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Victor Braga Gurgel | 187 pouco, cenário que só mudaria no início do século XX (ROCHA DA SILVA, 2018, p. 131). Em relação ao ensino formal de História, este era reservado apenas às elites brasileiras, a partir do estabelecimento do Imperial Colégio de D. Pedro II (PENNA, 2008, p. 70). Fundado em 1837, tinha como base curricular o modelo francês. O historiador Fernando de Araújo Penna analisa os livros didáticos utilizados no Imperial Colégio de D. Pedro II, observando como a História Antiga era utilizada para justificar o modelo civilizacional de Brasil que estava sendo inventado na época – em tal projeto, estava inclusa a própria criação do Imperial Colégio de D. Pedro II. Mesmo se focando no pa- pel da tradição clássica neste processo, Penna demonstra que o Oriente Antigo estava inserido neste processo civilizador – mais especificamente a partir do ano de 18874, quando João Maria da Gama Berquó, substituto de Geografia e História no Instituição, publica dois livros: História Antiga do Oriente e História Antiga da Grécia e de Roma. (PENNA, 2008, p. 76). Para Margaret Bakos, a Egiptologia brasileira pode ser dividida em três momentos: o primeiro sendo a já mencionada formação da coleção de antiguidades por D. Pedro I, em 1824, arrematada no leilão em 1827; o segundo com a influência egípcia na construção de prédios públicos e pri- vados no início do século XX; e o terceiro com a criação dos cursos de pós- graduação em História Antiga em algumas universidades brasileiras na década de 1970 (BAKOS, 1998, p. 87). A primeira graduação em História do Brasil surge em 1934 na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. No entanto, como afirmado por Bakos, os estudos sistemáticos da Antiguidade Egípcia só passam a existir a partir da década de 1970, ainda durante a Ditadura Civil-Militar, quando se deu o surgimento das pós- 4 Pode-se argumentar que nesta altura, a influência da Antiguidade Oriental na visão imperial brasileira de si própria foi muito pequena, visto que dois anos depois se instauraria a República. No entanto, não se pode negar que houve este esforço integrativo por parte do Império neste sentido, mesmo que tardiamente. 188 | Histórias Antigas: entre práticas de ensino e pesquisa graduações no Brasil, mais especificamente as da área de História. No entanto, a produção da historiografia sobre a Antiguidade estava marcada por um forte teor positivista, sendo a área muito criticada por sua insularidade (GURGEL, 2018, p. 17). Como apontam Dominique Santos, Graziele Kolv e Juliano Nazário (2017, p. 117-118), da dédaca de 1970 até a atualidade, a área de História An- tiga cresceu muito no Brasil, devido a diversos fatores, como a fundação da Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos – SBEC em 1985, a criação do Grupo de Trabalho de História Antiga5 – GTHA na ANPUH – atual Associação Nacional de História –, e pela multiplicação de docentes responsáveis pela disciplina nos mais variados estados na Federação, além do incentivo e apoio financeiro de diversas agências de fomento. A consolidação de grupos de pes- quisa existentes e o surgimento de novos também é um fator relevante, além do aumento do número de congressos específicos no país inteiro. Neste cenário, os estudos sobre a Antiguidade Egípcia, de um ponto de vista histórico, também crescem. Entretanto, se comparados com a área dos Estudos Clássicos, tal crescimento se dá de forma muito tímida. De acordo com Santos, Kolv e Nazário, nas Instituições de Ensino Superior do Brasil, apenas 8 docentes são especialistas em Egito. Contrastando este número com o dos especialistas em Grécia e Roma (43 e 44, respectiva- mente), percebemos como o estudo do Egito Antigo pela perspectiva histórica se desenvolveu de maneira tímida no Brasil, em comparação com as demais áreas da Antiguidade (SANTOS, KOLV, NAZÁRIO, 2017, p. 131). Neste processo, em relação à experiência da Egiptologia brasileira, ela é dividida por uma aproximação histórica e arqueológica (ROCHA DA SILVA, 2017, p. 169). Foi somente em 1999 que uma tese em Arqueologia 5 O GTHA foi precedido pelos Simpósios Nacionais de História Antiga (1983, 1985, 1988, 1991), eventos bienais que buscavam fortalecer, difundir e desenvolver a área de História Antiga no Brasil (GURGEL, 2018, p. 17-18; Site oficial do Grupo de Trabalho de História Antiga – GTHA. Disponível em: <https://www.gtantiga.com/sobre>. Acesso em: 12 de jul. de 2021.