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PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM Unidade 4 Desenvolvimento e aprendizagem CEO DAVID LIRA STEPHEN BARROS DIRETORA EDITORIAL ALESSANDRA FERREIRA GERENTE EDITORIAL LAURA KRISTINA FRANCO DOS SANTOS PROJETO GRÁFICO TIAGO DA ROCHA AUTORIA RAQUEL ELISABETH DUMASZAK 4 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 4 A U TO RI A Raquel Elisabeth Dumaszak Olá. Sou formada em Psicologia, nas modalidades bacharelado e licenciatura, e, desde então, atuo com Psicologia, Educação e Aprendizagem. Tenho interesse por assuntos que envolvem neurociências, comportamento e cognição, temáticas que segui na pós-graduação. Fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes e espero contribuir bastante com seu aprendizado teórico e profissional! 5PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 4 ÍC O N ES 6 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 4 Teorias do desenvolvimento ................................................... 9 O Behaviorismo ..................................................................................................10 Watson: o pai do Behaviorismo .....................................................................10 Aprendizagem por condicionamento clássico .............................. 13 A teoria de Skinner ...........................................................................................16 Aprendizagem por condicionamento operante ........................... 19 O Humanismo .......................................................................... 25 Carl Rogers: breve histórico ............................................................................26 A pessoa como centro ......................................................................................28 O ensino centrado no aluno ...........................................................................30 A psicanálise ........................................................................... 35 Freud e a Psicanálise: breve histórico ........................................................... 35 As fases de desenvolvimento na Teoria Psicanalítica ................................. 38 A fase oral ............................................................................................39 A fase anal ...........................................................................................40 A fase fálica .........................................................................................42 Período de latência e fase genital ...................................................44 A Psicanálise e a Educação .............................................................................44 Aprendizagem na adolescência ............................................ 48 Estresse e estratégias de resiliência .............................................................50 A ansiedade na sala de aula ...........................................................................53 SU M Á RI O 7PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 4 A PR ES EN TA ÇÃ O No campo do desenvolvimento infantil, existem várias teorias, que abordam desde as fases do crescimento da criança até a maneira como ela se comporta no mundo. Nesta unidade, trabalharemos as três teorias fundamentais do desenvolvimento, bem como suas implicações no processo de aprendizagem. A primeira, o Behaviorismo, tem como foco do desenvolvimento o comportamento da criança diante das situações vividas por ela. Assim, ele acontece mediante estímulos no ambiente e respostas emitidas pelo sujeito, com a aprendizagem também sendo concebida dessa forma. Na segunda, o Humanismo, o foco é no sujeito. O desenvolvimento e a aprendizagem acontecem por meio das experiências vividas pelo homem no mundo e de como essas vivências se constroem mediante as relações interpessoais que cada sujeito estabelece. A aprendizagem, nesse caso, é autodeterminada. Na terceira, a Psicanálise, o desenvolvimento se dá a partir da organização da energia em torno das zonas erógenas, constituindo, assim, fases de desenvolvimento. A aprendizagem acontece por meio da relação afetiva e da identificação entre professor e aluno. Ainda abordaremos alguns fatores que interferem de forma negativa na aprendizagem e atrapalham o desempenho escolar, principalmente de adolescentes: o estresse e a ansiedade. A aprendizagem é um processo importante em todas as fases da vida escolar e deve ser entendida de diferentes formas para que, no ambiente da sala de aula, seja mais bem aproveitada. 8 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 4 O BJ ET IV O S Seja muito bem-vindo à Unidade 4 – Desenvolvimento e aprendizagem. Nosso compromisso é auxiliar você na aprendizagem dessa etapa de estudos: 1. Definir os conceitos relacionados com as teorias do desenvolvimento humano. 2. Compreender o pensamento humanístico de Carl Rogers no que concerne à pessoa como o centro e ao ensino centrado no aluno. 3. Entender os princípios da psicanálise de Freud, identificando suas fases, fazendo um paralelo entre essas fases e a educação. 4. Lidar com o estresse e a ansiedade dos estudantes em fase de adolescência, aplicando as estratégias de resiliência. Então, preparado para uma viagem rumo ao conhecimento? Vamos lá! 9PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 4 Teorias do desenvolvimento OBJETIVO Neste capítulo, vamos entender os conceitos relacionados às teorias do desenvolvimento humano. E então, preparado? Vamos lá! As teorias do desenvolvimento nos ajudam a compreender as crianças e os adolescentes por meio da descrição e exploração das mudanças psicológicas, comportamentais e de personalidade que sofrem no decorrer do tempo. Elas buscam explicar de que maneiras esses pequenos sujeitos mudam e como tais mudanças afetam a sua aprendizagem. As teorias são importantes para delimitar algumas diferenças existentes na personalidade de crianças e adultos. O interesse pelo estudo do desenvolvimento da infância é recente na História da Humanidade. Até o século XIX, aproximadamente, as crianças eram tratadas como adultos, e a partir dos 3 a 4 anos de idade já participavam das mesmas atividades deles. No início do século XX, percebe-se uma preocupação mais ampla com as crianças e com a necessidade da educação formal. A disciplina era exercida ainda de forma violenta, com castigos tanto em casa como na escola. Essas atitudes somente começaram a mudar com o estudo sistemático e científico do desenvolvimento da criança. Ao longo desta unidade, vamos discorrer sobre a relevância desse saber, mostrando algumas das importantes teorias do desenvolvimento infantil e como elas estão relacionadas à aprendizagem. 10 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 4 O Behaviorismo A abordagem comportamental entende que a aprendizagem é regulada por fatores situacionais: a situação em que o comportamento ocorre (em que momento o aluno se comporta de determinada maneira), o próprio comportamento (que comportamento ele manifesta) e as suas consequências (o que acontece com o aluno quando se comporta de determinada maneira). O efeito da interação dessas contingências sobre o aluno depende de suas características internas somadas à sua história de vida e ao momento específico em que a aprendizagem está ocorrendo. A teoria comportamental trabalha com modificações de comportamento, utilizando técnicas próprias, e é especialmente aplicada quando é necessário clarificar e estabelecer limites, extinguir comportamentos inadequados ou desenvolver novos comportamentos. Geralmente, suas técnicas são utilizadas junto com outras abordagens complementares. O Behaviorismo salienta a importância do planejamento da ação pedagógica, fazendo com que a aprendizagem do aluno gere consequências naturalmente reforçadoras (positivas) ao aprender. Watson: o pai do Behaviorismo IvanPavlov foi um fisiologista russo que descobriu a Teoria do Reflexo Condicionado em suas pesquisas com cães. Seus estudos serviram de base para as teorias comportamentais de Watson e Skinner. As teorias comportamentais do desenvolvimento têm sua base no Positivismo, em que o conhecimento, para ser de 11PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 4 fato uma ciência, precisava passar por etapas sistemáticas de observação e confirmação empírica. Assim, em meados do século XIX, nos Estados Unidos, J. B. Watson foi o primeiro representante do ambientalismo. DEFINIÇÃO O