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PROTOCOLO DE CUIDADO COM AS EQUIPES DE SOCORRO EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA (UFSC) & SERVIÇO DE ATENDIMENTO MÓVEL DE URGÊNCIA (SAMU) DE BRASÍLIA 2024 1 PROTOCOLO DE CUIDADO COM AS EQUIPES DE SOCORRO EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES SUMÁRIO 03 APRESENTAÇÃO 09 PARTE DESCRITIVA 14 PARTE PROTOCOLAR 2 PROTOCOLO DE CUIDADO COM AS EQUIPES DE SOCORRO EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES INFORMAÇÕES DO PROTOCOLO Material desenvolvido em parceria com Laboratório Fator Humano, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e SAMU de Brasília (BSB) para equipes de socorro em emergências e desastres. Idealização e iniciativa: Andrea Chaves & Paola Barros Delben Organização e desenvolvimento: Paola Barros Delben, Andrea Chaves, Rafaela Luiza Trevisan, Daniela Silvestre, Priscilla Barros-Delben & Roberto Moraes Cruz. Referências: Organização Mundial da Saúde (2002), Associação Brasileira de Psicologia nas Emergências e Desastres (http://www.abrapede.org.br/), Centre for Research on the Epidemiology of Disasters CRED (http://www.cred.be/), Disasters and their consequences for public health (2011), Environmental health in emergencies and disasters: a practical guide, Programa em Saúde e Segurança para Contextos de Difícil acesso (Barros-Delben, nd), Atenção Psicológica em Situações Extremas: Compreendendo a Experiência de Psicólogos. O objetivo desse protocolo é a sistematização de processos e orientações relacionadas à saúde e à segurança de profissionais e voluntários que atuam em equipes de socorro em emergências e desastres. Para a construção do material foram empregadas metodologias de análise de requisitos, de consultoria a especialistas, definição de parâmetros mínimos e necessários e revisões de artigos científicos, notas técnicas orientadoras e protocolos com similaridade para a concentração de informações. O protocolo compreende: a) uma parte descritiva, com a contextualização geral de emergência e desastre, os estágios de atividade e apresentação dos tópicos; b) uma parte estritamente protocolar, considerando os estágios de atuação das equipes e as medidas de saúde e segurança objetivas para acompanhamento prático de líderes e gestores. O protocolo propriamente dito é estruturado em recomendações assertivas para o suporte eficiente às equipes, visando a redução de danos a curto, médio e longo prazo pela exposição ao contexto. http://www.abrapede.org.br/ http://www.cred.be/ 3 PROTOCOLO DE CUIDADO COM AS EQUIPES DE SOCORRO EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES APRESENTAÇÃO Motivação para a elaboração do material Em maio de 2024 uma catástrofe sem precedentes assolou a região sul do Brasil, principalmente o Rio Grande do Sul. Chuvas com um volume muito acima do normal para a época e em um curto período, relacionada tanto às mudanças climáticas quanto a fenômenos ímpares meteorológicos, provocaram uma situação que foi oficialmente decretada como de calamidade pública pelo governo do estado gaúcho. Áreas de Santa Catarina também foram afetadas e quase 400 mil pessoas tiveram de deixar suas casas. Ao menos 100 mortes foram confirmadas e os números devem aumentar, incluindo o de desaparecidos com o evento, além das consequências esperadas para a população atingida. Diante da emergência, comportamentos de solidariedade em todo o país e no exterior foram observados, desde ações para captação de doações de comida, cobertores e outros itens essenciais, dinheiro, também profissionais que se prontificaram a oferecer suporte ou foram destacados para a missão. As equipes de socorro comportam militares, bombeiros, pessoal da defesa civil e inúmeros profissionais, especialmente da saúde, como médicos, enfermeiros, psicólogos, socorristas, dentre outros. Essas equipes também estão expostas à emergência e sujeitas aos efeitos imediatos e prolongados de tal exposição. Grupos que se formaram espontaneamente durante os primeiros dias de atenção à tragédia possibilitaram encontros disciplinares, multi, inter e transdisciplinares, enfatizando a importância de um protocolo como esse voltado especificamente às equipes que atuam no socorro da população. 