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4. Família de origem um rio passa

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CAPÍTULO 4
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Dizemos que “os dois se tornam um”. Tudo bem, mas o 
perigo é que, na verdade, seis pessoas estejam casando-se 
e que eventualmente a casa fique um tanto lotada. Afi­
nal, são os pais dos noivos e seus dois filhos, crianças 
do passado.
David Seamands, 
Putting Aiutiy Childish Things
'sv__^ /o i a viagem mais longa que fiz sem dormir. Em 1973,
13 jovens ainda no ensino médio e quatro líderes (eu era um 
deles) alugamos um trailer e uma picape e dirigimos sem 
escalas de Chicago, em Illinois, a Denver, no Colorado. Então, 
embarcamos em um ônibus escolar e dirigimos direto até Ouray, 
em Utah, de onde partimos para um rafting pelas águas revoltas 
do rio Green.13 A viagem atravessando o país - fui eu quem 
mais dirigiu - levou 26 horas, de modo que ficamos completa­
mente exaustos.
Um pouco antes de embarcarmos em um dos maiores bo­
tes de borracha que jamais vimos na vida, o guia nos advertiu 
sobre os riscos da viagem que íamos começar a fazer. “Desliga­
dos” seria a palavra que melhor poderia descrever seus ouvintes, 
que estavam ainda ofegantes e exaustos por causa da fadiga da 
viagem. Ele nos falou da força da correnteza na cabeceira do rio 
e nos trechos mais abaixo. O guia disse que em alguns momen­
tos alguns de nós daríamos “mergulhos sem querer”. E então 
explicou o que fazer e o que não fazer quando isso acontecesse.
“Mantenha suas pernas para cima,” ele ensinou. “Se vocês 
ficarem com elas para baixo, seus pés podem ficar presos nas 
pedras, o que costuma ser fatal.” Sua objetividade fez alguns de 
nós levantarmos as pálpebras. E então disse o seguinte: “O rio 
por si só já parece perigoso. Mas o perigo que a gente pode ver 
nem se compara com o que acontece embaixo d’água — sob a 
superfície”.
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O que todo noivo precisa saber
Nos quatro dias seguintes, os conselhos do guia se com­
provaram. Muitos de nós deram “mergulhos sem querer”. Os 
maiores — em geral jogadores de futebol americano e lutadores 
— que pensaram que o guia estava exagerando no que dizia 
sobre a correnteza descobriram que as advertências eram reais.
O momento mais memorável foi num final de tarde, 
quando nosso bote foi direto a um “buraco” em que a água es­
pumava em fúria. Naquela hora, Bill Jackson, talvez o cara mais 
atlético da excursão, pulou que nem um míssil guiado — da 
popa do bote, ele voou e caiu a uns cinco metros atrás da gente, 
espirrando muita água. Durante os cinco minutos de violência 
aquática que se seguiram, agarramos as cordas nos abaixamos, 
tentando evitar o mesmo destino. Jax manteve as pernas para 
cima e conseguiu ficar junto a nós, parecendo mais uma rolha 
do que um garoto. À noite, brincamos muito a respeito do as­
sunto, mas quando aconteceu de verdade ninguém conseguiu 
rir.
Ainda bem que todos nós conseguimos chegar ao fim 
daquela aventura. Alguns levaram para casa hematomas e arra­
nhões, mas podemos dizer que a missão foi cumprida.
Casamentos atuais
O casamento é como descer as corredeiras de um rio encachoei- 
rado num bote. A cada curva do rio, enfrentamos uma aventura 
diferente. Mas as lembranças que trazemos para o nosso casa­
mento da família em que crescemos atuam como as poderosas 
correntezas sob a superfície. Em alguns momentos, aproveita­
mos as corredeiras que nos impulsionam rio abaixo. Mas, outras 
vezes, as correntezas nos puxam por baixo para áreas perigosas e
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Família de origem: um rio passa por ela
destrutivas — especialmente quando nos engolem como ondas 
traiçoeiras.
Quando Bobbie e eu nos casamos, nossa vida foi tomada 
por pontos de vista diferentes ligados a como a família dela fazia 
as coisas em comparação com a minha. Certa noite, depois do 
jantar, Bobbie perguntou se eu queria uma taça de sorvete.
“Claro”, respondi, “será ótimo”.
Pouco depois, ela me trouxe uma travessa com sorvete. 
