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Anatomia Macroscópica do Tronco Encefálico e do Cerebelo A - TRONCO ENCEF. LICO 1.0 GENERALIDADES O tronco encefálico interpõe-se entre a medula e o diencéfalo, situando-se ventralmente ao cerebelo. Na sua constituição entram corpos de neurônios que se agrupam em núcleos e fibras nervosas que, por sua vez, se agrupam em feixes denominados tratos, fascículos ou lemniscos. Estes elementos da estrutura interna do tronco encefálico podem estar relacionados com rele vos ou depressões de sua superfície, os quais devem ser identificados pelo aluno nas peças anatômicas com o auxílio das figuras e das descrições apresentadas nes te capítulo. O conhecimento dos principais acidentes da s'-perfície do tronco encefálico, como aliás de todo o sistema nervoso central, é muito importante para o estudo de sua estrutura e função. Muitos dos núcleos do tronco encefálico recebem ou emitem fibras nervo sas que entram na constituição dos nervos cranianos. Dos 12 pares de nervos cranianos, 10 fazem conexão no tronco encefálico. A identificação destes nervos e de sua emergência do tronco encefálico é um aspecto im portante do estudo deste segmento do sistema nervoso central. Convém lembrar, entretanto, que nem sempre é possível observar todos os nervos cranianos nas peças anatômicas rotineiras, pois frequentemente alguns são arrancados durante a retirada dos encéfalos. O tronco encefálico se divide em: bulbo, situado caudalmente; mesencéfalo, situado cranialmente; e ponte, situada entre ambos. A seguir será feito o estudo da morfologia externa de cada uma destas partes. 2.0 BULBO O bulbo ou medula oblonga tem a fonna de um tronco de cone cuja extremidade menor continua cau dalmente com a medula espinhal (Figura 4.1 ). Não existe uma linha de demarcação nítida entre medula e bulbo. Considera-se que o limite entre eles está em um plano horizontal que passa imediatamente acima do filamento radicular mais cranial do primeiro nervo cervical, o que corresponde ao nível do forame magno do osso occipital. O limite superior do bulbo se faz em um sulco horizontal visível no contorno ventral do ór gão, o sulco bulbo-pontino, que corresponde à margem inferior da ponte (Figura 5.1 ). A superficie do bulbo é percorrida longitudinalmente por sulcos que conti nuam com os sulcos da medula. Estes sulcos delimitam as áreas anterior (ventral), lateral e posterior (dorsal) do bulbo que, vistas pela superficie, aparecem como uma continuação direta dos funículos da medula. Na área ventral do bulbo (Figura 5.1), observa-se a.fissu ra mediana anterior, e de cada lado dela existe uma eminência alongada, a pirâmide. fonnada por um feixe compacto de fibras nervosas descendentes que ligam as áreas motoras do cérebro aos neurônios motores da medula, o que será estudado com o nome de trato corticoespinhal. Na parte caudal do bulbo, fibras deste trato cruzam obliquamente o plano mediano em feixes interdigitados que obliteram a fissura mediana anterior e constituem a decussação das pirâmides (Figura 5.1 ). Entre os sulcos lateral anterior e lateral posterior. temos a área lateral do bulbo. onde se observa uma eminên cia oval, a oliva (Figura 5.1 ), formada por uma grande massa de substância cinzenta, o núcleo olivar inferior, situado logo abaixo da superfície. Ventralmente à oli va (Figura 5.1) emergem, do sulco lateral anterior. os filamentos radiculares do nervo hipoglosso. XH par craniano. Do sulco lateral posterior emergem os fila mentos radiculares, que se unem para fonnar os ner vos glossofaringeo (IX par) e vago (X par), além dos filamentos que constituem a raiz craniana ou bulhar do nervo acessório (XI par), a qual se une com a raiz espinhal, proveniente da medula (Figura 5.1). A metade caudal do bulbo ou porção fechada do bulbo é percorrida por um estreito canal. continuação direta do canal central da medula. Este canal se abre para formar o IV ventrículo. cujo assoalho é, em par te, constituído pela metade rostral, ou porção aberta do bulbo (Figura S.2). O sulco mediano posterior (Fi gura 5.2) termina a meia altura do bulbo. em virtude do afastamento de seus lábios. que contribuem para