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Roxanne Cabral – M8 – 2020.1 – Emergência 1 EXACERBAÇÃO DA ASMA Objetivos da aula Definição A asma é uma doença inflamatória crônica e intermitente das vias aéreas, caracterizada por exacerbações de dispneia, tosse, sibilos, obstrução var iável e hiper-responsividade das vias aéreas. Normalmente é reversível, mas pode ser grave e fatal. Exacerbações são episódios de piora dos sintomas que usualmente são progressivos, mas que podem em um subgrupo de pacientes se apresentar agudamente. Fisiopatologia A fisiopatologia da asma é complexa e implica diversos mecanismos. Dentre esses, provavelmente o mais importante é aquele relacionado com uma inflamação crônica das vias aéreas. Essa inflamação implica hiper- reatividade da musculatura lisa de vias aéreas. Piora do processo inflamatório e contração da musculatura lisa das vias aéreas podem ser precipitadas por exposição a alérgenos, poeira, agentes químicos, infecções virais e fatores não identificados. Os níveis séricos de IgE desses pacientes frequentemente estão aumentados, o que sugere uma crônica ativação da imunidade humoral Asma Exacerbada Temos que buscar o gatilho na anamnsese dirigida. O mais comum fator precipitante de exacerbação da asma é infecção viral. O paciente costuma apresentar quadro de poucos dias de duração, com piora progressiva e sintomas associados, como coriza e dor de garganta. Estima-se que cerca de 80% das exacerbações de asma sejam desencadeadas por infecções virais das vias aéreas. Os agentes mais frequentes são os rinovírus, influenza-vírus, vírus respiratório sincicial, entre outros. A exposição a aeroalérgenos e as mudanças climáticas também são fatores precipitantes e podem desencadear a exacerbação da asma mais rapidamente (apenas algumas horas). Infecções (M. pneumoniae, C. pneumoniae e outras bactérias), uso de algumas medicações (em particular o ácido acetilsalicílico e β-bloqueadores), estresse emocional e exercício físico também são causas de exacerbação de asma. Diagnóstico Diferencial Condições que cursam com dispneia... Roxanne Cabral – M8 – 2020.1 – Emergência 2 O diagnóstico em geral é fácil, especialmente quando há uma história familiar ou pessoal positiva de alergia. Situações que podem ser confundidas com asma são: Obstrução de vias aéreas superiores: edema de laringe, tumor, corpo estranho etc. Há presença de estridor laríngeo e dificilmente há sibilos bilaterais. Entretanto, ocasionalmente, pode ser necessária uma laringoscopia indireta ou broncoscopia. Disfunção de glote: há um estreitamento de glote durante a inspiração e expiração, produzindo graves episódios de obstrução parcial de vias aéreas. Pode ocorrer retenção de CO2; entretanto, não costuma ocorrer hipoxemia (diferente da asma). O diagnóstico é confirmado pela visualização da glote durante um episódio agudo. Caso o paciente esteja fora de um episódio agudo, o encontro de glote normal não exclui o diagnóstico. Doença endobrônquica: pode se manifestar com paroxismos de tosse, dispneia e sibilos localizados em um dos hemotórax. As causas são: tumor, estenose ou corpo estranho. Insuficiência cardíaca descompensada: pode levar a sibilos bilaterais. Entretanto, na insuficiência cardíaca costumam surgir: galope por B3, crepitações, escarro sanguinolento e outros sinais e sintomas que apontam para o coração como causa dos sibilos ("asma cardíaca"). Pneumonia eosinofílica: frequentemente associada com sintomas asmáticos. Vasculites sistêmicas: especialmente a granulomatose eosinofilica com poliangeíte (Churg-Strauss) (vasculite, infiltrado intersticial e eosinofilia) pode levar a sibilos difusos. Tumor carcinoide, embolia pulmonar ou DPOC: podem se manifestar com sibilos recorrentes. Outros: pneumonias relacionadas a agentes químicos ou exposição a drogas (colinérgicas ou inseticidas) podem ser confundidas com asma. Avaliação Inicial Conduta imediata para paciente de alto risco: Confusão ou rebaixamento do nível de consciência e tórax silencioso são indicações de entubação orotraqueal, sem aguardar a eficácia de outras medidas como a terapia inalatória. . Manejo da Asma Exacerbada Gasometria só é solicitada em pacientes mais graves. Ao chegar, devemos de imediato proceder com a oximetria do paciente. Quadro Clínico A asma é caracterizada por uma tríade clínica composta por dispneia, opressão torácica e sibilância, sendo pelo menos um desses sintomas relatado em 90% dos pacientes. A dispneia relatada por eles durante a exacerbação de asma é a de sensação de incapacidade de conseguir fazer que o ar entre nas vias aéreas. Tosse é outro sint:oma comum acompanhando o quadro clinico. A história