Quando digo uma travessa, quero dizer uma TRAVESSA, e 
das grandes. “Isso dá para uma família de seis pessoas,” disse 
eu brincando, sem perceber que estava sendo desrespeitoso e 
arrogante.
Bobbie não gostou nem um pouquinho do meu co­
mentário.
Cresci em uma família na qual a frugalidade e a sim­
plicidade eram a norma. Mesmo sendo a quarta geraçáo de 
americanos de origem alemã, um povo sério e sensível, o gosto 
por tudo “alinhadinho” e a implicância com aqueles que correm 
nos locais inadequados estava gravada nos meus cromossomos. 
Quando minha mãe nos dava sorvete, era numa tacinha. Se nós 
tivéssemos nos comportado muito bem, e o papai estivesse via­
jando, quem sabe ganharíamos uma tacinha e meia. Já a família 
de Bobbie, por outro lado, não fazia menor ideia a respeito 
desse tipo de restrição. Assim, para Bobbie, uma TRAVESSA 
de sorvete era algo absolutamente normal.
E eis que surge a palavra mais importante deste capítulo:
Normal.
O normal para Bobbie não era uma tacinha. Uma travessa 
de sorvete era simplesmente uma travessa de sorvete. Aquilo 
era normal. Já o normal para mim era outra coisa. E eu trouxe 
muito da minha cultura familiar para o nosso casamento.
61
0 que todo noivo precisa saber
Meu pai não prestava muita atenção à vizinhança. Não 
que ele fosse rude ou desagradável em relação a eles. A questão 
é que papai não se dava ao trabalho de falar com aquelas pessoas 
ou de preocupar-se em conhecê-las. Participar de festas com os 
vizinhos devia ocupar uma posição inferior a gargarejar com 
gasolina na sua lista de atividades preferidas. Para mim, o nor­
mal era o comportamento do meu pai, comprometido a passar 
o maior tempo possível com sua família, e dedicando aos vizi­
nhos nada mais que um alô ao encontrar casualmente com eles 
ao ir e vir — nada mais que isso.
Da primeira vez que visitei a casa de Bobbie, na Virgí­
nia, ela estava na cozinha, dando os toques finais em um lindo 
bolo de aniversário. Embora ainda fosse um momento inicial 
do nosso relacionamento, já éramos namorados — o que já era 
alguma coisa, por assim dizer.
“Para quem é?”, perguntei.
“General Illig”, ela respondeu alegremente.
“Quem é o General Illig?”, perguntei, tentando não pare­
cer ciumento.
“Ele é o nosso vizinho de porta”, disse.
Lembro que fiquei totalmente chocado. Não sabia se ele 
era um cara legal, mas não entendia por que gastar um bolo 
daqueles com um vizinho?
Para mim, normal seria nem sequer saber a data do ani­
versário de um vizinho. Além disso, o normal para mim nem 
incluiria a compra de um cartão de aniversário. E certamente 
eu jamais compraria um bolo de aniversário para ele - e fazer 
um, nem pensar! O que era normal para Bobbie me parecia 
uma completa perda de tempo e energia. Um bom vizinho, 
para mim, é uma pessoa que não é meu irmão, que cuida da 
pintura da sua casa, que mantém a grama aparada e que remove 
ao máximo as ervas daninhas.
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Família de origem: um rio passa por ela
Mas, aí vai uma coisa muito importante a respeito dessa 
questão da “normalidade”. A maior parte dos conceitos de 
normal que trazemos para o nosso casamento não tem uma 
carga moral — ou seja, não são nem bons nem maus, nem 
certos nem errados. Eles são simplesmente as coisas com que 
nos acostumamos ao crescermos — não questionamos essas 
coisas porque elas eram tudo o que conhecíamos do mundo. 
Podemos apostar com segurança que a maioria do que acha­
mos que é normal é diferente do que nossas esposas chamam 
de normal.
Alguém disse uma vez que todos nós entramos no casa­
mento com os nossos “dez mandamentos” sobre o que é normal. 
Mas a única vez em que esses mandamentos aparecem é quando 
o nosso cônjuge viola um deles. Antes disso, eles permanecem 
no nível do nosso subconsciente.
As nossas duas filhas e seus respectivos noivos foram 
alunas de Mark e Susan no aconselhamento pré-nupcial. 
