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SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DO RIO DE JANEIRO UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MARIANA FLÔRES DE OLIVEIRA O CUIDADO MULTIPROFISSIONAL NO TRATAMENTO DE PESSOAS COM FISSURA LABIOPALATAL: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA RIO DE JANEIRO 2017 SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DO RIO DE JANEIRO UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO MARIANA FLÔRES DE OLIVEIRA O CUIDADO MULTIPROFISSIONAL NO TRATAMENTO DE PESSOAS COM FISSURA LABIOPALATAL: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA Trabalho de Conclusão de Estágio apresentado à Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, como pré- requisito para a obtenção de certificado de conclusão de estágio clínico na Unidade Hospitalar Municipal Nossa Senhora do Loreto. Orientador (a): Dr.ª Ana Maria B. Bandeira RIO DE JANEIRO 2017 SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DO RIO DE JANEIRO UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MARIANA FLÔRES DE OLIVEIRA O CUIDADO MULTIPROFISSIONAL NO TRATAMENTO DE PESSOAS COM FISSURA LABIOPALATAL: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA Autora: Mariana Flôres de Oliveira Orientadora: Dra. Ana Maria Bezerra Bandeira Graduanda em: Odontologia Período: 9º (nono) E-mail: marianaflores@id.uff.br Instituição de Ensino: Universidade Federal Fluminense Local de estágio: Hospital Municipal Nossa Senhora do Loreto RIO DE JANEIRO 2017 mailto:marianaflores@id.uff.br RESUMO As fissuras labiopalatinas (FLP) são malformações congênitas orofaciais que acometem o terço médio da face, ocasionadas pela não fusão dos processos maxilares e palatinos durante a vida intrauterina, resultando em uma abertura em lábio e/ou palato. Elas são as anomalias mais comuns na atualidade, sua etiologia é pouco conhecida. É necessária uma equipe multiprofissional para conseguir uma reabilitação global. O presente trabalho visa descrever o atendimento multiprofissional e sua importância no cuidado das pessoas com FLP de um centro de tratamento de deformidades craniofacial do sistema único de saúde. Foi feito um relato de experiência, durante o estágio curricular não obrigatório, partindo de um referencial teórico de produções científicas publicadas entre 2002 a 2012, em língua inglesa e portuguesa. O levantamento bibliográfico valeu-se do Google acadêmico; das bases de dados eletrônicos PubMed, Scielo, MEDLINE, ScienceDirect e fontes não digitais como teses e dissertações. O estudo foi qualitativo, descritivo e observacional com o pesquisador participante das atividades clínicas/gerenciais. A equipe multiprofissional de médicos; odontólogos; enfermeiros; psicólogos; fonoaudiólogos; nutricionistas e terapeutas ocupacionais atuam integrados visando o melhor tratamento da pessoa com fissura labiopalatal desde o diagnóstico intrauterino até a fase adulta. Eles participavam de uma consulta multiprofissional onde o plano de tratamento personalizado era planejado. O modelo de cuidado e atenção à saúde de forma integral oportuniza a inter-relação entre os diferentes profissionais que veem a pessoa como um todo, numa atitude humanizada e com uma abordagem mais ampla e resolutiva. Palavras-chave: Fissura Palatina;Fenda labial; Equipe de Assistência ao Paciente; Anormalidades Craniofaciais ABSTRACT Labiopalatine fissures (FLP) are orofacial congenital malformations that affect the middle third of the face, caused by non fusion of maxillary and palatal processes during intrauterine life, resulting in a lip and / or palate opening. they are the most common anomalies today, their etiology is little known. A multiprofessional team is needed to achieve global rehabilitation. This study aims to describe the multiprofessional care and its importance in the care of people with FLP from a treatment center for craniofacial deformities of the single health system. An experience report was made during the non-compulsory curricular traineeship, starting from a theoretical reference of scientific productions published between 2002 and 2012, in English and Portuguese. The bibliographic survey was made use of by Google academic; of the electronic databases PubMed, Scielo, MEDLINE, ScienceDirect and non-digital sources as theses and dissertations. The study was qualitative, descriptive and observational with the researcher participating in clinical / managerial activities. The