cinco anos de pri- são no Reino Unido. l AFP e NYT Unindo Forças Unindo Forças no Combate no Combate ao Câncer de ao Câncer de Colo de ÚteroColo de Útero 27 de junho, às 14h Informações e inscrições Presenças confirmadas Jairo Bouer Psiquiatra especialista em sexualidade e educação sexual Mediação Angélica Nogueira Médica oncologista Estevam Baldon Gerente médico de Vacinas na MSD Leticia Katz Coordenadora da Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco Luisa Lina Villa Chefe do Lab Inovação em Câncer, Icesp e Faculdade de Medicina da USP Marcia Abadi Diretora executiva médica da MSD Brasil Mônica Levi Presidente da SBIm Pedro Prata Editor-assistente do Estadão Verifica Roberto Gil Diretor-geral do INCA /estadão@estadão @estadão@estadão Produção ParceriaRealização Apoio Julian Assange caminha para embarque em aeroporto de Londres AFP Assange fecha acordo com Justiça dos EUA e deixa prisão em Londres Ele deve se declarar culpado de uma única acusação em um posto avançado remoto do Judiciário americano próximo da Austrália, para onde retornou ontem WikiLeaks TERÇA-FEIRA, 25 DE JUNHO DE 2024 INTERNACIONAL A9 O ESTADO DE S. PAULO INÊS 249 PARIS O presidente do partido de ex- trema direita da França Reu- nião Nacional (RN), Jordan Bardella, afirmou ontem que está pronto para governar “pa- ra todos os franceses” se sair vitorioso nas eleições legislati- vas de domingo. A legenda lide- ra as pesquisas com 35,5% das intenções de voto, segundo sondagem do Instituto Ipsos, em parceria com o jornal Le Pa- risien e a Radio France. Bardella, um eurodeputado de 28 anos, é um nome em as- censão da extrema direita e seu candidato a primeiro-mi- nistro. Ele apresentou seu pro- grama de governo ontem e rei- terou as principais linhas do seu movimento, liderado por Marine Le Pen, focadas em se- gurança e controle da imigra- ção. Ele também prometeu um “big-bang de autoridade” nas escolas, ao propor o uso de uni- formes, a obrigação de se refe- rir aos professores como “se- nhor” e proibir celulares nos centros de ensino. “Sete anos de ‘macronismo’ enfraqueceram o país”, disse Bardella, que reiterou os pla- nos para expulsar estrangeiros condenados por crimes e cor- tar gastos ligados à imigração. Para tentar atrair os eleito- res de direita descontentes com o presidente Emmanuel Macron, o candidato atacou os resultados econômicos do atual governo, com dívida e déficit públicos superiores aos limites europeus. UCRÂNIA. Sobre a política inter- nacional, o candidato a primei- ro-ministro garantiu que, se chegar ao poder, pretende manter o apoio do país à Ucrânia, mas será contrárioao envio de mísseis de longo al- cance e de tropas francesas ao território ucraniano. Também criticou o progra- ma de governo apresentado pe- la coalizão de esquerda Nova Frente Popular (NFP), que pa- ra ele provocará o aumento da imigração e uma profunda cri- se econômica. “A França vai vi- rar a Venezuela, mas sem pe- tróleo”, disse. Segundo a pes- quisa do Ipsos, a NFP tem en- tre 27% e 29,5% das intenções de voto e a aliança centrista de Macron, cerca de 20%. Macron, por sua vez, afir- mou que os programas de go- verno dos extremos dos dois espectros políticos do país con- duziriam o país à “guerra ci- vil”. “A resposta da extrema di- reita em termos de inseguran- ça remete as pessoas a uma reli- gião ou a uma origem e é assim que se divide e se leva (um país) à guerra civil”, declarou Macron no podcast Généra- tion Do It Yourself. “Por outro lado, a LFI (Fran- ça Insubmissa) propõe uma forma de comunitarismo um pouco eleitoral, mas que tam- bém tem a guerra civil por trás, porque, acima de tudo, remete as pessoas exclusivamente à sua afiliação religiosa ou comu- nitária”, disse o presidente, se referindo a um dos partidos que compõem a NFP. A eleição na França foi ante- cipada por Macron após o avan- ço na extrema direita nas elei- ções ao Parlamento Europeu. A votação será realizada em dois turnos, nos dois próxi- mos domingos. l AFP e NYT Macron diz que programas de governo dos partidos radicais de direita e esquerda conduziriam o país à ‘guerra civil’ Jordan Bardella é candidato da extrema direita para premiê CHRISTOPHE ENA/AP Líder nas pesquisas, ultradireita diz estar ‘pronta para governar’ França Eleições legislativas Antecipadas Eleições legislativas ocorrerão em dois turnos, nos dois próximos domingos EM TRANSFORMAÇÃO tributÁria Patrocínio: EDITORIA ESPECIAL DO ESTADÃO TRAZ AS DISCUSSÕES NO CONGRESSO NACIONAL E A OPINIÃO DA SOCIEDADE EM RELAÇÃO AO PROCESSO A REFORMA TRIBUTÁRIA E O CRESCIMENTO ECONÔMICO A REFORMA E A JUSTIÇA TRIBUTÁRIA QUAL O IMPACTO PARA ESTADOS E MUNICÍPIOS? AS EXCEÇÕES E A REGULAMENTAÇÃO O CUSTO FISCAL DA REFORMA A OPINIÃO DE ECONOMISTAS, EMPRESÁRIOS E ESPECIALISTAS NO ASSUNTO Realização: ACOMPANHE! A10 INTERNACIONAL TERÇA-FEIRA, 25 DE JUNHO DE 2024 O ESTADO DE S. PAULO INÊS 249 Famílias de vítimas processam agência da ONU LUXEMBURGO A União Europeia chegou on- tem a um acordo para liberar ¤ 1,4 bilhão (cerca de R$ 8 bi- lhões) para a Ucrânia. Trata-se do primeiro montante destina- do ao país de Volodmir Ze- lenski procedente dos juros de ativos russos congelados na Eu- ropa, conforme anunciou em Luxemburgo o chefe da diplo- macia europeia, Josep Borrell. “Os benefícios (juros) ex- cepcionais gerados pelos ati- vos russos congelados na Euro- pa – e não os ativos em si – serão utilizados o mais rápido possível em benefício da Ucrânia”, disse Borrell, após uma reunião de ministros de Relações Exteriores do bloco. Segundo ele, até o fim do ano, uma outra parcela estima- da em ¤ 1 bilhão (quase R$ 6 bilhões) será liberada para Kiev para compra de armas, es- pecificou Borrell. A Hungria expressou sua in- dignação com a decisão, ao con- siderar que deveria ter sido to- mada por unanimidade. O che- fe da diplomacia europeia afir- mou, por sua vez, que a Hun- gria não poderia levantar obje- ções, uma vez que se absteve nas discussões anteriores. “Uma linha vermelha foi cru- zada”, denunciou o ministro das Relações Exteriores húnga- ro, Peter Szijjarto. O líder hún- garo, Viktor Órban, é aliado de Vladimir Putin. Cerca de ¤ 300 bilhões (R$ 1,7 trilhão) russos foram con- gelados mundialmente após a invasão russa na Ucrânia, em 2022, e a maior parte deles está na Bélgica (cerca de ¤ 190 bi- lhões ou R$ 1 trilhão). ATAQUE. Ontem, um dia após um bombardeio ucraniano na Crimeia, a Rússia acusou os EUA de “matarem crianças rus- sas” e ameaçou represália – se- gundo Moscou, os ucranianos fizeram o ataque com mísseis americanos. O Ministério das Relações Exteriores da Rússia também convocou a embaixa- dora americana na capital rus- sa para consultas. Segundo Moscou, a Ucrânia não consegue realizar sozinha ataques com mísseis de longo alcance ATACMS, como o que foi utilizado no domingo, na Crimeia, já que são necessá- rios especialistas, tecnologia e dados da inteligência america- na para utilizá-lo. Segundo o Exército russo, os ucranianos dispararam cinco mísseis no domingo e quatro deles foram derrubados perto de Sebastopol, cidade portuá- ria que abriga o quartel-general da frota russa no Mar Negro. Pe- lo menos quatro pessoas morre- ram, entre elas, duas crianças, segundo