a formação dos limites laterais do IV ventrículo. Entre este sulco e o sulco lateral posterior está situada a área posterior do bulbo. continuação do funículo posterior da medula e, como este, dividida em fascículo grácil Corpo mamilar - - - - - -.... _ Fossa interpeduncular -- ._ .... -Nervo oculomotor ------- Pedúnculo cerebral - - - Raiz motora do V - - - Raiz sensitivo do V -- Sulco basilar ----- Foro me cego - - - - - Flóculo cerebelor - - - - Nervo hipoglosso ---- Decussoçõo dos pirõmides -- 10 nervo cervical ·---- Fissura median<1 anterior - Sulco lateral anterior -- Cerebelo ------- -- e fascículo cune~f'orme pelo sulco intermédio posterior (Figura 5.2). Estes fascículos são constituídos por fi bras nervosas ascendentes. provenientes da medula, que terminam em duas massas de substância cinzenta, os núcleos grácil e cuneiforme, situados na parte mais cranial dos respectivos fascículos, onde determinam o aparecimento de duas eminências, o tubérculo do núcleo grácil. mediaimente, e o tubérculo do núcleo cuneiforme, lateralmente (Figura 5.2). Em virtude do aparecimento do IV ventrículo, os tubérculos do núcleo grácil e do núcleo cuneiforme afastam-se lateralmente como os dois ramos de um V e gradualmente continuam para cima com o pedúnculo cerebelar inferior formado por um grosso feixe de fibras que fletem dorsalmente para penetrar no cerebelo. Na Figura 5.2, o pedúnculo cerebelar inferior aparece seccionado transversalmente ao lado do pedúnculo cerebelar médio, que é parte da ponte. 3.0 PONTE Ponte é a parte do tronco encefálico interposta en tre o bulbo e o mesencéfalo. Está situada ventralmen te ao cerebelo e repousa sobre a parte basilar do osso occipital e o dorso da sela túrcica do esfenoide. Sua base, situada ventralmente, apresenta estriação trans- _ - -- ---- Trato óptico .,, .. --- -- Nervo oftálmico - - - - - Nervo maxilar - - - - - Nervo facial - Pedúnculo cerebelor médio -- Nervo vestíbulo-codeor - - - - Sulco bulbo-pontino - - - - Plexo corioide -· Nervo glossoforíngeo ·------Nervo vogo ---------Oliva ~7'""•- --- - - Nervo acessório '---Raiz craniana do XI ""---Raiz espinhal do XI PIGURA 5.1 Visto ventral do tronco encefálíco e parte do diencéfalo. 46 NEUROANATOMIA FUNCIONAL versai em virtude da presença de numerosos feixes de fibras transversais que a percorrem. Estas fibras con vergem de cada lado para formar um volumoso feixe, o pedúnculo cerebelar médio, que penetra no hemisfério cerebelar correspondente. No limite entre a ponte e o Ili ventrículo \ Corpo caloso------------., \ \ \ Septo pelúcido ---------, \ \ Ventrículo lateral --------, \ \ \ \ \ \ \ \ ~ \ \ pedúnculo cerebelar médio, emerge o nervo trigémeo, V par craniano (Figura 5.1). Esta emergência se faz por duas raízes, uma maior, ou raiz sensitiva do nervo trigémeo, e outra menor, ou raiz motora do nervo tri gémeo (Figura S.l). ------__ Tubérculo anterior do tálamo Corpo caloso (superfície de corte) / I Porte lateral do superfície / í - - - dorsal do lólamo Corpo do núcleo coudado;:. ''~ F6rnix ... ..., ...... \ \ \ ' ·' \ ',, \ ~ \ \ \ \ ' 1 1 1 / Porte medial da superfície / / / dorsal do tálamo 1 I /' Braço do Tólamo ..... - ........ , ' '-..., "~ .......... "'-- ....... Estria terminal e veio tálamo estriada ........... ..... .... .... , ............. .... _ Cauda do núcleo • caudodo --- Estria medular do t61omo Trígono dos habênulas Comissura das hobênulas Colículo superior - - - Glândula pineal ----- Sulco mediano - - - - --- Pedúnculo cerebelar inferior -- -..L:.._ Estrias medulares do IV ventrículo --- \ ' \ \ l \ \ \ )1 \ ' Fóvea inferior -------------- I Óbex / / 1- - colículo superior I / / / I I .; I f //I I ; / ' / / / / / / / z / / / / / I / Corpo geniculado - medial ,,,""' Corpo geniculodo ./" lateral ,,,,,,,"' Braço do coliculo ., ... ,. infe,ior ,,.,,,, -----------Trigonodo vago _ - - - - - - - --- - Funículo seporans ------~- - - - - - - - Área postremo ................... ~, ................... - --Sulco intermédio posterior - - - - - - - - - Sulco lateral posterior ____ ________ _ - - ..., - - Tubérculo do núdeo cuneiforme -----Tubérculo do núcleo grácil Sulco mediano posterior - - - - - - - - - - - - ----Fascículo cuneiforme ---- ---------- Fascículo grócil FIGURA 5.2 Vista dorsal do tronco encefálico e porte do diencéfalo. • CAPÍTULOS ANATOMIA MACROSCÓPICA DO TRONCO ENCEFÁLICO E DO CEREBELO 47 Percorrendo longitudinalmente a superficie ventral da ponte existe um sulco, o sulco basilar (Figura 5.1 ), que aloja a artéria basilar (Figura 10. 