multiprofessional team of physicians; dentists; nurses; psychologists; speech therapists; nutritionists and occupational therapists act integrated to the best treatment of the person with cleft lip and palate from intrauterine diagnosis to adulthood. they participate in a multiprofessional consultation where the custom treatment plan is planned. The model of care and health care in an integral way allows the interrelation between the different professionals who see the person as a whole, in a humanized attitude and with a broader and more resolute approach. Keywords: Cleft palate; Cleft lip;Patient Care Team;Craniofacial Abnormalities SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 6 2 OBJETIVOS 7 2.1 Objetivo geral 7 2.2 Objetivo específico 8 3 METODOLOGIA 8 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES 9 4.1 Consulta multiprofissional - CAT (Consulta de Avaliação Tríplice) 9 4.2 Acompanhamento Odontológico 10 4.3 Acompanhamento Médico 12 4.4 Acompanhamento da Enfermagem 13 4.5 Acompanhamento Psicológico 14 4.6 Acompanhamento da Terapia Ocupacional 14 4.7 Acompanhamento Fonoaudiológico 16 4.8 Acompanhamento Nutricional 17 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 18 1 INTRODUÇÃO As fissuras labiopalatinas (FLP) são malformações congênitas orofaciais que acometem o terço médio da face, podendo envolver palato e/ou lábio. São ocasionadas pela não fusão dos processos maxilares e palatinos durante a vida intrauterina, em média, da sexta a décima semana (CYMROT et al,2010) resultando em uma abertura em lábio e/ou palato. Segundo LISBÔA, ROCHA & PINI (2010) as FLP acometem aproximadamente 1/650 nascimentos no Brasil, totalizando 5800 novos casos ao ano. Estão entre as anomalias mais comuns na atualidade. Levando como referência o forame incisivo, as fissuras são classificadas em:1)Fissura pré- forame incisivo, divididas em unilateral, bilateral e mediana. 2) Fissura transforame incisivo, são as de maior gravidade, também são divididas unilateral ou bilateral, envolvendo lábio, arcada alveolar e todo o palato. 3) Fissura pós-forame incisivo, são palatinas e em geral medianas, que podem situar-se apenas em úvula, ou na demais partes do palato duro e mole (SPINA et al,1979 apud CYMROT et al,2010,). Segundo RIBEIRO-RODA e GIL-DA-SlLVA-LOPES (2008) apud KUHN et al (2012), no Brasil, a prevalência varia entre 11,89/10.000 e 3,09/10.000 nascidos, dependendo da região geográfica”. No estudo de CYMROT et al (2010) os autores constataram que “a maior ocorrência de fissura foi a do tipo transforame unilateral (47,9%), seguida da fissura transforame bilateral (24,7%), fissura pós-forame completa (23,2%)”. Para BARONEZA et al (2005) apud KUHN et al (2012) “a fissura de maior prevalência é a transforame (59,9%), a razão entre os gêneros encontrados nesta pesquisa foi de 1,5 masculino:1,0 feminino e 92,6% da população estudada pertencia à classe econômica baixa.” No entanto, DI NINNO et al (2004) apud KUHN et al (2012) diz que todos os grupos raciais e étnicos podem apresentar as fissuras labiopalatinas, independentemente de classe econômica ou sexo. A etiologia ainda é controversa na literatura e o modelo mais aceito é o multifatorial (BUENO, 2007).Para LOFFREDO;FREITAS & GRIGOLLI, 2001; ABDO; MACHADO, 2005 alguns fatores podem estar relacionados à etiologia, como:hereditariedade, alcoolismo, drogas, uso de corticoides e estresse. Outros estudos ainda destacam a relação da idade dos pais com a incidência de fissuras, mostrando que quanto maior a idade, maior a chance desse casal gerar um filho fissurado. Segundo a Organização Mundial da Saúde, é de grande importância a presença de uma equipe multidisciplinar para reabilitar de forma global do paciente (MOTOYAMA et al, 2000 apud AUGUSTO, BORDON & DUARTE, 2002). Conforme KUNH et al (2012) esse paciente pode ter comprometimento na fala, estética, alimentação, posicionamento dos dentes. A presença de fissura no palato pode levar a alteração na tuba auditiva, que é a estrutura que comunica o nariz com o ouvido. Isto torna mais comum o acúmulo de líquido nos ouvidos destas pessoas que nem sempre percebidos. Tornam-se comuns quadros de otites, pneumonia, alterações nasais, anemia pela dificuldade de alimentação. Estas pessoas podem apresentar características comuns como: insegurança, dificuldade de comunicação, vergonha, medo, autoconceito baixo, dificuldade nos relacionamentos sociais e na comunicação, depressão (DOMINGUES et