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Cirurgia - Volume 1 2Medgrupo - CiClo 2: M.E.D VÍDEO DE INTRODUÇÃO CIRURGIA - VOLUME 1 Diagnóstico Diferencial (Hypothesis) Seção 1: A SínDrome De inSuficiênciA HepAtocelulAr Introdução Manifestações Clínicas Diagnóstico e Tratamento complicações Associadas à insuficiência Hepatocelular 1) Encefalopatia Hepática 2) Síndrome Hepatorrenal 3) Complicações Pulmonares 4) Desnutrição 5) Coagulopatia 6) Anormalidades Hematológicas 7) Doença Óssea 8) Carcinoma Hepatocelular Seção 2: A SínDrome DA HipertenSão portA Introdução Etiologia Manifestações Clínicas estudo Dirigido 1: Ascite Introdução e Diagnóstico Etiologia Tratamento Complicações estudo Dirigido 2: Varizes esofagogástricas Introdução Fatores de Risco para o Sangramento Abordagem Geral Tratamentos Invasivos da Hipertensão Porta 1) Tratamento Cirúrgico 2) TIPS Seção 3: cirroSe HepáticA e SuAS cAuSAS Introdução Causas de Cirrose HepAtiteS VirAiS crônicAS Microbiologia e Fisiopatologia Avaliação Inicial Hepatite Viral B Crônica Hepatite Viral C Crônica DoençA HepáticA AlcoólicA Introdução Fisiopatologia Fatores de Risco e Manifestações Clínicas Achados Laboratoriais Tratamento e Prognóstico DoençA HepáticA GorDuroSA não AlcoólicA (DHGnA) Introdução, Fisiopatologia e Diagnóstico Tratamento DoençA De WilSon Manifestações Clínicas Diagnóstico Tratamento HemocromAtoSe Introdução Manifestações Clínicas Diagnóstico Tratamento cirroSe cArDioGênicA cirroSe X proVA De peDiAtriA Deficiência de Alfa-1-Antitripsina e Fibrose Cística Galactosemia e Tirosinemia Atresia das Vias Biliares Extra-Hepáticas Cistos de Colédoco Colestase Intra-Hepática Familiar Progressiva Rarefação dos Ductos Biliares Interlobulares meD r3 clínicA méDicA meD r3 cirurGiA GerAl área de treinamento m.e.D QueStõeS De concurSoS comentárioS SíndromeS de InSufIcIêncIa Hepatocelular e HIpertenSão porta M.E.D - 2019 2019 http://#scrolldown http://#page= http://#videomiolo=intro_13697 http://#page=3 http://#page=17 http://#page=39 http://#page=151 http://#page=169 http://#page=177 http://#page=85 4 Qual(is) o(s) diagnóstico(s) sindrômico(s) deste paciente? Aloísio, 38 anos, ex-tabagista e etilista eventual (sic), não vem se sentindo bem. Grande apreciador de banho de lagoas, vem evi tando a atividade por conta de queixas constantes de náuseas, fadiga e indisposição, o que motivou a procura de um serviço médico. Após avaliação clínica sumária em um posto de saúde, recebeu surpreso a prescrição de sulfato ferroso e a recomendação de comer bastante feijão, sendo encaminhado a um serviço de hematologia com o relato de “redução do hematócri to”. No entanto, Aloísio, desconfiado, ignorou as recomendações do médico e voltou às suas atividades normais. Duas semanas depois, os sintomas ganharam mais impor tância e teve de voltar ao hospi tal, dessa vez, ao setor de Emergência. Neste dia, como o hospi tal estava incrivelmente vazio, recebeu maior atenção. Assim, além de mucosas hipocoradas, os plantonistas acabaram por notar vasos sanguíneos que caprichosamente desenhavam o abdome do paciente. Notaram também que, apesar de plano, o abdome não era completamente atípico já que uma massa era palpada com a posição de Schuster. De posse destes achados, um dos médicos, que era gastroenterologista, resolveu proceder à videoendoscopia digestiva alta do paciente cujo resultado está demonstrado a seguir. Caso 1 Como você classificaria este distúrbio? Justifique. Como você investigaria o caso? Cite duas hipóteses diagnósticas. http://#scrolldown http://#page=262 http://#page=263 http://#page=264 5 Caso 2 Qual seria sua conduta terapêutica diante deste paciente se viesse a apresentar hematêmese? Jocasta, sexo feminino, 42 anos, enfermeira, procurou o consultório de um endocrinologista para perder peso. Segundo o relato da paciente, há algumas semanas seu abdome vinha aumentando de tamanho, ficou mais doloroso e não conseguia emagrecer. Desde o primeiro momento da consulta, no entanto, o formato mais arredondado da barriga já fazia o médico perceber que o problema era outro.. . Além disso, durante o exame físico, após a manobra da “arranhadura”, observou que a ausculta se tornava mais intensa a 6 cm do rebordo costal direi to. A paciente nunca consumiu bebida alcoólica e utilizava apenas anticoncepcionais orais. Tem o relato na família, de um irmão do outro casamento do seu pai, ter uma doença do sangue, mas não sabe dizer exatamente qual seria. Não havia turgência jugular, nem edema de membros inferiores. Trazia consigo ainda exames solici tados pelo médico de seu trabalho, mas que não tinham sido interpretados: ALT 20 U/L, AST 15U/L, Proteína total 7,0 g/dl; albumina 4,3 g/dl, Bilirrubina total 1,0 mg/dl, TAP 75%, HBsAg negativo, anti-HBs posi tivo, IgM anti- HBc negativo, IgG anti-HBc posi tivo, IgG anti-HAV posi tivo, anti-HCV negativo. Qual o diagnóstico sindrômico desta paciente? Qual a melhor forma de classificar este quadro? Justifique. Como você investigaria o caso? http://#scrolldown http://#page=265 http://#page=266 http://#page=267 http://#page=268 6 a) Esquistossomose: b) Trombose de veia cava inferior: c) Insuficiência cardíaca direi ta: d) Síndrome de Budd-Chiari: Faça o seu comentário para as seguintes possibilidades diagnósticas. Caso o aumento abdominal fosse atribuído à cirrose hepática, quais seriam as linhas gerais do tratamento? Moça recatada do interior, garçonete e dançarina de uma famosa boate da região, dá entrada na emergência de um hospi tal universi tário com quadro de febre não aferida, dor abdominal difusa, náuseas e fraqueza. A mãe relata que a filha está com insônia e dormindo mui to durante o dia. Como o médico de plantão estava em outro atendimento, foi avaliada pelo acadêmico do sexto período mais capaci tado para a função. O acadêmico logo observou um aumento do volume abdominal. Será que estaria grávida? - pensou imediatamente. No entanto, acompanhada da mãe e da tia, carolas implacáveis do padre Tomás, negava qualquer tipo de relação sexual ou atos similares. Trazia toda orgulhosa, inclusive, o laudo ‘um pouco apagado’ de ter adquirido o vírus B há 10 anos, após uma picada de mosqui to... Sem perder tempo com histórias, o acadêmico se surpreende, pois, à palpação, não havia sinais de aumento uterino, mas sim de um abdome batraquial, com discreto desconfor to à palpação profunda. Foi observado também hiper timpanismo central que prevalecia nos flancos quando em decúbi to lateral. Espaço de Traube estava ocupado. Baço palpável a 3 cm do RCE. Foram solici tados prontamente exames laboratoriais, cuja principal alteração foi uma panci topenia (leucóci tos 1.700/mm3; hemácias 2.400.000/mm3 e plaquetas 30.000/mm3). Trazia uma amostra negativa do anti-HIV. Caso 3 http://#scrolldown http://#page=269 http://#page=270 7 Qual o diagnóstico sindrômico e o possível diagnóstico etiológico desta paciente? Como justificar a confusão mental que apresenta? E o quadro febril? Qual seria a sua primeira abordagem para o quadro? Caso viesse a apresentar elevação dos níveis séricos de creatinina e oligúria, em que complicação deveríamos pensar? Qual seria a conduta mais adequada? Quais seriam suas condutas diante desse caso, se o diagnóstico de PBE fosse confirmado? Como você justificaria os achados hematológicos? http://#scrolldown http://#page=271 http://#page=272 http://#page=273 http://#page=274 http://#page=275 http://#page=276 8 Carlota Stefenani tz é uma bem sucedida executiva de 38 anos, que leva uma vida aparentemente invejável. No entanto, o que poucos sabem é que, fora da empresa, ela é uma pessoa soli tária e com histórico de etilismo impor tante, inclusive já tendo sido internada por conta de uma crise de abstinência. Recentemente, ela vem sendo acometida por uma terrível fadiga que a impede de trabalhar adequadamente. Apresenta ainda um amarelamento da pele e a mão constantemente vermelhana sua região palmar. Suas mãos também parecem mais rígidas e seus amigos vêm notando que as bochechas estão mais crescidas. Desesperada, tentou fazer dieta, mas de nada adiantou a não ser afinar ainda mais suas pernas e braços. Procurou então atendimento médico para esclarecer seu problema de saúde, sendo realizados os seguintes exames: Caso 1 • Ht 32% • Leucócitos 4.000/mm3 • Plaquetas 120.000/mm3• Glicose 118 mg/dl• Ureia 30 mg/dl• Creatinina 1,0 mg/dl• AST 40 U/L• ALT 30 U/L• Fosfatase Alcalina 100 U/L• Bilirrubina 3,8 mg/dl (BI=1,0; BD=2,8) • TAP 60% (INR 1,5)• PTT 38s • Albumina 2,8 g/dl• Na 136 mEq/L• K+ 4,0 mEq/L• USG de abdome: fígado com textura hiperecoica devido à infiltração gordurosa difusa. Qual o diagnóstico sindrômico desta paciente? Justifique. Como você estadiaria funcionalmente essa paciente? http://#scrolldown http://#page=277 http://#page=278 9 Qual o provável diagnóstico etiológico? Quais os principais padrões de lesão hepática a que esse agente pode levar e o tratamento proposto para cada um deles? Considerando que Dona Carlota fosse obesa e por tadora de síndrome metabólica, mas não apresentasse hábi to etílico e as sorologias fossem negativas para hepati tes virais e doenças autoimunes, qual condição deveria ser pensada? Como você trataria? Caso 2 Júlio, um aplicado estudante de Ciências Aeroespaciais de 25 anos, procurou atendimento médico esta semana, queixando-se de indisposição. Ao exame, mostrava-se ictérico +/4+, afebril, eupneico e hipocorado +/4+. Na ectoscopia, foram observadas formações vasculares no tórax, que sumiam com a digitopressão, rarefação de pelos e mamas aumentadas de tamanho. A pontuação no mini-exame do estado mental era de 29 pontos (perdeu um ponto na estação do ano). Relatou que seus pais faleceram muito cedo e a única coisa que sabia era que sua mãe tinha morrido ainda jovem, em uma instituição psiquiátrica. A namorada que o acompanhava na consulta, contou à equipe médica que, há seis dias, após diversas