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CIRURGIA GUSTAVO URZÊDA V I TÓR IA CIRURGIA 10° 1 Gustavo Urzêda Vitória CIRURGIA ASSUNTOS EM CIRURGIA - ATLS: Trauma: • É a principal causa de morte de 1-44 anos → atinge idade produtiva. • Melhor maneira de evitar morbimortalidade e gastos é a prevenção. • Lesão caracterizada por alterações estruturais provocando desequilíbrio fisiológico, causado pela troca de energias. • Politrauma: acometimento de 2 ou mais sistemas. • Distribuição trimodal de óbitos: pré, hospitalar e semanas depois. Avaliação inicial: 1. Preparar recursos e equipe → pré-hospitalar. 2. Triagem. 3. Exame primário (ABCDE). 4. Reanimação. 5. Exame secundário. 6. Reavaliação. 7. Cuidados definitivos. A (via aérea): • Controle manual da coluna cervical. • Laringe para cima: via aérea superior. • Laringe para baixo: via aérea inferior. • Hipoxia, hemorragia e hipotermia → riscos e complicações. • Objetivos: o Identificar obstruções. o Condutas de liberação da via aérea. o Identificação da necessidade de via aérea definitiva (cirúrgica ou não). • Miniavaliação do estado neurológico → rebaixamento precisa de melhor conduta. o Perguntar nome e o aconteceu. • Coluna cervical: 2 Gustavo Urzêda Vitória o Todo politraumatizado até que se prove o contrário tem trauma cervical, especialmente se rebaixado ou com lesão acima das clavículas. o Colar cervical → tira quando Glasgow 15 ou sem dor a palpação da cervical. o RX de cervical. o Observar se dor, lesão visível, perda de mobilidade. o Correção manual → pergunta primeiro para avaliar via aérea pérvia: ▪ Correção da queda da língua. ▪ Levantamento do queixo (chin lift). ▪ Projeção da mandíbula (jaw thrust). ▪ Visualização da cavidade oral (próteses, alimentos, corpos estranhos). ▪ Aspiração: se necessário → de preferência por sonda rígida. ▪ Manutenção da via aérea se inconsciente ou rebaixado: cânula de Guedel. ▪ Oxigênio suplementar. ▪ Avaliar necessidade de via aérea definitva. o Ver: ▪ Agitação (hipóxia), obnubilação (hipercapnia). ▪ Retrações, deformidade, movimentos respiratórios, cianose (tardio). o Ouvir: ▪ Fala, rouquidão, estridor. o Sentir: ▪ Creptações, desvio de traqueia, hematomas, ruídos respiratórios. o Alterações podem ser súbitas ou progressivas → pode haver necessidade de voltar ao A. o Via aérea definitiva: ▪ Sonda endotraqueal com balonete insuflado, conectado a um sistema de ventilação assistida, com mistura enriquecida de O2, e mantida em posição por meio de fixação apropriada. • IOT. • Cirúrgica (lesão da face ou garganta que impeça a IOT). B (respiração): • Exposição total do tórax. • Ouvir, ver e palpar. • Todo o politraumatizado: O2 12L/min. • Auscultar todo o tórax. • Monitor oximetria. 3 Gustavo Urzêda Vitória • Vias aéreas pérvias não querem dizer que a ventilação está adequada, isso depende também dos pulmões, parede torácica e diafragma. • Lesões ameaçadoras → tratamento imediato: o Obstrução de vias aéreas. o Pneumotórax hipertensivo. o Pneumotórax aberto. o Contusão pulmonar com tórax instável. o Hemotórax maciço. o Tamponamento cardíaco. o Lesão de árvore traqueobrônquica. • Lesões potencialmente ameaçadoras: o Pneumotórax simples. o Hemotórax. o Contusão pulmonar. o Trauma cardíaco fechado. o Rotura da aorta. o Lesão diafragmática traumática. o Ferimento transfixante de mediastino. o Ferimento de esôfago. • Pneumotórax hipertensivo: o Diagnóstico clínico. o Drenagem no 5° espaço intercostal → toracocentese jelco 14. • Pneumotórax aberto: o Traumatopneia. o Não explora a lesão. o Curativo de 3 pontas → 3 lados fixados e um aberto para funcionar como válvula e permitir a saída do ar. • Hemotórax maciço: o Sinais de choque. o Drenagem torácica → se mais de 1500ml ou 200ml/h nas primeiras 4h → toracotomia. o Tórax maciço a percussão. • Tórax instável: o Movimento paradoxal: na inspiração o tórax afunda. o Mais de 3 fraturas de costelas em 2 ou mais pontos. o Afastar hemotórax e hemopneumotórax. o Internação em UTI, IOT e analgesia. • Tamponamento cardíaco: o Tríade de Beck (hipofonese de bulhas, turgência jugular e hipotensão) e sinais de choque. o Toracotomia anterolateral a esquerda, drenagem e tratamento da lesão. C (circulação): 4 Gustavo Urzêda Vitória • Controle de hemorragia → principal causa de morte pós-traumática e evitável. • Hipotensão + politraumatismo = choque hipovolêmico. • Avaliação: o Avaliar choque. ▪ Nível de consciência. ▪ Cor da pele. ▪ Pulso central ▪ Taquicardia. ▪ Temperatura da pele. ▪ Taquipneia. ▪ Alteração do débito urinário → sonda imediata. o Classificar o choque. o Tratar o choque. o Avaliar resposta inicial do choque. o Indicar cirurgia. • Choque: o Classificar o choque para definir o tratamento. ▪ Tipos III e IV correr o sangue o mais rápido possível, pode ser até antes do cristaloide. ▪ Mais de 10 concentrados de hemácias em 24h ou mais de 4 em 1h → hemotransfusão maciça → correr uma bolsa de plaquetas e uma de plasma fresco por bolsa de hemácias. o Punção de um acesso venoso calibroso periférico. o Pode ser usado ácido tranexâmico. o Hemorragia externa: compressão direta e resolução definitiva → compressão de pelve e ossos longos. ▪ Estabilizar a pelve e alinhar fraturas para conter o sangramento. o Hemorragia interna: avaliar endografia. ▪ Estabilizar pelve. ▪ Trauma abdominal fechado → lavado peritoneal ou FAST. ▪ Laparoscopia em traumas penetrantes. ▪ Cirurgia. 5 Gustavo Urzêda Vitória D (neurológico): • Glasgow e pupilas → definir risco de broncoaspirar e necessidade de via aérea definitiva. • Avaliar lateralização e lesões medulares. • TCE: o Leve: Glasgow 13-15. o Moderado: 9-12 → vigiar. o Grave: 3-8 → IOT. E (exposição): I II III IV 6 Gustavo Urzêda Vitória • Exposição do doente e proteção contra hipotermia. • Despir o paciente em ambiente aquecido. • Cristaloide aquecido a 39°C. • Não manter mais de 2h deitado na prancha pelo risco de úlcera por pressão e isquemia de tecidos. • Fraturas expostas ou fechadas, distensões, equimoses, rotações de membros, palpar pulsos. - Queimaduras: Queimaduras: Classificação: • Superficiais (anteriormente conhecidas como de primeiro grau): atingem somente epiderme (queimadura de sol). • De espessura parcial (segundo grau): lesões atingem a derme (forma bolhas). 7 Gustavo Urzêda Vitória • De espessura integral (terceiro grau): estendem-se até o subcutâneo, podendo envolver tecidos musculares e ósseos (quarto grau). o Sangramento: sangramento imediato com uma picada de agulha indica que é mais superficial, sangramento tardio indica espessura maior. o Sensação: quanto mais profundo, menos doloroso é a picada da agulha; impreciso por ser subjetivo e o edema também pode embotar. o Aparência e branqueamento: avaliar enchimento capilar, quando mais profundo mais esbranquiçado, seco e semelhante a couro. Mais superficial é mais avermelhado. Complicações: • Especialmente em queimaduras com mais de 20% da superfície corporal, há uma rápida troca de fluidos corporais nos compartimentos intersticiais, tanto no local afetado quanto sistemicamente → podendo gerar choque hipovolêmico. • Edema generalizado, incluindo pulmonar, pela perda proteica para o interstício. • Desenvolvimento de um estado hipermetabólico associado ao excesso de perda de calor e um aumento na necessidade de suporte nutricional. • O local queimado é propício para o crescimento de microrganismo → soro e detritos fornecem nutrientes e a lesão compromete a circulação, diminuindo a resposta inflamatória, além de comprometer o sistema imunológico como um todo. o A proliferação bacteriana, a bacteremia e a liberação de toxinas podemlevar a sepse e/ou choque séptico. 