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o paciente se infectou há menos de três anos. quase sempre uma doença autolimitada. faixa etária mais comum: crianças. LEMBRAR: 1. 2. 3. É encontrado principalmente nas crianças recém-infectadas, predominando naquelas com idade < 4 anos, com forte predisposição à adenopatia hilar e mediastinal. Os sintomas acompanham os achados radiológicos, aparecendo, geralmente, logo após a viragem tuberculínica, isto é, entre 2-10 semanas após a primoinfecção. Os sintomas mais frequentes são febre baixa (38-39o C) e tosse seca. Mesmo sem tratamento, a síndrome febril da tuberculose primária dura em média 14-21 dias, podendo chegar até 2-3 meses. O estado geral costuma estar preservado; outros sintomas, como fadiga e dor torácica são incomuns. A dor pleurítica sugere pleurite tuberculosa, um evento relativamente comum no contexto da tuberculose primária em adultos. A ativação do sistema imunológico na tuberculose primária pode levar, numa minoria de pacientes (< 5% dos casos), a três tipos de reação a distância: eritema nodoso, conjuntivite flictenular e uma síndrome poliarticular (artrite/artralgia). O eritema nodoso é uma vasculite subcutânea, apresentando-se como múltiplos nódulos dolorosos com superfície eritematosa, de predomínio na superfície extensora dos membros. Todas essas reações tendem a ser autolimitadas. Apesar de o quadro clínico ser inespecífico, os achados radiológicos são extremamente sugestivos! O exame radiológico revela tipicamente uma adenopatia hilar e/ou mediastinal ipsilateral ao foco primário. Este foco se localiza mais comumente no lobo médio (pulmão direito), mas pode ser descrito em qualquer TB PRIMÁRIA MANIFESTAÇÕES CLINICORADIOLÓGICAS TUBERCULOSE PULMONAR Bruna Lago segmento pulmonar (30% no lobo inferior e 10% no lobo superior). No local do foco, a radiografia geralmente mostra um pequeno infiltrado (FIG 1) que pode eventualmente ser nodular (nódulo de Ghon). Aqui vale ressaltar: a tuberculose primária é a causa mais comum de adenopatia hilar/mediastinal unilateral em crianças! A adenopatia pode ser bilateral em 15% dos casos, confundindo o diagnóstico com outras patologias, como a sarcoidose. Os achados radiológicos da tuberculose pulmonar primária tendem a desaparecer ao longo de seis meses a um ano, mesmo sem tratamento específico. O foco primário regride, muitas vezes deixando uma “marca” ou “cicatriz”, representada por um nódulo pequeno, geralmente calcificado – o “TUBERCULOMA”. Este nódulo poderá ser visto na radiografia de tórax para o resto da vida. COMPLICAÇÕES − Atelectasia, devido à compressão de um brônquio pela adenopatia hilar – Figura 2; − Pneumonia tuberculosa, devido à ruptura de um linfonodo infectado para dentro de um brônquio – Figura 3; − Evolução para a forma linfo-hematogênica (miliar), mais comum em crianças < 2 anos não vacinadas pelo BCG; − Evolução para a forma primária progressiva. Ocorre principalmente nas crianças desnutridas e nos indivíduos HIV+. (Figura 4). O quadro é o de uma pneumonia multilobar necrosante, de curso arrastado e sem resposta aos antibióticos convencionais. é a forma crônica de tuberculose pulmonar. típica de indivíduos entre 15-40 anos. forma responsável pela transmissão da doença na população. LEMBRAR: 1. 2. 3. Esta forma de tuberculose ocorre em pacientes infectados há mais de três anos (geralmente há mais de cinco anos) e que, portanto, já desenvolveram a “memória imunológica” contra o bacilo. São PPD positivos há bastante tempo. Por razões pouco conhecidas, um ou mais focos bacilares hematogênicos localizados no interstício pulmonar são reativados (focos de Simon). Outras vezes, o paciente é reinfectado (uma nova carga de bacilos). A resposta imunológica é imediata, porém “exagerada” e ineficaz... Macrófagos ativados, em conjunto com linfócitos T helper, reagem intensamente para formar o infiltrado granulomatoso (Figura 5) evoluindo geralmente para necrose caseosa em seu interior. Logo ocorre liquefação do material, por ação de enzimas proteolíticas secretadas pelas células inflamatórias do granuloma. No cáseo liquefeito, o bacilo consegue se multiplicar em larga escala. Pela erosão da parede brônquica, o ar (rico em O2 ) penetra na lesão, criando a “caverna tuberculosa” – o meio ideal para a proliferação bacilar (Figura 6). Dizemos que o paciente é MULTIBACILÍFERO. O conceito fundamental é: a maioria desses pacientes é oligossintomática! A principal queixa é a tosse crônica, que pode ser seca, mucoide ou com expectoração purulenta, associada ou não a hemoptoicos. Ao longo de vários meses, ele vai perdendo peso e muitos relatam febre vespertina (38- 38,5ºC) e sudorese noturna. Quando o médico