discussões no seu trabalho, ele foi para casa e resolveu se isolar por alguns dias. Nesse período, passou a notar alguns tremores e dificuldade para realizar alguns movimentos, como a flexão da perna. Aflita, realizou uma pesquisa na Internet e imaginou que ele tivesse a mesma doença de celebridades como Michael J. Fox e Muhammad Ali. O que intriga o casal neste momento é que Júlio não recebeu encaminhamento nem para um neurologista, nem um psiquiatra, mas para um oftalmologista... Qual a principal hipótese diagnóstica e os exames necessários para confirmá-la? http://#scrolldown http://#page=279 http://#page=280 http://#page=281 10 Qual é o achado oftalmológico esperado? Como você explicaria os achados de anemia e icterícia neste paciente? Quais as linhas gerais de tratamento para o caso? Existe alguma alternativa para os casos refratários? Caso 3 Januário, ex-ator de filmes adultos, 45 anos, vem ao seu consultório queixando-se de que não consegue mais emprego no ramo. O principal motivo seria uma “queda na performance ar tística” e, por isso, gostaria de tomar algumas das pílulas azuis que seu vizinho vem usando. Quando questionado, refere também cansaço progressivo nos últimos meses, palpi tações e dor abdominal em hipocôndrio direi to de moderada intensidade. Graças a essa dor, traz um exame de urina realizado no PS na semana anterior que mostra densidade de 1.018, 2 pióci tos por campo, glicosúria +++/4+ e presença de cilindros hialinos. O fígado está palpável a 4 cm RCD e há edema de membros inferiores (++/4+). Antes de terminar o exame físico, você percebe, ao olhar mais atento, uma discreta diferença de coloração, uma espécie de ‘bronzeado’, mais intenso na face, pescoço, regiões extensoras dos antebraços e dorso das mãos e pernas. Qual o provável diagnóstico deste paciente? http://#scrolldown http://#page=282 http://#page=283 http://#page=284 http://#page=285 11 Como você confirmaria este diagnóstico? Quais são as bases do tratamento proposto? Quais drogas poderiam ser utilizadas no tratamento do Sr. Teixeira? O que mudaria se, em vez de sorologia para o vírus B, Sr. Teixeira apresentasse anti-HCV (+)? Teixeira, 55 anos é um famoso jornalista que acaba de se afastar da mídia por problemas de saúde. Tudo começou por uma de suas avaliações de rotina, em que foram detectadas alterações nas enzimas hepáticas (sic) que o conduziram ao inesperado diagnóstico de hepati te B. O paciente se encontra assintomático e não é hiper tenso, diabético ou por tador de qualquer morbidade. Os demais exames laboratoriais se mostraram normais. Acompanhado por um grande hepatologista, Teixeira está agora em avaliação para saber se deve ou não entrar no protocolo de tratamento antiviral específico. Seus achados sorológicos são: HBsAg (+); anti-HBc total (+); anti-HBc IgM (-); HBeAg (+); anti-HBe (-); anti-HBs (-); HBV-DNA > 20.000 Ul/ml. Com a biópsia realizada esta semana, não houve mais dúvidas e o tratamento foi iniciado. Com base nessas si tuações clínicas, responda: Caso 4 http://#scrolldown http://#page=286 http://#page=287 http://#page=288 http://#page=289 12 Homem, 56 anos, hepatopata crônico por etiologia alcoólica, classe funcional Child-Pugh C é admitido no pronto-socorro com desconfor to abdominal e abdome batraquial. Durante rápida avaliação inicial, observa-se que o paciente apresenta confusão mental, háli to de odor fétido e escleras ictéricas. Não relata episódios de hematêmese, mas refere constipação há aproximadamente 3 dias. Como já era sabidamente por tador de asci te e o exame físico não deixava dúvidas disso, foi prontamente submetido à paracentese diagnóstica e de alívio (com a retirada de 6,5 L de líquido) que trazia: líquido amarelo-ci trino, contendo 500 leucóci tos, 300 polimorfonucleares, glicose 60 mg/dl; LDH normal; proteína 0,9 g/dl. O gradiente de albumina soro-asci te calculado foi de 1,8. Com base nesse quadro clínico, faça a prescrição desse paciente: Prescrição http://#scrolldown http://#videomiolo=PRESCRICAO_MEDICA_MEDCIR01_2017 http://#page=290 13 Anamnese: ID: Mulher, 32 anos, casada, professora universitária QP: vômitos e dor abdominal HDA: paciente procurou serviço médico com queixa de vômitos sanguinolentos em moderada quantidade, associados a dor abdominal difusa iniciada nos últimos dois meses, mas com piora acentuada há três dias. Nega qualquer padrão de irradiação da dor, associação com alimentação, disúria ou alteração do hábito intestinal. HPP: Nega ser hiper tensa, diabética ou possuir história de alergia. Não refere história prévia de li tíase biliar nem faz uso regular de medicamentos, exceto por anticoncepcionais. H. Fam: Pai de 68 anos, hiper tenso e mãe de 59, por tadora de doença do refluxo e varizes essenciais. Tem um filho sadio e tem história de três abor tos espontâneos. H Fisiol: Questionada sobre a história reprodutiva, afirma por vezes apresentar ciclos menstruais irregulares e, por conta disso, utiliza anticoncepcionais orais. Relata que durante a gestação recebeu tratamento para sífilis após detecção ocasional da infecção num exame de sangue. Hsoc: Nega ser tabagista, etilista ou usuária de drogas IV. Dieta sem restrições, levemente hipercalórica. Exame Físico: Ectoscopia: Lúcida, hipocorada +/4+, afebril, acianótica, anictérica, eupneica, em bom estado geral. PA 128 x 82 mmHg; FC 88 bpm; FR 18 irpm. ACV e AR: NDN Abdome: atípico, peristáltico, flácido, com dor abdominal difusa à palpação profunda, sem sinais de irri tação peri toneal e sem massas palpáveis. Mmii: Pulsos palpáveis, isóbaros. Ausência de empastamento de panturrilhas. Nota-se a presença de livedo reticularis. Exames Complementares: Foram inicialmente solici tados hemograma, amilase, transaminases, albumina, TAP, EAS e dosagem de beta-HCG cujos resultados não acrescentaram nenhum valor ao caso. Realizada tomografia computadorizada deabdome, cujo achado se mostra abaixo: Com base nesses dados, responda: Qual a alteração observada pelo exame de imagem? http://#scrolldown http://#videomiolo=DESAFIO_DIAGNOSTICO_MEDCIR01_2017 http://#page=291 14 Qual seria a hipótese diagnóstica para o caso? Qual a conduta terapêutica? Caso Extra Dona Santana é uma famosa comerciante da cidade e detentora, por diversas vezes, dos títulos “Fígado do ano” e “Miss Branquinha”. No entanto, como gosta de afirmar, tais títulos fazem jus apenas ao seu passado, quando estava “desencontrada”, já que atualmente tornou-se uma religiosa convicta. Há alguns meses, descobriu ser por tadora do vírus B, procurando atendimento médico. E é nessa situação que nos encontramos. Do outro lado da mesa de atendimento, mal iniciada a tão cobiçada residência de cirurgia geral, João e Paulo, residentes do primeiro ano recém chegados, aguardavam ansiosamente para acompanhar o serviço de transplante hepático. Logo na primeira consulta, eles atenderam a Dona Santana. No prontuário, ela aparecia classificada no momento como Child B-9. Para piorar a situação, durante avaliação rotineira foi constatado um hepatocarcinoma de 4 cm entre os segmentos IVB e V. O transplante hepático estava então indicado, ficando os residentes responsáveis pelo cadastro na fila de transplantes. Baseado no caso, responda as seguintes questões: Qual seria a maneira correta de “ranquear” Dona Judi te na fila do transplante? Quais são os principais cri térios empregados para alocação dos fígados advindos de doadores cadáveres? http://#scrolldown http://#videomiolo=CASO_EXTRA_MEDCIR01_2017 http://#page=292 http://#page=293 http://#page=294 http://#page=295 15 A paciente em questão recebe alguma pontuação especial? Caso mantivesse o hábi to etílico, haveria alguma contraindicação ao transplante? Após 3 meses de espera e na ausência de crescimento tumoral, a dupla mui to mais “experiente” de residentes pôde acompanhar a paciente durante sua internação e a realização do tão esperado transplante hepático. Ao longo do procedimento, o preceptor responsável notou a empolgação de ambos e logo os presenteou com algumas perguntas: Quais são as principais fases do procedimento cirúrgico no receptor? Cite as principais formas de anastomose com veia cava. Quais delas são capazes de reduzir o tempo de anepatia do receptor? Qual é a principal complicação intraoperatória? Ela ocorre em que tempo da cirurgia? http://#scrolldown http://#page=296 http://#page=297 http://#page=298 http://#page=299 http://#page=300 16 A cirurgia foi um sucesso! Durante as semanas seguintes os colegas dos dois novos entusiastas do transplante hepático cansaram de ouvir o quão espetacular foi o procedimento. Contudo, nem tudo corria as “mil maravilhas”. A paciente há 4 d ias v inha sent indo febre e um desconfor to impor tante no hipocôndrio direi to. Realizado Eco-Color-Dopp ler do s i s tema por ta que resultou no seguinte laudo: - Veia Cava com calibre de 1 ,8 cm, anastomose pérvia, sem falhas de preenchimento, com velocidade de fluxo normal . - Veia por ta de calibre de 1 ,2 cm, fluxo hepatopetal , com velocidade de fluxo normal (15 cm/s). - Não foi possível visualizar a ar téria hepática. A par tir do exame, responda: Qual é o provável diagnóstico? É necessário algum exame adicional para sua confirmação? Qual a conduta indicada para o caso? Durante a realização do procedimento indicado, quais são os achados mais frequentes? Por quê? http://#scrolldown http://#page=301 http://#page=302 http://#page=303 Cirurgia - Volume 1 17Medgrupo - CiClo 2: M.E.D A Síndrome de inSuficiênciA HepAtocelulAr omo podemos observar neste fabuloso trecho da mitologia grega, o castigo de Prometeu por ter levado o fogo dos deuses aos humanos foi ter um pedaço de seu fígado arrancado diariamente. Graças à sua incrível capacidade de regeneração, este castigo seria “eterno” até que algum Deus o libertasse por piedade... Ao longo desta apostila, apesar de falarmos novamente do fígado (a exemplo da apostila de Síndrome Ictérica), você