8 Gustavo Urzêda Vitória • Lesões de vias aéreas e pulmões podem se desenvolver 24-48h após a queimadura, resultando do efeito direto do calor sobre os componentes externos da via aérea e da inalação de ar aquecido e fumaça → gases solúveis em água, como Cl, óxidos de S e amônia podem reagir com água e formar ácidos ou álcalis → produzindo inflamação e edema → obstrução parcial ou total das VAS (vias aéreas superiores). o Gases solúveis em gorduras, como o óxido nitroso e produtos plásticos, atingem mais as VAI (vias aéreas inferiores) causando pneumonite. 9 Gustavo Urzêda Vitória Avaliação da área queimada: • 3 métodos: o Superfície palmar: ▪ A área da palma da mão de um paciente (incluindo os dedos) é aproximadamente equivalente a 0,8% da área total da superfície corporal. ▪ Usada para estimar áreas pequenas (< 15% da área total) ou muito grandes (> 85%; estimando a área não queimada e subtraindo). o Regra de Wallace com nove: ▪ Boa para queimaduras médias e grandes. ▪ Não é muito preciso em crianças. ▪ O corpo é dividido em áreas de 9%. 10 Gustavo Urzêda Vitória o Gráfico de Lund e Browder: ▪ Esse gráfico é o método mais preciso. ▪ Compensa a variação na forma do corpo com a idade. Regimes de ressuscitação: • Pode ser pelo acesso venoso periférico ou intraósseo. 11 Gustavo Urzêda Vitória • Ringer lactato sem glicose é o fluido de escolha, exceto em < 2 anos, que devem receber Ringer lactato com glicose a 5%. • Fórmula: o Área queimada x peso/8. • Continuada até que seja realizado o cálculo formal das necessidades volêmicas → Parkland ou Brooke. • Reposições exageradas podem provocar síndrome compartimental e outras consequências → sempre avaliar diurese e resposta ao volume. • Não é recomendado o uso de albumina. • Profilaxia para tétano deve ser avaliada e em todos com mais de 10% devem receber 0,5ml de toxoide tetânico. o E se imunização prévia incerta ou inexistente → 250 unidades de Ig antitetânica. Outros itens do tratamento: Cuidados iniciais com a ferida: • Proteção contra o ambiente com curativo limpo e seco. • Usar cobertor para diminuir as perdas de calor. • Analgesia para conforto e controlar a vasoconstrição periférica. Escarotomias: • Queimaduras mais profundas podem comprometer a circulação periférica para o membro comprometido. • A escarotomia tem como função liberar a pressão tecidual e melhorar a perfusão. • Pode ser feita a beira leito com bisturi. Antibióticos: 12 Gustavo Urzêda Vitória Cobertura das feridas: Queimaduras especiais: 13 Gustavo Urzêda Vitória Elétricas: • Baixa voltagem (110-220V): semelhante a queimaduras térmicas. • Alta voltagem: pode levar a fibrilação ventricular e parada cardiorrespiratória. • Os músculos são os mais afetados, seguidos de estruturas próximas, como vasos e ossos → fasciotomia deve ser avaliada. • Hidratação vigorosa e manitol para evitar lesões renais agudas → aumento de mioglobina devido o dano muscular. • Pode ter déficits neurológicos tardios. Químicas: - Fraturas: Apresentação clínica: • Fratura é a descontinuidade do tecido ósseo → traço que atravessa uma ou mais corticais em duas incidências radiográficas diferentes. • Vários tipos: o Impactação. o Galho verde. o Patológica. o Cominutiva. 14 Gustavo Urzêda Vitória • Classificadas de acordo com o seu traço, e se são fechadas (não existe ruptura da pele, ou se existir não há contato desta com o hematoma de fratura, embora vasos sanguíneos e nervos também possam ser rompidos) ou expostas. • Quadro clínico: o Dor imediata após trauma, que se acentua à movimentação ou compressão da região afetada. o Desvio. o Edema. o Hematoma. o Impotência funcional. 15 Gustavo Urzêda Vitória Abordagem inicial: 1. ATLS e exclusão de outras lesões. 2. Identificar o segmento afetado e provável osso fraturado. 3. Iniciar analgesia. 4. Imobilizar membro. 5. Encaminhar ao serviço de emergência ortopédica (nível terciário). • Avaliação neurovascular adequada do segmento afetado para que seja prontamente tratado quando houver indicação. 16 Gustavo Urzêda Vitória • Síndrome compartimental aguda deve ser sempre excluída, especialmente em fraturas de tíbia e rádio distal. o 5 Ps: ▪ Dor (pain). ▪ Palidez. ▪ Pulsos diminuídos. ▪ Parestesia. ▪ Paralisia. o Dor intensa ao movimento passivo dos músculos e edema local marcante. o Fasciotomia de urgência. o Na suspeita, não deve se elevar o membro, mesmo se houver edema → compromete ainda mais a oxigenação muscular e agrava a isquemia e o edema. 17 Gustavo Urzêda Vitória Diagnósticos diferenciais: • Casos duvidosos entre fechada e exposta: o Lesões puntiformes ou contusas, com gotículas de gordura no sangue que sai da ferida podem sugerir exposta. o Radiograficamente, enfisema de subcutâneo nas radiografias simples ou imagem sugestiva da presença de gás junto ao foco de fratura pode direcionar para exposta. Tratamento: • Fechadas: o Cirúrgico ou conservador. o Urgência ou eletiva. • Exposta: o Intervenção imediata, com limpeza, desbridamento e fixação da fratura. 18 Gustavo Urzêda Vitória Fratura exposta: • Definição: o hematoma da fratura entra em contato com o meio externo, de modo que o osso não necessariamente precisa perfurar a pele, e o corte pode estar em local diferente da fratura. • Possui risco de osteomielite. • Avaliação: o ATLS e estabilização do paciente. o É uma emergência. o Conhecer a história do acidente, fase essencial para definir as características do ferimento, e descobrir possíveis fraturas ainda não identificadas. ▪ Mecanismo da lesão, energia do trauma, grau de contaminação, grau de dano de partes moles. o Avaliar o membro como um todo e observar lesões neurovasculares que possam comprometer a evolução ou modificar o tratamento. o Classificar segundo Gustillo e Anderson. o Exame de radiografia para destacar lesões no membro: ▪ Uma articulação acima e uma abaixo em caso de ossos longos. ▪ Ossos longos acima e abaixo no caso de lesão articular. ▪ E verificar o ângulo de interrupção óssea: transverso, oblíquo, espiralada (helicoidal) ou cominutiva. • Tratamento: 1. Avaliação do paciente, com exposição da lesão e registro fotográfico. 2. Alinhamento do membro sem redução da fratura. Osso deve permanecer exposto para não levar agentes contaminantes para o interior do membro. 3. Retirada de contaminantes grosseiros. 4. Curativo com compressas estéreis. 5. Condução ao CC. 19 Gustavo Urzêda Vitória 6. Analgesia, ATB terapia, profilaxia para tétano → mais precocemente possível. ⎯ No CC, inicia-se o desbridamento (remoção de tecidos necrosados ou corpos estranhos) e irrigação abundante (forma mais delicada que a fricção para limpar o ferimento, não rompendo mais tecidos). ⎯ Estabilizar e fixar a fratura → comumente com fixador externo ou síntese definitiva. ▪ Externo é recomendado principalmente para Gustillo IIIB e IIIC instáveis, alguns idosos e politraumatizados. ⎯ Cirurgia é menos invasiva do que a síntese definitiva e tem curta duração. ⎯ Síntese definitiva é recomendada para até Gustillo IIIA e traumas isolados, pois exige mais do organismo do paciente. • Cirurgia: o Antes, controlar hipotensão, acidose e coagulopatia. o Cirurgia nas primeiras 6h após a lesão. o Não apresenta condições para cirurgia, faz-se limpeza cirúrgica e uma cirurgia de controle de danos (fixação externa). o Nos politraumatizados, a janela de oportunidade para fixação definitiva é de 5-10 dias após o trauma, no qual o estado inflamatório do corpo reduziu o suficiente para que resista a uma 20 Gustavo Urzêda Vitóriaintervenção cirúrgica, porém não decaiu o suficiente para que sofra infecção por imunossupressão. o Outras condições podem atrasar ou adiantar a cirurgia. • Fisioterapia: o Manutenção do arco de movimentos e fortalecimento muscular. o É variável, contudo, a progressão de carga no membro acometido, que varia de acordo com a síntese e o local da fratura. o Sempre prescrita pelo ortopedista. • Conduta do generalista: - Cirurgia pediátrica: Hérnias: Epigástrica: • Falha no fechamento da aponeurose alba entre o umbigo e o apêndice xifoide. • Entra tecido gorduroso e outros. • Aumenta com o esforço, dói e se não fechar sozinho precisa de correção cirúrgica. • Indicações de cirurgia: o Persistência após 4 a 5 anos de idade. o Maior do que 1,5 a 2 cm, após 2 anos de idade, e não houver redução após um 1 ano ou mais de acompanhamento na Atenção Primária à Saúde (APS). 