as autoridades locais estabelecidas pela Rússia. Washington e Europa come- çaram a autorizar Kiev a em- pregar armas ocidentais para atacar alvos militares em terri- tórios russos utilizados para bombardear a Ucrânia. Em res- posta, o presidente russo, Vla- dimir Putin, ameaçou entre- gar armas a inimigos das potên- cias ocidentais para que atin- jam seus interesses em outras regiões do mundo. l AFP e AP Parentes de vítimas dos ataques de 7 de outubro do Ha- mas a Israel processaram, ontem, a agência da ONU para os refugiados palestinos, alegando que ela facilitou o massacre, segundo documentos da Justiça. Em resposta, o chefe da agência, Philippe Lazzarini, um dos demandados, disse que Israel “tem de encerrar sua campanha contra” o organismo. l Ataques de 7 de outubro Condenado à morte é inocentado após 47 anos DENIS BALIBOUSE/REUTERS–30/4/2024 Depois de quase 47 anos, o Tribunal de Apelações Crimi- nais do Texas, nos EUA, inocentou Kerry Max Cook, de 68 anos, do assassinato de Linda Jo Edwards em 1977, crime pelo qual passou 20 anos no corredor da morte. O caso teve três julgamen- tos e vários recursos. Segundo o juiz, ele era repleto de alega- ções de má conduta do Estado que justificaram sua anulação. l EUA Ativos Um total de R$ 1,7 trilhão da Rússia foi congelado em todo o mundo após invasão da Ucrânia Na Rússia, chancelaria convoca embaixadora dos EUA para consultas após ataque ucraniano com arma americana UE libera R$ 8 bi em juros de ativos russos para Ucrânia A guerra de Putin TERÇA-FEIRA, 25 DE JUNHO DE 2024 INTERNACIONAL A11 O ESTADO DE S. PAULO INÊS 249 No início do mês, o Supremo Tribunal Federal (STF) fixou prazo de 18 meses para que o Congresso elabore uma lei para regulamentar a explora- ção de recursos no Pantanal. A Corte considerou que o Legislativo tem sido omisso na proteção do bioma. Presidente da Frente Par- lamentar em Defesa do Pan- tanal, a deputada Camila Ja- ra (PT-MS) protocolou sema- na passada um projeto para instituir uma lei para o bio- ma. A expectativa é de que a Câmara vote a urgência do PL ainda neste semestre, a depender do início do reces- so parlamentar. A proposta prevê delimitar a área do Pantanal, abrangendo toda a bacia do Alto Paraguai, a cha- mada superfície aluvial. O texto sugere ainda ex- pandir a área protegida para 30% por meio de novas unida- des de conservação ou am- pliação da reserva legal. Tam- bém fala em recuperar até 30% das áreas degradadas até 2030. No caso das queimadas, o PL obriga os municípios pan- taneiros a terem planos de manejo do fogo, e que os Es- tados tenham sistemas de monitoramento de incên- dios, procedimento de alerta à população, entre outros pontos. A parlamentar ainda fez um “mea culpa” das res- ponsabilidades do Congres- so Nacional, que, segundo ela, demonstra “falta de com- preensão da realidade” ao remanejar recursos orçamen- tários do meio ambiente pa- ra outras áreas. l PAULA FERREIRA BRASÍLIA O Pantanal registrou recorde de incêndios em junho após no- vas falhas de prevenção de queimadas pela gestão Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que já havia sido alvo de críticas em 2023por causa do avanço de queimadas nesse bioma e na Amazônia. O planejamento do Ministério do Meio Ambien- te não funcionou e a pasta ad- mite que precisou antecipar em dois meses sua estratégia de resposta ao problema. Para especialistas, é preciso preparo para eventos climáti- cos extremos, cada vez mais in- tensos e frequentes com o aquecimento global. O gover- no precisa correr para recom- por a verba da pasta diante do orçamento insuficiente e tirar do