al., 2011 apud KUHN, 2012). O acompanhamento multiprofissional deve acontecer desde o primeiro dia de vida do bebê e ser longitudinal, com o intuito de melhorar a integração adequada ao ambiente familiar e social (AUGUSTO;BORDON & DUARTE,2002), sendo imprescindível o suporte também a família. A dialógica interdisciplinar é fundamental para o melhor andamento de cada caso clínico, sendo necessária uma visão conjunta de filosofia de tratamento (SOUZA, 1985 apud AUGUSTO; BORDON & DUARTE, 2002). Diante das reflexões aqui iniciadas, o presente estudo tem como objetivo apresentar as experiências e as atividades relacionadas a rotina de um centro de atendimento de pessoas com deformidades craniofacial que é referência no tratamento de fissuras labial e/ou palatina, mostrando que este tratamento deve ser realizado por uma equipe multidisciplinar experiente, sendo muito importante a interdisciplinaridade entre os profissionais reabilitadores e indispensável a existência de um protocolo clínico de atendimento o qual é essencial para o entendimento do tratamento e reabilitação destas pessoas. 2 OBJETIVOS 2.1 Objetivo geral O presente trabalho, mediante um relato de experiência, visa descrever e discutir o atendimento e acompanhamento de pacientes com fissura labial e/ou palatal em um Centro de Deformidade Crâniofacial. 2.2 Objetivo específico Levando em consideração o atendimento multiprofissional os objetivos específicos são: ● Descrever a rotina e o atendimento no centro de atendimento ● Relatar quais as especialidades envolvidas no tratamento da pessoa com fissura labiopalatal e suas respectivas importância na reabilitação física e psico-social desta pessoa. ● Descrever uma vivência clínica enquanto estagiária de um centro de referência especializado. 3 METODOLOGIA Esta pesquisa consistiu em um relato de experiência que descreve aspectos vivenciados, na oportunidade de um estágio curricular não obrigatório em um centro de atendimento de pessoas com deformidades craniofacial especializado no tratamento de fissura labial e/ou palatal. Trata-se de um olhar qualitativo, que abordou a problemática desenhada a partir de métodos descritivos e observacionais. O relato de experiência é uma ferramenta da pesquisa descritiva que apresenta uma reflexão sobre uma ação ou um conjunto de ações que abordam uma situação vivenciada no âmbito profissional de interesse da comunidade científica e não necessita da submissão para apreciação ética. O estágio que resultou na redação deste relato aconteceu de março a novembro de 2017 neste centro situado na cidade do Rio de Janeiro e todo referencial teórico baseado em produções científicas publicadas entre 2002 a 2012 em língua inglesa e portuguesa. O levantamento bibliográfico valeu-se do Google acadêmico; das bases de dados eletrônicos PubMed, Scielo, MEDLINE, ScienceDirect e fontes não digitais como teses e dissertações. O estudo foi qualitativo, descritivo e observacional com o pesquisador participante das atividades clínicas/gerenciais. Utilizou-se das seguintes técnicas de coleta de dados: observação estruturada (pesquisador participante), participação nas atividades clínicas/gerenciais e análise da estrutura física do centro. Dentre estas atividades destacam-se acompanhar a rotina de atendimento dentro do ambulatório da odontologia duas vezes por semana, presenciar algumas consultas multiprofissionais realizadas uma vez por semana chamada CAT(Consulta de Avaliação Tríplice), conhecer e conversar com os profissionais das outras especialidades e, na medida do possível, acompanhar as suas consultas. 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES Durante o período que desenvolvi minhas atividades na clínica odontológica do centro de atendimento de pessoas com deformidades craniofacial para cumprir as tarefas correspondente ao Estágio de Acadêmico Bolsista (Odontologia – Atenção Integral), vivenciei a multiprofissionalidade da equipe de saúde atuante dentro deste Centro. A equipe de profissionais é composta por: médicos - pediatras e cirurgiões plásticos; odontólogos – clínicos gerais, protesistas, cirurgião buco- maxilo, odontopediatras e ortodontistas; enfermeiros(as), psicólogos(as), fonoaudiólogos(as), nutricionistas, assistentes sociais e terapeutas ocupacionais. O Hospital em questão é uma unidade pediátrica. Nele há o atendimento de crianças e o atendimento vai desde consultas de rotina, exames laboratoriais até internação em leitos.Paralelamente à isso, existe o atendimento específico para pacientes com fissuras labiopalatinas caracterizando um Centro de Referência a população e que oferece atendimento e acompanhamento desde o primeiro dia de vida de cada pessoa. Independente do tipo e extensão da fissura, o tratamento necessita ser conjunto e integrado dentro das diversas especialidades para ser capaz de ajudar nas alterações bio-psico-sociais de cada indivíduo. Para SILVA et al.