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Tabagismo e cessação tabágica

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Tabagismo 
Material escrito e resumido por Leonardo Wallau Fontana, acadêmico do curso de medicina da Universidade 
de Santa Cruz do Sul (UNISC). 
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A prevalência mundial de tabagismo vem reduzindo, felizmente. Atualmente, a taxa de tabagismo ronda 
os 18%. Países de alta renda tem uma prevalência maior de fumantes, em relação aos de baixa renda, sendo a 
maior prevalência do globo nos países europeus. Brasil é um dos principais produtores de tabaco no mundo 
(cerca de 10% da produção mundial), perdendo para a China, que produz quase 50% do tabaco mundial. 
 
Doenças tabaco-relacionadas 
• Pulmonares: DPOC, e doenças pulmonares parenquimatosas difusas (intersticiais) 
• Cardiovasculares: Doença arterial coronariana, doença vascular cerebral, e doenças arterial periférica 
(que tem pouca mortalidade, mas causa grande prejuízo na qualidade de vida, levando a possíveis 
amputações) 
• Infecções: Resfriado, gripe, pneumonia e tuberculose 
• Outras: Diabetes Mellitus, osteoporose, doença ulcerosa péptica, disfunção erétil, neoplasias (câncer 
colorretal, de cabeça e pescoço, rim, fígado, trato urinário inferior, leucemia mieloide, etc. 
 
Benefícios de parar de fumar 
Tabagismo é um dos 5 riscos principais para ocorrência de doenças cardiovasculares, acompanhado de 
hipertensão, dislipidemia, diabetes e história familiar. Além dos vários benefícios pontuais, a cessação do 
tabagismo traz um benefício cru e simples, de reduzir a mortalidade. Um estudo inglês do início do século 20 
já percebe esse efeito, obtendo os seguintes resultados: 
- Cessação aos 30 anos = Ganho de 10 anos de vida 
- Cessação aos 40 anos = Ganho de 9 anos de vida 
- Cessação aos 50 anos = ganho de 6 anos de vida 
- Cessação aos 60 anos = ganho de 3 anos de vida 
 
Graus de motivação (Modelo de Prochaska e DiClemente) 
• Pré-contemplação: Não há intenção de parar de fumar ou autocrítica para os beneficios da cessação 
tabágica. A chance de largar o vício é quase zero. 
• Contemplação: Desenvolve insight dos malefícios do tabagismo, mas ambíguo quanto a cessação. Pode 
se dar algumas tarefas como reduzir o número de cigarros, para avaliar a motivação do paciente. 
• Preparação: Aceita tomar uma estratégia para cessar tabagismo. Nesse ponto, deve-se explicar ao 
paciente o que ele necessita fazer para parar de fumar, e como irá acontecer. 
• Ação: Toma a atitude de inciar o processo de cessação tabágica. 
• Manutenção: Adota estratégias pra não recair no tabagismo. 
 