4 PROTOCOLO DE CUIDADO COM AS EQUIPES DE SOCORRO EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES Ciência da emergência e dos desastres A ciência da emergência e dos desastres tem importância significativa para prevenção, mitigação de riscos e recuperação diante situações inesperadas ou mesmo aquelas anunciadas e prováveis. Em meio à crise climática que o planeta enfrenta, seja por ciclos naturais ou aumento das repercussões em razão da atividade humana, mais emergências e desastres são esperados para os próximos anos e décadas e o manejo dessas situações precisa ser sistematizado para ações padronizadas com base em evidências. As emergências são situações em que há a eminência de uma ocorrência indesejável, crítica ou perigosa. Requer ações imediatas, diferente de uma urgência. Uma emergência pode se tornar um desastre, enquanto um desastre sempre terá o caráter de emergência. Desastres são que, de alguma forma, alteram a normalidade e o funcionamento de uma situação. Estão atrelados à percepção de perdas, danos e prejuízos, podem ser tanto por causas naturais quanto por causas artificiais e podem ser previstos ou estimados e mensurados em razão dos riscos ou de fatores de riscos. Riscos são probabilidades de um incidente crítico acontecer, como um acidente, um adoecimento, uma crise, uma emergência ou um desastre. Os riscos são geralmente classificados em cinco (5) categorias: riscos biológicos; riscos físicos; riscos químicos; riscos de acidentes; riscos ergonômicos. Dentro da categoria dos riscos ergonômicos, encontram-se os chamados riscos psicossociais, com a concepção de risco direcionada aos desfechos indesejáveis. Fatores de risco são elementos que em conjunto, isoladamente ou de maneira cumulativa e escalonável, podem influenciar, potencializar ou agravar um risco específico. Os níveis de risco são calculados pela equação probabilidade x severidade. Quanto mais severo e quanto mais frequente for a incidência de determinado componente ou desfecho, maior o grau de risco. A gestão de riscos surge então como um mecanismo para sistematizar e padronizar a administração dos riscos, com o viés preditivo mais acentuado que o de reação, ou de pósvenção. É uma operação que visa a redução de custos e a otimização do desempenho. 5 PROTOCOLO DE CUIDADO COM AS EQUIPES DE SOCORRO EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES As etapas no processo de tomada de decisões estabelecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS, 2002), compreendem: a) prévia, pré- crítica ou de prevenção; b) crítica ou da emergência propriamente dita e; c) período pós-crítico, pós-emergências e de recuperação. Essa perspectiva inspirou o Plano Nacional de Gestão de Riscos e Respostas a desastres naturais, organizado em quatro (4) eixos: 1) prevenção; 2) mapeamento de áreas de risco; 3) monitoramento e alerta; 4) resposta. As emergências estão no primeiro nível de atenção, depois os desastres e por último as catástrofes. O cuidar nas emergências e desastres Cuidado se caracteriza como um meio de oferta de ajuda. O cuidado pode ser tanto para o outro, geralmente mais enfatizado como uma atividade ou tarefa constituída, quanto também para si. O heterocuidado implica num comportamento seguro de pró-cidadania, de empatia e de generosidade, independentemente da remuneração envolvida no processo, enquanto o autocuidado, também no escopo do comportamento seguro, visa a garantia de autoproteção e que propicia melhores condições para o heterocuidado, com uma oferta mais qualificada de ajuda aos outros. O cuidado deve ser oferecido a quem necessita, mas todos nós, em alguma esfera, precisamos de cuidado, especialmente em emergências. Diferentedo socorro, conceituado como uma assistência ou intervenção em saúde ou segurança diante uma urgência ou emergência, o cuidado é continuado e não requer um evento crítico para ser praticado ou solicitado. O socorro é uma resposta às emergências e pode ser do tipo: a) auto prestado; b) por recursos externos ou suporte remoto; c) presencial no local do evento, mesmo que como consequência seja feita a remoção da(s) vítima(s). Deve-se considerar as limitações dos contextos típicos de difícil acesso em emergências: Acessibilidade; Tempo; Flexibilidade teórico-prática; Proximidade. 1 2 3 4 6 PROTOCOLO DE CUIDADO COM AS EQUIPES DE SOCORRO EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES Em emergências e desastres a atenção às prioridades é listada da seguinte forma: a) mortos; b) feridos; c) enfermos; d) desalojados; e) carentes de recursos básicos; f) desaparecidos; g) pessoas em crises (suicídio; violência; sob efeito de substâncias; alterações comportamentais pós-traumas e por psicopatologias previamente identificadas) e concomitante: equipes de socorro, formalizadas ou voluntárias. As equipes de socorro em emergência são formadas pela população vítima do incidente, inicialmente, mas também por equipes direcionadas pelo poder público, profissionais que compõem grupos com experiência e/ ou capacitação para a atividade fim de prestar socorro, seja esse de resgate ou de assistência em saúde. As equipes também