21 Gustavo Urzêda Vitória Umbilical: • Falha no processo obliterativo do anel umbilical. • Vai fechando após o nascimento. • Mais frequente na etnia negra. • Mais frequente associada a síndrome de Down, Edwards, Patau, hipotireoidismo, Becwith-Wideman. • Assintomática. • < 1,5cm: fecha sozinha até 4-5 anos. • > 1,5cm: após um ano → reavaliação cirúrgica. • Uso de esparadrapo, faixas elásticas e moedas não tem indicação → não corrige e pode lesar a pele, causando dermatite. Inguinal: • Entrada de conteúdo abdominal no processo de descida do gubernáculo. • Maior em prematuros. • Conteúdo: o Meninos: alças intestinais. o Meninas: ovário e anexos. • 60% são do lado direito → testículo direito desce primeiro. 22 Gustavo Urzêda Vitória • Risco de encarceramento → pode entrar alças → edemacia e não conseguem sair → sofrimento → aumento do peristaltismo e pode estrangular. o Essa evolução pode acontecer a qualquer momento. • Cirurgia após o diagnóstico. • Geralmente é dolorosa. Diafragmática: • Persistência do forame de Bochdaleck. • 80-90% são do lado esquerdo. • Conteúdo do abdome migra para o tórax. • Causa: taquipneia, retração, cianose, abdome escavado, desvio da área cardíaca, ausência de murmúrio vesicular. • Indicação de IOT. • RX de tórax: desvio do mediastino, alças intestinais do tórax etc. • Colaba o pulmão do lado afetado → não desenvolve. o E o contralateral sofre compressão do coração. • Correção logo após o diagnóstico, inclusive pode ser feita a cirurgia intraútero. Hidrocele: 23 Gustavo Urzêda Vitória • Comunicante ou não comunicante (canal fechado → não comunica com o abdome). • “Água no testículo” → líquido abdominal que desceu e se acumulou. • Diagnóstico pela transiluminação. • Comunicante: o Diminui pela manhã e aumenta no final da tarde pela ação da gravidade. o Risco de encarceramento → cirurgia após o diagnóstico. • Não comunicante: o Absorve até o primeiro ano de vida. o Se não for absorvido → cirurgia. Distopias testiculares: Criptorquidia: • Testículo fora da bolsa, mas situado no seu trajeto intrabdominal (25%). • A partir da produção de testosterona → desenvolve os túbulos de Wolf e degenera os de Miller → formando os órgãos sexuais masculinos. • Os testículos têm uma posição intra-abdominal até a 28ª semana de gestação. • Entre a 28ª e a 35ª semana de gestação, os testículos descem por ação hormonal e por ação mecânica da descida do gubernáculo → vai para a posição intraescrotal. 24 Gustavo Urzêda Vitória • Podem descer naturalmente até 2 anos de idade. • A partir de 6 meses, se não houver descido é indicado a cirurgia de retirada pelo risco de malignizar → preferível que orquipexia seja realizada antes de 12-15 meses. Distopia testicular: • Testículo no canal inguinal (75%). • Mesmas considerações para criptorquidia. Ectopia testicular: • Testículo fora do trajeto normal → supraescrotal, região femoral etc. • Insuficiência de hormônio gonadotrófico (baixa testosterona). • Diminuição da responsividade testicular. • Gubernáculo mal desenvolvido. • Testículo não descido é anormal. • Ocorre mais em prematuros. • Mais de 6 meses → considera que não desce mais sozinho. • Unilaterais são mais comuns. • A tempera mais alta na região fora da bolsa escrotal causa atrofia dos túbulos seminíferos, diminui a vascularização e as espermatogônias. o Pode causar infertilidade. o Risco de malignização de 35-50 vezes maior. • Cirurgia de 6-12 meses. Fimose: • Presença de anel prepucial que impede ou dificulta a exteriorização da glande. • Não tratar antes de 4 anos. • Não massagear para exteriorizar → pode lesar e causar fibrose. • O esmegma pode infectar e causar balanopostite. • Indicação cirúrgica: o Fimose bem obliterada. o Retenção urinária → pode gerar ITU. • Tratamento conservador: betametasona + hialuronidase. o Pode usar o clobetasol por 3-4 semanas. • Lavar bem a região da glande e do pênis. 25 Gustavo Urzêda Vitória Atresia de esôfago: • Perda da continuidade do esôfago. • Mais em meninos. • Relacionado a anomalias congênitas (50-70%). o Associado mais comumente a VACTERL (anormalidades de vertebras, anorretal, coração e grandes vasos, atresia de esôfago, renal, membros, hidrocefalia). • Pode não ter comunicação ou estar ligado na traqueia etc. • Polidrâmnio pode ser um indicativo → líquido não passa pelo esôfago e se acumula. • Dados clínicos: salivação aerada excessiva, regurgitação, tosse, não consegue passar sonda. • Se tem fístula na traqueia → o intestino enche de ar e vê no RX. • Investigação com RX, ECO e USG de rins e vias urinárias. Onfalocele: • Falha no retorno das vísceras por volta da 10ª semana. • Falha na fusão das dobras somáticas que definem a parede abdominal na região umbilical. • 25% são associados a outras síndromes e anomalias genéticas. Gastrosquise: • Defeito no fechamento da parede abdominal anterior → normalmente a direita. • Não associado a outras anomalias. • Veia direita sofre atrofia antes de formar a parede. • Alças ficam soltas → complicações para o resto da vida. 26 Gustavo Urzêda Vitória Obstrução do duodeno: • 50% está associado a polidrâmnio → não engole o líquido amniótico. • 50% associada a anomalias cromossômicas (30% com síndrome de Down). • Diagnóstico pré-natal: sinal da dupla bolha. • Vômitos biliosos sem distensão abdominal. • Solicitar ECO, RX de coluna e USG abdominal. Invaginação intestinal (intussuscepção): • Muito comuns em < 1 ano. • É uma emergência cirúrgica. • Invaginação de uma porção intestinal para um lúmen de parte adjacente → 80% são ileocólicas. • Hipertrofia linfoide da parede lisa pode predispor. • Cólica abrupta e vômitos, podendo ter enterorragia. • Imagem em alvo. • Tratamento não cirúrgico é tentado primeiro, com a redução da pressão hidrostática → se falhar → tratamento cirúrgico. 27 Gustavo Urzêda Vitória Apendicite aguda: • Mais comum em > 1 ano. • Mais frequente de 5-15 anos. • Perfuração espontânea é quase 100% → Blumberg positivo (peritonite). • Obstrução por fecálito ou hiperplasia linfoide. • Dor periumbilical, febre moderada e anorexia. • Diagnóstico clínico, pode ser auxiliado por USG de abdome e exames laboratoriais. • Tratamento com apendicectomia no período de 8-12h após o início do quadro. 28 Gustavo Urzêda Vitória CIRURGIA PATOLOGIAS - Hérnias da parede abdominal: Embriologia e parede abdominal: • Embriologia: o Organogênese → 3º a 4º semanas. o Dobramento do embrião → tubo dentro de outro tubo. ▪ Endoderme → intestino primitivo. • Parede abdominal: o Camadas: pele → fáscia superior → músculos → fáscia transversal → gordura extraperitoneal (fáscia extraperitoneal) → peritônio. o Função: proteção dos órgãos, estabilização e rotação do tronco, alteração de pressão intra-abdominal.o Músculos da parede anterolateral: oblíquo externo, oblíquo interno, transverso, reto e piramidal. o Músculos da parede posterior: psoas maior, ilíaco, quadrado lombar e psoas menor. o Aponeurose: porção tendinosa → conjuntivo denso, responsável pela fixação dos músculos em suas inserções ósseas → sustentação e resistência. o Fáscia: conjuntivo frouxo que envolve os músculos → muitas vezes determinando compartimentos musculares. 