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APARELHO RESPIRATÓRIO EM PEDIATRIA

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APARELHO RESPIRATÓRIO EM PEDIATRIA 
 
ALLANA MOULIN – MEDICINA UFES 
 
Algumas particularidades na criança que devem ser levadas em consideração na 
consulta pediátrica. A criança possui: 
 Língua maior 
 Mandíbula menor; 
 Respiração nasal; 
 Formato de laringe em “funil” 
 Musculatura menos desenvolvida; 
 Diafragma horizontal; 
 Maior frequência respiratória; 
 Maior susceptibilidade a fadiga: cansa mais fácil que o adulto; 
 
As vias aéreas condutoras são proporcionalmente maiores que as respiratórias, ou 
seja, tem menos alvéolos. O pulmão da criança tem cerca 24 milhões de alvéolos ao 
nascimento, ao passo que aos 8 anos tem cerca de 300 milhões. Por isso são mais 
susceptíveis aos problemas respiratórios. 
 
PRINCIPAIS SINTOMAS E SINAIS RELACIONADOS AO APARELHO RESPIRATÓRIO: 
 Tosse; 
 Taquipneia; 
 Dispneia; 
 Apneia; 
 Expectoração 
 Estridor; 
Criança raramente tem dor torácica e geralmente quando tem é mais 
relacionada a desconforto gástrico. 
TOSSE: é um dos sintomas mais comuns observados em crianças com doença 
pulmonar. 
 Manobra expiratória forçada, a qual expele o muco e material estranho das vias 
aéreas; 
 Ocorre a partir da estimulação; 
 Deve-se sempre caracterizar bem a tosse, pois todo o raciocínio clínico parte 
disso. Deve-se classificar da seguinte forma: 
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EXPECTORAÇÃO: as vias aéreas saudáveis da criança produzem em média 100 mL 
de muco por dia, que é normalmente deglutido ou expectorado. Doenças das Vias 
aéreas podem aumentar anormalmente a produção de muco, o qual estimula os 
receptores da tosse, gerando uma tosse. Sempre se atentar a: 
 
EXAME FÍSICO NA PEDIATRIA 
Do ponto de vista respiratório, começa com inspeção, apenas olhando a criança (de 
preferência no colo da mãe), depois ausculta, palpa e percute. Ou seja, o exame físico 
aqui difere na ordem do exame físico no adulto. Sempre aproveitar a criança no colo 
da mãe o máximo possível (ausculta, olhar mucosas, aferir temperatura, FC, FR, olhar 
pés e mãos; e quando finalizar esses, deitar a criança na maca tentando distraí-la para 
realizar demais técnicas- que nem sempre serão possíveis de serem realizadas). 
 
Lembrar sempre de observar e descrever: cicatriz de BCG (em crianças com sintomas 
respiratórios, a ausência de cicatriz de BCG é um fator que chama muita atenção para 
tuberculose), cornetos nasais e tonsilas palatinas (quando ela está muito grande gera 
ruídos respiratórios); 
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Cicatriz de BCG em criança pequena. 
PALPAÇÃO NA CRIANÇA: a semiotécnica não ocorre da mesma forma que no adulto. 
PERCUSSÃO: o normal é um som claro atimpânico. 
 
AUSCULTA: sempre auscultar o tórax do bebê no colo da mãe! 
 Com ele nessa posição! 
Às vezes, com o desconforto, não é possível auscultar a criança e deve-se anotar isso 
na anamnese. 
 
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Uma das coisas mais difíceis na pediatria é aferir sinais vitais. O ideal é identificar se os 
padrões da criança estão normais ou anormais. 
DISPNÉIA 
 
A má formação mais frequente nas crianças é cardíaca! Se chegar uma mãe queixando 
que o bebê se cansa ao mamar ou que ele muda de cor ao mamar, isso não é normal! 
Deve-se pesquisar por má formação cardíaca – cardiopatias congênitas-, 
principalmente. Geralmente as manifestações da cardiopatia surgem nas primeiras 
semanas de vida. 
A criança manifesta desconforto respiratório diferentemente do adulto. A 
manifestação na criança é por tiragens subcostais e intercostais e gemidos 
inspiratórios. 
 