podem ser de voluntários externos ao contexto, pessoas que possuem algum vínculo com as vítimas ou com o local, ou que ainda dispõem de seu tempo e expertise para oferecer ajuda. O cuidado com as equipes de socorro é crucial para o sucesso das operações em emergências e desastres, pois são elas que cuidarão de quem precisa e, portanto, precisam de recursos, suporte e atenção para desempenharem suas funções. Esse cuidado perpasse o acesso a itens básicos de sobrevivência, como alimentação, água, higiene e espaços para descanso/ sono, até os mais aprofundados como cuidados médicos e psicológicos. A premissa é que, se o pessoal que presta ajuda em emergências estiver bem, melhor será a ajuda oferecida e menos os impactos a curto, médio e longo prazo para esses “heróis”. A triagem, a preparação e o suporte: equipes de socorro em emergências e desastres Com o objetivo de reunir as melhores estratégias para o cuidado consciente e adequado às equipes de socorro que atuam em emergências ou desastres, esse material foi elaborado, considerando recomendações para a triagem, a preparação, o treinamento e o suporte apropriado, necessário e possível. Diante da complexidade de cada situação, é importante enfatizar que esse cuidado integral nem sempre será viável, pelas mais distintas razões, mas pode servir como um norteador para ações assertivas que se pautem na preocupação com essas equipes. 7 PROTOCOLO DE CUIDADO COM AS EQUIPES DE SOCORRO EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES Com relação à triagem e a avaliação para a seleção, requisitos mínimos de aptidão ou restrição devem ser estabelecidos diante do contexto que se apresenta da emergência. Para fins de exemplo prático, alguém que não saiba nadar atuando em uma região alagada ou de enchentes, ao menos em um primeiro momento, deve ter seu acesso restrito, mesmo que se coloque de prontidão para as equipes e tenha outras competências necessárias, exceto na possibilidade de alocar seus serviços em um setor que não demande a exposição direta a riscos. Nota-se que não se trata de uma discussão sobre abraçar a diversidade, a equidade e a inclusão, mas de priorizar o atendimento às vítimas, especialmente prioritárias, onde as equipes de socorro não podem se configurar como elementos a mais de preocupação, que possam, por exemplo requerendo também o socorro. As necessidades mínimas para as equipes precisam ser bem compreendidas e atualizadas, conforme outras situações surjam. A preparação, que abarca treinamentos, capacitações e a formação - pode tanto ser um dos requisitos mínimos para a atuação nas equipes de socorro, como um complemento ou um diferencial e ainda uma exigência pré-participação. A oferta da capacitação breve a quem não possui este elemento em seu currículo e mesmo para quem já tem experiência, visando o alinhamento específico e atualizações. É importante que ao menos o treinamento em primeiros socorros ou Atendimento Pré-Hospitalar (APH) sejam exigidos de todos, mesmo daqueles que não compõem equipes de saúde propriamente ditas. Além destes: comunicação assertiva e habilidades interpessoais, liderança, comportamento seguro e Primeiros Cuidados Psicológicos (PCP) devem ser exigidos. Os treinamentos ou capacitações podem fazer a diferença nas equipes, permitindo o entendimento das cenas com mais segurança, além de respostas efetivas e rápidas. Por fim, mas não menos importante, deve-se promover o acesso e a capacitação ou atualização para a utilização de ferramentas, equipamentos, instalações móveis e imóveis e meios de comunicação alocados para a emergência e que sejam operacionais para as equipes. Esse processo, junto a normas de saúde e segurança que devem ser seguidas por todos das equipes, incluindo cuidados com a própria saúde física e mental, permitem um controle de coordenações que facilitam o entendimento de quando é preciso renovar as equipes, recapacitar ou até mesmo dispensar membros por questões de saúde e segurança, destes e de outros. Com relação às normas para a preservação da integridade das equipes, é preciso incluir incentivos e facilitações de acesso à rede de apoio 8 PROTOCOLO DE CUIDADO COM AS EQUIPES DE SOCORRO EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES psicossocial pessoal e familiar, obrigatoriedade quanto ao limite de expediente diário, jamais ultrapassando o tempo estabelecido e garantindo o descanso e a recuperação para prevenção da fadiga, do esgotamento e consequentemente do chamado erro humano. O erro humano tem como antecedentes as causas psicofisiológicas, a exemplo do cansaço físico e mental, distúrbios ou prejuízos do ciclo sono- vigília, situações de violência ou estresse acentuado, culminando