(2008) apud LISBÔA, ROCHA & PINI (2010). Os profissionais envolvidos não irão se deparar somente com alterações funcionais, mas sim com um complexo conjunto de alterações mastigatórias, audição, fala, desenvolvimento, crescimento craniofacial, respiração nasal, deglutição. Justificando assim, a importância da presença de uma equipe multiprofissional no tratamento como as seguintes especialidades: pediatria, enfermagem, cirurgia plástica, odontologia (ortodontista e protético), otorrinolaringologia, fonoaudiologia e, algumas vezes psiquiatria (WONG 1999 apud LISBÔA, ROCHA & PINI, 2010). Na sequência será descrita como era a abordagem de cada especialidade no planejamento e atuação no tratamento das pessoas com fissuras deste centro. 4.1 Consulta multiprofissional - CAT (Consulta de Avaliação Tríplice) A consulta multiprofissional era formada por odontólogo, pediatra, nutricionista, psicólogo, terapeuta ocupacional, assistente social, cirurgião plástico e fonoaudiólogo, era agendada para os bebês recém-nascidos, para mulheres grávidas, para pacientes de outras faixas etárias que chegaram ao serviço pela primeira vez ou que estiveram afastados por muito tempo do serviço de saúde. Com membros de cada equipe multidisciplinar era possível uma avaliação integral onde, eram tiradas todas as dúvidas que existiam em relação ao tipo de fissura, ao tratamento e ao acompanhamento dentro da unidade de saúde, uma abordagem geral do caso clínico servia de orientação para oplanejamento do tratamento. Como protocolo, uma ficha de anamnese era preenchida com perguntas detalhadas sobre a gestação, tipo de parto, uso de medicamentos, histórico de fendas na família, local de origem, entre outras perguntas. Com a possibilidade de ter todosesses profissionais no mesmo local, um plano de tratamento era traçado para cada paciente, tornando-o único e individualizado, visto que cada um tem a sua particularidade e necessidade. Após o preenchimento da ficha e identificado o tipo de fissura, o usuário era encaminhado para as especialidades que iriam atuar na sua reabilitação, uma lista de consultas a serem marcadas é entregue para o paciente ou familiar. Muitas famílias chegam à essa consulta aflitos e receosos, assim a presença de psicólogos naquele momento é essencial para acalmá-los e tranquilizá- los. E, mediante a necessidade, os outros membros se posicionavam para sanar qualquer dúvida. Era importante aquele paciente sair da unidade sabendo que estava amparado e que ele teria o amparo multiprofissional ao longo do tratamento. Dentre todas as especialidades presentes no CAT, a assistência social foi a única que não vivenciei sua rotina, minha experiência foi somente nos horários da consulta multiprofissional. No entanto, é uma parte integrante e essencial dentro da multiprofissionalidade e do serviço. 4.2 Acompanhamento Odontológico A equipe de saúde bucal era composta por onze odontólogos, que se dividem em especialidades como: ortodontia, odontopediatria, bucomaxilofacial, implantodontia e clínico geral. Cada especialidade tem sua importância e necessidade de acordo com a idade do paciente, ajudando-o a passar por cada etapa do tratamento. Ademais existia na equipe dois protéticos que são responsáveis pelos trabalhos laboratoriais. O primeiro atendimento no Centro de Referência era sempre feito por um ondontológo e fonoaudiólogo. Ao chegar, o recém nascido passava por uma avaliação odontológica onde era diagnosticado a presença ou não de fissura labiopalatina, realizada a classificação e quando constatado a sua presença envolvendo ia o palato (transforame e pós-forame), era preciso avaliar a necessidade da confecção de uma placa obturadora. Essa placa tinha como objetivo vedar a fissura no palato impedindo a passagem de leite para a cavidade nasal, permitir melhor sucção e alimentação, reposicionar a língua e não permitindo que a criança criasse o hábito de acomodá-la no espaço da fissura, além de direcionar o crescimento de osso e tecidos para a posição correta, auxiliando nos resultados