1 ). A parte ventral da ponte é separada do bul bo pelo sulco bulbo-pontino, de onde emergem de cada lado, a partir da linha mediana. o VI, o VII e o VIH pares cranianos (Figura 5.1). O VI par, nervo abducente, emerge entre a ponte e a pirâmide do bulbo. O VIII par, nervo vestíbulo-coclear, emerge lateralmente, próximo a um pequeno lóbulo do cerebelo, denominado flóculo. O VII par. nervo facial. emerge mediaimente ao VIII par, com o qual mantém relações muito íntimas. Entre os dois, emerge o nervo intermédio, que é a raiz sen sitiva do VII par, de identificação às vezes dificil nas peças de rotina. A presença de tantas raízes de nervos cranianos em uma área relativamente pequena explica a riqueza de sintomas observados nos casos de tumores que acometem esta área, levando à compressão des sas raízes e causando a chamada síndrome do ângulo ponto-cerebelar. A parte dorsal da ponte não apresenta linha de de marcação com a parte dorsal da porção aberta do bulbo, constituindo, ambas, o assoalho do IV ventrículo. 4.0 QUARTO VENTRÍCULO 4.1 SITUAÇÃO E COMU N ICAÇÔES A cavidade do rombencéfalo tem forma losângica e é denominada quarto ventrículo, situada entre o bul· bo e a ponte, ventralmente, e o cerebelo, dorsalmente (Figura 7. 1 ). Continua caudalmente com o canal cen tral do bu lbo e cranialmente com o aqueduto cerebral, cavidade do mesencéfalo através da qual o IV ventrí culo se comunica com o lIJ ventrículo (Figura 8.5). A cavidade do IV ventrículo se prolonga de cada lado para formar os recessos laterais. Estes recessos se co municam de cada lado com o espaço subaracnóideo por meio das aberturas laterais do IV ventrículo (Figura 9.3), também chamadas forames de Luschka. Há tam bém uma abertura mediana do IV ventrículo (forame de Magendie), situada no meio da metade caudal do teto do ventrículo e de visualização dificil nas peças anatômicas usuais. Por meio dessas cavidades, o líqui do cerebroespinhal, que enche a cavidade ventricular, passa para o espaço subaracnóideo (Figura 9.3). 4.2 ASSOALHO DO IV VENTRÍCULO O assoalho do IV ventrículo (Figura S.2) tem for ma losàngica e é formado pela parte dorsal da ponte e da porção aberta do bulbo. Limita-se ínfero-lateral mente pelos pedúncuk1s cerebelares inferiores e pelos 48 NEUROANATOMIA FUNCIONAL tubérculos do núcleo grácil e do núcleo cuneifonne. Súpero·tateralmente, limita-se pelos pedúnculos cere belares superiores, compactos feixes de fibras nervosas que, saindo de cada hemisfério cerebelar, fletem-se era· nialmente e convergem para penetrar no mesencéfalo (Figura 5.2). O assoalho do IV ventrículo é percorrido em toda a sua extensão pelo .mico mediano. De cada lado deste sulco mediano há uma eminência, a eminên cia medial, limitada lateralmente pelo sulco limitante. Este sulco, já estudado a propósito da embriologia do sistema nervoso central, separa os núcleos motores, derivados da lâmina basal e situados mediaimente dos núcleos sensitivos derivados da lãmina alar e localiza dos lateralmente. Este sulco se alarga para constituir duas depressões, as fóveas superior e inferior, situadas respectivamente nas metades cranial e caudal do IV ventrículo. Bem no meio do assoalho do lV ventrículo, a eminência medial dilata-se para constituir, de cada lado, uma elevação arredondada, o colículo facial, for mado por fibras do nervo facial que, neste nível, con tornam o núcleo do nervo abducente. Na parte caudal da eminência medial, observa·se, de cada lado, uma pequena área triangular de vértice inferior, o trígono do nervo hipoglosso, correspondente ao núcleo do ner vo hipoglosso. Lateralmente ao trigono do nervo hipo g losso e caudalmente à fóvea inferior, existe outra área triangular, de coloração ligeiramente acinzentada, o trí gono do nervo vago. que corresponde ao núcleo dorsal do vago. Lateralmente