Julie e Missy nos disseram que,sem dúvida, o exercício de 
aconselhamento pré-nupcial mais produtivo (e mais per­
turbador) pelo qual passaram abordava essa questão da 
normalidade.
Utilizando um genograma — um tipo especial de árvore 
genealógica que começa nos avós de alguém — Mark e Susan 
conseguem rastrear informações que lhe permitem estabelecer 
padrões de normalidade. Eles fazem perguntas do tipo: “O que 
uma criança crescendo nesse sistema aprenderia sobre como 
deve ser um marido normal? Uma esposa normal? Como deve 
ser um casamento normal? Um conflito normal? Uma vida 
espiritual normal?”.
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O que todo noivo precisa saber
Criando seu próprio genograma
Para criar seu próprio genograma, você e sua noiva podem 
começar desenhando, cada um, sua árvore genealógica, que de­
verá ter mais ou menos a seguinte aparência:
Mãe da
Mãe do minha
Quando Mark e Susan completam seu trabalho sobre 
o genograma com um casal, eles pedem à noiva ou ao noivo 
uma breve descrição de cada pessoa em seu próprio genograma. 
Essas descrições pode variar muito entre comentários muito 
específicos — “presidente da IBM”, “dona de casa” ou “tempo 
de serviço” — para palavras gerais como “educador”, “estrito” 
ou “um néscio”. Quando os casais compartilham essas infor­
mações, Mark pede que digam a primeira coisa que lhes vêm à 
mente, e não para pensar muito antes de responder. As respos­
tas rápidas e imediatas são as que garantem as melhores dicas 
sobre o senso de normalidade de cada um.
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Família de origem: um rio passa por ela
Depois de que essas notas descritivas são obtidas, Mark 
pede mais informações sobre pais e avós — sempre fazendo as 
seguintes perguntas:
O que você sabe sobre o casamento deles?
Como eles lidavam com conflitos?
Como era a sua vida espiritual?
Mark e Susan também perguntam aos noivos se há gran­
des modelos de casamento na sua família. Em seguida, eles 
tentam levantar informações sobre tensão entre os membros 
de cada uma das famílias. Com base nessas informações, Mark 
redige um “Relatório de Normalidade”, que fornece aos noi­
vos um retrato do que uma pessoa típica crescendo em sua 
família entenderia como normal. Esse relatório responde a 
cinco perguntas: 1 2 3 4 5
1. O que uma pessoa que crescesse nesse sistema familiar 
entenderia como um marido normal?
2. O que uma pessoa que crescesse nesse sistema familiar 
entenderia como uma esposa normal?
3. O que uma pessoa que crescesse nesse sistema familiar 
entenderia como um casamento normal?
4. O que uma pessoa que crescesse nesse sistema familiar 
entenderia como uma maneira normal de lidar com 
conflitos?
5. O que uma pessoa que crescesse nesse sistema familiar 
entenderia como uma vida espiritual normal para um 
casal?
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O que todo noivo precisa saber
Quando Mark e Susan conversam com os casais sobre as 
respostas dadas às perguntas que fizeram, o resultado é surpre­
endente. A grande maioria de casais entende bem o mecanismo 
do genograma. Eles saem da reunião com os olhos bem abertos, 
compreendendo que precisam começar o casamento prepara­
dos para fazer mais do que somente “o feijão com arroz do dia 
a dia”.
E prestem atenção a isto: embora se possa conseguir mais 
informações com a análise de um genograma e a ajuda de con­
selheiros especializados, podemos fazer descobertas incríveis, 
identificando os nossos próprios padrões de normalidade, e 
usando o mesmo processo em relação a si mesmo.
"Dez mandamentos" de padrão de normalidade
Depois de criar seu genograma, pode ser útil preparar uma lista 
de “dez mandamentos”. Para ajudá-lo a começar, eis uma lista de 
“mandamentos” que observamos. Quantos você identifica como 
normais? 1 2 3 4 5 6 7
1. Mulheres casadas só trabalham até ter o primeiro filho. 
A partir daí passam a ficar em casa.
2. A alegria da manhã de natal é dormir até tarde.
3. Sexo é um assunto que não deve ser discutido.
4. A alegria da manhã de natal é acordar cedo e vestir-se 
formalmente para tomar um café da manhã especial 
com a família.
5. Duas pessoas que se amam de verdade não devem jamais 
discutir.