da cirurgia que seria realizada mais tarde. O gasto de energia para realizar a sucção do bebê fissurado, que usa placa obturadora, é menor, e assim o ganho ponderal se traduz em maior quantidade favorecendo uma das condições adequadas para realização de cirurgias reparadoras, o ganho de peso. Na necessidade da placa obturadora, a primeira moldagem era feita pelo odontólogo e na presença do pediatra do hospital.O material utilizado era silicone pesada de condensação e, um modelo em gesso, sobre o qual se estruturava uma placa em resina acrílica autopolimerizável, era confeccionado pelo protético. A adaptação com a placa variava para cada bebê, todos os responsáveis eram orientados quanto à importância do uso contínuo, higienização. Além disso, era feito o alerta quanto a posição correta na hora da amamentação. Esse trabalho era feito pelo odontólogo juntamente com o fonoaudiólogo, ambos atuavam para criar a melhores condições de amamentação para o bebê, seja pelo aleitamento natural ou artificial. A partir da primeira consulta o bebê com necessidade de placa obturadora, era acompanhado mensalmente para controle do uso da placa e remoldagens eram realizadas caso fossem necessário. Isto se dava até devido o crescimento da arcada superior, até o momento da cirurgia de palato. Os demais eram marcados de acordo com a rotina de revisão do setor . Em média, as cirurgias de lábio eram realizadas aos 6 meses de vida, sendo imprescindível que o bebê estivesse bem de saúde e com, ao menos, seis quilogramas .E a correção de palato ocorria aos 12 meses de vida. Quando conjugadas, requeriam duas intervenções cirúrgicas: aos 6 meses para fechar o lábio e palato mole, e a segunda para o fechamento do palato duro. Com o acompanhamento longitudinal pela odontologia, quando as crianças chegavam a faixa etária de sete anos e apresentavam descontinuidade de rebordo alveolar, avaliava-se a necessidade de uma enxertia óssea pelo ortodontista. Para realizar a enxertia com sucesso, existiam alguns critérios a serem seguidos como, por exemplo: o elemento dentário permanente canino deveria estar com ¾ de sua raiz formada, caso houvesse a presença de fístula no local da fissura e mordida cruzada posterior estas teriam que ser tratadas antes da enxertia óssea. No caso da mordida cruzada, era preciso a intervenção ortodôntica prévia à enxertia para correção da oclusão e em relação a fistula palatina o planejamento dos procedimentos deveria ser feito em conjunto com a cirurgia plástica. Nos atendimentos subsequentes, era avaliado a necessidade de outros tipos de enxertia, além da correção e alinhamento dos dentes, necessidade de próteses dentárias e implantes. Todo o planejamento era traçado de acordo com o tipo de fissura, qualidade óssea e necessidades de cada pessoa. Nos pacientes fissuras palatinas é comum a presença de agenesias e alterações no esmalte dos dentes. Logo acompanhamento com o clínico geral eram de extrema importância para evitar o início de problemas dentários, e o implantodontista intervia nas ausências dentárias, devolvendo função e estética. Durante toda a vida, o paciente estará coberto pelo atendimento odontológico, independente da especialidade. 4.3 Acompanhamento Médico O atendimento médico era realizado principalmente pelas seguintes especialidades: cirurgia plástica, pediatria e otorrinolaringologista. A pediatria ficava responsável por acompanhar todo o desenvolvimento do paciente desde sua chegada ao hospital. Ficaria à critério do responsável ter o acompanhamento pediátrico e de otorrinolaringologista no ambulatório da unidade ou em outro local particular e/ou perto da sua residência.No entanto, os profissionais deste centro eram muito capacitados e preparados para trabalhar com pessoas fissuradas. A cirurgia plástica atuava reconstituindo a estética facial e contava com o serviço tanto cirúrgico quanto laboratorial. O acompanhamento era realizado desde o nascimento e um plano de tratamento traçado respeitando individualidade de cada paciente. Antes das cirurgias eram realizadas reuniões pré-operatórias, que consistia em informar aos responsáveis qual eram as condutas pré, trans e pós operatórias. Nesta etapa do tratamento havia a parceria com a psicologia onde, por meio de bonecos terapêuticos, de forma lúdica, era explicado às crianças como sedava o processo de internação (GUIA DE ORIENTAÇÃO DO CENTRO DE TRATAMENTO DE FISSURAS LABIOPALATAIS, 2012). Além das orientações e presença