perceberá que teremos um enfoque diferente. Nosso objetivo agora estará voltado basicamente para as hepatopatias crônicas e a cirrose hepática. Estas condições são responsáveis por duas síndromes principais. A primeira, veremos neste capítulo, representada pela Síndrome de Insuficiência Hepatocelular. A segunda, discutida adiante, é a Síndrome de Hipertensão Porta (HP). A partir de agora, convidamos você a embarcar num detalhado estudo do fígado e das principais condições que o acometem, um tema que há centenas de anos tanto fascina o ser humano! C “O cão de caça alado de Zeus, Deve vir como um convidado espontâneo ao seu banquete. Durante todo o dia ele irá rasgar seu corpo em frangalhos, deliciando-se furiosamente sobre o fígado escuro. Não espere o fim dessa agonia, até que um Deus sofra livremente por você.” Ésquilo (em “Prometeu acorrentado”) 17 Figura 1: O Lóbulo Hepático = unidade funcional do fígado. http://#scrolldown Cirurgia - Volume 1 18Medgrupo - CiClo 2: M.E.D QUADRO DE CONCEITOS MICROARQUITETURA Lóbulos Hepáticos (Polígonos) / centro: veia centro lobular / “cantos”: espaço-porta (tríade: vênula, arteríola e dúctulo biliar). Zona 1: periportal; Zona 2: intermediária; Zona 3: perivenular. PRINCIPAIS FUNÇÕES HEPÁTICAS: (1) Eliminação de toxinas; (2) Coordenação do metabolismo interme- diário; (3) Síntese de proteínas; e (4) Metabolismo da bilirrubina e síntese dos ácidos biliares. MANIFESTAÇÕES NA HEPATOPATIA - Achado mais comum = fadiga. - Aguda (neurocardiovasculares) x Crônica (“Estigmas hepáticos”). ESTADIAMENTO DA FUNÇÃO HEPÁTICA - Geral = Escore de Child-Pugh (“BEATA”): classes A, B e C. - Transplante = Escore de MELD. COMPLICAÇÕES DA INSUFICIÊNCIA HEPATOCELULAR (1) Encefalopatia Hepática. (2) Síndrome Hepatorrenal. (3) Complicações Pulmonares. (4) Desnutrição. (5) Coagulopatia. (6) Anormalidades hematológicas. (7) Doença Óssea. (8) Hepatocarcinoma. Introdução A) Microestrutura hepática O fígado é o mais volumoso órgão interno do corpo humano, pesando aproximadamente 1-1,5 kg e representando 1,5-2,5% da massa corporal magra. Funcionalmente, ele está or- ganizado em pequenos lóbulos. Observe na FIGURA 1 que estes lóbulos nada mais são que polígonos construídos a partir de “muros de hepatócitos”, (as principais células do pa- rênquima), contendo a veia centrolobular no meio e o espaço-porta nos cantos. Cada espa- ço-porta, por sua vez, é formado por uma tríade portal que possui no seu interior uma vênula (ramo da porta), uma arteríola (ramo da artéria hepática) e um dúctulo biliar. Na FIGURA 2 observamos ainda que estes “muros de hepa- tócitos” são revestidos por células endoteliais e fagocitárias (células de Kupffer), compondo o que denominamos de Sinusoides Hepáticos. E é justamente nestes sinusoides que caminha o sangue que “banha” os hepatócitos. O sangue que chega ao fígado é proveniente de duas grandes vias: arterial (artéria hepática) e venosa (veia porta). Eles chegam ao órgão através de seus ramos terminais no espaço- -porta. Assim, percorrem um caminho particu- lar que se inicia pelos cantos do lobo hepático (zona 1 – periportal), percorre os sinusoides (zona 2 – intermediária) até desembocar sequencialmente nas veias centrolobulares (zona 3 – perivenular), sublobulares, supra- -hepáticas (duas ou três) e veia cava inferior. Graças a essa disposição anatômica, as cé- lulas de cada zona são diferentes umas das outras e acabam reagindo de forma diversa às agressões externas. Por exemplo, a zona 1 que é rica em nutrientes e oxigênio, sofre menos nos estados de hipotensão que a zona 3, mais distante do espaço portal e, portanto, menos irrigada. Essa é uma das explicações para a necrose centrolobular nos casos de hipóxia tecidual. Obs.: Se você esqueceu estes conceitos, seria bom revê-los na apostila de Síndrome Ictérica... Por último, ofígado ainda dispõe de um sistema onde a bile é secretada, formado pelos canalí- culos biliares e que caminha num fluxo contrário ao sanguíneo, vindo do centro para periferia. Estas estruturas também estão descritas com mais detalhes no volume “Síndrome Ictérica”. Figura 2: Entre os muros de hepatócitos... Como na verdade o endotélio não está “co- lado” nos hepatócitos, ainda existe entre eles outro espaço (espaço de Disse). Saiba maiS: O fígado possui uma incrível capacidade de se regenerar e ajustar o seu volume às necessidades do organismo, o que pode ser notado após as hepatectomias e os transplantes hepáticos. Em alguns animais como os ratos, por exemplo, o fígado é ca- paz de se regenerar totalmente após sete dias! Você já parou para imaginar um cora- ção infartado ou um rim isquemiado que se renovassem dessa forma?? Seria o fim das diálises e dos trombolíticos!!! IMPORTANTE: Antes de prosseguir, assista ao vídeo: http://#scrolldown http://#videomiolo=CIR204030 Cirurgia - Volume 1 19Medgrupo - CiClo 2: M.E.D RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014 HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFSC – SC Assinale a alternativa CORRETA. O sangue venoso portal pode conter patógenos e toxinas entéricas neutralizadas no fígado por células que agem como macrófagos residentes. Essas células são: a) Hepatócitos. b) De Kupffer. c) Colangiócitos. d) Endoteliais dos vasos hepáticos. e) Hepáticas estelares. Agora que acabamos de citar esta célula, fica mais fácil! Resposta: letra B. B) As Funções do Fígado Por conta de sua vascularização característica, além de receber sangue do sistema arterial (como qualquer outro órgão), o fígado recebe também todo o sangue originário dos intestinos (através da veia porta). Com isso, acaba por exercer duas funções diferenciadas: eliminação de toxinas e coordenação do metabolismo in- termediário. Além dessas funções, por conta da complexidade dos “hepatócitos”, fica a cargo do fígado também a produção da maior parte das proteínas plasmáticas do nosso organismo e o metabolismo da bilirrubina/formação da bile. Vamos rever alguns detalhes: 1) Eliminação de toxinas (biotransformação e detoxificação): O fígado é capaz de eliminar substâncias tóxicas e inativar diversos medi- camentos através de reações bioquímicas. Estas são classificadas em reações de fase I e fase II e costumam ocorrer sequencialmente. • Fase I = oxidação, redução ou hidrólise. É nesta fase que encontramos as famosas enzimas do citocromo P-450. Das 50 isoen- zimas já identificadas, a mais importante é a CYP3A4. • Fase II = enzimas conjugadoras como a glutationa, que normalmente resultam em substâncias inativas. No final dessas reações, o produto solúvel gerado é excretado na urina ou na bile. Um grande exemplo é a transformação hepática de amônia em ureia (ciclo de Krebs-Hense- leit). A amônia é nociva principalmente para o sistema nervoso central e a ureia, além de menos tóxica, pode ser eliminada pelos rins. Curiosamente, embora o papel principal seja desativar substâncias nocivas, em alguns ca- sos, é o próprio fígado quem as converte para a forma ativa após metabolização. 2) Coordenação do Metabolismo Intermediá- rio: O fígado é o “grande maestro” do metabo- lismo intermediário, coordenando os nutrientes que ganham a circulação plasmática a partir do sistema porta, de forma a armazená-los e redistribuí-los da melhor forma possível. • Aminoácidos: A proteína da dieta é trans- formada em aminoácidos que circulam no organismo e que são utilizados para a síntese de novas proteínas, hormônios e nucleotídeos. Os aminoácidos em excesso, não aproveitados pelos demais tecidos, são utilizados como fonte de energia no fígado ou convertidos em glicose (gliconeogênese), corpos cetônicos ou gorduras. O fígado não é capaz de metabolizar os aminoácidos de cadeia ramificada, que são, desta forma, utilizados pelo tecido muscular. • Carboidratos: Com exceção do momento em que os carboidratos são absorvidos da dieta (atuação da insulina), é o fígado quem define os níveis glicêmicos no organismo!!! Participam dessa regulação dois fenômenos: a glicogenólise (quebra dos estoques de gli- cogênio) e a gliconeogênese (produção de glicose a partir de fontes não glicídicas, como os aminoácidos). Vários fatores influenciam estimulando ou inibindo estes processos, como insulina, glucagon, epinefrina, etc. As- sim, a doença hepática pode produzir tanto hipoglicemia (doença aguda) quanto intole- rância à glicose (doença crônica). • Metabolismo dos Lipídios: O fígado é o principal local de síntese de ácidos graxos no organismo, gerados pelo excesso de glicose. É no fígado também que os ácidos graxos se unem ao glicerol para formar os triglicerídeos. O fígado gorduroso (esteatose hepática) reflete habitualmente um acúmulo excessivo de triglicerídeos, resultante de um desequilíbrio entre a biossíntese destes e sua secreção no plasma na forma de lipopro- teínas de muito baixa densidade (VLDL). O fígado é ainda a principal fonte de colesterol endógeno e responsável por sua captação, armazenamento e secreção na bile. • Metabolismo das Vitaminas: O fígado é responsável pelo armazenamento das vitami- nas lipossolúveis A, D, E K e está envolvido com a captação e armazenamento de outras vitaminas hidrossolúveis como a tiamina, cianocobalamina e piridoxina. HIPOGLICEMIA OU HIPERGLICEMIA? Hi- poglicemia leve (45 a 60 mg/dl) ocorre em aproximadamente metade dos pacientes com hepatite viral aguda não complicada. Como regra, estes pacientes não são hiperinsulinê- micos. Se a doença hepática aguda for grave (hepatite fulminante), a hipoglicemia pode ser acentuada e potencialmente fatal. Intolerân- cia à glicose, por outro lado, está associada mais comumente à doença hepática crônica e cirrose. As concentrações plasmáticas de insulina tendem a ser altas, sugerindo um estado de resistência periférica. A resistência à insulina também pode refletir uma maior secreção de glucagon, ou mesmo a presença do shunt portossistêmico dos pacientes cirró- ticos, que faz com que a insulina