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Gramatica - Moderna Plus-262-264

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relação não faz sentido, é incoerente. No contexto da tira, porém, essa fala 
adquire sentido porque traduz a incapacidade do menino para responder 
satisfatoriamente à pergunta que lhe foi feita.
Quando avaliamos a coerência de um texto, o que fazemos é investigar se 
os nexos de sentido estabelecidos entre as informações, dados, argumentos 
correspondem, de fato, a relações possíveis entre as ideias apresentadas. 
Para construir um texto coerente, portanto, precisamos garantir que a 
articulação entre as ideias seja estabelecida de modo adequado. 
A seguir, veremos como diferentes mecanismos coesivos contribuem 
para garantir a articulação das ideias e, portanto, a construção do sentido 
de um texto. 
Mecanismos coesivos
A língua dispõe de uma série de mecanismos que criam vínculos entre 
as palavras, entre as orações e entre diferentes partes de um mesmo tex-
to. Esses mecanismos podem estabelecer dois tipos de coesão textual: a 
referencial e a sequencial.
Coesão referencial é aquela que cria, no interior do texto, um sistema 
de relação entre palavras e expressões, permitindo que o leitor identifique 
os referentes sobre os quais se fala no texto.
Coesão sequencial é aquela que cria, no interior do texto, condições para 
que o discurso avance. As diferentes flexões verbais de tempo e modo e as 
conjunções são os principais elementos linguísticos responsáveis pelo es-
tabelecimento e manutenção da coesão sequencial no interior do texto.
A relação entre coesão e coerência é muito forte. Na verdade, os meca-
nismos de coesão sequencial, ou seja, os elementos utilizados para garantir 
a articulação formal das partes do texto são essenciais para estabelecer a 
relação entre as ideias, que está na base da coerência textual. Por esse 
motivo, um bom controle dos mecanismos coesivos ajuda a garantir a pro-
gressão temática e a promover uma boa articulação das ideias, informações 
e argumentos no interior do texto. 
Coesão referencial
Da mesma maneira que determinadas placas de trânsito nos orientam 
a seguir em frente, virar à direita ou à esquerda, podemos utilizar palavras 
cuja função é orientar os leitores de um texto, indicando se devem voltar 
atrás para recuperar algo que foi dito ou se devem procurar a informação 
que desejam mais adiante. Se forem usadas de maneira equivocada, o leitor 
ficará confuso e desorientado. 
Vamos, agora, conhecer alguns mecanismos responsáveis pelo estabe-
lecimento da coesão referencial.
Anáfora
Observe o diálogo na tira abaixo. 
PAGANDO O PATO Ciça
CI A. Pagando o pato. 
Porto Alegre: L&PM, 
2006. p. 45.
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Observe como os pronomes têm um papel muito importante na asso-
ciação entre as partes desse texto. Eles sempre apontam, no diálogo, para 
algo que foi dito anteriormente.
Repare quantos vínculos textuais foram criados em um pequeno diálogo. 
Se as referências criadas pelos vários pronomes utilizados no texto não 
forem “decodificadas”, não há condições de compreender o que as perso-
nagens estão dizendo.
Todas as referências textuais estabelecidas, nesse caso, retomam 
elementos expressos anteriormente no texto. Esse mecanismo coesivo 
chama-se anáfora.
Catáfora
A revista Top Magazine, desde o seu lançamento, tornou-se conhecida por 
apresentar uma capa sem manchete. No entanto, por razões de mercado, 
essa característica precisou ser alterada. No trecho abaixo, o editor da Top 
comunica a mudança aos leitores. Observe.
Elas se foram...
É com pesar que, na edição passada, 
nos despedimos das nossas queridas 
capas sem manchetes. Elas nasceram há 
três anos, foram felizes, se reproduziram, 
cansaram e envelheceram. Morreram, 
coitadas. Ou melhor, nós as matamos. Há 
quem diga que elas se suicidaram, esta-
vam cansadas de viver nesse mundo cheio 
de outras revistas com suas manchetes 
enormes, chamativas, exuberantes. Não 
tivemos outra opção senão acabar com 
este sofrimento. [...] As falecidas estavam 
definitivamente ultrapassadas, não resis-
tiram à pressão da idade, estavam gagás, 
caducas. Espero que vocês compartilhem 
com a gente a felicidade de ver uma nova 
capa nascer. Vida longa às capas com 
manchetes! [...]
Top Magazine. São Paulo: Duetto, 
ano 4, n. 42, 2002. (Fragmento).
Cobra: Você namoraria o ganso, Filomena?
Filomena: Eu não... ele é muito burro...
Cobra: É mesmo?
Filomena: Tão burro que, mesmo quando não fala nada, a gente 
adivinha as burrices que ele deve estar pensando...
Cobra: ... vige! Se morder a língua...
O pronome pessoal ele 
retoma, anaforicamen-
te, o referente (o ganso) 
presente na 1a fala da 
cobra.
Mais uma vez, o prono-
me pessoal ele retoma, 
anaforicamente, o refe-
rente (o ganso) presente 
na 1a fala da cobra.
O pronome relativo que 
retoma seu antecedente 
(burrices), fazendo com 
que a oração seguinte 
signifique “o ganso deve 
estar pensando burri-
ces”.
 Top Magazine. São Paulo: Duetto, 
ano 6, n. 63, 2004.
 Top Magazine. São Paulo: Duetto, 
ano 9, n. 102, 2007.
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O texto começa com um pronome cujo referente só será identificado 
no segundo parágrafo:
Qual é o ar mais puro do mundo?
É o da Tasmânia, onde até um pequeno e irritadiço marsupial 
contribui para tornar esta ilha australiana um exemplo 
de preservação ambiental.
Elas se foram...
É com pesar que, na edição passada, nos despedimos 
das nossas queridas capas sem manchetes.
O pronome elas remete, cataforicamente, 
à expressão nominal capas sem manchete. 
Ao contrário da anáfora, neste mecanismo o referente aparece depois 
do item coesivo. Trata-se então de uma catáfora.
Substituição
Observe as palavras destacadas abaixo. 
Eis uma das belas vantagens de se viver longe de tudo. A 
Tasmânia é o Estado mais meridional da Austrália, separado 
da terra dos cangurus por um estreito de 240 quilômetros 
de largura. Ao sul desta pequena ilha da borda do mundo, 
nada além do vasto e gelado oceano que a separa da An-
tártica. O isolamento geo gráfico poderia ser um tremendo 
problema para os seus 490 mil habitantes, mas eles prefe-
rem vê-lo como uma bênção. [...]
BARTABURU, avier. Extremos. Terra. São Paulo: Peixes, ano 14, 
n. 176, dez. 2006, p. 26. (Fragmento).
 ineglass Bay, na Tasmânia; o nome da baía faz referência a seu formato, 
parecido com o de uma taça de vinho.
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