6. Nenhum lar não está completo sem um gato.
7. A infantilidade não deve ter espaço.
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Família de origem: um rio passa por ela
8. Os homens sempre dirigem.
9. Duas pessoas que se amam sempre discutem.
10. Os maridos sempre planejam as férias.
11. O limite são dois filhos.
12. Chegar atrasado é legal.
13- Homens não precisam se envolver em discussões apro­
fundadas. Isso não é algo natural.
14. Chegar na hora é fundamental.
15- Os homens sempre tomam a inciativa no sexo.
16. Mulheres cujos pais não conversam de maneira aprofun­
dada têm a liberdade de dizer isso a seus amigos.
17. A vida é algo agradável.
18. A quantidade de filhos que um casal tem é da vontade 
de Deus.
19- Armários de cozinha com portas são um contrassenso; é 
por isso que devem ser deixados abertos.
20. As mulheres escondem dos maridos as suas bolsas.
21. Homens não devem fazer serviços domésticos.
22. O álcool, em qualquer apresentação, não deve ser consi­
derado uma má ideia.
23. Com exceção da ira, homens não expressam seus sen­
timentos.
24. A casa deve ser sempre imaculada.
25. Carros devem ser idolatrados e mantidos sempre limpos.
26. Jantar não é jantar sem uma taça de vinho. Futebol não 
é futebol sem uma lata de cerveja.
27. Carros são meios de transporte. Ponto parágrafo.
28. Orar antes das refeições é inegociável. Até no McDonalds.
29. Os maridos devem assinar os cheques.
30. Os homens devem fazer tarefas domésticas sem que nin­
guém peça.
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O que todo noivo precisa saber
31. O marido deve sempre segurar a porta para a esposa.
32. Sanduíches devem ser sempre feitos com páo branco.
33. Mulheres fazem a contabilidade da família.
34. Não é necessário agradecer antes das refeições. Deus sabe 
que lhe somos gratos.
35. Sentar-se para ler um livro é um total desperdício de tempo.
36. A mulher não deve ganhar mais que o marido.
37. Um lar só está completo com um cachorro — dos gran­
des.
38. Um café da manhã quente só existe se pusermos um fós­
foro aceso nos nossos cereais.
39. Um marido amoroso deve fazer vista grossa se a sua espo­
sa engordar. Quanto ao resto, tudo é amor condicional.
40. Assistir esportes pela TV é uma completa perda de tempo.
41. As esposas são responsáveis pela paixão e pelo carinho no 
relacionamento.
42. Jamais devemos consultar nossos parentes.
43. Uma tabela de basquete na entrada da garagem é um 
equipamento padrão para toda casa.
44. Gritar c sempre a pior ideia. Jamais subimos o nosso tom 
de voz. Nunca gritamos.
45- As esposas devem estar prontas para mudar-se a fim de 
acompanhar as carreiras de seus maridos.
46. Homens cuidam do jardim.
47. Casais jamais devem pedir dinheiro emprestado a seus 
parentes.
48. Segurar a porta para uma mulher é um comportamento 
machista.
49. Engordar é um sinal claro de que você não liga mais para 
a sua esposa.
50. Seu casamento é para o resto da vida, por isso está fora 
de discussão.
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Família de origem: um rio passa por ela
Você pode querer anotar em um pedaço de papel os seus 
próprios conceitos de normalidade que náo fazem parte dessa 
lista. Vá em frente — registre no papel também alguns concei­
tos de normalidade na visão de sua esposa.
Possuindo suas regras tácitas
Quanto mais você estiver a par dessas regras tácitas — o seu 
próprio conceito de normalidade — , mais as dominará. Em 
vez de atribuir valores morais a eles e constranger sua mulher se 
ela não adequar-se, você terá a oportunidade de simplesmente 
reconhecer que sua familiaridade com elas vem da sua criação.
E muito comum que, no momento em que os profissio­
nais de aconselhamento confrontam seus clientes em respeito 
a seus padrões de normalidade, eles, os clientes, se mostrem 
céticos. “Isso deve tersido normal na minha família”, alegam 
os clientes, “mas com certeza é algo que não me afeta”. Se esti­
véssemos lidando com a verdade, é claro que não. Analisemos 
os seguintes fatos — de certa forma assustadores — sobre esses 
padrões:
Os padrões não se manifestam antes que marido e esposa comecem 
a estabelecer seu próprio sistema
Como essas regras tácitas sobre o que é normal são quase 
sempre invisíveis para a pessoa que aceita, elas não se revelam 
antes de os noivos se casarem e se mudarem para a sua nova 
casa.
