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Patologia Geral - Hiperemia e Congestão Conceito Em geral, hiperemia e congestão são descritas como o aumento da quantidade de sangue no interior de um vaso. O que diferencia a hiperemia da congestão é que a hiperemia é provocada por um processo ativo, onde existe maior chegada de sangue no vaso, já a congestão é um acúmulo passivo de sangue decorrente da diminuição da saída de sangue de determinado vaso. Por esse motivo a congestão pode ser chamada de hiperemia passiva também. Caso não saiba a história do paciente é impossível diferenciar uma hiperemia de uma congestão na microscopia, exceto se houver sinais de inflamação ao redor do acúmulo de sangue, o que indica uma hiperemia sempre. Hiperemia Hiperemia, então, é o aumento do influxo de sangue em determinado órgão ou tecido graças a uma dilatação arteriolar, que pode ser patológica ou fisiológica. Na maioria dos casos a hiperemia é reacional e fisiológica, como nas inflamações. Etiologias/ causas ●Quanto as causas fisiológicas, pode-se mencionar a digestão, prática de exercícios físicos, reflexos de ira e vergonha. ●Quanto as causas patológicas, existe a paralisia dos nervos vasoconstritores que causa hiperemia neuroparalítica, estímulos excessivos de nervos vasodilatadores causando hiperemia neurotônica (acontece na febre por exemplo) e ainda agentes físicos ou químicos liberados em inflamações, como a histamina presente nos grânulos dos mastócitos, serotonina e prostaglandinas. Mesmo sendo classificada como patológica, a hiperemia provocada por um processo inflamatório é boa para o organismo, uma vez que indica que estão acontecendo eventos para conter um agente agressor ali. Junto da vasodilatação acontece o aumento da permeabilidade vascular para permitir a saída de leucócitos dos vasos para dentro dos tecidos agredidos. Perceba então que os eventos vasculares da inflamação são indispensáveis, até mesmo para os eventos celulares poderem acontecer. Morfologia Macroscopicamente, a hiperemia deixa os tecidos avermelhados (rubor), enquanto na microscopia se observam vasos arteriais dilatados e cheios de hemácias (preenchem toda a luz do vaso). A seguir, uma macroscopia e uma microscopia de uma retocolite ulcerativa, condição em que se tem hiperemia por processo inflamatório. Consequências Hiperemias geralmente são inexpressivas, mas podem gerar edemas discretos, uma vez que sempre associado à vasodilatação se tem um aumento da permeabilidade vascular. Podem gerar também aumento do metabolismo e defesa local diante de infecções. Congestão Congestão é o retardo do efluxo de sangue de determinado órgão ou tecido, sendo fruto da redução da drenagem venosa. O problema da congestão é que o sangue acumulado é pobre em oxigênio, logo, uma hipóxia tecidual será desencadeada. Congestões são sempre patológicas, podendo ser locais ou sistêmicas. Etiologias/ causas As causas locais são oclusão da luz venosa por trombo, torção de alça intestinal, ovário ou testículo, encarceramento de hérnia e compressão venosa por tumor. A causa sistêmica é a insuficiência cardíaca congestiva. ●Na doença de chagas há uma destruição das células do plexo mioentérico pela inflamação local, com isso o peristaltismo será totalmente alterado, o que pode levar à torção de alça intestinal, que é chamada de volvo ou vólvulo. Nessa situação, o sangue que está na região de torção não pode ser drenado (ao mesmo tempo que o sangue oxigenado não consegue chegar lá), o que vai provocar uma hipóxia local que pode evoluir para necrose. ●O mesmo fenômeno acontece no encarceramento de hérnia. A hérnia é a projeção de uma alça intestinal para o interior da parede abdominal. Como existe uma camada muscular na parede, a alça intestinal será comprimida, com isso o sangue que está ali não pode ser drenado e nem o sangue oxigenado pode chegar. Acontecerá uma hipóxia que pode evoluir para necrose. ●Alguns pacientes apresentam tumores grandes o suficiente para comprimir estruturas adjacentes, inclusive vasos sanguíneos. Com isso haverá congestão que, novamente, pode evoluir para hipóxia e necrose. Insuficiência cardíaca congestiva esquerda Nessa situação a força de contração do ventrículo esquerdo está diminuída, logo, ele não tem força para impulsionar o sangue para a circulação sistêmica via aorta. Com isso, o sangue começa a congestionar no VE, átrio esquerdo, veias pulmonares e pulmões. Essa situação vai provocar uma congestão pulmonar que, por aumento da pressão hidrostática, leva ao extravasamento de transudato para o interior dos alvéolos, gerando um quadro de edema pulmonar (há tosse com expectoração espumosa e rósea). Quando