da psicologia, nestas reuniões haviam também a participação da fonoaudiologia, do serviço social e da enfermagem, mostrando, mais uma vez, a importância da multiprofissionalidade focado no atendimento integral . O otorrinolaringologista atuava de forma igualmente importante. Com a fissura labiopalatal, crianças e adultos apresentavam maior tendência de apresentarem problemas de ouvido, nariz e garganta, sendo o mais comum os de ouvido. Isso era explicado pela alteração na tuba auditiva, que podia permanecer mesmo após a cirurgia de correção do palato, ocasionando acúmulo de secreção nos ouvidos. Como consequência, havia a perda de capacidade auditiva, otites recorrentes, chiado nos ouvidos, alteração e atraso na fala. Somando-se a isso, podia haver desvio de septo que ocasionam dificuldade respiratória, roncos e sinusites. 4.4 Acompanhamento da Enfermagem A equipe de enfermagem contava com dois profissionais por dia. A especialidade atuava diretamente com o paciente desde o acolhimento no primeiro dia no hospital,estavam presentes nas consultas multiprofissionais e nas reuniões pré-operatórias.. Logo após o atendimento clínico com coma cirurgia plástica e programação da data da correção cirúrgica, era marcado uma entrevista com a enfermagem para ser feita uma anamnese detalhada com perguntas sobre alergias, problemas sistêmicos histórias médicas pregressas, para orientar sobre as instruções pós- operatórias, assim como tirar qualquer dúvida em relação aos procedimentos (tempo de cirurgia, cuidados com a cicatriz e alimentação pós- operatória). O acompanhamento do pós-cirúrgico e retirada dos pontos era feito pela enfermagem. O ambulatório acontecia todos os dias da semana, assim como as ações específicas de consultas de puericultura mensais, por exemplo. Apesar do Centro de Deformidade Craniofacial não contar com atendimento de emergência, as enfermeiras relataram que havia, ocasionalmente, a procura de atendimento espontâneo em casos emergenciais e que, para conseguir um possível encaixe com o médico, era preciso passar pela avaliação da enfermagem. A enfermagem participava do contínuo tratamento do paciente e se relacionavam o tempo todo com as outras especialidades para que o acompanhamento fosse o mais completo possível. 4.5 Acompanhamento Psicológico O papel da psicologia era de extrema importância no que se referia ao auxílio do paciente fissurado e de sua família desde o nascimento. Mesmo após a intervenção cirúrgica, sequelas psicossociais tinham repercussão na qualidade de vida dos indivíduos, podendo limitar suas atividades e restringir sua participação social(GRACIANO& SPÓSITO, 2011). Para RICHMAN (1978), TOBIASON (1983), RICHMAN (1983), SOUZA (1985), PAYNTER et al. (1991), NUNES et al.(1998), PRADA et al. (2000), CARVALHO & TAVANO (2000) apud SILVA et al. (2002) a intervenção psicológica era indispensável desde o primeiro dia de vida. Era preciso que os pais e familiares entendessem o que é a fissura e como iriam se organizar com o bebê, desde as primeiras cirurgias, período de adaptação e, crescimento. Todo suporte era ofertado ao longo do tratamento, e a conscientização da importância sobre colaboração e participação dos pais durante esse período era reforçada. As crianças só se percebiam diferentes aos cinco anos de idade. Por isso era importante que o acompanhamento já estivesse ocorrendo nesse período, se tornando mais fácil para elas passar por essa fase de uma forma mais leve e menos traumática. O primeiro contato do paciente e responsável com o psicólogo acontecia, na maioria das vezes, na consulta multiprofissional. No entanto, a família podia procurar atendimento quando achasse necessário como, por exemplo, ao descobrir durante a ultrassonografia morfológica que o bebê possuía algum tipo de fissura. E, sempre que achasse necessário, havia psicólogos na unidade para sanar qualquer dúvida e dar auxílio a esses pacientes. Se não procurados de forma espontânea, os momentos de consultas seriam: 1)quando a primeira cirurgia for marcada, 2) na reunião de preparação cirúrgica, 3) após a cirurgia, 4) ao início das primeiras palavras, 5) antes da entrada da criança na creche/escola, 6) no início da adolescência. 