Durante o meu noivado, eu tinha um carro que estava 
meio desalinhado, com um leve desvio para direita. E como
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O que todo noivo precisa saber
eu tinha mais força do braço direito do que na minha carteira, 
“deixei a coisa pra lá”. Depois de algum tempo, passei a nem 
mais notar. Quando nos casamos, Bobbie um dia teve de usar o 
meu carro, porque o dela estava na oficina. “O seu carro quase 
me jogou para fora da estrada,” ela reclamou quando chegou 
em casa. “E podia ter morrido!” (Pelo que me lembro, minha 
resposta foi dizer que eu havia me esquecido do problema — o 
que era verdade, pelo menos até aquele momento — e desde­
nhei da sua reação excessiva.)
O normal para mim era o meu carro sair para a direita, 
e até que o estilo seguro de direção de Bobbie encontrar-se 
com o meu, eu jamais havia refletido sobre o meu padrão de 
normalidade.
Esses padrões surgem principalmente quando estamos passando 
por uma situação estressante
Para muitos casais, o matrimônio produz ansiedade 
emocional logo após a lua de mel acabar. Solidão, depressão e 
frustração por causa de uma surpreendente falta de comunica­
ção podem acometer a noiva ou o noivo muito antes de todos 
os cartões de agradecimento de casamento terem sido escritos. 
Por causa desse estresse, você e sua esposa acabam baixando a guar­
da e expondo os seus conceitos de normalidade imediatamente.
Certa noite, eu estava em um ônibus escolar da igreja re­
pleto de crianças. Estávamos indo para uma excursão — boliche, 
minigolfe e coisas assim. O motorista teve de dar uma freada 
de repente para evitar baterem um carro que tinha avançado 
o sinal em um cruzamento. Um adolescente chamado Bubba 
(estou falando sério!), que estava em pé no corredor, foi pego
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Família de origem: um rio passa por ela
de surpresa e levou um tombo daqueles. Ao cair, ele soltou um 
palavrão a plenos pulmões. O ônibus ficou em silêncio imedia­
tamente. “Não sei de onde tirei isso”, ele disse com um olhar 
angelical.
Como você e eu, Bubba possuía padrões de normalidade 
que conseguia manter sob controle em determinadas circuns­
tâncias e outros padrões a que ele recorria quando estava sob 
estresse. Ele pode até “não saber de onde tirou aquilo”, mas 
você e eu temos uma boa ideia.
Interpretar o seu genograma é como avaliar um raio X — pode crer!
Quando interpreta genogramas de casais em processo de 
aconselhamento, ele costuma dizer: “Estou avaliando o seu raio 
X”. E, como um raio X de verdade, os genogramas são capazes 
de mostrar um problema que não apresenta sintomas visíveis.
Um de meus amigos mais próximos recentemente se sub­
meteu à bateria de exames que faz todo ano. Uma das enzimas 
em seu hemograma indicava a possibilidade de câncer. Tes­
tes complementares confirmaram o diagnóstico de leucemia. 
Quando ele me contou essa história, perguntei se ele havia per­
cebido algum sintoma, como dor ou desconforto.
“Nenhum” foi a sua resposta. “Absolutamente nada.”
Mas meu amigo acreditou no relatório e agora se encontra 
em um rigoroso processo de tratamento. Não apresentar sinto­
mas pode ser algo traiçoeiro.
Às vezes, identificamos padrões ao reagir a eles
Nosso destino não é repetir o padrão de normalidade 
do nosso sistema familiar — mas é possível assumirmos uma
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O que todo noivo precisa saber
postura que tenta nos afastar o máximo possível dos padrões 
que herdamos.
Mark me contou uma vez que, na sua família, os homens 
eram dados ao rigor e à seriedade. Quando ele se deu conta da­
quele padrão, decidiu que seria diferente. Ele seria uma pessoa 
feliz, custasse o que custasse! Ele passou muitos dos seus anos de 
juventude forçando-se a ser uma pessoa feliz, tentando tornar 
todos à sua volta felizes também. Pensando que havia declarado 
independência em relação ao seu sistema familiar, Mark acabou 
descobrindo que ainda era controlado por aquele sistema.