Escala de Fagerstrom 
Avalia a dependência tabágica do paciente, classificando sua dependência conforme a pontuação de 0 
a 10 obtida com as respostas do mesmo 
Muito baixa: 0-2 / Baixa: 3-4 / Média: 5 / Elevada: 6-7 / Muito elevada: 8-10 
Tabagismo 
Material escrito e resumido por Leonardo Wallau Fontana, acadêmico do curso de medicina da Universidade 
de Santa Cruz do Sul (UNISC). 
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Cessação tabágica 
 Cessação abrupta é melhor do que uma cessação gradual. Assim que paceinte e médico acordarem uma 
data para que ocorra a cessação, deve-se combinar uma data para reconsulta e avaliação, preferencialmente em 
no máximo uma semana. Alertar para que ele pare de fumar completamente assim que cruzar pela porta de saída 
do consultório, de modo a aproveitar o período de maior motivação. Deve-se orientar que o paciente se afaste 
completamente de cigarros, isqueiros, cinzeiros, ou outros itens relacionados ao tabagismo, assim como evitar 
hábitos que costumavam ser associados ao tabagismo (café, alcoól, ...), especialmente nos primeiros 30 dias. 
No momento em que o paciente para de fumar, ele sofre com a abstinência e com a fissura. A abstinência 
extrema pode ser amenizada com tratamento farmacológico e comportamental. A fissura (craving) é a vontade 
desesperada de fumar em alguns momentos, podendo ser relacionados com gatilhos ou não, sendo importante 
orientar o paciente de que a fissura é breve e passageira, sendo necessário resistir a ela por apenas alguns 
minutos. Sendo que um lapso nessa hora está relacionado a uma taxa de recaída de 50%. 
Para enfrentar a fissura, pode se usar a gratificação oral (ingerir líquidos gelados, ou mascar algo com 
gosto pungente, como cravo ou chicle), ou gratificação manual (manter as mãos ocupadas, como escrever, 
costurar, pintar, fumar cenoura) 
Muitas vezes o paciente tenta barganhar com o médico alegando ter reduzido consideravelmente o 
número de cigarros consumidos por dia, e perguntando se não é o suficiente. Porém, estudos mostram que 
mesmo redução de 50% do consumo não mostrou qualquer benefício em longo prazo, ao mesmo tempo que 
fumar quantia igual ou inferior a 5 cigarros por dia já traz aumento de risco de desfechos cardiovasculares, 
assim não existe dose segura. 
Desse modo, além dessas medidas já citadas, podemos usar outras meios, farmacológicos ou não, para 
fazer com que o paciente largue o vício em tabaco: 
Tabagismo 
Material escrito e resumido por Leonardo Wallau Fontana, acadêmico do curso de medicina da Universidade 
de Santa Cruz do Sul (UNISC). 
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A abordagem não farmacológica da cessação consiste em: 
- Terapia cognitivo – comportamental (TCC): Consiste nos famosos grupos de discussão entre pessoas que 
tentam largar o tabaco. Comprovadamente a abordagem em grupo é mais eficaz que a individual. A frequência 
das sessões depende da fase do tratamento, sendo semanal no 1º mês, quinzenal no 1º -3º mês, e mensal o 3º-
12º meses. 
 
A abordagem farmacológica pode ser feita com: 
- Medicamentos de 1º linha: Como a terapia de reposição de nicotina (TRN), na forma de adesivo ou goma de 
mascar, a Bupropiona e a Vareniclina. 
- Medicamentos de 2º linha: Como a Nortriptilina e a Clonidina 
- Cigarro eletrônico: foi desenvolvido como um método auxiliar de reposição de nicotina, para a cessação 
tabágica, e estudos mostram que ele é bastante eficaz nessa função. Seu grande problema reside no fato de não 
haver uma padronização ou regulação na produção desse produto, não garantindo sua qualidade e dosagem de 
fármaco adequada. Não é isento de malefícios, podendo causar EVALI, que é uma lesão pulmonar aguda 
induzida pelo uso de cigarro eletrônico, relacionado ao acúmulo de óleo do vaporizador nas vias aéreas. 
 
• Terapia de reposição de nicotina 
Indicação de uso: dependencia, no mínimo, moderada 
Pode se usar o adesivo ou goma de marcar. O adesivo é usado por cerca de 3 meses, sendo que cada um tem 
duração de 24 horas, e deve ser aplicado após o banho, em um local onde o paciente não deite por cima. A goma 
de mascar deve ser mascada em número pré determinado, normalmente 4 ou 5 por dia (de acordo com o grau 
de dependência), e gomas adicionais em caso de fissura intensa. Deve ser mascada até que ela libere um gosto 
peculiar, deixando-a presa entre a gengiva e a bochecha por um a dois minutos, repetido a manobra por 30 
minutos. Ambos os métodos podem ser usados combinados simultaneamente, em alguns casos. Alertar que o 
paciente não pode fumar quando em uso desses métodos, pelo risco de haver uma intoxicação e superdosagem 
de nicotina. 
 
• Bupropiona 
Indicação de uso: dependência, no mínimo, moderada 
É prescrita na dose de 150mg 1x dia e, no quarto dia, a dose é aumentada para 150mg 2x dia. O paciente deve 
parar de fumar no oitavo dia de tratamento. Usar por 3 meses, aproximadamente. 
Reduz o limiar convulsivo do cérebro, portante não deve ser usada em epiléticos, ou pacientes com 
anormalidades no SNC. Um de seus muitos efeitos colaterais é a insônia, portante prescrever o uso até a metade 
da tarde, preferencialmente. 
 
• Valericlina (Champix) 
Maior taxa de sucesso de cessação tabágica entre todos os métodos. Infelizmente, foi recentemente retirada do 
mercado devido a contaminação de um lote com substância carcinogênica. Usar por 3 meses, 1mg de 12/12. 
Não usar em pacientes depressivos, por aumentar o risco de suicídio. Causa sonho induzido vivo (paciente ralata 
“viver” os sonhosou pesadelos.