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SP O Estado de S Paulo 250624

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C2. Cultura & Comportamento, 
A fundo
Carlos Andreazza __ A8
Política 
de Estado 
Caderno A. Opinião, Política, Internacional, Metrópole, Saúde, Esportes, Para fechar...
E&N. Destacar Economia & Negócios 
F U N D A D O E M 1 8 7 5 
J U L I O M E S Q U I T A ( 1 8 6 2 — 1 9 2 7 )
Eliane Cantanhêde __ A7
Cuca e Diniz deixam Athletico 
Paranaense e Fluminense 
Dança dos técnicos __ A16
estadão.com.br
Veredicto: o sistema 
não tem culpa
INSS revisará 800 mil benefícios 
para cortar gasto e atender TCU 
15° Mín. 18° Máx.
Notas e Informações __ A3Uma força-tarefa do 
Instituto Nacional 
do Seguro Social 
(INSS) deve fazer 
até o fim do ano cerca de 800 mil 
perícias presenciais do Benefí-
cio por Incapacidade Temporá-
ria, o antigo auxílio-doença, e do 
Benefício de Prestação Conti-
nuada (BPC), pago a idosos e 
pessoas de baixa renda com defi-
ciência, afirmou ao Estadão o 
presidente do INSS, Alessandro 
Stefanutto. O objetivo é atender 
a exigências do Tribunal de Con-
tas da União (TCU) – que cobra 
do governo revisões periódicas 
de benefícios, como determina 
a lei – e contribuir para a revisão 
de gastos obrigatórios da União. 
Stefanutto estima que, caso me-
tade dos benefícios seja conside-
rada indevida, uma média quan-
do se faz esse tipo de reavalia-
ção, a revisão representaria cor-
te de R$ 600 milhões por mês 
nos gastos federais. Esse tipo de 
ação ganhou força após os sinais 
de esgotamento no Congresso 
das medidas arrecadatórias.
Chefe do instituto diz que despesa pode cair R$ 600 milhões por mês 
Tempo em SPEdição de hoje
3 CADERNOS – 44 páginas
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OAB sugere aumento da car-
ga horária mínima presen-
cial nos cursos e diminuição 
do modo a distância.
Novas regras para 
cursos de Direito 
podem restringir 
ensino a distância 
Graduação __ A13
O avanço
da jogatina
Brasil empata sem gols com a 
Costa Rica e frustra torcida 
Magazine Luiza faz 
parceria comercial 
com o AliExpress; 
ações sobem 
E&N Varejo online __ B16
Ministério quer
incluir carro 
elétrico no 
‘imposto do pecado’
E&N Culpa da bateria __ B7
E&N Despesas federais __ B1
Nos 30 anos do Plano Real, uma reunião de ideias
‘Pente-fino em benefício não 
deve gerar grande economia’
Entrevista: Jeferson Bittencourt __ B5
Após 14 anos __ A9
Assange faz acordo com os EUA, 
deixa prisão e sai do Reino Unido
O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, concordou em se 
declarar culpado de uma única acusação de crime de dissemina-
ção ilegal de material de segurança nacional. Em troca, conse-
guiu sua libertação de uma prisão britânica. O WikiLeaks infor-
mou no X que ele deixou o Reino Unido ontem.
Na Região Nordeste, o 
crescimento chegou a 
60%. Somente no Piauí, o 
aumento foi de 111%. O 
governo diz não saber a 
causa desse alto volume 
de pedidos. __ B2
Pedidos de BPC sobem 
40% em seis meses 
VINICIUS DOTI / FUNDAÇÃO FHC
Especialistas recomendam 
mais verba e efetivação de pac-
to assinado com Estados. To-
tal de focos é quase seis vezes 
maior do que o de junho de 
2020, pior ano em incêndios.
Fogo recorde 
no Pantanal 
expõe falhas do 
governo federal 
na prevenção
Queimadas __ A12
Copa América __ A15
AliExpress atuará como vende-
dor do marketplace do Magalu. 
Juntas, plataformas têm 700 
milhões de visitas mensais. 
Pasta do Desenvolvimento 
alega que as baterias, a maio-
ria vinda da China, têm forte 
pegada de carbono.
2.363
É o número de focos de fogo 
registrados no Pantanal 
em junho, até ontem
Captação da empresa paulis-
ta de saneamento é estima-
da em cerca de US$ 3 bilhões 
(cerca de R$ 16,2 bilhões).
Oferta de ações da 
Sabesp deve ser a 
quinta maior do 
mundo no ano
E&N Privatização __ B14
Persio Arida, Pedro Malan e Gustavo Franco com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em SP; economistas destacaram 
como legado do plano o foco na responsabilidade fiscal, além do controle da inflação. FHC também foi visitado por Lula.__ A8, B8 e B9
Terça-feira 25 de JUNHO de 2024 l R$ 7,00 l Ano 145 l Nº 47733
A2
TERÇA-FEIRA, 25 DE JUNHO DE 2024
O ESTADO DE S. PAULO
l CLAREZA. “É preciso fortalecer 
os órgãos de combate à lavagem 
de dinheiro, regular e organizar a 
informação. Hoje não há regra 
clara sobre como usar dados do 
Coaf, por exemplo, e muitas in-
vestigações terminam anula-
das”, destacou Pierpaolo Bottini. 
l PREOCUPAÇÃO. “Criamos um 
comitê e definimos que a melhor 
estratégia seria estudar de onde 
vem e para onde vai o dinheiro 
do crime organizado. A atual in-
segurança é uma barreira ao cres-
cimento econômico e à vinda de 
investidores estrangeiros”, res-
saltou Camila Funaro Camargo 
Dantas, CEO da Esfera Brasil. 
l INCENTIVO. O BNDES aprovou 
o primeiro financiamento do Fi-
name Direto. São R$ 23 milhões 
para a Mil Madeiras Preciosas, es-
pecializada em manejo sustentá-
vel. “O banco está empenhado 
em identificar gargalos da cadeia 
produtiva voltada à economia da 
floresta”, disse a diretora so-
cioambiental, Tereza Campello. 
l PERSISTÊNCIA. O deputado fe-
deral Kim Kataguiri (União 
Brasil) disse à Coluna que man-
terá a pré-candidatura à Prefei-
tura de São Paulo e levará seu 
nome à convenção municipal 
do partido. O congressista afir-
mou que só recuará se a chan-
ce de vencer a disputa interna 
na legenda “se tornar zero”. 
l SEI NÃO. Kim disse desconhe-
cer planos do União para ele ser 
o candidato em 2028. No sábado 
passado, o presidente municipal 
do partido, Milton Leite, confir-
mou à Coluna apoio à reeleição 
de Ricardo Nunes e falou em pro-
jetos futuros para o deputado. 
l PRAZOS. O Conselho de Ética 
deve votar o processo de cassa-
ção do deputado Chiquinho Bra-
zão em setembro. Até lá, a estima-
tiva é de que a Câmara gaste pelo 
menos R$ 400 mil em salários pa-
ra ele e os funcionários de seu ga-
binete. Preso desde março e réu 
no STF, o deputado é acusado de 
mandar matar Marielle Franco. 
l QUEIXA. O Sindicato dos Quími-
cos do ABC protocolou denún-
cia contra a Basf, ontem, no Gabi-
nete Federal de Economia e Con-
trole de Exportação da Alema-
nha. Os trabalhadores acusam a 
empresa de riscos a saúde e segu-
rança e exigem pagamento de 
adicional de periculosidade. 
l OUTRO LADO. A Basf – multina-
cional alemã – afirma não ter co-
nhecimento da denúncia no exte-
rior. Também ressalta que a segu-
rança dos colaboradores é “um 
valor inegociável” e alega que faz 
o pagamento do adicional com 
base em laudo que aponta as 
áreas que oferecem risco. 
PRONTO, FALEI!
Marconi Perillo 
Presidente nacional do PSDB
“Achei a visita de Lula civilizada 
e um reconhecimento ao papel 
do Plano Real para o País. Fer-
nando Henrique é o maior esta-
dista vivo da América Latina.”
Crime organizado avança em 
áreas lícitas e empresários vão 
sugerir ações ao governo Lula
A
atuação do crime organizado no Brasil já passa por 
pelo menos 21 atividades, incluindo setores lícitos 
da economia – como transporte público, mercado 
imobiliário, mineração e exploração de madeira. 
Estudo realizado pela Esfera Brasil, em parceria com o Fó-
rum Brasileiro de Segurança e consultoria do advogado 
criminalista Pierpaolo Bottini, seguiu o caminho do di-
nheiro e sugere ao governo Lula cinco ações, que também 
dependem do Congresso. A Coluna teve acesso aos dados 
que serão divulgados hoje. O grupo pede ampliação e forta-
lecimento do Conselho de Controle de Atividades Finan-
ceiras (Coaf ); implantação do SUS da segurança; aprova-
ção da Lei de Proteção de Dados de Interesse da Segurança 
Pública; regulamentação de apostas e dos criptoativos. 
FOTO:DIVULGAÇÃO PAULO SERGIO ARISI
CLICK
Tomás Paiva
Comandante do Exército
Encontrou a antropóloga Barba-
ra Maisonnave Arisi, em Atalaia 
do Norte, na tríplice fronteira. 
Eles falaram da segurança dos 
povos isolados do Vale do Javari. 
por Kleber Sales
ROSEANN KENNEDY
TWITTER: @COLUNADOESTADAO
COLUNADOESTADAO@ESTADAO.COM
ESTADAO.COM.BR/POLITICA/COLUNA-DO-ESTADAO
PierpaoloBottini, advogado criminalista
COM EDUARDO GAYER E AUGUSTO TENÓRIO
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INÊS 249
O ESTADO DE S. PAULO
Publicado desde 1875 
A lheia à realidade do País, a 
Comissão de Constituição 
e Justiça (CCJ) do Senado, 
tendo o senador Davi Alco-
lumbre (União-AP) à fren-
te, aprovou há poucos dias o projeto de 
lei (PL) que autoriza a exploração de 
jogos de azar em todo o território nacio-
nal. Inclusive, e sobretudo, o jogo do 
bicho, que é explorado há muitas déca-
das, como se sabe, por alguns dos crimi-
nosos mais sanguinários do Brasil – ain-
da que sobre eles se projete uma aura 
fajuta de “benfeitores sociais”, “agita-
dores culturais” ou coisa que o valha.
A bem da verdade, houve resistência 
no colegiado ao fortíssimo lobby pela 
aprovação do PL da Jogatina. O aperta-
do placar de votação na CCJ – 14 votos 
favoráveis e 12 contrários – indica que o 
tema não é consensual entre os senado-
res e que a tramitação do texto, aprova-
do pela Câmara dos Deputados em feve-
reiro de 2022, não deverá ter vida fácil 
no plenário do Senado. É o que este jor-
nal espera que aconteça.
Poucas propostas legislativas se 
apresentam tão frontalmente contrá-
rias ao melhor interesse público do que 
a legalização dos jogos de azar no País, 
principalmente nessa quadra histórica 
em que o poder do Estado tem sido ain-
da mais confrontado por organizações 
criminosas cada vez mais poderosas – 
bélica e financeiramente –, ousadas e 
diversificadas.
Recentemente, o jornal O Globo mos-
trou como o Comando Vermelho (CV), 
o Primeiro Comando da Capital (PCC) 
e a cúpula do jogo do bicho no Rio de 
Janeiro, liderada pelo notório bicheiro 
Rogério Andrade, têm usado as platafor-
mas de apostas esportivas, as chama-
das “bets”, para lavar dinheiro oriundo 
de suas atividades delitivas e ainda ma-
ximizar seus lucros espúrios. Conve-
nhamos: era evidente que essas organi-
zações criminosas, mais cedo ou mais 
tarde, avançariam sobre as tais “bets” – 
uma excrescência por si sós num país 
onde a jogatina, convém lembrar, ainda 
é ilegal.
Ora, se isso já acontece com o bilio-
nário, porém circunscrito, mercado 
das “bets”, qualquer cidadão de bom 
senso haverá de supor que a legalização 
dos jogos de azar, com a instalação de 
cassinos País afora, só ampliará de for-
ma exponencial as possibilidades de 
ação daquelas verdadeiras máfias. Ou a 
alguém ocorre que empresários legíti-
mos e honestos do setor de turismo e 
entretenimento terão desejo e cora-
gem de “concorrer”, por assim dizer, na 
exploração da jogatina com empresas 
de fachada controladas pelo PCC, pelo 
CV ou pela cúpula do jogo do bicho do 
Rio, por exemplo? Haja ingenuidade.
No melhor cenário para a sociedade 
brasileira, o PL da Jogatina seguirá co-
mo uma espécie de fantasma a vagar 
pelos escaninhos do Congresso, como 
sói acontecer há três décadas, sempre à 
espreita para ameaçar, de tempos em 
tempos, colocar o País à beira de um 
abismo moral, social e institucional.
São sobejamente conhecidos os ter-
ríveis danos que a jogatina provoca no 
seio familiar e, como consequência, na 
sociedade como um todo. Mas o óbice 
moral, por mais expressivo que seja, 
não é o único nem o mais premente 
interdito a esse projeto desestabiliza-
dor. Ao fim e ao cabo, está-se tratando 
de uma lei que abrirá uma avenida para 
o enriquecimento ilícito de alguns pou-
cos à custa do bem-estar econômico e 
social da coletividade. 
A ladainha que acompanha as discus-
sões sobre a legalização dos jogos de 
azar no Brasil – o mesmo país em que 
metade da população não tem acesso a 
esgotamento sanitário em pleno século 
21 – é tão velha quanto a tramitação do 
projeto. Seus defensores alegam que a 
instalação de cassinos estimularia o tu-
rismo e criaria milhares de empregos, 
abarrotando o Tesouro com os recur-
sos advindos da tributação dos jogos. A 
ninguém ocorre ressaltar, por ig-
norância ou má-fé, o outro lado dessa 
moeda, qual seja, a abertura de inúme-
ras novas possibilidades de atuação do 
crime organizado.
O relator do PL da Jogatina na CCJ 
do Senado, Irajá Abreu (PSD-TO), ale-
gou que “os jogos já são uma realidade” 
no País, de modo que seria esperado, e 
até inteligente, passar a taxar os explo-
radores e os explorados pelo vício a fim 
de gerar receitas para o Estado. Subjaz 
a essa ideia genial, ora vejam, a capitula-
ção diante de um problema que há de 
ser corrigido, não agravado.l
NOTAS E INFORMAÇÕES
AMÉRICO DE CAMPOS (1875-1884)
FRANCISCO RANGEL PESTANA (1875-1890)
JULIO MESQUITA (1885-1927)
JULIO DE MESQUITA FILHO (1915-1969)
FRANCISCO MESQUITA (1915-1969)
LUIZ CARLOS MESQUITA(1952-1970)
JOSÉ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1988)
JULIO DE MESQUITA NETO (1948-1996)
LUIZ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1997)
RUY MESQUITA (1947-2013)
CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
PRESIDENTE 
ROBERTO CRISSIUMA MESQUITA
MEMBROS
FRANCISCO MESQUITA NETO
JÚLIO CÉSAR MESQUITA
LUIZ CARLOS ALENCAR
RODRIGO LARA MESQUITA
DIRETOR PRESIDENTE 
FRANCISCO MESQUITA NETO
DIRETOR DE JORNALISMO
EURÍPEDES ALCÂNTARA
DIRETOR DE OPINIÃO
MARCOS GUTERMAN 
DIRETORA JURÍDICA 
MARIANA UEMURA SAMPAIO
DIRETOR DE MERCADO ANUNCIANTE
PAULO BOTELHO PESSOA
DIRETOR FINANCEIRO
SERGIO MALGUEIRO MOREIRA
O avanço 
da jogatina
Projeto aprovado na CCJ do Senado legaliza até o jogo do bicho,
notória lavanderia de dinheiro de criminosos sanguinários, o
que deixa claro seu caráter absolutamente deletério para o País
AAmérica Latina é a região 
mais violenta do mundo. 
Com 9% da população 
mundial, ela registra mais 
de um terço dos homicí-
dios. Além das vidas ceifadas e traumas 
sociais, a violência implica perdas eco-
nômicas. Gastos que poderiam ser in-
vestidos em atividades produtivas ou 
assistência social são consumidos pela 
segurança. Segundo o Banco Interame-
ricano de Desenvolvimento, a violên-
cia custa 3,6% do PIB dos países latino-
americanos, duas vezes mais que nos 
países desenvolvidos e o equivalente 
aos gastos da região com infraestrutu-
ra ou à renda dos 30% mais pobres. Isso 
sem contar os custos colaterais: menos 
empregos, mais emigração, erosão das 
instituições e corrupção. O crime agra-
va a pobreza e a pobreza incentiva o 
crime. Uma série do Estadão investi-
gou exemplos e contraexemplos de co-
mo reverter essa espiral viciosa.
Entre os últimos está El Salvador. 
Não se pode dizer que a política de ma-
no dura do presidente Nayib Bukele se-
ja ilusória, ao menos não a curto prazo. 
As taxas de homicídios caíram a níveis 
europeus. Mas ela é insustentável e não 
serve de modelo a outros países.
Constituições democráticas pre-
veem estados de exceção e a suspensão 
de liberdades civis em meio a calamida-
des como a violência aguda. Mas, para 
serem justificadas e eficazes, essas me-
didas precisam ter um prazo curto, nun-
ca violar direitos fundamentais, basea-
rem-se nas evidências da ciência crimi-
nal, contar com uma mobilização nacio-
nal para restringir abusos e um plano 
robusto de retorno à normalidade.
Nada disso está sendo observado 
em El Salvador. O estado de emergên-
cia decretado em 2022 deveria durar 30 
dias, mas é reeditado todo mês. A histó-
ria mostra que a perpetuação de esta-
dos de exceção é contraproducente e 
reforça as dinâmicas que visam a com-
bater. A deterioração do Estado de Di-
reito afasta investidores e incentiva a 
corrupção e a organização das gangues. 
O superencarceramento transforma 
os presídios em quartéis-generais do 
crime. Franquear a segurança pública a 
militares não treinados para isso acar-
reta violações a direitos humanos, cor-
rupção e infiltração do crime.
El Salvador já tentou políticas de ma-
no dura antes e a recidiva foi pior. De 
resto, a violência lá é produto de gan-
guesque extorquem comunidades lo-
cais. Mas as grandes alavancas da vio-
lência na América Latina são organiza-
ções criminosas transnacionais mais 
estruturadas, ricas e municiadas. Em 
Honduras, que ocupa uma posição-cha-
ve na rota do narcotráfico, a replicação 
do “método Bukele” nem sequer produ-
ziu um alívio momentâneo.
Uma vez que um vespeiro está for-
mado, não é inteligente debelá-lo com 
uma pancada. Uma estratégia mais pa-
ciente, orgânica e multifatorial é ne-
cessária para enfrentar o crime organi-
zado. A repressão ostensiva aos indiví-
duos mais brutais, uma tática conheci-
da como “dissuasão focada”, pode 
amainar situações de violência extre-
ma. Mas só operações de inteligência 
e asfixia financeira logram um des-
mantelamento eficaz das organiza-
ções criminosas.
A Colômbia, por exemplo, ainda 
tem muito a fazer no combate ao cri-
me. Mas em uma geração ela reduziu as 
taxas de homicídio de calamitosas para 
“normais”, ao menos para a América 
Latina. Medellín, em especial, conside-
rada a cidade “mais violenta do mun-
do” na época de Pablo Escobar, alcan-
çou o menor nível de violência em 40 
anos, em parte por táticas de dissuasão 
focadas para desencorajar os chefes 
das facções a atos violentos e promo-
ver pacificações entre eles.
Essa estratégia tem limites. As 
tréguas reduzem a violência a curto pra-
zo, mas, a longo, permitem às facções 
se consolidarem. Além de policiamen-
to focado nas zonas mais perigosas e 
investimentos em capacidade investi-
gativa, Medellín promoveu a reapro-
priação do espaço público pela popula-
ção, programas sociais e educacionais 
para reduzir incentivos dos jovens ao 
crime e o fortalecimento do Judiciário.
No fim, o crime organizado prospe-
ra onde há um vácuo do Estado, e a 
solução definitiva para debelá-lo é o 
Estado reocupar esses espaços, com in-
fraestrutura, serviços, um Judiciário 
eficiente e condições de crescimento 
econômico.l
A chaga da violência na 
América Latina
Situações extremas podem exigir táticas extremas. Mas sem
estratégia multifatorial, elas serão contraproducentes. Estado
precisa reocupar os espaços dominados pelo crime organizado
TERÇA-FEIRA, 25 DE JUNHO DE 2024 A3
INÊS 249
Cobrar não é 
resolver
ESPAÇO ABERTO
P roblemas recorren-
tes são o atestado 
de que a sociedade 
brasileira está mui-
to longe de um está-
gio civilizatório compatível 
com os anseios nacionais. A ca-
tástrofe do Rio Grande do Sul 
mostrou que as mudanças cli-
máticas estão aí. Fenômenos 
semelhantes poderão aconte-
cer em qualquer outro lugar. O 
poder público, por si só, é im-
potente para resolver todas as 
questões.
Primeiro: reverter o está-
gio atual do planeta, esfrian-
do-o, ainda é missão impossí-
vel. Ainda que a emissão de 
dióxido de carbono e dos de-
mais gases e partículas vene-
nosas que empesteiam a at-
mosfera e causam o efeito es-
tufa zerasse hoje, o mundo 
continuaria doente. O acúmu-
lo das emissões demoraria dé-
cadas – ou até séculos – para 
fazer com que a Terra se tor-
nasse novamente saudável.
Existe cobrança da mídia e 
dos órgãos de fiscalização e 
controle. Mas cobrar é insufi-
ciente. Será que o papel desses 
organismos é só exigir, criti-
car e sancionar? É-lhes veda-
do contribuir com propostas 
factíveis?
Algumas situações enseja-
riam uma serena reflexão por 
parte de toda a sociedade. 
Não apenas Ministério Públi-
co, Tribunais de Contas, mí-
dia espontânea. Mas também 
a universidade, o terceiro se-
tor, o empresariado, as asso-
ciações beneméritas, a inteli-
gência e a lucidez brasileira a 
serviço das soluções, muito 
além das reclamações.
Somos pródigos em norma-
tizar. Existe um Plano Munici-
pal de Redução de Riscos 
(PMRR). Sua elaboração tar-
dou porque existem espaços 
em que a Prefeitura não pode 
entrar, porque dominados pe-
la criminalidade organizada. A 
municipalidade ofertou ao Tri-
bunal de Justiça a relação dos 
territórios em que a pesquisa 
foi inviabilizada. Esse docu-
mento está de posse da corte 
bandeirante, acionada pelo Mi-
nistério Público.
Nós, da área jurídica, sabe-
mos bem o que significa o prin-
cípio ad impossibilia nemo tene-
tur. O que fazer para enfrentar 
tal situação?
Profissionais técnicos mu-
nicipais, como engenheiros e 
geólogos, foram hostilizados e 
sofreram com a desconfiança 
da população em alguns luga-
res. Em outros, os voos de dro-
nes foram cancelados, por opo-
sição dos moradores. Será que 
os detratores, os cobradores, 
os fiscalizadores têm algum 
plano B, que enfrente a dificul-
dade da Prefeitura?
Técnicos que foram plantar 
em uma área cinzenta, despro-
vida de verde, também foram 
obstaculizados por pessoas 
que impediram o plantio. Essa 
“ojeriza pelo verde” é mais dis-
seminada do que se possa su-
por. Qual o remédio para isso, 
embora se saiba que a cidade 
de São Paulo perdeu 2 milhões 
de árvores no extremo sul, on-
de está a região dos manan-
ciais mais ameaçados?
Não se desconhece que as 
invasões naquela região onde 
ainda existe resíduo da Mata 
Atlântica exterminam as nas-
centes, destroem a cobertura 
vegetal, constituem concreto 
e grave risco de ocorrência de 
outra crise hídrica, esta mais 
severa do que a de 2014. Qual a 
proposta que a sociedade e 
seus órgãos fiscalizadores ofe-
recem para o município?
A chamada Operação Inte-
grada de Defesa das Águas (Oi-
da) luta com dificuldades de 
efetivo e esbarra na incom-
preensão daqueles que não 
conseguem distinguir a hierar-
quia ontológica do direito à 
moradia, que é fundamental, 
sim, mas se subordina à essen-
cialidade do direito à vida. 
Análise tópica de cada caso, a 
tendência magnânima de pre-
miar quem não tem casa colo-
ca em risco concreto uma le-
gião de seres humanos que fica-
rão sem água. Há porções de 
solo paulistano que são insus-
cetíveis de sediar habitação. 
Muito simples assim.
A cada transigência, a cada 
reconhecimento de “ocupa-
ção consolidada”, a cada tese 
do “fato consumado”, é um nú-
mero incalculável de viventes 
e de nascituros que não terão 
como sobreviver em terras 
paulistanas.
Nas inspeções que os sacrifi-
cados partícipes da Oida fa-
zem aos espaços sob crescente 
e incessante ocupação, com 
empreendimentos irregula-
res, clandestinos e crimino-
sos, verifica-se a redução da 
área verde, imprescindível à 
saúde das nascentes. A conta-
minação do sistema Guarapi-
ranga-Billings já é um fato. Se-
rá insolúvel esse conflito entre 
o direito e a ilicitude? Serão in-
vencíveis os infratores que per-
sistem no extermínio do que 
resta de floresta e na elimina-
ção dos mananciais?
Se a situação atingiu tal está-
gio de inobservância do sofisti-
cado acervo normativo que de-
riva do artigo 225 da Constitui-
ção da República, não seria o 
caso de uma arregimentação 
de todos os interessados e da 
elaboração de algo mais viável 
do que requerer, denunciar, pe-
ticionar, recorrer, reiterar, 
ameaçar, sancionar?
O Plano Preventivo de Chu-
vas de Verão (PPCV) da Prefei-
tura de São Paulo funcionou. É 
iniciativa exitosa. Já a Oida, 
em defesa das águas, precisa 
de reforço. E seria convenien-
te que a atuação tópica das ins-
tituições que demandam se 
conjugasse num projeto abran-
gente, que também propicias-
se os instrumentos imprescin-
díveis ao enfrentamento de 
um perigo concreto, gravíssi-
mo e que afeta a todos.
Denunciar, reclamar, exi-
gir soluções não é o bastante. 
É preciso resolver. Para isso, o 
chamamento à razão e a parti-
cipação de todos, inclusive os 
que não se consideram parte 
do problema, é mais do que 
urgente. l
Festa junina
Uma farra
Nesta semana de festas juninas, 
teremos a quadrilha das princi-
pais figuras dos Três Poderes da 
República viajando a Portugal 
para participar do “Gilmarpaloo-
za” e a quadrilhade parlamenta-
res liberados para as festanças 
em seus Estados. Enquanto is-
so, a quadrilha dos brasileiros co-
muns em todo o País continuará 
lançando balões de insatisfação, 
pulando as fogueiras do dia a dia 
e dançando para pagar suas con-
tas e custear essa farra toda.
Carlos Gaspar
São Paulo
Administração federal
Aparelhamento
O Estadão publicou reporta-
gem mostrando que o atual go-
verno petista está inflacionando 
os quadros das estatais: de janei-
ro de 2023 a março de 2024, 4 mil 
empregados foram contratados 
por empresas e bancos públicos, 
segundo dados da Secretaria de 
Coordenação e Governança das 
Empresas Estatais (23/6, B4 e 
B5). Imaginem a colocação de 
mais de dez petistas ou aliados 
por dia, sem concurso, nos qua-
dros das estatais. Alguém tem al-
guma dúvida de que o PT está no-
vamente aparelhando a adminis-
tração federal e de que este é o 
principal motivo para o partido 
ser contra as privatizações? Avi-
sem ao ministro Fernando Had-
dad que equilibrar as contas pú-
blicas passa pela redução de des-
pesas, e não apenas pelo aumen-
to de impostos. Parece que o PT 
não colabora muito para isso.
Carlos Alberto Duarte
São Paulo
Estado inchado
Não demorou muito, e em 15 me-
ses de governo petista 4 mil em-
pregos foram criados para aten-
der os companheiros. Está aí 
uma das razões que levam o PT a 
defender o Estado inchado. Pri-
meiro eles, depois o País.
Mário Cobucci Júnior
São Paulo
Poder
Lula repete gestões anteriores do 
PT e infla quadros das estatais (Es-
tadão, 23/6). Oh, que novidade! 
Francamente, não temos mais 
de julgar Lula nem o PT, que sem-
pre foram assim. Temos é de ape-
lar para quem vota neste tipo de 
governo que não quer governar, 
quer apenas poder para susten-
tar sua ideologia retrógrada.
Roberto Moreira da Silva 
Cotia
‘Era do clima’
Desafios urbanos
Para o sucesso dos Dez caminhos 
para melhorar a cidade (Esta-
dão, 23/6, C6 e C7), é fundamen-
tal que sua implantação se dê a 
partir de projetos de reconfigu-
ração viária bem elaborados, em 
conformidade com as normas 
técnicas e a legislação, com 
obras que ampliem fisicamente 
as calçadas e diminuam as pis-
tas, mantendo o nível de ambas 
diferenciado, ao invés das inefi-
cientes intervenções com pintu-
ra da pista e colocação de vasos 
decorativos. Também é preciso 
evitar a distorção das medidas 
propostas, como o que vem ocor-
rendo com os parklets, que se 
transformaram em camarotes e 
puxadinhos de maus bares, apro-
priando-se do espaço público e 
estrangulando, quando não im-
pedindo, o uso das calçadas pe-
los pedestres.
Jaques Mendel Rechter 
São Paulo
Redes sociais
Crianças em risco
O editorial O risco das redes sociais 
para crianças (Estadão, 23/6, A3) 
trata de um tema que merece a 
atenção de todos que se preocu-
pam com a formação e o desen-
volvimento integral de nossas 
crianças e adolescentes. É preci-
so identificar benefícios, malefí-
cios, vantagens e desvantagens e 
encontrar o equilíbrio e a justa 
medida na liberação dos usos 
dos recursos tecnológicos pos-
tos à nossa disposição. Estudos e 
pesquisas sobre os efeitos de in-
ternet, telas, celulares e mídias 
sociais sobre a saúde e a educa-
ção de crianças e adolescentes in-
dicam a necessidade de engaja-
mento, intervenção, controle e 
proteção dos responsáveis pelo 
desenvolvimento saudável de 
nossos filhos, netos e alunos. O 
grande desafio é assegurar a jus-
ta medida entre a repressão e a 
liberação geral. Não podem ser 
ignorados os sinais de alerta dian-
te dos quadros de ansiedade, de-
pressão, agressividades, trans-
tornos mentais e dependências 
que ocorrem entre nossas crian-
ças e adolescentes. De nada 
adianta demonizar ou adotar 
uma atitude negacionista. O ca-
minho do meio e do equilíbrio 
diante da tecnologia é a atitude 
mais sensata. Reconhecer a im-
portância das plataformas digi-
tais e colocá-las a nosso favor faz 
parte do esforço conjunto das fa-
mílias e das escolas para prote-
ger, educar, cuidar e salvar nos-
sas crianças e adolescentes. Que 
saibamos enfrentar e vencer este 
baita desafio.
João Pedro da Fonseca
São Paulo
O Estado reserva-se o direito de selecionar e resumir as cartas. 
Correspondência sem identificação (nome, RG, endereço e telefone) será desconsiderada l E-mail: forum@estadao.comFÓRUM DOS LEITORES
José Renato Nalini
REITOR DA UNIREGISTRAL, DOCENTE DA 
PÓS-GRADUAÇÃO DA UNINOVE, É 
SECRETÁRIO-EXECUTIVO DAS MUDANÇAS 
CLIMÁTICAS DE SÃO PAULO
A cada reconhecimento
de ‘ocupação consolidada’,
é um número incalculável
de viventes e nascituros
que não terão como
sobreviver em terras
paulistanas
A4 O ESTADO DE S. PAULO
TERÇA-FEIRA, 25 DE JUNHO DE 2024
INÊS 249
l “Tem que garimpar bem, a maioria das lo-
jas vende discos a preços absurdos.”
DANILO OLIVEIRA
l “Isso não passa de modismo nostálgico. 
Streaming continua sendo a opção mais 
prática e econômica.”
DIONATH LUZ
l “O segredo é procurar nos sebos, onde ain-
da se acha num preço menos ruim.”
ALLAN DIAS
l “Depois do advento do streaming, não 
quero nunca mais ouvir LP.”
MARCOS GUGEF
Pesquisa recente, divulgada pela Pro-
Música Brasil, revelou aumento no faturamen-
to das vendas de discos de vinil em 2023 em rela-
ção a 2022, chegando a R$ 11 milhões – maior, 
claro, que o já capenga comércio de CDs. l 
‘O Brasil é um deserto de homens e ideias’
Comentários de leitores no 
portal e nas redes sociais
‘Conectado’: assine e co-
mece o dia bem informado. l
https://bit.ly/3K6DaB3
PRODUTOS DIGITAIS
O monólito brilhante que 
apareceu em Las Vegas. l
https://l1nq.com/2GLDG
Crescimento da econo-
mia solar vai mudar o mundo. l
https://l1nq.com/owkli
ESPAÇO ABERTO
O comentário so-
bre o Brasil de 
Oswaldo Aranha, 
feito há cem 
anos, continua 
atual. A falta de liderança no go-
verno, no Congresso, no meio 
empresarial e na sociedade civil 
em geral torna difícil pensar um 
Brasil acima de interesses parti-
dários, particulares e setoriais. 