ao trígono do vago, existe uma estreita crista oblíqua, ofimiculus separans, que separa este trígono da área postrema (Figura 5.2), região re· !acionada com o mecanismo do vômito desencadeado por estímulos químicos. Lateralmente ao sulco limitante e estendendo-se de c~da lado em direção aos recessos laterais, há uma grande área triangular, a área vestibular. corresponden· do aos núcleos vestibulares do nervo vestibulo-coclear. Cruzando transversalmente a área vestibular para se perderem no sulco mediano, frequentemente existem finas cordas de fibras nervosas que constituem as es trias medulares do IV ventrículo. Estendendo-se da fóvea superior em direção ao aqueduto cerebral, late· ralmente à eminência medial, encontra-se o lócus-ceru leus, ãrea de coloração ligeiramente escura, onde estão os neurônios mais ricos em noradrenalina do encéfalo. 4.3 TETO DO IV VENTRICULO A metade cranial do teto do IV ventrículo é cons· tituida por fina lâmina de substância branca, o véu medular superior, que se estende entre os dois pedún culos cerebelares superiores (Figura 5.2). Em sua me tade caudal, o teto do IV ventrículo é constituído pela tela corioide. estrutura formada pela união do epitélio ependimário, que reveste internamente o ventrículo, com a pia-máter, que reforça externamente este epi télio. A tela corioide emite projeções irregulares, e muito vascularizadas, que se invaginam na cavidade ventricular para formar o plexo corioide do IV ven/rí culo (Figura 5.2). Esses plexos produzem o líquido cerebroespinhal, que se acumula na cavidade ventricular, passando ao espaço subaracnóideo através das aberturas laterais e da abertura mediana do IV ventrículo. Através das aberturas laterais próximas do flóculo do cerebelo ex terioriza-se uma pequena porção do plexo carioide do IV ventrículo. 5.0 MESENCÉFALO O mesencéfalo interpõe-se entre a ponte e o dien céfalo (Figura 2. 7). É atravessado por um estreito ca nal, o aqueduto cerebral (Figura 5.3 e 8.5). que une o Ill ao IV ventrículo. A parte do mesencéfalo situada dorsalmente ao aqueduto é o teto do mesencéfalo (Fi gura 5.3); ventralmente ao teto estão os dois pedún culos cerebrais que, por sua vez, se dividem em uma parte dorsal, predominantemente celular, o tegmento, e outra ventral, fonnada de fibras longitudinais, a base do pedúnculo (Figura 5.3). Em uma secção transversal do mesencéfalo, vê-se que o tegmento é separado da base por uma área escura, a substância negra, formada por neurônios que contêm melanina. Correspondendo à substância negra na superficie do mesencéfalo, existem dois sulcos longitudinais: um lateral. sulco lateral do mesencéfalo, e outro medial, sulco medial do pedúncu lo cerebral. Estes sulcos marcam, na superficie, o limi te entre base e tegmento do pedúnculo cerebral (Figura 5.3). Do sulco medial emerge o nervo oculomo/or, III par craniano {Figur a 5.1). 5.1 TETO DO MESENCÉFALO Em vista dorsal, o teto do mesencéfalo apresenta quatro eminências arredondadas, os colículos superiores e inferiores (Figura S.2). Caudalmente a cada colículo inferior emerge o IV par craniano. nervo troclear. muito delgado e por isto mesmo facilmente arrancado com o manuseiodas peças. O nervo trodear, único dos pares cranianos que emerge dorsalmente, contorna o mesen céfalo para surgir ventralmente entre a ponte e o mesen céfalo (Figura S.2). Os colículos se ligam a pequenas eminências ovais do diencéfalo, os corpos geniculados, através de estruturas alongadas que são feixes de fibras nervosas denominados braços dos colículos. O colículo inferior se liga ao corpo geniculado medial pelo braço do colículo inferior. e faz parte da via auditiva (Figura S.2). O colículo superior se liga ao corpo geniculado la /era! pelo braço do colículo superior. e faz parte da via óptica. Ele tem parte do seu trajeto escondido entre o pulvinar do tálamo e o corpo geniculado medial e faz parte da via auditiva (Figura S.2). O corpo geniculado lateral nem sempre é fácil de ser identificado nas peças; um bom método para encontrá-lo consiste em procurá-lo na extremidade do trato óptico. ---/ ., - - - - Aqueduto cerebral --- TETO TETO / ---r------'J'~:-' / PEDÚNCULO CEREBRAL \ FIGURA 5.3 Secção transversal do mesencéfalo. TEGMENTO Ir\ \ \ ....... --- Sulco lateral do mesencéfalo .,.,.. --- - - Substância negro -- - - - -------Nervooculomotor • CAPÍTULO 5 ANATOMIA MACROSCÓPICA DO TRONCO ENCEFÁLICO E DO CEREBELO 49 5.2 PEDÚNCULOS CEREBRAIS Vistos ventralmente, os pedúnculos cerebrais apa recem como dois grandes feixes de fibras que surgem na borda superior da ponte e divergem cranialmente para penetrar profundamente no cérebro (Figura 5.1 ). Delimitam, assim, uma profunda depressão triangular, a fossa interpedunculm; limitada anterionnente por duas eminências pertencentes ao diencéfalo, os corpos mamilares. O fundo da fossa interpeduncular apresenta pequenos orifícios para a passagem de vasos e deno mina-se substância perfurada posterior. Como já foi exposto, do sulco longitudinal situado na face medial do pedúnculo, sulco medial do pedúnculo, emerge de cada lado o nervo oculomotor (Figura S. l ). B - ANATOMIA MACROSCÓPICA DO CEREBELO 1.0 GENERALIDADES O cerebelo (do Latim, pequeno cérebro) fica situa do dorsalmente ao bulbo e à ponte, contribuindo para a formação do teto do IV ventrículo. Repousa sobre a fossa cerebelar do osso occipital e está separado do lobo occipital do cérebro por uma prega da dura-máter denominada lenda do cerebelo. Liga-se à medula e ao bulbo pelo pedúnculo cerebelar inferior e à ponte e ao mesencéfalo pelos pedúnculos cerebelares médio e su perior, respectivamente (Figura 5.2, 5.4). O cerebelo é importante para a manutenção da postura, equilíbrio, Lóbulo semilunar superior Fissura horizontal .,,,,,, Lóbulo semilunar inferior ' \ ' Lóbulo central lin9u1o .......... / / / Nódulo ' ' ' ' ' coordenação dos movimentos e aprendizagem de habi lidades motoras. Embora tenha fundamentalmente fun· ção motora, estudos recentes demonstraram que está também envolvido em algumas funções cognitivas. As funções e conexões do cerebelo serão estudadas no Ca pítulo 21. 2.0 ALGUNS ASPECTOS ANATÔMICOS Anatomicamente, distingue-se no cerebelo uma porção ímpar e mediana, o vérmis, ligado a duas gran des massas laterais, os hemisférios cerebelares (Figu ra 5.6). O vérmis é pouco separado dos hemisférios na face dorsal do cerebelo, o que não ocorre na face ventral, onde dois sulcos bem evidentes o separam das partes laterais (Figura 5.4). A superfície do cerebelo apresenta sulcos de direção predominantemente transversal, que delimitam lâminas finas denominadas/olhas do cerebelo. Existem também sulcos mais pronunciados. as fissuras do cerebelo, que delimitam lóbulos, cada um deles podendo conter vá rias folhas. Os sulcos, fissuras e lóbulos do cerebelo, do mesmo modo como ocorre nos sulcos e giros do cérebro, aumentam consideravelmente a superfície do cerebelo, sem grande aumento do volume. Uma secção horizontal do cerebelo (Figura 21.5) dá uma ideia de sua organização interna. Vê-se que ele é constituído de um centro de substância branca, o corpo medular do cerebelo, de onde irradiam as lâminas brancas do cere belo, revestidas externamente por uma fina camada de substância cinzenta, o córtex cerebelar. Os antigos ana tomistas denominaram "árvore da vida" a imagem do Cúlme~ / Véu medular superior / / \ \ \ / ~ " Úv\ilo ,;' Pedúnculo cerebelar superior _ .. Pedúnculo cerebelor médio __ Pedúnculo cerebelar inferior ' ' Pedúnculo do flóculo -·Flóculo FIGURA 5.4 Vista ventral do cerebelo opôs secçõo dos pedúnculos cerebelores. SO NEUROANATOMIA FUNCIONAL corpo medular do cerebelo, com as lâminas brancas que dele irradiam (Figura 5.S), uma vez que lesões traumá ticas dessa região, por exemplo, nos campos de batalha, levavam sempre à morte. Na realidade, a morte nesses casos deve-se à lesão do assoalho do 4° ventriculo, si tuado logo abaixo, e onde estão os centros respiratório e vasomotor, e não à lesão do cerebelo que, aliás. pode ser totalmente destruído sem causar morte. No interior do corpo medular existem quatro pares de núcleos de substância cinzenta (Figura 21.5), que são os núcleos centrais do cerebelo: denteado, interpósito, subdividi- Teto mesencef61ico -. - Fissura pré-culminar-. - Aqueduto cerebral _ --. Véu medular superior _ , .. Fissura prê-<;entral -- -· Lóbulo centrol ,, .- .--_. -- IV ventrículo .--- l íngula - - - - -- Tela e plexo corio1de < Nódulo -- -- - Fissura posterolateral - Abertura mediano do IV / ventrículo Canal central do bulbo - - FIGURA 5 .5 Secção sagital mediano do cerebelo. do em embolifonne e globoso, e o fastigial. Os núcleos centrais do cerebelo têm grande importância funcional e clínica. Deles saem todas as fibras nervosas eferentes do cerebelo. Eles serão estudados no Capítulo 21. 3.0 LÓBULOS E FISSURAS Os lóbulos do cerebelo recebem denominações diferentes no vérmis e nos hemisférios. A cada lóbulo do vérmis correspondem dois nos hemisférios (Figura 5.6). São ao todo 17 lóbulos e oito fissuras, com deno- _Cúlmen - _-Declive - Fissura pré-piramidal - - - - Pirâmide - - - Fissura pós-piramidal Vérmis t Aso do lóbulo central - _ ------- _ _____ - - - Lóbulo central Parte anterior do lóbulo qvodrongula~ ....... _ Fissura primo -- -- - - -1"""WI'' '"'' -----Cúlmen ..,.------ Porte posterior do lóbulo quadrangular-- Fissura pós-clivai • __ _ - - · Folíum ----- Lóbulo semilvnor superior , Fissura horizontal __ .Lóbulo semilunor inferior Hemisfério cerebelar esquerdo Hemisfério cerebelor direito FIGURA 5.6 Visto dorsal do cerebelo. •CAPÍTULOS ANATOMIA MACROSCÓPICA DO TRONCO ENCEFÁLICO E DO CEREBELO 51 minações próprias (Figura 5.1 ). Entretanto, a maioria dessas estruturas não tem isoladamente importância funcional ou clínica e não precisam ser memorizadas embora constem das figuras. São importantes e devem ser identificadas nas peças apenas os lóbulos: nódulo, flóculo e tonsila, e as fissuras posterolaterais e prima. O nódulo é o último lóbulo do vérmis e fica situado logo acima do teto do IV ventrículo (Figura 5.S). O flóculo é um lóbulo do hemisfério, alongado transversalmente e com folhas pequenas situadas logo atrás do pedúncu lo cerebelar inferior (Figura 5.5). Liga-se ao nódulo pelo pedúnculo do flóculo, constituindo o lobo flóculo -nodular, separado do corpo do cerebelo pela fissura posterolateral (Figura 5.S). O lobo flóculo-nodular é importante por ser a parte do cerebelo responsável pela manutenção do equilibrio. As tonsilas são bem evidentes na face ventral doce rebelo, projetando-se mediaimente sobre a face dorsal do bulbo (Figura 5.4). Esta relação é importante pois, em certas situações, elas podem ser deslocadas caudal mente, formando uma hérnia de tonsila (Figura 8.6) que penetra no forame magno, comprimindo o bulbo, o que pode ser fatal. Este assunto será tratado com mais deta lhes no Capítulo 8, item 3.3.2. 4.0 DIVISÃO ANATÔMICA Os lóbulos do cerebelo podem ser agrupados em estruturasmaiores, os lobos separados pelas fissuras posterolateral e prima. Chega-se, assim, a uma divisão transversal em que a fissura postero lateral divide o ce rebelo em um lobo flóculo-nodular e o corpo do cere- ~ u õ j &. ..8 ~ lobo flõculo-nodular FIGURA 5.7 Esquema da divisão anatômico do cerebelo. 52 NEUROANATOMIA FUNCIONAL belo. Este. por sua vez, é dividido em lobo anterior e lobo posterior pela fissura prima (Figura 5.7). Temos, assim, a seguinte divisão: r oo•po do '"ebelo divisõo em lobos · lobo flóculo-nodular lobo anterior lobo posterior Existe também uma divisão longitudinal em que as partes se dispõem longitudinalmente e que será descrita no Capítulo 22. 5.0 PEDÚNCULOS CEREBELARES São três os pedúnculos cerebelares: superior, mé dio e inferior, que aparecem seccionados nas Figuras S.2 e 5.4. O pedúnculo cerebelar superior liga o cere belo ao mesencéfalo. O pedúnculo cerebelar médio é um enonne feixe de fibras que liga o cerebelo à ponte e constitui a parede dorsolateral da metade cranial do IV ventrículo (Figura 5.2). Considera-se como limite entre a ponte e o pedúnculo cerebelar o ponto de emer gência do nervo trigémeo (Figura S.I). O pedúncu lo cerebelar inferior liga o cerebelo à medula. fissura póstero-lateral Flóculo Anatomia Macroscópica do Diencéfalo 1.0 GENERALIDADES O diencéfalo e o telencéfalo formam o cérebro, que corresponde, pois, ao prosencéfalo. O cérebro é a por ção mais desenvolvida e mais importante do encéfalo, ocupando cerca de 80% da cavidade craniana. Os dois componentes que o fonnam. diencéfalo