secretada pelo pâncreas tenha menos “contato” com o fígado. Naqueles com hepatopatias crônicas associadas a outros distúrbios (ex.: hemo- cromatose e pancreatite crônica), o diabetes mellitus contribui para a intolerância à glicose. Nestes pacientes, os níveis de insulina sérica, ao contrário, estão baixos. http://#scrolldown Cirurgia - Volume 1 20Medgrupo - CiClo 2: M.E.D 3) Síntese de Proteínas: O fígado é uma ver- dadeira “fábrica de proteínas” no organismo. Com exceção das imunoglobulinas (produzi- das pelos linfócitos B), a maior parte das pro- teínas encontradas no plasma é sintetizada exclusivamente pelo fígado. São exemplos dessas proteínas a Albumina, os Fatores de coagulação, os Carreadores e Armazenado- res (Transferrina, Ferritina, Ceruloplasmina), a Proteína C reativa, o Angiotensinogênio, a Alfa-1-antitripsina, os fatores de crescimento, dentre outros. Toda vez que você estiver diante de uma le- são hepática aguda, você deve atentar para os seguintes fatos: Obs. 1) Cada proteína possui uma velocidade de renovação diferenciada. Assim, em situa- ções de falência hepatocelular, proteínas que se renovam rapidamente, como os fatores de coagulação, estarão reduzidas antes das proteínas que têm meia-vida maior, como a albumina. Isso explica porque, na insuficiência hepática, o alargamento das provas de coagu- lação precede a redução da albumina sérica. Obs. 2) A concentração das proteínas plas- máticas nem sempre reflete o grau de lesão hepática. Um exemplo disto é o catabolismo acelerado em algumas condições, como coa- gulação intravascular disseminada (para os fatores de coagulação) e enteropatias perde- doras de proteínas (para a albumina). 4) Metabolismo da Bilirrubina e síntese dos ácidos biliares (ver detalhes no volume 1 de Clínica Médi- ca: “Síndrome Ictérica”) Vamos aproveitar e entender mais um con- ceito com essa questão: RESIDÊNCIAMÉDICA – 2011 HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ONOFRE LOPES – UFRN Nos estados de choque, independente da causa, prevalece o status de hipoperfusão tecidual, com hipóxia celular, o que gera um metabolismo anaeróbico, sendo, portanto, a relação lactato/piruvato sérico um importante marcador desse metabolismo. A relação lac- tato/piruvato está aumentada, sem, no entan- to, haver hipóxia celular: a) Na insuficiência hepática. b) No pós-operatório de cirurgias de grande porte. c) No diabetes mellitus. d) Na glicólise aeróbica. Distúrbio hemodinâmico, que se acompanha de má perfusão tecidual generalizada (estado de choque). Sabemos também que este fenô- meno é multifatorial e decorre, principalmente, de uma disfunção generalizada da microcircu- lação. Os principais mecanismos implicados são os seguintes: (1) menor depuração hepá- tica de substâncias endógenas vasoativas; (2) liberação de actina pelos hepatócitos necro- sados, a qual sofre polimerização na circula- ção periférica e lesa as células endoteliais; (3) ocorrência de CIVD (pela coagulopatia hepá- tica), com piora da disfunção endotelial e is- quemia de múltiplos tecidos. Muitos pacientes em falência hepática aguda também apresen- tam quadro séptico sobreposto às alterações citadas, o que agrava ainda mais o distúrbio hemodinâmico. Evidentemente, este contexto de “caos microcirculatório” é suficiente para gerar um metabolismo anaeróbio e acidose metabólica lática – que no caso estaria asso- ciada à má perfusão tecidual e hipóxia celular. Todavia, mesmo os portadores de falência hepática aguda que ainda não se encontram em franco estado de choque já apresentam elevação do lactato sérico (ou da relação lac- tato/piruvato, que não é habitualmente pes- quisada na prática clínica). Estes indivíduos possuem um mecanismo adicional para o aumento do lactato sérico, além da má perfu- são e hipóxia celular: estamos falando da DEFICIÊNCIA NA DEPURAÇÃO DE LACTA- TO! Temos que nos lembrar de que o fígado é o principal local de metabolização do lacta- to sérico e, por conseguinte, diante da perda das funções hepatocitárias, é esperado um aumento do lactato sérico mesmo que o pa- ciente não tenha evoluído com disfunção mi- crocirculatória. Assim, resposta: A. Manifestações Clínicas Acabamos de rever a estrutura e as prin- cipais funções do fígado. Até aqui tudo bem... Foram basicamente conceitos. Mas, na prática, como definir que um paciente realmente apresenta ALTERAÇÃO DA FUN- ÇÃO HEPÁTICA? A) Anamnese e Exame Físico Muitos pacientes com doença hepática desen- volvem uma forma clínica oligoassintomática, principalmente nas fases iniciais da doença, sendo o diagnóstico suspeitado por alterações em exames laboratoriais de rotina. Dentre os principais achados inespecíficos desta fase temos a Fadiga (mais comum), predominan- temente noturna e intermitente, e os sinto- mas gastrointestinais inespecíficos, como náuseas, vômitos, dor em hipocôndrio direito e hiporexia. Quanto aos mais específicos, te- mos que levar em consideração se a falência hepática é aguda ou crônica, se compensada ou descompensada... Na forma Aguda (hepatite B fulminante, por exemplo) vimos que predominavam a icterícia e as manifestações circulatórias e neurológi- cas, não havendo tempo para o aparecimento das manifestações clássicas da hepatopatia crônica, os famosos “estigmas hepáticos”. Este foi o nosso enfoque na primeira apostila do MED, você se lembra? Na forma Crônica, representada pela cirrose hepática, encontramos dois momentos distin- http://#scrolldown Cirurgia - Volume 1 21Medgrupo - CiClo 2: M.E.D tos. A primeira fase da cirrose hepática é dita “compensada” e o que a diferencia da “fase descompensada” é a ausência de complica- ções da hipertensão porta ou da disfunção hepática. Na primeira fase, a sobrevida média é de 9 anos, sendo que a taxa de evolução para a “descompensada” gira em torno de 5-7% ao ano. Na fase “descompensada”, a sobrevida média é de 1,6 anos. Condições como sangramento por varizes, síndrome he- patorrenal e Carcinoma Hepatocelular (CHC) podem reduzir esses intervalos. Doença Compensada: Estágio 1 (ausência de varizes ou ascite) – Mortalidade 1% ao ano Estágio 2 (varizes, sem ascite ou sangramento) – Mortalidade de 4% ao ano Doença Descompensada: Estágio 3 (ascite com ou sem varizes que nunca sangraram) – Mortalidade de 20% ao ano Estágio 4 (sangramento por varizes, com ou sem ascite) – Mortalidade de 57% ao ano Figura 3: Manifestações clássicas da Cirrose Hepática. Fase compensada: É nesta fase que começam a aparecer os sinais relacionados aos distúrbios endócrinos do complexo Hi- perestrogenismo – Hipoandrogenismo. Na disfunção hepática inicial, algumas vias metabólicas estão alteradas, entre elas a da metabolização do estrogênio – gerando o Hi- perestrogenismo. Este leva a alterações vas- culares cutâneas representadas pelo eritema palmar e pelas telangiectasias (FIGURA 4). As telangiectasias do tipo “aranha vascular” (ou spider angioma) são caracterizadas por uma dilatação arteriolar central que se liga a capilares dilatados com disposição radial. São encontradas especialmente no pescoço, na porção superior do tronco e dos membros superiores. O eritema palmar é decorrente da vasodilatação cutânea restrita à região palmar, principalmente nas regiões tenar e hipotenar. O fluxo sanguíneo para essa região pode au- mentar em até seis vezes. Outra manifestação possível é a vasodilatação do pescoço e tórax anterior, dando o aspecto de “colar hepático” ou “xale hepático”. Com relação à testosterona, sabemos que, embora a maior parte seja transformada na forma ativa por ação da 5-alfa-redutase na próstata, uma parte também se dá na pele e no fígado. Assim, na disfunção hepática, temos um estado de Hipoandrogenismo, responsá- vel pela queda da libido, impotência mas- culina, atrofia testicular, redução da massa muscular (atrofia dos interósseos) e rarefação de pelos (a distribuição dos pelos passa a respeitar o padrão feminino). A ginecomastia é decorrente tanto do hipoandrogenismo como do hiperestrogenismo. http://#scrolldown Cirurgia - Volume 1 22Medgrupo - CiClo 2: M.E.D Figura 4: Telangiec- tasias e Eritema Pal- mar na Insuficiência Hepática. Outras alterações observadas ainda incluem o baqueteamento digital (ver causas adian- te) e os sinais associados à hepatopatia al- coólica, como o entumescimento de paróti- das e a contratura palmar de Dupuytren (FIGURA 5). Figura 5: Contratura palmar de Dupuytren. Por último, sabemos que a albumina, produ- zida exclusivamente pelo fígado, é a grande responsável pela pressão oncótica (pressão que “prende” o líquido no ambiente intravas- cular). Portanto, na hipoalbuminemia, o líquido intravascular tende a migrar para o interstício, levando à formação de edema. CAUSAS DE BAQUETEAMENTO (OU hIPOCRATISMO) DIgITAl Forma Hereditária Doenças Intratorácicas e Pulmonares Ca Broncogênico Outros Ca Intratorácicos (Metástase, Mesote- lioma, Tumor de Mediastino) Supurações Crônicas (Empiema Pleural, Abs- cesso Pulmonar) Bronquiectasias Fibrose Cística Fibrose Pulmonar idiopática Doenças Cardíacas Cardiopatia Congênita Cianótica (ex.: Tetralo- gia de Fallot) Endocardite Bacteriana Subaguda Doenças Gastrointestinais Cirrose Hepática Esquistossomose Doença Inflamatória Intestinal (Crohn, Retocolite) Diarreia Crônica Uso de Laxantes Saiba maiS: A contratura de Dupuytren e suas repercus- sões funcionais tradicionalmente vêm sendo abordadas de forma cirúrgica. No entanto, um trabalho publicado na revista The New En- gland Journal of Medicine, mostrou que a in- jeção de colagenase também pode ser uma opção terapêutica neste caso. Num estudo duplo-cego com 300 participantes, mostrou-se uma significativa redução de 64% na contra- tura em paciente tratados, sendo os efeitos adversos relacionados (dor, edema, prurido) todos resolvidos dentro de 10 dias. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 UNIVERSIDADEFEDERAL DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DE PORTO ALEGRE – RS A enfermidade de Dupuytren: a) Está relacionada à doença ocupacional. b) Inicia, na maioria dos casos, pelo compro- metimento do quarto e do quinto quirodáctilos. c) Adere a músculo e nervos da mão. d) Raramente compromete as duas mãos. e) Acomete mais frequentemente mulheres após a menopausa. Na Doença de Dupuytren, ocorre uma fibro- displasia da fáscia palmar com espessamento, formação de nódulos e cordas que levam à deformidade em flexão dos dedos. É doença idiopática, apresentando alguns fatores relacio- nados: DM, alcoolismo, uso de drogas (ex.: an- ticonvulsivantes). Não existe associação ocupa- cional comprovada. Tipicamente afeta homens brancos, em torno da 7ª década de vida. Em geral, é bilateral. Os dedos mais frequentemente acometidos são os ulnares (anular e mínimo) e eventualmente o polegar. Atenção para a alter- nativa C, pois a doença acomete a fáscia palmar (tecido superficial, logo abaixo do subcutâneo), porém, durante a cirurgia, muito frequentemente, o tecido doente encontra-se aderido aos tecidos profundos, principalmente aos nervos, com risco de lesão. Resposta: alternativa B. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2009 SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE DE SANTA CATARINA – SES – SC Sintoma predominante na cirrose hepática: a) Ascite. b) Icterícia. c) Fraqueza. d) Perda de peso. e) Hepatomegalia. Como vimos, predominam os sintomas inespecíficos, principalmente na fase inicial da doença. Destes, o mais comum é a fadiga. Resposta: C. http://#scrolldown Cirurgia - Volume 1 23Medgrupo - CiClo 2: M.E.D Fase descompensada: Aqui aparecem as complicações da Hipertensão Porta e da Insuficiência Hepatocelular. Na verdade, essas síndromes não são excludentes, mas convi- vem de forma bem próxima. O paciente que faz encefalopatia por disfunção hepática, por exemplo, também encontra no shunt portossis- têmico da hipertensão porta (desvio do sangue do sistema porta para a circulação sistêmica, sem passar pelo fígado), um mecanismo de- flagrador da encefalopatia. Assim, poderíamos dizer que esta fase é mar- cada por: - Hipertensão Porta e suas consequências (varizes esofagogástricas, ascite, circulação colateral abdominal, esplenomegalia) - Encefalopatia hepática - Síndrome hepatorrenal - Complicações pulmonares - Desnutrição - Coagulopatia e anormalidades hematológicas - Doença óssea - Hepatocarcinoma Devido às particularidades de cada uma des- sas complicações, ao final deste capítulo, elas serão abordadas de forma mais específica. A Hipertensão Porta e suas consequências serão revistas no capítulo seguinte. Saiba maiS: Atualmente, com a identificação mais preco- ce de pacientes com doença hepática crôni- ca pela avaliação não invasiva de fibrose com a Elastografia Transitória (ET), um novo termo foi criado: a doença hepática crônica avançada compensada (do inglês cACLD – compensated Advanced Chronic Liver Dise- ase). Ele seria equivalente ao termo anterior “cirrose compensada”. Na ET, os pontos de corte estabelecidos foram: <10 Kpa (na au- sência de outros sinais clínicos, afasta-se cACLD);10-15 Kpa (necessários outros tes- tes confirmatórios); e >15 Kpa (altamente sugestivos de doença hepática crônica). Outro termo importante a ser conhecido é a “hipertensão porta clinicamente significativa” quando teremos um gradiente venoso de pressão porta (ver adiante) ≥ 10 mmHg e ausência de varizes esofagogástricas. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PELOTAS – UCPEL No diagnóstico diferencial da icterícia, é COR- RETO afirmar que: a) Níveis sanguíneos elevados de bilirrubina indireta sugerem o diagnóstico de colestase. b) Prurido, hipocólica e colúria ajudam na sus- peita diagnóstica de icterícia hemolítica. c) A presença de esplenomegalia levanta a suspeita de síndrome de Gilbert. d) Aranhas vasculares e eritema palmar suge- rem insuficiência hepatocelular. e) Níveis sanguíneos elevados de gama-GT ajudam na diferenciação de colestase intra e extra-hepática. Essa questão mescla conceitos deste mó- dulo com o de Síndrome Ictérica. Sabemos que na colestase aumenta a BD e não a BI (opção A errada) e ocorrem prurido, hipocolia e colúria (opção B errada). Síndrome de Gil- bert é um distúrbio isolado do metabolismo da bilirrubina associado à deficiência parcial da glucoroniltransferase e o paciente não cursa com esplenomegalia na sua evolução (opção C errada). Para diferenciarmos o nível da obstrução biliar, precisamos de exames de imagem como USG e TC e não de elevação da gama-GT que marca apenas a colestase em si (opção E errada). Por último, alterações como as aranhas vasculares e eritema palmar nos sinalizam para um quadro de insuficiência hepatocelular. Resposta: D. B) Dados laboratoriais Quando se quer avaliar a presença de doença hepática, ouvimos frequentemente o termo “provas de função hepática”. No entanto, ob- serve que este não é um nome muito adequa- do, pois algumas dessas provas não avaliam necessariamente a capacidade de síntese ou metabolização do fígado, mas sim lesão celular ou fluxo biliar obstruído (ex.: ALT e fosfatase al- calina). Além disso, outro cuidado que se deve ter é que os testes nunca são diagnósticos e devem ser avaliados caso a caso, podendo es- tar normais em hepatopatas graves ou mesmo anormais em indivíduos sem doença hepática. A abordagem inicial de um quadro suspeito de disfunção hepática deve incluir inicialmen- te os seguintes exames: aminotranferases (transaminases), fosfatase alcalina, albumina, bilirrubinas e tempo de protrombina. Já falamos bastante das transaminases, da fosfatase alcalina e da bilirrubina na apos- tila de Síndrome Ictérica. Você se lembra? AminotrAnsferAses (trAnsAminAses): São duas enzimas, a aspartato aminotransferase (AST ou TGO) e a alanina aminotransferase (ALT ou TGP), liberadas na corrente sanguínea após lesão da membrana do hepatócito. A ALT é praticamente exclusiva do fígado en- quanto a AST pode ser encontrada também no miocárdio, músculo esquelético, rim, cére- bro, pâncreas, pulmões, leucócitos e hemá- cias. Ao contrário do que se poderia esperar, não existe boa correlação entre os níveis de transaminases e o grau de lesão celular! fosfAtAse AlcAlinA: Enzima localizada na membrana do hepatócito próxima ao cana- http://#scrolldown Cirurgia - Volume 1 24Medgrupo - CiClo 2: M.E.D lículo biliar. Pode estar presente em outros locais como o osso, a placenta e o intestino delgado. Elevações discretas podem estar presentes em idosos, crianças e adolescen- tes em fase de crescimento, gestantes e pacientes dos tipos sanguíneos O e B sem doença hepática subjacente. A elevação da gamaglutamiltransferase (Gama-GT) ou da 5’ nucleotidase podem diferenciar a elevação da fosfatase alcalina produzida no fígado das produzidas em outros tecidos. BilirruBinA totAl e frAções (diretA e indiretA): Detalhado no volume de Síndrome Ictérica, este teste se relaciona à função excretora e detoxificadora do fígado. A hiperbilirrubi- nemia é um fator de mau prognóstico na cirrose hepática, ocorrendo principalmente à custa da fração direta. Amônia sanguínea e bilirrubina urinária também podem ser utilizadas nesse sentido. Com relação aos demais exames: AlBuminA: Como é produzida exclusiva- mente pelo fígado, trata-se de um teste valioso da função de síntese do órgão. No entanto, como circula durante muito tem- po no plasma (meia-vida de 15 a 21 dias, com degradação diária de apenas 4%) é um parâmetro ruim para disfunções leves ou agudas. Os níveis associados à hepato- patia crônica estão abaixo de 3 g/dl. Outras condições associadas incluem desnutrição, síndrome nefrótica, enteropatia perdedora de proteína e infecções crônicas (ação da IL-1 e TNF). Quando solicitamos a do- sagem de proteína total do plasma, além da albumina, outra importante classe de proteínas plasmáticas está incluída – as globulinas – entre as quais se incluem as gamaglobulinas(imunoglobulinas produ- zidas por linfócitos B). Com a disfunção hepática, menos bactérias oriundas da cir- culação porta são depuradas e ocorre um aumento na produção de imunoglobulinas. Com isso, as gamaglobulinas encontram-se elevadas na doença hepática crônica, sen- do alguns isotipos sugestivos de determi- nadas doenças, como hepatite autoimune (IgG), cirrose biliar primária (IgM) e doença hepática alcoólica (IgA). Obs.: Como a albumina é um marcador do estado nutricional, aqueles com maior déficit nutricional são também os que apresentam menor albumina plasmática. No entanto, apesar de alguns pacientes apresentarem hipoalbuminemia grave, não há nenhum estudo que comprove o benefício da sua reposição. Conclusão: cuidado com a res- trição proteica nestes pacientes... tempo de protromBinA (tAp): Consideran- do que o fígado é o local de síntese dos fatores de coagulação e que a meia-vida destes fatores é muito mais curta do que a da albumina (ex.: fator VII = 6 horas), as provas da coagulação constituem uma das melhores medidas da função hepática. Apesar de não muito bem validados, exis- tem outros marcadores séricos indiretos de fibrose avançada/cirrose: • Níveis séricos de laminina, peptídeo pró-co- lágeno tipo III, ácido hialurônico e a própria plaquetopenia (principalmente na hepatite crônica C). • Testes Enzimáticos: Guanase (elevada na hepatite viral aguda); desidrogenase glutâ- mica (GIDH, associada à necrose hepática mesmo quando as transaminases estão em queda) e a pseudocolinesterase (reduzida no déficit de síntese hepática e de valor prog- nóstico na evolução da cirrose). • Testes de Função: Clearance do verde de indo- cianina (depuração hepática exclusiva), teste da aminopirina (medido no ar exalado), capa- cidade hepática de eliminação da galactose e teste MEGX (injeção intravenosa de lidocaína). Veja estas questões... RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014 HOSPITAL DA POLÍCIA MILITAR – MG Marque a alternativa INCORRETA. São pre- ditores de cirrose em adultos com conheci- mento ou suspeita de doença hepática: a) Discriminante de Bonacini de cirrose maior que 7. b) Presença de ascite. c) Presença de aranha vascular. d) Contagem de plaquetas menor de 200.000. Buscando avaliar a probabilidade de desen- volvimento de cirrose em pacientes com doença hepática suspeita ou conhecida, alguns fatores já foram listados, entre eles: (1) presença de ascite; (2) aranhas vasculares; (3) contagem de plaquetas < 160.000/mm3. Outro parâmetro que pode ser utilizado na prática é o escore discri- minante de Bonacini (escore > 7). Este escore utiliza em seu cálculo a contagem de plaquetas, a relação ALT/AST e o INR do paciente. Assim, esta questão para lá de específica, por utilizar um valor inadequado das plaquetas, torna o item D a melhor opção a ser marcada. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2006 UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – UERJ Nos primeiros dias de evolução em pacientes com insuficiência hepática fulminante, o último dado laboratorial que se altera é: a) Fator VII. b) Albumina. c) Bilirrubina. d) Atividade de protrombina. Já sabemos que na avaliação hepática, o resultado do exame é dependente da meia- -vida do que estamos medindo. Por exemplo, o fator VII tem uma meia-vida de aproximada- mente seis horas e, portanto, é o primeiro a se alterar, tornando-se muito importante para os casos agudos. O mesmo vale para o tempo de protrombina. A bilirrubina também aparece nos primeiros momentos de lesão hepatoce- lular. Agora, imagine um quadro fulminante e http://#scrolldown Cirurgia - Volume 1 25Medgrupo - CiClo 2: M.E.D você esperar pela redução da albumina que tem uma meia-vida em torno de 15 a 21 dias... Portanto, resposta letra B. C) Estadiamento da Função hepática Diante de um hepatopata crônico, algumas perguntas se impõem ao médico que o assis- te. Qual é o grau de disfunção hepática desse paciente? Quais são os índices de mortalidade nesta faixa de exames laboratoriais? Existem tratamentos que estariam indicados ou con- traindicados de acordo com a doença hepática desse paciente? Além disso, imagine que dois médicos, um do México e outro do Paquistão venham a trazer relatos de caso de seus paí- ses de origem... Como padronizar a definição de um hepatopata leve ou grave??? Na tentativa de melhorar todos esses aspec- tos, foi desenvolvida a classificação de Child- -Pugh, baseada num esquema de pontuação e interpretação conforme as tabelas a seguir. Pontuação Classificação 5 a 6 pontos Grau A 7 a 9 pontos Grau B 10 a 15 pontos Grau C * Alguns locais utilizam como referência para albu- mina: > 3,5;3,5 a 2,8 ; < 2,8. ClASSIFICAçãO DE ChIlD-PUgh Pontos 1 2 3 Ascite Ausente Leve Modera- da/Grave Bilirrubina (mg/dl) < 2 2 a 3 > 3 Albumina (g/dl) > 3,5 3,5 a 3,0* < 3,0 Tempo de Protrombina Paciente - controle(s); ou INR 0-4 < 1,7 4 a 6 1,7 a 2,3 > 6 > 2,3 Encefalopatia Ausente Graus I a II Graus III a IV Para fins de transplante e avaliação de ris- co, considera-se um quadro descompensa- do a partir da classe B (Child > 7). Gravou a classificação??? Então, para facilitar, me- morize a imagem! Outro escore funcional adotado para a doença hepática é o MELD (Model for End-Stage Liver Disease), mais simples e com melhor capaci- dade de prever a sobrevida dos hepatopatas, quando comparado à classificação de Child- -Pugh. Este escore baseia-se em apenas três variáveis: bilirrubina, INR e creatinina. Na prática, o escore MELD é utilizado principal- mente para pacientes com doença descom- pensada, a fim de determinar a prioridade na fila do transplante. Outros usos do MELD in- cluiriam a seleção de pacientes para realiza- ção de TIPS e como marcador prognóstico em condições como hepatite alcoólica, síndrome hepatorrenal e hemorragia digestiva. Observe a seguir a fórmula do escore MELD: ESCORE MElD (CálCUlO) 10 x {[0,957 x loge (creatinina mg/dl) + 0,378 x loge (bilirrubina mg/dl) + 1,12 x loge (INR)]} + 6,43 a) caso os valores de laboratório sejam meno- res que 1,0, arredondar para 1,0; b) a creatinina poderá ter valor máximo de 4,0, caso seja maior que 4,0, considerar 4,0; c) no caso de necessidade de realização de diálise duas ou mais vezes na última se- mana, o valor da creatinina será conside- rado como 4,0; d) existem outras fórmulas disponíveis para o cálculo, como o MELD modificado pela UNOS (utilizado pelo serviço de transplantes nos EUA) e o MELD de acordo com o sódio (MELDNa). Obs.: loge = logaritmo neperiano (presente em qual- quer calculadora científica). Existe ainda uma variação deste escore para crianças menores de 12 anos conhecido como PELD. ESCORE PElD (CálCUlO) 10 x [0,480 x loge (bilirrubina mg/dl) + 1,857 x loge (INR) - 0,687 loge (albumina mg/dl) + 0,436 (se até 24 meses de vida) + 0,667] (se tiver déficit de crescimento menor que duas vezes o desvio padrão para idade) a) caso os valores de laboratório sejam menores que 1, arredondar para 1,0; b) cálculo do valor do déficit de crescimento baseado no gênero, peso e altura. c) ajustamento do PELD para harmonização com o MELD: multiplicar por 3 e arredondar para valor inteiro. http://#scrolldown http://#page=250 http://#page=304 Cirurgia - Volume 1 26Medgrupo - CiClo 2: M.E.D RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012 HOSPITAL UNIVERSITÁRIO PEDRO ERNESTO – RJ No repouso masculino está sendo reavaliado um alcoólatra com possível indicação de lapa- rotomia exploradora. Ele sofre de cirrose he- pática e tem ascite moderada a grave, mas não há evidências de encefalopatia. A bioquí- mica sanguínea revela bilirrubina total de 2,5 mg/dl, albumina de 3,8 g/dl e tempo de pro- trombina prolongado de 5 seg. (INR “aproxi- madamente” 1,9). O somatório de pontos alcançados, à luz da classificação de Child-Pugh, é de: a) 6. c) 8. b) 7. d) 9. De acordo com os dados fornecidos no enun- ciado, temos que calcular a pontuação no es- core de Child-Pugh. Parâmetros clínicos: au- sência de encefalopatiavale 1 ponto; ascite moderada a grave, 3 pontos. Parâmetros labo- ratoriais: bilirrubina 2,5 mg/dl vale 2 pontos; albumina de 3,8 g/dl corresponde a 1 ponto; e INR de 1,9 vale 2 pontos. Somando tudo, temos um valor de 9. Portanto, resposta: letra D. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 FUNDAÇÃO JOÃO GOULART – HOSPITAIS MUNICIPAIS – RJ Em relação à cirrose hepática, são critérios da classificação de Child-Pugh: a) Albumina sérica e PCR-T. b) Bilirrubina sérica e leucocitose. c) Febre e VHS. d) Encefalopatia e TAP. Na avaliação funcional de cirróticos, uma classificação inicialmente desenvolvida para avaliar risco para as cirurgias de shunt e atualmente utilizada para determinar gravida- de, risco pré-operatório e prognóstico, é a de Child-Pugh. Ela inclui cinco variáveis: ascite, bilirrubina, albumina, TAP e encefalopatia. Resposta: D. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 INSTITUTO JOSÉ FROTA – IJF A alocação de enxerto hepático de doador fale- cido no Brasil é priorizado pelo escore MELD. Esse escore é calculado por uma equação logarítmica utilizando as seguintes variáveis: a) Tempo de protrombina, albumina e bilirru- binas. b) INR, creatinina e bilirrubinas. c) INR, albumina e bilirrubinas. d) Tempo de protrombina, bilirrubinas e crea- tinina. Agora que acabamos de ver fica realmente muito fácil. Resposta: B. Diagnóstico e Tratamento Ao longo desta abordagem inicial, algumas causas se mostrarão mais evidentes seja pela evolução clínica, seja por evidência soroló- gica. Nesse caso, cada uma delas terá um tratamento específico e que será discutido adiante, na seção “Causas de Cirrose”. Por ora, passaremos para uma análise geral das principais complicações associadas à insufi- ciência hepatocelular. http://#scrolldown Cirurgia - Volume 1 27Medgrupo - CiClo 2: M.E.D A Encefalopatia Hepática (EH) é, por defi- nição, um quadro reversível, caracterizado por alterações neurológicas de graus varia- dos decorrentes da falência hepática. Pode ser encontrada nas lesões agudas (hepatite fulminante) ou nas crônicas (mais comum). O mecanismo é relacionado à presença de “toxinas” intestinais que chegam à circulação sem serem depuradas tanto por disfunção primária dos hepatócitos (insuficiência hepa- tocelular) quanto por shunt portossistêmico (hipertensão porta). COMPlICAçõES ASSOCIADAS à INSUFICIêNCIA hEPATOCElUlAR raças à Síndrome de Insuficiência Hepatocelular, teremos caracteristicamente na forma crônica “descompensada” das hepatopatias e, por vezes, também em algumas formas agudas (ex.: hepatite fulminante), o surgimento de distúrbios clínicos mais graves. Entre eles, poderíamos destacar a encefalopatia hepática; síndrome hepatorrenal; complicações pulmonares; desnu- trição; coagulopatias; etc. Abaixo iremos detalhar cada uma delas. Complicações como ascite e varizes de esôfago, que também aparecem nessa fase, devem-se mais à Síndrome de Hipertensão Porta e, por isso, serão revistas no próximo capítulo. G QUADRO DE CONCEITOS ENCEFALOPATIA HEPÁTICA - Classificação por condição subjacente: Tipo A: associada à falência hepática aguda. Tipo B: associada a by-pass portossistêmico. Tipo C: associada à cirrose e à hipertensão porta. - Classificação por evolução: Episódica (esporádica) / Recorrente / Persistente. - Classificação por gravidade: Mínima / Graus I, II, III e IV. - Classificação por fator desencadeante: Espontânea / Precipitada (Lembrar Hemor- ragia digestiva, alcalose, hipocalemia e uso diuréticos!!!). - Tratamento: Não fazer restrição proteica – substituir fonte animal / repor BCAA. Medicamentosa: Lactulose – associada ou não à rifaximina. SÍNDROME HEPATORRENAL - Patogênese: (1) Vasodilatação esplâncnica. (2) Vasoconstricção renal exacerbada. - Diagnóstico: (1) Hepatopatia aguda ou crônica com insu- ficiência hepática avançada e hipertensão portal. (2) Creatinina elevada que não melhora com reposição de albumina e remoção de diuréticos. (3) Parênquima preservado (sem causa pré- -renal, renal intrínseca ou pós-renal aparente). - Classificação: Tipo 1: rápida progressão da insuficiência re- nal (< duas semanas), geralmente precipitada por PBE. Prognóstico ruim. Tipo 2: evolução é mais insidiosa, espontâ- nea, associada à ascite refratária. Prognóstico melhor. - Tratamento: Albumina + vasoconstrictor (terlipressina, oc- treotide, midodrine) / transplante hepático. 