Positivismo foi uma escola filosófica criada pelo francês Augusto Comte (1798-1857). Para os filósofos positivistas, a ciência deve ser construída por meio de um protocolo sistemático de observações empíricas e de fenômenos concretos passíveis de serem observados e confirmados por consenso público. Watson ficou famoso por uma declaração, em que dizia: Deem-me uma dúzia de crianças saudáveis, bem formadas, e o mundo que eu especificar para criá-las e garanto poder tomar qualquer uma ao acaso e treiná-la para ser o especialista que se escolher – médico, advogado, artista, gerente comercial e até mesmo mendigo ou ladrão, independentemente de seus talentos, inclinações, tendências habilidades, vocações e da raça de seus ancestrais. (WATSON [s. d.] apud GOULART, 2000) Figura 1 – J. B. Watson Fonte: Wikimedia Commons 12 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 4 Com esse discurso, Watson dava início aos estudos do comportamento e da influência do ambiente na aprendizagem. Ele lançava o Behaviorismo e transformava a análise da aprendizagem no estudo da modificação do comportamento como resultado da experiência. Alguns pontos do pensamento de Watson são fundamentais para entendê-los: • Rejeição à introspecção – Watson acreditava que a introspecção era uma fonte insatisfatória de dados e que a ciência deveria lidar apenas com fatos acessíveis a todos. • Maior crença no ambiente do que na hereditariedade – no pensamento de Watson, predominavam fatores objetivos em detrimento daquilo que era subjetivo; logo, priorizava-se aquilo que poderia ser aprendido por meio dos sentidos e da observação. • O efeito do ambiente na aprendizagem se dá por meio de condicionamento de reflexos – assim, não seria necessário recorrer a faculdades não observáveis para explicar comportamentos de homens e animais. Watson foi considerado o pai do Behaviorismo norte- americano. Ele era discípulo de Pavlov nos estudos de reflexo condicionado e inspirou outros pesquisadores como E. L. Thorndike, que desenvolveu a Lei do Efeito em sua pesquisa. DEFINIÇÃO Lei do Efeito: a repetição de um ato que causa um resultado desejável aumenta a probabilidade de ocorrência desse mesmo ato. 13PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 4 Pavlov, em suas pesquisas, chegou à seguinte fórmula: a associação de um estímulo não condicionado (comida) com a apresentação de um estímulo neutro (campainha) pode provocar uma resposta condicionada (salivação), ou seja, aprendida. Aprendizagem por condicionamento clássico Pavlov desenvolveu as suas pesquisas sobre o condicionamento do comportamento analisando as atitudes de cães. Pavlov foi o primeiro a desenvolver uma teoria sobre o condicionamento do comportamento, que, teoricamente, poderia ser aplicada a qualquer contexto. Primeiramente, consideramos que o estímulo reflexo ou incondicionado (S1) gera uma resposta incondicionada (R1). A salivação dos cães de Pavlov é, inicialmente, uma resposta incondicionada ao estímulo incondicionado - que é o alimento. Estímulo incondicionado: estímulo que elicia automaticamente uma resposta incondicionada, por exemplo, o alimento. Resposta incondicionada: resposta que é automaticamente eliciada pelo estímulo incondicionado, por exemplo, a salivação. Pavlov descobriu, então, que, associando um estímulo neutro (S2), como o som de uma sineta, antes do estímulo incondicionado, os cães já começavam a salivar. A isso, deu-se o nome de condicionamento. Um som é apresentado logo antes do EI (alimento). Os dois estímulos são associados, gerando uma resposta. 14 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 4 Depois do processo de condicionamento, os cães passaram a salivar assim que ouviam a sineta. O som passou a ser um estímulo condicionado (S2), e a salivação, uma resposta condicionada (R2). Estímulo condicionado: estímulo que passa a eliciar uma nova resposta após o condicionamento clássico, por exemplo, o som da sineta. Resposta condicionada: resposta eliciada pelo estímulo condicionado após o condicionamento clássico. Observe a Figura 2. Figura 2 – Esquema de aprendizagem por condicionamento clássico Em que: S1: estímulo incondicionado. R1: resposta incondicionada. S2: estímulo neutro/estímulo condicionado. R2: resposta condicionada. Fonte: Elaborada pela autoria (2021). 15PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 4 SAIBA MAIS Para saber mais sobre o assunto, assista ao vídeo “Condicionamento clássico explicado”, do canal Universo da Psicologia, clicando no QR-Code. VOCÊ SABIA? Watson ficou tão impressionado com os estudos de Pavlov sobre o condicionamento de comportamentos que resolveu testar a aplicabilidade do método em respostas emocionais humanas, como o medo. Para isso, ele e sua assistente de pesquisa, Rosalie Rayner, realizaram um estudo com um bebê de 11 meses, o pequeno Albert. Watson usou como estímulo neutro um coelho. Albert não tinha medo do animal, pois quando o viu antes do condicionamento, aproximou-se dele e o tocou. Watson, então, esgueirou-se por trás de Albert e bateu com um martelo em uma barra de ferro, produzindo um som muito forte. A resposta de Albert foi de evitação e fuga (chorar e tentar engatinhar para longe) a esse ruído. Watson e Rayner associaram então a visão do coelho com o ruído até que apenas a visão do bicho produzia a resposta de medo e evitação em Albert. Watson demonstrou, com esse experimento, que com é possível condicionar até mesmo respostas emocionais a partir do condicionamento clássico. https://www.youtube.com/watch?v=YMsqEmhaszE 16 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 4 Figura 3 – Watson e o experimento com o pequeno Albert Wikimedia Commons. A teoria de Skinner Figura 4 – B. F. Skinner Wikipedia Commons. B. F. Skinner nasceu em 1904, na Pennsylvania, ano em que Pavlov recebia o Prêmio Nobel de Medicina. Ele estudou a obra de Watson Behavior: an Introduction to Comparative Psycology e a publicação de Thorndike, Psicologia Educacional. Em 1931, Skinner concluiu o Doutorado em Psicologia em Harvard e começou a lecionar na Universidade de Minnesota, em 1936. 17PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 4 VOCÊ SABIA? Skinner escreveu diversas obras ao longo de sua carreira, entre elas o romance Walden II (1948), que retrata uma sociedade ideal, em que não há violência, privilégios, divisão de classes e propriedade privada. Skinner deixa claro, neste livro, sua crença de que a vida do homem pode ser boa mediante um planejamento que vise ao maior bem para o maior número de pessoas, aplicando os princípios da Teoria de Reforçamento. A proposta teórica de Skinner era fundamentada na análise científica do comportamento. Nesse pensamento, o homem não é autodeterminado nem autossuficiente, mas determinado pelo ambiente. Para Skinner, as versões iniciais do ambientalismo eram falhas, pois deixavam muito espaço para o indivíduo autônomo, e, para ele, o ambiente assume funções que antes eram atribuídas ao homem. Skinner ressalta que o homem não controla o ambiente; contudo, também não é uma vítima dele. O homem é controlado por um ambiente que ajuda a construir. Desse modo, os estímulos (Sa) que vêm do ambiente geram respostas (R) no homem, que, por sua vez, devolve uma resposta (Sc) ao ambiente. Figura 5 – Esquema do Condicionamento Operante Fonte: Elaborada pela autoria(2021). A teoria de Skinner gira em torno do controle do comportamento e dos estudos das consequências observáveis. Ele escolheu algumas áreas do comportamento humano para dar exemplos sobre o controle. 