29 Gustavo Urzêda Vitória Hérnia da parede abdominal: Saída de uma estrutura da sua localização habitual. Pode ser congênito, traumática ou adquirida. • Obrigatório que seja considerada a integridade do peritônio e da pele → sem isso é evisceração. • Peritônio se invagina → origina o saco herniário → ponto fraco ou orifício → rompe as aponeuroses dos músculos → abaulamento da pele local → saco herniário fica contido. • Acomete 5% da população mundial. • Inguinal é a mais comum. • Classificação: o Comportamento: ▪ Redutível. ▪ Irredutível. ▪ Complicada. o Etiologia: ▪ Congênita. ▪ Adquirida. ▪ Traumática. ▪ Mista. o Localização: ▪ Epigástrica. ▪ Hipogástrica. ▪ Spiegel. ▪ Umbilical. ▪ Inguinal. ▪ Diafragmática. ▪ Crural. ▪ Obturadora. ▪ Perineal. ▪ Incisional. ▪ Lombar. o Conteúdo: ▪ Alças intestinais. ▪ Divertículo de Meckel. ▪ Borda anti-mesentérica. ▪ Ovários. ▪ Epíplons. ▪ Apêndice. • Quadro clínico: o Dor mal definida, ardência, abaulamento e piora com esforço físico. o 1º episódio pode ser referido como: “rasgou algo por dentro”. • Fatores predisponentes: 30 Gustavo Urzêda Vitória o Aumento da pressão intra-abdominal. o Pontos fracos na parede. o Orifícios existentes. o Fatores intrínsecos relacionados a constituição da parede. • Complicações: o Encarceramento → se torna irredutível (aumento de volume) e sem aderências. o Estrangulamento → encarcerada com alterações vasculares. • Diagnóstico: o Exame clínico. o Exames de imagem ajudam no tratamento, mas não no diagnóstico. • Tratamento: o Sempre cirúrgico. o Pequenas e assintomáticas podem ser apenas observadas. o Identificar o saco herniário e isolar → devolver estruturas → identificar e tratar orifícios e pontos fracos. • Complicações pós operatórias: o Infecção, seroma, hematoma, deiscência, cicatriz hipertrófica, dor crônica, lesão de órgãos, recidiva (avaliar o tecido, depende de fatores pré, intra e pós-operatórios). Hérnia inguinal: • Conceito: o Protusão anormal de um órgão ou tecido através do defeito da parede circundante. o 75% de todas as hérnias abdominais. ▪ 50% indiretas. ▪ 25% diretas. o Incidência em homens é 25 vezes maior que em mulheres. o 60% a direita, 30% a esquerda e 10% bilateral. • Estruturas anatômicas: o Estruturas importantes: ligamento inguinal, anel inguinal, triângulo de Hasselback (ligamento inguinal, músculo reto abdominal e vasos epigástricos superficiais), fáscia transversalis. o Canal inguinal: ▪ Espaço virtual de mais ou menos 4 cm, entre os músculos e a aponeurose da região inguinal. ▪ Conteúdo: • Homem: funículo espermático. • Mulher: ligamento redondo do útero. ▪ Limites: 31 Gustavo Urzêda Vitória • Anterior (teto): aponeurose do músculo oblíquo interno e do transverso. • Posterior (assoalho): fáscia tranversalis e aponeurose do músculo transverso. • Inferior: ligamentos inguinal e lacunar. • Superior: aponeurose do oblíquo externo. o Funículo espermático: ▪ Conteúdo: • Ducto deferente, artéria e veia deferentes, conduto peritônio vaginal, artéria espermática externa, vasos linfáticos, ramo genital do nervo genitofemoral e músculo cremaster. • Tipos: o Indireta: ▪ Introduz o dedo indicador no anel inguinal externo → faz Valsalva → hérnia bate na ponta do dedo. o Direta: ▪ Bate na polpa (parte de baixo do dedo). ▪ Medialmente aos vasos epigástricos inferiores → abaulamento e até ruptura da fáscia transversalis. • Parede posterior do canal inguinal. ▪ Fatores predisponentes: • Triângulo de Hasselback maior e menos resistente. • Área de Hessert aumentada. 32 Gustavo Urzêda Vitória • Fisiopatologia: o Indireta: ▪ Mais comum, mais em homens, crianças e adultos jovens, ▪ Mais sintomática e associada a complicações. ▪ Lateral aos vasos epigástricos → penetra no orifício inguinal interno intrafunicular. ▪ Fator predisponente mais importante: persistência do conduto peritônio vaginal. • Persistência não significa hérnia → 90% por fator congênito e 10% por outros fatores. • Além da persistência, precisa de preenchimento e exteriorização. ▪ Fatores protetores: • Obliquidade do canal inguinal e não coincidência de seus dois anéis. • Músculos oblíquo interno e transverso em um mecanismo de pinça sobre o anel interno. o Direta: ▪ Mais em mulheres e em idades mais avançadas. ▪ Aumento da pressão intra-abdominal por: obesidade, tosse ou espirro crônicos, constipação intestinal, ascite, esforço ou exercício físico, tumores abdominais de grande volume, prostatismo (esforço miccional), gravidez e traumas. ▪ Fatores intrínsecos relacionados a constituição da parede abdominal. • Classificação: o Tipo: direta, indireta ou mista. o Redução: redutível ou irredutível (estrangulada ou encarcerada). o Conteúdo: ▪ Richter: borda anti-mesentérica. ▪ Littré: divertículo de Meckel. 33 Gustavo Urzêda Vitória ▪ Amyand: apêndice. o Etiologia: congênita, adquirida, traumática, mista. • Quadro clínico: o Dor mal definida em região inguinal, em queimação ou ardência, esforço físico piora, abulamento. • Diagnóstico: o Diagnóstico é clínico: ▪ Exame físico: • Despir o paciente. • Inspeção ortostática. • Observar a região inguinal procurando abaulamentos. • Examinar o escroto, principalmente em crianças. • Palpação da região inguinal. • Manobras digitais. • Valsalva. o Diagnóstico complementar: ▪ Raro, exceções. ▪ Imagem tem baixa acurácia → USG de região inguinal com paciente em ortostase e fazendo Valsalva. TC e RM também podem. o Diagnósticos diferenciais: ▪ Abscessos, cisto do cordão espermático, criptorquidia, hematomas pós-traumáticos, hidrocele, adenomegalia inguinal, lipoma, fibroma, neurinoma, orquiepididimite, tumores locais, varicocele, tumores testiculares e paratesticulares, linfedema escrotal, flegmão. • NYHUS: Tipo I Hérnia indireta com anel inguinal profundo normal (até 2 cm). Tipo II Hérnia indireta com anel inguinal interno alargado, porém com parede posterior preservada. Tipo III Defeito na parede posterior: 34 Gustavo Urzêda Vitória - A: Direta. - B: Indireta com alargamento importante do anel interno ou destruição da parede posterior. - C: Femoral. Tipo IV Recidivada: - A: Direta. - B: Indireta. - C: Femoral. - D: Mista. • Tratamento: o Cirúrgico → mas nem sempre está indicado, sempre avaliar riscos e benefícios. o Técnica aberta ou laparoscópica ou robótica. o Herniorrafia X hernioplastia X herniotomia X inguinotomia. o Incisão cirúrgica na região inguinal: ▪ Felizet: transversa, 5-6 cm a partir do tubérculo púbico. ▪ Oblíqua: paralela ao ligamento inguinal, 8-10 cm. • A partir do tubérculo púbico em direção a crista ilíaca. o Laparoscópica: ▪ TAPP: uma incisão na cicatriz umbilical e mais duas paralelas. ▪ TEP: três incisões na mesma linha mediana. ▪ Robótica. • Complicação pós-operatória: o Infecções, seroma, hematoma, deiscência, cicatriz hipertrófica, dor crônica, lesão inadvertida a determinado órgão ou estrutura, recidiva. Hérnias ventrais: • Incisional: o Conceito e epidemiologia: ▪ Protrusão de conteúdo abdominal em um ponto fraco da parede, constituído pela cicatriz de intervenção cirúrgica anterior. ▪ Incidência maior em mulheres, 2:1. ▪ Qualquer lugar da parede abdominal. • Mais frequentena linha média infra-umbilical. • FID: apendicites complicadas. • FIE: colostomia. • HCD: intervenção nas vias biliares. ▪ 10-15% de incidência geral → diminuiu com a laparoscopia. • Infecção e inflamação aumentam a chance. ▪ Manifesta alguns meses após a cirurgia e aumenta com o tempo. 35 Gustavo Urzêda Vitória o Fatores predisponentes: ▪ Obesidade, anemia, idade avançada, infecção na ferida, hematomas e espaços mortos, distensão abdominal no pós- operatório, tosse, tipo e local da incisão. o Fatores de risco: ▪ Deiscências, estomias, drenos de longo calibre ou por tempo prolongado, fechamento imperfeito, secção de vários nervos, material inadequado, desnutrição. o Quadro clínico: ▪ Pode ser dolorosa ou não. ▪ Pode ser redutível ou não. o Diagnóstico: ▪ Clínico. ▪ TC e USG podem ser usadas para calcular o volume em alguns casos. o Tratamento: ▪ Cirúrgico, mas nem todos são elegíveis. ▪ Identificação do saco herniário → isola → trata (resseca ou reduz para a cavidade) → identifica o orifício herniário ou deficiência da parede → corrige o orifício → pode colocar prótese (tela). ▪ Técnica do professor Lázaro com ou sem tela. • Episgastricas: o Conceito e epidemiologia: ▪ Defeito da linha alba entre o apêndice xifoide e o umbigo. ▪ 3-5% da população. ▪ 3-6 vezes mais comum na população masculina. ▪ Múltiplas em 20% dos pacientes. ▪ Orifício geralmente < 0,5 cm. ▪ Encarceramento de gordura pré-peritoneal (dor desproporcional ao tamanho). ▪ Nunca fecha espontaneamente. o Etiopatogenia: ▪ Linha alba mais larga. ▪ Divergência dos músculos retos. 