e telencéfalo, embora intimamente unidos. apresentam característi cas próprias e são usualmente estudados em separado. O telencéfalo se desenvolve enormemente em sentido lateral e posterior para constituir os hemisférios cere brais (Figura 2.5). Deste modo, encobre quase comple tamente o diencéfalo, que permanece em situação ímpar e mediana, podendo ser visto apenas na face inferior do cérebro. O diencéfalo compreende as seguintes partes: tálamo, hipotálamo. epitálamo e subtálamo, todas em relação com o IH ventrículo. Ê, pois, conveniente que o estudo de cada uma destas partes seja precedido de uma des't"ição do Ili ventrículo. 2.0 Ili VENTRÍCULO A cavidade do diencéfalo é uma estreita fenda ím par e mediana denominada Ili ventrículo, que se co munica com o IV ventrículo pelo aqueduto cerebral, e com os ventrículos laterais pelos respectivos forames interventriculares (ou de Monro). As Figuras 5.2 e 7.2 dão uma ideia da situação e da forma deste ventrículo. Quando o cérebro é seccio nado no plano sagital mediano, as paredes laterais do Ili ventrículo são expostas amplamente (Figura 7.1 ). Verifica-se, então, a existência de uma depressão, o sulco hipotalâmico, que se estende do aqueduto cere- bral até o forame interventricular. As porções da parede situadas acima deste sulco pertencem ao tálamo, e as situadas abaixo, ao hipotálamo. Unindo os dois tála mos e, por conseguinte, atravessando em ponte a cavi dade ventricular, observa-se frequentemente uma trave de substância cinzenta, a aderência intertalâmica, que aparece seccionada na Figura 7.1 , e pode estar ausente em 30% dos indivíduos. No assoalho do Ili ventrículo, dispõem-se, de diante para trás, as seguintes formações (Figura 23.1 ): quiasma óptico, infundíbulo, túber cinéreo e corpos mamilares. pertencentes ao hipotálamo. A parede posterior do ventrículo, muito pequena, é formada pelo epitálamo, que se localiza acima do sul co hipotalâmico. Saindo de cada lado do epitálamo e percorrendo a parte mais alta das paredes laterais do ventrículo, há um feixe de fibras nervosas, as estrias medulares do tálamo, onde se insere a tela corioide. que fonna o teto do III ventrículo (Figura 5.2). A par tir da tela corioide, invaginam-se na luz ventricular os plexos corioides do I 11 ventrículo (Figura 7 .1 ). que se dispõem em duas linhas paralelas e são contínuos, atra vés dos respectivos forames interventriculares. com os plexos corioides dos ventriculos laterais. A parede anterior do Ili ventrículo é fonnada pela lâmina terminal. fina lâmina de tecido nervoso que une os dois hemisférios e se dispõe entre o quiasma óptico e a comissura anterior (Figura 7 .1 ). A comíssura anterior, a lâmina tenninal e as partes adjacentes das paredes la terais do Ili ventrículo pertencem ao telencéfalo, pois derivam da parte central não evaginada da vesícula te lencefálica do embrião. 3.0 TÁLAMO Os tálamos são duas massas volumosas de substân cia cinzenta, de forma ovoide, dispostas uma de cada lado na porção laterodorsal do diencéfalo. A extremi dade anterior de cada tálamo apresenta uma eminên cia, o tubérculo anterior do tálamo (Figura 5.2), que participa na delimitação do forame interventricular. A extremidade posterior. consideravelmente maior que a anterior, apresenta uma grande eminência, o pulvi nar, que se projeta sobre os corpos geniculados lateral e medial (Figura 5.2). O corpo geniculado medial faz parte da via auditiva; o lateral. da via óptica. e ambos são considerados por alguns autores como constituindo uma divisão do diencéfalo denominada metatálamo. A porção lateral da face superior do tálamo (Figura 5.2) faz parte do assoalho do ventrículo lateral, sendo, por conseguinte, revestido de epitélio ependimário; a face medial do tálamo forma a maíor parte das paredes late rais do Ili ventrículo (Figura 5 .7). A face lateral do tálamo é separada do telencéfalo pela cápsula interna. compacto feixe de fibras que liga o córtex cerebral a centros nervosos subcorticais e só pode ser vista em secções (Figura 32.5) ou dissecações (Figu ra 30. J) do cérebro. A face inferior do tálamo continua com o hipotálamo e o subtálarno. O tálamo é uma área muito importante do cérebro, relacionada sobretudo com a sensibilidade. mas tem também outras funções que serão estudadas no Capítulo 23. 