 
 
 
 
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CLASSIFICAÇÃO DA DISPNÉIA NA CRIANÇA: 
 
Sonolência, vômitos incoercíveis, dispneia: pensar também em cetoacidose diabética. 
Em criança, diferentemente do adulto, não se avalia dificuldade respiratória por 
cianose! Muitas vezes ele não tem, mas apresenta as tiragens e gemidos. 
APNÉIA 
 
Quando acaba de avaliar a criança tem que descrever o exame do aparelho 
respiratório. Exemplo: 
 
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Ou escrever: criança extremamente irritada, chorosa, foi possível apenas realizar XXX, 
mas aparentava FR normal, etc. NUNCA INVENTAR UM EXAME FÍSICO OU REPETIR O 
DE OUTRA CONSULTA. 
 
RESUMO: com a criança no colo da mãe: Ausculta – olha mucosa- conta FC- avalia a 
pele (coloração, etc, antes dela chorar), temperatura, mãos, pés, circunferência de 
cabeça – Depois que avaliar tudo que puder com o bebê no colo da mãe, deita ele na 
maca e faz o que for possível (pesar, palpar, etc.). 
 
APNEIA IDIOPÁTICA DA PREMATURIDADE: trata-se de uma desordem do controle 
respiratório. É rara no primeiro dia de vida, começa do segundo e dura até o sétimo 
dia; acomete recém nascidos de menos de 34 semanas, por isso todos os RN com 
menos de 34 semanas devem ser monitorados. 
Quadro clínico: interrupção do fluxo de ar por um período igual ou superior a 20 
segundos, ou por um período de menor duração, se acompanhado de bradicardia 
(FC<100) ou hipoxemia/queda da saturação. 
O diagnóstico de apneia idiopática da prematuridade só pode ser feito após descartar 
outras possíveis etiologias patológicas (hipoglicemia, hipocalcemia, hipermagnesemia, 
sepse, drge, anemia, etc). 
Outras causas de apneia: prematuridade; infecção (sepse, meningite, enterocolite 
necrosante); instabilidade térmica; refluxo gastroesofágico; pós-anestésico; 
oxigenação deficiente (hipoxemia, anemia, choque); drogas maternas e fetais; distúbio 
metabólico ( hipoglicemia, hipocalcemia, hiponatremia, hipernatremia/desidratação). 
MANEJO DA APNEIA DO RECÉM NASCIDO 
 
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SÍNDROME DO DESCONFORTO RESPIRATÓRIO DO RECÉM-NASCIDO: é uma doença 
decorrente da imaturidade pulmonar por deficiência quantitativa e qualitativa de 
surfactante pulmonar e desenvolvimento estrutural incompleto do pulmão. Pode 
evoluir com diferentes graus de insuficiência respiratória. 
Fatores que aumentam o risco: 
 
A deficiência de surfactante é a causa primária da SDR. Embora comecem a ser 
produzidos a partir da 20ª semana de gestação, os níveis adequados de surfactante 
pulmonar estão frequentemente presentes depois de 35 semanas de IG. 
Obs.: em filhos de mães diabéticas, o hiperinsulinismo fetal, secundário à hiperglicemia 
materna, parece estar associado ao retardo da produção de surfactante pulmonar e à 
hipoxemia fetal crônica. 
QUADRO CLÍNICO: *geralmente surgem nos primeiros minutos de vida*. FR rápidas 
(>60irpm). Caso não seja tratado, há piora progressiva com cianose e dispneia: tiragem 
intercostal, subcostal e de fúrcula, gemência e batimento de asa de nariz, queda de PA. 
Em geral, os sintomas e sinais alcançam o pico em 3 dias, ocorrendo, após, melhora 
gradual, já que a partir de 48 horas de vida ocorre o aumento da produção endógena 
de surfactante pulmonar nos prematuros. 
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DIAGNÓSTICO: quadro clínico + RX de tórax + gasometria arterial. Ao RX = pouca 
expansão pulmonar, infiltrado micronodular difuso “em vidro moído” e broncogramas 
aéreos. 
 