é procurado, a doença já evoluiu, e pior: o paciente já contaminou várias pessoas (uma média de quinze), geralmente crianças. Os exames laboratoriais podem revelar uma anemia leve, normocítica normocrômica (anemia de doença crônica), aumento TB PÓS-PRIMÁRIA importante da VHS, raramente uma leucocitose neutrofílica oulinfocítica (de até 15.000/mm3 ), monocitose ou monocitopenia, elevação de enzimas hepáticas e eventualmente hiponatremia por SIADH. A evolução do processo pulmonar é para disseminação broncogênica. Daí vão surgindo novos infiltrados, do mesmo lado ou contralaterais – Figura 7 e Figura 8. A “imagem em escada”, característica desta forma de tuberculose, é a presença de um infiltrado no lobo superior (onde se encontra a cavidade) e de um infiltrado no lobo inferior contralateral, por disseminação broncogênica. A presença de linfadenopatia hilar e/ou mediastinal NÃO é característica do quadro pós-primário, pelo menos nos pacientes HIV negativos. COMPLICAÇÕES: Ao contrário da tuberculose pulmonar primária, a forma pós-primária não é autolimitada. A doença tende a progredir lentamente, disseminando-se pelos pulmões. Na tentativa de resolver o processo tuberculoso, o sistema imunológico acaba ativando fibroblastos, causando fibrose parenquimatosa das áreas acometidas, especialmente o local onde está a lesão cavitária. A fibrose pulmonar provoca destruição irreversível da área afetada. Consequentemente, graves sequelas surgirão: retrações, bronquiectasias, cavidades com paredes fibrosadas (possíveis focos para o aspergiloma – fungus ball) e pulmão vicariante (Figura 9). Quando a fibrose é extensa, o paciente evolui com dispneia e posteriormente com cor pulmonale e insuficiência respiratória. Os bacilos expelidos de uma cavidade infectada podem infectar a parede de um brônquio, levando à tuberculose endobrônquica, (e pode acarretar complicações como estenose brônquica (com atelectasia), broncorreia (> 500 ml/ dia de expectoração) e/ou hemoptise) ou a própria laringe, causando a tuberculose laríngea (manifesta-se como rouquidão). Apesar do escarro hemoptoico (raias de sangue) ser frequentemente notado, franca hemoptise não é comum. A “caverna tuberculosa” pode se estender para a pleura, com risco de se formar uma fístula broncopleural. A consequência imediata é o pneumotórax. Neste caso, um número absurdamente alto de bacilos pode atingir o espaço pleural, culminando num empiema tuberculoso. O aspecto radiológico é o de um hidropneumotórax (Figura 10). Se não for tratado com drenagem precoce, o empiema tuberculoso pode deixar as mesmas sequelas que um empiema pleural bacteriano (encarceramento pulmonar). A TC de tórax pode ajudar nos casos de tuberculose pulmonar pós- primária incipiente, quando a radiografia de tórax pode ser considerada normal. Veja na TC abaixo a presença de nódulos esparsos e imagens de infiltrado do tipo “brotos de árvore” ou “brotamento”, característicos da doença – Figura 11. Quando um adulto desenvolve a forma primária da doença, pode seguir um curso semelhante ao da infância, porém com uma importante diferença: na maioria das vezes, não há adenopatia hilar e/ou mediastinal (a não ser no paciente HIV positivo). O adulto é mais propenso à tuberculose pleural primária do que à tuberculose pulmonar primária. Todavia, pacientes diabéticos, gastrectomizados, desnutridosou HIV positivos possuem uma chance maior de adoecer após a primoinfecção! Eles podem se apresentar como uma pneumonia atípica, com pequeno infiltrado unilateral ou com uma forma primária progressiva (broncopneumonia tuberculosa). Às vezes, após a primoinfecção, o adulto desenvolve a forma apical semelhante à tuberculose pós-primária. Nestes casos, é provável que o foco primário tenha sido controlado, mas o período de latência foi curto, havendo uma reativação precoce do foco intersticial no lobo superior. TB PRIMÁRIA DO ADULTO O paciente HIV positivo tem uma chance aumentada de desenvolver tuberculose-doença (risco 30 vezes maior que o imunocompetente). O mecanismo pode ser a reativação, reinfecção ou infecção primária (viragem tuberculínica). Quando o CD4 está acima de 200 células/mm3 , a tuberculose pulmonar tende a se apresentar de forma semelhante à tuberculose do imunocompetente, com a forma cavitária predominando no adulto. Na imunodepressão grave, isto é, CD4 < 200 céls/ mm³, a tuberculose pulmonar possui um quadro clinicorradiológico atípico! Neste grau de imunodepressão podemos encontrar alterações semelhantes as da pneumocistose, como um infiltrado intersticial difuso. Derrame pleural e adenopatia hilar/mediastinal também passam a ser mais frequentes... Os linfonodos são facilmente reconhecidos na TC pela sua típica