A divisão política interna e a po-
larização de opiniões impedem 
que se discuta e, muito menos, 
que se forme consenso sobre 
um projeto nacional ou sobre a 
relevância do Brasil no mundo, 
suas prioridades e vulnerabilida-
des, com uma visão estratégica 
de médio e longo prazo.
A tarefa ainda é mais compli-
cada não só pelas dificuldades 
internas, mas sobretudo por-
que o mundo passa por rápidas 
transformações com a emergên-
cia de uma nova ordem interna-
cional. Na economia global, as 
regras são colocadas de lado e 
prevalecem o poder e interesses 
dos países individualmente con-
siderados, com ênfase no prote-
cionismo e em medidas restriti-
vas unilaterais que desrespei-
tam as regras vigentes e chegam 
a ser utilizadas como armas na 
competição entre Estados.
Dentro desse quadro difícil, 
não se vê claramente a reação do 
Brasil. No discurso, o atual go-
verno definiu corretamente 
suas prioridades: desenvolvi-
mento econômico com redução 
da pobreza, estabilidade econô-
mica com redução da taxa de ju-
ro e da inflação, além de uma no-
va política industrial. Externa-
mente, voltar a ter uma voz no 
mundo e nas organizações multi-
laterais, dar prioridade ao meio 
ambiente, à mudança de clima e 
a liderar a América do Sul.
O problema é que, depois de 
um ano e meio de governo, tan-
to interna quanto externamen-
te, as prioridades do governo 
não estão sendo concretizadas 
ou apenas parcialmente. A dis-
funcionalidade do governo e a 
falta de rumo e de objetivos cla-
ros fazem com que as reformas 
estruturais na economia, na 
área social e na educação e na 
saúde não estejam sendo alcan-
çadas. A situação se complica 
ainda mais na política externa e 
de defesa e segurança nacional 
pela desorganização da ordem 
internacional com duas guerras 
(na Europa e em Gaza) e uma 
crescente competição e con-
frontação entre EUA e China, 
com efeitos políticos, econômi-
cos e comerciais para todos os 
países. Apesar de ser uma potên-
cia média global,por não ter ex-
cedente de poder, não há espa-
ço para o Brasil influir, com pe-
so próprio, no curso das con-
frontações bélicas na Ucrânia e 
em Gaza.
Dada a atual configuração 
geopolítica e geoeconômica, o 
Brasil, país continental, com 
mais de 210 milhões de habitan-
tes, oitava economia do mundo, 
não pode ficar refém de deci-
sões ideológicas e de interesses 
partidários. Embora pertencen-
do ao Ocidente, por seus valo-
res e princípios, o Brasil está ca-
da vez mais dependente da Ásia, 
para onde vão 50% das exporta-
ções e 37% dos produtos agríco-
las. Na defesa dos interesses na-
cionais, o governo atual não 
tem alternativa, a não ser ado-
tar uma posição de equi-
distância na crescente confron-
tação entre o Ocidente e o antio-
cidente, liderado por China e 
Rússia e fortalecido com a am-
pliação do Brics. Neutralidade 
ativa, aliás, como a Índia está fa-
zendo, ao jogar nos diversos ta-
buleiros com sua voz indepen-
dente na defesa de seus interes-
ses, mantendo boas relações 
com todos.
O Brasil precisa sair de uma 
posição defensiva, principista, 
e passar a defender explicita-
mente seus interesses. Voz po-
derosa nas questões ambien-
tais, de segurança alimentar e 
de transição energética, o País 
já deveria ter questionado as 
restrições da União Europeia 
no tocante ao desmatamento e 
as exportações de produtos 
agrícolas, e às emissões de gás 
de efeito estufa quanto a produ-
tos industriais (CBAM). A 
exemplo do que todos os paí-
ses estão fazendo, devemos 
continuar a apoiar as medidas 
de defesa de meio ambiente e 
redução das emissões de gás 
carbônico, mas não devemos 
perder de vista a prioridade pa-
ra o desenvolvimento econômi-
co e a redução da pobreza, que 
virão com o aproveitamento de 
nossas riquezas na biodiversi-
dade, de minerais críticos e ra-
ros, com valor agregado para fa-
vorecer a indústria, e da ener-
gia fóssil na Margem Equato-
rial, como estão fazendo a Fran-
ça, na Guiana Francesa, e a 
Guiana. A liderança da integra-
ção regional na América do Sul 
começa a ganhar forma na ques-
tão ambiental na Amazônia e 
nos programas de integração 
física no Norte (rodovias, ferro-
vias e hidrovias) e no Sul (rodo-
vias), abrindo caminho para os 
produtos brasileiros chegarem 
à Ásia pelos portos do Pacífico. 
As reuniões do G-20, da 
COP-30 e do Brics talvez sejam 
as últimas oportunidades de o 
Brasil firmar sua voz na defesa 
de seus interesses concretos e 
não entrar em um jogo político, 
sem ver suas propostas aceitas. 
Recentemente, como contri-
buição a essa discussão, o Insti-
tuto Federalista e o Sagres divul-
garam o documento Projeto de 
Nação – O Brasil em 2035. E atual-
mente encontra-se em fase fi-
nal de elaboração, no Centro de 
Defesa e Segurança Nacional 
(Cedesen), documento sobre o 
lugar do Brasil no mundo, com 
o objetivo de promover uma am-
pla discussão sobre as perspecti-
vas do Brasil, não limitada a ape-
nas um pequeno grupo de eco-
nomistas e acadêmicos. O Exe-
cutivo, o Congresso e a socieda-
de civil têm uma grande respon-
sabilidade de, por um momen-
to, colocar interesses menores 
de lado e pensar nos rumos do 
País, hoje à deriva, com visão de 
médio e longo prazo. l
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Rubens Barbosa
As reuniões do G-20,
da COP-30 e do Brics
talvez sejam as últimas
oportunidades de o
País firmar sua voz na
defesa de seus
interesses concretos
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Público jovem lidera as buscas por vinil em 
SP; faturamento cresceu 136% em 1 ano
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INTERNACIONAIS E COMÉRCIO EXTERIOR (IRICE), 
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TERÇA-FEIRA, 25 DE JUNHO DE 2024
O ESTADO DE S. PAULO A5
INÊS 249
Uso de IA cresce mais na Justiça estadual, diz CNJ
RAYSSA MOTTA
A corrupção eleitoral, caracteri-
zada pela compra de votos, es-
tá no topo das condutas mais 
repudiadas pelos eleitores, con-
forme pesquisa contratada pe-
lo Instituto Não Aceito Corrup-
ção (Inac). O levantamento, 
realizado entre março e maio 
deste ano, abordou as práticas 
corruptas e sua aceitação pela 
sociedade. Funcionários fan-
tasmas, rachadinha e nepotis-
mo também estão entre as con-
dutas consideradas inaceitá-
veis, que geram repúdio.
A pesquisa buscou medir a 
aceitação de múltiplas práti-
cas corruptas. No levantamen-
to da empresa Ágora Pesquisa 
foram ouvidos 2.026 eleitores, 
com idades entre 16 e 75 anos, 
de diferentes regiões, classes 
sociais e gêneros.
Os entrevistados também 
foram questionados sobre a 
compra de votos. 62% disse-
ram que conhecem alguém 
que trocou o voto por dinheiro 
e 54% relataram ter sofrido pe-
lo menos uma tentativa direta 
de corrupção eleitoral nos últi-
mos dez anos.
O Tribunal Superior Eleito-
ral (TSE) diz que a compra de 
votos (captação ilícita de sufrá-
gio) “ocorre quando a candida-
ta ou o candidato doa, oferece, 
promete ou entrega para o elei-
tor qualquer bem ou vantagem 
pessoal de qualquer natureza – 
inclusive emprego ou função 
pública – para obter seu voto”.
O levantamento promovido 
pelo Inac buscou mapear o pre-
ço médio do voto conforme a 
região – Nordeste: R$ 124,62; 
Norte: R$ 138,83; Sudeste: R$ 
139,58; Centro-Oeste: R$ 
140,54; e Sul: R$ 142,88.
Para o Roberto Livianu, pre-
sidente do Inac e procurador 
de Justiça em São Paulo, os da-
dos evidenciam o deságio da 
Justiça Eleitoral no Brasil. “A 
compra de votos é algo real e 
concreto”, afirmou.
Os entrevistados foram 
questionados sobre canais de 
denúncia e somente 20% deles 
responderam que conhecem e 
que funcionam. No universo 
de oito em cada dez entrevista-
dos estão os que responderam 
que não conhecem, ou conhe-
cem (ou são conhecidos os ca-
nais), mas acreditam que os ór-
gãos de denúncia não funcio-
nam. Neste conjunto de res-
postas estão também aqueles 
que sabem que existem generi-
camente, sem identificar quais 
são estes canais.
Os eleitores brasileiros vol-
tarão às urnas neste ano para 
escolher prefeitos e vereado-
res nas mais de cinco mil cida-
des do País. 
RANKING. Conforme a pesqui-
sa, a corrupção aparece em oi-
tavo lugar na lista de preocupa-
ções da população. Saúde, edu-
cação e segurança pública lide-
ram o ranking.
Há uma variação geracional 
na percepção da corrupção. 
Com a idade, as pessoas pare-
cem se tornar mais sensíveis 
ao tema, mostra o levantamen-
to. A preocupação também au-
menta com a renda.
Os entrevistados responde-
ram a questionários estrutura-
dos e tiveram de avaliar, com 
notas de 1 a 7, o grau de reprova-
bilidade de cenários hipotéti-
cos criados para ilustrar diferen-
tes práticas de corrupção. Quan-
to mais alta a nota, mais aceitá-
vel é a atitude. As situações nar-
radas aos entrevistados corres-pondem a uma lista de crimes – 
sonegação fiscal, peculato, ne-
potismo, falsidade ideológica, 
corrupção passiva, ativa e eleito-
ral, prevaricação, tráfico de in-
fluência, captação ilícita de vo-
tos, estelionato e furto.
Os exemplos foram pensa-
dos de acordo com quatro ei-
xos de corrupção: de políti-
cos e agentes públicos, de em-
presas, praticada para obter 
benefícios pessoais e relacio-
nada a serviços. Os resulta-
dos mostram que a tolerância 
dos brasileiros é maior com 
atos de corrupção relaciona-
dos a serviços, como o paga-
mento de propina para se li-
vrar de uma multa de trânsi-
to. A maior reprovação envol-
ve desvios da classe política.
Para a cientista política Rita 
Biason, professora da Universi-
dade Estadual Paulista (U-
nesp) e diretora do Instituto 
Não Aceito Corrupção que par-
ticipou da pesquisa, essa varia-
ção é decorrente da realidade 
econômica do País.
“Essa aceitação a determina-
das práticas de corrupção vem 
de longa data, quando se refe-
re à possibilidade de socorrer 
determinado segmento da po-
pulação”, afirmou. “Tem rela-
ção com a carência e com a difi-
culdade de acesso a bens e ser-
viços. Nós temos uma camada 
da população que não tem aces-
so a esses serviços, então isso 
se torna mais tolerável do que 
em relação ao político. Até por-
que o político tem um salário e 
um ganho a partir da arrecada-
ção de impostos.”
RESPOSTAS. Livianu avaliou 
que o ranking das condutas de 
corrupção, conforme seu grau 
de reprovação, oferece uma 
pista para o poder público ofe-
recer respostas à sociedade. 