1) ENCEFAlOPATIA hEPáTICA Dentre essas substâncias, a mais importante é a Amônia, produzida pelos enterócitos a partir da glutamina e pelo catabolismo proteico das bactérias colônicas sobre fontes nitrogenadas como as proteínas ingeridas! Em condições normais, o fígado transformaria a amônia em ureia ou glutamina, eliminando-a pelas fezes e urina, o que não ocorre na disfunção hepática. Como resultado, a amônia arterial está elevada em 90% dos pacientes com EH. Cabe apenas marcar que, apesar de a hiperamonemia levar à encefalopatia, os níveis séricos desta substância não se correlacionam com a gravidade da EH. Outros componentes participantes seriam: mercaptanos, neurotransmissores inibi tórios do SNC como GABA ou seus estimulantes como os benzodiazepínicos endógenos. Introdução 27 http://#scrolldown Cirurgia - Volume 1 28Medgrupo - CiClo 2: M.E.D Após o Congresso Mundial de Gastroenterolo- gia, realizado em Viena (1998), foi formulada uma classificação da Encefalopatia Hepática (EH) que ajudou a entender melhor o compor- tamento desta condição, com base no meca- nismo subjacente. Vejamos: Classificação Diagnóstico Tipo A EH associada à falência hepática aguda Tipo B EH associada a by-pass portossis- têmico (sem lesão hepatocelular in- trínseca) Tipo C EH associada à cirrose e à hiperten- são porta De acordo com a evolução, a EH pode ser ainda classificada em: (1) Encefalopatia Hepática Episódica (Espo- rádica); (2) Encefalopatia Hepática Recorrente (perío- dos de EH com duração de até seis meses); (3) Encefalopatia Hepática Persistente (alte- rações permanentes com períodos de exacer- bação com EH franca). Devemos entender que não existe nenhum exame laboratorial que confirme o diagnós- tico de EH, sendo, portanto, eminentemente clínico! Dessa forma, na primeira abordagem de um paciente com suspeitas de EH, outros diagnósticos diferenciais devem ser levados em consideração: Diagnóstico Diferencial da Encefalopatia hepática Metabólicas Tóxicas SNC Hipo ou Hiperglicemia Intoxicação Alcoólica Acidente Vascular Cerebral Hipo ou Hipercalcemia Abstinência Alcoólica Meningite e Abscesso Hipocalemia Narcose por CO Encefalite Hipóxia Drogas ilícitas Trauma Uremia Medicações Tumor Nos casos agudos, o aparecimento dos sinto- mas é mais rápido e associado a rebaixamen- to do nível de consciência que pode levar ao coma em algumas semanas. A grande preo- cupação é com o edema cerebral e o risco de herniação. Nos quadros crônicos, a apresentação é mais característica e composta por dois fatores: (1) embora a maior parte dos cirróticos se apresente sem sintomas evidentes (EH mínima), a história típica é daquele pa- ciente que começa a se mostrar confuso, com alteração da personalidade. Depois do primeiro episódio, até o paciente é capaz de reconhecer que está ficando “diferente”. Alguns se comportam de ma- neira mais agressiva e outros se mantêm sonolentos no leito. Para facilitar a abordagem, foi sugerida uma classificação em estágios (veja na tabela a seguir): ESTágIOS DA ENCEFAlOPATIA hEPáTICA – CRITÉRIOS DE wEST hAvEN – Consci- ência Normal Leve perda da atenção Letárgi- co Sonolen- to mas respon- sivo Coma Está- gio Míni ma 1 2 3 4 Intelecto e Comporta- mento Normal Redução na atenção; adi- ção e subtra- ção prejudica- das Desorientado; comportamen- to inadequado Desorientação severa; com- portamento bizarro Coma Achados Neurológicos Exame normal; testes psico- motores preju- dicados Tremor ou fla- pping leveFlapping evi- dente; fala arrastada Rigidez mus- cular e clônus; hiper-reflexia Postura de descerebra- ção * Os graus II, III e IV são considerados como EH franca ou aberta. (2) o paciente apresenta algum fator de descompensação (ainda que possa ser também espontânea). A Hemorragia Gas- trointestinal é o principal deles! Veja a seguir os demais. FATORES PRECIPITANTES NA ENCEFAlOPATIA hEPáTICA • Hemorragia gastrointestinal • Hipocalemia e Alcalose metabólica • Constipação • Diuréticos, Hipovolemia e Desidratação • Excesso de proteínas na dieta • Hipóxia • Infecção (urinária, peritonite, etc.) • Medicações (narcóticos, sedativos, etc.) • TIPS e Procedimentos cirúrgicos http://#scrolldown Cirurgia - Volume 1 29Medgrupo - CiClo 2: M.E.D Entendendo os fatores principais... • Hemorragia digestiva: o sangue liberado no tubo digestivo é digerido pelas bactérias colônicas. Do metabolismo da hemoglobi- na, forma-se mais amônia. Esta amônia é prontamente absorvida pelos enterócitos, desencadeando a EH. O acúmulo destas substâncias na constipação também pre- dispõe ao quadro. • Alcalose metabólica: o pH plasmático mais alcalino converte a forma ionizada NH4 + (amônio) na forma não ionizada NH3 (amô- nia). Esta última, por ser lipossolúvel, passa livremente na barreira hematoencefálica, aumentando a impregnação cerebral da neurotoxina. • Hipocalemia: aumenta a produção renal de NH3, por reduzir o pH intracelular das células tubulares proximais (saem íons K+ em troca de íons H+). A maior produção de NH3 e a precipitação de uma alcalose fazem da hipocalemia um fator desencadeante de encefalopatia hepática. • Os diuréticos de alça (furosemida) e os tiazídicos podem causar encefalopatia em cirróticos (se usados indiscriminadamente), por provocarem hipocalemia e alcalose me- tabólica... Questão bem antiga, mas que pode reaparecer... RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012 SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE SÃO PAULO – SP Todos os itens abaixo são considerados fato- res precipitantes na encefalopatia hepática, com EXCEÇÃO de: a) Constipação e desidratação. b) Hipocalemia e alcalose metabólica. c) Enterorragia e hiperuricemia. d) Cirurgia de derivação portossistêmica e hepatocarcinoma. e) Infecções e anemia. Dentre os fatores precipitantes da ence- falopatia hepática, a hiperuricemia não faz parte deste grupo, o que torna a assertiva C a resposta da questão. Analisando as opções, temos alguns bem clássicos que não podem deixar de ser lembrados, como as infecções, constipação, hemorragia digestiva (o metabo- lismo da hemoglobina pelas bactérias colônicas leva à formação de amônia), alcalose metabó- lica (pH alcalino converte o NH4+ em amônia) e hipocalemia (aumenta a produção renal de amônia, por reduzir o pH das células tubulares proximais). Além disso, os procedimentos (TIPS e derivações portossistêmicas cirúrgicas) e fatores como anemia, hepatocarcinoma e hi- poglicemia também podem ser listados. RESIDÊNCIA MÉDICA – 1999 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ – UFPR O flapping pode aparecer em que fases da encefalopatia hepática: a) I e II. b) III. c) IV. d) IV e V. e) V. Questão bem antiga, mas que pode reapa- recer... Resposta A. Saiba maiS: Sobre o Flapping ou Asterix Apesar de uma característica clássica da disfunção hepática grave, o flapping não é patognomônico desta condição. Na prática ele pode ocorrer em diversas condições como a encefalopatia urêmica, carbonarcose, DPOC, pré-eclâmpsia grave ou eclâmpsia e intoxica- ção pelo lítio. Embora não sejam obrigatórios, na prática, podemos acrescentar alguns testes psico- métricos específicos (ex.: Teste de Conexão Numérica – NCT; Teste Dígito e Símbolo – DST) e a eletroencefalografia para auxiliar no diagnóstico e caracterização da EH. Cabe lembrar, no entanto, que não se recomenda rastreamento de EH em assintomáticos. Testes laboratoriais geralmente revelam evi- dências de disfunção hepática (ex.: hipoalbu- minemia, INR alargado) e distúrbios eletrolíti- cos resultantes da hipertensão porta e do uso de diuréticos. A dosagem da amônia sérica é controversa, pois pode sofrer influência de outros fatores (ex.: sangramento digestivo, choque, doença renal, NPT etc.). Contudo, apesar de não ser necessária para o diag- nóstico, pode ser utilizada na monitorização do tratamento. Outro marcador em estudo é a 3-nitrotirosina que ainda precisa de valida- ção para uso clínico. Tratamento Os objetivos básicos do tratamento da ence- falopatia hepática são: (1) Identificação e remoção dos fatores pre- cipitantes de EH! São medidas para preven- ção de fatores precipitantes: • profilaxia para sangramento de varizes gastroesofágicas. • para peritonite bacteriana espontânea. • uso correto e não abusivo de diuréticos! • evitar constipação intestinal (proliferação bacteriana). (2) Dieta: Não existe evidência clínica com- provando benefício da restrição proteica nos pacientes com encefalopatia hepática... Pelo contrário, esta medida acabava piorando o grau de desnutrição dos pacientes, sendo http://#scrolldown http://#videomiolo=CIR204038 Cirurgia - Volume 1 30Medgrupo - CiClo 2: M.E.D hoje uma medida não recomendada. Algum benefício pode ser obtido com a substituição da fonte proteica animal pela vegetal, ou pela reposição de fonte nitrogenada com aminoá- cidos de cadeia ramificada (BCAA). (3) Lactulose: 30-120 ml/dia, divididos em quatro tomadas, até atingir 2-3 evacuações de fezes amolecidas. A lactulose (nome comercial Lactulona®) é metabolizada pelas bactérias colônicas em ácidos graxos de cadeia curta (ácido lático e ácido acético), reduzindo o pH do lúmen colônico para em torno de 5,0. Com o pH mais ácido, o NH3 (amônia) é convertido em NH4 + (amônio), este último não conse- gue ser absorvido pela mucosa intestinal. O resultado é a menor absorção de amônia e a melhora do quadro da EH... Outro mecanismo de ação da lactulose (um dissacarídeo não ab- sorvível) é o seu efeito laxativo que elimina o