captação periférica de contraste e atenuação da densidade no centro. TB NA AIDS Recomenda-se que serviços de saúde em todos os níveis (primário, secundário e terciário), públicos ou privados, sejam estruturados para a realização permanente de busca ativa de Sintomáticos Respiratórios (SR), isto é, os médicos SEMPRE devem investigar a presença de tosse (qualquer que seja o motivo da consulta) e solicitar exame do escarro nos indivíduos SR! SR é todo indivíduo com tosse por tempo ≥ 3 semanas. Em populações com maior vulnerabilidade para TB, a definição muda... Por exemplo: presidiários serão considerados SR quando apresentarem tosse por ≥ 2 semanas. Já os profissionais de saúde, portadores do HIV, indígenas e moradores de rua são considerados SR com tosse de qualquer duração! TB PÓS-PRIMÁRIA (ADULTO) Formalmente, a confirmação diagnóstica de tuberculose REQUER a demonstração da presença do BK no corpo do paciente. Por conseguinte, apenas três métodos são capazes de confirmar em definitivo o diagnóstico: (1) teste rápido molecular; (2) baciloscopia; e (3) cultura. Não obstante, existe a possibilidade de considerarmos o diagnóstico de TB – e iniciarmos o tratamento – mesmo sem confirmação micobacteriológica. É o que se chama de diagnóstico clinicoepidemiológico, definido como a situação em que um paciente adulto com quadro clínico típico, no contexto epidemiológico apropriado, por qualquer motivo, não puder comprovar por meio de exames laboratoriais a presença do BK... Em tal cenário, é preciso que outros testes corroborem a impressão inicial, por exemplo: exames de imagem, histopatológico etc. 1.1- Teste Rápido Molecular (TRM-TB) O TRM-TB é um teste de amplificação gênica que utiliza a técnica de Reação em Cadeia da Polimerase (PCR). Ele detecta especificamente a presença de DNA do M. tuberculosis (e não de outras micobactérias), ao mesmo tempo em que sinaliza a existência de genes que conferem resistência à rifampicina. Atenção: mais de 80% dos BK resistentes à rifampicina TAMBÉM são resistentes à isoniazida. A resistência a essas duas drogas caracteriza a TB-MDR (multirresistente). 1.2- Baciloscopia A baciloscopia consiste na pesquisa direta do bacilo de Koch através do exame microscópico. O método de Ziehl-Neelsen é a técnica de coloração mais utilizada. Quando o material analisado for o escarro, devem ser coletadas duas amostras em momentos DIAGNÓSTICO distintos (uma na consulta, e a outra na manhã do dia seguinte). A baciloscopia também pode ser empregada em materiais biológicos que não o escarro (ex.: outros fluidos orgânicos, tecido de biópsia ou peça cirúrgica). É importante compreender que, nestes casos, a sensibilidade é sempre mais baixa, sendo obrigatória a realização conjunta de cultura para BK... Como no paciente com suspeita de TB extrapulmonar devemos considerar a possibilidade de TB pulmonar associada, além de baciloscopia + cultura do material biológico em questão, é preciso solicitar também duas amostras de escarro conforme anteriormente descrito. Uma baciloscopia positiva em qualquer amostra indica tuberculose ativa!! A baciloscopia é o exame de escolha para acompanhar a resposta terapêutica na TB pulmonar bacilífera, uma vez que sua negativação representa o parâmetro mais confiável para demonstrar a eficácia do tratamento. 1.3- Cultura + TSA A cultura para BK possui elevada sensibilidade e especificidade, podendo ser realizada em meios sólidos ou líquidos. As principais vantagens desses meios são o baixo custo e a menor chance de contaminação, sendo sua grande desvantagem a demora para o crescimento micobacteriano (14 a 30 dias, podendo se estender até 60 dias). Os meios líquidos permitem incubação em sistemas automatizados, e têm como vantagem um resultado mais rápido (5 a 12 dias, podendo se estender até 42 dias). Seu custo, no entanto, é bem mais elevado. Toda cultura positiva deve ser submetida ao TSA (Teste de Sensibilidade Antimicrobiana). Por padrão, os fármacos inicialmente testados são: rifampicina, isoniazida, etambutol e estreptomicina. Se alguma resistência for encontrada, a amostra deverá ser enviada a um laboratório de referência para testagens adicionais, com pesquisa de sensibilidade às drogas de segunda linha, como canamicina, amicacina, capreomicina e ofloxacina. O TSA pode ser realizado em meio sólido ou líquido. A criança com TB primária é tipicamente paucibacilar e, portanto, o estudo do escarro (quando possível a sua coleta) costuma ser negativo, mesmo com a utilização do TRM-TB, que é menos sensível nesta população. Desse modo, o diagnóstico em crianças < 10 anos pode ser CONFIRMADO por uma análise conjunta de critérios clínicos, radiológicos e pela PT. Medcurso 2018 - Pneumologia