18 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 4 • Controle pessoal. • Educação. • Governo. Em todos esses aspectos, Skinner utiliza o sistema de reforço/punição para explicar o controle. Toda sociedade estabelece normas e regras de convivência; Skinner chama de reforço o recebimento de alguma gratificação ou admiração – aquilo que recebemos como incentivo para a manutenção de determinado comportamento. A punição, ao contrário, é a consequência que escapa ao desejável. É utilizada sob forma de censura ou acusação, com a intenção de extinguir um comportamento. Skinner preconiza que todo comportamento pode ser aprendido, inclusive o comportamento verbal, que ele define como o comportamento reforçado pela mediação com outras pessoas. A aquisição da linguagem, aqui, se dá por meio da imitação do comportamento verbal dos adultos, os quais vão reforçando suas respostas para que elas se tornem cada vez mais próximas do padrão de linguagem considerado adequado. Como consequência desse reforçamento seletivo da comunidade, a criança aprende a discriminar quais, entre as suas verbalizações, implicarão reforços e quais não. 19PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 4 REFLITA Vimos até aqui que, a partir da análise do comportamento, bastaria que manipulássemos as variáveis ambientais mediante reforço aos comportamentos esperados e punição para os comportamentos indesejáveis; seria possível obter qualquer resultado que quiséssemos aprender e ensinar o que melhor nos convém. Você acredita que uma aprendizagem nesses moldes tenha um resultado satisfatório? Acredita que seja duradouro? Aprendizagem por condicionamento operante No condicionamento clássico, a aprendizagem se dá pela associação de estímulos ambientais e suas respostas. No condicionamento operante, essa relação é complexificada, pois associa os comportamentos a suas consequências, mediante processo de reforço ou punição. É chamado de condicionamento operante porque opera no ambiente, produzindo uma consequência. A pesquisa sobre o comportamento e suas consequências teve início com Edward Lee Thorndike e sua caixa enigmática. Nos seus estudos com a caixa, Thorndike desenvolveu a Lei do Efeito: qualquer comportamento que resulte em consequência satisfatória tende a ser repetido, e qualquer comportamento que resulte em consequência insatisfatória tende a não ser repetido. 20 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 4 Figura 6 – E. Thorndike Fonte: Wikipedia Skinner, na década de 1930, redefiniu os termos de Thorndike. Para ele, “consequências satisfatórias e insatisfatórias” eram expressões subjetivas. Assim, no pensamento de Skinner, um reforçador é um estímulo que aumenta a probabilidade de ocorrência de uma resposta anterior; e um estímulo punitivo diminui a probabilidade de ocorrência dessa resposta. DEFINIÇÃO Reforçador: estímulo que aumenta a probabilidade de uma resposta anterior. Punitivo: estímulo que diminui a probabilidade de ocorrência de uma resposta anterior. Desse modo, o reforço é o processo pelo qual a probabilidade de uma resposta é aumentada mediante a apresentação de um estímulo reforçador depois da resposta, e a punição é o processo pelo qual a chance de uma resposta ocorrer é diminuída mediante a apresentação de um estímulo punitivo depois da resposta. 21PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 4 Exemplo: imagine que você está condicionando operantemente sua cachorra. Assim, se cada vez que ela se sentar, você der comida, a comida será o estímulo reforçador, e o processo de aumentar o comportamento de se sentar seria chamado de reforço. Igualmente, se você a condicionasse a parar de pular sempre que apertar um spray de água em seu rosto, o spray seria o estímulo punitivo, e o processo para reduzir o comportamento de pular seria chamado de punição. DEFINIÇÃO Reforço: processo pelo qual a chance de se obter uma resposta é aumentada mediante a apresentação de estímulo reforçador. Punição: processo pelo qual a chance de se obter uma resposta é diminuída mediante a apresentação de estímulo punitivo. Skinner não apenas redefiniu os termos da Lei de Efeito, mas também ampliou a pesquisa, subdividindo os termos em reforço positivo e negativo, e punição positiva e negativa. A palavra “positivo”, aqui, significa que um estímulo foi adicionado; e a palavra “negativo” quer dizer que um estímulo foi removido. Skinner também definiu dois tipos de estímulos: estímulo apetitivo (agradável) e estímulo aversivo (desagradável). 22 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 4 DEFINIÇÃO Estímulo apetitivo: é um estímulo agradável. Por exemplo: dinheiro, boas notas, comida. Estímulo aversivo: é um estímulo desagradável. Por exemplo: choque elétrico, notas baixas, doenças. Reforço positivo: reforço em que é apresentado um estímulo apetitivo. Reforço negativo: reforço em que é removido um estímulo aversivo. Punição positiva: punição em que é apresentado um estímulo aversivo. Punição negativa: punição em que é removido um estímulo apetitivo. No reforço positivo, é apresentado um estímulo apetitivo (agradável); já na punição positiva, é apresentado um estímulo aversivo (desagradável). Por exemplo, elogiar uma criança por fazer tarefas é um processo de reforço positivo, pois se acrescenta um estímulo agradável, o elogio. Bater em uma criança por não obedecer às regras é um exemplo de punição positiva, pois se acrescenta um estímulo desagradável, a violência. No reforço negativo, um estímulo aversivo é retirado; já na punição negativa, um estímulo apetitivo é retirado. Um exemplo de reforço negativo seria tomar um analgésico para dor de cabeça. A remoção da dor (estímulo aversivo) leva a uma maior chance de repetir o comportamento de tomar o analgésico. Um exemplo de punição negativa é proibir uma pessoa de usar o carro (estímulo apetitivo) depois que ela chegou em casa depois da hora combinada. Ser privada de dirigir levará à obediência futuramente. 23PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 4 ACESSE Assista ao vídeo “Skinner e o condicionamento operante” para saber mais sobre essa forma de condicionamento, clicando no QR-Code. Observe o Quadro 1: Quadro 1 – Reforço e punição negativos e positivos Positivo Negativo Reforço É apresentado um estímulo agradável. É removido um estímulo desagradável. Punição É apresentado um estímulo desagradável. É removido um estímulo agradável. Fonte: Elaborado pela autoria (2021). É importante ressaltar que o que serve de reforço ou punição é relativo a cada indivíduo, em contexto específico e em determinado momento. O que nos diz se um estímulo serviu como reforçador ou punitivo é se o comportamento-alvo continuar ocorrendo (reforço) ou parar (punição). https://www.youtube.com/watch?v=A9GWeVA5O1k 24 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 4 RESUMINDO E então, compreendeu tudo que estudamos neste capítulo? Vamos revisar um pouco do que vimos. Neste capítulo, você viu que o condicionamento clássico é a aquisição de uma nova resposta (resposta condicionada) a um estímulo previamente neutro (estímulo condicionado) que sinaliza, confiavelmente, a chegada de um estímulo incondicionado. Você também aprendeu que o condicionamento operante é a aprendizagem a partir da associação dos comportamentos as suas consequências. Desse modo, comportamentos que são reforçados, ou seja, que produzem consequências satisfatórias, serão fortalecidos. Por outro lado, comportamentos que são punidos, ou seja, que produzem consequências insatisfatórias, serão enfraquecidos. 25PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 4 O Humanismo OBJETIVO Neste capítulo, vamos compreender o pensamento humanístico de Carl Rogers no que diz respeitoà pessoa como o centro e ao ensino centrado no aluno. E então, preparado? Vamos lá! O Humanismo faz parte da chamada Terceira tendência na Psicologia americana. É denominado assim porque se diferencia radicalmente das duas forças maiores da Psicologia: o Behaviorismo e a Psicanálise. No Humanismo, a ideia de homem psicológico é rejeitada e é adotado o ponto de vista fenomenológico e existencialista para compreender o indivíduo e o mundo. O Existencialismo moderno se desenvolve em torno do conceito fenomenológico de intencionalidade, significando a característica do pensamento que independe dos fatos objetivos ou dos eventos externos. Para clarificar a influência do Existencialismo, é importante esclarecer alguns aspectos da Filosofia da época: • Todas procedem de uma vivência existencial, difícil de definir e variável de filósofo para filósofo. • O objetivo principal da investigação é o que chamamos de existência, e o sentido atribuído a esse vocábulo é variável, mas trata-se de uma maneira de ser particularmente humana. • A existência é concebida de maneira atualista. Ela nunca é, mas cria-se em liberdade; é um projeto, um devir. • Os existencialistas consideram o homem como mera subjetividade, que é entendida em um sentido criador: o indivíduo cria-se livremente a si mesmo, ele é a sua liberdade. 