no chamado erro humano do tipo não-intencional. Este requer avaliação e monitoramento do desempenho das equipes, com planejamentos e revisões antes e após as ações, respectivamente os briefings e os debriefings, e feedbacks assertivos coletivos e individuais quando possível. Também, ações de promoção da valorização das equipes de socorro por meios de reconhecimentos e benefícios podem reduzir a incidência de negligência e até mesmo o boicote, que levam aos erros intencionais. Esclarecimentos sobre as condutas das equipes, com articulações que permitam a atuação em emergências precisam destacara a percepção de que não haverá punições ou outras consequências negativas para o reporte e comunicação de problemas e erros. Caso alguma operação vá de encontro a resoluções de conselhos profissionais ou de leis, geralmente afrouxadas em emergências, precisa estar presente a noção de uma proteção contextualizada. Nesse sentido, é preciso considerar mecanismos de acessibilidade nos atendimentos e maior flexibilidade a regras que não são aplicadas ao contexto emergente. A preparação e o gerenciamento do sistema de coordenação e comunicações completa o escopo de recomendações principais. Todas estas indicações serão decompostas em momentos específicos da emergência, desde a identificação do contexto, dos recursos e do fator humano envolvido na emergência e nas etapas pré, durante (início, meio e fim) e após as emergências. Em síntese, no período prévio à atividade, é sugerida a preparação do pessoal que se dirige ao contexto de emergência, durante é necessário um suporte continuado e atenção a aspectos de saúde e segurança e no momento pós-atividade deve-se considerar algum tipo de atendimento que busque traçar relações entre a exposição e os impactos percebidos, tanto para otimizar e aperfeiçoar as etapas anterioresquanto para continuar a oferecer cuidados às equipes de socorro após sua inserção nas emergências. 9 PROTOCOLO DE CUIDADO COM AS EQUIPES DE SOCORRO EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES PARTE DESCRITIVA CONTEXTUALIZAÇÃO GERAL DA EMERGÊNCIA/ DESASTRE: Entender o contexto específico e as situações em evolução é importante para traçar planos de ação. Os gabinetes ou salas de crises são criados em emergências para nortear as atividades e traçar objetivos em comum, condensando a comunicação em pontos essenciais e atualizando todos os envolvidos na emergência com os dados em progresso. Dessa forma, esse reconhecimento do contexto inicia na identificação do tipo de emergência, das atuais restrições ou bloqueios que possam dificultar ou até impedir o acesso das equipes, tanto para chegar quanto para voltar e os quantitativos da emergência. Os números de pessoas atingidas diretamente: mortos, feridos, desalojados, desaparecidos e os manejos de atualização de listas, além do estágio da emergência e de que forma pode ainda progredir. Por fim, mas não menos importante, uma descrição da percepção da emergência, que obriga a reflexão quanto ao que será encontrado e o confronto com a realidade e as demandas da equipe para que tenham um bom desempenho. 10 PROTOCOLO DE CUIDADO COM AS EQUIPES DE SOCORRO EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES ESTÁGIOS DAS ATIVIDADES EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES Os estágios de atividades em emergências e desastres compreendem fases antes, durante a e após as ações. ESTAGIOS DE ATIVIDADE PRÉ-ATIVIDADE ATIVIDADE PÓS-ATIVIDADE IDENTIFICAÇÃO DO CONTEXTO Principais riscos à saúde das equipes • Contaminações; Acidentes; Impactos ambientais e à imagem institucional; as informações devem ser transmitidas de maneira honesta e com alertas para que todos que se envolvam nesse contexto estejam cientes das repercussões de sua entrada em campo. • Impactos físicos: Devem ser levantados e elencados, preferencialmente do mais perigoso ao menos, a partir do mais provável ou de maior impacto. • Impactos psicológicos: São esperados como impactos psicológicos para as equipes que atuam nas emergências, especialmente no momento de exposição e que precisam ser comunicados e explicados a quem vai compor equipes quais são esses impactos e suas definições mínimas, com mecanismos para identificação e abordagem: • Estresse agudo; • Coping disfuncional e compensação de ciclos de prazeres (vícios, alterações de funcionamento alimentar) como forma de sustentar a permanecia na missão; • Suicídio (comportamento pregresso e atual); • Pânico e ansiedade; • Psicose (episódios anteriores e predisposição); • Burnout e estafa; • Distúrbios do ciclo descanso-expediente; • Alterações do ciclo sono-vigília; • Agressividade; • Medos (do futuro, de novas emergências, de consequências a longo prazo, quanto a autoeficácia, de situações de assédio e outras violências); • Processos de luto; Por essa razão é fundamental também compreender elementos prévios que podem influenciar no surgimento ou agravamento de quadros clínicos, entre eles: • Psicopatologias; • Tratamentos ou terapias em curso (e interrupções); • Psicotrópicos; • Luto/ crise recentes; • Transtornos de sono; • Adição/ vício; • Medos/ receios. Infelizmente, nem sempre esse levantamento de informações é viável e, portanto, em outros momentos devem ser abordados os tópicos desse quadro. 