papel às pressas um pacto assinado com Estados no iní- cio do mês na tentativa de não repetir as crises passadas. NÚMEROS. O número de focos de fogo chegou a 2.363 até 24 de junho. O total é quase seis vezes maior do que os 406 fo- cos registrados em todo o mês de junho de 2020, pior ano em incêndios para a região, que fi- cou devastada. “Esse cenário já era previsto e as ações de pre- venção não foram feitas de ma- neira correta”, afirma Gustavo Figueirôa, diretor do S.O.S Pantanal. O Ibama dispõe de 2.108 bri- gadistas e o ICMBio (órgão fe- deral responsável pelas unida- des de conservação) tem 913 em todo o País. As equipes, em geral, são contratadas de for- ma temporária para emergên- cias. O plano do governo é au- mentar para 4 mil brigadistas ainda este ano, mas não há cro- nograma para a chegada des- ses profissionais. No Pantanal, atuam hoje 300 brigadistas do Ibama e ao menos 48 do ICM- Bio. A simplificação do contra- to desses profissionais foi anunciada pelo governo no iní- cio do mês, mas até agora o te- ma não foi detalhado. Conforme dados do Ministé- rio do Meio Ambiente, em 2023 o Ibama executou R$ 82,9 milhões em ações de preven- ção e combate a incêndios flo- restais, quase o valor total dos R$ 83 milhões previstos no or- çamento. Para 2024, a verba prevista é de R$ 84,4 milhões. O Estadão apurou que o Pla- nalto já aprovou internamente uma recomposição da ordem de R$ 100 milhões para o Mi- nistério do Meio Ambiente, que deve voltar para o orça- mento da pasta em breve. No ano passado, o Congresso ha- via cortado parte do orçamen- to proposto pelo Executivo. Os parlamentares aprova- ram, por exemplo, corte de R$ 25 milhões no ICMBio em com- paração com o montante envia- do pelo governo no projeto de lei orçamentária (R$ 875,6 mi- lhões). Para o Ibama, o gover- no propôs R$ 1,885 bilhão, e o Congresso aprovou R$ 12 mi- lhões a menos. O governo tem debatido ainda a possibilidade de crédito extraordinário para o Pantanal. A reportagem questionou o governo. A ministra do Planeja- mento e Orçamento, Simone Tebet, afirmou ontem que o li- mite para conceder créditos ex- traordinários para combater os incêndios no Pantanal será o “necessário”. Ela estimou ainda que os valores serão “in- finitamente menores” do que os recursos utilizados para atender à crise do Rio Grande do Sul no mês passado. Tebet esteve no Palácio do Planalto ao lado da ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, e do ministro da Integração e do De- senvolvimento Regional, Wal- dez Góes. Os ministros vão pa- ra Corumbá na sexta. Amanhã, a Junta de Execução Orçamen- tária, que reúne Planejamen- to, Casa Civil, Fazenda e Ges- tão, deve discutir o crédito ex- traordinário para o bioma. O PACTO. O pacto assinado por Lula neste mês envolve dez Es- tados que abrigam Pantanal e Amazônia (Mato Grosso, Ma- to Grosso do Sul, Pará, Amazo- nas, Maranhão, Tocantins, Acre, Amapá, Roraima e Ron- dônia) na tentativa de frear o problema. Entre as medidas previstas estão criar bases pa- ra coordenar ações e a contra- tação de brigadistas. Para superar o agravamento das queimadas, a pasta prevê criar, até semana que vem, duas bases no Pantanal. Uma será em Corumbá, município com mais focos de incêndio. Neste fim de semana, enquan- to a cidade realizava a festa de São João, uma larga trilha de fogo se alastrava na margem oposta do Rio Paraguai, a pou- cos quilômetros de distância. Já a outra base deve ser em Poconé, mas o local ainda está sob análise. As unidades reuni- rão representantes de Ibama, ICMBio, Forças Armadas e Bombeiros. Como parte do pacto, governo