26 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 4 IMPORTANTE O Humanismo é também um dos pilares da Psicologia da terceira força. Com interesse pelos valores humanos, o reconhecimento da pessoa é a entidade de valor incalculável. O Humanismo contemporâneo assume um caráter comunitário, diferentemente do Humanismo histórico da Renascença. Carl Rogers foi o teórico que identificou essa terceira tendência na Psicologia e quem representou essa nova vertente teórica. Carl Rogers: breve histórico Figura 7 – Carl Rogers Fonte: Wikimedia Commons Carl Rogers foi um terapeuta-educador que não priorizou nenhuma das duas profissões – e isso não o prejudicou. Ele via em ambas a oportunidade de desenvolvimento do ser humano. Seu trabalho não consistia em analisar o campo da Educação nem o campo da Saúde Mental, mas na defesa de uma atitude profissional que facilitasse o desenvolvimento de todos. 27PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 4 Rogers nasceu em 1902, no estado de Illinois, em uma família religiosa. Cresceu isolado e limitado pelas crenças religiosas e pela rigidez moral da família. Em 1922, em uma viagem a Pequim para assistir a uma conferência da Federação Mundial de Estudantes Cristãos, fez uma excursão pela China Ocidental. Segundo relatos, a partir desta viagem, seus objetivos, valores, propósitos e sua filosofia passaram a ser os seus próprios, divergente de tudo que o havia sido transmitido até então pelos pais. Em 1924, iniciou seus estudos no Unios Theological Seminary e concluiu seu Doutorado em 1931 no Teacher College, da Universidade de Columbia. Em 1930, já publicava artigos em revistas especializadas. Seu primeiro trabalho foi em um centro de orientação infantil, em Rochester. Nos 12 anos que trabalhou nesse centro, Rogers desenvolveu seu modelo terapêutico, o qual denominou Terapia de relacionamento. VOCÊ SABIA? Rogers produziu vídeos sobre o seu método de trabalho para fins de pesquisa e de aperfeiçoamento da técnica. Alguns vídeos estão disponíveis da Internet. Assista a um deles, clicando no QR-Code. Em 1951, Rogers publicou o livro “Terapia centrada do cliente”, no qual ressalta o aspecto mais revolucionário de seu pensamento: o cliente é quem deve ter a força orientadora da relação terapêutica. Em 1969, lançou a obra “Liberdade para https://www.youtube.com/watch?v=bIxAQ79RmL4 28 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 4 aprender”, um marco para a Educação, pois continha as condições educacionais necessárias para Rogers. A explicação Rogeriana do processo de aprendizagem escolar também é entendida como uma terceira força nas teorias de aprendizagem, por se diferenciar das teorias associacionistas e cognitivas. Rogers entendia a aprendizagem escolar como um processo de autorrealização. A pessoa como centro Rogers desenvolveu uma teoria terapêutica que ficou conhecida como representante da terceira força em Psicologia. Essa abordagem Rogeriana sobre personalidade e conduta enfatiza o sujeito e suas relações interpessoais; com foco no desenvolvimento da personalidade do indivíduo, na construção e na organização pessoal da realidade; na capacidade de atuar como um ser integrado. A orientação interna do sujeito, o autoconceito e a visão autêntica de si mesmo são também conceitos que Rogers enfatizou em seus escritos. Figura 8 – Terapia Fonte: Freepik 29PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 4 Na perspectiva Rogeriana, o homem é único, tanto em sua vida interior, em suas percepções, quanto na sua avaliação do mundo. A pessoa é considerada um processo contínuo de descoberta de seu próprio ser. Não há modelo a ser seguido. O objetivo do homem é a autorrealização, o uso pleno de suas potencialidades e capacidades. Para Rogers, o homem não tem um fim determinado, mas tem liberdade para se apresentar como um projeto permanente e inacabado. O homem é arquiteto de si mesmo, como afirma o autor; é consciente de sua incompletude ao mesmo tempo em que sabe que é um ser em transformação e um agente transformador da realidade. DEFINIÇÃO A teoria Rogeriana enfatiza sujeito, porém não há uma dicotomização do homem e mundo. O homem se atualiza e atualiza o mundo. Para Rogers, o ser humano reconstrói em si o mundo exterior a partir de sua percepção, dos estímulos e das experiências, e lhes atribui significados próprios. O mundo é produzido pelo homem e tem papel fundamental na criação de condições de expressão para a pessoa, cuja tarefa é o desenvolvimento pleno do seu potencial inerente. O foco da teoria Rogeriana é o sujeito, mas uma das condições necessárias para o desenvolvimento individual é o ambiente. A visão de mundo e da realidade é desenvolvida e impregnada de conotações particulares à medida que o homem experiencia o mundo e os elementos experienciados vão adquirindo significados para ele. Segundo Rogers, o papel do subjetivo não deve ser minimizado. Dessa forma, rejeita qualquer forma de controle e manipulação das pessoas, mesmo que seja sob o pretexto de 30 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 4 torná-las mais felizes. A crença na fé e a confiança – termos de Rogers – na capacidade da pessoa em seu próprio crescimento constituem o pressuposto básico da teoria Rogeriana. O ensino centrado no aluno Vimos que, para Rogers, o sujeito deve estar no centro de tudo, e não poderia ser diferente quando pensamos no âmbito educacional. O sujeito tem papel fundamental na elaboração do conhecimento. Para o autor, o homem conhece ao experienciar realidades que possuam significados concretos para ele e, além disso, que proporcionem mudança e crescimento. Figura 9 – O sujeito na elaboração de seu conhecimento Fonte: Pixabay 31PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 4 NOTA A educação não deve ser apenas para a pessoa em situação escolar, mas para o homem. Tudo o que está a serviço do crescimento das pessoas, do interpessoal ou do intergrupal é educação. Nesse processo de aprendizagem, os motivos de aprender devem ser os do próprio aluno. A finalidade da educação é criar condições que facilitem a aprendizagem do aluno, liberando sua capacidade de autoaprendizagem, tornando possível o seu desenvolvimento intelectual e emocional. Seria a criação de condições nas quais os alunos pudessem ter iniciativa, responsabilidade, autodeterminação, discernimento, que soubessem aprender coisas que lhes serão úteis para a solução de seus problemas e que tais conhecimentos os capacitem a adaptar-se com flexibilidade nas novas situações. A escola, de acordo com esse posicionamento, respeita a criança como ela é, oferececondições para que possa desenvolver-se e possibilita e estimula a autonomia do aluno. Uma escola que faz com que alunos ativos fiquem sentados em carteiras, estudando assuntos em sua maior parte inúteis, é uma escola má. Será boa apenas para os que acreditam em escolas desse tipo, para os cidadãos não criadores que desejam crianças dóceis, não criadoras, prontas a se adaptarem a uma civilização cujo marco de sucesso é o dinheiro. Criadores aprendem o que desejam aprender para ter os instrumentos que o seu poder de inventar e o seu gênio exigem. Não sabemos quanta capacidade de criação é morta nas salas de aula, segundo Neill ([s. d.] apud MIZUKAMI, 1986). 32 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 4 Figura 10 – A educação não se dá apenas na sala de aula, mas em todo lugar que estimule a autonomia e possibilite novas experiências Fonte: Pixabay Neill era radical em relação ao modelo escolar. Mas, quanto à proposta Rogeriana, tentativas de aplicação foram feitas levando em consideração os limites da escola, contudo estabelecendo um ambiente de aprendizagem que favorecesse a liberdade para aprender. Rogers propunha um ensino não diretivo, ou seja, dirigir a pessoa à sua própria experiência, para que, assim, ela possa se estruturar e agir. A não diretividade implica um conjunto de técnicas que têm como base a confiança e o respeito pelo aluno. A partir disso, é possível afirmar que há uma teoria da aprendizagem na proposta Rogeriana para a Educação. Seus princípios básicos são: • Todo aluno tem potencialidade para aprender a tendência e realizar essa potencialidade. • Todo aluno possui capacidade organísmica de valoração. 33PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 4 • Todo aluno manifesta resistência à aprendizagem significativa. • Se for pequena a resistência do aluno, então ele realiza sua potencialidade para aprender. • O aluno, ao realizar sua potencialidade para aprender, torna-se aberto à experiência, reciprocamente. • A autoavaliação é função da capacidade organísmica de valoração. • A criatividade é função da autoavaliação. • A autoconfiança é função da autoavaliação. • A independência é função da autoavaliação. O professor, nesta abordagem, assume o papel de facilitador da aprendizagem, devendo ser autêntico (aberto a experiências) e congruente, isto é, integrado, o que implica, também, aceitar seu aluno e compreender os sentimentos que possui. O aluno, nesta abordagem, deve responsabilizar-se pelos objetivos referentes à aprendizagem que têm significado para ele e precisa ser compreendido como um ser que se autodesenvolve e cujo processo de aprendizagem deve-se facilitar. A aprendizagem, para Rogers, tem a qualidade de um envolvimento pessoal – a pessoa como um todo, tanto no sentido sensível quanto sob o aspecto cognitivo. Ela é autoiniciada. Mesmo quando o primeiro impulso ou o estímulo vem de fora, o senso de descoberta, do alcançar, do captar e do compreender vem de dentro. É penetrante. Suscita modificação no comportamento, nas atitudes, talvez mesmo na personalidade do educando. É avaliada pelo educando. Este sabe se está indo ao encontro de 34 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 4 suas necessidades, em direção ao que quer saber. O lócus da avaliação pode-se dizer, reside, afinal, no educando. Significar é a sua essência. Quando se verifica a aprendizagem, o elemento de significação desenvolve-se, para o educando, em sua experiência como um todo, de acordo com Rogers (1972 apud MIZUKAMI, 1986). RESUMINDO E então, compreendeu tudo que estudamos neste capítulo? Vamos revisar um pouco do que vimos. Neste capítulo, você viu que, na perspectiva Rogeriana, ser humano significa ser um organismo em processo de integração, independente, autônomo, que deve ser aceito e respeitado, uma pessoa cujos sentimentos e experiências ocupam um papel importante no desenvolvimento, que possui uma capacidade de autogerir-se, de se reajustar, capacidade que deve ser liberada não diretivamente; considerada no aqui e agora, que interage com outras pessoas, é compreendida e se aceita tal como é. Você também aprendeu que a proposta Rogeriana para a Educação é a de que restaure e estimule a curiosidade do aluno; encoraje-o a escolher seus próprios interesses; promova todos os tipos de recursos; permita que o aluno faça escolhas responsáveis e que assuma a responsabilidade das consequências de suas opções; dê ao aluno papel ativo na formação e na construção de um programa que ele faz parte; promova interação entre os meios reais; focalize, por meio da interação, os problemas reais; desenvolva a autodisciplina e crítica, para que os alunos sejam capazes de avaliar tanto as suas quanto as contribuições dos outros; e capacite o aluno a adaptar-se inteligente, flexível e criativamente a novas situações problemáticas do futuro. 35PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 4 A psicanálise OBJETIVO Neste capítulo, vamos entender os princípios da Psicanálise de Freud, identificar suas fases e fazer um paralelo entre elas e a Educação. E então, preparado? Vamos lá! Um dos marcos do século XX é a Psicanálise e a descoberta do inconsciente. Não se pode dissociar a imagem de Sigmund Freud da origem e consolidação dessa teoria, apesar da existência de grandes nomes entre os colaboradores iniciais. Diante disso, vamos a um estudo dos principais conceitos da Psicanálise e a sua relação com a Educação. Freud e a Psicanálise: breve histórico Figura 11 – Sigmund Freud Fonte: Wikimedia Commons 36 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 4 Sigmund Freud nasceu em Freiberg, em 1856. Ingressou seus estudos na Universidade de Viena, em 1873, concluindo a faculdade de Medicina em 1881. Dedicou-se à Psiquiatria para posteriormente concluir que os conhecimentos existentes não eram significativos. Nas décadas de 1880 e 1890, Freud foi reconhecido como um neurologista de renome. Iniciou os estudos com Charcot, em Paris, um psiquiatra conhecido por seus estudos e trabalhos com pessoas histéricas. Freud acompanhou seus seminários e a descoberta de que fenômenos histéricos e a hipnose constituíam um mesmo processo. Embora mais tarde as teorias de Charcot não tivessem sido úteis para a Psicanálise, os estudos sobre o processo sugestivo e os sintomas de doenças mentais constituíram a base para o pensamento de Freud. Figura 12 – Charcot no Hospital Salpêtrière, em Paris Fonte: Wikipedia 37PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 4 SAIBA MAIS O principal colaborador para as ideias iniciais de Freud é Joseph Breuer, médico que realizava na Áustria pesquisas sobre o tratamento da histeria com a hipnose. O trabalho de Breuer no caso Ana O. ficou conhecido como o primeiro caso tratado no modelo psicanalítico. O método de eliminar os sintomas com a retomada de recordações traumáticas passadas, chamado Método Catártico, ficou conhecido como a cura pela fala. Em linhas gerais, esses são os dados iniciais da teoria de Freud, que continuou a ser construída nos 50 anos que se seguiram. As obras centrais do modelo psicanalítico são: “Os estudos sobre a histeria”, escritos com Breuer em 1893-1895; “A interpretação dos sonhos” (1900); “Psicopatologia na vida cotidiana”, (1901); “Três ensaios para uma teoria sexual” (1905); “Os três ensaios clínicos” (1909-1911) – o pequeno Hans, o homem dos ratos e o caso Schreber –; “Os instintos e seus destinos” (1915); “Luto e melancolia” (1917); “Além do princípio do prazer” (1920); “O Ego e o Id” (1923); e “Inibição, sintoma e angústia” (1926). Figura 13 – “A interpretação dos sonhos” em sua primeira edição, em 1900 Fonte: Silva (2014). 38 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 4 As fases de desenvolvimento na Teoria Psicanalítica A Teoria Psicanalítica versa sobre a estruturação psíquica, a existência de processos inconscientes e sua influência na vida do sujeito. Na teoria, estão presentes conceitosque não cabem ser explicitados aqui, mas ressaltaremos aqueles que são necessários para compreender as fases de desenvolvimento infantil que Freud desenvolveu ao longo dos seus estudos. DEFINIÇÃO A libido é uma energia afetiva original, que mobiliza o organismo na direção de seus objetivos e progressivas organizações durante o desenvolvimento, cada uma suportada por uma organização biológica. Cada nova organização da libido é apoiada em uma zona erógena corporal e caracteriza uma fase de desenvolvimento. A libido é uma energia voltada para a obtenção de prazer. Nesse sentido, define-se a libido como uma energia sexual, em um sentido amplificado do termo, e cada fase de desenvolvimento como uma etapa psicossexual de desenvolvimento. IMPORTANTE A sexualidade não é vista por Freud em seu sentido usual, mas abarca a evolução de todas as ligações afetivas estabelecidas desde o nascimento até a sexualidade genital adulta, ou seja, a energia sexual mencionada é, para a Psicanálise, uma energia vital, que move as estruturas do sujeito. Ao organizar-se em torno das zonas erógenas definidas, a libido caracteriza as fases do desenvolvimento infantil: fase oral, fase anal e fase fálica. Há também um período intermediário, sem novas organizações, antes da fase final: o chamado período de latência. E, por fim, a fase genital, que é uma organização adulta. 39PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 4 DEFINIÇÃO Define-se a fase de desenvolvimento como a organização da libido em torno de uma zona erógena, dando uma fantasia básica e uma modalidade de relação de objeto. A fase oral Ao nascer, o bebê perde a relação simbiótica com a mãe e, com o corte do cordão, a separação é irreversível. A criança deve, assim, iniciar a sua adaptação ao meio. A luta entre os instintos de vida e de morte já é um combate franco nesse momento. Os processos já existentes na vida intrauterina, de incorporar os alimentos e excretar o que é prejudicial, serão agora deslocados para as relações com o mundo. A amamentação é um exemplo disso. Ao nascer, a estrutura sensorial mais desenvolvida é a boca, pela qual se buscará o equilíbrio homeostático aparentemente perdido. É pela boca que começará a provar e a conhecer o mundo, e fará sua primeira e mais importante descoberta afetiva: o seio. O seio é o primeiro objeto de ligação infantil com o mundo, é o depositário dos seus primeiros amores e ódios. Nesse momento, a libido está organizada em torno da zona erógena oral, e a modalidade de relação oral é a incorporação. A criança incorpora o leite e o seio, e isso é o equivalente a ter a mãe dentro de si. O vínculo inicial pode então ser estabelecido. Tudo o que a criança pega é levada à boca. É comendo que ela conhece o mundo e que as identificações são estabelecidas. 