Prévia do material em texto
AFYA FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS - GARANHUNS MARCELA NOBRE BELTRÃO SISTEMAS ORGÂNICOS E INTEGRADOS V Pressão de Perfusão Cerebral (PPC) GARANHUNS 2024 MARCELA NOBRE BELTRÃO SISTEMAS ORGÂNICOS E INTEGRADOS V Pressão de Perfusão Cerebral (PPC) Trabalho apresentado à disciplina de Sistemas Orgânicos e Integrados V, como requisito parcial para obtenção de nota em Sistemas Orgânicos e Integrados V do curso de medicina. Orientador: Prof. Ernando Gouveia. GARANHUNS 2024 1. Como podemos calcular a pressão de perfusão cerebral? Quais os valores de referência? Quais as medidas imediatas devemos tomar na suspeita de elevação da Pressão Intracraniana (PIC)? A autorregulação cerebral é um mecanismo que permite que, em larga escala, grandes mudanças na pressão arterial sistêmica causem pequenas mudanças no fluxo sanguíneo cerebral (FSC). A pressão de perfusão cerebral (PPC), que determina essa distribuição dos metabólicos necessários para manter a atividade cerebral, geralmente é calculada pela diferença entre a pressão arterial média (PAM) e a pressão intracraniana (PIC), sendo considerados valores normais entre 50 e 60 mmHg, sendo, então, considerada o principal fator determinante do FSC (Bertolucci et al., 2021). Desse modo, valores da PPC inferiores a 50 a 60 mmHg podem começar a causar isquemia cerebral e hipotensão sistêmica apresenta uma correlação importante com a taxa de mortalidade dos pacientes com lesão cerebral traumática (Louis; Mayer; Rowland, 2018). A hipertensão intracraniana (HIC) é definida como aumento da pressão intracraniana (PIC) acima de 20 – 22 mmHg após um intervalo de 10 minutos ou por medidas seriadas maiores que 22 mmHg em qualquer intervalo de tempo. Essa condição, no trauma cranioencefálico (TCE), pode estar relacionada a: Inchaço cerebral por edema ou hiperemia (swelling); presença de hematomas ou contusões; hidrocefalia por dificuldade na absorção ou obstrução na circulação liquórica; hipoventilação; hipertensão arterial sistêmica (HAS) e outros (Bertolucci et al., 2021). A pressão intracraniana elevada (PIC) é uma complicação comumente encontrada em lesões cerebrais, e pode resultar em compressão espacial, distorção de compartimentos e redução da pressão de perfusão cerebral. Se não for tratada, a PIC elevada pode causar isquemia cerebral, hérnia cerebral e morte. A monitorização invasiva é o padrão de referência para medir a PIC, e valores sustentados de 20 mmHg ou mais foram associados a piores resultados após lesão cerebral traumática, hemorragia subaracnóidea, hemorragia intracerebral e outras condições. Portanto, entre pacientes gravemente enfermos, atenção considerável deve ser dada ao monitoramento dessa possibilidade. No entanto, o uso do monitoramento da PIC varia substancialmente em todo o mundo (Fernando et al., 2019). A avaliação da pressão intracraniana (PIC) é um dos métodos que podem guiar o manejo de pacientes submetidos a procedimentos relacionados a transtornos neurológicos. Contudo, o caráter invasivo dos métodos-padrão para monitoramento da PIC, com necessidade de implantação de sensores diretamente em contato com o tecido cerebral, assim como sua associação com riscos para o paciente (como infecções, lesões do tecido cerebral e hemorragia), contribui para o cenário no qual a PIC não é amplamente considerada como parâmetro cerebral, a não ser em condições críticas, como no traumatismo cranioencefálico (Rojas et al., 2021). O monitoramento não invasivo precoce (assim que são detectados os primeiros sinais de alterações neurológicas) ajuda a diagnosticar complicações e permite o tratamento imediato na tentativa de prevenir o desenvolvimento de complicações neurológicas mais graves e até a morte. Assim, uma