mais rapidamente possível as fontes proteicas do lúmen intestinal, além de reduzir a estase intestinal, evitando a proliferação bacteriana. Esta droga também possui um efeito direto no metabolismo bacteriano das proteínas, fenômeno que diminui a formação de NH3... Outras drogas: • Rifaximina: 550 mg, via oral, 12/12 horas. Menos efeitos adversos e, por isso, consi- derada a melhor opção para ser adicionada à lactulose. Se não houver disponibilidade da rifaximina, uma medida para reduzir as complicações das outras medicações seria usá-las de forma alternada. • Sulfato de Neomicina: 500 mg – 1 g, via oral, 8/8h. A Neomicina é administrada no intuito de reduzir a flora bacteriana colônica produtora de amônia. Mesmo sendo pouco absorvido, este aminoglicosídeo pode ser ototóxico e nefrotóxico, principalmente quan- do tomado por longo tempo. • Metronidazol: 250 mg, via oral, duas a qua- tro vezes por dia. O grande risco é a neuro- patia periférica. (4) Transplante Hepático: Após um episódio de encefalopatia hepática, a sobrevida mé- dia em um ano é de apenas 40%, devendo o paciente ser submetido a uma avaliação para entrar na fila de transplante hepático (única terapia definitiva para sua doença!!!). Outras drogas que podem ser in- cluídas e que agem aumentando a eliminação de amônia do orga- nismo são: • complexo ornitina-aspartato, que aumenta a transformação de amô- nia em ureia nos hepatócitos; e • benzoato de sódio, que aumenta a excreção renal de nitrogênio. Essas drogas, assim como o sul- fato de zinco (200 mg VO 8/8h) podem ser utilizadas nos casos refratários. Outras tentativas de re- lativo sucesso em alguns estudos também já foram feitas com me- latonina, naltrexona, antagonistas serotoninérgicos e suplementação com aminoácidos de cadeia rami- ficada (BCAA). 2) SíNDROME hEPATORRENAl Introdução A Síndrome Hepatorrenal (SHR) se caracteriza por uma insuficiência renal aguda que ocorre em 10% dos pacientes com cirrosehepática avançada. Caracteristicamente, o parênquima renal está intacto e a perda progressiva da sua função está associada à vasoconstrição renal exacerbada, que ocorre em resposta à vasodilatação esplâncnica desenvolvida nos quadros hepáticos. Mas de onde vem essa alteração hemodi- nâmica? O mecanismo da SHR até hoje não está mui- to bem definido, mas a vasodilatação arterial periférica parece ser um evento precoce. Sabemos que na disfunção hepática grave, agentes vasodilatadores, como o óxido ní- trico, são acumulados, levando a um quadro hemodinâmico caracterizado por hipotensão arterial e diminuição do volume circulante efetivo. De acordo com uma recente revisão da New England em 2009, a vasodilatação é provavelmente secundária à produção de citocinas pró-inflamatórias (TNF-alfa, IL-6) nos linfonodos mesentéricos e hipersecreção endotelial de vasodilatadores (óxido nítrico, monóxido de carbono e canabinoides endó- genos), após um processo de translocação bacteriana (algumas bactérias conseguiriam ultrapassar a mucosa). Como resultado, te- ríamos uma vasodilatação principalmente no leito esplâncnico, capaz de “roubar” sangue dos demais locais e desencadear um quadro de hipovolemia... Assim, da mesma forma que num quadro verdadeiro de hipovolemia, surge então va- soconstricção renal (mediado pelo sistema adrenérgico), só que, neste caso, de intensida- de desproporcional, ocorrendo uma inversão do fluxo sanguíneo corticomedular. Temos também um estímulo para retenção renal de sódio e água (mediado pelo sistema renina- -angiotensina-aldosterona), levando a uma urina pobre em sódio e concentrada. Existiria ainda um terceiro mecanismo relacionado à secreção de vasopressina (com mais retenção de água e vasoconstricção), mas só ativado em casos extremos. http://#scrolldown Cirurgia - Volume 1 31Medgrupo - CiClo 2: M.E.D ReSumindo... A SHR é uma IRA “pré-renal” que não res- ponde a volume! Na verdade, ela reflete um desequilíbrio entre os fatores vasodilatadores e vasoconstritores, resultando no aumento significativo da resistência vascular renal, diminuição da taxa de filtração glomerular e uma ávida retenção de sódio e água. Nestes casos, a reversão só é possível com a recu- peração da função hepática ou transplante. É um quadro bastante grave cuja mortalidade nos pacientes cirróticos chega a 80%!!! Classificação Diagnóstico Tratamento Toda vez que um hepatopata, geralmente com ascite volumosa, manifestar oligúria ou eleva- ção de escórias nitrogenadas, você deverá pensar na síndrome hepatorrenal! Como estes pacientes também estão sujeitos a outras formas de lesão renal, o primeiro passo é excluir outras causas de IRA, como hipovolemia (hemorragia digestiva, diarreia) e drogas nefro- tóxicas. Em segundo lugar, devem ser identifica- dos fatores precipitantes que diminuam o volume intravascular, como diureticoterapia vigorosa ou paracentese (IRA iatrogênica). Existem critérios diagnósticos para a SHR que foram definidos pelo International Ascites Club. Veja a seguir: CRITÉRIOS DIAgNóSTICOS PARA A SíNDROME hEPATORRENAl • Doença hepática aguda ou crônica com insuficiência hepática avançada e hiperten- são portal. • Creatinina sérica > 1,5 mg/dl (recentemente, a definição de aumento > 0,3 mg/dl em 48h ou > 50% em sete dias passou a vigorar, em consonância com as recomendações das diretrizes das Sociedades de Nefrologia). • Ausência da melhora da creatinina sérica após pelo menos dois dias de retirada de diuréticos e expansão volêmica com albu- mina (1 g/kg/dia até o limite de 100 g/dia). • Ausência de causa aparente, entre elas: choque, infecção bacteriana, uso recente ou atual de drogas nefrotóxicas e ausência de sinal ultrassonográfico sugestivo de obs- trução ou doença parenquimatosa renal. • Hematúria < 50 hemácias por campo de maior aumento e proteinúria < 500 mg/dia. Cabe ressaltar que apenas uma minoria dos pacientes cirróticos que apresentam azote- mia possui de fato a SHR. Inclusive, atual- mente existem marcadores que podem nos ajudar nesta distinção, como é o caso da lipocalina neutrofílica urinária associada à gelatinase, que se mostra com valores mais elevados na lesão renal aguda (325 ng/ml) que na SHR (105 ng/ml). Existem dois tipos de SHR: tipo 1 e tipo 2, diferenciados pela velocidade de progressão da disfunção renal. O tipo 1 é caracterizado pela rápida progres- são da insuficiência renal (< duas semanas), havendo aumento da creatinina sérica para o dobro da inicial (níveis superiores a 2,5 mg/dl), geralmente precipitada por um quadro de PBE. O prognóstico da SHR tipo 1 é extremamente ruim, com uma sobrevida média de cerca de duas semanas. No tipo 2, a creatinina sérica se situa entre 1,5 e 2 mg/dl, a evolução é mais insidiosa, es- pontânea, associada à ascite refratária e com prognóstico melhor. A melhor terapia é o transplante hepático, com boa recuperação da função renal! O tratamento clínico é bem menos efetivo e a prevenção deve ser o foco das intervenções, evitando-se o uso inapropriado de diuréticos e corrigindo-se precocemente os distúrbios hidroeletrolíticos, hemorragias e infecções. Pacientes com peritonite bacteriana espon- tânea podem se beneficiar da administração precoce de albumina (ver capítulo de Ascite) para prevenir o desenvolvimento da SHR. Das abordagens farmacológicas propostas nos últimos anos, o uso de vasoconstritores sistêmicos (terlipressina, noradrenalina, oc- treotide mais midrodrina) associados à albumi- na intravenosa (1 g/kg/dia – 100 g no máximo – por dois a três dias) tem se mostrado como a melhor proposta. Deve ser obtido um aumento de, pelo menos, 15 mmHg na pressão arterial média e a melhora clínica costuma ser obser- vada após a primeira semana de tratamento. As doses indicadas estão a seguir: • Terlipressina: 0,5 a 2 mg, a cada quatro ou seis horas. • Octreotide: 100-200 mcg, subcutâneo, três vezes por dia. • Midrodrina: 7,5-12,5 mg, oral, três vezes ao dia. Além dos vasoconstrictores, outras opções incluem a TIPS e a diálise extracorpórea com albumina, servindo apenas como uma “pon- te” até a realização do transplante hepático. Drogas de ação vasodilatadora renal como a dopamina em baixa dose, muito utilizadas no passado, não devem mais ser administradas. Vamos às questões: RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013 HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ALCIDES CARNEIRO – PB Uma das complicações da cirrose hepática avançada e insuficiência hepática é a Síndro- me Hepatorrenal (SHR). Assinale a alternati- http://#scrolldown Cirurgia - Volume 1 32Medgrupo - CiClo 2: M.E.D va correta em relação a esta complicação. a) A insuficiência renal nesta condição é irre- versível e o paciente deve ser encaminhado ao diagnóstico logo após o diagnóstico con- firmado. b) Vasodilatação renal abrupta é o principal evento fisiopatológico. c) A insuficiência renal aguda, neste caso, é decorrente de vasodilatação esplâncnica e shunting arteriovenoso. d) Pode ocorrer fibrose maciça dos rins em fases precoces, quando a doença é mais agressiva. e) É causa de Insuficiência Renal Aguda pós- -renal. A síndrome hepatorrenal é uma forma es- pecial de IRA “pré-renal” associada à perda avançada da função hepática (que pode ser aguda ou crônica). Trata-se de uma condi- ção potencialmente reversível, caracterizada pelo surgimento de severo vasoespasmo di- fuso das arteríolas pré-glomerulares (levan- do a uma queda na TFG). O vasoespasmo é rapidamente desfeito se a função hepática for recobrada (ex.: melhora espontânea de uma hepatite fulminante ou pós- transplante hepático no paciente com cirrose terminal). Se transplantarmos o rim do paciente com SHR num indivíduo sem doença hepática, o rim também volta a funcionar normalmen- te. Logo, opções A, B, D e E grosseiramente erradas. A letra C está correta porque não é apenas a vasoconstrição das arteríolas pré- -glomerulares que acontece na hemodinâmi- ca do paciente. Na realidade, o próprio DE-