40 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 4 IMPORTANTE Freud percebe que, além da necessidade de alimentação, a criança sente prazer no ato de mamar. O prazer oral é uma modalidade que se estabelece paralelamente ao prazer de se alimentar, mas que se separa dele. Esse vínculo de prazer inicial será a base de futuras ligações afetivas. Devemos ter em mente que os modelos psicológicos são organizados sempre tendo como base alguma organização biológica. Assim, a modalidade incorporativa é a estrutura de base do primeiro ano de vida. No segundo e terceiro ano, o controle muscular e a organização psicomotora estão em maturação. É o período em que se inicia o andar, o falar e que se estabelece o controle dos esfíncteres. No início do segundo ano de vida, a libido passa da organização oral para a anal. Dois processos psicológicos básicos estão se organizando: o primeiro diz respeito às fantasias que a criança elabora sobre os primeiros produtos, realmente seus, que coloca no mundo; o segundo, ao modelo de relação a ser estabelecido com o mundo por meio de seus produtos. Primeiro a criança desenvolve o sentimento de ter coisas suas, que ela produz e que pode ofertá- las ou negá-las ao mundo. Percebemos isso no andar e no falar, de modo mais imediato. A fase anal O período é denominado fase anal porque a libido se organiza sobre a zona erógena anal. A fantasia básica será ligada aos primeiros produtos, principalmente ao valor simbólico das fezes. Duas modalidades de relação serão estabelecidas: a projeção e o controle. 41PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 4 Figura 14 – Estátua feminina com um bebê: fase anal Fonte: Pixabay As fezes assumem um lugar central na fantasia da criança. São objetos que vêm de dentro do próprio corpo, que são parte dessa criança, de certo modo. São objetos que geram prazer ao serem produzidos. Durante o treino de esfíncteres, as fezes são dadas como presentes ou recompensa aos pais, e, se o ambiente é hostil, são retidas. Quando o desenvolvimento é normal, cada elemento que a criança produz é sentido como bom e valorizado. O sentimento básico que fica estabelecido a conduzirá por todas as fases posteriores da vida ao sentir que ela é adequada e que o que ela produz é bom, portanto será sempre livre e estimulada a produzir. Esse sentimento de que o que produzimos é bom é necessário para todas as reações produtivas que estabelecemos com o mundo: trabalho, família, filhos, sociedade. 42 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 4 A fase fálica No terceiro ano de vida, a libido se organiza novamente; agora, a erotização passa a ser dirigida para os genitais. Há um interesse infantil por eles, a masturbação torna-se frequente e normal, e surge a preocupação com as diferenças entre meninos e meninas. Essa discriminação sexual não caracteriza a existência de dois genitais, o masculino e o feminino, mas apenas a presença ou ausência do pênis. Então, meninos são aqueles que têm pênis, e meninas, aquelas que não o possuem. A erotização dos genitais, que se inicia nesse período, traz a fantasia de meninos e meninas terem um pênis. Mas, à medida que o desenvolvimento se processa, a percepção correta da realidade confirmará para a criança que só o homem é portador de pênis, ficando a mulher na condição de castrada. Na visão Freudiana, essa organização do pensamento infantil fornecerá as bases diferenciais das organizações psicológicas masculinas e femininas. Nesta fase, a fantasia básica é fálica, e a tarefa desse momento é organizar os modelos de relação entre o homem e a mulher. IMPORTANTE Nunca devemos nos esquecer de que estamos falando, aqui, da organização da fantasia infantil. A procura por parceiros para satisfação sexual real é uma tarefa da vida adulta, é um trabalho da fase genital. A libido está organizada em torno da zona erógena genital, mas configurada pela fantasia fálica. Há um acúmulo de tensão, de energia que deve ser descarregada na sensação de prazer. E a descarga de energia, nesse caso, energia sexual, implica a busca por um objeto, um elemento do sexo oposto. 43PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 4 É, portanto, natural que, nesta etapa, o menino busque uma figura feminina que cumpra este papel. E a figura feminina que ele tem mais próxima é a mãe. A maioria dos vínculos de prazer da infância está ligado a ela; a mãe preenche esse papel na fantasia infantil. E é essa relação que servirá de suporte para que, quando adulto, possa buscar uma parceira sexual com quem estabelecerá vínculos afetivos e sexuais. O pai, neste momento, também tem papel fundamental na fantasia da criança e coloca-se como um interceptor entre o filho e a mãe. As fantasias infantis de se casar com a mãe, ou ser seu namorado, são vedadas pelo pai. O menino fica, então, com um sentimento ambivalente de ódio e amor em relação ao pai. Isso é o que Freud chamou de Complexo de Édipo. DEFINIÇÃO Complexo de Édipo: estabelece-se um triângulo amoroso – o pai, a mãe e o filho. O pai, maior, mais forte e dono da mãe, é sentido pelo filho como um adversário contra o qual não pode lutar. Nafantasia infantil, devido à erotização e ao amor pela mãe, o pai, como forma de punição, o castra. Configura-se, então, o temor pela castração, que obriga o menino a reprimir a atração sentida pela mãe. A repressão que ocorre no Édipo marca o fim da fase fálica infantil e estabelece o modelo de busca de um amor que será retomado na adolescência. 44 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 4 VOCÊ SABIA? “Édipo Rei” é uma peça do teatro grego antigo escrita por Sófocles, por volta de 427 a.C. Aristóteles, na sua “Poética”, considerou essa obra como o mais perfeito exemplo de tragédia grega. Centra-se na família de Édipo, descrevendo eventos com mais de 8.000 anos. A história dessa família é determinada por uma profecia que Édipo irá matar o seu pai e se casar com a sua mãe, e a ação dessa primeira peça é a descoberta da realização da profecia. Período de latência e fase genital Com a repressão que ocorre no Édipo, a energia libidinal se desloca para outros objetivos não sexuais. A isso, chamamos de realizações socialmente produtivas de sublimação. O período de latência caracteriza-se pela canalização das energias sexuais para o desenvolvimento social. Não há uma nova organização de zona erógena, nem de fantasias básicas, nem de novas modalidades de relações objetais. É um período intermediário entre a fase fálica e a fase genital adulta. A sexualidade permanece reprimida até sua eclosão na puberdade. Alcançar a fase genital constitui, para a Psicanálise, o pleno desenvolvimento do adulto normal. As adaptações biológicas e psicológicas foram realizadas, agora é a hora das realizações. É capaz de amar num sentido amplo, definindo um vínculo sexual significativo e duradouro. A Psicanálise e a Educação Em seu estudo autobiográfico, Freud afirma que não contribui com coisa alguma para a aplicação da Psicanálise à Educação, mas é compreensível que as investigações da vida sexual das crianças e de seu desenvolvimento psicológico tenham https://pt.wikipedia.org/wiki/Po%C3%A9tica 45PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 4 atraído à atenção dos educadores e mostrado o trabalho deles sob uma nova luz Apesar disso, na análise de sua obra, podemos identificar algumas vezes em que ele fez referência à Educação. Em “O mal-estar da civilização”, Freud apresenta a primeira tarefa da educação: a criança deve aprender a controlar seus instintos. É impossível conceder-lhe liberdade de pôr em prática todos os seus impulsos sem restrições. A educação e a terapêutica, para Freud, acham-se em relação atribuível uma com a outra. A educação procura garantir que algumas disposições da criança não causem qualquer prejuízo ao indivíduo ou à sociedade. A educação constitui uma profilaxia, que se destina a prevenir tanto a neurose quanto a perversão, e a psicoterapia procura desfazer o menos estável dos dois resultados e instituir uma espécie de pós-educação. O educador, contudo, trabalha com um material que é plástico, aberto a toda impressão, e tem de observar a obrigação de não moldar a jovem mente de acordo com suas próprias ideias pessoais, mas segundo as disposições e possibilidades do educando, de acordo com Freud ([s. d.] apud GOULART, 2015). Sabemos que, para a criança, o professor é um substituto paterno. O professor pode, assim, abrir