11 PROTOCOLO DE CUIDADO COM AS EQUIPES DE SOCORRO EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES Representantes/ coordenadores e fluxo de comunicação • Coordenadores nacionais; Coordenadores regionais; Coordenadores locais: Quem são, de que forma podem ser acionados, quais seus contatos e seus assistentes ou representantes diretos, quantos são, por quanto tempo estão ocupando o posto e se são os primeiros a assumirem a função no contexto propriamente dito. • Fluxo de comunicação: É indispensável que o fluxo de comunicação seja estabelecido nos primeiros momentos da emergência, considerando o papel do líder geral da emergência, a quem todos os demais líderes devem se reportar e quem delimita as ações das equipes. ESTAGIOS DE ATIVIDADE PRÉ-ATIVIDADE ATIVIDADE PÓS-ATIVIDADE RECURSOS E FATORES HUMANOS Recursos disponíveis, necessários, solicitados • Alimento e água: Aspectos básicos à sobrevivência humana. Num protocolo de suporte às equipes, deve-se considerar como o está o abastecimento do local da emergência, prioritariamente para a população, mas também às equipes que irão prestar serviços. A quantidade de alimento e água deve ser proporcional à quantidade de pessoas estimada ou literalmente registrada e, portanto, essa conta deve ser continuada considerando a quantidade mínima de recursos para todos ou a eventual necessidade de racionamento e de entrega de suprimentos. Não havendo possibilidades de atendimento às necessidades mínimas de população e equipe, deve-se reduzir o número de pessoas no entorno, especialmente voluntários que não estejam listados como prioritários. • Vestimentas/ EPI: Geralmente as equipes que atuam nas emergências contam com suas próprias vestimentas, mas é comum receberem Equipamentos de Proteção Individual (EPI) da coordenação das equipes, visando principalmente a padronização de aspectos mínimos de segurança coerentes com os riscos do contexto. Na insuficiência de EPI para a atuação, é preciso reavaliar tanto a segurança da cena quanto a quantidade de pessoas integrando as equipes, pois a segurança individual de quem oferece ajuda deve estar em primeiro lugar, ou as pessoas que compõem as equipes tornar-se-ão vítimas potenciais, elevando o número de indivíduos que requerem suporte apropriado e que vai se somar ao número de afetados do local. • Abrigo: Os abrigos são instalações que oferecem proteção às intempéries externas e são oferecidos primeiramente à população afetada pela emergência, mas muitas vezes se tornam as “moradias provisórias” das equipes que atuam na situação. Igualmente aos itens anteriores, na sua indisponibilidade ou não sendo possível abrigos que comportem às equipes em sua totalidade, deve ser revisto o número de pessoas integrando os grupos, pois é fundamental que as equipes tenham um local que possam descansar, dormir etc. • Higiene: É direito básico humano o acesso a recursos de higiene, entretanto, é importante apontar que em emergências esse acesso é limitado e muitas vezes improvisado ou precário. Contudo, equipes que prestam socorro precisam ter condições mínimas para sua higiene, o que repercute tanto em sua saúde física, como mental e moral. Nesse aspecto são destacadas pias para lavar as mãos, especialmente quem precisa frequentemente realizar o procedimento para evitar contaminações, banheiros com privada e possibilidade de descarga e chuveiros, mesmo que não diariamente, mas ao menos após a inserção em 12 PROTOCOLO DE CUIDADO COM AS EQUIPES DE SOCORRO EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES campo de emergência e o contato com possíveis contaminantes. Um membro de equipe com comprometimentos em função de falta de higiene pode ser uma pessoa a menos prestando serviços, logo, é fundamental que a coordenação da emergência possa se atentar a esse aspecto. • Suporte em saúde/ equipe: Um grupo específico deve ser orientado a prestar suporte para as demais equipes. Na impossibilidade desse arranjo estratégico, é preciso considerar o revezamento de profissionais em escalas para esse tipo de suporte. As equipes precisam diariamente passar por