4.0 HIPOTÁLAMO O hipotálamo é uma área relativamente pequena do diencéfalo, situada abaixo do tálamo, com importantes funções, relacionadas sobretudo com o controle da ati vidade visceral. A análise funcional do hipotálamo será feita no Capítulo 22, juntamente com o estudo de sua estrutura e conexões. O hipotálamo compreende estruturas situadas nas paredes laterais do Ili ventrículo, abaixo do sulco hipo talâmico, além das seguintes formações do assoalho do Ili ventrículo, visíveis na base do cérebro (Figura 7.8): a) corpos mamilares (Figura 7 .8) - são duas emi nências arredondadas, de substância cinzenta, evidentes na parte anterior da fossa interpedun· cu lar; b) quiasma óptico (Figuras 7 .8 e 23. 1) - localiza-se na parte anterior do assoalho do Ili ventrículo. Recebe as fibras dos nervos ópticos, que aí cru zam em parte e continuam nos tratos ópticos que se dirigem aos corpos geniculados laterais~ e) túber cinéreo (Figura 7 .8) é uma área ligei ramente cinzenta, mediana, situada atrás do 54 NEUROANATOMIA FUNCIONAL quiasma e dos tratos ópticos. entre estes e os corpos mamilares. No túber cinéreo prende-se a hipófise, por meio do infundíbulo; d) infundíbulo (Figura 23. J ) - é uma formação ner vosa em fonna de funil que se prende ao túber cinéreo. A extremidade superior do infundíbulo dilata-se para constituir a eminência mediana do túber cinéreo, enquanto sua extremidade inferior continua com o processo infundibular, ou lobo nervoso da neuro-hipófise. Em geral, quando os encéfalos são retirados do crânio, o infundibulo se rompe, pennanecendo com a hipófise na cela túrcica da base do crânio. O hipotálamo é uma das áreas mais importantes do cérebro, regula o sistema nervoso autônomo e as glân dulas endócrinas e é o principal responsável pela cons tância do meio interno (homeostase ). 5.0 EPIT ÁLAMO O epitálamo limita posteriormente o Ili ventrículo, acima do sulco hipotalâmico, já na transição com o me sencéfalo. Seu elemento mais evidente é a glândulapi neal. ou epffise, glândula endócrina ímpar e mediana de fonna pirifonne, que repousa sobre o teto mesencefálico (Figura 5.2). A base do corpo pineal prende-se anterior mente a dois feixes transversais de fibras que cruzam o plano mediano, a comissura posterior e a comissura das habênulas (Figura 7.1 ). A comissura posterior situa-se no ponto em que o aqueduto cerebral se liga ao Ili ventrí culo e é considerada como limite entre o mesencéfalo e diencéfalo. A comissura das habênulas interpõe-se entre duas pequenas eminências triangulares, os trígonos da habênula (Figura 5.2), situados entre a glândula pineal e o \álamo; continua anteriormente, de cada lado, com as estrias medulares do tálamo. A tela corioide do Ili ventrículo insere-se lateralmente nas estrias medulares do tálamo e posteriormente na comissura das habênulas (Figura 7 .1 ). fechando, assim, o teto do 111 ventrículo. As funções da glândula pineal e de seu hormônio, a melato nina, serão estudadas no Capítulo 23. 6.0 SUBT ÁLAMO O subtálamo compreende a zona de transição entre o diencéfalo e o tegmento do mesencéfalo. É de difícil visualização nas peças de rotina, pois não se relaciona com as paredes do Hl ventrículo, podendo mais facil mente ser observado em cortes frontais do cérebro (Fi gura 6.1). Verifica-se, então, que ele se localiza abaixo do tálamo, sendo limitado lateralmente pela cápsula interna e mediaimente pelo hipotálamo. O subtálamo tem função motora. Fissuro longitudinal do cérebro Corpo caloso - - - - Porte central do ventrículo lateral Plexo corioide do ventrículo loteral Fissuro tronsversa do cérebro --- Estria medular do tálamo / / / Terceiro ventrículo Subtólomo - - - - / Fosso interpedunculor - - "' FIGURA 6. 1 Secção frontal do cérebro passando pelo Ili ventrículo . • • CAPÍTUL06 ----- - Fornix - Porte lateral do face superior do tólomo ,...,..,..... _ Porte medial do face superior do tálamo ...... . - - - Cápsula interno - - - - - Hipotálamo - - - - Base do pedúnculo cerebral ... ---- Base do ponte ANATOMIA MACROSCÓPICA DO DIENCÉFALO 55