ou bloquear o caminho para a aprendizagem. O papel da transferência na relação criança-professor é fundamental. Embora o professor não seja um terapeuta, é importante que conheça os fenômenos psíquicos que permeiam a sua relação com o aluno. A identificação com o professor é de maior importância para o desenvolvimento da personalidade e para a aprendizagem intelectual. Além disso, quanto às fantasias das crianças expressas no brincar e no falar, o professor pode, desde a pré-escola, ser orientado a lidar com elas. 46 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 4 VOCÊ SABIA? Se você ficou interessado em saber mais sobre as fases de desenvolvimento psicossexual e a relação da Psicanálise com a Educação, assista aos vídeos “Freud – Complexo de Édipo e fases psicossexuais”, neste QR-Code. “Freud – Transferência e Educação”, disponível no QR-Code. https://www.youtube.com/watch?v=uJcEEdD1g4c ttps://www.youtube.com/watch?v=iMiizJ1YkQA 47PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 4 RESUMINDO E então, compreendeu tudo que estudamos neste capítulo? Vamos revisar um pouco do que vimos. Neste capítulo, você viu que a libido é uma energia voltada para a obtenção de prazer. Nesse sentido, define-se a libido como uma energia sexual, em um sentido amplificado do termo, e cada fase de desenvolvimento como uma etapa psicossexual de desenvolvimento. Você também aprendeu que a sexualidade não é vista por Freud em seu sentido usual, mas abarca a evolução de todas as ligações afetivas estabelecidas desde o nascimento até a sexualidade genital adulta, ou seja, a energia sexual mencionada é, para a Psicanálise, uma energia vital, que move as estruturas do sujeito. Por fim, compreendeu que a libido caracteriza as fases do desenvolvimento infantil – fase oral, fase anal e fase fálica – e que há também um período intermediário, sem novas organizações, antes da fase final, o período de latência; e a fase genital, que é uma organização adulta. 48 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 4 Aprendizagem na adolescência OBJETIVO Neste capítulo, vamos aprender a lidar com o estresse e com a ansiedade dos adolescentes, aplicando as estratégias de resiliência. E então, preparado? Vamos lá! Falamos, até aqui, sobre os diferentes modos de compreender a aprendizagem. Seja na infância, seja na adolescência, os autores das teorias mencionadas não se diferenciam muito. Alguns aspectos, porém, devem ser ressaltados no período da adolescência, como fatores que podem alterar o rendimento escolar: o estresse e a ansiedade. No Behaviorismo, a aprendizagem é regulada por fatores situacionais (estímulo externo) que geram alguma consequência (resposta) para o indivíduo. No Humanismo, a aprendizagem se dá pela experiência do homem com o mundo, por meio da sua autodeterminação e autorregulação. Na Psicanálise, a aprendizagem é permeada pela afetividade e pela transferência na relação professor-aluno – a identificação é fundamental. O rendimento escolar pode ser definido como as modificações no indivíduo, que são proporcionadas pela aprendizagem, e a capacidade de recorrer a sua estrutura cognitiva para ultrapassar as dificuldades e solucionar problemas, medido por notas ou conceitos que apontam para o aproveitamento ou não aproveitamento da situação de ensino e aprendizagem. O desempenho escolar pode ser afetado por diversos fatores: externos, como a escola e a família; e internos, como autoconceito acadêmico, a motivação, a ansiedade e outros. 49PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 4 NOTA Estudos acadêmicos sobre desempenho escolar salientam que, quando professores demonstram apoio, carinho, aprovação e elogios, os alunos apresentam maior desempenho escolar. E quando a escola oferece apoio, mais estabilidade e flexibilidade, e os pais estão cientes das necessidades desenvolvimentais de seus filhos, apoiando suas decisões, um clima favorável é estabelecido. Depois da família, a escola tem sido percebida como um local ideal para a construção de novas maneiras de compreender a sociedade e de construir novos hábitos, incluindo, aqui, hábitos de saúde. De acordo com a concepção que a Organização Mundial de Saúde (OMS) tem de saúde, entendemos que fatores ligados à escola podem influenciar na saúde do indivíduo. A OMS define saúde como: Um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não consiste apenas na ausência de doença ou de enfermidade. [...] A extensão a todos os povos dos benefícios dos conhecimentos médicos, psicológicos e afins é essencial para atingir o mais elevado grau de saúde. (NEPP-DH, [s. d.], on-line) REFLITA A saúde psicológicaestá diretamente ligada à saúde física de um sujeito. Sendo assim, compreendemos que adolescentes que não conseguem construir, manter e modificar adequadamente as características dos relacionamentos interpessoais frequentemente evoluem para quadros depressivos e ansiosos. Levando em consideração que a aprendizagem se dá em um meio social – a escola –, por meio da relação entre professor-aluno e aluno-aluno, a qualidade dessa aprendizagem fica comprometida. 50 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 4 A adolescência é um período marcado por diversos conflitos relacionados à identidade, ao futuro, às transformações corporais; assim, as dificuldades nos relacionamentos interpessoais e o estresse podem ser causados tanto por modificações sociais que o sujeito vivencia nesta etapa quanto pelas suas mudanças biológicas que caracterizam a puberdade. Estresse e estratégias de resiliência Um evento estressor é caracterizado como um estímulo que ameaça o organismo, gerando consequências que podem ser físicas ou psicológicas. Podemos facilmente identificar como evento estressor a morte de alguém, um acidente, uma violência, uma doença física, entre outros. Contudo, episódios diários menores, eventos corriqueiros, como pequenas frustrações, demandas irritantes e coisas que acontecem no dia a dia, podem causar prejuízos e ser igualmente nocivas. EXPLICANDO MELHOR O estresse é uma condição patológica que se desenvolve quando o indivíduo conclui que as dificuldades eventuais são excessivas e que a sua capacidade de enfrentá-las é menor. Isso impossibilita que o indivíduo crie estratégias para lidar com esses eventos estressores. Essa diferença entre o evento estressor e a capacidade do indivíduo de superá-lo altera sua qualidade de vida, trazendo prejuízos, diminuindo a motivação para atividades diárias. Pode também provocar uma sensação de incompetência, inabilidade e, em consequência, baixa autoestima 51PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 4 O evento estressor pode ser definido como uma situação do dia a dia que causa irritação, frustração, diminuição de motivação ou nervosismo. Pode também ser uma situação maior como um ataque violento, a morte de alguém, a descoberta de uma doença. O estresse provoca mudanças na vida do indivíduo, tanto biológicas quanto psicológicas. A resposta corporal do indivíduo, em termos neurobiológicos, é uma ativação do sistema nervoso simpático e da hipófise, glândula responsável pelo gerenciamento das emoções e pela manutenção da homeostase. Já as respostas psicológicas são várias e também relativas. Cada indivíduo reage de uma forma diante de um evento estressor, mas, em geral, envolvem cansaço, confusão mental, dificuldade de concentração, prejuízo na memória, queda de produtividade, irritabilidade, agressividade, apatia, queda de autoestima, desgaste, isolamento, falta de energia, baixo rendimento escolar, comportamento hiperativo, hipersensibilidade emotiva, depressão e outras psicopatologias. Alguns autores sugerem a resiliência e o uso de estratégias de coping como forma de enfrentamento desses eventos estressores. A resiliência tem sido definida como a capacidade que o indivíduo possui de superar as adversidades ou a habilidade de lidar com algum episódio estressor e superá- lo. Já as estratégias de coping são os esforços empregados pelo indivíduo na tentativa de lidar com situações estressantes. 52 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 4 REFLITA Você já passou por alguma situação em que exercitou a resiliência? Quais foram as suas estratégias para superar uma situação de estresse? As estratégias de coping são recursos cognitivos, emocionais e comportamentais orientados para a redução do estresse em situações adversas. A estratégia a ser empregada em tal situação depende da avaliação que o indivíduo faz dela. Assim, em situações avaliadas como modificáveis, o indivíduo emprega estratégias que focalizam o problema, e em situações avaliadas como não modificáveis, as estratégias focalizam na emoção. Autores mencionam que as estratégias mais utilizadas por adolescentes são de distração que envolve relaxamento, por exemplo, a prática de exercícios, o abuso de substâncias, entre outras. Essas estratégias são para alívio temporário do estresse, mas não atuam na fonte do problema. Figura 15 – Alunos exercitando a meditação como estratégia contra o estresse Fonte: Freepik 53PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 4 A aprendizagem pode ser afetada positiva ou negativamente por diferentes fatores. Podemos perceber que os fatores estressores influenciam negativamente nesse processo, mas é possível, mesmo dentro da sala de aula, ensinar aos alunos adolescentes como lidar com esses eventos, criando estratégias de enfrentamento próprias de cada sujeito. Com o fortalecimento dessas estratégias e do senso de capacidade de superação dos problemas, a tendência é de que cada vez menos esses eventos interfiram no desempenho escolar dos alunos. A ansiedade na sala de aula Anteriormente, vimos como o estresse pode afetar os alunos em sala de aula. Agora, abordaremos outro fator que interfere no desempenho de alunos, em grande parte nos adolescentes: a ansiedade. Figura 16 – Ansiedade diante de situações escolares pode atrapalhar o desempenho em sala de aula Fonte: Pixabay 54 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 4 EXPLICANDO MELHOR A ansiedade pode ser caracterizada como uma sensação de perigo iminente, aliada a uma atitude de expectativa, que provoca uma perturbação mais ou menos profunda. Também pode se manifestar como um sentimento avassalador de medo de tudo que está relacionado ao contexto escolar ou a certas situações escolares, determinadas disciplinas, professores, situações de avaliação, colegas, entre outros. Diversos fatores podem contribuir para o desenvolvimento da ansiedade: • Fatores comuns relacionados ao ambiente familiar são: pais excessivamente críticos, constantes comparações, alto nível de exigência quanto à realização do filho. • Fatores mais comuns relacionados ao ambiente escolar são: criar expectativas não realistas com relação ao desempenho de seus alunos, promover um clima de pressão para realização das tarefas, comparação entre os alunos, sistema de avaliação rígido e ameaçador, clima de competição. O surgimento da ansiedade também está associado à capacidade de a criança ou do adolescente de interpretar seu desempenho escolar, em relação a sua turma e ao seu próprio desempenho anterior. 55PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 4 REFLITA É possível diferenciar a ansiedade em duas formas distintas: a preocupação e a emotividade. A preocupação é um componente cognitivo e diz respeito às expectativas negativas sobre si mesmo, por exemplo, a situação de prova e suas possíveis consequências. Já a emotividade está relacionada a sentimentos de desprazer, nervosismo e tensão, com presença (ou não) de sintomas físicos, como tremores, suores, taquicardia e outros. Apesar de serem distintas, a preocupação e a emotividade estão correlacionadas. O desempenho escolar é afetado negativamente em grande parte pela preocupação, porque os sintomas da emotividade tendem a diminuir quando o teste ou exame começa; à medida que as preocupações permanecem, podem aumentar e tendem a permanecer mesmo depois da avaliação. EXPLICANDO MELHOR A ansiedade diante de avaliações tem sido uma preocupação dos educadores, considerando que ela tende a aumentar com a avançar da escolaridade, gerando um padrão motivacional disfuncional que prejudica o desempenho acadêmico dos alunos. Visto que a situação de avaliação escolar é um mal necessário, cabe aos professores, à escola e à família auxiliarem o aluno a lidar de forma mais funcional com situações de ansiedade. Teóricos da Psicologia cognitiva acreditam que alunos ansiosos têm hábitos de estudos deficientes, apresentam dificuldade de organizaro material e não processam a informação adequadamente; e isso retroalimenta o ciclo da ansiedade. Como resposta, hábitos efetivos de estudos capacitam os alunos a organizar tarefas de modo que exijam menos capacidade 56 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 4 cognitiva do que seria necessário, alimentando, assim, bons hábitos de estudos, gerando motivação e diminuindo a ansiedade. Existe a hipótese de que a ansiedade tende a aumentar as demandas feitas na capacidade cognitiva enquanto hábitos apropriados de estudos e estratégias efetivas para realização de provas capacitam o aluno altamente ansioso a lidar mais apropriadamente com as demandas da tarefa. A psicologia cognitiva tem demonstrado que as estratégias de aprendizagem podem auxiliar no controle de variáveis como a ansiedade, a motivação para a aprendizagem, as atribuições de causalidade para o sucesso e fracasso escolar, entre outras, e, dessa forma, contribuir para a manutenção de um estado interno satisfatório que favoreça a aprendizagem. Assim, podemos dizer que nem todos os problemas podem ser resolvidos na escola, mas, em algumas questões relacionadas à ansiedade, principalmente à ansiedade nos momentos de avaliação, o professor pode e deve auxiliar seu aluno a lidar de uma forma mais funcional com esse momento. Há alguns procedimentos que o educador pode adotar em sala de aula, a fim de prevenir o desenvolvimento da ansiedade, como: esclarecer a finalidade da avaliação, atenuar a pressão do tempo na realização de avaliações, informar aos alunos quanto à forma de avaliação, fornecer instruções sobre o tempo, minimizar o uso de comparações em sala de aula, evitar que alunos ansiosos tenham que se expor em sala de aula, avaliar de várias maneiras diferentes, não só por testes e provas, ressaltar os pontos fortes de seus alunos e auxiliar na superação das dificuldades. São práticas importantes e de fácil uso para o professor e que contribuem para a prevenção da ansiedade em sala de aula. 57PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 4 Figura 17 – Professora e alunos trabalhando juntos Fonte: Freepik SAIBA MAIS Caso queira se aprofundar no tema, leia o artigo “Infância, mídias e aprendizagem: autodidaxia e colaboração”, clicando no QR-Code. https://www.scielo.br/j/es/a/TnqxLwrqkSJc6CmgLf8dMgq/?lang=pt 58 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 4 RESUMINDO E então, compreendeu tudo que estudamos neste capítulo? Vamos revisar um pouco do que vimos. Neste capítulo, você viu que o desempenho escolar pode ser afetado por diversos fatores: externos, como a escola e a família; e internos, como autoconceito acadêmico, a motivação, a ansiedade e outros. Você também entendeu que o desempenho escolar é afetado negativamente em grande parte pela preocupação, porque os sintomas da emotividade tendem a diminuir quando o teste ou exame começa; à medida que as preocupações permanecem, podem aumentar e tendem a permanecer mesmo depois da avaliação. Por fim, você aprendeu estratégias que educador pode adotar em sala de aula, a fim de prevenir o desenvolvimento da ansiedade, como: esclarecer a finalidade da avaliação, atenuar a pressão do tempo na realização de avaliações, informar aos alunos quanto à forma de avaliação, o fornecimento de instruções sobre o tempo etc. 59PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM U ni da de 4 BELLONI, M. L.; GOMES, N. G. Infância, mídias e aprendizagem: autodidaxia e colaboração. Revista Educação e Sociedade, v. 29, n. 104, p. 717-746, 2008. ÉDIPO REI. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikipedia Foundation, 2022. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/w/ index.php?title=%C3%89dipo_Rei&oldid=62973904. 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RE FE RÊ N CI A S Teorias do desenvolvimento O Behaviorismo Watson: o pai do Behaviorismo Aprendizagem por condicionamento clássico A teoria de Skinner Aprendizagem por condicionamento operante O Humanismo Carl Rogers: breve histórico A pessoa como centro O ensino centrado no aluno A psicanálise Freud e a Psicanálise: breve histórico As fases de desenvolvimento na Teoria Psicanalítica A fase oral A fase anal A fase fálica Período de latência e fase genital A Psicanálise e a Educação Aprendizagem na adolescência Estresse e estratégias de resiliência A ansiedade na sala de aula