uma breve inspeção ou momento de reporte em que consigam discutir sobre os principais problemas, soluções, incidentes e sintomas ou sinais da saúde física e mental percebidos. • Socorro/ resgate: O reconhecimento de necessidades distintas para socorro e resgate precisam ser clarificados no centro de comunicação da emergência, tanto para a dispensa de pessoas sem função imediata, quanto para a realocação de fator humano para as urgências e outras emergências. O socorroé para as vítimas ou potenciais vítimas, já o resgate implica em uma equipe com competências várias para que possam fazer a remoção e locomoção de uma vítima de um local de risco para outro seguro. As equipes precisam entender em qual categoria estão atuando e de que maneira sua contribuição é relevante. • Policiamento/ segurança: O policiamento e a segurança em emergências têm um papel distinto daquele percebido no cotidiano da sociedade. Deve considerar um olhar empático, entendendo as dinâmicas do próprio contexto, como comportamentos exagerados em função de pessoas afetadas pela crise, episódios paralelos e que não representam perigo e aqueles tipificados como de condutas inadequadas e até criminosas. As equipes precisam ser protegidas, assim como a população, mas asseguradas que poderão realizar suas atividades sem preocupações com agressões e violências, dentre elas o assédio. • Comunicação: Indispensável para a organização das atividades e listagem de prioridades em função da situação contextualizada, a comunicação em emergências e desastres deve ser assertiva, ter referências centrais e uma liderança representativa que consiga coordenar as mais distintas ações e equipes. As equipes precisam compreender o fluxo de comunicação estabelecido e serem informadas sobre mudanças e novas perspectivas, visando encontrar as melhores soluções para cada problema que se apresenta. Comunicação assertiva é objetiva, pontual e não se baseia estritamente em comportamentos impulsivos, tampouco mediada exclusivamente pelas emoções, ainda que estas estejam presentes, especialmente em crises. • Educação/ orientações; Informações/ dados atualizados: De que maneira está sendo organizada a educação sobre os riscos, os recursos, objetivos, normas e outras questões pertinentes na emergência? Como as orientações são passadas visando sua padronização e garantia de que todos recebam o mesmo conteúdo? Qual o sistema de levantamento e apresentação de dados e sua atualização (de quanto em quanto tempo)? • Locomoção/ transporte: Existe um meio formal ou padronizado para a locomoção e transporte de equipes e de vítimas? As opções são bem claras quanto a prioridade para meios aéreos, terrestres e aquáticos? Quem são as pessoas que operam esses meios de locomoção e de transporte e a equipe deve ser capacitada para operar também? • Vítimas feridas/ adoecidas/ fatais: Qual o quantitativo e o qualitativo (os clusters ou grupos de risco identificados – quem predominantemente se caracteriza como qualquer uma dessas vítimas)? • Outros. 13 PROTOCOLO DE CUIDADO COM AS EQUIPES DE SOCORRO EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES Triagem: Equipes de socorro formais (contratadas – solicitadas e voluntárias) – requisitos mínimos: • Formação: qual a formação mínima ou se não há necessidade dessa definição? Que critérios foram utilizados para descrever a equipe? • Capacitações e treinamentos em saúde: APH; comunicação, inteligência emocional; habilidades interpessoais; liderança; comportamento seguro; PCP. Quais outras capacitações e treinamentos específicos são requeridos em função do contexto, como por exemplo, saber nadar ou mergulhar, treinamento em combate a incêndio etc.? • Documentos de identificação/ Registro profissional e outros títulos: As identificações devem estar armazenadas em locais protegidos, preferencialmente munidos de cópias digitalizadas e links de confirmação de fácil acesso. Cada contexto pode exigir um tipo específico de identificação, ou mesmo de autorização para a entrada em determinados locais. Ainda, os registros profissionais e outros títulos são importantes para a conferência de especializações demandadas quando o fluxo de informações e solicitações não funciona adequadamente. • Histórico/ experiência: especialmente quando há um número significativo de pessoas dispostas, voluntárias ou em prontidão para a ação em emergências, é preciso definir critérios de preferência e quem já possui algum histórico ou experiência em equipes pode ter vantagens nessa triagem. O histórico e a experiência também, a partir do registro da experiência atual, servirá para outras seleções, considerando também uma avaliação do desempenho e da experiência, respectivamente