federal e Esta- dos se comprometem a definir áreas prioritárias para preven- ção, manejo e combate ao fo- go. Um ponto que saiu do pa- pel é a suspensão de autoriza- ções de queima durante a seca, o que já foi feito por Mato Gros- so do Sul, para evitar queima- das descontroladas. O gover- no sul-mato-grossense tam- bém decretou ontem situação de emergência no Estado. “Ninguém está parado fazen- do plano enquanto o fogo está ‘comendo’. Temos equipes nas pontas, estamos aumen- tando a contratação de briga- distas, comprando equipamen- tos, aeronaves. O que quere- mos é botar isso em documen- to único, plano integrado ope- rativo de combate aos incên- dios no Pantanal”, afirmou ao Estadão o secretário extraor- dinário de Controle de Desma- tamento do ministério, André Lima. “Depois ainda tem Ama- zônia, onde a situação começa a se agravar a partir de agosto.” TURFA E AQUECIMENTO GLO- BAL. O Pantanal também tem a queimada subterrânea em cur- so, o chamado incêndio em “turfa”. Ela é um material orgânico decorrente da decom- posição da vegetação e sua queima é de difícil controle por ocorrer sob a terra. Essa destruição é agravada pelo aquecimento global e por fenômenos já esperados, co- mo El Niño e La Niña, que po- tencializam secas nos dois bio- mas. Pela primeira vez, a Agên- cia Nacional de Águas (ANA) declarou situação de escassez hídrica na bacia do Rio Para- guai até 31 de outubro. “Estão principalmente quei- mando as áreas que antigamen- te eram brejos, áreas alagadas. Essas áreas estão muito vulne- ráveis e são mais remotas, on- de não há estrada e facilidade logística para fazer o comba- te”, diz o biólogo Fernando Tortato, coordenador de proje- tos da ONG Panthera. Segun- do ele, houve melhora nas ações preventivas, “mas não são suficientes”. Para Figueirôa, a prevenção deveria ter sido mais intensa. Ele afirma que, mais do que res- ponder com rapidez às queima- das, é preciso criar um ambien- te prévio de redução de danos. “Essa necessidade a gente está vendo na prática.” Para ele, as autoridades deve- riam ter aperfeiçoado o mane- jo integrado do fogo, abrindo aceiros – uma espécie de trin- cheira rasa – para dar acesso a brigadistas. Outra frente que deveria ter sido priorizada é a abertura prévia de pontos de captação de água nas áreas mais críticas. Por fim, há a questão da educação ambien- tal, “para que as pessoas pa- rem de botar fogo”, como aler- ta Figuerôa. l Congresso deve discutir neste ano uma lei específica para o bioma Alta de incêndios no Pantanal preocupa especialistas FONTE: PROGRAMA DE QUEIMADAS DO INPE / INFOGRÁFICO: ESTADÃO QUEIMADAS 2.534 371 571 167 3.262 406 98 115 77 2.363 Focos de incêndio em junho Focos de incêndio de janeiro a junho 2020 2021 2022 2023 2024* 2020 2021 2022 2023 2024* *ATÉ O DIA 24 DE JUNHO (PARA AMBOS OS DADOS) Recorde de fogo no Pantanal expõe falhas na prevenção do governo Lula Especialistas alertam para eventos climáticos extremos mais frequentes; governo diz contratar mais brigadistas e fará amanhã análise conjunta de crédito extraordinário Ambiente Escassez hídrica Destruição é agravada pelo aquecimento global e por fenômenos já esperados, como El Niño e La Niña A12 METRÓPOLE TERÇA-FEIRA, 25 DE JUNHO DE 2024 O ESTADO DE S. PAULO INÊS 249 NOTAS E INFORMAÇÕES Após mais de dois meses de agonia, foi anunciado, enfim, o encerramento da gre- ve nacional dos professores das universi- dades federais. O único sindicato que ain- da resistia – Andes – comunicou no do- mingo que a maioria de suas instituições filiadas op- tou pelo término da paralisação, consumando um mo- vimento