Os casais geralmente brigam por causa daquilo que combatem
Você pode achar que sua noiva e você estão enfrentando 
um conflito envolvendo dinheiro, sexo, parentes ou compro­
missos, entre outros assuntos polêmicos. Mas quase todos os 
conflitos no casamento — especialmente os destrutivos — vêm 
de uma origem diferente da que os produziu. Na maioria das 
vezes, esses conflitos surgem de um embate entre o seu padrão 
de normalidade e o dela.
O valor de começar a definir os padrões de normalidade 
do seu próprio sistema familiar no início de seu casamento é 
que, ao conhecê-los, você poderá evitar que determinados atri­
tos produzam uma explosão. Para evitar um desastre, eis uma 
coisa que vale a pena dizer: “Quer saber? O razão de ter dito 
isso a você foi que, quando eu era criança, não era assim que a 
gente fazia. O que você fez não foi ruim; é só que eu não estava 
acostumado”.
Você consegue imaginar como seria entrar na batalha que 
estava prestes a começar?
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Família de origem: um rio passa por ela
Ser precavido é melhor que ser indiferente
O segredo para interpretar o seu genograma é concentrar 
o foco nos pontos problemáticos em potencial — nos locais em 
que os problemas subliminares estão se movendo em direções 
conflituosas e potencialmente destrutivas. Um guia de rafting 
que conhece bem o rio não perderá tempo falando sobre os 
pontos em que a correnteza é tranquila. Ele apontará as zonas 
de perigo.
O propósito de identificar esses padrões de normalida­
de no seu casamento é preparar-se para os locais em que você 
enfrentará os maiores desafios. Na verdade, estar preparado sig­
nifica transformar perigo em aventura.
O que você precisa ouvir é “Isso pode acontecer” ou “Esse 
pode ser um problema com que você terá de lidar”. Em muitos 
casos, a área potencialmente problemática não se chegará sequer 
a tornar-se um problema — e o casal ficará agradavelmente sur­
preso. É melhor ser precavido que ser indiferente. Uma severa 
advertência sobre um perigo que nunca se materializa é muito 
melhor que discutir despreocupadamente como as águas calmas 
serão — e infinitamente melhor que afogar-se nas corredeiras.
Trabalhando em, não apenas em
Quando abri minha empresa em 1986, meu sócio e eu conhe­
cemos um livro chamado TheE-Myth, de Michael Gerber. Esse 
livro nos deu alguns conselhos incríveis — e o mais impor­
tante deles foi: não basta trabalhar em sua empresa. O autor 
queria fazer seus leitores entenderem que não deviam deixar 
que as pressões de produção e de arcar com os pagamentos 
os distraíssem de que era preciso efetivamente dedicar-se ao 
trabalho pela empresa.
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O que todo noivo precisa saber
Isso significava que meu sócio, Mike Hyatt, e eu pre­
cisávamos nos reunir periodicamente para fazer as perguntas 
desagradáveis sobre os rumos da empresa. Termos uma “semana 
produtiva” ou um “mês de sucesso” não era suficiente. Preci­
sávamos garantir que nossas decisões e atividades estavam nos 
levando na direção que fosse coerente com a nossa visão. Nós 
nos forçamos a parar e conversar sobre nossa empresa, para não nos 
deixarmos afogar pelo dia a dia do trabalho.
Algumas vezes, essas conversas acabavam gerando atrito 
entre Mike e eu, envolvendo a contratação de alguém para pre­
encher uma determinada vaga — ou continuarmos a cobrir essa 
carência nós mesmos. “Mas não seria melhor deixar isso como 
está?” alguém poderia perguntar.“Sabe como é, não mexe com 
o que tá quieto...”?
Você e eu enfrentamos situações idênticas no casamento. 
Existe uma infinidade de atividades a cumprir no dia a dia, coi­
sas que nos ocupam. Mas será que estamos nos dedicando ao 
nosso casamento da maneira que devemos ou estamos apenas 
vivendo neles?
Mark e eu já conhecemos milhares de casais. A maioria 
desses casais conseguirão descer o rio normalmente. Muitos 
curtirão a viagem. Mas você e sua esposa não vão querer ape­
nas chegar ao final, mas sim prosperar. Você quer que o seu 
casamento seja o melhor de todos. A diferença entre os bons 
casamentos e os melhores é: Todos trabalhamos no nosso casa­
mento, mas poucos de nós trabalhamos pelo nosso casamento. 
E o seu casamento pode ser um dos melhores.
Aproveite a viagem!
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