clínica pode identificar alguns achados que indiquem um maior risco de evolução desfavorável ou um episódio de exacerbação da asma potencialmente mais grave: Roxanne Cabral – M8 – 2020.1 – Emergência 3 Exame Físico O exame físico é de grande importância na avaliação das exacerbações de asma. A presença de sinais clássicos de obstrução, como sibilância, foi bom preditor de obstrução, mas a ausência desses sinais pode ser enganadora. Tórax com ausculta sem ruídos adventícios e diminuída ausculta do murmúrio vesicular pode, por exemplo, ser preditor de insuficiência respiratória ocasionada por grave obstrução ao fluxo aéreo ou por pneumotórax hipertensivo. O exame físico na exacerbação é importante não só para o diagnóstico, mas também para avaliar a gravidade do episódio. Manejo Clínico – Exames Complementares O diagnóstico de asma no departamento de emergência é clínico. Os exames complementares podem ajudar a classificar a gravidade da doença, sugerir complicações e fatores precipitantes associados. Radiografia de tórax: não necessita ser realizada rotineiramente, raramente modifica a terapêutica e só deve ser solicitada se houver indicação (suspeita de pneumonia, pneumotórax, derrame pleural etc.), em casos com indicação de internação e de paciente sem melhora esperada com o tratamento. Saturação arterial de origênio: deve ser verificada em todos os pacientes e, se hipoxemia presente, origênio suplementar deve ser prescrito para manter a SatO2 > 93%. Gasometria arterial: deve ser colhida em pacientes com hipoventilação, desconforto respiratório importante, VEF1 ou pico de fluxo ex:piratório (PFE) < 30% do predito. Os pacientes que apresentam PaCO2 > 42 mmHg têm potencial de gravidade importante; PaCO2 > 45 mmHg representa uma indicação de internação hospitalar em unidade de terapia intensiva, pela gravidade associada. Hemograma: pode ser necessário na suspeita de infecção bacteriana. Eletrólitos: são indicados em casos com necessidade de internação. Podem ajudar a monitorar complicações da terapêutica, como a hipocalemia, que pode ocorrer quando há uso constante de β2-agonistas e altas doses de corticosteroides. Eletrocardiograma: pode ser útil se houver antecedentes de doença cardíaca, doença pulinonar obstrutiva crônka concomitante, entre outros. A realização de prova de função pulmonar ou pelo menos a aferição do pico de fluxo (peak flow) é de enorme benefício na exacerbação de asma monitorados no serviço de emergência. A estimativa realizada por parâmetros clínicos da gravidade da obstrução clinica pode ser equivocada. Peak flow (PFE): é feito na emergência de forma rápida e serve para acompanhamento do paciente. RESUMO DO MANEJO CLÍNICO CLASSIFICAÇÃO DA EXACERBAÇÃOAPÓS A AVALIAÇÃO: Conduta Clínica - Asma Leve/Moderada & Grave - A primeira medida a ser feita em pacientes com exacerbações de asma é a oferta de β2-agonista (10 – 20 gotas de fenoterol ousalbutamol) e anticolinérgicos (20 a 40 gotas de Ipatrópio) – esses fármacos devem ser feitos em 3 doses de inalação em 1 hora (20/20 minutos). Além disso, Roxanne Cabral – M8 – 2020.1 – Emergência 4 proceder com oxigenoterapia por cateter nasal (1 a 3L/minutos) se saturação de O2 ≤92% ou indeterminada. Obs.: Fenoterol antigo berotec. O B2-agonista e o anticolinérgico devem ser feitos em nebulização com soro fisiológico. Β2-Agonistas O uso de β2-agonistas é a terapêutica imediata mais importante no manejo de broncoespasmo no departamento de emergência, e deve ser prescrito assim que o paciente chega à emergência. É importante ressaltar que o benefício com o β2-agonista inalatório é potencializado com o uso sequencial. Por isso, recomendam-se inalações a cada 15 ou 20 minutos, totalizando três inalações na primeira hora da chegada ao departamento de emergência. O β2-agonista mais amplamente disponível no Brasil é o fenoterol, embora seja o que mais causa eventos adversos; a dose é de 10 a 20 gotas diluídas em 3 a 5 mL de soro fisiológico. A preferência, entretanto, é por salbutamol: 2,5 a 5,0 mg (10 a 20 gotas) em nebulização com 3 a 5 mL de soro fisiológico. Os eventos adversos são dose-dependentes e incluem: taquicardia, palpitações, ansiedade, hipocalemia e tremores. Raramente, podem ocorrer arritmias, dor torácica e isquemia miocárdica. Anticolinérgicos A adição do brometo de ipratrópio ao salbutamol (ou fenoterol) é recomendado nas exacerbações graves. Nas exacerbações leves a moderadas, o ipratrópio pode ser considerado (em geral, acaba sendo usado também). A dose ideal de brometo de ipratrópio no departamento de emergência é de 5,0 mg ( 40 gotas) adicionada ao β2-agonista. REAVALIAÇÃO CLÍNICA Na reavaliação, avaliamos também a