36 Gustavo Urzêda Vitória ▪ Perfurações → nervos e vasos brotam. ▪ Orifícios maiores podem dar passagem a gordura extraperitoneal. ▪ Doenças consumptivas, gestações repetidas, avitaminoses, senilidade são fatores de risco por aumentarem a pressão intra-abdominal. o Quadro clínico: ▪ Tumoração que piora com esforço e desaparece em posição supina. o Diagnóstico: ▪ Imagem só em grandes → ajuda a definir o tratamento. ▪ Diagnóstico diferencial com lipomas. o Tratamento: ▪ Cirúrgico. • Técnica de Mayo. o Complicações pós-cirúrgicas: ▪ Infecção, seroma, hematoma, deiscência, cicatriz hipertrófica, dor crônica, lesão inadvertida de órgãos ou tecidos, recidiva. Hérnia umbilical e femoral: • Umbilical: o Tipos: ▪ Congênita ou adquirida. • Adquirida na infância a maioria tem resolução espontânea até 4 anos → meninos e desnutridos. • Adultos → mulheres. ▪ Mais comum na raça negra. ▪ Estrangulamento e encarceramento são raros. o Etiopatogenia: ▪ Congênita → obliteração incompleta do anel umbilical durante o colapso dos vasos umbilicais após nascimento. ▪ Adquirida → tecido cicatricial que fecha o anel umbilical cede gradualmente. 37 Gustavo Urzêda Vitória o Fatores de risco: ▪ Múltiplas gestações, obesidade e ascite. o Quadro clínico: ▪ Tumoração e dor que pioram com esforço. ▪ Mais sintomático em crianças. o Diagnóstico: ▪ Clínico. ▪ Imagem para grandes hérnias. ▪ Diagnóstico diferencial com nódulo da Irmã Maria José. o Tratamento: ▪ Cirúrgico. ▪ Técnica de Mayo (sutura transversal) ou Blake (sutura longitudinal). o Complicações pós-cirúrgicas: ▪ Infecção, seroma, hematoma, deiscência, cicatriz hipertrófica, dor crônica, lesão inadvertida de órgãos ou tecidos, recidiva. • Femoral: o Epidemiologia: ▪ Mais em mulheres, 4:1 → anel crural mais largo. ▪ 10-60 anos. ▪ Mais do lado direito. ▪ Recidiva maior que das inguinais. ▪ Sempre adquiridas. ▪ Limites anatômicos do anel crural: • Superior: ligamento inguinal. • Medial: ligamento lacunar (de Gilbernat). • Inferior: ligamento pectíneo. • Lateral: vasos femorais. ▪ Maior tendência a estrangular. o Quadro clínico: 38 Gustavo Urzêda Vitória ▪ Abaulamento abaixo do ligamento inguinal associado a dor. o Diagnóstico: ▪ Clínico. ▪ USG, TC e RM ajudam a definir o diagnóstico. ▪ Diferenciar de linfonodomegalia, aneurismas de vasos femorais. o Tratamento: ▪ Cirúrgico → técnicas de McVay, TAPP, TEP ou robótica. o Complicações pós-cirúrgicas: ▪ Infecção, seroma, hematoma, deiscência, cicatriz hipertrófica, dor crônica, lesão inadvertida de órgãos ou tecidos, recidiva. Hérnias raras: • Spiegel: o Mais na 5º década de vida e em mulheres. o Dor intermitente acima dos níveis dos vasos epigástricos inferiores na linha semilunar. o Massa palpável é rara → abaixo do oblíquo externo. o Hérnia da parede abdominal incomum que se insinua através de um defeito na linha semilunar acima dos vasos epigástricos inferiores. o Exames de imagem ajudam no diagnóstico. 39 Gustavo Urzêda Vitória • Lombares: o Trígono lombar superior (Grynfelt-Lessharft): ▪ Superior: 12º costela e borda inferior do músculo serrátil póstero-inferior. ▪ Anterior: borda posterior do oblíquo interno. ▪ Posterior: borda anterior do quadrado lombar. ▪ Assoalho: aponeurose do transverso coberto pela grande dorsal (bastante adelgaçado). o Trígono lombar inferior (Petit): ▪ Anterior: borda posterior do oblíquo externo. ▪ Posterior: borda anterior da grande dorsal. ▪ Inferior: crista ilíaca. ▪ Assoalho: oblíquo interno. o Protrusões da gordura peritoncal, retroperitoneal ou víscera. o Congênitas: bilaterais. o Adquiridas: espontâneas ou traumáticas. o Surgem mais frequentemente em: ▪ Politraumatismo (Petit). ▪ Cirurgias lombares. o Massa lombar com sintomas discretos → maioria é redutível e as complicações são raras. • Obturada: o Fraqueza da membrana obturadora → pode comprimir o nervo obturador → dor no seu trajeto (face interna da coxa). o Sinal de Howship-Romberg → extensão ou rotação externa de MMII causa dor. • Diagnóstico: o Clínico, mas exames de imagem ajudam. o Diferenciar de linfonodomegalias e aneurisma de femoral. • Tratamento: 40 Gustavo Urzêda Vitória o Cirúrgico. • Diátese do músculo reto abdominal: o Fraqueza da parede→ músculos se afastam. o Linha média: região elíptica que abaúla aos esforços. o Mais frequente em mulheres, especialmente após várias gestações. o Tratamento: abertura das bainhas e sutura longitudinal ou suplicação sem abertura das bainhas → delaminação superficial e imbricamento das lâminas. - Colelitíase e colecistite: Colelitíase: • História natural: 41 Gustavo Urzêda Vitória o Estado patológico mais comum envolvendo a vesícula biliar e a árvore biliar → concentração dos solutos combinada com estase da vesícula entre as refeições predispõe. ▪ Colesterol solubilizado precipita na forma de cristais. o Maioria é assintomática → para se tornar sintomático, o cálculo deve obstruir uma estrutura visceral, como o ducto cístico. o 20-30% dos assintomáticos se tornaram sintomáticos em 20 anos. o 1% desenvolveram complicações antes do aparecimento dos sintomas. o Colecistectomia profilática, considerar em: ▪ Anemias hemolíticas. ▪ Vesícula em porcelana. ▪ Cálculos > 2,5cm. ▪ Cálculos assintomáticos em bariátricos. ▪ Em candidatos a transplantes de órgãos. • Tratamento: o Farmacológico geralmente é malsucessido e raramente utilizado. o Pode ser usado dissolução: ▪ Oral. ▪ De contato, que requer canulação da vesícula e injeção de solvente orgânico. ▪ Litotripsia extracorpórea por ondas de choque. o Recorrência: ▪ Dissolução: 50%. ▪ Litotripsia: 20%. Colecistite aguda: • Etiologia: o 90-95% são litiásicas. o 5-15% da população de países desenvolvidos. ▪ Destes, 1-3% evoluem com infecção biliar aguda. o 5-10% são acalculosas. • Fatores de risco: 42 Gustavo Urzêda Vitória o 4 ou 5 Fs: fair, fat, female, fertile, forty. o Bile espessa. o Uso de terapia hormonal favorece a formação de cálculos. o Aids, uso de imunossupressores, dialíticos, hepatopatas,Ascaris, gravidez. • Fisiopatologia: o Obstrução do ducto cístico, o que dificulta a drenagem da bile da vesícula → pode ser por obstrução mecânica (cálculos) ou por espessamento da própria bile. o O fator de obstrução é refratário → vai e volta → gerando a dor em cólica. ▪ Ou pode ser duradouro → quadro agudo. • Estágios: o 1°- Edematosa (2-4 dias): ▪ Fluido intersticial com dilatação capilar e linfática, parede edemaciada → edema na subserosa. o 2°- Necrotizante (3-5 dias): ▪ Edema mais áreas de hemorragia e necrose, obstrução do fluxo sanguíneo → trombose e oclusão vascular. o 3°- Superativa (7-10 dias): ▪ Leucócitos, áreas de necrose e supuração. ▪ Vesícula grossa pela proliferação e fibrose. ▪ Abscessos intramurais. o 4°- Crônica (regressão sem ato cirúrgico): ▪ Após vários episódios de colecistite → atrofia da mucosa e fibrose da parede. • Formas especiais: o Acalculosa. o Xantulogranulomatosa. o Enfisematosa → proliferação de bactérias anaeróbicas. ▪ Gás nos exames de imagem, inclusive no RX. o Torção da vesícula biliar. • Quadro clínico: o Dor abdominal epigástrica e/ou em hipocôndrio direito, podendo irradiar para ombro e dorso. o Náuseas e vômitos. o Febre → quanto mais alta, mais grave o quadro. o Defesa a palpação do hipocôndrio direito. o Vesícula pode estar palpável. o Sinal de Murphy → parada a inspiração profunda durante a palpação do hipocôndrio direito no ponto cístico. o Icterícia em 20%. o Leucocitose discreta. o Elevação discreta de TGO, TGP, Bb, FA e amilase. 43 Gustavo Urzêda Vitória • Diagnóstico: o Critérios de Tokyo: Critérios: Itens: A (sinais de inflamação) 1- Murphy ou dor no hipocôndrio direito. 2- Massa no hipocôndrio direito. B (sinais sistêmicos) 1- Febre 2- PCR alto 3- Leucocitose C (achados de imagem) 1- Dilatação das vias biliares 2- Evidencia da etiologia (estenose, cálculos etc.) ▪ Suspeita: um A + um B. ▪ Definitivo: um A + um B + um C. ▪ USG é o método de imagem de escolha. o Gravidade: ▪ Leve ou grau I: sem disfunção orgânica. • Colecistectomia mais tranquila. ▪ Moderada ou grau II: com achados que denotam dificuldade para colecistectomia. • Tratamento mais precoce. • Critérios: o Leucocitose > 18.000. o Massa palpável em quadrante superior direito. o Sintomas com duração maior que 72h. o Inflamação local marcante: peritonite biliar, abscesso pericolecístico, abscesso hepático, colecistite grangrenosa, colecistite enfisematosa. ▪ Grave ou grau III: disfunção orgânica. • Cardíaca: hipotensão, exigindo drogas vasoativas. • Neurológica: rebaixamento do nível de consciência. • Respiratória: pO2/FiO2 < 300. • Renal: oliguria, creatinina > 2. • Hepática: RNI > 1,5. Murphy 44 Gustavo Urzêda Vitória • Hematológica: plaquetas < 100.000. • Avaliar custo benefício de operar. • Complicações: o Perfuração. o Peritonite biliar. o Abscesso pericolecístico. o Fístula biliar. o Colecistite enfisematosa. o Gangrena. o Empiema. o Síndrome de Mirizzi → obstrução do ducto hepático comum por cálculo impactado no infundíbulo. o Íleo biliar. o CA de vesícula. o SIRS. o Sepse. • Tratamento: o Colecistectomia em 1-3 dias depois do início do quadro. o Jejum e analgesia. o Colecistectomia precoce: ▪ Método de escolha. ▪ Seguro, custo-efetivo, retorno rápido as atividades. ▪ Logo após o diagnóstico: menos perda de sangue, tempo de internação e de cirurgia menores, menor custo. o Videolaparoscopia: Cálculo 45 Gustavo Urzêda Vitória ▪ Menor custo e hospitalização. ▪ Recuperação mais rápida. ▪ Se não conseguir observar bem → aberta. ▪ Se muito difícil → drenagem por colecistostomia ou percutânea. o De acordo com Tokyo: ▪ Grau I: vídeo ou tratamento clínico + cirurgia eletiva. ▪ Grau II: drenagem ou tratamento clínico + cirurgia eletiva. ▪ Grau III: drenagem (percutânea ou cirúrgica) + colecistectomia. o Antibióticos: ▪ Grau I: • Quinolona oral, cefalosporinas de 1ª geração VO, ampicilina/sulbactam. ▪ Graus II e III: • 1° escolha: penicilina + inibidor de beta-lactamase ou cefalosporinas de 2ª geração. • 1° escolha nos graves: cefalosporinas de 2ª ou 3ª geração ou monobactâmicos + metronidazol. • 2° nos graves: quinolonas, carbapenêmicos. o Drenagem: ▪ Transhepatica percutânea: • Preferido. • Introdução de pigtail 6-10 Fr por Seldinger. • Simples, pode desobstruir e consegue coletar material para cultura. • Não pode trocar antes de 14 dias. ▪ Aspiração percutânea: • Menos restrições das atividades. • Parece ser menos efetivo. ▪ Endoscópica: • Usado em pacientes muito graves, especialmente em cirróticos. • Pouco usado no geral. • Posicionamento de um tubo 5-7 Fr após cateterização seletiva da vesícula. o Relação colecistectomia e drenagem: ▪ Quanto tempo depois da drenagem, deve-se fazer a colecistectomia? • Mais precoce possível, ainda durante a internação. • Assim que houver melhora da inflamação. • Ainda requer estudos. 46 Gustavo Urzêda Vitória • Prognóstico: o Mortalidade geral: 0-10%. ▪ Na aguda pós-operatório e alitiásica: 23-40%. o Recorrência após tratamento conservador: 2,5-22% → pode vir mais grave. Colecistite crônica litiásica: • Assintomática ou sintomática. o Cólica biliar. • Quadro inflamatório vigente ou recidivante que acomete a vesícula biliar → quadro prolongado e com cólicas recorrentes. • Obstrução do ducto cístico por cálculos. • Dor típica (apresentação de incidência variável): constante, no hipocôndrio direito e/ou epigástrio, irradiação para região dorsal superior direita, escápula direita ou entre as escápulas. • Desencadeada por refeições gordurosas, duração de 1-6h, náuseas e vômitos, distensão abdominal e eructação associados. • Discreta dor a palpação do hipocôndrio direito. - Pancreatite aguda: Anatomia: 47 Gustavo Urzêda Vitória • 2 ductos: pancreáticos principal e acessório. • É retroperitoneal, posteriormente a parede posterior do estômago. Conceito: • Processo inflamatório agudo do pâncreas, normalmente autolimitado, mas que pode levar tanto a complicações locais (necrose, infecção e pseudocistos), quanto a complicações sistêmicas (SIRS e disfunções orgânicas) de instalação rápida ocasionada por inúmeras etiologias. • Pode levar a sepse e choque séptico. Epidemiologia: • Aumento crescente: o Maior consumo de álcool. o População mais obesa e mais idosa. o Melhora dos métodos diagnósticos. • Mortalidade: 5%. o 20-30% em pancreatites graves com necrose infectada. Etiologia: • Biliar (30-60%) e/ou alcoólica (30%) → até 90%. • Autoimune, farmacológica, pós-cirúrgica, hipertrigliceridemia, pós-CPRE, hipercalcemia. Fisiopatologia: • Lesão das células acinares pancreáticas → ativa tripsinogênio → mediadores inflamatórios → efeitos locais e sistêmicos. 48 Gustavo Urzêda Vitória Quadro clínico: • Dor em andar superior do abdome, às vezes em faixa, pode irradiar para o dorso. • Posição antálgica → prece maometana. • Associada a náusea e vômitos. • Distensão abdominal. • Diminuição ou parada da eliminação de gases e fezes. • Pode ter hipotensão, massa palpável, febre e icterícia. • Sinais de Cullen (equimose periumbilical) e Grey-Turner (equimose em flancos) → sinais de gravidade e indicam hemorragia em retroperitôneo. Exame físico: • Posição antálgica. • Taquicardia. • Taquipneia. • Hipotensão. • Febre. • Rebaixamento do nível de consciência. • Sensibilidade difusa a palpação do abdome. • Distensão abdominal. Diagnóstico: • 2 de 3 critérios: o Quadro clínico positivo. o Exame laboratorial: amilase (eleva nas primeiras 24h) e lipase (mais específica) elevadas. o Exame de imagem sugestivo: USG (define etiologia por evidenciar ou não a litíase biliar), TC, RM,USG endoscópico. • Laboratorial: o Amilase: aumento de 2-3x o valor normal. o Lipase: aumento de 3x o normal. • Imagem: o Achados: ▪ Alça sentinela, dilatação de cólon transverso, apagamento do músculo psoas, velamento do andar superior do abdome, aumento da distância entre o cólon e o estômago, distorção da curvatura maior do estômago, distorção da curvatura maior do estômago, distensão gasosa do duodeno, efusão pleural, calcificação pancreática (crônica agudizada, provavelmente alcoólica). ▪ Derrame pleural associado é sinal de gravidade. ▪ TC é padrão-ouro. o CPRE: 49 Gustavo Urzêda Vitória ▪ Endoscopia que adentra a via biliar → avaliação e tratamento da pancreatite de etiologia biliar com leve icterícia ou colangite associada. ▪ Realização precoce, nas primeiras 4h, evita complicações e retira o cálculo. Fatores de risco para gravidade: • Gerais: o > 55 anos. o IMC > 30. o Insuficiência orgânica. o Derrame pleural ou infiltrados pulmonares. o PCR > 150. • BISAP (UTI): o Ureia > 25. o Hematócrito aumentado: homem > 43% e mulher > 39,6%. o Creatinina > 2. o > 60 anos. o SIRS. o Efusão pleural. o Alteração do estado mental. • Ranson: o Grave: maior ou igual a 3. o Pede TC, se ainda não tiver feito. o < 3: só pede TC se tiver piora clínica ou se não melhorar em 48h. • Apache II (UTI): GB = leuco; LDH = DHL; AST = TGO; BUN = aumento do N2 urinário. 50 Gustavo Urzêda Vitória o Grave: maior ou igual a 8. • Baltazar: o Graus de pancreatite e de necrose pancreática na TC. o Quanto maior a pontuação, maior a chance de complicações e morte. • Atlanta 1992 e 2012: 51 Gustavo Urzêda Vitória o 1992: ▪ Leve ou edematosa. ▪ Grave ou necrotizante → mais de 3 em Ranson admissional ou mais de 8 em Apache II. o 2012: ▪ Pancreatite aguda leve: sem falência orgânica e sem complicações locais e sistêmicas. ▪ Moderadamente grave: falência orgânica transitória (resolve em 48h) e complicações locais ou sistêmicas sem persistência de falência orgânica. ▪ Grave: falência orgânica persistente (única ou múltipla). • Disfunções orgânicas: o Circulatória (choque): vasodilatação e depressão miocárdica. o Neurológica: rebaixamento do nível de consciência. o Lesão renal aguda: creatinina maior ou igual a 0,3 em 48h ou aumento maior ou igual a 50% em 7 dias. o Debito urinário: < 0,5ml/kg/h por 6h. o Pulmonar: SARA. o Gastrointestinal: íleo paralitico, translocação bacteriana. o Hematológica: plaquetas < 100.000; RNI > 1,5; TTPa > 60s; CIVD. • Coleções: o Classificada de acordo com o conteúdo e evolução. o Pode evoluir formando pseudocisto pancreático. o Ambos podem ser estéreis ou infectados. o Necrose em casos graves. o Não se usa mais o termo abscesso pancreático. • Delliger/Petrov: o Aguda leve. o Aguda moderada. o Aguda grave → necrose, infecção ou insuficiência. 52 Gustavo Urzêda Vitória o Aguda crítica → necrose mais a persistência de insuficiência orgânica. Complicações: • Precoces (2-3 dias): cardiopulmonares, renais e metabólicas. • Intermediária (2-5 semanas): manifestações locais, gastrointestinais, biliares e de órgãos sólidos. • Tardia (meses a anos): ascite pancreática e complicações vasculares hemorrágicas. Tratamento: • Limitar a resposta inflamatória, interromper a patogênese e hidratar. • Internar para reidratação, analgesia e cuidar da dieta. • Aguda leve: o Enfermaria. o Analgesia, reposição volêmica (250-300 ml/h nas primeiras horas, depois vai se guiando pela diurese, sinais vitais e hematócrito) e repouso intestinal (reiniciar dieta o quanto antes, 48-72h após, se houver dor ou desconforto suspende). ▪ 1° dia: líquido pobre em gorduras. ▪ 3-4 dias: evoluir com alimentos sólidos com carboidratos e proteínas. ▪ Por último: introduzir gorduras. • Se assintomático com etiologia biliar → pode fazer colecistectomia na internação. • Não biliar: acompanhamento ambulatorial. ▪ Intolerância a dieta VO: • Resolução lenta: jejum 5-7 dias. • Nutrição enteral → 2ª porção do duodeno, mantendo o pâncreas em repouso, até tolerância da dieta VO. o Transferência para UTI: ▪ Hipotensão, hipóxia e taquipneia. • Grave: o Idosos, obesos, comorbidades, oliguria, taquicardia, encefalopatia, dor de difícil controle, necrose substancial (> 50%). o Monitorar sinais vitais, diurese, oximetria de pulso, gasometria arterial, exames laboratoriais e radiológicos. o Reposição volêmica → guiada por sinais vitais, diurese e hematócrito. o Vasopressores se necessário. o Corrigir anormalidades metabólicas e eletrolíticas. o Prevenção de gastrite hemorrágica → bloqueio de H2 ou da bomba de prótons. o Suporte nutricional precoce. ▪ Nasojejunal: 48-72h. ▪ Falha ou intolerância → dieta parenteral total (mais risco). 53 Gustavo Urzêda Vitória o Antibiótico: quadro piora com infecção. ▪ Infecções secundárias a necrose em 1/3 dos pacientes. ▪ Contra Gram – entéricos, cocos Gram + e anaeróbios. ▪ Carbapenêmico é escolha → alternativas são ciprofloxacino + metronidazol. o Cirurgia: ▪ Postergado para tratamento da infecção → 10-14 dias. ▪ Piora clínica (abscessos cavitários, sepse abdominal) ou síndrome compartimental → indicações. ▪ Aumenta mortalidade por exacerbar a doença e causar mais um trauma. ▪ Laparotomia descompressiva para limitar as complicações. ▪ Necrose infectada: TC com gás. • Desbridamento em 10 dias ou drenagem. • Tratamento específico para as complicações. Crônica: • Definição: o É caracterizada por um processo inflamatório progressivo em que há destruição irreversível do parênquima pancreático, as quais evoluem para alterações estruturais, podendo estar associada à dor crônica incapacitante e comprometimento da função endócrina e exócrina. • Quadro clínico: o A dor abdominal é o sintoma mais comum na pancreatite crônica, pós-prandial, que se apresenta ou piora 15 a 30 minutos após a alimentação, sentida na região epigástrica e frequentemente irradia para as costas. Se associa com náusea, vômito e anorexia. o Os pacientes podem sentir dor constante de gravidade variável com exacerbações periódicas ou dor intensa e contínua. o Conforme a pancreatite crônica progride, os níveis de amilase ou lipase podem não ser elevados com crises de dor. o A má digestão de gordura pela insuficiência pancreática → esteatorreia. • Diagnóstico: o Dor abdominal crônica e/ou história de pancreatite aguda recorrente, sintomas de insuficiência pancreática exócrina (diarreia, esteatorreia ou perda de peso) ou endócrina (diabetes pancreatogênica). o TC: atrofia, aumento pancreático, calcificação, dilatações ductais, cálculos pancreáticos e complicações (pseudocisto e pancreatite necro-hemorrágica). • Tratamento: 54 Gustavo Urzêda Vitória o Fracionamento das refeições e redução da ingesta de gorduras. o Pode ser usada a codeína 30 mg VO, a cada 6 horas, para a dor abdominal, mas as dores mais importantes necessitarão de opioides de maior potência, como a morfina. o A lipase de 20.000 a 40.000 unidades por refeição é o principal tratamento para esteatorreia. o Supressão ácida com bloqueador do receptor H2 ou inibidor da bomba de prótons deve ser administrado junto com suplementos de enzimas pancreáticas. o Três abordagens cirúrgicas foram descritas: operações de descompressão e drenagem, ressecções pancreáticas e procedimentos de desnervação. 55 Gustavo Urzêda Vitória - Osteomielite: Definição: • É um processo inflamatório acompanhado de destruição do tecido ósseo, tendo como causa a infecção por um microrganismo. • Pode acometer: o Medula. o Cortical. o Periósteo. o Tecidos vizinhos. • Classificação: o Aguda: até 10 dias. o Crônica: > 10 dias → ocorre formação de tecido necrótico. Etiologia: • Dependeda idade e das condições clínicas associadas. • S. aureus é o mais frequente. • Hematogênica: mais frequente é S. aureus, mas, em RN, o Streptococcus pode ser encontrado. 56 Gustavo Urzêda Vitória o Fungos podem ser secundários ao uso de cateteres venosos, usuários de drogas injetáveis e pacientes com neutropenia de longa data. o P. aeroginosa pode estar associada a sondas vesicais de longa data, principalmente afetando vértebras lombares; e em usuários de drogas injetáveis pode afetar a coluna cervical. • Secundária a foco infeccioso contíguo: pós-traumática, principais germes em ordem decrescente → S. aureus, cocos Gram -, bacilos aeróbios e anaeróbios. o Próteses articulares infectadas → Staphylococcus coagulase- negativos, S. aureus, Streptococcus, bacilos aeróbios Gram -. • Infecções hospitalares: Enterobacteriaceae, P. aeroginosa, Candida sp. • Anemia falciforme: Salmonella sp., Streptococcus pneumoniae. • HIV: Bartonella henselae, Bartonella quintana. • Mordida humana ou de outro animal: Pasteurella multocida, Eikenella corrodens. • Imunodeprimidos: Aspergillus, C. albicans, microbactérias. • Populações nas quais a TB é prevalente: M. tuberculosis. Patogenia: • S. aureus: produz uma série de fatores que a faz capaz de aderir às células endoteliais, as adesinas, que interagem de maneira específica com alguns componentes do hospedeiro tais como fibrinogênio, fibronectina, colágeno, vitronectina, laminina, trombospondina, sialoproteína óssea, elastina e fator de von Willebrand. o Protege-se do hospedeiro pela produção de proteína A, algumas toxinas e polissacarídeos capsulares. o Exotoxinas e hidrolases produzidas pela bactéria