 
Aos exames laboratoriais, o RN apresenta: hipoxemia, hipercapnia e acidose 
metabólica. Mas como diferenciar de sepse? Coletando triagem infecciosa: 
hemograma, hemocultura e proteína C reativa. 
Como prevenir a SDR em RN? Administração de duas doses de corticoesteroide para 
gestantes entre 24 e 34 semanas, 48 horas antes do nascimento, reduz a incidência, a 
mortalidade e a morbidade. A administração de dose do surfactante endotraqueal no 
prematuro sintomático, imediatamente após o nascimento ou durante as primeiras 
horas de vida reduz as perdasde ar (pneumotórax) e a mortalidade relacionada. 
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TRATAMENTO: CPAP nasal à pressão de 5 a 7 cmH2O (quando não conseguir mater a 
paO2 acima de 50mmHg com FiO2). Caso seja necessário, deve-se aplicar a primeira 
dose de surfactante exógeno durante as primeiras 2 horas de vida e suspender a dieta, 
realizar hidratação venosa por 24horas, manter a temperatura corpórea próxima de 
36,5º - jamais acima de 36. Se mesmo com o CPAP, a paO2 não seja maior que 
50mmHg, é necessária ventilação mecânica. 
As indicações de ventilação mecânica na SDR são: 
 
 
OBS.: visto a dificuldade de distinguir uma infecção pelo Streptococcus do grupo B da 
SDR, antibióticos são sempre indicados, até que os resultados das hemoculturas 
estejam disponíveis. 
COMPLICAÇÃO- DISPLASIA BRONCOPULMONAR: é uma doença pulmonar crônica que 
acomete, em geral, prematuros submetidos à oxigenoterapia e à ventilação mecânica 
nos primeiros dias de vida. A BDP deve ser ocnsiderada em qualquer neonato que 
permaneça dependente de oxigênio em concentrações acima de 21¢ por um período 
de 28 ou mais dias. 
 
Aspecto radiológico da DBP: pequenas áreas arredondadas, radiolucentes, alternando 
com áreas de densidade irregular, à semelhança de uma esponja. 
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A extubação precoce e a transição para CPAP nasal são estratégias que diminuem o 
risco do desenvolvimento de DBP, cujo tratamento inclui: suporte nutricional, restrição 
de líquidos, terapia com diuréticos, manutenção de oxigenação adequada e atenção 
para o tratamento de qualquer infecção. 
 
TAQUIPNEIA TRANSITÓRIA DO RECÉM NASCIDO: acomete principalmente recém-
nascidos de parto cesárea sem que o trabalho de parto tenha se iniciado. A doença é 
causada pela presença de transudato alveolar, o que acarreta distúrbio de troca gasosa 
no capilar. 
QUADRO CLÍNICO: caracteriza-se pelo início precoce de taquipneia e, as vezes, de 
intensa dispneia, já na sala de parto. A presença de cianose frequentemente pode ser 
aliviada com FiO2 abaixo de 40%. Seu quadro clínico é mais suave e de menor duração 
quando comparada à síndrome do desconforto respiratório. Não é comum observar 
hipoxemia, hipercapnia e acidose. 
Como diferenciar da SDR favorecendo a taquipneia transitória?: recuperação súbita da 
criança; duração de até 72 horas do quadro clínico (raramente até 5 dias); padrão 
radiológico = infiltrado perihilar com trama vasculobrônquica aumentada associada à 
demarcação de cisuras interlobulares. 
 
TRATAMENTO: adequação da oferta hídrica, jejum se necessário, manutenção do 
equilíbrio acidobásico, manutenção da temperatura e oxigenoterapia. 
 
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SÍNDROME DE ASPIRAÇÃO MECONIAL: Síndrome que pode provocar quadros graves 
de insuficiência respiratóia determinada pela quantidade de mecônio no parênquima 
pulmonar e pela frequente associação à hipertensão pulmonar persistente. 
Fatores de risco: pós maturidade, feto com apresentação pélvica e asfixia perinatal. 
QUADRO CLÍNICO: obstrução das pequenas vias aéreas por mecônio pode produzir: 
taquipneia, retrações intercostais, gemido e cianose, em alguns casos hipoxemia 
resistente. A obstrução parcial de algumas vias aéreas pode levar apneumotórax, 
pneumomediastino ou ambos. 
Ao RX = infiltrados, aumento do diâmetro anteroposterior do tórax e retificação do 
diafragma. 
 
TRATAMENTO: deve-se iniciar ventilação com pressão positiva o mais precocemente 
possível. O tratamento da pneumonia gerada pela aspiração meconial inclui terapia de 
suporte e manejo do estresse respiratório. 
 
 
 
 
 
 
 
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