pelos gestores/ coordenadores das atividades e dos próprios membros das equipes. • Definição de papel na emergência: Ainda que a profissão seja clara e compatível com a função, é preciso definir qual o papel de cada pessoa na emergência. Por exemplo, um médico pode assumir a função administrativa e não operacional médica e exceto em crises e por comportamentos de proatividade, deve manter- se em seu posto para que não haja abandono de tarefas, tampouco a invasão de campos. • Limitação/ restrição física/ cognitiva/ mental: Independente de tempo, essa informação é obrigatória e precisa ser coletada para prevenção e mitigação de riscos, especialmente em contextos com recursos escassos e que podem tornar o membro da equipe mais uma vítima real ou potencial. • Medidas profiláticas recomendadas/ obrigatórias: vacinas, medicações, checkup médico/ odontológico, laboratorial, imagem; avaliação de riscos psicológicos (adição; transtornos psicológicos; suicídio). • Motivação para a atividade (valores, princípios, objetivos): havendo tempo e possibilidade de realizar o levantamento dessa informação, pode ser muito útil para entender as razões que atraem profissionais para emergências, inclusive quando reportam questões financeiras, de crescimento/ destaque na carreira, oportunidade de aprendizagem ou obrigatoriedade (quando não têm escolha para a função/ atividade). Os valores, princípios e objetivos pessoais podem, futuramente, garantir em um banco de dados a análise estatística preditiva quanto a quais elementos estão mais relacionados com um bom desempenho, com o comportamento seguro e redução de riscos. 14 PROTOCOLO DE CUIDADO COM AS EQUIPES DE SOCORRO EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES PARTE PROTOCOLAR ORIENTAÇÕES Para a utilização da guia de preenchimento para atividades de maneira protocolar, orienta-se, em primeiro lugar, o preenchimento do checklist da emergência/ desastre propriamente dito, apenas com a introdução de aplica (ao marcar o item) ou não se aplica, ao deixar os espaços em branco. As descrições objetivas servem para um norteamento inicial e que deve ser revisto periodicamente, em especial quanto à mudanças e evolução dos quadros. Na etapa de protocolo com as equipes, trata-se, nos estágios pré, durante e pós- atividades, de mapeamentos contextualizados, ou seja, de acordo com as situações específicas. Novamente, essa ferramenta oferece um panorama geral, porém, que é dinâmico e os mapeamentos devem ser continuados, diante das possibilidades e viabilidade do momento para garantir que o máximo possível de informações tenha sido coletadas para que a apresentação das propostas de prevenção e intervenção precoce sejam conduzidas com eficácia. Quanto mais dados coletados, melhor, mas é importante enfatizar que a cultura de pesquisa na prática profissional ainda está em desenvolvimento e ausências ou falhas no processo não comprometem a intencionalidade em prol das melhores ações. Exemplificando: no estágio pré-atividade, é preciso identificar as possíveis contaminações ou mesmo a incidência destas já contabilizada. Também, quais os recursos disponíveis, as restrições e os problemas para a operacionalização das equipes. Já no estágio de atividade, é importante reconhecer os principais indicadores presentes nos membros do grupo, como a presença de patologias que possam requirir alguma clarificação, sobre situações de luto ou mesmo receios e pânico diante determinados elementos e as capacitações básicas para o manuseio de equipamentos e outros utensílios críticos à atuação. Ainda nesse estágio é fundamental um trabalho de educação quanto aos riscos reais e eminentes do contexto, como doenças, impactos psicológicos previstos e, por fim, nopós atividade, as repercussões a médio e longo- prazo. Os recursos de promoção da saúde podem ser realizados em briefings e debrifiengs e, na medida do possível, o registro de ocorrências para controle e futuros cálculos estatísticos preditivos. 