“Reafirma a importância de se 
dar respostas consistentes em 
relação a esses casos por parte 
do Sistema de Justiça, sob pe-
na de agravar ainda mais o qua-
dro de baixa credibilidade.”
A pesquisa usou cenários hi-
potéticos para testar o grau de 
aceitação de irregularidades 
por parte dos entrevistados. A 
prática considerada mais ina-
ceitável foi o peculato, ilustra-
da pelo seguinte caso: “um ser-
vidor público é nomeado para 
um cargo de confiança, recebe 
o salário todos os meses, mas 
nunca comparecer ao traba-
lho”. Essa situação registrou 
média de aceitação de 1,2.
Na outra ponta, foi conside-
rada a prática mais aceitável a 
prevaricação (5,2), na situação 
em que “um fiscal de trânsito 
relaxa a multa ao motorista 
por julgar que se trata de uma 
situação de emergência (mu-
lher dando à luz ou alguém pas-
sando mal, por exemplo)”. l
Pesquisa feita pelo Conselho 
Nacional de Justiça (CNJ) 
mostra que o número de proje-
tos de Inteligência Artificial 
(IA) desenvolvidos por órgãos 
do Judiciário, como tribunais 
ou conselhos, cresceu 26% des-
de 2022. O estudo envolveu 91 
tribunais e três conselhos e 
identificou 140 projetos de IA.
Segundo o CNJ, a expectati-
va é de que a tecnologia dê 
mais eficiência ao Judiciário. A 
pesquisa faz parte do Progra-
ma Justiça 4.0, iniciativa do 
conselho e do Programa das 
Nações Unidas para o Desen-
volvimento (Pnud) cujo objeti-
vo é acelerar a transformação 
digital na Justiça.
Os projetos de IA são ma-
peados pelo CNJ desde 2020. 
Nesta edição, o levantamento 
aponta que, das 140 soluções 
tecnológicas, 63 estão em uso 
ou aptas a serem utilizadas, 46 
estão em fase final de desenvol-
vimento, 17 estão em fase ini-
cial e três ainda não foram ini-
ciadas. Além disso, 11 projetos 
já foram finalizados, mas ain-
da não foram implementados.
A área que mais concentra 
projetos de IA é o Judiciário 
estadual, com 68 iniciativas, se-
guido pela Justiça Eleitoral 
(23), do Trabalho (20), Fede-
ral (14) e Superior (13). Os con-
selhos de Justiça apresentam, 
ao todo, dois projetos. l GUILHER-
ME NALDIS
Conselhos de pelo menos 
quatro empresas se reuni-
ram ontem para bater o 
martelo sobre as propostas 
de repactuação dos acordos 
de leniência que fecharam 
na Lava Jato. O Estadão 
apurou que as companhias, 
em sua maioria, estão dis-
postas a aceitar as premis-
sas fixadas pelo governo, 
embora tenham ressalvas 
que esperam ver alinhadas 
nos próximos 30 dias.
As respostas foram enca-
minhadas à Controladoria-
Geral União e à Advocacia-
Geral da União. O prazo 
terminou ontem. O gover-
no concordou em ampliar 
os descontos, que chegam a 
50% de abatimento do sal-
do do acordo. Com isso, a 
União pode abrir mão de 
R$ 4 bilhões. As empresas 
brigam para que o porcen-
tual seja aplicado sobre o 
valor global da multa.
Participam das tratati-
vas Andrade Gutierrez, Me-
tha (ex-OAS), UTC, J&F, 
Mover (ex-Camargo Cor-
rêa), Novonor (ex-Odebre-
cht), Engevix e Braskem. A 
negociação ocorre sob su-
pervisão do Supremo. l R.M.
Empresas devem aceitar 
com ressalvas proposta 
de revisão de leniênciasNos últimos 10 anos, 
durante o período de 
eleições, soube de algum 
candidato ou cabo 
eleitoral que ofereceu 
algo pelo voto?
LEVANTAMENTO
Geral
SIM, SOUBE NÃO SOUBE
NÃO SABE/NÃO RESPONDEU
43%
3%
54%
Por região
FONTE: PESQUISA SOBRE PRÁTICAS CORRUPTAS 
E SUA ACEITAÇÃO 2024 (INAC/ÁGORA PESQUISA) /
 INFOGRÁFICO: ESTADÃO
NORTE
NORDESTE
CENTRO-OESTE
SUDESTE
SUL
SOUBE
NÃO
SOUBE
72%
65%
57%
48%
41%
28%
35%
43%
52%
59%
OBS.: ENTREVISTAS PESSOAIS FORAM 
REALIZADAS ENTRE 23 DE MARÇO E 28 DE MAIO, 
COM 2.026 ELEITORES DE 16
A 75 ANOS, EM TODOS OS ESTADOS
“A compra de votos
(no Brasil) é algo
real e concreto”
Roberto Livianu
Procurador de Justiça em
São Paulo e presidente do 
Instituto Não Aceito 
Corrupção
Pesquisa afirma que 54% dos eleitores 
dizem ter vivenciado compra de votos
Levantamento do Instituto Não Aceito Corrupção mediu grau de percepção de diversas 
práticas corruptas; tolerância é menor no caso de desvios de políticos e agentes públicos
Corrupção eleitoral 
A6 POLÍTICA
TERÇA-FEIRA, 25 DE JUNHO DE 2024
O ESTADO DE S. PAULO
INÊS 249
Q
uando Lula e Fernando 
Henrique se encon-
tram amigável e até cari-
nhosamente, é hora de 
esquecer as guerras e encren-
cas de outros tempos e pensar 
em como pode haver civilida-
de, parceria e convivência de-
mocrática entre adversários 
políticos, no caso, dois dos 
grandes líderes contra a ditadu-
ra e os maiores presidentes 
pós-redemocratização. É nes-
se clima, menos negativo, me-
nos carregado, que escrevo so-
bre Por que a democracia brasilei-
ra não morreu?, dos cientistas 
políticos e professores Marcus 
André Melo e Carlos Pereira.
Corajoso, desmistificador e 
otimista são os três adjetivos 
que definem o livro, que joga 
luzes sobre dez anos da políti-
ca, desde o impeachment de 
Dilma Rousseff até a derrota de 
Jair Bolsonaro. Na contramão 
da onda de desqualificação, irri-
tação, desânimo, desistência, 
os autores nos fazem refletir so-
bre esses tempos turbulentos e 
tirar uma conclusão reconfor-
tante: apesar de todos os pesa-
res, o sistema político brasilei-
ro não é tão imprestável assim.
Diante dos graves erros e da 
enxurrada de críticas ao Con-
gresso, ao Judiciário e ao presi-
dencialismo jabuticaba, a reali-
dade é que o sistema político, as 
instituições, seus líderes e agen-
tes demonstraram grande capa-
cidade de resistência e soube-
ram usar os instrumentos cons-
titucionais à mão para reprimir 
e, ao fim e ao cabo, impedir in-
vestidas antidemocráticas.
Sem dar spoiler, a tese dos 
autores é a de que a combina-
ção de presidencialismo com 
multipartidarismo é complexa 
e tensa, mas “gerou ordem e 
equilíbrio no sistema político”. 
O chefe do Executivo tem enor-
mes poderes e pode, inclusive, 
legislar via decretos e medidas 
provisórias, mas o Congresso 
tem ferramentas como as 
emendas parlamentares, que, 
muito mal compreendidas pe-
la opinião pública, garantem 
que não seja mero cumpridor 
de ordens, e o sistema dispõe 
de uma rede vigorosa de con-
trole “externo”: Judiciário, Mi-
nistério Público, tribunais de 
contas, PF e imprensa, livres, 
independentes e combativos.
Presidentes, de esquerda ou 
direita, têm grande dificuldadede montar e manter bases con-
gressuais com forças muito he-
terogêneas e de distribuir ferra-
mentas de equilíbrio de poder, 
como ministérios, cargos e 
emendas que cristalizam os 
vínculos dos parlamentares 
com suas próprias bases. Há 
exageros e desvios absurdos, 
mas não por culpa do sistema, 
como se convencionou, mas de 
quem administra esse sistema 
– como qualquer sistema. Tão 
corajoso, desmistificador e oti-
mista, o livro de Marcus André 
Melo e Carlos Pereira nos brin-
da com algo essencial e que an-
da drasticamente em falta: ra-
cionalidade. Boa leitura! l
SEG. Carlos Pereira e Diogo Schelp (quinzenalmente) l TER. Eliane Cantanhêde e Carlos Andreazza l QUA. Vera Rosa e Marcelo Godoy (quinzenalmente) l QUI. William Waack l SEX. Eliane Cantanhêde l SÁB. Carlos Andreazza l DOM. Eliane Cantanhêde e J.R. Guzzo
COMENTARISTA DA RÁDIO ELDORADO, 
DA RÁDIO JORNAL (PE) E DO TELEJORNAL 
GLOBONEWS EM PAUTA
E-mail: eliane.cantanhede@estadao.com; Twitter: @ecantanhede
Veredicto: o sistema não tem culpa
PF apreendeu R$ 170 mil em casa de desembargador
Operação Churrascada
Por que a
democracia brasileira
sobreviveu? Uma
resposta corajosa 
e racional
A Polícia Federal apreendeu R$ 
170 mil em espécie na casa do 
desembargador Ivo de Almei-
da, do Tribunal de Justiça de 
São Paulo. Ele é suspeito de ven-
der decisões judiciais. O imóvel 
fica na na zona norte da capital. 
Os investigadores buscam iden-
tificar a origem do dinheiro.
Além dos R$ 170 mil, foram 
apreendidos na Operação 
Churrascada, na semana passa-
da, celulares e computadores. 
O ministro do Superior Tribu-
nal de Justiça (STJ) Og Fernan-
des determinou o afastamento 
de Ivo de Almeida de suas fun-
ções por um ano. A PF pediu a 
prisão preventiva do desembar-
gador, mas a Procuradoria-Ge-
ral da República se opôs à medi-
da. O advogado Alamiro Velludo 
Salvador Netto, que representa 
o desembargador, disse que 
aguarda acesso ao inquérito para 
se manifestar e “restabelecer no 
caso a verdade e a justiça”. l RAYS-
SA MOTTA, FAUSTO MACEDO E PEPITA ORTEGA
Eliane Cantanhêde
TERÇA-FEIRA, 25 DE JUNHO DE 2024
POLÍTICA A7
O ESTADO DE S. PAULO
INÊS 249
KARINA FERREIRA
O ex-governador do Ceará Ci-
ro Gomes (PDT) afirmou que 
o “janjismo” vai atrapalhar as 
eleições municipais deste ano, 
referindo-se à atuação da pri-
meira-dama Rosângela da Sil-
va, a Janja. Ele também elo-
giou o governador de Goiás, 
Ronaldo Caiado (União Bra-
sil), ao dizer que o bolsonaris-
ta “tem dotes” para disputar a 
Presidência da República em 
2026. As declarações foram fei-
tas durante entrevista veicula-
da pelo canal do YouTube My 
News, na última quinta-feira.
“Então o que está acontecen-
do? Pelo movimento da econo-
mia, a população vai votar con-
tra o governo. E pela guerra cul-
tural, sabe, o ‘janjismo’, agora 
remoçado e tal, vai perder a 
eleição o governo. Mas não vai 
perder (somente) em 2026, va-
mos acompanhar as eleições 
municipais nas grandes cida-
des brasileiras. Elas não são 
uma condição, digamos assim, 
mortal, mas são uma pista nos 
grandes centros”, afirmou o 
ex-presidenciável.