4.6 Acompanhamento da Terapia Ocupacional As consultas com a terapeuta ocupacional eram mensais até o momento da primeira cirurgia. A terapia ocupacional para os pacientes com fissura, era de extrema importância para que, no momento da intervenção cirúrgica, o bebê estivesse com o desenvolvimento motor compatível com a idade. Na primeira consulta, a profissional testava os reflexos primitivos, verificava colocando o bebê em certas posições se ele conseguiria engatinhar, o estimulava também com sons e movimentos. As orientações quanto a posição correta de segurar o bebê no colo, de como colocá-lo para arrotar, de não criar o hábito de balançá-lo na hora de dormir, do tempo correto para sentá-lo ou andar, eram repetidas diversas vezes mediante a importância disso para o correto desenvolvimento do bebê. Se as mães estimulassem as posições incorretas, a força muscular aumentaria não só nas pernas ou braços, aumentaria o tônus global da criança. E isso incluiria a força muscular na boca, local da cirurgia plástica. Então, todas as orientações eram passadas e enfatizadas para que, no momento da cirurgia, não houvessem alterações. Pela presença de fissura palatina algumas posições de colo, comuns com qualquer criança, deveriam ser modificadas. Por exemplo, a mãe não deveria criar o hábito de balançá-lo no colo, devido a presença da comunicação entre cavidade oral e ouvido. Isto poderia ser perigoso caso, por exemplo, algum leite voltasse do estômago e com o constante balanço, chegasse ao ouvido causando infecções. E, se recorrente, levando a possível perda auditiva. Outra orientação importante era a posição do colo, sempre com o bebê o mais encolhido possível (semelhante a posição fetal), para ele engolir menos ar e ter menos cólicas. Após a amamentação, a posição correta para arrotar seria com ele sentado na perna da mãe, apoiando com uma mão a coluna e com a outrapressionando levemente a barriga. Não era indicado a posição convencional porque a mãe não teria como ver se o leite materno voltasse, comum acontecer em crianças com fissura. Mês a mês o desenvolvimento era acompanhado, assim como a aceitação e a imagem corporal era trabalhada. Juntamente com a psicologia, a terapia ocupacional tinha como função trabalhar com essa criança a sua imagem. A aceitação do diferente por vezes era difícil tanto para a família como para a criança. No geral, as consultas mensais eram até o momento do bebê andar. No entanto, em alguns casos, o acompanhamento acontecia em qualquer idade e sempre que fosse pedido pela escola, pelos pais ou pelos outros profissionais que avaliassem a necessidade da terapia ocupacional para aquele paciente. 4.7 Acompanhamento Fonoaudiológico A presença de fissuras no palato e/ou lábio altera a diretamente a alimentação dos bebês. Com a descontinuidade do palato, não há a pressão suficiente para que seja possível a sucção, impossibilitando a amamentação natural ou artificial com mamadeira, o bebê têm um gasto calórico muito alto na tentativa de sugar e não consegue ter ganho de peso. Nesses casos, o atendimento conjunto entre o fonoaudiólogo e odontólogo eram importante pois confeccionavam a placa obturadora para selar o palato e analisavam o reflexo de sucção do paciente. Os bebês recém nascido com fissura geralmente chegava de ambulância com a sonda nasogástrica, devido a grande dificuldade no processo de amamentação, mas com a placa obturadora do palato e as orientações da fonoaudiologia,e na maiorias dos casos a sucção era restabelecida possibilitando amamentação, na maioria das vezes, com a mamadeira e finalmente retornava para o hospital de origem para avaliações e alta hospitalar. As orientações quanto à correta posição para amamentação eram essenciais nesse processo. O bebê deveria estar na posição sentada e a mamadeira de forma mais elevada possível, para que o mínimo de ar fosse deglutido. Isto ajudava a evitar também o retorno de algum resíduo de leite pelo nariz, muita vezes relatado pelas mães. A quantidade também era corrigida, se necessário. As profissionais verificavam a saída do leite no bico da mamadeira, se o furo do bico estivesse muito grande, inevitavelmente, sairia muito leite e a criança poderia engasgar ou ter o retorno desse líquido como citado anteriormente. Se estivesse muito pequeno, o tempo de mamada seria demorado demais e haveria perda calórica pelo esforço na sucção, nesses casos a orientação era furar com um pequeno alfinete o bico formando uma cruz. Em casos que só havia fissura no lábio, era analisado se a amamentação estava prejudicada. Na maioria das vezes, nãohavia interferência. Era indicado o uso de uma fita adesiva para aproximar os tecidos do lábio que estavam partidos e desta forma a sucção também era facilitada Além desse primeiro atendimento, os fonoaudiólogos estavam presentes na consulta multiprofissional e em consultas agendadas específicas da especialidade mediante a necessidade de cada paciente. 