a congestão é aguda geralmente causa edema pulmonar, quando é crônica provoca um quadro de hemossiderose, porque com a cronicidade haverá o extravasamento não só de líquido, mas de hemácias também. Como hemácias fora dos vasos são consideradas antígenos, o organismo envia macrófagos para fagocitá-las. Com isso haverá um acúmulo patológico nesses macrófagos caracterizando um quadro de hemossiderose. Insuficiência cardíaca congestiva direita Com a força de contração do ventrículo direito diminuída, o sangue começa a congestionar no VD, átrio direito, veias cavas e veias sistêmicas. Com congestão nas veias jugulares haverá um quadro de estase jugular (pode evoluir para AVE isquêmico), congestão em veias de membros provoca edema dos mesmos, congestão da veia esplênica causa esplenomegalia, congestão nas veias do fígado leva à hepatomegalia e fígado em noz moscada. Pode haver edema generalizado (anasarca), derrame pleural e derrame peritoneal. Haverá hiperemia passiva em todo o organismo. Morfologia Na congestão aguda macroscopicamente os tecidos são cianóticos, vermelho-azulados (pela falta de O2, o sangue fica rico em carboxi-hemoglobina, cuja cor é azulada), já microscopicamente se observa vasos venosos cheios de hemácias e expansão do interstício. Na congestão crônica acontece o processo já descrito de acúmulo de hemossiderina, que dá o aspecto macroscópico de tecidos com cor ferruginosa/ castanha, enquanto microscopicamente se identifica macrófagos com hemossiderina em seu interior. Consequências A congestão leva a alterações do metabolismo celular por impedir a chegada de sangue arterial, leva à esteatose, atrofia por falta de sangue rico em nutrientes e O2, edema por aumento da pressão hidrostática e substituição do parênquima (metaplasia). Edema Composição do Sangue O sangue é dividido em células e plasma. Dentre as células é possível citar os leucócitos, eritrócitos e plaquetas. O plasma é formado por cristaloides como sódio, cálcio, fosfato e magnésio, e por colóides, como albuminas, globulinas e fibrinogênio. Os colóides são importantes porque determinam a pressão coloidosmótica do plasma, responsável por promover reabsorção de líquidos pelos vasos. Conceito Edema é o acúmulo de uma quantidade anormal de líquido nas células, espaços intersticiais, tecidos ou cavidades corporais. Quando acontece no interior das células é um edema intracelular que leva à degeneração hidrópica, quando acontece nos espaços intercelulares é uma espongiose, quando acontece nos tecidos é um edema propriamente dito. Em geral, um edema vai tornar o órgão volumoso, mais mole, brilhante e com a presença do sinal de Cacifo/ Godet. Diante de um edema, deve-se identificar o local onde ele está acontecendo, em seguida investigar a causa para tratar ela e, consequentemente, corrigir o edema. Balanço Hídrico Dentro do capilar existe a pressão hidrostática (pressão feita pelo sangue contra a parede do vaso) que favorece a saída de líquidos para os tecidos, que é de cerca de 30 mmHg no início. No setor venoso essa pressão chega a 10 mmHg. A pressão coloidosmótica é constante, é a pressão exercida pelas proteínas do plasma que são a favor da reabsorção de líquidos. Essa pressão é de cerca de 28 mmHg. Com isso, entende-se que no setor arterialdos capilares ocorre a saída de líquido, o qual banha os tecidos e depois, no setor venoso, é reabsorvido. Auxiliando o setor venoso existem os vasos linfáticos, que drenam (por diferença de pressão) a quantidade de líquido remanescente no interstício evitando o surgimento de edema. Edema por aumento da p. hidrostática No aumento da pressão hidrostática no setor arterial há um extravasamento muito maior de líquidos para o interstício, com isso o setor venoso e os linfáticos não são suficientes para drenar e surge o edema. Além disso, o aumento da pressão hidrostática no setor venoso dificulta a reabsorção de líquidos, porque a diferença de pressão será menor. Causas As causas de aumento de pressão hidrostática são dilatações arteriolares e comprometimentos do retorno venoso, como na insuficiência cardíaca congestiva, hipertensão portal (pode ser causada por esteatose hepática), varizes (por dilatação dos vasos se dificulta o retorno venoso), obstrução ou compressão venosa, como em trombos, tumores e êmbolos. Em todas essas situações, o sangue fica congestionado nos vasos exercendo uma pressão muito maior contra a parede deles, o que aumenta a pressão hidrostática e leva ao edema. Parasitas que se alojam no fígado podem provocar inflamação granulomatosa no interstício entre hepatócitos. Esse granuloma comprime o espaço portal e leva ao edema. Macroscopicamente, além do edema, se observam vasos congestionados, varizes, circulação colateral e estase principalmente. Há hiperemia passiva também, sendo que microscopicamente se observa um transudato típico nesses edemas Na gravidez são comuns edemas por compressão venosa no abdome Edema por redução da p. coloidosmótica Com a redução da pressão coloidosmótica (também chamada de pressão oncótica) todo o líquido extravasado para o interstício não será reabsorvido adequadamente pelo setor venoso. Como os linfáticos não são tão eficientes diante de grandes quantidades de líquidos, o edema acontecerá. É comum esse tipo de edema ser generalizado, podendo ser evidenciado nas pálpebras por exemplo. A redução da pressão coloidosmótica é causada por desnutrição, especialmente a proteica, que leva tempo para causar edema, mas quando causa ele é generalizado e é chamado de edema da fome. Além disso, é causada por cirrose hepática porque o fígado não metaboliza as proteínas ingeridas na alimentação para ofertar elas ao sangue, glomerulopatias e gastroenteropatias perdedoras de proteínas. Edema por obstrução linfática O setor venoso não é capaz de reabsorver todo o líquido extravasado para o interstício. Isso, associado com uma obstrução linfática, leva à formação de um linfedema. As principais causas de obstrução linfática são parasitoses (como na elefantíase), neoplasias principalmente malignas (porque as células podem se desprender do tumor e fazer metástase nas vias linfáticas), algumas infecções/ inflamações, radioterapias (causa fibrose dos linfáticos diminuindo sua efetividade na drenagem) e cirurgias, como a mastectomia. Esse edema é mais endurecido porque cabe ao sistema linfático filtrar algumas proteínas do líquido extracelular. Edema por aumento da permeabilidade No aumento da permeabilidade capilar, tanto no setor arterial quanto no venoso haverá aumento do extravasamento de líquidos. Claramente o próprio setor venoso e os linfáticos não serão suficientes para reabsorver todo o líquido, com isso, surge o edema. A principal causa desse edema é a inflamação, seja ela crônica ou aguda, mas pode ser causado também por queimaduras, traumatismos, alergias ou picadas de insetos. Macroscopicamente esse edema vem associado dos sinais flogísticos da inflamação, que são o calor, rubor, dor e perda de função. O exsudato formado nas inflamações agudas é rico em proteínas e células, nas outras situações descritas não. Edema por retenção de água e sódio Causado pela ingestão excessiva de sal ou aumento da reabsorção tubular de sódio, fruto da redução da filtração glomerular, ativação do sistema renina angiotensina, aumento da aldosterona ou aumento do ADH. Tipos de Edema Quanto a causa Existem dois grandes tipos de edemas, o edema inflamatório que é decorrente de aumento na permeabilidade vascular, e o edema não-inflamatório provocado por alterações em forças hemodinâmicas. O edema inflamatório é formado por líquido rico em proteínas e células, é chamado de exsudato. O edema não- inflamatório, geralmente derivado de desequilíbrio nas pressões capilares, é formado por líquido rico em eletrólitos, pobre em proteínas e células chamado de transudato. Quanto a localização ●O edema localizado pode ser um edema alérgico ou edema inflamatório causados por aumento da permeabilidade capilar, edema linfático causado por obstrução ou remoção dos linfáticos, edema pulmonar fruto de aumento da pressão hidrostática principalmente. Hidrotórax é um edema na cavidade torácica, hidropericárdio é um edema na cavidade pericárdica, hidroperitônio ou ascite é o edema na cavidade abdominal, hidrocele é o edema na bolsa escrotal, hidrocefalia é o edema encefálico e anasarca é o edema generalizado. ●Quanto aos edemas generalizados (ou sistêmicos), pode-se mencionar o edema renal causado por glomerulonefrite aguda e necrose tubular, onde haverá dano renal, retenção de sódio e redução da filtração glomerular. O edema renal ainda pode ser fruto de uma síndrome nefrótica, onde se reduz a albumina plasmática, o que reduz a pressão coloidosmótica. A primeira e maior manifestação desse edema acontece na face. O edema cardíaco é aquele que acontece na insuficiência cardíaca congestiva, onde há a redução da capacidade de bombeamento do sangue pelo coração, o que aumenta a pressão hidrostática e ainda está associado à retenção de sódio e água, tanto por redução da filtração glomerular quanto por aumento da secreção de aldosterona. O edema de gravidez é causado tanto pela compressão de vasos abdominais dificultando a drenagem quanto pela retenção de sódio. O edema da fome é provocado pela redução da pressão oncótica do plasma graças a redução das proteínas.