Sobre suas apostas para pos-
síveis postulantes em 2026 no 
campo da direita, uma vez que 
o ex-presidente Jair Bolsonaro 
(PL) segue inelegível até 2030 
por determinação do Tribunal 
Superior Eleitoral (TSE), Ciro 
deu opinião sobre alguns no-
mes apresentados. Afirmou 
que não entrará na disputa, 
pois “perdeu o encanto”.
Questionado sobre o que 
pensa do governador de Mi-
nas Gerais, Romeu Zema 
(Novo), Ciro se limitou a 
responder: “Conte-me ou-
tra. É o fim da picada”.
Por outro lado, elogiou 
Caiado, a quem disse consi-
derar “um bom governa-
dor”. “Esse cara tem dotes. 
Mas aí pega carona e vai pa-
ra Israel. De novo, é um belo 
de um cara. Conheço mais 
de perto. Um médico, tem 
espírito público, é um bom 
administrador”, disse Ciro.
‘IDENTITARISMO’. Durante a 
entrevista, Ciro afirmou 
que a “esquerda internacio-
nal” abandonou “a ideia de 
superar a miséria, a desi-
gualdade e lutar por uma hu-
manidade pacífica” e pos-
sui “incapacidade de sair do 
identitarismo vesgo”.
No último mês, o pedetis-
ta usou seu perfil no X para 
criticar Janja, questionando 
a postura do Planalto sobre 
fake news envolvendo a tra-
gédia no Rio Grande do Sul. 
Ao citar ataques sofridos 
por pesquisadora da USP, 
disse que os comentários te-
riam sido coordenados pela 
“máquina lulopetista tritu-
radora”, supostamente 
“sob influência” de Janja. l
A
rthur Lira e Ciro Noguei-
ra são presenças confir-
madas no Fórum de Lis-
boa. O Parlamento em 
semaninha de folgança, a três 
semanas do recesso, para que o 
País seja discutido na Europa; o 
restante do Congresso pulan-
do as fogueiras de São João. E 
há um compromisso por votar 
as regulamentações da reforma 
tributária até 18 de julho.
Ninguém reclamará das co-
missões atropeladas e dos regi-
mes de urgência impostos, afi-
nal aprovado texto desconheci-
do enquanto se lhe metem ain-
da mais contrabandos. Lira 
quer uma marca para sua ges-
tão. Gostaria que fosse a refor-
ma tributária. Será a instituição 
do orçamento secreto.
Daí a sugestão. Se em Lisboa 
para o que os maledicentes cha-
mam de Gilmarpalooza, Lira e 
Nogueira poderiam propor me-
sa – faltaria apenas Alcolumbre – 
sobre a constituição e a operação 
do orçamento secreto. Diante de 
alguns ministros do Supremo, 
explicariam a engenharia de arre-
ganho que aterrou decisão do tri-
bunal e conseguiu – política de 
Estado – transitar de Bolsonaro 
a Lula sem maiores solavancos.
O capeta se foi. A picanha 
voltou. A democracia está ga-
rantida por Xandão. E o orça-
mento secreto continua. E con-
tinua a Codevasf, sob o mesmo 
comando de quando os golpis-
tas nos acossavam. Não deixa 
de ser expressão da estabilida-
de de nossa República.
Manchete do Estadão para 
reportagem de Daniel Weter-
man: “Governo Lula paga R$ 7 
bilhões do orçamento secreto 
de Bolsonaro sem respeitar de-
cisão do STF”. São restos a pa-
gar, que a turma da reconstru-
ção distribui como fazia a Casa 
Civil de Nogueira. Sem transpa-
rência – desconhecidos os pa-
tronos das emendas – e autori-
tariamente, grana somente às 
paróquias dos amigos dos do-
nos do Parlamento.
Nem Flávio Dino, líder do go-
verno no STF, pôde matar no 
peito. Declarou que Lula – em 
cujo governo formava até an-
teontem, Juscelino Filho como 
colega – e o Congresso não te-
riam comprovado “cabalmen-
te” o cumprimento da decisão 
do Supremo.
A decisão é de 2022. O mode-
lo de 2023, acordado a partir da 
PEC da Transição, já foi supera-
do. O orçamento secreto é fu-
gaz e camaleônico, vai de facha-
da em fachada, e sua dinâmica 
se adapta a qualquer superfície. 
Em 2024, evolui sob as emen-
das de comissão. Dino chegará 
lá em algum momento.
Lula já chegou. Está feliz 
com Juscelino, ministro das Co-
municações, indiciado em fun-
ção do uso de dinheiros do orça-
mento secreto para que a Code-
vasf, sob gerência apadrinhada, 
pavimentasse, via empreiteira 
amiga, estrada que serve à fa-
zenda da família em município 
cuja prefeita lhe é irmã.
O relator do caso é Dino. 
Que também está no progra-
ma de Lisboa. l
Carlos Andreazza
Política de Estado
SOFIA AGUIAR
MATHEUS DE SOUZA
BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula 
da Silva visitou ontem, em São 
Paulo, o ex-presidente Fernan-
do Henrique Cardoso (PSDB). 
O encontro, que durou cerca 
de 35 minutos, ocorreu fora da 
agenda oficial do petista e, se-
gundo a assessoria do Palácio 
do Planalto, teve caráter priva-
do. Antes da visita a FHC, Lula 
se reuniu com os escritores 
Noam Chomsky e Raduan Nas-
sar. Fernando Henrique, por 
sua vez, recebeu o ex-ministro 
da Fazenda Pedro Malan.
Lula viajou para São Paulo 
no domingo. O compromisso 
não estava previsto na agenda 
oficial. Nas redes sociais, o pre-
sidente falou sobre os encon-
tros na capitalpaulista com 
FHC, Chomsky, Nassar e com 
o jornalista Mino Carta. Publi-
cou também sobre uma agen-
da com o ex-presidente José 
Sarney no Maranhão, ocorrida 
na sexta-feira passada.
Em campos opostos da po-
lítica desde a década de 1990, 
Lula e FHC se aproximaram 
em meados de 2021. Na dispu-
ta ao Planalto, no ano seguin-
te, o ex-presidente declarou 
voto no petista no segundo tur-
no contra Jair Bolsonaro (PL). 
Na época, o tucano afirmou 
que a decisão era motivada 
“por uma história de luta pela 
democracia e inclusão social”.
MINAS GERAIS. De volta à capi-
tal federal, Lula deve partici-
par do lançamento do Plano Sa-
fra e do Plano Safra Agricultu-
ra Familiar, amanhã. Na quin-
ta-feira, o petista tem agenda 
em Contagem (MG), para fa-
zer anúncios do governo fede-
ral. Na sexta-feira, o compro-
misso será em Juiz de Fora, 
também em Minas, na inaugu-
ração de uma obra. l
JORNALISTA
SEG. Carlos Pereira e Diogo Schelp (quinzenalmente) l TER. Eliane Cantanhêde e Carlos Andreazza l QUA. Vera Rosa e Marcelo Godoy (quinzenalmente) l QUI. William Waack l SEX. Eliane Cantanhêde l SÁB. Carlos Andreazza l DOM. Eliane Cantanhêde e J.R. Guzzo
O orçamento secreto
é camaleônico, e sua
dinâmica se adapta
a qualquer superfície
E-mail: ca.andreazza@gmail.com; Twitter: @andreazzaeditor
Governador de Goiás já
se movimenta por 2026
Para lembrar
l Presidência
Com 86% de aprovação en-
tre os goianos, segundo pes-
quisa Genial/Quest divulga-
da em abril que mediu a acei-
tação de quatro governado-
res de direita em seus Esta-
dos, Ronaldo Caiado está 
decidido a disputar a Presi-
dência em 2026
l Movimentação
“Considero que posso me 
apresentar ao meu partido, 
o União Brasil, pensando 
numa pré-candidatura. Mi-
nha trajetória de vida me 
credencia para isso”, disse o 
governador ao Estadão
l Nomes
Além de Caiado, pelo menos 
outros três governadores 
aliados de Bolsonaro são ci-
tados para 2026: Ratinho 
Júnior (PSD), do Paraná; 
Tarcísio de Freitas (Republi-
canos), de São Paulo; e Ro-
meu Zema (Novo), de Minas
Ciro Gomes afirma que
‘janjismo’ projeta derrota 
do governo nas eleições
Ex-governador fala
sobre a atuação da
primeira-dama e diz 
que Caiado ‘tem dotes’ 
para concorrer à
Presidência em 2026
Ex-ministro
EVENTO DA FUNDAÇÃO FHC DEBATE
LEGADO DO PLANO REAL. PÁGS. B8 E B9
Lula esteve com tucano Fernando Henrique Cardoso em São Paulo
RICARDO STUCKERT / PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA 
Em agenda privada em 
São Paulo, Lula visita 
Fernando Henrique
Ex-presidente
A8 POLÍTICA
TERÇA-FEIRA, 25 DE JUNHO DE 2024
O ESTADO DE S. PAULO
INÊS 249
WASHINGTON 
O fundador do WikiLeaks, Ju-
lian Assange, concordou em se 
declarar culpado de uma única 
acusação de crime de dissemi-
nação ilegal de material de se-
gurança nacional em troca de 
sua libertação de uma prisão 
britânica, encerrando um im-
passe de quase 15 anos com os 
EUA. O WikiLeaks informou 
no X que ele deixou a prisão e o 
Reino Unido ontem e voltou 
para Austrália.
Assange, de 52 anos, teve seu 
pedido atendido para compa-
recer perante um juiz federal 
em um dos postos avançados 
mais remotos do Judiciário 
americano, o tribunal em Sai-
pan, a capital das Ilhas Maria-
nas do Norte, perto da Austrá-
lia, segundo um processo judi-
cial tornado público ontem. As-
sange deve ser sentenciado em 
uma audiência amanhã. O acor-
do, que precisa ser aprovado 
por um juiz, deverá considerar 
o tempo de cinco anos que ele 
já cumpriu na prisão, evitando 
assim uma nova pena.
O australiano foi celebrado 
e criticado por revelar segre-
dos de estado na década de 
2010. Isso incluía material so-
bre atividade militar america-
na no Iraque e no Afeganistão, 
bem como telegramas confi-
denciais compartilhados en-
tre diplomatas. 
Em 2010, a Suécia exigiu a 
prisão de Assange sob acusa-
ções apresentadas contra ele 
de estupro e assédio sexual no 
país. Assange negou as acusa-
ções, mas teve de ser submeti-
do a prisão domiciliar na Ingla-
terra. Em maio de 2012, o Su-
premo Tribunal de Londres 
concordou com sua extradição 
para a Suécia. Para Assange, os 
casos o fariam ser mandado pa-
ra os EUA. No mês seguinte, 
ele refugiou-se na Embaixada 
do Equador em Londres para 
evitar a extradição. Em 2019, 
um grande júri federal indiciou 
Assange por 18 acusações rela-
cionadas à disseminação pelo 
WikiLeaks de documentos de 
segurança nacional. 
Isso incluía um tesouro de 
materiais enviados à organiza-
ção por Chelsea Manning, 
uma ex-analista de inteligên-
cia do Exército dos EUA que 
entregou informações sobre 
planejamento e operações mi-
litares quase uma década an-
tes. Manning foi perdoada pe-
lo governo Obama. Assange po-
deria ter enfrentado 170 anos 
em uma prisão federal. 
Logo após o anúncio das acu-
sações na Justiça, a Polícia Me-
tropolitana de Londres entrou 
na Embaixada do Equador e o 
prendeu. Ele estava sob custó-
dia das autoridades britânicas 
desde então.
TEMPO PRESO. Funcionários do 
Departamento de Justiça aceita-
ram um acordo sem tempo de 
prisão adicional porque Assange 
já havia cumprido mais tempo 
do que a maioria dos acusados 
de um crime semelhante – neste 
caso, mais de cinco anos de pri-
são no Reino Unido. l AFP e NYT
Unindo Forças Unindo Forças 
no Combate no Combate 
ao Câncer de ao Câncer de 
Colo de ÚteroColo de Útero
27 de junho, às 14h 
Informações 
e inscrições
Presenças confirmadas
Jairo Bouer
Psiquiatra 
especialista 
em sexualidade 
e educação 
sexual
Mediação
Angélica Nogueira
Médica oncologista
Estevam Baldon
Gerente médico de 
Vacinas na MSD
Leticia Katz
Coordenadora 
da Secretaria 
Estadual de 
Saúde de 
Pernambuco
Luisa Lina Villa
Chefe do Lab 
Inovação em 
Câncer, Icesp e 
Faculdade de 
Medicina da USP
Marcia Abadi
Diretora executiva 
médica da 
MSD Brasil
Mônica Levi
Presidente 
da SBIm
Pedro Prata
Editor-assistente 
do Estadão 
Verifica
Roberto Gil
Diretor-geral 
do INCA
/estadão@estadão
@estadão@estadão
Produção ParceriaRealização Apoio
Julian Assange caminha para embarque em aeroporto de Londres 
AFP
Assange fecha acordo com Justiça 
dos EUA e deixa prisão em Londres
Ele deve se declarar culpado de uma única acusação em um posto avançado 
remoto do Judiciário americano próximo da Austrália, para onde retornou ontem
WikiLeaks 
TERÇA-FEIRA, 25 DE JUNHO DE 2024
INTERNACIONAL A9
O ESTADO DE S. PAULO
INÊS 249
PARIS 
O presidente do partido de ex-
trema direita da França Reu-
nião Nacional (RN), Jordan 
Bardella, afirmou ontem que 
está pronto para governar “pa-
ra todos os franceses” se sair 
vitorioso nas eleições legislati-
vas de domingo. A legenda lide-
ra as pesquisas com 35,5% das 
intenções de voto, segundo 
sondagem do Instituto Ipsos, 
em parceria com o jornal Le Pa-
risien e a Radio France. 
Bardella, um eurodeputado 
de 28 anos, é um nome em as-
censão da extrema direita e 
seu candidato a primeiro-mi-
nistro. Ele apresentou seu pro-
grama de governo ontem e rei-
terou as principais linhas do 
seu movimento, liderado por 
Marine Le Pen, focadas em se-
gurança e controle da imigra-
ção. Ele também prometeu um 
“big-bang de autoridade” nas 
escolas, ao propor o uso de uni-
formes, a obrigação de se refe-
rir aos professores como “se-
nhor” e proibir celulares nos 
centros de ensino. 
“Sete anos de ‘macronismo’ 
enfraqueceram o país”, disse 
Bardella, que reiterou os pla-
nos para expulsar estrangeiros 
condenados por crimes e cor-
tar gastos ligados à imigração.
Para tentar atrair os eleito-
res de direita descontentes 
com o presidente Emmanuel 
Macron, o candidato atacou os 
resultados econômicos do 
atual governo, com dívida e 
déficit públicos superiores aos 
limites europeus. 
UCRÂNIA. Sobre a política inter-
nacional, o candidato a primei-
ro-ministro garantiu que, se 
chegar ao poder, pretende 
manter o apoio do país à 
Ucrânia, mas será contrárioao 
envio de mísseis de longo al-
cance e de tropas francesas ao 
território ucraniano.
Também criticou o progra-
ma de governo apresentado pe-
la coalizão de esquerda Nova 
Frente Popular (NFP), que pa-
ra ele provocará o aumento da 
imigração e uma profunda cri-
se econômica. “A França vai vi-
rar a Venezuela, mas sem pe-
tróleo”, disse. Segundo a pes-
quisa do Ipsos, a NFP tem en-
tre 27% e 29,5% das intenções 
de voto e a aliança centrista de 
Macron, cerca de 20%. 
Macron, por sua vez, afir-
mou que os programas de go-
verno dos extremos dos dois 
espectros políticos do país con-
duziriam o país à “guerra ci-
vil”. “A resposta da extrema di-
reita em termos de inseguran-
ça remete as pessoas a uma reli-
gião ou a uma origem e é assim 
que se divide e se leva (um 
país) à guerra civil”, declarou 
Macron no podcast Généra-
tion Do It Yourself.
“Por outro lado, a LFI (Fran-
ça Insubmissa) propõe uma 
forma de comunitarismo um 
pouco eleitoral, mas que tam-
bém tem a guerra civil por trás, 
porque, acima de tudo, remete 
as pessoas exclusivamente à 
sua afiliação religiosa ou comu-
nitária”, disse o presidente, se 
referindo a um dos partidos 
que compõem a NFP. 
A eleição na França foi ante-
cipada por Macron após o avan-
ço na extrema direita nas elei-
ções ao Parlamento Europeu. 
A votação será realizada em 
dois turnos, nos dois próxi-
mos domingos. l AFP e NYT 
Macron diz que 
programas de governo 
dos partidos radicais 
de direita e esquerda 
conduziriam o país 
à ‘guerra civil’
Jordan Bardella é candidato da extrema direita para premiê 
CHRISTOPHE ENA/AP
Líder nas pesquisas, ultradireita diz 
estar ‘pronta para governar’ França 
Eleições legislativas 
Antecipadas
Eleições legislativas 
ocorrerão em dois
turnos, nos dois
próximos domingos
EM TRANSFORMAÇÃO
tributÁria
Patrocínio:
EDITORIA ESPECIAL DO ESTADÃO TRAZ AS DISCUSSÕES
NO CONGRESSO NACIONAL E A OPINIÃO DA SOCIEDADE
EM RELAÇÃO AO PROCESSO
A REFORMA TRIBUTÁRIA E O CRESCIMENTO ECONÔMICO
A REFORMA E A JUSTIÇA TRIBUTÁRIA
QUAL O IMPACTO PARA ESTADOS E MUNICÍPIOS?
AS EXCEÇÕES E A REGULAMENTAÇÃO
O CUSTO FISCAL DA REFORMA
A OPINIÃO DE ECONOMISTAS, EMPRESÁRIOS
E ESPECIALISTAS NO ASSUNTO
Realização:
ACOMPANHE!
A10 INTERNACIONAL
TERÇA-FEIRA, 25 DE JUNHO DE 2024
O ESTADO DE S. PAULO
INÊS 249
Famílias de vítimas processam agência da ONU
LUXEMBURGO 
A União Europeia chegou on-
tem a um acordo para liberar ¤ 
1,4 bilhão (cerca de R$ 8 bi-
lhões) para a Ucrânia. Trata-se 
do primeiro montante destina-
do ao país de Volodmir Ze-
lenski procedente dos juros de 
ativos russos congelados na Eu-
ropa, conforme anunciou em 
Luxemburgo o chefe da diplo-
macia europeia, Josep Borrell.
“Os benefícios (juros) ex-
cepcionais gerados pelos ati-
vos russos congelados na Euro-
pa – e não os ativos em si – 
serão utilizados o mais rápido 
possível em benefício da 
Ucrânia”, disse Borrell, após 
uma reunião de ministros de 
Relações Exteriores do bloco.
Segundo ele, até o fim do 
ano, uma outra parcela estima-
da em ¤ 1 bilhão (quase R$ 6 
bilhões) será liberada para 
Kiev para compra de armas, es-
pecificou Borrell.
A Hungria expressou sua in-
dignação com a decisão, ao con-
siderar que deveria ter sido to-
mada por unanimidade. O che-
fe da diplomacia europeia afir-
mou, por sua vez, que a Hun-
gria não poderia levantar obje-
ções, uma vez que se absteve 
nas discussões anteriores.
“Uma linha vermelha foi cru-
zada”, denunciou o ministro 
das Relações Exteriores húnga-
ro, Peter Szijjarto. O líder hún-
garo, Viktor Órban, é aliado de 
Vladimir Putin.
Cerca de ¤ 300 bilhões (R$ 
1,7 trilhão) russos foram con-
gelados mundialmente após a 
invasão russa na Ucrânia, em 
2022, e a maior parte deles está 
na Bélgica (cerca de ¤ 190 bi-
lhões ou R$ 1 trilhão). 
ATAQUE. Ontem, um dia após 
um bombardeio ucraniano na 
Crimeia, a Rússia acusou os 
EUA de “matarem crianças rus-
sas” e ameaçou represália – se-
gundo Moscou, os ucranianos 
fizeram o ataque com mísseis 
americanos. O Ministério das 
Relações Exteriores da Rússia 
também convocou a embaixa-
dora americana na capital rus-
sa para consultas.
Segundo Moscou, a Ucrânia 
não consegue realizar sozinha 
ataques com mísseis de longo 
alcance ATACMS, como o que 
foi utilizado no domingo, na 
Crimeia, já que são necessá-
rios especialistas, tecnologia e 
dados da inteligência america-
na para utilizá-lo.
Segundo o Exército russo, os 
ucranianos dispararam cinco 
mísseis no domingo e quatro 
deles foram derrubados perto 
de Sebastopol, cidade portuá-
ria que abriga o quartel-general 
da frota russa no Mar Negro. Pe-
lo menos quatro pessoas morre-
ram, entre elas, duas crianças, 
segundo as autoridades locais 
estabelecidas pela Rússia.
Washington e Europa come-
çaram a autorizar Kiev a em-
pregar armas ocidentais para 
atacar alvos militares em terri-
tórios russos utilizados para 
bombardear a Ucrânia. Em res-
posta, o presidente russo, Vla-
dimir Putin, ameaçou entre-
gar armas a inimigos das potên-
cias ocidentais para que atin-
jam seus interesses em outras 
regiões do mundo. l AFP e AP 
Parentes de vítimas dos ataques de 7 de outubro do Ha-
mas a Israel processaram, ontem, a agência da ONU para os 
refugiados palestinos, alegando que ela facilitou o massacre, 
segundo documentos da Justiça. Em resposta, o chefe da 
agência, Philippe Lazzarini, um dos demandados, disse que 
Israel “tem de encerrar sua campanha contra” o organismo. l 
Ataques de 7 de outubro 
Condenado à morte é inocentado após 47 anos
DENIS BALIBOUSE/REUTERS–30/4/2024
Depois de quase 47 anos, o Tribunal de Apelações Crimi-
nais do Texas, nos EUA, inocentou Kerry Max Cook, de 68 anos, 
do assassinato de Linda Jo Edwards em 1977, crime pelo qual 
passou 20 anos no corredor da morte. O caso teve três julgamen-
tos e vários recursos. Segundo o juiz, ele era repleto de alega-
ções de má conduta do Estado que justificaram sua anulação. l 
EUA
Ativos
Um total de R$ 1,7 trilhão
da Rússia foi congelado
em todo o mundo após
invasão da Ucrânia
Na Rússia, 
chancelaria convoca 
embaixadora dos EUA 
para consultas após 
ataque ucraniano 
com arma americana 
UE libera R$ 8 bi em juros 
de ativos russos para Ucrânia
A guerra de Putin 
TERÇA-FEIRA, 25 DE JUNHO DE 2024
INTERNACIONAL A11
O ESTADO DE S. PAULO
INÊS 249
No início do mês, o Supremo 
Tribunal Federal (STF) fixou 
prazo de 18 meses para que o 
Congresso elabore uma lei 
para regulamentar a explora-
ção de recursos no Pantanal. 
A Corte considerou que o 
Legislativo tem sido omisso 
na proteção do bioma.
Presidente da Frente Par-
lamentar em Defesa do Pan-
tanal, a deputada Camila Ja-
ra (PT-MS) protocolou sema-
na passada um projeto para 
instituir uma lei para o bio-
ma. A expectativa é de que a 
Câmara vote a urgência do 
PL ainda neste semestre, a 
depender do início do reces-
so parlamentar. A proposta 
prevê delimitar a área do 
Pantanal, abrangendo toda a 
bacia do Alto Paraguai, a cha-
mada superfície aluvial.
O texto sugere ainda ex-
pandir a área protegida para 
30% por meio de novas unida-
des de conservação ou am-
pliação da reserva legal. Tam-
bém fala em recuperar até 
30% das áreas degradadas 
até 2030.
No caso das queimadas, o 
PL obriga os municípios pan-
taneiros a terem planos de 
manejo do fogo, e que os Es-
tados tenham sistemas de 
monitoramento de incên-
dios, procedimento de alerta 
à população, entre outros 
pontos. A parlamentar ainda 
fez um “mea culpa” das res-
ponsabilidades do Congres-
so Nacional, que, segundo 
ela, demonstra “falta de com-
preensão da realidade” ao 
remanejar recursos orçamen-
tários do meio ambiente pa-
ra outras áreas. l
PAULA FERREIRA 
BRASÍLIA
O Pantanal registrou recorde 
de incêndios em junho após no-
vas falhas de prevenção de 
queimadas pela gestão Luiz 
Inácio Lula da Silva (PT), que 
já havia sido alvo de críticas 
em 2023por causa do avanço 
de queimadas nesse bioma e 
na Amazônia. O planejamento 
do Ministério do Meio Ambien-
te não funcionou e a pasta ad-
mite que precisou antecipar 
em dois meses sua estratégia 
de resposta ao problema.
Para especialistas, é preciso 
preparo para eventos climáti-
cos extremos, cada vez mais in-
tensos e frequentes com o 
aquecimento global. O gover-
no precisa correr para recom-
por a verba da pasta diante do 
orçamento insuficiente e tirar 
do papel às pressas um pacto 
assinado com Estados no iní-
cio do mês na tentativa de não 
repetir as crises passadas.
NÚMEROS. O número de focos 
de fogo chegou a 2.363 até 24 
de junho. O total é quase seis 
vezes maior do que os 406 fo-
cos registrados em todo o mês 
de junho de 2020, pior ano em 
incêndios para a região, que fi-
cou devastada. “Esse cenário 
já era previsto e as ações de pre-
venção não foram feitas de ma-
neira correta”, afirma Gustavo 
Figueirôa, diretor do S.O.S 
Pantanal.
O Ibama dispõe de 2.108 bri-
gadistas e o ICMBio (órgão fe-
deral responsável pelas unida-
des de conservação) tem 913 
em todo o País. As equipes, em 
geral, são contratadas de for-
ma temporária para emergên-
cias. O plano do governo é au-
mentar para 4 mil brigadistas 
ainda este ano, mas não há cro-
nograma para a chegada des-
ses profissionais. No Pantanal, 
atuam hoje 300 brigadistas do 
Ibama e ao menos 48 do ICM-
Bio. A simplificação do contra-
to desses profissionais foi 
anunciada pelo governo no iní-
cio do mês, mas até agora o te-
ma não foi detalhado.
Conforme dados do Ministé-
rio do Meio Ambiente, em 
2023 o Ibama executou R$ 82,9 
milhões em ações de preven-
ção e combate a incêndios flo-
restais, quase o valor total dos 
R$ 83 milhões previstos no or-
çamento. Para 2024, a verba 
prevista é de R$ 84,4 milhões.
O Estadão apurou que o Pla-
nalto já aprovou internamente 
uma recomposição da ordem 
de R$ 100 milhões para o Mi-
nistério do Meio Ambiente, 
que deve voltar para o orça-
mento da pasta em breve. No 
ano passado, o Congresso ha-
via cortado parte do orçamen-
to proposto pelo Executivo.
Os parlamentares aprova-
ram, por exemplo, corte de R$ 
25 milhões no ICMBio em com-
paração com o montante envia-
do pelo governo no projeto de 
lei orçamentária (R$ 875,6 mi-
lhões). Para o Ibama, o gover-
no propôs R$ 1,885 bilhão, e o 
Congresso aprovou R$ 12 mi-
lhões a menos. O governo tem 
debatido ainda a possibilidade 
de crédito extraordinário para 
o Pantanal.
A reportagem questionou o 
governo. A ministra do Planeja-
mento e Orçamento, Simone 
Tebet, afirmou ontem que o li-
mite para conceder créditos ex-
traordinários para combater 
os incêndios no Pantanal será 
o “necessário”. Ela estimou 
ainda que os valores serão “in-
finitamente menores” do que 
os recursos utilizados para 
atender à crise do Rio Grande 
do Sul no mês passado. 
Tebet esteve no Palácio do 
Planalto ao lado da ministra 
do Meio Ambiente e Mudança 
do Clima, Marina Silva, e do 
ministro da Integração e do De-
senvolvimento Regional, Wal-
dez Góes. Os ministros vão pa-
ra Corumbá na sexta. Amanhã, 
a Junta de Execução Orçamen-
tária, que reúne Planejamen-
to, Casa Civil, Fazenda e Ges-
tão, deve discutir o crédito ex-
traordinário para o bioma.
O PACTO. O pacto assinado por 
Lula neste mês envolve dez Es-
tados que abrigam Pantanal e 
Amazônia (Mato Grosso, Ma-
to Grosso do Sul, Pará, Amazo-
nas, Maranhão, Tocantins, 
Acre, Amapá, Roraima e Ron-
dônia) na tentativa de frear o 
problema. Entre as medidas 
previstas estão criar bases pa-
ra coordenar ações e a contra-
tação de brigadistas.
Para superar o agravamento 
das queimadas, a pasta prevê 
criar, até semana que vem, 
duas bases no Pantanal. Uma 
será em Corumbá, município 
com mais focos de incêndio. 
Neste fim de semana, enquan-
to a cidade realizava a festa de 
São João, uma larga trilha de 
fogo se alastrava na margem 
oposta do Rio Paraguai, a pou-
cos quilômetros de distância.
Já a outra base deve ser em 
Poconé, mas o local ainda está 
sob análise. As unidades reuni-
rão representantes de Ibama, 
ICMBio, Forças Armadas e 
Bombeiros. Como parte do 
pacto, governo federal e Esta-
dos se comprometem a definir 
áreas prioritárias para preven-
ção, manejo e combate ao fo-
go. Um ponto que saiu do pa-
pel é a suspensão de autoriza-
ções de queima durante a seca, 
o que já foi feito por Mato Gros-
so do Sul, para evitar queima-
das descontroladas. O gover-
no sul-mato-grossense tam-
bém decretou ontem situação 
de emergência no Estado.
“Ninguém está parado fazen-
do plano enquanto o fogo está 
‘comendo’. Temos equipes 
nas pontas, estamos aumen-
tando a contratação de briga-
distas, comprando equipamen-
tos, aeronaves. O que quere-
mos é botar isso em documen-
to único, plano integrado ope-
rativo de combate aos incên-
dios no Pantanal”, afirmou ao 
Estadão o secretário extraor-
dinário de Controle de Desma-
tamento do ministério, André 
Lima. “Depois ainda tem Ama-
zônia, onde a situação começa 
a se agravar a partir de agosto.”
TURFA E AQUECIMENTO GLO-
BAL. O Pantanal também tem a 
queimada subterrânea em cur-
so, o chamado incêndio em 
“turfa”. Ela é um material 
orgânico decorrente da decom-
posição da vegetação e sua 
queima é de difícil controle 
por ocorrer sob a terra.
Essa destruição é agravada 
pelo aquecimento global e por 
fenômenos já esperados, co-
mo El Niño e La Niña, que po-
tencializam secas nos dois bio-
mas. Pela primeira vez, a Agên-
cia Nacional de Águas (ANA) 
declarou situação de escassez 
hídrica na bacia do Rio Para-
guai até 31 de outubro. 
“Estão principalmente quei-
mando as áreas que antigamen-
te eram brejos, áreas alagadas. 
Essas áreas estão muito vulne-
ráveis e são mais remotas, on-
de não há estrada e facilidade 
logística para fazer o comba-
te”, diz o biólogo Fernando 
Tortato, coordenador de proje-
tos da ONG Panthera. Segun-
do ele, houve melhora nas 
ações preventivas, “mas não 
são suficientes”. 
Para Figueirôa, a prevenção 
deveria ter sido mais intensa. 
Ele afirma que, mais do que res-
ponder com rapidez às queima-
das, é preciso criar um ambien-
te prévio de redução de danos. 
“Essa necessidade a gente está 
vendo na prática.”
Para ele, as autoridades deve-
riam ter aperfeiçoado o mane-
jo integrado do fogo, abrindo 
aceiros – uma espécie de trin-
cheira rasa – para dar acesso a 
brigadistas. Outra frente que 
deveria ter sido priorizada é a 
abertura prévia de pontos de 
captação de água nas áreas 
mais críticas. Por fim, há a 
questão da educação ambien-
tal, “para que as pessoas pa-
rem de botar fogo”, como aler-
ta Figuerôa. l
Congresso deve discutir 
neste ano uma lei 
específica para o bioma
Alta de incêndios no Pantanal preocupa especialistas
FONTE: PROGRAMA DE QUEIMADAS DO INPE / INFOGRÁFICO: ESTADÃO
QUEIMADAS
2.534
371
571
167
3.262
406
98 115 77
2.363
Focos de incêndio 
em junho
Focos de incêndio de 
janeiro a junho
2020 2021 2022 2023 2024* 2020 2021 2022 2023 2024*
*ATÉ O DIA 24 DE JUNHO (PARA AMBOS OS DADOS)
Recorde de fogo no Pantanal expõe 
falhas na prevenção do governo Lula
Especialistas alertam para eventos climáticos extremos mais frequentes; governo diz 
contratar mais brigadistas e fará amanhã análise conjunta de crédito extraordinário
Ambiente
Escassez hídrica
Destruição é agravada pelo 
aquecimento global e por 
fenômenos já esperados, 
como El Niño e La Niña
A12 METRÓPOLE
TERÇA-FEIRA, 25 DE JUNHO DE 2024
O ESTADO DE S. PAULO
INÊS 249
NOTAS E INFORMAÇÕES
Após mais de dois meses de agonia, foi 
anunciado, enfim, o encerramento da gre-
ve nacional dos professores das universi-
dades federais. O único sindicato que ain-
da resistia – Andes – comunicou no do-
mingo que a maioria de suas instituições filiadas op-
tou pelo término da paralisação, consumando um mo-
vimento