4.8 Acompanhamento Nutricional No primeiro ano de vida, as consultas com a nutricionista são freqüentes. Após esse período, vão espaçando-se mais, de acordo com a necessidade de cada bebê. Quando o bebê apresenta fissura no palato e faz uso da placa obturadora, a amamentação natural fica impossibilitada. Muitas mães conseguem tirar o leite materno e, com o uso de mamadeiras, alimentam com o seu próprio leite até os sexto mês. Porém, em casos que não seja possível usar o leite materno, o leite de fórmula é o mais indicado, e a introdução alimentar antecipada. A orientação aos pais é feita no primeiro dia do bebê dentro do hospital, eles precisam saber a quantidade e freqüência já que não é uma amamentação em livre demanda. Antes da consulta, todos os pacientes são pesados e medidos pela enfermagem, para que a nutricionista faça um gráfico de crescimento com essas informações e possa acompanhar se o peso e a altura estão ideais para a idade. Geralmente esse gráfico é anotado na própria carteirinha de vacinação da criança. Até os seis meses de vida, é anotado no prontuário o peso, altura, a quantidade de mililitros que o bebê está mamando e o relato dos responsáveis quanto à dieta . Se, com todas as orientações e dieta definida não houver ganho de peso, as consultas precisam ser mensais. Se tudo estiver bem, depois da primeira consulta o retorno é previsto para 3 a 4 meses. Nesse segundo momento é iniciada a introdução alimentar, a nutricionista tem uma tabela com os alimentos que devem ser inicialmente oferecidos. Nessa fase há muitas dúvidas dos responsáveis e até um pouco receio, por isso é entregue um guia de orientações bem explicado e anotado com o tipo de alimentos, quantidade, modo de preparo e freqüência. Essa introdução é gradual e precisa ser acompanhada de perto. Toda essa fase é semelhante à introdução de qualquer bebê com ou sem a fissura labiopalatina, a única diferença está nos alimentos ácidos que podem agravar o refluxo, muito comum e incômodo nos pacientes com fissuras.. Chegado o momento da cirurgia plástica, a nutricionista introduz na dieta o suplemento de proteína. É um protocolo utilizado para fortalecer os músculos próximos à área a ser operada e ter um melhor pós-operatório. Em certos casos, só com o uso desse suplemento já foi possível reduzir fístulas no palato. Após a cirurgia, a dieta deve ser líquida. Todas essas orientações são realizadas pelos profissionais da nutrição. Após todas essas etapas, é possível marcar alguma consulta sempre que quiser ou precisar de algum acompanhamento em qualquer faixa etária. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir da minha experiência no estágio curricular não obrigatório, constatei a extrema importância da multiprofissionalidade. Todo planejamento do plano de tratamento de cada paciente, respeitando suas individualidades, precisa ser realizado por uma equipe qualificada e preparada para atendê-los. O acompanhamento integral e longitudinal resulta em uma melhor reabilitação tornando o tratamento mais resolutivo. Dessa forma, é restabelecido não só a saúde, mas também a qualidade de vida dessas pessoas. Essa inter-relação entre os diferentes profissionais que veem a pessoa como um todo torna o atendimento muito mais humanizado e deveria se tornar realidade em todos os serviços semelhantes, visto o quanto é positivo esse modelo de assistência à saúde. REFERÊNCIAS ● ABDO,R.C.C.;MACHADO,M.A.A.M. Odontopediatria nas fissuras labiopalatais. São Paulo: Santos, 2005. ● AUGUSTO, H. da S; BORDON, A.K.C.B.; DUARTE, D.A. ESTUDO DA FISSURA LABIOPALATAL. Aspectos clínicos desta malformação e suas repercusões.Considerações relativas à terapêutica. J BrasOdontopediatriaOdontol Bebê, Curitiba, v.5, n.27, p.432-436, set./out. 2002. ● BUENO, D.F. O uso de células tronco adultas para o estudo da etiopatogenia das fissuras labio palatinas e bioengenharia de tecidos. 2007. 116p.Tese (Doutorado) Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007. ● CYMROT, M. etal.Prevalência dos tipos de fissura em pacientes com fissuras labiopalatinas atendidos em um hospital pediátrico do nordeste brasileiro. Rev. Bras. Cir. Plást; v.25, n.4, p: 648-651, 2010. ● GRACIANO, M.I.G; SPÓSITO, C. 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