15 PROTOCOLO DE CUIDADO COM AS EQUIPES DE SOCORRO EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES CHECKLIST DA EMERGÊNCIA R EC O N H EC IM EN TO D A E M ER G ÊN C IA Tipo de emergência/ desastre Enchente/ Alagamento Incêndio/ Queimada/ explosão Atividade vulcânica Pandemia/ Epidemia/ Contaminações físicas/ químicas Terremoto/ Tsunami/ Eventos geofísicos Impactos de corpos naturais ou artificiais/ Atividade solar Acidente viário Outros Bloqueios e restrições de acesso Estradas interditadas/ bloqueadas Aeroportos interditados/ bloqueados Vias marítimas interditadas/ bloqueadas Instalações destruídas/ desabadas/ bloqueadas Sistema de saúde/ emergência indisponível ou destruído População atingida (qnt): População vulnerável (qnt): Desaparecidos (estimativa): Recuperação estimada (tempo): Principais necessidades: Autoridades/ representantes: Etapa atual no processo de tomada de decisões (OMS) a) Prévia, pré-crítica ou de prevenção b) Crítica ou da emergência propriamente dita c) Pós-crítica, pós-emergência e de recuperação Situação em função do Plano Nacional de Gestão de Riscos e Respostas a Desastres Naturais (Governo Federal) 1) Prevenção 2) Mapeamento de áreas de risco 3) Monitoramento e alerta 4) Resposta Descrição da emergência/ desastre: Descrição das demandas iniciais prioritárias: Descrição das equipes de socorro requeridas: Tipo Resgatistas/ Socorristas Bombeiros Militares (Forças Armadas) Médicos/ Especialistas Enfermeiros, fisioterapeutas, nutricionistas, outras áreas da saúde Psicólogos/ Psiquiatras Voluntários Outros 16 PROTOCOLO DE CUIDADO COM AS EQUIPES DE SOCORRO EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES PROTOCOLO DE CUIDADO COM AS EQUIPES DE SOCORRO EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES ESTÁGIO PRÉ-ATIVIDADE ID EN TI FI C AÇ Ã O D O C O N TE XT O Pr in ci pa is ri sc os à s aú de Contaminações: Acidentes: Impactos físicos: Impactos ambientais: Impactos psicológicos: R ep re se nt an te s Coordenadores nacionais: Coordenadores regionais: Coordenadores locais: Fluxo de comando: ID EN TI FI C AÇ Ã O D O F AT O R H U M A N O E R EC U R ES O S R ec ur so s Alimento Água Vestimentas/ EPI Abrigo Suporte em saúde/ equipe Socorro/ resgate Higiene Policiamento/ segurança Educação/ orientações Locomoção/ transporte Informações/ dados atualizados Comunicação Eq ui pe fo rm al / v ol un tá ri a Formação: Capacitações: Documentos e registros Histórico/ experiência: Motivação para a atividade Limitação/ restrição física Limitação cognitiva/mental Medidas profiláticas Outros 17 PROTOCOLO DE CUIDADO COM AS EQUIPES DE SOCORRO EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES PROTOCOLO DE CUIDADO COM AS EQUIPES DE SOCORRO EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES ESTÁGIO DE ATIVIDADE IN ÍC IO A sp ec to s ps ic ol óg ic os Psicopatologia: Tratamento/ terapia em curso: Psicotrópicos: Luto/ crise recentes: Transtorno de sono Adição/ Vício Medos/ receios Outros Alinhamentos iniciais A sp ec to s m éd ic os Doenças crônicas Imunodeficiência Questões hormonais Medicamentos Alergias Tratamento hospitalar Fisioterapia Questões odontológicas Gestação Outros Alinhamentos iniciais O pe ra ci on al e d e se gu ra nç a EPI críticos EPI recomendados EPC críticos EPC recomendados Bagagem individual Instalações do contexto Suprimentos operacionais Normas do contexto/ atuação Saídas de emergência Rotas de evacuação Equip. comunicação Termos de atuação/ imagem Simulações de emergência Outros Alinhamentos iniciais 18 PROTOCOLO DE CUIDADO COM AS EQUIPES DE SOCORRO EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES PROTOCOLO DE CUIDADO COM AS EQUIPES DE SOCORRO EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES ESTÁGIO DE ATIVIDADE D U R A N TE A A TI V ID A D E Pr om oç ão d a sa úd e e da s eg ur an ça Prontidão para a emergência Recursos básicos Soluções ergonômicas Higiene pessoal Exercícios físicos Lazer e entretenimento Práticas religiosas/ mentais Espaços de privacidade Ciclo sono-vigília Ciclo descanso-expediente Lista de autocuidado: Gestão de tempo (24 horas) Benefício/ Reconhecimento Rede de apoio psicossocial Percepção de sintomas R is co s ps ic ol óg ic os Estresse agudo Coping disfuncional, Suicídio, Pânico Psicose; Burnout; Alterações: sono-vigília; Agressividade, Assédio e outras violências Processos de luto Outros M éd ic os Lesões Traumas Doenças infectocontagiosas Distúrbios gastrointestinais Sintomas cardiovasculares Dores e desconfortos Problemas respiratórios Outros PROTOCOLO DE CUIDADO COM AS EQUIPES DE SOCORRO EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES ESTÁGIO DE ATIVIDADE E PÓS-ATIVIDADE FI M E P Ó S- AT IV ID A D E R is co s ps ic ol óg ic os e m éd ic os Estresse pós-traumático Transtornos de humor Alcoolismo/ adição Suicídio Pânico Psicose Burnout Luto Agressividade/ Violência Distúrbios do sono Doenças crônicas Necessidade de fisioterapia Necessidade odontológica Necessidade médica Necessidade de terapia Outros 19 PROTOCOLO DE CUIDADO COM AS EQUIPES DE SOCORRO EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES PROTOCOLO DE CUIDADO COM AS EQUIPES DE SOCORRO EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA (UFSC) & SERVIÇO DE ATENDIMENTO MÓVEL DE URGÊNCIA (SAMU) DE BRASÍLIA contato@polarsapiens.com fatorhumanolab@gmail.com mailto:contato@polarsapiens.com mailto:fatorhumanolab@gmail.com