morfologia alterada da forma de onda da PIC se correlacionaria com os sinais exibidos pelo paciente, sugerindo uma alteração na complacência cerebral (Ayres; Vellosa, 2022). Várias diretrizes de prática clínica indicam que o monitoramento invasivo da PIC deve ser considerado em pacientes nos quais há preocupação com pressões elevadas ou perfusão cerebral prejudicada. No entanto, a monitorização invasiva da PIC não está disponível em todos os locais (particularmente em departamentos de emergência, zonas rurais ou locais com poucos recursos) onde o tratamento imediato para a PIC elevada pode ser necessário (Fernando et al., 2019). Em relação as medidas imediatas que devem ser realizadas na suspeita de uma HIC, o tratamento deve ser iniciado com valores de PIC maiores que 20 a 25 mmHg, devendo-se manter a PPC maior ou igual a 70 mmHg. Outras medidas são: Cabeceira elevada em 20 a 30°; pescoço alinhado para evitar constrição da jugular; controle da hipertensão, se houver; evitar hipóxia (pO2 > 60 mmHg); evitar hipotensão; ventilar objetivando normocarbia; sedação leve e TC de crânio para investigar causas tratáveis (Louis; Mayer; Rowland, 2018). Se tratando das medidas específicas ou de segundo nível, apesar das medidas gerais, continua mantendo quadro de HIC, sendo necessário agora: Sedação profunda (fentanil 1 a 2 mL/hora) e/ou bloqueio neuromuscular (vecurônio 8 a 10 mg); Drenagem de 3 a 5 mL de LCR se DVE presente, podendo drenar até 20 mL/hora; Manitol 0,25 a 1 g/kg, podendo repetir bolus conforme a PIC ou até osmolaridade sérica ≤ 320, podendo-se utilizar, também, solução salina hipertônica a 20% (1 mL/kg, em bolus); Hiperventilação até pCO2 = 30 a 35 mmHg e Tiopental 2,5 mg/kg em 10 minutos (Louis; Mayer; Rowland, 2018). Por fim, para a terapia de segunda linha ou segundo nível utilizada para HIC persistente inclui: Coma barbitúrico: iniciar se a PIC permanecer acima de 20 a 25 mmHg; Hiperventilação para pCO2 = 25 a 30 mmHg, monitorando-se a SjO2, a diferença A-V de oxigênio e/ou o fluxo sanguíneo cerebral; Hipotermia: pacientes devem ser monitorados para queda do débito cardíaco, trombocitopenia, aumento do clearance da creatinina e pancreatite; Craniectomia descompressiva externa: o tecido ósseo removido deve ter no mínimo 12 cm de diâmetro e a abertura da dura-máter com duroplastia é mandatória; Craniectomia descompressiva interna com a retirada da ponta do lobo temporal, se contusa (até 4 a 5 cm no lado dominante e 6 a 7 cm no lado não dominante), ou lobectomia frontal; Drenagem lombar e Terapia hipertensiva (Bertolucci et al., 2021). Ademais, a PPC é crucial para garantir a circulação adequada do sangue no cérebro, fornecendo os nutrientes necessários. Portanto, os médicos devem estar atentos às condições que impactam essa pressão, pois qualquer alteração pode resultar em sofrimento cerebral, levando à falência e até mesmo à morte do paciente. REFERÊNCIAS AYRES, C.; VELLOSA, J. C. R. Noninvasive monitoring of intracranial pressure after cardiac surgery: case report. Research, Society and Development, v. 11, n. 6, p. e56011629492, 10 maio 2022. BERTOLUCCI, P. H. F. et al. Neurologia: diagnóstico e tratamento. 3. ed. São Paulo: Manole, 2021. FERNANDO, S. M. et al. Diagnosis of elevated intracranial pressure in critically ill adults: systematic review and meta-analysis. BMJ, p. l4225, 24 jul. 2019. LOUIS, E. D.; MAYER, S. A.; ROWLAND, L. P. Merritt Tratado de Neurologia. 13. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018. ROJAS, S. S. O. et al. The use of a noninvasive intracranial pressure monitoring method in the intensive care unit to improve neuroprotection in postoperative cardiac surgery patients after extracorporeal circulation. Revista Brasileira de Terapia Intensiva, v. 33, n. 3, 2021.