facilitam a sua penetração nos tecidos → agredindo as células de defesa ou degradando componentes extracelulares do hospedeiro. o Possui a habilidade de promover a sua própria fagocitose por parte das células endoteliais e osteoblastos, permanecendo vivo dentro delas. o Assim como o S. epidermidis, pode formar colônias e biofilmes → resistentes ao tratamento ATB. 57 Gustavo Urzêda Vitória Anatomia patológica: • Foco infeccioso dentro do osso desencadeia uma resposta inflamatória local → aumento do fluxo sanguíneo e da permeabilidade capilar → acumulando líquidos, bactérias e células de defesa vivas e mortas (abscesso). • O abscesso pode aumentar a pressão intramedular e do sistema canalicular do trabeculado ósseo → interrupção do suprimento sanguíneo e necrose óssea. • O abscesso se expande através dos canais de Havers e Volkmann, desde a cavidade medular até a superfície externa → deslocamento do periósteo. Manifestações: • Osteomielite hematogênica: o Crianças: início abrupto, dor, calor, rubor e aumento de volume no local afetado, podendo ou não haver febre alta e prostração. ▪ Mais frequente em região metafisária de ossos longos → fêmur, tíbia. o Adultos: coluna vertebral nos seguimentos torácico distal e lombar, sendo raro na cervical. ▪ Insidioso, dor na região da coluna que piora com movimentação, tosse e espirro. ▪ Pode haver febre. ▪ Caracteristicamente há o envolvimento de 2 vertebras adjacentes e subsequente disco intervertebral entre elas. ▪ Lombar comprometida pode dar dor abdominal. • Osteomielite secundária a um foco infeccioso contíguo: o Fratura exposta. 58 Gustavo Urzêda Vitória o Cirurgias ortopédicas. o Infecção de partes moles, especialmente mãos e pés. o Mandíbula pode ser invadida por abscessos dentários. o Infecção de seios paranasais, especificamente o etmoide e o frontal, eventualmente se propagando ao osso frontal, o que pode provocar sinais de aumento de pressão intracraniana devido à formação de abscessos epi e subdurais. o Após fraturas expostas ou cirurgias de osteossíntese → dor, febre e formação de pus → insidiosa por meses ou anos até manifestação clínica. • Osteomielite secundária à insuficiência vascular: o Doença vascular periférica grave, especialmente em diabéticos. o Principalmente nos pés. o Lenta e gradual, com dor e inchaço local, ou úlcera indolor causada por neuropatia periférica. o Geralmente não tem febre. • Osteomielite tuberculosa: o 60% dos casos apresentam evidências clínicas de comprometimento extraesquelético. o Geralmente de origem hematogênica. Sendo raro por contiguidade um linfonodo caseoso. o Metáfise de ossos longos em crianças e esqueleto axial (coluna torácica) em adultos. o Inicia na porção anterior do corpo vertebral e progressivamente destrói o disco intervertebral e se propaga para corpos vertebrais adjacentes, podendo se formar um abscesso paravertebral envolvendo vários segmentos. o Evolui lentamente por anos, antes de ser detectada. • Outros tipos: o Infecção da articulação esternoclavicular: usuários de drogas injetáveis. o Ferimentos puntiformes na região do calcanhar: osteomielite do calcâneo, geralmente por P. aeroginosa. o Cirurgias cardíacas: esterno, pelo Staphylococcus coagulase- negativo. o Algumas doenças dermatológicas (acne conglobata, pustulose palmoplantar): múltiplos ossos, com cultura óssea negativa e regressão espontânea após vários meses. o AIDS: uma das complicações musculoesqueléticas mais comuns. Exames: • Laboratoriais: o Hemograma: não é confiável, pois pode estar normal, principalmente em crianças e idosos. o VHS: aumento tardio, durante o curso da doença. 59 Gustavo Urzêda Vitória o PCR: mais útil → sua concentração plasmática aumenta horas após o início da infecção, retornando ao normal depois de uma semana de tratamento satisfatório. • Imagem: o RX: só mostra sinais de destruição óssea e reação periosteal depois de 10-21 dias de evolução, antes só edema de partes moles adjacentes. o USG: coleções purulentas extraósseas e deslocamento periosteal. o TC e RM: destruição óssea, reação periosteal e comprometimento de partes moles (abscesso e edema). ▪ RN é melhor para partes moles. o Cintilografia óssea com leucócitos marcados com índio-111 ou tecnécio-99m: alta sensibilidade e especificidade, porém o uso é limitado. o Cintilografia convencional: pouco específica → falso + em neuroartropatia de Charcot, gota, traumatismo e pós-operatório. o Hemocultura é positiva somente na hematogênica e em uma baixa porcentagem dos casos. • Punção e biópsia: o Isolamento do microrganismo estabelece diagnóstico e tratamento definitivo. Tratamento: • Uso profilático de ATB em pacientes submetidos a cirurgias ortopédicas. o Profilaxia em operações de osteossíntese de fraturas fechadas: cefalosporinas de primeira ou segunda gerações ou penicilinas, EV, desde 30 min antes da incisão da pele até, no máximo, 24h após o ato cirúrgico. 60 Gustavo Urzêda Vitória o Fraturas expostas: mesmos ATB, sendo que a operação deve ser no máximo 6h após o trauma e não haja comprometimento extenso de partes moles. • Diagnosticada osteomielite: o ATB associada ou não à limpeza cirúrgica e estabilização do osso. o Por 4-6 semanas. o Enquanto espera os resultados das culturas, ATB empírico. o Penicilina G para S. aureus sensível. ▪ Se for resistente: nafcilina. ▪ Se evoluir para crônica: vancomicina. o S. pneumoniae resistente a penicilina G: vancomicina ou cefotaxima. o Enterococos: ampicilina. o Gram -: ciprofloxacino. o P. aeroginosa: ceftazidima. o Anaeróbios: clindamicina. o Limpeza cirúrgica, com drenagem de abscessos e remoção de implantes, osso necrótico e tecidos desvitalizados: sempre que houver formação de pus, detectada no momento da punção, ou quando o ATB não é capaz de deter a progressão da infecção. o Crônica: formação de sequestro (fragmento do osso necrótico envolto em pus) e invólucro (neoformação óssea ao redor do sequestro) → intervenções cirúrgicas múltiplas até erradicação do foco, além de reconstrução dos espaços mortos criadospelas limpezas sucessivas. - Abdome agudo inflamatório: Abdome agudo: • Síndrome clínica caracterizada pelo surgimento súbito de dor de forte intensidade, não associada a trauma, com necessidade de assistência médica clínica/cirúrgica. • Duração em torno de 6h. • Pode estar associada a outras manifestações locais e/ou sistêmicas de gravidades variáveis. Características: • Dor insidiosa, inicialmente difusa, mal caracterizada (tipo protopática) → tornando-se localizada com a evolução do quadro (dor epicrítica). • Dor é contínua e progressiva → vai aumentando de intensidade com o decorrer do tempo. • A localização da dor, geralmente, sugere o diagnóstico etiológico. • Podem surgir sintomas associados, como náuseas, vômitos, mal estado geral e febre. o Sinal muito importante e frequente nesse tipo de abdome agudo. o Inicialmente é baixa, e vai aumentando com a evolução do quadro. 61 Gustavo Urzêda Vitória • Pode ocorrer parada de eliminação de flatos e fezes → íleo paralítico secundário a peritonite. o Podendo evoluir para abdome agudo obstrutivo. Diagnóstico: • Dor abdominal: o Caracterizar com exame clínico. • Exames complementares básicos: RX rotina de abdome agudo (tórax e abdome em ortostatismo e em decúbito), hemograma, PCR, ureia, creatinina, eletrólitos, amilase, lipase, beta-HCG em mulheres. • Exames de imagens complementares: USG, TC, RN. • Pode ser feito laparotomia ou laparoscopia para diagnóstico e tratamento. Complicações: • SIRS: síndrome da resposta inflamatória sistêmica. • Sepse: SIRS + infecção + disfunção orgânica (SOFA maior ou igual a 2). 62 Gustavo Urzêda Vitória • Choque séptico: sepse refratária a reposição de volume, necessitando de drogas vasoativas. Exemplos: • Apendicite. • Colecistite. • Diverticulite. • Pancreatite.