necessidade da continuidade com a terapia B2-agonista/anticolinérgico e início do corticosteroides. Houve melhora com o tratamento inicial? Sim, então a conduta é alta com recomendação; Não. Então devemos prescrever glicocorticoide (fazer IV somente se o paciente não tolerar por VO). - Se há broncoespasmo ainda intenso, podem ser prescritas novas inalações com B2-agonista/anticolinérgico de 1/1 hora e aumentar o espaçamento após. Glicocorticoides Os benefícios do uso de glicocorticoides mostrados nos estudos foram resolução mais rápida da obstrução ao fluxo aéreo e diminuição da taxa de recidiva. O seu uso é recomendado na exacerbação, sendo iniciado assim que o paciente é atendido e classificado quanto à gravidade do episódio, preferencialmente, por via oral. É de grande importância não esquecer de prescrever a prednisona oral, por 5 a 7 dias, associada ao corticoide inalatório, no paciente que melhorou (resposta completa) e está indo de alta da emergência. Prednisona: dose inicial de 40 a 60 mg, via oral. É o corticoide de escolha na grande maioria dos pacientes com exacerbação de asma na emergência. A absorção é rápida e a eficácia é semelhante ao uso de corticoide IV. O uso de corticoide parenteral deve ser indicado no paciente com náuseas, vômitos, diarreia, alteração do TGI ou no paciente com exacerbação ameaçadora à vida. O uso VO é mais simples, mais seguro, além de ter o custo muito menor. Metilprednisolona: dose de 40 a 60 mg, IV, de 12/12 h. É a droga de escolha quando o uso IV é indicado. Hidrocortisona: dose inicial IV de 200 a 300mg; manutenção: 100 mg, IV, de 8/8 ou 6/6 h. Além da posologia com doses mais frequentes, tem a desvantagem de ter um maior efeito mineralocorticoide, o que leva à ávida retenção de sódio e fluidos. O corticoide inalatório deve ser prescrito após a alta do paciente, associado à prednisona oral (50 mg, VO, em até quatro vezes, por 5 a 7 dias). Em pacientes que já utilizam corticoide inalatório, a dose pode ser aumentada. 2ª REAVALIAÇÃO CLÍNICA Reavaliação com: ↓ ↓ ↓ Roxanne Cabral – M8 – 2020.1 – Emergência 5 Conduta Clínica - Asma Muito Grave - Sinais Clínicos ↓ Sibilos ausentes = obstrução grave = IRpA Conduta Sulfato de Magnésio Efeito benéfico no subgrupo de asmáticos mais graves; a adição de sulfato de magnésio diminui a necessidade de internação nesse subgrupo. VEF1 <30%. Falência em responder à terapêutica inicial. Falência em melhorar após a 1ª hora (VEF > 60%). As doses dos estudos foram de 1,2 a 2 g de magnésio IV durante 20 a 30 minutos. Não foi associado com eventos adversos significativos. Indicação para IOT e VM Tórax silencioso: ausência de MV ou sibilos. Pacientes que chegam no departamento de emergência com exacerbação com risco de morte, apresentando alteração do nível de consciência, bradicardia ou iminência de parada cardiorrespiratória devem ser submetidos a intubação orotraqueal. Da mesma forma, durante a evolução no departamento de emergência, pode ser necessária a intubação, e esta deverá ser baseada em parâmetros clínicos e, especialmente, antes que o paciente se encontre em situação crítica com risco de parada cardiorrespiratória. Caso seja decidido pela intubação, esse procedimento deve ser realizado de maneira rápida, pois a condição clínica do paciente pode se deteriorar rapidamente. A técnica correta e recomendada é a intubação de sequência rápida. Internação e Alta Hospitalar Alguns critérios podem ser utilizados para orientar necessidade de internação hospitalar. • VEF, do peak-flow < 40% após horas de tratamento ou < 25% na chegada. • História prévia de exacerbação grave com resposta incompleta ao tratamento. Pacientes que podem receber alta hospitalar: Pacientes com VEF 1 ou peak-flow > 60% do predito podem receber alta, e paciente com níveis de VEF 1 ou peak-flow entre 40-60% podem receber alta conforme fatores de risco associados. Roxanne Cabral – M8 – 2020.1 – Emergência 6 Casos Clínicos Caso Clínico 1 Diagnóstico: Asma Achado auscultatório: Sibilo Classificação: Grave Exames que poderiam ser solicitados: RX de tórax ECG Hemograma Conduta: • PROCEDER COM AVALIAÇÃO CLÍNICA CONSTANTE Caso Clínico 2 Letra C Letra C • TAG = transtorno de ansiedade generalizado. Letra C Letra B Letra C Roxanne Cabral – M8 – 2020.1 – Emergência 7 Letra D Letra D Letra A Letra B ECG do paciente: Letra B QRS estreito – onda p sinusal – intervalo R-R regular Letra C Letra C Não há evidência clínica de melhora da exacerbação da asma com Aminofilina. Roxanne Cabral – M8 – 2020.1 – Emergência 8 Letra D Letra A Taquicardia: associada principalmente ao efeito beta- adrenérgico. Roxanne Cabral – M8 – 2020.1 – Emergência 9 Mapa mental – Asma Brônquica: